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RESUMO LIVRO

Cap 1:
*Se discute os 3 modos básicos de se ritualizar no mundo
brasileiro: a parada militar, o carnaval e a procissão. Obs:
analisa de forma mais específica a parada militar e o carnaval.
*Apresenta 2 problemas fundamentais: (1) a questão dos
princípios ou mecanismos fundamentais utilizados para
dramatizar o mundo e como podem ser relativamente isolados
uns dos outros pelo modo comparado de analisar o mundo. (2)
situar essas paradas, procissões e carnavais como modos
fundamentais, por meio dos quais a chamada realidade
brasileira se desdobra diante dela mesmo.
*Ele classifica o carnaval e as festividades do dia da
independência como rituais nacionais, por serem fundados na
possibilidade de dramatizar valores globais, críticos e a
abrangentes da nossa sociedade. Além disso, quando se realiza
um ritual nacional, toda, ou a maior parte da sociedade deve
estar orientada para o evento centralizador daquela ocasião,
com a coletividade parando ou mudando radicalmente suas
atividades. Ex: os rituais nacionais implicam sempre no
abandono ou “esquecimento’ do trabalho, sendo seus dias
feriados nacionais.
*Dicotomia entre os ritos orientados para toda a ordem
nacional e que ajudam a construir e cristalizar uma identidade
nacional e aquelas dramatizações programadas, pautada no
costume local ou tradição que pertence apenas aquela cidade,
estado, região ou grupo social.
*Revela a importância de não opor o conceito de rito ao de
cerimonial. Rito como o contraste com os atos diários.
{ROTINAS E RITOS}
*No Brasil, os eventos sociais são classificados conforme sua
ocorrência. Existem os (1) eventos que fazem parte da rotina
do cotidiano brasileiro são chamados de “dia a dia” e os (2)
eventos situados fora desse dia a dia rotineiro e repetitivo,
como as conferências, festas, bailes, os quais destacam seu
caráter aglutinador de pessoas, grupos e categorias sociais,
sendo por isso mesmo, acontecimentos que escapam da rotina
da vida diária.
*Esses últimos, constituem o que pode ser chamado de
“extraordinário construído pela e para a sociedade” e podem
ser previstos e se distinguem dos chamados “extraordinários
não previstos”, os quais suspendem igualmente a rotina do
cotidiano, mas são marcados pela imprevisibilidade, não
podem ser controlados. Ex: tragédias e catástrofes.
*Parece raro o uso da palavra ritual no Brasil, geralmente
associada a momentos marcados pelo comportamento solene,
controle explícito da palavra, dos gestos e vestimentas, como
ocorre em eventos cívicos e religiosos. O uso das expressões
formal e informal como qualificativos para a natureza de
certos encontros.
*Além disso, entre os eventos cotidianos e os eventos
extraordinários estariam aquelas ocasiões classificadas como
insurreições, revoltas, rebeliões e revoluções. Nesse sentido, é
possível relacionar os rituais fundados no princípio social da
inversão, como o caso da destruição das barcas que ligam o RJ
ao Niterói.
{O CARNAVAL E O DIA DA PÁTRIA: UMA
COMPARAÇÃO}
*Tanto o carnaval quanto o dia da Pátria são rituais nacionais
q mobilizam a população das cidades onde se realizam,
exigindo um tipo de tempo especial, um tempo vazio, isto é,
sem trabalho, feriado.
*Carnaval e dia da Pátria constituem os 2 rituais de maior
duração do Brasil, sendo somente comparáveis a semana
santa. Essas três semanas festivas sugerem um ‘triângulo ritual
brasileiro” muito significativo, sobretudo nas suas implicações
políticas, uma vez que temos festas devotadas A vertente mais
institucionalizada do Estado nacional, festas controladas pela
Igreja e, finamente as festas carnavalescas, consagradas às
vertentes mais desorganizadas da sociedade civil.
*Assim, cada momento festivo remete a um grupo ou
categoria social que tem seu lugar, sua hora e sua vez
garantidos no quadro da vida social nacional. Teríamos então
um ciclo de festividades que vão do povo ao Estado, passando
pela Igreja, numa forma organizatória típica de um sistema
muito preocupado com o ‘cada qual no seu lugar”
* Dia da Pátria (1) x Carnaval (2)
(1)
-Evento histórico específico, sua comemoração é registrada,
tem um início documentado e faz parte de um conjunto de
momentos críticos e importantes da vida brasileira, acentua o
rompimento definitivo com o período colonial e o início de
uma “maioridade política”.
-Sua performance visa não só recriar um momento glorioso do
passado, mas também marcar a passagem entre o mundo
colonial e o mundo da liberdade e da autodeterminação.
-O tempo do dia da Pátria é um tempo histórico que remete
aos participantes do ritual para dentro da especificidade da
história do Brasil.
-É um ritual diurno, claro, em que os espaços são bem
marcados, uma parada militar, uma avenida preparada onde se
destacam os locais que devem passar cada participante do
ritual.
- Sua organização cabe aos poderes constituídos, sendo sua
legitimação obtida por meio de instrumentos legais, como os
decretos. Esses ritos não possuem o patrocínio de um grupo
social, mas de uma corporação perpétua, representativa do
poder nacional.
- Evento com um intenso princípio organizatório e um eixo de
hierarquização, com os oficiais na frente acompanhando a
bandeira da corporação e a bandeira nacional. Há uma nítida
separação (dos papéis sociais) entre o povo, as autoridades,
dentre elas aquelas que detém maior ou menor parcela de
poder, e os militares.
-O ponto focal do evento é a passagem pelo local sacralizado,
onde se presta continência às mais altas autoridades
constituídas. O povo faz papel de assistente, prestigia o ato de
solidariedade e de respeito às autoridades e aos símbolos
nacionais.
-O desfile militar cria um sentido de unidade, sendo seu ponto
crítico a dramatização da ideia de corporação nos gestos,
vestes e verbalizações, que são sempre idênticos.
-A veste é o uniforme, que torna todos os homens iguais no
nível da sua posição. Ele iguala e corporifica, sendo suas
diferenças de grau e não de qualidade. Tem a função de nelas
esconder o seu portador, protegendo o papel desempenhado da
pessoa que o desempenha e, ainda, separando o papel que
define sua posição no ritual dos outros papéis que desempenha
na vida diária.
(2)
-O tempo do carnaval é cósmico e cíclico, sendo independente
de datas fixas e remetendo os participantes do ritual para fora
do contexto brasileiro, colocando-os em contato com o mundo
do sagrado
-O Carnaval apresenta uma cronologia cósmica, diretamente
relacionada à divindade e a ações que levam à conjunção ou
disjunção com os deuses.
-É um ritual noturno, havendo uma inversão do dia pela noite,
marcado pelos seus bailes e desfiles, acentuando um
dinamismo inverso ao normal.
-A rua, em seu sentido mais genérico, é o local próprio do
ritual, tornando-se o ponto de encontro da população.
- São organizados por meio de organizações privadas, que em
gral reúnem pessoas das camadas mais baixas da sociedade
local.
-Os desfiles das escolas de samba escapam do eixo da
hierarquização, uma vez que são colocadas em livre
competição. Assim o desfile carnavalesco coloca um
paradoxo; as associações voluntárias que dominam o desfile
são constituídas de pobres, mas entram em disputa, uma vez
que o objetivo do desfile é premiar as melhores escolas. Logo,
temos que, “em uma sociedade hierarquicamente organizada
como a brasileira, quando se escapa do esquema dominante
(da hierarquia), os grupos entram em competição”.
-O desfile se fundamenta na teatralização que tem como tema
personagens, ambiente e ações de um período aristocrático ou
mítico.
-Chama a atenção também a inversão constituída entre o
desfilante (um pobre, geralmente negro ou mulato) e a figura
que ele representa no desfile (um nobre, um rei, uma figura
mitológica) e também a participação de toda a sociedade, seja
participando, julgando ou assistindo.
-O desfile é dançante, com gestos distintos um do outro,
propiciando uma visão de dinamismo e movimento.
-Como o desfile carnavalesco reúne um pouco de tudo, ele
remete a vários subuniversos simbólicos da sociedade
brasileira, podendo ser classificado como um desfile
polissêmico.
-A veste é a fantasia, a qual distingue e revela, já que cada um
é livre para escolher a fantasia que quiser. Ela revela, muito
mais do que oculta. Opera sistematicamente, por união,
somando um papel imaginário (expresso na fantasia) com os
papéis reais que a pessoa fantasiada desempenha no mundo
cotidiano.
-O conjunto de personagens criados pelas fantasias de
carnaval não é homogêneo, as fantasias atualizam
combinações do cotidiano da cultura brasileira. E são
justamente essas combinações e essa conjunção de
representações simbólicas de campos antagônicos e
contraditórios que constitui a própria essência do carnaval
como um rito nacional.
{ALGUNS PROBLEMAS TEÓRICOS}
- Muitas vezes, vemos esses ritos como eventos
completamente separáveis, que não possuem nenhuma
relação, porém, embora sejam conceitualmente distintos como
espécies de comportamento, estão ligados na prática.
-O que precisa ser compreendido é o fato de que cada um
deles, carnaval ou dia da pátria, expressa uma maneira
diferente de perceber, interpretar e representar aquilo que se
deseja construir como a realidade social brasileira. Ambos
representam distintos discursos a respeito de uma mesma
realidade, cada uma salientando certos aspectos críticos dessa
realidade.
-Assim, não seria surpreendente ou problemático verificar que
é em Bali, uma sociedade dominada pela hierarquia e pela
gentileza, que a briga de galo surge do modo mais popular e
dramático. No cenário brasileiro, não deveria causar surpresa
ou polêmica o fato de que o povo que faz o carnaval ser,
também, o povo do “Sete de Setembro”, ou o chefe “boa-
praça” ser o homem do “você sabe com quem está falando?”
Assim, é possível concluir que a vida ritual de determinada
sociedade não precisa ser necessariamente coerente ou
funcional, podendo conter elementos competitivos ou
concorrentes, mas que expressam, de modo diferente, a
estrutura social.
Cap 2:
-Interesse no conteúdo e no sujeito do carnaval.
-Se o carnaval tem a inversão como seu ponto central, é
necessário se perguntar: o que é invertido no carnaval
brasileiro?
-O carnaval cria não só os seus vários planos, como o seu
próprio plano.
{A CASA (1) E A RUA (2)}
(1)
-Remete a um universo controlado, onde todas as coisas estão
nos seus devidos lugares
-Implica harmonia, calma e afeto.
(2)
-Indica o mundo, com seus imprevistos, acidentes e paixões.
-Implica movimento, novidade e ação.
{A CASA E A RUA: DIALÉTICA, SIMBOLIZAÇÃO E
RITUALIZAÇÃO}
-A casa e a rua como categorias sociológicas opostas, mas
também relacionadas. Assim, a própria rua pode ser vista e
manipulada como se fosse um prolongamento ou parte da
casa, ao passo que áreas da casa podem ser percebidas, em
certas situações, como parte da rua. Ex: as favelas cariocas,
onde é difícil demarcar com nitidez os limites das casas e das
ruas.
- Ao mesmo tempo que expressam domínios diferentes, com
autores sociais e ideologias diferentes, eles estão sempre
associados.
-Deslocamentos e passagens de um domínio para outro são
responsáveis por uma variedade de processos. E é nessa
passagem que eles podem ser percebidos como invertidos,
reforçados ou até mesmo neutralizados.
-A distância entre domínios chama atenção para o objeto,
transformando-o. Ex: um arco e uma flecha. Os quais são
instrumentos de caça, pendurados numa parede falam muito
mais sobre o dono da casa, provocando especulações sobre sua
funcionalidade e sobre aquele universo social.
-A base do processo de simbolização é, pois, o deslocamento
ou a passagem. E isso é muito importante, pois sempre
falamos de símbolos, mas nunca sobre as condições que
transforma um mero objeto, como uma pedra, um pedaço de
folha em símbolo.
-A partir disso, é válido questionar em que condições um
determinado conjunto de símbolos se transforma em rito.
-Tanto no simbolizar quanto no ritualizar temos um fenômeno
de consciência. É fundamental deslocar um objeto de lugar,
pois esse deslocamento conduz a uma conscientização de
todas as reificações do mundo social.

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