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Princípios do direito penal

 Anterioridade da Norma ou Princípio da Legalidade: Esse princípio é baseado no artigo 1º do


Código Penal, que diz que há a exigência de uma lei anterior que defina a prática de um ato
reprovável como crime. Caso o ato não seja caracterizado crime, então o praticante não será
condenado[8].

 Devido Processo Legal: Um juiz não pode condenar um acusado qualquer, de maneira
arbitrária, pois quem praticou o crime tem o direito de ter um julgamento justo. Apenas após o
julgamento e todo processo legal é que poderá ser definido o destino do criminoso.

 Princípio da Inocência: Diz que todo cidadão é inocente, até que se prove o contrário. Ou seja,
o individuo é considerado inocente enquanto a Justiça não o considera culpado.

 Retroatividade da Lei mais Benéfica: Uma lei penal pode retroagir apenas se for para benefício
do réu. Entretanto, em caso contrário, se a lei se tornar mais severa, não será aplicada ao réu.

 Direito à Defesa: Diz que qualquer pessoa tem direito à defesa, independentemente do crime
praticado e das suas circunstâncias. Caso a pessoa não tenha como pagar pela sua defesa, o
Estado a proporcionará.

 Princípio da Legalidade: Limita o poder punitivo do Estado, não havendo crime, caso não haja
lei que defina a infração penal e lhe imponha uma pena. Ou seja, o Estado não podera punir o
indíviduo, caso o ato praticado por ele não for considerado crime perante a lei [9].

 Princípio da Intervenção Mínima: O Direito Penal deve intervir de maneira mínima na


sociedade. Se recorre a ele apenas quando os meios de controle estatal e jurídicos não forem
suficientes.

 Princípio da Fragmentariedade: Estabelece que nem toda ameaça de lesão ou lesão praticada
são proibidas de acordo com a lei penal, como da mesma forma, nem tudo tem sua proteção. O
Código Penal se limita aos fatos mais graves e que sugerem maior importância, tendo caráter
seletivo de ilicitude.

 Princípio da Culpabilidade: Diz que só ha crime se o ato causar reprovabilidade [10].

 Princípio da Humanidade: O Estado é vedado de aplicar penas cruéis, como a capital e a prisão
perpétua, pois essas sanções atingem a dignidade da pessoa humana. Prioriza-se a
ressocialização do condenado através da execução penal, e não a sua degradação.

 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana: Previsto na Constituição Federal de 1988, esse


princípio defende a dignidade do homem, que o protege de ações indevidas e arbitrárias do
Estado.

 Princípio da Insignificância: Analisa a proporção entre a gravidade da conduta do criminoso, e a


necessidade da intervenção estatal sobre isso. Fatos que não acarretam perigo à vida, à
segurança e à integridade humana são ignorados pela lei.
 Princípio da Adequação Social: Condutas socialmente permitidas, adequadas ou até mesmo
toleradas não devem ser tipificadas pela lei penal, mas somente aquelas condutas de
relevância social. O princípio seleciona os comportamentos, além de determinar valores aos
mesmos.

 Princípio do in dúbio pro reo: Caso haja dúvida sobre a acusação da prática de uma infração
penal, o acusado, em seu julgamento final, deverá ser absolvido. Quando não houver provas
suficientes, acata-se a interpretação mais favorável ao réu.

 Princípio da Igualdade: Este princípio prioriza a igualdade material acima da formal, buscando a
não discriminação e proibindo diferenças de tratamento, como está prescrito na Constituição
Federal de 1988.

 Princípio da Exclusiva Proteção dos Bens Jurídicos: Conhecido como da ofensividade ou da


lesividade, ocorre quando há lesão ou ameaça ao bem jurídico protegido por lei. Esse bem
jurídico poder ser a vida, a liberdade e a propriedade.

 Princípio da Efetividade: O Direito Penal, quando na sua intervenção, deve sempre ser eficaz e
agindo de maneira preventiva e, se necessário for, repreensiva.

 Princípio da Proporcionalidade: Diz que pena aplicada deverá ser proporcional a prática
antijurídica cometida. Ou seja, a punição para o indivíduo deve ser na mesma proporção do
crime praticado por ele.

 Princípio do ne bis in idem: Segundo este principio, o individuo não poderá ser julgado ou
punido mais de uma vez pelo mesmo crime[11].

Classificações do Direito penal


Crime comissivo: é aquele que é praticado por um comportamento
positivo do agente, isto é, um fazer. São comissivos os crimes de
furto e de infanticídio.

Crime omissivo: é aquele que é praticado por meio de um


comportamento negativo, uma abstenção, um não fazer.

Os crimes omissivos se subdividem em:

 Omissivos próprios: é aquele previsto em um tipo


mandamental, ou seja, um tipo que já descreve um
comportamento negativo no seu núcleo. O dever jurídico de agir,
naquela situação, decorre do próprio tipo penal, que é chamado,
então, de mandamental, por tornar criminosa uma abstenção (ou
omissão) em determinadas circunstâncias. O agente, no caso,
não tem o dever de evitar um resultado, mas simplesmente o
dever de agir para não incorrer na prática do crime.

Exemplo é o crime de omissão de socorro (“Deixar de prestar


assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança
abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses
casos, o socorro da autoridade pública”), em que a própria descrição
do tipo penal é um não fazer (deixar de prestar assistência ou não
pedir o socorro da autoridade pública). É também do caso dos crimes
do artigo 168-A, caput, e do artigo 359-F, ambos do CP.

 Omissivos impróprios: também chamado de comissivo por


omissão, é aquele cujo dever jurídico de agir decorre de uma
cláusula geral, que, no Código Penal Brasileiro, está previsto em
seu artigo 13, parágrafo segundo. O dever jurídico abrange
determinadas situações jurídicas e se refere a qualquer crime
comissivo. O sujeito tem o dever de evitar o resultado
naturalístico. Por isso, tais delitos são chamados comissivos por
omissão. A doutrina aponta que só abrange crimes materiais, já
que o agente deve ter o dever de evitar o resultado.

São crimes naturalmente comissivos (praticados por um


comportamento positivo, uma ação), como é o caso do homicídio,
mas que podem ser praticados por uma conduta omissiva, no caso de
o sujeito ter o dever jurídico de agir previsto na cláusula geral.

Os crimes omissivos impróprios possuem as seguintes modalidades:

 Por dever legal: aquele que tenha por lei obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância. É o caso dos pais em relação aos filhos
menores. Se deixarem de alimentá-los, podem responder pelo
homicídio, um delito, no caso, omissivo impróprio.

 Por dever de garantidor: é o sujeito que, de outra forma,


assumiu a responsabilidade de impedir o resultado. É o salva-
vidas de um clube, que, por vínculo de trabalho, se obriga a
salvar uma criança que se afoga e pode responder pelo
resultado morte, caso se abstenha de agir.

 Por ingerência na norma: é aquele que, com seu


comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado. O sujeito que pôs fogo na mata, que se alastrou e não
avisa os seus empregados rurais, que podem ser atingidos pelo
fogo, responderá por sua abstenção, no caso de sofrerem lesão
corporal.

 Omissivos por comissão: parte da doutrina entende existir


uma terceira modalidade de delito omissivo, o omissivo por
comissão[3]. Cuida-se de crime tipicamente omissivo, mas há
uma ação, um comportamento comissivo, que provoca a
omissão. Daí decorre a sua denominação (omissivo por
comissão), de modo que temos um delito naturalmente
omissivo, mas que é praticado em razão da conduta positiva de
outrem

 1 INTRODUÇÃO
 O crime consumado para o ordenamento jurídico é aquele no qual se
realiza todos os requisitos exigidos pelo tipo penal. No entanto, por trás
de quase todo crime consumado há um iter criminis que nada mais é do
que a preparação, pari passu, de vários elementos que se sobrepõem
até a consumação do ato delitivo.
 No presente artigo buscou-se falar um pouco sobre as características
do crime consumado bem como da figura da tentativa, que nada mais é
do que a execução interrompida do crime, por motivos estranhos à
vontade do agente. Trata ainda este trabalho das consequências da
tentativa, suas características e natureza jurídica.
 Por fim, realizou-se uma compilação acerca dos entendimentos teóricos
sobre a figura da desistência e do arrependimento voluntário, bem
como, também, descrevendo as características, natureza jurídica e
consequências de tais institutos.
 A metodologia utilizada foi unicamente a pesquisa bibliográfica nos
principais doutrinadores penais brasileiros, todos atualizados quanto a
tais questões. Foram fonte de pesquisa tanto livros físicos, como,
também, material digital.
 2 CRIME CONSUMADO E TENTADO
 2.1 Crime Consumado
 O crime consumado é aquele em que há a realização integral do tipo
penal, ou seja, como afirma Nucci (2017, p. 287), é quando o tipo
concreto se enquadra no tipo abstrato. Rogério Sanches Cunha (2015,
p. 336) afirma ainda, sobre o crime consumado, que, “nos termos do
art. 14, I do Código Penal, considera-se consumado o crime 'quando
nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal'. Tem-se,
assim, um crime completo, perfeito, realizado por inteiro, coincidindo o
fato concreto e o tipo legal.”
 No entanto, é válido ressaltar que o momento da consumação varia de
acordo com a natureza ou espécie do crime. Cunha (2015) efetua uma
classificação quanto à natureza do crime e seu respectivo momento de
consumação, tendo em vista o que prevê o dispositivo legal.
Reproduziremos aqui a classificação realizada pelo autor em
seu Manual de Direito Penal – Parte Geral.
 2.1.1 Crime material ou de resultado
 Nesta espécie de crime é previsto, no tipo penal, a descrição da
conduta e seu respectivo resultado, exigindo, para sua efetiva
consumação, a alteração (modificação) do mundo exterior. Como
exemplo podemos citar o homicídio, art. 121 do Código Penal. Com
efeito, o homicídio só se consuma com a morte.
 2.1.2 Crime formal ou de consumação antecipada
 Conforme Cunha (2015), nesta espécie de crime “a norma penal
também descreve um comportamento seguido de um resultado
naturalístico, mas dispensa a modificação do mundo exterior,
contentando-se, para a consumação, com a prática da conduta típica”.
Logicamente, o crime se consuma, portanto, no momento da ação.
 2.1.3 Crime de mera conduta
 Trata-se de um delito sem resultado naturalístico, descrevendo a lei
apenas uma conduta, consumando-se o crime no momento da prática
da ação. Como exemplo citemos a violação de domicílio, art. 150 do
Código Penal. Com efeito a consumação da violação de domicílio se dá
no próprio momento da prática delitiva, não importando as ações
subsequentes.
 2.1.4 Crime permanente
 Ainda nas palavras de Cunha (2015, p. 337) “nos crimes permanentes
a consumação se protrai[1] no tempo, prolongando-se até que o agente
cesse a conduta delituosa”. Exemplo de tal crime é o sequestro ou
cárcere privado, art. 148 do Código Penal.
 2.1.5 Crime habitual
 Para a consumação desta espécie criminal requer-se a reiteração da
conduta típica. Ou seja, para enquadrar-se no tipo crime habitual a
prática do mesmo deve ser constante e repetitiva.
 2.1.6 Crime qualificado pela resultado
 Nesta espécie, a consumação dá-se com a produção do resultado que
agrava especialmente a pena (CUNHA, 2015, p. 337). Exemplo: lesão
corporal seguida de morte, art. 129 §3º, Código Penal.
 2.1.7 Crime omissivo próprio
 Consuma-se no momento que o agente se abstem de realizar a
conduta devida que lhe era imposta pelo tipo mandamental (CUNHA,
2015, p. 337). Como exemplo citamos a omissão de socorro, art. 135
do Código Penal.
 2.1.8 Crime omissivo impróprio
 Tem a sua consumação, conforme expressa Cunha (2015), com a
produção do resultado naturalístico. Exemplo desta espécie criminal é o
crime do garantidor, art. 13, §2º do Código Penal.
 2.2 Crime tentado
 Nucci, em seu Manual de Direito Penal (2017), assim conceitua crime
tentado: “É a realização incompleta da conduta típica, que não é punida
como crime autônomo”. Ainda conforme o autor citado, “o Código Penal
não faz previsão, para cada delito, da figura da tentativa, embora a
grande maioria comporte a figura tentada” (NUCCI, 2017, p. 287).
 2.2.1 Natureza jurídica da tentativa
 Nucci (2017) descreve a natureza jurídica da tentativa como uma
“ampliação da tipicidade proibida, em razão de uma fórmula geral
ampliatória dos tipos dolosos, para abranger a parte da conduta
imediatamente anterior à consumação” (Eugênio Raúl Zaffaroni e José
Henrique Pierangeli, Da tentativa, p. 27 apud Nucci, 2017, p. 288).
 Observamos, então, que a tentativa constitui uma ampliação temporal
da figura típica e para que tal ato executório, anterior à consumação,
seja punível é preciso que a figura típica se estenda para o alcançar.
Conforme Jesus (2011, p. 375):
 A sua punibilidade se estabelece em face do disposto no art. 14, II, do
CP, que tem eficácia extensiva, uma vez que por força dele é que se
amplia a proibição contida nas normas penais incriminadoras a fatos
que o agente não realiza de forma completa, pois apenas pratica atos
dirigidos à realização perfeita do tipo.
 Nota-se, portanto, o que Jesus (2011) chama de “adequação indireta
em face da incidência de duas normas”. Ou seja, a primeira norma,
contida na parte geral do codex permite a ampliação temporal do tipo
incriminador, estendendo-se à preparação do crime e, em junção com
uma segunda norma incriminadora da parte especial, cria novos
mandamentos proibitivos.
 2.2.2 Teorias fundamentadoras da punição da tentativa
 Nucci (2017) elenca quatro teorias que servem de fundamentação para
a punição da tentativa.
 2.2.2.1 Teoria Subjetiva
 Segundo tal teoria, deve-se, para a punição da tentativa, levar em conta
a vontade criminosa, “desde que nítida, podendo ela estar presente e
identificada tanto na preparação quanto na execução” (NUCCI, 2017, p.
289). De acordo com tal teoria, como o objetivo é punir quem manifesta
vontade contrária ao Direito, nem sempre deve a pena ser atenuada
pelo juiz.
 2.2.2.2 Teoria Objetiva
 De acordo com tal teoria “o objetivo da punição da tentativa volta-se ao
perigo efetivo que o bem jurídico corre, o que somente se configura
quando os atos executórios, de caráter unívoco, têm início, com
idoneidade, para atingi-lo”. (NUCCI, 2017, p. 289). Tal teoria é adotada
pelo art. 14, II, do Código Penal brasileiro.
 2.2.2.3 Teoria Subjetivo-objetiva
 Aqui a punição fundamenta-se pela junção da avaliação da vontade
criminosa com o efetivo risco ao bem jurídico tutelado. Tendo em vista
que é levado em conta a vontade criminosa e o efetivo risco dessa a
um bem jurídico, é faculdade do juiz reduzir ou não a pena.
 2.2.2.4 Teoria Sintomática
 Segundo Nucci (2017), tal teoria é originária da Escola Positiva,
entendo-se que o fundamento da punição da tentativa concentra-se na
verificação do nível de periculosidade do agente.
 2.2.3 Dolo e culpa na tentativa
 Das características da tentativa já expostas anteriormente pode-se
deduzir que, tendo em vista que há dois elementos que constituem a
tentativa, qual seja, a) início da execução; e b) não consumação do
crime por circunstâncias alheias à vontade do agente; não há tentativa
de crime culposo, pois em se tratando de crime culposo o agente não
persegue nenhum resultado.
 “Quanto ao dolo, no crime tentado, é exatamente o mesmo do delito
consumado. Afinal, o que o agente almeja é atingir a consumação”
(NUCCI, 2017, p. 290). Vimos que a consumação do crime não se dá
por motivos alheios à vontade do praticante, fazendo-se presente o
dolo desde o início da execução que, por forças externas, fora
interrompida.
 2.2.4 Tentativa e dolo eventual
 De acordo com Nucci (2017, p. 294) “é perfeitamente admissível a
coexistência da tentativa com o dolo eventual, embora seja de difícil
comprovação no caso concreto. Citando Nélson Hungria, afirma Nucci:
 Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime,
previsto como possível, é claro que este entra na órbita de sua volição:
logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal resultado não ocorre, é
inegável que o agente deve responder por tentativa. A dificuldade de
prova não pode influir na conceituação da tentativa.
(HUNGRIA, Comentários ao Código Penal, v. I, t. II, p. 90 apud NUCCI,
2017, p. 294) 
 Vale ressantar, no entanto, que o posicionamento doutrinário acerca da
relação entre dolo eventual e tentativa é conflitante, existindo inúmeros
doutrinadores que discordam da possibilidade de existência da tentativa
em crimes de dolo eventual. Como exemplo, citamos o magistério de
Maia Gonçalves que Nucci traz em seu curso de Direito Penal.
 Em contrário, colha-se o magistério de Maia Gonçalves, comentando
que não há tentativa no contexto do dolo eventual, porque o art. 22 do
Código Penal português expressamente se refere à prática de atos de
execução de um crime que decidiu cometer, logo, não pode o agente
ter assumido o risco (Código Penal anotado, p. 131). Admite, no
entanto, que o STJ portugês aceite a tentativa em caso de dolo
eventual, pois nessa forma de dolo também
existe representação e vontade, embora “enfraquecidas ou
degradadas”. (NUCCI, 2017, p. 294) (destacamentos do autor). 
 2.2.5 Espécies de Tentativa
 Segundo Cunha (2015) o instituto Tentativa se subdivide em espécies,
de acordo com o iter criminis percorrido e conforme o resultado
produzido na vítima.
 2.2.5.1 Quanto ao inter criminis percorrido
 a)      Tentativa imperfeita: quando o agente é impedido de prosseguir
no seu intento, deixando de praticar os atos executórios à sua
disposição (cf. CUNHA, 2015, p. 340).
 b)      Tentativa perfeita: o agente, mesmo tendo praticado todos os atos
executórios disponíveis, não logra a consumação do crime por
circunstâncias alheias à sua vontade.
 2.2.5.2 Quanto ao resultado produzido na vítima
 a)      Tentativa branca ou incruenta: o golpe desferido não atinge a
vítima, consequentemente não gerando lesão à mesma.
 b)      Tentativa vermelha ou cruenta: a vítima sofre lesão por haver sido
efetivamente atingida.
 2.2.5.3 Quanto à possibilidade de alcançar o resultado
 a)      Tentativa idônea: o resultado era possível, só não o foi por
motivos alheios à vontade do agente.
 b)      Tentativa inidônea: o crime mostra-se impossível de ser
consumado, seja por ineficácio do meio empregado pelo agente, ou,
por impropriedade do objeto material.
 2.2.6 Crimes que não admitem a tentativa
 Nucci (2017) elenca uma série de crimes nos quais não é possível a
ocorrência da tentativa, os quais aqui citamos:
 a)      delitos culposos: pois o resultado é sempre involuntário.
 b)      Crimes preterdolosos: pois há a necessidade de um resultado
mais grave para a constituição de tal tipo.
 c)      Crimes unissubsistentes: pois são constituídos por ato único.
 d)      Crimes omissivos próprios: pois, segundo Nucci (2017), o não
fazer, descrito no tipo, não admite fracionamento.
 e)      Delitos habituais próprios: são aqueles que se configuram por
uma conduta reiterada. Não admite a tentativa pois os atos isolados
são penalmente irrelevantes.
 f)       Contravenções penais: a Lei de Contravenções Penais afirma não
ser punível a tentativa (art. 4º).
 g)      Delitos Condicionados: pois, para sua concretização, são
submetidos à superveniência de uma condição.
 h)      Crimes de atentado: em tais tentativas a punição é autônoma ou
igual à do crime consumado.
 i)       Crimes permanentes na forma omissiva: pois não há iter
criminis possível de diferenciar a preparação da execução.
 j)       Crimes que punem somente os atos preparatórios de outros: pois
dizem respeito à preparação de um crime, tornando-se ilógico punir a
tentativa de preparação de um crime.
 3 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
 3.1 Conceito
 Cunha (2015, p. 343) conceitua a desistência voluntária e o
arrependimento eficaz como “espécies de tentativa abandonada ou
qualificada”. Assim preceitua o art. 15 do Código Penal, in verbis: “O
agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos
praticados”.
 A desistência voluntária, trata-se, portanto, da desistência no
prosseguimento dos atos executórios, de modo voluntário,
respondendo o agente somente pelo qua já praticou. Mesmo que o
agente desista de prosseguir na execução por achar o momento
inapropriado, pretendendo continuar posteriormente, deve ser
beneficiado pela excludente de culpabilidade. Conforme Nucci (2017)
esse é o pensamento majoritário.
 Já o arrependimento eficaz consiste na desistência ocorrida entre o
término dos atos executórios e a consumação. O agente, nesse caso,
já fizera o que podia para atingir o resultado pretendido, mas, resolve
intervir para evitar a concretização do mesmo. É importante salientar
também que, no dispositivo legal, art. 15 do Código Penal, exigi-se que
o arrependimento seja necessariamente eficaz, ou seja, capaz de
impedir o resultado. Portanto, mesmo que haja se arrependido, o
agente que não consegue evitar a consumação do crime não será
beneficiado pelo previsto no artigo 15 do referido codex.
 3.2 Natureza jurídica da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz
 A desistência voluntária e o arrependimento constituem-se, para Jesus
(2017), em causa de exclusão da adequação típica. Citando Nélson
Hungria, Jesus (2011) assim especifica a natureza jurídica de tais
institutos:
 Para Nélson Hungria, “trata-se de causas de extinção de punibilidade
(embora não catalogadas no art. 107), ou seja, circunstâncias que,
sobrevindo à tentativa de um crime, anulam a punibilidade do fato a
esse título. Há uma renúncia do Estado ao jus puniendi (no tocante à
entidade ‘crime tentado’), inspirada por motivos de oportunidade” (Ob.
cit., 1977, v. 1, t. 2, p. 93. apud JESUS, 2011, p. 382). 
 Portanto, quando o crime não atinge sua consumação por força da
vontade do agente, não incide sobre ele a norma de extensão,
explicada no subtópico 1.2.1 Natureza jurídica da tentativa do presente
artigo, pois os atos praticados pelo agente não são típicos em face do
delito que pretendia praticar.
 No entanto, é valiosa a contribuição de Nucci (2017) sobre a natureza
jurídica da desistência da tentativa. Com efeito, o referido autor elenca
as três correntes doutrinárias existentes que debatem acerca da
natureza jurídica da desistência e do arrependimento.
 a)      Causa de exclusão da tipicidade: como já fora visto no presente
artigo, o tipo penal da tentativa é formado pela utilização do art. 14, II,
do Código Penal, o qual prevê o início da execução e a não
consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. Daí por
que, segundo os doutrinadores que defendem tal teoria, “se a
desistência for voluntária, não há que se falar em causa alheia à
vontade, afastando-se a tipicidade” (NUCCI, 2017, p. 305).
 b)      Causa de exclusão da culpabilidade: segundo os representantes
dessa teoria (Roxin e Welzel) “tendo em vista que o agente desistiu de
prosseguir no crime idealizado, não deve mais sofrer juízo de
reprovação social, resultando no afastamento da sua culpabilidade”
(NUCCI, 2017, p. 305).
 c)      Causa pessoal de exclusão da punibilidade: segundo a presente
teoria afasta-se a punibilidade do que abandona a tentativa, mas não a
tipicidade ou a culpabilidade. Segundo tal corrente, não se pode
suprimir retroativamente a tipicidade.
 Exemplificam Zaffaroni e Pierangeli: “A principal objeção que se pode
formular contra o argumento daqueles que pretendem ver na
desistência um atipicidade, seja objetiva, seja subjetiva, encontra-se na
impossibilidade de ter a desistência a virtualidade e tornar atípica uma
conduta que antes era típica. Se o começo de execução é objetiva e
subjetivamente típico, não se compreende como um ato posterior possa
eliminar o que já se apresentou como proibido, situação que muito se
assemelha à do consentimento subsequente. (Da tentativa, p.
87 apud NUCCI, 2017, p. 306). 
 Defende Nucci essa última corrente como a mais adequada.
 3.3 Distinção entre voluntariedade e espontaneidade
 De acordo com Nucci, no contexto do Código Penal, há diferença entre
voluntário e espontâneo. “Agir voluntariamente significa
atuar livremente, sem qualquer coação. Agir espontaneamente quer
dizer uma vontade sincera, fruto do mais íntimo desejo do agente”
(NUCCI, 2017, p. 306).
 No caso da desistência e do arrependimento eficaz, exige-se apenas a
voluntariedade, mas não a espontaneidade. “Se o agente deixar de
prosseguir na trajetória criminosa porque se arrependeu do que vinha
fazendo, terá agido de modo voluntário e espontâneo, embora não seja
necessário este último requisito para configurar a excludente” (NUCCI,
2017, p. 306).
 4 CONCLUSÃO
 Com a confecção do presente trabalho ficou claro que falar sobre tal
tema é algo complexo devido a grande quantidade de material
disponível. São diversos os autores que falam do mesmo, no entanto,
buscou-se neste trabalho encontrar a unidade existente entre os
doutrinadores acerca do tema de pesquisa proposto.
 É importante salientar também que o presente trabalho é um mero
compêndio sobre a questão do crime consumado e tentado, da
desistência e do arrependimento. Não se buscou apresentar nada de
novo, somente compilar, depois de pesquisa bibliográfica, o que foi
possível captar sobre as características, natureza jurídica e
consequências  do crime consumado e tentado, da desistência e do
arrependimento.
 5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 3. ed.
Salvador: Juspodivm, 2015. 547 p.
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 19. ed. Rio de
Janeiro: Impetus, 2017. 983 p.
 JESUS, Damásio de. Direito Penal: Parte Geral. 32. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. 802 p.
 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017. 1257 p.
 NOTA:
 [1]     Protair significa prolongar-se no tempo.

 1 INTRODUÇÃO
 O crime consumado para o ordenamento jurídico é aquele no qual se
realiza todos os requisitos exigidos pelo tipo penal. No entanto, por trás
de quase todo crime consumado há um iter criminis que nada mais é do
que a preparação, pari passu, de vários elementos que se sobrepõem
até a consumação do ato delitivo.
 No presente artigo buscou-se falar um pouco sobre as características
do crime consumado bem como da figura da tentativa, que nada mais é
do que a execução interrompida do crime, por motivos estranhos à
vontade do agente. Trata ainda este trabalho das consequências da
tentativa, suas características e natureza jurídica.
 Por fim, realizou-se uma compilação acerca dos entendimentos teóricos
sobre a figura da desistência e do arrependimento voluntário, bem
como, também, descrevendo as características, natureza jurídica e
consequências de tais institutos.
 A metodologia utilizada foi unicamente a pesquisa bibliográfica nos
principais doutrinadores penais brasileiros, todos atualizados quanto a
tais questões. Foram fonte de pesquisa tanto livros físicos, como,
também, material digital.
 2 CRIME CONSUMADO E TENTADO
 2.1 Crime Consumado
 O crime consumado é aquele em que há a realização integral do tipo
penal, ou seja, como afirma Nucci (2017, p. 287), é quando o tipo
concreto se enquadra no tipo abstrato. Rogério Sanches Cunha (2015,
p. 336) afirma ainda, sobre o crime consumado, que, “nos termos do
art. 14, I do Código Penal, considera-se consumado o crime 'quando
nele se reúnem todos os elementos da sua definição legal'. Tem-se,
assim, um crime completo, perfeito, realizado por inteiro, coincidindo o
fato concreto e o tipo legal.”
 No entanto, é válido ressaltar que o momento da consumação varia de
acordo com a natureza ou espécie do crime. Cunha (2015) efetua uma
classificação quanto à natureza do crime e seu respectivo momento de
consumação, tendo em vista o que prevê o dispositivo legal.
Reproduziremos aqui a classificação realizada pelo autor em
seu Manual de Direito Penal – Parte Geral.
 2.1.1 Crime material ou de resultado
 Nesta espécie de crime é previsto, no tipo penal, a descrição da
conduta e seu respectivo resultado, exigindo, para sua efetiva
consumação, a alteração (modificação) do mundo exterior. Como
exemplo podemos citar o homicídio, art. 121 do Código Penal. Com
efeito, o homicídio só se consuma com a morte.
 2.1.2 Crime formal ou de consumação antecipada
 Conforme Cunha (2015), nesta espécie de crime “a norma penal
também descreve um comportamento seguido de um resultado
naturalístico, mas dispensa a modificação do mundo exterior,
contentando-se, para a consumação, com a prática da conduta típica”.
Logicamente, o crime se consuma, portanto, no momento da ação.
 2.1.3 Crime de mera conduta
 Trata-se de um delito sem resultado naturalístico, descrevendo a lei
apenas uma conduta, consumando-se o crime no momento da prática
da ação. Como exemplo citemos a violação de domicílio, art. 150 do
Código Penal. Com efeito a consumação da violação de domicílio se dá
no próprio momento da prática delitiva, não importando as ações
subsequentes.
 2.1.4 Crime permanente
 Ainda nas palavras de Cunha (2015, p. 337) “nos crimes permanentes
a consumação se protrai[1] no tempo, prolongando-se até que o agente
cesse a conduta delituosa”. Exemplo de tal crime é o sequestro ou
cárcere privado, art. 148 do Código Penal.
 2.1.5 Crime habitual
 Para a consumação desta espécie criminal requer-se a reiteração da
conduta típica. Ou seja, para enquadrar-se no tipo crime habitual a
prática do mesmo deve ser constante e repetitiva.
 2.1.6 Crime qualificado pela resultado
 Nesta espécie, a consumação dá-se com a produção do resultado que
agrava especialmente a pena (CUNHA, 2015, p. 337). Exemplo: lesão
corporal seguida de morte, art. 129 §3º, Código Penal.
 2.1.7 Crime omissivo próprio
 Consuma-se no momento que o agente se abstem de realizar a
conduta devida que lhe era imposta pelo tipo mandamental (CUNHA,
2015, p. 337). Como exemplo citamos a omissão de socorro, art. 135
do Código Penal.
 2.1.8 Crime omissivo impróprio
 Tem a sua consumação, conforme expressa Cunha (2015), com a
produção do resultado naturalístico. Exemplo desta espécie criminal é o
crime do garantidor, art. 13, §2º do Código Penal.
 2.2 Crime tentado
 Nucci, em seu Manual de Direito Penal (2017), assim conceitua crime
tentado: “É a realização incompleta da conduta típica, que não é punida
como crime autônomo”. Ainda conforme o autor citado, “o Código Penal
não faz previsão, para cada delito, da figura da tentativa, embora a
grande maioria comporte a figura tentada” (NUCCI, 2017, p. 287).
 2.2.1 Natureza jurídica da tentativa
 Nucci (2017) descreve a natureza jurídica da tentativa como uma
“ampliação da tipicidade proibida, em razão de uma fórmula geral
ampliatória dos tipos dolosos, para abranger a parte da conduta
imediatamente anterior à consumação” (Eugênio Raúl Zaffaroni e José
Henrique Pierangeli, Da tentativa, p. 27 apud Nucci, 2017, p. 288).
 Observamos, então, que a tentativa constitui uma ampliação temporal
da figura típica e para que tal ato executório, anterior à consumação,
seja punível é preciso que a figura típica se estenda para o alcançar.
Conforme Jesus (2011, p. 375):
 A sua punibilidade se estabelece em face do disposto no art. 14, II, do
CP, que tem eficácia extensiva, uma vez que por força dele é que se
amplia a proibição contida nas normas penais incriminadoras a fatos
que o agente não realiza de forma completa, pois apenas pratica atos
dirigidos à realização perfeita do tipo.
 Nota-se, portanto, o que Jesus (2011) chama de “adequação indireta
em face da incidência de duas normas”. Ou seja, a primeira norma,
contida na parte geral do codex permite a ampliação temporal do tipo
incriminador, estendendo-se à preparação do crime e, em junção com
uma segunda norma incriminadora da parte especial, cria novos
mandamentos proibitivos.
 2.2.2 Teorias fundamentadoras da punição da tentativa
 Nucci (2017) elenca quatro teorias que servem de fundamentação para
a punição da tentativa.
 2.2.2.1 Teoria Subjetiva
 Segundo tal teoria, deve-se, para a punição da tentativa, levar em conta
a vontade criminosa, “desde que nítida, podendo ela estar presente e
identificada tanto na preparação quanto na execução” (NUCCI, 2017, p.
289). De acordo com tal teoria, como o objetivo é punir quem manifesta
vontade contrária ao Direito, nem sempre deve a pena ser atenuada
pelo juiz.
 2.2.2.2 Teoria Objetiva
 De acordo com tal teoria “o objetivo da punição da tentativa volta-se ao
perigo efetivo que o bem jurídico corre, o que somente se configura
quando os atos executórios, de caráter unívoco, têm início, com
idoneidade, para atingi-lo”. (NUCCI, 2017, p. 289). Tal teoria é adotada
pelo art. 14, II, do Código Penal brasileiro.
 2.2.2.3 Teoria Subjetivo-objetiva
 Aqui a punição fundamenta-se pela junção da avaliação da vontade
criminosa com o efetivo risco ao bem jurídico tutelado. Tendo em vista
que é levado em conta a vontade criminosa e o efetivo risco dessa a
um bem jurídico, é faculdade do juiz reduzir ou não a pena.
 2.2.2.4 Teoria Sintomática
 Segundo Nucci (2017), tal teoria é originária da Escola Positiva,
entendo-se que o fundamento da punição da tentativa concentra-se na
verificação do nível de periculosidade do agente.
 2.2.3 Dolo e culpa na tentativa
 Das características da tentativa já expostas anteriormente pode-se
deduzir que, tendo em vista que há dois elementos que constituem a
tentativa, qual seja, a) início da execução; e b) não consumação do
crime por circunstâncias alheias à vontade do agente; não há tentativa
de crime culposo, pois em se tratando de crime culposo o agente não
persegue nenhum resultado.
 “Quanto ao dolo, no crime tentado, é exatamente o mesmo do delito
consumado. Afinal, o que o agente almeja é atingir a consumação”
(NUCCI, 2017, p. 290). Vimos que a consumação do crime não se dá
por motivos alheios à vontade do praticante, fazendo-se presente o
dolo desde o início da execução que, por forças externas, fora
interrompida.
 2.2.4 Tentativa e dolo eventual
 De acordo com Nucci (2017, p. 294) “é perfeitamente admissível a
coexistência da tentativa com o dolo eventual, embora seja de difícil
comprovação no caso concreto. Citando Nélson Hungria, afirma Nucci:
 Se o agente aquiesce no advento do resultado específico do crime,
previsto como possível, é claro que este entra na órbita de sua volição:
logo, se, por circunstâncias fortuitas, tal resultado não ocorre, é
inegável que o agente deve responder por tentativa. A dificuldade de
prova não pode influir na conceituação da tentativa.
(HUNGRIA, Comentários ao Código Penal, v. I, t. II, p. 90 apud NUCCI,
2017, p. 294) 
 Vale ressantar, no entanto, que o posicionamento doutrinário acerca da
relação entre dolo eventual e tentativa é conflitante, existindo inúmeros
doutrinadores que discordam da possibilidade de existência da tentativa
em crimes de dolo eventual. Como exemplo, citamos o magistério de
Maia Gonçalves que Nucci traz em seu curso de Direito Penal.
 Em contrário, colha-se o magistério de Maia Gonçalves, comentando
que não há tentativa no contexto do dolo eventual, porque o art. 22 do
Código Penal português expressamente se refere à prática de atos de
execução de um crime que decidiu cometer, logo, não pode o agente
ter assumido o risco (Código Penal anotado, p. 131). Admite, no
entanto, que o STJ portugês aceite a tentativa em caso de dolo
eventual, pois nessa forma de dolo também
existe representação e vontade, embora “enfraquecidas ou
degradadas”. (NUCCI, 2017, p. 294) (destacamentos do autor). 
 2.2.5 Espécies de Tentativa
 Segundo Cunha (2015) o instituto Tentativa se subdivide em espécies,
de acordo com o iter criminis percorrido e conforme o resultado
produzido na vítima.
 2.2.5.1 Quanto ao inter criminis percorrido
 a)      Tentativa imperfeita: quando o agente é impedido de prosseguir
no seu intento, deixando de praticar os atos executórios à sua
disposição (cf. CUNHA, 2015, p. 340).
 b)      Tentativa perfeita: o agente, mesmo tendo praticado todos os atos
executórios disponíveis, não logra a consumação do crime por
circunstâncias alheias à sua vontade.
 2.2.5.2 Quanto ao resultado produzido na vítima
 a)      Tentativa branca ou incruenta: o golpe desferido não atinge a
vítima, consequentemente não gerando lesão à mesma.
 b)      Tentativa vermelha ou cruenta: a vítima sofre lesão por haver sido
efetivamente atingida.
 2.2.5.3 Quanto à possibilidade de alcançar o resultado
 a)      Tentativa idônea: o resultado era possível, só não o foi por
motivos alheios à vontade do agente.
 b)      Tentativa inidônea: o crime mostra-se impossível de ser
consumado, seja por ineficácio do meio empregado pelo agente, ou,
por impropriedade do objeto material.
 2.2.6 Crimes que não admitem a tentativa
 Nucci (2017) elenca uma série de crimes nos quais não é possível a
ocorrência da tentativa, os quais aqui citamos:
 a)      delitos culposos: pois o resultado é sempre involuntário.
 b)      Crimes preterdolosos: pois há a necessidade de um resultado
mais grave para a constituição de tal tipo.
 c)      Crimes unissubsistentes: pois são constituídos por ato único.
 d)      Crimes omissivos próprios: pois, segundo Nucci (2017), o não
fazer, descrito no tipo, não admite fracionamento.
 e)      Delitos habituais próprios: são aqueles que se configuram por
uma conduta reiterada. Não admite a tentativa pois os atos isolados
são penalmente irrelevantes.
 f)       Contravenções penais: a Lei de Contravenções Penais afirma não
ser punível a tentativa (art. 4º).
 g)      Delitos Condicionados: pois, para sua concretização, são
submetidos à superveniência de uma condição.
 h)      Crimes de atentado: em tais tentativas a punição é autônoma ou
igual à do crime consumado.
 i)       Crimes permanentes na forma omissiva: pois não há iter
criminis possível de diferenciar a preparação da execução.
 j)       Crimes que punem somente os atos preparatórios de outros: pois
dizem respeito à preparação de um crime, tornando-se ilógico punir a
tentativa de preparação de um crime.
 3 DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA E ARREPENDIMENTO EFICAZ
 3.1 Conceito
 Cunha (2015, p. 343) conceitua a desistência voluntária e o
arrependimento eficaz como “espécies de tentativa abandonada ou
qualificada”. Assim preceitua o art. 15 do Código Penal, in verbis: “O
agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou
impede que o resultado se produza, só responde pelos atos
praticados”.
 A desistência voluntária, trata-se, portanto, da desistência no
prosseguimento dos atos executórios, de modo voluntário,
respondendo o agente somente pelo qua já praticou. Mesmo que o
agente desista de prosseguir na execução por achar o momento
inapropriado, pretendendo continuar posteriormente, deve ser
beneficiado pela excludente de culpabilidade. Conforme Nucci (2017)
esse é o pensamento majoritário.
 Já o arrependimento eficaz consiste na desistência ocorrida entre o
término dos atos executórios e a consumação. O agente, nesse caso,
já fizera o que podia para atingir o resultado pretendido, mas, resolve
intervir para evitar a concretização do mesmo. É importante salientar
também que, no dispositivo legal, art. 15 do Código Penal, exigi-se que
o arrependimento seja necessariamente eficaz, ou seja, capaz de
impedir o resultado. Portanto, mesmo que haja se arrependido, o
agente que não consegue evitar a consumação do crime não será
beneficiado pelo previsto no artigo 15 do referido codex.
 3.2 Natureza jurídica da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz
 A desistência voluntária e o arrependimento constituem-se, para Jesus
(2017), em causa de exclusão da adequação típica. Citando Nélson
Hungria, Jesus (2011) assim especifica a natureza jurídica de tais
institutos:
 Para Nélson Hungria, “trata-se de causas de extinção de punibilidade
(embora não catalogadas no art. 107), ou seja, circunstâncias que,
sobrevindo à tentativa de um crime, anulam a punibilidade do fato a
esse título. Há uma renúncia do Estado ao jus puniendi (no tocante à
entidade ‘crime tentado’), inspirada por motivos de oportunidade” (Ob.
cit., 1977, v. 1, t. 2, p. 93. apud JESUS, 2011, p. 382). 
 Portanto, quando o crime não atinge sua consumação por força da
vontade do agente, não incide sobre ele a norma de extensão,
explicada no subtópico 1.2.1 Natureza jurídica da tentativa do presente
artigo, pois os atos praticados pelo agente não são típicos em face do
delito que pretendia praticar.
 No entanto, é valiosa a contribuição de Nucci (2017) sobre a natureza
jurídica da desistência da tentativa. Com efeito, o referido autor elenca
as três correntes doutrinárias existentes que debatem acerca da
natureza jurídica da desistência e do arrependimento.
 a)      Causa de exclusão da tipicidade: como já fora visto no presente
artigo, o tipo penal da tentativa é formado pela utilização do art. 14, II,
do Código Penal, o qual prevê o início da execução e a não
consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente. Daí por
que, segundo os doutrinadores que defendem tal teoria, “se a
desistência for voluntária, não há que se falar em causa alheia à
vontade, afastando-se a tipicidade” (NUCCI, 2017, p. 305).
 b)      Causa de exclusão da culpabilidade: segundo os representantes
dessa teoria (Roxin e Welzel) “tendo em vista que o agente desistiu de
prosseguir no crime idealizado, não deve mais sofrer juízo de
reprovação social, resultando no afastamento da sua culpabilidade”
(NUCCI, 2017, p. 305).
 c)      Causa pessoal de exclusão da punibilidade: segundo a presente
teoria afasta-se a punibilidade do que abandona a tentativa, mas não a
tipicidade ou a culpabilidade. Segundo tal corrente, não se pode
suprimir retroativamente a tipicidade.
 Exemplificam Zaffaroni e Pierangeli: “A principal objeção que se pode
formular contra o argumento daqueles que pretendem ver na
desistência um atipicidade, seja objetiva, seja subjetiva, encontra-se na
impossibilidade de ter a desistência a virtualidade e tornar atípica uma
conduta que antes era típica. Se o começo de execução é objetiva e
subjetivamente típico, não se compreende como um ato posterior possa
eliminar o que já se apresentou como proibido, situação que muito se
assemelha à do consentimento subsequente. (Da tentativa, p.
87 apud NUCCI, 2017, p. 306). 
 Defende Nucci essa última corrente como a mais adequada.
 3.3 Distinção entre voluntariedade e espontaneidade
 De acordo com Nucci, no contexto do Código Penal, há diferença entre
voluntário e espontâneo. “Agir voluntariamente significa
atuar livremente, sem qualquer coação. Agir espontaneamente quer
dizer uma vontade sincera, fruto do mais íntimo desejo do agente”
(NUCCI, 2017, p. 306).
 No caso da desistência e do arrependimento eficaz, exige-se apenas a
voluntariedade, mas não a espontaneidade. “Se o agente deixar de
prosseguir na trajetória criminosa porque se arrependeu do que vinha
fazendo, terá agido de modo voluntário e espontâneo, embora não seja
necessário este último requisito para configurar a excludente” (NUCCI,
2017, p. 306).
 4 CONCLUSÃO
 Com a confecção do presente trabalho ficou claro que falar sobre tal
tema é algo complexo devido a grande quantidade de material
disponível. São diversos os autores que falam do mesmo, no entanto,
buscou-se neste trabalho encontrar a unidade existente entre os
doutrinadores acerca do tema de pesquisa proposto.
 É importante salientar também que o presente trabalho é um mero
compêndio sobre a questão do crime consumado e tentado, da
desistência e do arrependimento. Não se buscou apresentar nada de
novo, somente compilar, depois de pesquisa bibliográfica, o que foi
possível captar sobre as características, natureza jurídica e
consequências  do crime consumado e tentado, da desistência e do
arrependimento.
 5 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
 CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Geral. 3. ed.
Salvador: Juspodivm, 2015. 547 p.
 GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: Parte Geral. 19. ed. Rio de
Janeiro: Impetus, 2017. 983 p.
 JESUS, Damásio de. Direito Penal: Parte Geral. 32. ed. São Paulo:
Saraiva, 2011. 802 p.
 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 14. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2017. 1257 p.
 NOTA:
 [1]     Protair significa prolongar-se no tempo.

 2.3. Crimes comissivo, omissivo e comissivo-omissivo


 O crime omissivo consiste na realização de uma ação positiva
visando um resultado tipicamente ilícito, são delitos de ação. Já o
crime omissivo próprio consiste no fato de o agente deixar de
realizar determinada conduta, tendo a obrigação jurídica de fazê-
lo; configura-se com a simples abstenção da conduta devida,
quando podia e devia realizá-la, independentemente do
resultado. No crime omissivo impróprio ou comissivo por
omissão, a omissão é o meio através do qual o agente produz um
resultado, Nestes crimes, o agente responde não pela omissão
simplesmente, mas pelo resultado decorrente desta, a que estava,
juridicamente, obrigado a impedir.
 2.4. Crimes material, formal e de mera conduta
 O crime material descreve a conduta cujo resultado integra o
próprio tipo penal, isto é, para a sua consumação é indispensável
a produção de um dano efetivo. O fato se compõe da conduta
humana e da modificação do mundo exterior por ela operada. A
não ocorrência do resultado caracteriza a tentativa.
 O crime formal também descreve um resultado, que, contudo,
não precisa verificar-se para ocorrer a consumação. Basta a ação
do agente e a vontade de concretizá-lo, configuradoras do dano
potencial, isto é, do “eventus periculi” (ameaça). Satisfazendo-se
com a simples ação do agente.
 O crime de mera conduta, no qual o legislador descreve somente
o comportamento do agente, sem se preocupar com o resultado,
estes são sem resultado.
 2.5. Crimes unissubsistente e plurissubsistente
 O crime unissubsistente constitui-se de ato único. O processo
executivo unitário, que não admite fracionamento, coincide
temporalmente com a consumação.
 No crime plurissubsistente sua execução pode desdobrar-se em
vários atos sucessivos, de tal sorte que a ação e o resultado típico
separam-se espacialmente.

 A Conduta Punível
 1. Conceito de Ação
 Ação é o comportamento humano voluntário conscientemente
dirigido a um fim. A ação compõe-se de um comportamento
exterior, de conteúdo psicológico, que é a vontade dirigida a um
fim, da representação ou antecipação mental do resultado
pretendido, da escolha dos meios e a consideração dos efeitos
concomitantes ou necessários e o movimento corporal dirigido ao
fim proposto.

 2. Teorias da Ação
 2.1. Teoria causal-naturalista da ação
 Aqui o conceito de ação é movimento corporal voluntário que
causa modificação no mundo exterior. A manifestação de
vontade, o resultado e a relação de causalidade são os três
elementos do conceito de ação. Abstrai-se, no entanto, desse
conceito o conteúdo da vontade, que é deslocado para a
culpabilidade. Todos os efeitos do querer do sujeito que atua são
partes integrantes da ação.
 2.2. Teoria final da ação
 A “finalidade” ou o caráter final da ação baseia-se em que o
homem, graças a seu saber causal, pode prever, dentro de certos
limites, as conseqüências possíveis de sua conduta. Em razão de
seu saber causal prévio pode dirigir os diferentes atos de sua
atividade de tal forma que oriente o acontecer causal exterior a
um fim e assim o determine finalmente. É uma atividade dirigida
conscientemente em função do fim, enquanto o acontecer causal
não está dirigido em função do fim. Sem a vontade a ação ficaria
destruída em sua estrutura.
 A direção final de uma ação realiza-se em duas fases:
 1ª) subjetiva (ocorre na esfera intelectiva): a) antecipação do fim
que o agente quer realizar (objetivo pretendido); b) seleção dos
meios adequados para a consecução do fim (meio de execução);
c) consideração dos efeitos concomitantes relacionados à
utilização dos meios e o propósito a ser alcançado (conseqüências
da relação meio/fim);
 2ª) objetiva (ocorre no mundo real): execução da ação real,
material, efetiva, dominada pela determinação do fim e dos
meios na esfera do pensamento. O agente põe em movimento,
segundo um plano, o processo causa, dominado pela finalidade,
procurando alcançar o objetivo proposta. Se, por qualquer razão,
não se consegue o domínio final ou não se produz o resultado, a
ação será apenas tentada.
 A crítica mais contundente sofrida pela teoria finalista refere-se
aos crimes culposos, cujo resultado se produz de forma
puramente causal, não sendo abrangido pela vontade do autor.
Com efeito, nos crimes culposos, na verdade, decisivos são os
meios utilizados ou a forma de sua utilização, ainda que a
finalidade pretendida seja em si mesma irrelevante para o Direito
Penal. Não são irrelevantes, porém, ao Direito, os meios
escolhidos ou a forma de sua utilização.
 2.3.  Teoria social da ação
 A teoria social da ação surgiu como uma via intermediária, por
considerar que a direção da ação não se esgota na causalidade e
na determinação individual, devendo ser questionada a direção
da ação de forma objetivamente genérica.

 3. Ausência da ação e de omissão


 Quando o movimento corporal do agente não for orientado pela
consciência e vontade não se pode falar em ação.
 Há ausência de ação, segundo a doutrina dominante, em três
grupos de casos:
 a) Coação física irresistível: quem atua obrigado por uma força
irresistível não age voluntariamente. Quem atua, nessas
circunstâncias, não é dono do ato material praticado, não
passando de mero instrumento realizador da vontade do coator.
Nesse particular, o Código Penal brasileiro reconhece e pune a
figura do autor imediato.
 A coação física exclui a própria ação, enquanto a coação moral
exclui a culpabilidade, desde que irresistíveis.
 b) Movimento reflexos: são atos reflexos aqueles em que o
movimento corpóreo ou sua ausência é determinado por
estímulos dirigidos diretamente ao sistema nervoso. Sem
intervenção da vontade.
 c) Estados de inconsciência: consciência “é o resultado da
atividade das funções mentais. Não se trata de uma faculdade do
psiquismo humano, mas do resultado do funcionamento de todas
elas”. Quando essas funções mentais não funcionam
adequadamente se diz que há estado de inconsciência, que é
incompatível com a vontade, e sem vontade não há ação.

 4. Os sujeitos da ação
 4.1. Os sujeitos ativo e passivo da ação
 a) Sujeito ativo
 Por ser o crime uma ação humana, somente o ser vivo, nascido de
mulher, pode ser autor de crime. A conduta é produto exclusivo
do Homem. A capacidade de ação, e de culpabilidade, exige a
presença de uma vontade, entendida como faculdade psíquica da
pessoa individual, que somente o ser humano pode ter.
 Sujeito ativo é quem pratica o fato descrito como crime na norma
penal incriminadora. É preciso executar total ou parcialmente a
figura descritiva de um crime.
 Normalmente, a lei penal, ao tipificar as condutas proibidas, não
se refere ao sujeito ativo do crime. Esses crimes são chamados de
crimes comuns, isto é, podem ser praticados por qualquer
pessoa. Algumas vezes, no entanto, os tipos penais requerem
determinada condição ou qualidade do sujeito ativo. Estes são os
chamados crimes especiais ou próprios.
 b) Sujeito passivo
 Sujeitos passivo é o titular do bem jurídico atingido pela conduta
criminosa. Sujeito passivo do crime pode ser: o ser humano; o
Estado; a coletividade; e, inclusive, a pessoa jurídica.

 A Omissão e suas formas


 1. Considerações gerais
 A infração das normas imperativas constitui a essência do crime
omissivo. A conduta que infringe uma norma mandamental
consiste em não fazer a ação ordenada pela referida norma.
 Tipifica-se o crime omissivo quando o agente não faz o que pode
e deve fazer, que lhe é juridicamente ordenado. Portanto, o crime
omissivo consiste sempre na omissão de uma determinada ação
que o sujeito tinha obrigação de realizar e que podia fazê-lo. O
crime omissivo divide-se em omissivo próprio e omissivo
impróprio.

 2. Crimes omissivos próprios


 Os crimes omissivos próprios ou puros consistem numa
desobediência a uma norma mandamental, norma esta que
determina a prática de uma conduta, que não é realizada. Há,
portanto, a omissão de um dever de agir imposto
normativamente, quando possível cumpri-lo, sem risco pessoal.
 Nesses crimes omissivos basta a abstenção, é suficiente a
desobediência ao dever de agir para que o delito se consuma. O
resultado que eventualmente surgir dessa omissão será
irrelevante para a consumação do crime. Ex: omissão de socorro.
 Embora, via de regra, os delitos omissivos próprios dispensem a
investigação sobre a relação de causalidade, porque são delitos
de merda conduta, em relação a essa majorante, nesses crimes,
também é indispensável que se analise o nexo causal entre a
conduta omissiva e o resultado determinante da majoração de
pena. Enfim, devemos indagar: a ação omitida teria evitado o
resultado? É indispensável comprovar a relação de causalidade
(de não impedimento) entre a omissão e o resultado ocorrido.

 3. Crimes omissivos impróprios ou


comissivos por omissão
 Nesses crimes, o agente não tem simplesmente a obrigação de
agir, mas a obrigação de agir para evitar o resultado, isto é, deve
agir com a finalidade de impedir a ocorrência de determinado
evento. Nos crimes comissivos por omissão há, na verdade, um
crime material, isto é, um crime de resultado.
 São elementos dessa modalidade de omissão: a) a abstenção da
atividade que a norma impõe; b) a superveniência do resultado
típico em decorrência da omissão; c) a existência da situação
geradora do dever jurídico de agir.
 Nos crimes comissivos por omissão, existe uma norma chamada
de norma de dever de segundo grau, dirigida a um grupo restrito
de sujeitos. Norma esta que impõe um dever de agir, para
impedir que processos alheios ao sujeitos, estranhos a ele,
venham a ocasionar um resultado lesivo. Dirige-se apenas
àquelas pessoas que têm uma especial relação de proteção com o
bem juridicamente tutelado. São a garantia de que um resultado
lesivo não ocorrerá, pondo em risco ou lesando um interesse
tutelado pelo Direito.
 3.1. Pressupostos fundamentais do crime omissivo
próprio
 a) Poder de agir: é necessário que o sujeito tenha a possibilidade
física de agir, para que se possa afirmar que não agiu
voluntariamente. É necessário que, além do dever, haja também
a possibilidade física de agir, ainda que com risco pessoal.
 b) Evitabilidade do resultado: se a realização da conduta devida
impede o resultado, considera-se a sua omissão causa desse
resultado. No entanto, se a realização da conduta devida não
impediria a ocorrência do resultado, deve-se concluir que a
omissão não deu “causa” a tal resultado.
 c) Dever de impedir o resultado: é preciso que o sujeito fosse
garantidor da sua não ocorrência.
 → O dever de agir, para evitar o resultado, incumbe a quem: a)
tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de
outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência
do resultado.
 Relação de Causalidade
 1. Teoria da equivalência das condições ou “conditio
sine qua non”
 Somente os crimes de resultado apresentam relevância à questão
da relação de causalidade. Nesses delitos, deve-se indagar a
respeito da existência de um nexo de causalidade entre a ação do
agente e o resultado produzido.
 A relação de causalidade limita-se aos crimes de resultado
(materiais). Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
resultado não teria ocorrido – consagra a adoção da teoria da
equivalência das condições, também conhecida como teoria da
“conditio sine qua non”, para determinar a relação de
causalidade.
 Todo fator – seja ou não atividade humana – que contribui, de
algum forma, para a ocorrência do evento é causa desse evento.
Causa, para essa teoria, é a soma de todas as condições,
consideradas no seu conjunto, produtoras de um resultado.
 Para que se possa verificar se determinado antecedente é causa
do resultado, deve-se fazer o chamado juízo hipotético de
eliminação, que consiste no seguinte: imagina-se que o
comportamento em pauta não ocorreu, e procura-se verificar se o
resultado teria surgido mesmo assim, ou se, ao contrário, o
resultado desapareceria em conseqüência da inexistência do
comportamento suprimido. Se eliminada mentalmente a
conduta, verificar-se que o resultado não se teria produzido,
evidentemente essa conduta é condição indispensável para a
ocorrência do resultado e, sendo assim, é sua causa.
 Mas a teoria da equivalência das condições tem a desvantagem
de levar “ad infinitum” a pesquisa do que seja causa: todos os
agentes das condições anteriores responderiam pelo crime! Em
vista disso, procura-se limitar o alcance dessa teoria, utilizando-
se outros institutos do estudo dogmático-penal, como, por
exemplo, a localização do dolo e da culpa no tipo penal.
 2. Limitações do alcance da teoria da “conditio sine qua
non”
 2.1. Localização do dolo e da culpa no tipo penal
 Com efeito, uma pessoa pode ter dado causa a determinado
resultado, e não ser possível imputar-se-lhe a responsabilidade
por esse fato, por não ter agido nem dolosa nem culposamente,
isto é, não ter agido tipicamente; essa atividade permanece fora
da esfera do Direito Penal, sendo impossível imputá-la a alguém
pela falta de dolo ou culpa.
 2.2. Causas (concausas) absolutamente independentes
 São as condições que, de forma absolutamente independente,
causam o resultado que se analisa. São condições – concausas –
preexistentes aquelas que ocorrem antes da existência da
conduta, isto é, antes da realização do comportamento humano;
concomitantes, quando ocorrem simultaneamente com a conduta
e, finalmente, uma concausa é superveniente quando se
manifesta depois da conduta. As concausas, quaisquer delas,
podem ser constituídas por outras condutas ou simplesmente por
um fato natural.
 Qualquer que seja a concausa poderá produzir o resultado de
forma absolutamente independente do comportamento que
examinamos. Nesses casos, a conduta não contribuiu em nada
para a produção do evento.
 Ex: ocorre quando alguém, pretendendo suicidar-se, ingere uma
substância venenosa, e, quando já está nos estertores da morte,
recebe um ferimento, que não apressa sua morte, que não a
determina e nem a teria causado. Essa segunda conduta, a do
ferimento, não é causa, portanto, do resultado morte, porque, se
a eliminarmos, hipoteticamente, o resultado morte ocorreria da
mesma forma e nas mesmas circunstâncias, e por um condição
estranha e independente da segunda condição.
 2.2.1. Causas relativamente independentes
 Quaisquer que sejam as concausas podem atuar de tal forma que,
poderíamos dizer, auxiliam ou reforçam o “processo causal”
iniciado com o comportamento do sujeito.
 Ex: a vítima de um determinado ferimento, que, pela sua
natureza ou sua localização, não é um ferimento moral, é
portadora de hemofilia, que, no caso, é uma condição
preexistente, pois já existia antes da conduta do sujeito, podendo
vir a morrer em conseqüência de hemorragia. Não se pode
afirmar que, suprimindo hipoteticamente o ferimento, a morte
teria ocorrido da mesma forma. Na hipótese, o ferimento foi,
portanto, condição indispensável à ocorrência da vítima, que era
hemofílica. Mas a hemofilia sozinha, isoladamente, não teria
causado a morte da forma como ocorreu. Há, nessa hipótese,
uma causa preexistente, hemofilia que se soma à conduto do
sujeito, e ambas, juntas, vão determinar o evento.
 Ex: Pequenas doses de veneno dada à uma pessoa, que seriam
insuficiente para provocar a morte da mesma; no entanto, dois
indivíduos dão a mesma quantia, sem saberem um do outro, e a
soma destas acarretam em sua morte. Configuram-se concausas
relativamente independentes, pois a supressão de qualquer delas
inviabiliza a obtenção do resultado pretendido, razão pela qual
ambos devem responder individualmente pelo homicídio doloso
consumado.
 Atribuímos a causação do resultado a um fator estranho à
conduta, na hipótese, uma concausa absolutamente
independente; ou não excluímos esse vínculo de causalidade,
porque, pelo juízo hipotético de eliminação, a conduta foi
necessária à produção do evento, ainda que auxiliada por outras
forças, na hipótese, uma concausa relativamente independente.
 3. A relevância causal da omissão
 Os crimes omissivos próprios dispensam a investigação sobre a
relação de causalidade, porque são delitos de mera atividade, que
não produzem qualquer resultado naturalístico.
 Há, no entanto, o comissivo por omissão ou omissivo impróprio,
um crime material, isto é, um crime de resultado, exigindo a
presença de nexo causal entre a ação omitida (esperada) e o
resultado.
 Na omissão ocorre o desenrolar de uma cadeia causal que não foi
determinada pelo sujeito, que se desenvolve de maneira estranha
a ele, da qual é um mero observador. Acontece que a lei
determina-lhe a obrigação de intervir nesse processo, impedindo
que produza o resultado que se quer evitar.
 A omissão relaciona-se com o resultado pelo seu não
impedimento e não pela sua causação. E esse não impedimento é
erigido pelo Direito à condição de causa, isto é, como se fosse a
causa real. Dessa forma, determina-se a imputação objetiva do
fato.
 Tipo e Tipicidade
 1. Noção de tipo
 Fundamenta-se no conceito causal de ação.
 Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na lei
penal. O tipo exerce uma função limitadora e individualizadora
das condutas humanas penalmente relevantes. Só é crime o
injusto culpável. Logo, o injusto, ainda que seja uma conduta
antijurídica, pode não se completar como crime efetivamente,
pela falta de culpabilidade.
 1.1. Juízo de tipicidade
 Operação que consiste em analisar se determinada conduta
apresenta os requisitos que a lei exige, para qualificá-la como
infração penal.
 Quando o resultado desse juízo for positivo significa que a
conduta analisada reveste-se de tipicidade. No entanto, a
“contrario sensu”, quando o juízo de tipicidade for negativo
estaremos diante da atipicidade da conduta.
 1.2. Tipicidade
 “Tipicidade é a correspondência entre o fato praticado pelo
agente e a descrição de cada espécie de infração contida na lei
penal incriminadora”. Um faro para ser adjetivado de típico
precisa adequar-se a um modelo descrito na lei.
 A adequação típica imediata ocorre quando o fato se subsume
imediatamente no modelo legal, sem a necessidade da
concorrência de qualquer outra normal.
 Ex: matar alguém - essa conduta praticada por alguém amolda-se
imediatamente ao tipo descrito no art. 121 do CP.
 No entanto, a adequação típica mediata, que constitui exceção,
necessita da concorrência de outra norma, secundária, de caráter
extensivo, que amplie a abrangência da figura típica.
 Ex: com a tentativa e a participação em sentido estrito, bem
como com o crime omissivo impróprio, que exige a conjugação
do tipo de proibição violado com a norma extensiva do art. 13
parágrafo 2, e suas alíneas.
 1.3. Funções do tipo penal
 a)  Função indiciária
 A circunstância de uma ação ser típica indica que,
provavelmente, será também antijurídica. A adequação do fato
ao tipo faz surgir o indício de que a conduta é antijurídica, e essa
presunção somente cederá ante a configuração de uma causa de
justificação.
 b)  Função de garantia (fundamentadora e limitadora)
 Todo cidadão, antes de realizar um fato, deve ter a possibilidade
de saber se sua ação é ou não punível. Assim, tudo o que não
corresponder a um determinado tipo de injusto será penalmente
irrelevante.
 c)  Função diferenciadora do erro
 Quando o processo intelectual-volitivo não atinge um dos
componentes da ação descrita na lei, o dolo não se aperfeiçoa,
isto é, não se completa.
 O eventual desconhecimento de um ou outro elemento
constitutivo do tipo constitui erro de tipo, excludente do dolo, e,
por extensão, da própria tipicidade, quando se tratar de erro
inevitável.
 2. Elementos estruturais do tipo
 Como o tipo penal abrange todos os elementos que fundamento o
injusto, na descrição da ação típica está implícito um juízo de
valor. O tipo compõe-se de elementos descritivos, normativos e
subjetivos:
 a)  Elementos objetivos – descritivos
 São identificados pela simples constatação sensorial, isto é,
podem facilmente ser compreendidos somente com a percepção
dos sentidos.
 b)  Elementos normativos
 São aqueles para cuja compreensão é insuficiente desenvolver
uma atividade meramente cognitiva, devendo-se realizar uma
atividade valorativa. São circunstâncias que não se limitam a
descrever o natural, mas implicam um juízo de valor.
 c)  Elementos subjetivos
 São dados ou “circunstâncias que pertencem ao campo psíquico-
espiritual e ao mundo de representação do autor”. São
constituídos pelo elemento subjetivo geral – dolo- e elementos
subjetivos especiais do tipo – elementos subjetivos do injusto.
 Tipo de Injusto Comissivo Doloso
 1. Tipo objetivo
 Representa a exteriorização da vontade que concretiza o tipo
subjetivo.
 1.1. O autor da ação
 Admite qualquer pessoa como autora, que são os chamados
crimes comuns. E pode haver a individualização do agente, que
são os crimes próprios.
 1.2. Ação ou omissão
 O núcleo objetivo de todo crime é a ação. Os tipos penais podem
descrever simplesmente uma atividade humana ou então uma
atividade humana que produz determinado resultado: na
primeira hipótese teríamos os crimes formais, e na segunda, os
crimes matérias ou de resultado.
 1.3. Resultado
 A distinção entre ação, como simples manifestação de vontade, e
resultado, como conseqüência externa derivada dessa
manifestação.
 Nos crimes materiais, a ação, ao se realizar, sempre modifica
alguma coisa, produzindo um resultado que não integra, embora
faça parte do tipo penal. O resultado concebido como evento,
num conceito jurídico, identificando-se como ofensa a um bem
jurídico tutelado pela norma penal, forçoso é concluir que não há
crime sem resultado.
 1.4. Nexo causal
 Relação de causalidade entre ação e resultado, isto é, uma relação
que permita, já no âmbito objetivo, a imputação do resultado ao
autor da conduta que o tenha produzido.
 2. Tipo subjetivo
 2.1. Elemento subjetivo geral: dolo
 2.1.1. Definição de dolo
 Dolo é a consciência e a vontade de realização da conduta
descrita em um tipo penal. É a vontade consciente de ação
dirigida imediatamente contra o mandamento normativo.
“Quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo”.
 A consciência elementar do dolo deve ser atual, efetiva. Esta
abrange somente a representação dos elementos integrados do
tipo penal, ficando fora dela a consciência da ilicitude.
 2.1.2. Teorias do dolo
 a) Teoria da vontade: o dolo é a vontade dirigida ao resultado. A
essência do dolo deve estar na vontade, não de violar a lei, mas
de realizar a ação e obter o resultado. A vontade pode ser
traduzida na posição do autor de assumir o risco de produzir o
resultado representado como possível, na medida em que
“assumir” equivale a consentir, que nada mais é que uma forma
de querer.
 b) Teoria da representação: para a existência do dolo é suficiente
a representação subjetiva ou a previsão do resultado como certo
ou provável.
 c) Teoria do consentimento: também é o dolo vontade que,
embora não dirigida diretamente ao resultado previsto como
provável ou possível, consente na sua ocorrência ou, o que dá no
mesmo, assume o risco de produzi-lo.
 2.1.3.  Elementos do dolo
 a) Elemento cognitivo ou intelectual: consciência daquilo que se
pretende praticar, esta deve ser atual (quando ela está sendo
realizada). A previsão deve abranger correta e completamente
todos os elementos essenciais e constitutivos do tipo, sejam eles
descritivos, normativos ou subjetivos. Além do conhecimento dos
elementos positivos exigidos pelo tipo objetivo, o dolo deve
abranger também o conhecimento dos “caracteres negativos”
 b) Elemento volitivo (vontade): a vontade deve abranger a ação
ou omissão, o resultado e o nexo causal. A vontade pressupõe a
previsão, isto é, a representação, na medida em que é impossível
querer algo conscientemente senão aquilo que se previu ou
representou na nossa mente, pelo menos, parcialmente.
 2.1.4.  Espécies de dolo: direto e eventual
 a) Dolo direito ou imediato
 O agente quer o resultado representado como fim de sua ação. A
vontade do agente é dirigida à realização do fato típico. O objeto
do dolo direto é o fim proposto, os meios escolhidos e os efeitos
colaterais representados.
 Quando se trata do fim diretamente desejado pelo agente,
denomina-se dolo direto de primeiro grau, e, quando o resultado
é desejado como conseqüência necessária do meio escolhido ou
da natureza do fim proposto, denomina-se dolo direto de
segundo grau.
 Ex: Haverá dolo direto de primeiro grau, por exemplo, quando o
agente, querendo matar alguém, desfere-lhe um tiro para atingir
o fim pretendido. No entanto, haverá dolo direto de segundo
grau quando o agente, querendo matar alguém, coloca uma
bomba em um táxi, que explode, matando todos.
 b) Dolo eventual
 Quando o agente não quiser diretamente a realização do tipo,
mas aceitar como possível ou até provável, assumindo o risco de
produção do resultado. Essa espécie de dolo tanto pode existir
quando a intenção do agente dirige-se a um fim plenamente
típico como quando dirige-se a um resultado extratípico.
 É indispensável uma determinada relação de vontade entre o
resultado e o agente e é exatamente esse elemento volitivo que
distingue o dolo da culpa.
 → Sinteticamente, procura-se distinguir o dolo direito do
eventual, afirmando-se que “o primeiro é a vontade por causa do
resultado; o segundo é a vontade apesar do resultado”.
 3. Erro de tipo
 Erro de tipo é aquele que recai sobre circunstância elementar da
descrição típica. É a falsa percepção da realidade sobre um
elemento constitutivo do crime. O erro de tipo essencial sempre
exclui o dolo, permitindo, quando for o caso, a punição pelo
crime culposo, uma vez que a culpabilidade permanece intacta. O
erro de tipo inevitável exclui a tipicidade não por falta do tipo
objetivo, mas por carência do tipo subjetivo (dolo e culpa).
 Tipo de Injusto Culposo
 1. Definição
 Culpa é a inobservância do dever objetivo de cuidado
manifestada numa conduta produtora de um resultado não
querido. No injusto culposo pune-se a conduta mal dirigida,
normalmente destinada a um fim penalmente irrelevante, quase
sempre lícito.
 A tipicidade do crime culposo decorre da realização de uma
conduta diligente, isto é, descuidada, causadora de uma lesão ou
de perigo concreto a um bem jurídico-penalmente protegido.
Deve-se analisar se o agente agiu com o cuidado necessário e
normalmente exigível.
 A culpabilidade nos crimes culposos tem a mesma estrutura da
culpabilidade dos crimes dolosos: imputabilidade, consciência
potencial da ilicitude e exigibilidade de comportamento
conforme ao Direito.
 A tipicidade do crime culposo se define pela divergência entre a
ação efetivamente praticada e a que deve ter sido realizada, e a
antijuridicidade pela inobservância do cuidado objetivo devido, a
culpabilidade tem a previsibilidade subjetiva como um de seus
pressupostos.

 2. Elementos do tipo de injusto


culposo
 a)  Inobservância do cuidado objetivo devido
 Dever objetivo de cuidado consiste em reconhecer o perigo para o
bem jurídico tutelado e preocupar-se com as possíveis
conseqüências que uma conduta descuidada pode produzir-lhe,
deixando de praticá-la, ou, então, executá-la somente depois de
adotar as necessárias e suficientes precauções para evitá-lo.
 Na dúvida, impõe-se o dever de abster-se da realização da
conduta, pois quem se arrisca, nessa hipótese, age com
imprudência. Deve-se questionar se a ação do agente
correspondeu a esse comportamento “adequado”, quando
negativa surge a reprovabilidade da conduta.
 b)  Produção de um resultado e nexo causal
 O crime culposo não tem existência real sem o resultado. É,
ainda, indispensável, que o resultado seja conseqüência da
inobservância do cuidado devido, (que este seja causa daquele).
Os limites da norma imperativa encontram-se no poder de
cumprimento pelo sujeito; por isso, o dever de cuidado não pode
ir além desses limites. A inevitabilidade do resultado exclui a
própria tipicidade.
 c)  Previsibilidade objetiva do resultado
 Se determina mediante um juízo leva a cabo, colocando-se o
observador na posição do autor no momento do começo da ação,
e levando em consideração as circunstâncias do caso concreto
cognoscíveis por uma pessoa inteligente, mais as conhecidas pela
autor e a experiência comum da época sobre os cursos causais. A
previsibilidade, convém destacar, é um dado objetivo; por isso, o
fato de o agente não prever o dano ou perigo de sua ação, quando
este é objetivamente previsível, não afasta a culpabilidade do
agente, pois a culpa reside exatamente nessa falta de prever o
previsível.
 d)  Conexão interna entre desvalor da ação e desvalor
do resultado.

 3. Modalidades de culpa
 a)  Imprudência
 É a prática de uma conduta arriscada ou perigosa e tem caráter
comissivo. É a imprevisão ativa. Conduta imprudente é aquele
que se caracteriza pela intempestividade, precipitação, insensatez
ou imoderação do agente. Há visível falta de atenção.
 Uma característica especial da imprudência é a concomitância da
culpa e da ação. Enquanto o agente pratica a ação, vai se
desenvolvendo ao mesmo tempo a imprudência.
 O agente sabe que está sendo imprudente, tem a consciência de
que está agindo arriscadamente, mas, por acreditar,
convictamente, que não produzirá o resultado, avalia mal, e age,
e o resultado não querido se concretiza.
 b)  Negligência
 É a displicência no agir, a falta de precaução, a indiferença do
agente, que, podendo adotar as cautelas necessárias, não o faz. É
a imprevisão passiva, o desleixo, a inação. A negligência precede
a ação, pois significa a abstenção de uma cautela que deveria ser
adotada antes do agir descuidado.
 c)  Imperícia
 É a falta de capacidade, de aptidão, despreparo ou insuficiência
de conhecimentos técnicos para o exercício de arte, profissão ou
ofício.

 4. Espécies de culpa
 4.1. Culpa consciente
 Quando o agente age, deixando de observar a diligência a que
estava obrigado, prevê um resultado, previsível. O agente não
quer o resultado nem assume deliberadamente o risco de
produzi-lo. A despeito de sabê-lo possível, acredita piamente que
pode evitá-lo.
 4.2. Culpa inconsciente
 A ação sem previsão do resultado previsível. A imprevisibilidade
desloca o resultado para o caso fortuito ou força maior. Na culpa
inconsciente, no entanto, apesar da presença da previsibilidade,
não há a previsão por descuido, desatenção ou simples
desinteresse. A culpa inconsciente caracteriza-se pela ausência
absoluta de nexo psicológico entre o autor e o resultado de sua
ação, ante a inexistência da previsibilidade subjetiva.
 4.3. Culpa imprópria
 Conduta imprópria que prevê e quer o resultado produzido, sob
pena de se violentar os conceitos dogmáticos da teoria do delito.
Existe uma conduta dolosa objetivando a produção de
determinado resultado típico, embora a motivação esteja calcada
em erro.
 Só pode decorrer de erro culposo sobre a legitimidade da ação
realizada.

 5. Distinção entre dolo eventual e


culpa consciente
 Há entre ambos um traço comum: a previsão do resultado
proibido. Mas, enquanto no dolo eventual o agente anui ao
advento desse resultado, assumindo o risco de produzi-lo, em vez
de renunciar à ação, na culpa consciente, ao contrário, repele a
hipótese de superveniência do resultado, e, na esperança
convicta de que este não ocorrerá, avalia mal e age.
 O fundamental é que o dolo eventual apresente dois
componentes: representação da possibilidade do resultado e
anuência à sua ocorrência, assumindo o risco de produzi-lo.

 6. Concorrência e compensação de
culpas
 Há concorrência de culpas quando dois indivíduos, um
ignorando a participação do outro, concorrem, culposamente,
para a produção de um fato definido como crime. Havendo
concorrência de culpas os agentes respondem, isoladamente,
pelo resultado produzido.
 Não se admite compensação de culpa em Direito Penal, ou seja,
eventual culpa da vítima não exclui a do agente; elas não se
compensam. Somente a culpa exclusiva da vítima exclui a do
agente.

 7. Crime preterdoloso
 Crime cujo resultado vai da intenção do agente, isto é, a ação
voluntária inicia dolosamente e termina culposamente, porque, a
final, o resultado efetivamente produzido estava fora da
abrangência do dolo. Há dolo no antecedente e culpa no
conseqüente.
 Crime Consumado e Crime Tentado
 1. Crime consumado
 Consuma-se o crime quanto o tipo está inteiramente realizado,
ou seja, quando o fato concreto se subsume no tipo abstrato da
lei penal; quando o agente realiza todos os elementos que
compõem a descrição do tipo legal.
 Não se confunde a consumação com o crime exaurido, pois neste,
após a consumação, outros resultados lesivos ocorrem.
 Nos crimes materiais a consumação ocorre com o evento ou
resultado.
 Nos crimes culposos, só há consumação com o resultado
naturalístico. Se houver inobservância do dever objetivo de
cuidado, mas o evento não se realizar, não haverá crime.
 Nos crimes formais e de mera conduta a consumação ocorre com
a própria ação, já que não se exige resultado naturalístico.
 Nos crimes habituais a consumação somente existirá quando
houver a reiteração de atos, com habitualidade, já que cada um
deles, isoladamente, constitui um indiferente penal.
 Nos crimes permanentes, a consumação se protrai no tempo.
 Nos crimes omissivos, a consumação ocorre no local e no
momento em que o sujeito ativo deveria agir e não o fez.
 Tratando de crime omissivo próprio a consumação ocorre com o
resultado lesivo e não com a simples inatividade do agente, como
nos delitos omissivos puros.

 2. Tentativa
 A tentativa é a realização incompleta do tipo penal, do modelo
descrito na lei. Na tentativa há prática de ato de execução, mas o
sujeito não chega à consumação por circunstâncias
independentes de sua vontade.
 Na tentativa, o movimento criminoso para em uma das fases de
execução, impedido o agente de prosseguir no seu desiderato por
circunstâncias estranhas ao seu querer.
 3.  Inter criminis
 Itinerário percorrido pelo crime, desde o momento da concepção
até aquele em que ocorre a consumação.
 O primeiro momento é a chamada de obligatio. É na mente do
ser humano que se inicia o movimento criminoso. É a elaboração
mental da resolução criminosa que começa a ganhar forma,
debatendo-se entre os motivos favoráveis e desfavoráveis. Estes
atos não são puníveis.
 O passo seguinte é a preparação da ação delituosa que constitui
os chamados atos preparatórios, os quais são externos ao agente,
que passa da cogitação à ação objetiva; arma-se dos instrumentos
necessários para à prática da infração penal, procura o local mais
adequado ou a hora mais favorável para a realização do crime
etc.
 De regra, não são puníveis. No entanto, algumas vezes, o
legislador transforma esse atos, que seriam meramente
“preparatórios”, em tipos penais especiais, fugindo à regra geral.
 Dos atos preparatórios passa-se, naturalmente, aos atos
executórios. São estes, aqueles que se dirigem diretamente à
prática do crime, isto é, à realização concreta dos elementos
constitutivos do tipo penal.
 E, finalmente, o momento culminante da conduta delituosa
verifica-se quando atinge a consumação, que, como já se disse,
ocorre quando, “se reúnem todos os elementos de sua definição
legal”.
 4. Distinção entre atos preparatórios e atos executórios
 O critério material vê o elemento diferencial no ataque direto ao
objeto da proteção jurídica, ou seja, no momento em que o bem
juridicamente protegido é posto realmente em perigo pelo atuar
do agente. O ato que não constitui ameaça ou ataque direto ao
objeto da proteção legal é simples atos preparatório.
 No critério formal, o começo da execução é marcado pelo início
da realização do tipo, ou seja, quando se inicia a realização da
conduta núcleo do tipo.
 Inclui na tentativa as ações que, por sua vinculação necessária
com a ação típica, aparecem, como parte integrante dela,
segundo uma concepção natural.
 5. Elementos da tentativa
 a) Início da execução
 Exige a existência de uma ação que penetre na fase executória do
crime. Uma atividade que se dirija no sentido de realização de
um tipo penal.
 A tentativa só é punível a partir do momento em que a ação
penetra na fase de execução.
 b) Não consumação do crime por circunstância independentes
da vontade do agente
 c) Dolo em relação ao crime total
 O agente deve agir dolosamente, isto é, deve querer a ação e o
resultado final que concretize o crime perfeito e acabado. É
necessário que o agente tenha intenção de produzir um resultado
mais grave do que aquele a que vem efetivamente conseguir.
 O dolo é sempre de fazer, de realizar, de concluir uma ação
determinada; não há dolo de tentar fazer algo. O dolo da
tentativa é o mesmo do crime consumado. Quem mata age com o
mesmo dolo de quem tenta matar.
 6. Espécies e formas de tentativas
 a) Tentativa imperfeita
 Quando o agente não consegue praticar todos os atos executórios
necessários à consumação, por interferência externa. O agente
não exaure toda a sua potencialidade lesiva.
 b) Tentativa perfeita
 Quando o agente realiza todo o necessário para obter o resultado
desejado, mas mesmo assim não o atinge. A execução se conclui,
mas o crime não se consuma por mero acidente.
 7. Punibilidade da tentativa
 A teoria subjetiva fundamenta a punibilidade da tentativa na
vontade do autor contrária ao Direito. Para essa teoria o
elemento moral, a vontade do agente é decisiva, porque esta é
completa, perfeita. Imperfeito é o delito sob o aspecto objetivo,
que não chega a consumar-se. Por isso, segundo essa teoria, a
pena da tentativa deve ser a mesma do crime consumado.
 Na teoria objetiva, a punibilidade da tentativa fundamenta-se no
perigo a que é exposto o bom jurídico, e a repressão se justifica
uma vez iniciada a execução do crime. Como a lesão é menor na
tentativa ou não ocorre qualquer resultado lesivo ou perigo de
dano, o fato cometido pelo agente deve ser punido menos
severamente.
 8. Infrações que não admitem tentativa
 Os crimes culposos, pois não têm existência real sem o resultado,
que, por definição, integra a estrutura do próprio tipo penal.
 Os crimes preterdolos, pois como a tentativa fica aquém do
resultado desejado, conclui-se ser ela impossível nos delitos
preterintencionais.
 O crime omissivo próprio, pois não exige um resultado
naturalístico produzido pela omissão. Esses crimes
consumam0se com a simples omissão.
 Os crimes unissubsistentes, pois diante da impossibilidade de
fracionamento dos atos de execução.
 O crime habitual, pois o que caracteriza é a prática reiterada de
certos atos que, isoladamente, constituem um indiferente penal.
Conclusão: ou há reiteração e o crime consumou-se ou não há
reiteração e não se pode falar em crime.
 9. Desistência voluntária
 É impunível devido ao interesse do Estado em estimular a não
consumação do crime. É a possibilidade de retornar da esfera da
ilicitude em que penetrara para o mundo lícito.
 Embora o agente tenha iniciado a execução do crime, não a leva
adiante; mesmo podendo prosseguir, desiste da realização típica.
Não é necessário que a desistência seja espontânea, basta que
seja voluntária.
 “posso mas não quero”
 10. Arrependimento eficaz
 O agente, após ter esgotado todos os meios de que dispunha,
arrepende-se e evita que o resultado aconteça. Isto é, pratica
nova atividade para evitar que o resultado ocorra. Aqui, também,
não é necessário que seja espontâneo, basta que seja voluntário.
 O êxito da atividade impeditiva do resultado é indispensável,
caso contrário, o arrependimento não será eficaz. Se o agente não
conseguir impedir o resultado, por mais que se tenha
arrependido, responderá pelo crime consumado. Poderá,
eventualmente, beneficiar-se de uma atenuante genérica, pelo
arrependimento.
 → Tanto na desistência voluntária como no arrependimento
eficaz, o agente responderá pelos atos já praticados que, de per si,
constituírem crimes.
 11. Crime impossível ou tentativa inidônea
 O agente jamais conseguiria consumar o crime.
 a) Por ineficácia absoluta do meio empregado: o meio, por sua
natureza, é inadequado, inidôneo, absolutamente ineficaz para
produzir o resultado pretendido pelo agente. No entanto, é
indispensável que o meio seja inteiramente ineficaz. Se a
ineficácia do meio for relativa, haverá tentativa punível.
 b) Por absoluta impropriedade do objeto: quando o objeto é
absolutamente impróprio para a realização do crime visado. Aqui
também a inidoneidade tem de ser absoluta.
 12. Punibilidade do crime impossível
 a) Teoria subjetiva: realmente decisivo é a intenção do agente. A
inidoneidade deve ser apreciada segundo a avaliação do agente
no momento da ação. Assim, o autor de um crime impossível
deve sofrer a mesma pena da tentativa.
 b) Teoria objetiva: não há tentativa e o agente não deve ser
punido. O que justifica a punibilidade da tentativa é o perigo
objetivo que ela representa para o bem jurídico.
 c) Teoria sintomática: busca examinar se a realização da conduta
do agente é a revelação de sua periculosidade. Se esta revelar
indícios da presença de periculosidade no agente, deverá ser
punida.
 13. Crime putativo
 O crime putativo só existe na imaginação do agente. Este supõe,
erroneamente, que está praticando uma conduta típica, quando
na verdade o fato não constitui crime. Há no crime putativo um
erro de proibição às avessas (o agente imagina proibida uma
conduta permitida).

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