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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES?

A evolução histórica do neo-institucionalismo


da ciência política*

Paulo Sérgio Peres

Introdução racionalidade endógena ou, de maneira inversa, por


algum tipo de restrição exógena, configurada pelo
As decisões políticas são o resultado direto arranjo institucional que delimita o contexto da
das preferências de indivíduos que agem isolada- tomada de decisão? Estas têm sido questões cen-
mente e de forma egoísta ou são processos indu- trais na demarcação teórica de dois tipos de abor-
zidos por instituições políticas e sociais que regulam dagem que competiram e dominaram o desenvol-
as escolhas coletivas? Em outras palavras: o com- vimento da Ciência Política desde os primeiros
portamento dos atores é determinado por alguma decênios do século XX, quais sejam, o institucionalismo
e o comportamentalismo.
* Manifesto meus sinceros agradecimentos aos pare- No âmbito desse embate, e após duas “revo-
ceristas anônimos da RBCS pelas observações críticas luções” de paradigma, uma nova abordagem veio
e valiosas sugestões que fizeram ao texto. Na medida
do possível, procurei incorporar as alterações, bem
a prevalecer na análise do fenômeno político nos
como os esclarecimentos sugeridos. Agradeço também últimos quarenta anos – o neo-institucionalismo. Na
à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São verdade, o paradigma neo-institucional, atualmen-
Paulo – FAPESP – pelo suporte financeiro concedido te, é hegemônico na Ciência Política. E esta não é
à época em que realizei o estudo bibliográfico necessário
à redação deste texto. Agradeço ainda a Raquel Weiss
apenas uma impressão gerada pelas recorrentes
pela tradução das citações bibliográficas que estavam declarações de adesão aos seus postulados básicos
originalmente em inglês. que podem ser encontradas ou na introdução ou
Artigo recebido em dezembro/2007 nas secções teóricas de livros e artigos científicos;
Aprovado em junho/2008 sua hegemonia pode ser objetiva e estatisticamente

RBCS Vol. 23 n.o 68 outubro/2008

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constatada pelo exame dos temas abordados, da mas” – enquadramento também já utilizado, em
metodologia empregada e das premissas adotadas alguma medida, por alguns autores (cf. Almond,
por diversos investigadores nos artigos publicados 1996; Gunnell, 2004a, 2005). Como procurarei
nos principais periódicos internacionais (cf. Riba, mostrar, no caso específico da abordagem políti-
1996). ca, tal revolução envolveu dois processos sucessi-
Diante desse fato, é possível concluir, de acor- vos, sendo um deles de oposição e o outro de sín-
do com a perspectiva de Kuhn (1962), que a maio- tese. No primeiro caso, uma oposição radical à
ria das pesquisas empreendidas pelos cientistas po- abordagem comportamentalista que floresceu nos
líticos no contexto atual é uma atividade de “ciência anos de 1920-1930 e se tornou hegemônica ao lon-
normal” no âmbito do paradigma neo-institucio- go das décadas de 1940-1950-1960; no segundo
nalista; atividade esta voltada à resolução de “que- caso, a articulação sintética de elementos do pró-
bra-cabeças” empíricos e metodológicos. Com efei- prio comportamentalismo com elementos do que
to, é em torno desse paradigma que se movimenta se convencionou chamar de antigo institucionalismo.
e se organiza a comunidade desse campo científi-
co, fazendo avançar o conhecimento acerca dos
fenômenos políticos no interior de seu próprio sis- A revolução comportamentalista
tema cosmológico. Este, por sua vez, abrange os como reação ao antigo institucionalismo
fundamentos ontológicos e epistemológicos da
abordagem neo-institucionalista, cuja premissa bá- O antigo institucionalismo
sica é a idéia de que, para usar expressões consa-
gradas, as “instituições importam” decisivamente Em setembro de 1961, Emmette Redford,
na produção dos resultados políticos. em seu discurso como presidente da American
Conforme já discutido por alguns autores Political Science Association [APSA], destacou à sua
(por exemplo, Barry, 1978; March e Olsen, 1984; audiência os avanços pelos quais a Ciência Política
Almond, 1988; Dryzek e Leonard, 1988; North, estava passando naquele momento. Segundo ele,
1990; Eggertsson, 1990; Dimaggio e Powell, 1991; estaria em curso uma radical mudança quanto à
Blackhouse, 1994; Mäki e Knudsen, 1993; Knight e abordagem do fenômeno político que, até mea-
Sened, 1995; Nee, 1998; Simon, 2000), há pelo dos dos anos de 1940, era centrada em análises es-
menos três áreas das ciências humanas nas quais, peculativas, descritivas e formalistas, inspiradas pela
nos últimos quarenta anos, ocorreu a retomada do Filosofia Política e pelo Direito. Tais abordagens
viés institucional como premissa analítica – a Eco- eram caracterizadas como institucionalistas e, pos-
nomia, a Sociologia e a Ciência Política –, assim teriormente, vieram a ser chamadas de antigo insti-
como no caso da abordagem da política, ainda se- tucionalismo, de forma que pudessem ser diferen-
gundo alguns autores (Hall e Taylor, 1996; Kato, ciadas das abordagens neo-institucionais surgidas
1996; Norgaard, 1996), também haveria uma sub- na década de 1970 (Somit e Tanenhaus, 1967; Mar-
divisão em três tipos de enfoque – “institucionalis- ch e Olsen, 1984; Dryzek e Leonard, 1988; Dima-
mo histórico”, “institucionalismo sociológico” e ggio e Powell, 1991; Sened, 1991; Almond, 1996;
“institucionalismo da escolha racional”. Hall e Taylor, 1996; Remmer, 1997; Nee, 1998;
Conseqüentemente, vários autores vêm dis- Peters, 1998; Lane e Ersson, 2000).
cutindo as diferenças e as semelhanças entre as ver- Não obstante, é importante que se diga, já
tentes neo-institucionais das referidas áreas de co- era bastante longa a tradição dos estudos institucio-
nhecimento, bem como das escolas que co-habitam nais, remontando, grosso modo, a Aristóteles com sua
o campo da análise política. Contudo, curiosamen- clássica análise das constituições atenienses, sendo
te, há poucos trabalhos concentrados no próprio revitalizada a partir do século XVII, com a siste-
desenvolvimento histórico de tal paradigma na matização do contratualismo moderno por Locke
Ciência Política. Sob tal perspectiva, meu objetivo e aprimorado, em seguida, por Montesquieu, na
neste texto é fazer uma breve reconstrução históri- primeira metade do século XVIII, quando a ênfase
ca do desenvolvimento teórico e metodológico do recaiu sobre a centralidade das leis e dos costumes
paradigma neo-institucionalista da Ciência Política como instituições fundamentais da dinâmica políti-
a partir da concepção de “revolução de paradig- ca. Ainda nas décadas finais do século XVIII, a

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perspectiva institucionalista recebeu enorme contri- constituições de cada nação, com a intenção de mo-
buição do debate dos artigos federalistas norte-ame- dificá-las de acordo com princípios gerais, deduzi-
ricanos, pela ótica dos quais as instituições, acima dos do próprio pensamento racional que contem-
de tudo, tornar-se-iam objetos de uma “engenha- pla “O Bem”, levando em consideração os melhores
ria constitucional”, para usarmos um termo difun- e os piores efeitos, as vantagens e as desvantagens
dido por Sartori (1997). de cada modelo constitucional para a consecução
Na primeira metade do século XIX, foi a vez dos objetivos mais nobres da humanidade – reali-
de Tocqueville valorizar as instituições sociais e po- zação mesma daquele suposto “Bem”. Devido a
líticas como as variáveis explicativas da bem-suce- tal postura, esses estudiosos preocupavam-se mui-
dida democracia republicana presidencialista dos to mais em estabelecer modelos prescritivos de
Estados Unidos. Outro exemplar significativo des- “desenho constitucional”, sob uma ótica normativa
se tipo de enfoque é o trabalho de Walter Bagehot, do que deveria ser a política, do que em se concen-
The English constitution, publicado em 1867, no qual trar em “fatos objetivos”, em dados empíricos da
o autor inglês comparava os modelos constitucio- dinâmica real dos atores e dos comportamentos
nais britânico e norte-americano, de forma a res- (cf. Somit e Tanenhaus, 1967; Farr, 1995; Peters,
saltar as supostas vantagens do primeiro sobre o 1998; Gunnell, 2005, 2004a).
segundo, especialmente em função da adoção da Ocorre que, àquela altura, essas abordagens,
monarquia parlamentarista com constitucionalismo de natureza bastante formal, começavam a ser con-
moderado, ou seja, com reduzido grau de disper- sideradas ineficientes para a explicação dos novos
são do poder político. fenômenos políticos que surgiram a partir da déca-
Também na segunda metade do século XIX – da de 1930 – o nazismo, o fascismo, as crises do
e avançando sobre as primeiras décadas do século liberalismo e da representação, a apatia e a aliena-
XX –, foi a vez da Economia Política dirigir o foco ção políticas etc. Em decorrência disso, depois da
de suas discussões aos possíveis efeitos das institui- Segunda Guerra Mundial, os estudos passaram a
ções e da cultura sobre o comportamento econô- enfocar a dinâmica “real” da política, com ênfase
mico dos indivíduos. A querela metodológica – na investigação factual, na proposição de hipóteses
notoriamente conhecida como methodenstreit – que testáveis e na busca de generalizações empíricas
opôs, de uma parte, a escola “dedutiva” e “axio- (Dahl, 1963; Somit e Tanenhaus, 1967; Dryzek e
mática”, representada pelo austríaco Carl Menger, Leonard, 1988; Farr, 1995; Almond, 1996). Esses
e, de outra, a escola “histórica” e “institucional” ale- novos estudos não apenas passavam a incorporar
mã, representada por Gustav Schmoller, redundou as técnicas mais avançadas de análise estatística –
na prevalência da vertente institucional no pensa- principalmente com pesquisas de opinião e cons-
mento econômico norte-americano, cenário em que truções de escalas –, como passavam também a
Thorstein Veblen, John Commons e Weslei Mitchell abranger outros países, de forma a agregar à Ciên-
foram figuras de destaque na defesa da importân- cia Política o método comparativo (Chilcote, 1996),
cia dos hábitos e da cultura – ou seja, das institui- já bastante utilizado na Sociologia e na Antropolo-
ções sociais – como variáveis explicativas funda- gia. Redford (1961) chamou a esse processo de
mentais, tanto dos processos econômicos, quanto “eruptions in our discipline”, especialmente por
dos processos políticos (cf. Blaug, 1993). Também causa da ruptura epistemológica introduzida, que
no início do século XX, a própria Sociologia, ainda conduziu a grandes avanços na sofisticação analíti-
emergente como uma ciência empírica da moral, e ca e metodológica.
bem representada por Émile Durkheim – mas, Deve ser destacado também que, na perspec-
obviamente, não apenas por este –, do mesmo tiva de Gunnell (1993, 2004b, 2005), tal oposição
modo, tomou as instituições sociais – tanto em ter- continha uma disjuntiva teórica e normativa bem
mos estáticos, como em termos históricos – como mais profunda, herdeira direta do grande problema
sua unidade de análise e instância observacional (cf. político do século XIX, que era o de se estabelecer
Barnes, 1948). Entretanto, esse institucionalismo ain- a forma e a modalidade de incorporação das mas-
da era extremamente formalista e normativo. sas à política. Tal problema opunha a visão pluralista
No caso da política, os estudiosos preocupa- da democracia à visão republicana. Segundo ele, a
vam-se mais em analisar criticamente “a letra” das visão republicana estaria vinculada ao normativismo

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da Filosofia Política e aos ideais rousseaunianos de em laboratório. Esse “objetivismo” implicaria no


uma democracia direta e harmônica, enquanto o deslocamento da perspectiva investigativa, passando
pluralismo estaria vinculado à concepção psicológica dos fenômenos mentais para a observação empíri-
e sociológica do conflito social entre grupos de in- ca do comportamento (cf. Watson, [1913] 1997).2
teresse e da democracia representativa. Segundo Desse modo, a Psicologia aderiu de forma
Gunnell, “o ataque pluralista contra a idéia de sobe- vigorosa ao comportamentalismo, que, pouco de-
rania do Estado significou muito mais do que uma pois, espalhou-se pelas Ciências Sociais. Em realida-
rejeição das análises legalistas e institucionalistas. Ele de, na Sociologia já havia sido dado anteriormente
significou, com efeito, um ataque à idéia predomi- um passo importante na direção de uma abertura
nante de soberania popular” (2005, p. 598).1 às influências do comportamentalismo. Entusias-
Seja como for, mesmo que de maneira sucin- mado e, de certa forma, inspirado pelos experi-
ta, o que o presidente da APSA estava a caracteri- mentos de Wilhelm Wundt e pelo seu laboratório
zar em seu discurso era o que passou a ser designa- de Psicologia, na Alemanha, Émile Durkheim
do como a “revolução comportamentalista” no (1897) procurou demonstrar, na prática, por meio
campo da Ciência Política. Mas, afinal, o que foi de sua obra pioneira e fundadora de análises multi-
essa “revolução comportamentalista”? Quais foram variadas – O suicídio – , a importância da observa-
suas principais características e quais suas limitações ção dos comportamentos como a expressão obje-
analíticas? Enfim, quais as contribuições que o com- tiva e “mensurável” da moral, entendida como
portamentalismo trouxe à Ciência Política? fonte de coesão/solidariedade social.3 Anos depois,
Bronislaw Malinowski (1922, 1944), na Antropolo-
Características gerais do comportamentalismo gia, ressaltou a necessidade de investigações diretas,
da ciência política sem mediações, com aprofundados levantamentos
de dados de campo por intermédio de densas des-
Logo de início, é preciso ressaltar que o com- crições de comportamentos.4 O método etnográ-
portamentalismo é, antes de tudo, uma designação fico da “observação participante”, de algum modo,
genérica do behaviorismo, cuja extensão é bastante representou a busca de maior cientificidade na An-
ampla e cuja formulação inicial adveio da psicolo- tropologia e, de certa forma, uma aproximação
gia norte-americana. O texto considerado o ponto em relação a algumas premissas metodológicas do
inicial do behaviorismo foi publicado por Watson comportamentalismo (cf. Malinowski, 1970).5
([1913] 1997) em uma revista de Psicologia, sob o Assim como em pelo menos parte da Antro-
título bastante curioso de “A psicologia como um pologia e da Sociologia daquele período, na Ciên-
comportamentalista a vê”. Nele, o autor abre a dis- cia Política, o behaviorismo também representou uma
cussão com uma declaração que não deixa margem rejeição às análises e aos métodos empregados até
para dúvidas: “a Psicologia, tal como concebida aquele momento. Em realidade, é possível afirmar
pelo comportamentalista, é um ramo estritamente que a adoção do paradigma comportamentalista
objetivo e experimental da ciência natural. A sua na análise dos fenômenos políticos ocorreu como
proposta teórica consiste em prever e controlar o um movimento acadêmico de rejeição ao antigo
comportamento” (Idem, p. 158). institucionalismo. Dahl salienta isto, observando que:
Portanto, as proposições básicas formuladas
Considerada historicamente, a abordagem behaviorista
por John Watson surgiram como oposição às pers- era um movimento de protesto que teve lugar no inte-
pectivas teóricas e analíticas da Psicologia da época, rior da Ciência Política. […] Termos tais como com-
marcadas pelo método introspectivo e pela análise portamento político e abordagem comportamentalista
dos processos mentais da consciência (cf. Adcock, passaram a ser associados a certo número de cientistas
1959; Henneman, 1966; O’Donnell, 1987; Wozniak, políticos, especialmente americanos, que compartilha-
1995; Baum, 2005). Contrariamente, a ênfase de vam uma insatisfação em relação às realizações da Ciên-
cia Política convencional, especialmente no caso das
Watson foi dada à busca de maior cientificidade – abordagens históricas, filosóficas e da descrição insti-
objetividade – na análise psicológica, o que o levou tucional (1961, p. 766).
a propor o abandono de especulações subjetivas
em favor de métodos de observação aplicados a Ocorre que a Ciência Política tradicional era
objetos realmente passíveis de serem investigados predominantemente institucionalista; e foi contra

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esse [antigo] institucionalismo que o comportamen- posições de liderança em departamentos de Socio-


talismo se insurgiu. Afinal, segundo enfatizam Stein- logia e de Ciência Política insistiam na relevância
mo et al., “era óbvio que leis formais, regras e es- das teorias sociológicas e psicológicas para o en-
truturas administrativas não explicavam realmente tendimento da política” (1961, p. 766). Pasquino
o comportamento político ou os resultados políti- segue o mesmo mote e ressalta que:
cos” (1997, p. 3). Porém, além do protesto contra
o institucionalismo formalista na defesa de maior Pelo próprio fato de tomarem de empréstimo o nome de
cientificidade, vários outros fatores de ordem prá- uma escola psicológica e por seu interesse pelo homem
tica contribuíram para a emergência e o reconheci- concreto, os comportamentalistas foram sempre profun-
damente atraídos pela Psicologia. Paralelamente, a An-
mento acadêmico da escola comportamentalista (cf. tropologia, a Sociologia e, por seu rigor e relativa perfei-
Somit e Tanenhaus, 1967; Farr, 1995; Almond, 1996; ção técnica, a Economia, foram as disciplinas às quais os
Miller, 1998). Neste caso, é possível destacar pelo comportamentalistas mais recorreram (1994, p. 187).
menos quatro dos mais importantes.
O primeiro desses fatores foi a desvalorização, Entretanto, é importante assinalar uma peque-
pelo governo norte-americano, dos trabalhos de cien- na incorreção de Pasquino (1994) e que ainda persiste
tistas políticos institucionalistas, especialmente pela em vários autores. Nesse primeiro momento – en-
clara incongruência entre as digressões teóricas tre as décadas de 1940 e 1960 –, as maiores in-
produzidas e os imperativos impostos pela prática fluências metodológicas absorvidas pela Ciência Po-
do governo no período da Guerra Fria. Em segundo lítica comportamentalista vinham da Sociologia, da
lugar, a incapacidade que os teóricos institucionalistas Antropologia e da Psicologia, e não tanto da Eco-
mostraram diante da necessidade de explicação sis- nomia. Nesse mesmo período, havia predominado
temática de fenômenos importantes da época, como na Economia a perspectiva neoclássica da “escola
o nazismo, o fascismo e o socialismo, o que acarre- inglesa” em relação à “escola histórica” alemã e à
tou na perda de terreno acadêmico-institucional para “escola institucionalista” vebleniana norte-america-
outras ciências, como a Sociologia, a Psicologia e a na. Rivalizavam com a “escola inglesa”, a “escola
Economia. Em terceiro, a ineficácia da aplicação, austríaca” e a “escola monetarista” de Chicago, re-
logo depois da Segunda Guerra Mundial, do mode- presentada por Friedman. O ponto central da con-
lo político norte-americano – democracia com ca- trovérsia residia na adoção de uma metodologia
pitalismo – em países não-industrializados, o que formalista, portanto, dedutiva e abstrata, ou de uma
impôs a necessidade de estudos empíricos compa- metodologia realista, portanto, indutiva e histórica.
rativos (cf. Chilcote, 1996) – neste caso, inclusive, Friedman, com seu empirismo pragmático – as-
favorecendo a emergência e a proliferação dos es- sim como os adeptos da “escola austríaca” –,
tudos comparativos da escola comportamentalis- advogava uma teoria de pressupostos irrealistas. As-
ta, com a ênfase analítica recaindo sobre a cultura sim, começava a se firmar na economia a metodo-
política e as atitudes psicológicas dos atores sociais logia dedutiva com modelos teóricos formais, cen-
(cf. Almond e Powell, 1966; Eckstein, 1988; Pasqui- trados nos fundamentos neoclássicos acerca das
no, 1994; Chilcote, 1996). Finalmente, o fator de maior motivações e do comportamento dos indivíduos.6
relevância foi a grande influência que pesquisadores Àquela altura, a Ciência Política ainda adotava
e teóricos europeus exilados, e que se instalaram nas premissas indutivas de abordagens culturalistas e
universidades norte-americanas, exerceu na forma- históricas. A absorção do formalismo da perspec-
ção de novos cientistas políticos e na condução de tiva econômica somente veio a acontecer a partir
pesquisas sociais (Somit e Tanenhaus, 1967; Almond, dos anos de 1960, com a crescente adoção do in-
1996). Esses intelectuais trouxeram maior rigor teó- dividualismo metodológico. Na prática, isso signi-
rico, novas perspectivas analíticas, habilidades em ficou um afastamento em relação às premissas so-
estatística e, acima de tudo, uma visão multidiscipli- ciológicas e antropológicas.
nar, contribuindo enormemente para que a Ciência De qualquer modo, conforme observa Red-
Política se tornasse uma ciência bastante eclética e ford, a perspectiva interdisciplinar somente foi viável
pluralista do ponto de vista metodológico. devido ao entrecruzamento de interesses das várias
Dahl enfatiza este último aspecto, afirmando disciplinas que se autodenominavam “ciências do
que “boa parte desses especialistas que ocupavam comportamento”. Por isso, o cientista político

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comportamentalista pôde integrar diversos enfoques de alguns pioneiros na reivindicação de uma Ciên-
e diversas metodologias, uma vez que, segundo o cia Política mais científica, ainda em seu início nos
autor, “ele encontrou um ponto de interesse em Estados Unidos, no começo do século XX (cf.
comum com os psicólogos, sociólogos e antropó- Somit e Tanenhaus, 1967; Gunnell, 2004a, 2004b,
logos culturalistas – grupos que também estavam 1993, 1988). Muitas de suas características podem
interessados no comportamento humano” (1961, ser identificadas nas propostas que um dos funda-
p. 757). Dahl concorda com este argumento e ain- dores da Ciência Política norte-americana, tal qual a
da ressalta que a perspectiva multidisciplinar foi um conhecemos atualmente, já defendia na década de
dos méritos da escola comportamentalista, afinal, 1920. Trata-se de Charles Merriam (1874-1954),
“uma conseqüência desse protesto behaviorista foi considerado um dos principais cientistas políticos
a restauração da unidade entre as ciências sociais, da terceira geração desses intelectuais naquele país,7
ao promover uma aproximação dos estudos polí- assim como também é considerado o iniciador da
ticos com esses métodos, teorias, pesquisas e resul- abordagem comportamentalista na política (Somit
tados da moderna Psicologia, da Sociologia, da e Tanenhaus, 1967; Jensen, 1969).8 Ele foi professor
Antropologia e da Economia (1961, p. 770). do Departamento de Ciência Política da Universi-
Já com relação à ênfase dada à orientação dade de Chicago9 e sua aproximação do comporta-
empírica e positiva – axiologicamente neutra –, mentalismo ocorreu no contexto da influência que
Leiserson chama a atenção para o fato de que: a Psicologia exercia no ambiente daquela universi-
dade naquele período.10
Do ponto de vista behaviorista, é muito mais importante Merriam antecipava que “algum dia poderemos
que a pesquisa política seja voltada para os dados sobre adotar outro ângulo, diferente do ângulo formal,
a influência dos seres humanos sobre os processos go-
assim como o fazem outras ciência, e, assim, começar
vernamentais, sobre o modo como constituem esses pro-
cessos e são influenciados por eles e, particularmente, a olhar para o comportamento político como um
que a pesquisa não se apóie em argumentos sobre as dos principais objetos de investigação” (1925, p.
prioridades das diferentes Ciências Sociais. Em suma, a 7). De fato, como pretendia o autor, com a emergên-
pesquisa de comportamento político busca, em primeiro cia da escola comportamentalista, houve um deslo-
lugar, dados que expressem o comportamento humano camento radical do foco de investigação, que até então
em tipos de situações que envolvem o exercício da auto-
era mais voltado às instituições jurídicas e adminis-
ridade governamental, em vez de encontrar evidências
que glorifiquem ou condenem entidades personificadas, trativas, para os atores políticos; mais especificamente,
tais como o Estado, a sociedade, a comunidade, a econo- seu comportamento, seus valores, seus objetivos.11
mia ou a classe, dotadas de qualidades tais como onisciên- Na visão de Redford, essa mudança de enfo-
cia, onipotência e inevitabilidade (1956, pp. 55-56). que teria provocado, inclusive, uma completa alte-
ração na formação e na postura epistemológica dos
Em suma, portanto, a “revolução comporta- cientistas políticos, na medida em que “o behavio-
mentalista” da Ciência Política é caracterizada por rismo volta sua atenção para a ação política das
dois pontos fundamentais. O primeiro deles é sua pessoas em vez de voltar-se para instituições, acon-
posição duramente crítica em relação à abordagem tecimentos ou ideologias [.. .]” (1961, p. 756). De
institucionalista de então, propondo, em oposição, fato, tal ruptura epistemológica causou tanto im-
uma teoria positiva e uma análise empiricamente pacto que alguns cientistas políticos a caracteriza-
orientada e bem mais rigorosa em termos concei- ram como uma “revolução científica” nos moldes
tuais. O segundo ponto é sua proposta programática kuhnianos. Este é o teor de pelo menos três discur-
de utilizar, de maneira pluralista, abordagens meto- sos presidenciais da APSA,12 nos anos de 1960,
dológicas de outras ciências “vizinhas”, como a totalmente dedicados à questão (Truman, 1965;
Sociologia, a Antropologia e a Psicologia. Estes dois Almond, 1966; Easton, 1969).
pontos compuseram as forças motrizes fundamen-
tais de sua busca de maior cientificidade e de maior Inovações teóricas e metodológicas
reconhecimento social. do paradigma comportamentalista
Na verdade, a utilização de teorias empirica-
mente orientadas e de técnicas mais apuradas para De forma geral, a “revolução comportamen-
pesquisas de observação correspondia aos anseios talista” trouxe várias contribuições à Ciência Políti-

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ca. Entre elas, uma grande preocupação com obje- tativas. [Isso significa] [. . .] que ao menos alguns fenô-
tividade e com generalizações indutivas, elementos menos políticos importantes poderiam ser explicados
mediante leis empíricas verificadas, enquadradas em
considerados essenciais à análise científica. Com
um conjunto de axiomas correlatos (1967, p. 229).
efeito, estes são os pontos diretamente relaciona-
dos com a proposta comportamentalista: (a) des- Essa postura metodologicamente rigorosa
crições objetivas, (b) generalizações empíricas, (c) pode ser sintetizada em oito pontos fundamentais
métodos sistemáticos e diferenciais, (d) material da agenda de pesquisa comportamentalista, con-
empírico, (e) quantificação e (f) multidisciplinarida- forme listados no Quadro 1 (cf. Morgenthau, 1946;
de teórica e metodológica. Mas, acima de tudo, a Lasswell e Kaplan, 1950; Truman, 1951, 1965; Vo-
maior contribuição, segundo Somit e Tanenhaus, egelin, 1952; Easton, 1953, 1965, 1969, 1998; Eu-
foi a seguinte: lau, Eldersveld e Janowitz, 1956; Butler, 1958; Hy-
neman, 1959; Dahl, 1961, 1963; Ranney, 1962;
O behaviorismo tornou os cientistas políticos mais au-
toconscientes e mais autocríticos, mais atentos à teoria Charlesworth, 1962; Eulau, 1963; Lasswell, 1963;
analítica, ao desenho da pesquisa e às técnicas quanti- Young, 1958; Farr, 1995; Miller, 1998).

Quadro 1
Síntese das Diretrizes Metodológicas do Comportamentalismo

1°: Somente uma Ciência Política com orientação empírica e positiva é capaz de explicar cientificamente os fenômenos
políticos.
2° O cientista político deve se ocupar apenas de fenômenos observáveis, evitando qualquer especulação dedutiva.
3° Os dados analisados devem ser quantitativos ou, então, quantificados.
4° A pesquisa deve ser orientada e dirigida por uma teoria conceitualmente rigorosa.
5° A análise deve ser pautada pela neutralidade axiológica.
6º As pesquisas devem ter caráter analítico [padrões e correlações estatísticas] e não meramente descritivo.
7º É recomendável utilizar abordagens multidisciplinares, uma vez que a Ciência Política com tal orientação seria apenas
uma das ciências do comportamento.
8° Adoção do máximo de rigor metodológico, seguindo a lógica do sistema de inferência indutivo.

Assim, com tais propostas, o comportamen- A revolução neo-institucionalista como reação


talismo atingiria seu ponto máximo durante os anos ao comportamentalismo
de 1950, persistindo de maneira hegemônica até
meados da década seguinte, tanto no que se refere No final dos anos de 1960, em outro discur-
à adesão teórica, como no que se refere à sua pre- so presidencial da APSA, temos o registro da crise
ponderância nos espaços institucionais – como de- que tão precocemente se abatia sobre a aborda-
partamentos universitários, instituições de pesquisa gem comportamentalista. O presidente daquele
e assessoria ao governo (Somit e Tanenhaus, 1967; momento era David Easton, um dos formulado-
Chilcote, 1996). Contudo, sua consolidação como res da teoria dos sistemas aplicada à política. Em
principal paradigma do período não se deu de for- seu pronunciamento, Easton asseverava que:
ma incontroversa; pelo contrário, foi grande a po-
lêmica e o debate dos herdeiros do antigo instituci- Uma nova revolução estava acontecendo na Ciência
onalismo com a nova “Ciência da Política”. De fato, Política americana. Essa última revolução – o behavi-
o comportamentalismo tanto atraiu devotos mili- orismo – ainda não havia atingido sua plenitude, quan-
tantes como críticos ferrenhos. do foi repentinamente abalada pelas crises políticas e

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sociais de nossa época. [. . .] Esse novo desafio voltou- Com relação a este último ponto, as críticas con-
se contra o desenvolvimento da ortodoxia behavioris- centraram-se no fato de que o comportamentalis-
ta. Chamo esse desafio de revolução pós-behaviorista
mo da Ciência Política acabou sendo absorvido
(1969, p. 1051).
pelo conjunto das ciências do comportamento,
Ainda sem um nome preciso para o novo quebrando suas fronteiras disciplinares – o que cria-
paradigma que começava a se sobrepor ao com- ria um grave problema em termos de demarcação
portamentalismo, Easton (1969) antevia sua futura científica.13 Dessa maneira, de acordo com Dahl
hegemonia. Esse “pós-comportamentalismo” viria (1961), o ecletismo comportamentalista acabou
a ser o que atualmente chamamos de neo-institucio- impondo à Ciência Política as perdas de foco e de
nalismo. Em grande parte, o neo-institucionalismo especificidade analítica.
surgiu como um movimento de dupla rejeição: (1) Mas, no que se refere aos aspectos teóricos
à ausência de cientificidade do antigo instituciona- do behaviorismo, a crítica apresentada por Dahl
lismo e (2) à ausência do contexto institucional nas (1961, p. 770) foi ainda mais profunda, na medida
abordagens comportamentalistas – tanto as induti- em que explicitou suas reticências quanto à insufi-
vas [sociológica, antropológica e psicológica], como ciência de uma explicação voltada exclusivamente
as dedutivas [econômica de viés neoclássico/ratio- à ação dos indivíduos, em que se faz tábula rasa do
nal choice ortodoxa]. Dimaggio e Powell destacam contexto institucional da esfera estritamente polí-
tal aspecto, afirmando que o neo-institucionalismo tica. Do mesmo modo, o autor já chamava a aten-
apareceu como: ção para os paradoxos inerentes à ação coletiva,
demonstrados há pouco por Arrow (1951), e que
[…] uma reação contra a revolução behaviorista […]. viriam a ser mais bem desenvolvidos posteriormen-
[…] O esforço atual para coadunar os focos de pesquisa te pela teoria da escolha social:
dessas tradições com os desenvolvimentos contempo-
râneos nos métodos e nas teorias não significa um mero As mais importantes produções da abordagem com-
retorno às raízes clássicas, mas um esforço para encon- portamentalista até o momento lidaram com indiví-
trar novas respostas para antigas questões sobre como duos – indivíduos que votam, que participam da polí-
as escolhas sociais são moldadas, mediadas e canaliza- tica de várias maneiras, ou que expressam certas atitudes
das por arranjos institucionais (1991, p. 2). ou crenças. Mas, um indivíduo não é um sistema polí-
tico, e a análise das preferências individuais não pode
Sob tal perspectiva, primeiramente, vejamos explicar plenamente as decisões coletivas, as quais so-
em linhas gerais os motivos que levaram à crise do mente poderão ser explicadas se entendermos os meca-
nismos pelos quais as decisões individuais são agrega-
paradigma behaviorista e como, a partir desta, das e combinadas nas decisões coletivas (Dahl, 1961, p.
criou-se um habitat favorável ao ressurgimento da 770).
abordagem institucional, uma “espécie” já quase em
extinção àquela época. Depois, vejamos como essa Portanto, além dos problemas demarcatórios,
“espécie” evoluiu para uma nova modalidade teó- de um lado, e da perda da especificidade analítica,
rica e metodológica, demandando uma ampliação de outro, o programa de pesquisa comportamen-
na “taxonomia” usual, com a introdução do ter- talista entrou em crise especialmente por não ter se
mo neo-institucionalismo no “reino” dos paradig- revelado bem-sucedido teórica e empiricamente à
mas da Ciência Política. medida que suas proposições foram sendo sub-
metidas a testes e a refutações, tanto factuais como
A crise do paradigma comportamentalista lógicas. Assim sendo, é possível afirmar que a rejei-
e a retomada das instituições ção ao paradigma comportamentalista se susten-
tou em pelo menos oito críticas centrais, tal como
De maneira genérica, as críticas ao compor- sintetizadas no Quadro2 (cf. Dahl, 1961; Somit e
tamentalismo concentravam-se nas suas insuficiên- Tanenhaus, 1967; March e Olsen, 1984; Skocpol,
cias analíticas – suas “dificuldades empíricas” – 1985; Dryzek e Leonard, 1988; Easton, 1969, 1998;
quanto à explicação de várias dimensões do fenô- Sened, 1991; Farr, 1995; Steinmo, Thelen e Longs-
meno político, de um lado, e, de outro, no seu ecle- treth, 1997; Immergut, 1998; Miller, 1998, Riker,
tismo teórico, com sua pretensão multidisciplinar. 1998; Simon, 2000).

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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES? 61

Quadro 2
As Principais Críticas ao Comportamentalismo

1°: A negação de que a Ciência Política pudesse vir a ser uma ciência capaz de estabelecer leis como as ciências naturais.

2°: O comportamento seria apenas uma das dimensões do fenômeno político.


3°: A impossibilidade da quantificação de todos os dados relevantes à análise política.
4°: A discrepância entre as pretensões teóricas do comportamentalismo e os resultados de suas pesquisas.
5°: A necessidade da adoção de algum tipo de pesquisa aplicada.
6°: A necessidade de comprometimento moral do pesquisador com a pesquisa realizada, o que afastaria ou pelo menos
relaxaria a premissa comportamentalista da radical neutralidade axiológica.
7°: A necessidade de uma redução dos enfoques multidisciplinares, a fim de manter a especificidade da análise da Ciência
Política.
8°: Um excesso de rigor metodológico e teórico, o que poderia levar à anulação da criatividade do pesquisador e,
conseqüentemente, à estagnação teórica e metodológica [uma clara preocupação com o “contexto da descoberta” e não
apenas com o “contexto da justificativa”, segundo os termos popperianos].

Conseqüentemente, vários analistas passaram preocupações que caracterizaram o comportamen-


a questionar a validade das premissas comporta- talismo com relação à cientificidade (cf. March e
mentalistas, tanto da versão indutivista da Sociolo- Olsen, 1984; Almond, 1988; Dimaggio e Powell,
gia e da Antropologia, como da versão dedutivista 1991; Jepperson, 1991; Knight e Sened, 1995; Hall
da Economia (cf. Riker, 1958, 1998). A área em e Taylor, 1996; Kato, 1996; Norgaard, 1996; Im-
que o impacto desse movimento crítico se fez maior mergut, 1998; Nee, 1998; Miller, 1998). Desse
foi no campo de pesquisas sobre o congresso nor- modo, o neo-institucionalismo não é apenas uma
te-americano, na medida em que os estudos dos rejeição cabal do comportamentalismo, mas sim
processos legislativos daquele país passaram a ser o uma síntese entre este e o antigo institucionalismo.
campo inicial da contestação empírica da validade Deste último, foi mantida a centralidade das insti-
do paradigma comportamental e da proposição tuições na explicação do fenômeno político; do
de novas perspectivas teóricas para o estudo das primeiro, foi mantida a preocupação com o rigor
decisões e dos resultados políticos (cf. Shepsle, 1986; teórico – especialmente a orientação dedutiva, in-
Limongi, 1994). Instalou-se, assim, um período de trínseca ao individualismo metodológico da teoria
disputas entre explicações comportamentalistas in- da escolha racional (Ostrom, 1991) –, com a preci-
dutivas e explicações comportamentalistas deduti- são conceitual – matemática/geométrica – e com
vas, paralelamente a explicações que buscavam evi- a orientação empírica da pesquisa – aplicação de
denciar que as regras que presidiam os processos testes quantitativos.
decisórios, tanto do comportamento eleitoral – sis-
tema eleitoral –, como do comportamento parla- O ponto de partida neo-institucionalista
mentar – regras do processo legislativo –, seriam
as responsáveis pelos resultados políticos (cf. Ri- A retomada das instituições como variáveis
ker, 1959, 1961, 1963, 1965). explicativas da dinâmica política dos atores em
Assim é que, sob pesadas críticas, o compor- bases empíricas e positivas se deve a dois processos.
tamentalismo perdeu força e, no final dos anos de De uma parte, a uma controvérsia teórica no campo
1960 e início da década seguinte, o paradigma ins- da Economia, voltada ao problema da tomada de
titucionalista foi, então, revitalizado. A abordagem decisões em um contexto de escolhas coletivas. De
institucional ressurgiu mantendo a proposta de tra- outra parte, às conseqüências teóricas e metodo-
zer as instituições para o centro da análise (Ostrom, lógicas que tal controvérsia produziu nos estudos
1986, 1991), mas, dessa vez, aderindo às mesmas do congresso norte-americano a partir dos anos de

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1950-1960, aprofundando-se a partir dos anos de 1970 invariável maioria num processo de escolha entre
(cf. Shepsle, 1986; Sened, 1991; Limongi, 1994; Rem- alternativas possíveis. Isso porque, fundamentalmen-
mer, 1997; Riker, 1998, 1982, 1980; Nee, 1998; te, numa decisão qualquer em relação às alternati-
Peters, 1998). vas A, B e C, por exemplo, a maioria pode, em
Quanto ao primeiro processo, a partir dos anos sucessivas votações, preferir A a B, depois, B a C,
de 1960, alguns analistas políticos começaram a se e, depois, C a A, quebrando, assim, o requisito ló-
interessar cada vez mais pelo comportamentalismo gico da coerência – em que se A > B e B > C, logo
da Economia, cujo sistema de inferências era deduti- A > C – e evidenciando que não há uma única
vo, assentado em premissas básicas acerca das moti- maioria relativa a dado tema, mas sim diversas
vações e das preferências dos indivíduos e de seu maiorias cíclicas e logicamente incoerentes.14
mecanismo racional – calculista e egoísta – de toma- Arrow (1951) retomou esse paradoxo, le-
da de decisão diante de alternativas excludentes. Em vando-o a um considerável grau de profundidade
relação a isso, é importante destacar que alguns analítica (Riker, 1980, 1982), de forma que seu “te-
economistas – tais como Schumpeter (1942), Ar- orema da possibilidade” não apenas trouxe impli-
row (1951), Downs (1957) e Buchanan e Tullock cações para a teoria democrática, como também
(1962) – contribuíram enormemente para tal atra- trouxe a necessidade de se procurar outra variável
ção, na medida em que, desde os anos de 1940, já explicativa do processo político que não fosse o
vinham utilizando modelos econômicos de pensa- mero comportamento dos atores.15 Isso porque o
mento na análise do comportamento político, e, autor demonstrou, logicamente, que em um con-
desse modo, acabaram sendo o ponto de partida texto de decisão coletiva, mesmo no caso de todos
para a “revolução” neo-institucional na política. os indivíduos serem racionais em termos de cál-
Especialmente nos casos de Arrow (1951) e de culo estratégico, as escolhas, seguindo a regra da
Downs (1957), que contribuíram significativamente maioria, ou seriam coletivamente irracionais – por-
para a introdução mais sistemática do individualis- que transitivamente incoerentes e instáveis [A > B
mo metodológico da matriz econômica neoclássica, > C, C > A] – ou, então, seriam injustas – porque
em que o modelo da escolha racional tem como contemplaria apenas uma maioria possível entre
fundamento axiomático o comportamento “maxi- outras maiorias possíveis. Tal constatação, inclusive,
mizador de utilidades”. abriu espaço para a suspeita de que os ideais de-
Isso significa que a Ciência Política nesse mo- mocráticos talvez fossem irrealizáveis – decisões
mento passou a ser atraída por um modelo expli- racionais igual e simultaneamente justas (cf. Riker,
cativo dedutivo, mas que ainda desconsiderava as 1980, 1982).
instituições sociais e políticas como variáveis rele- Portanto, tal “revolução” germinou a partir
vantes. Desse modo, economistas versados na ma- da tentativa de resolução de um problema teórico,
temática aplicada, ocupados com a formalização e até mesmo normativo, relativo à possibilidade da
de fenômenos sociais, retomaram o até então es- transposição do comportamentalismo da Econo-
quecido “paradoxo de Condorcet” acerca dos mia às análises políticas (cf. Riker, 1982; Searing,
métodos de decisões coletivas justas em assembléias, 1991; Sened, 1991). Esse problema consistia na di-
relativos à agregação dos votos e/ou preferências. ficultosa adaptação de um modelo de tomada de
Este também é conhecido como “paradoxo do decisão no plano individual/micro – rational choice
voto” e foi apresentado por Nicolas de Caritat, de matriz econômica – para a tomada de decisão
Marquês de Condorcet (1743-1794), um matemá- no plano coletivo/macro – cujo desenvolvimento
tico e filósofo francês do século XVIII, considera- resultou na formulação da social choice theory.
do pioneiro na aplicação da matemática a um fe- Ocorre que, no modelo neoclássico da Eco-
nômeno político. Num trabalho publicado em nomia, decisões egoístas no plano individual teriam
1785, ele demonstrou matematicamente a cíclica uma componente altruísta “colateral”, na medida
“transitividade das preferências” num contexto de em que gerariam, residualmente, digamos assim, o
decisões coletivas, como as Assembléias. equilíbrio coletivo das alocações de recursos. Mas,
A conseqüência mais direta de sua demons- a simulação matemática realizada por Arrow
tração é que, em uma decisão coletiva por regra (1951), na qual era admitida a racionalidade plena
majoritária, não é possível encontrar uma única e dos indivíduos, demonstrava, em termos lógicos,

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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES? 63

que a racionalidade individual não produziria ra- tro das análises, qual seja, o comportamento dos
cionalidade no plano coletivo. Pelo contrário, esco- atores (Ostrom, 1991; Immergut, 1998).
lhas racionais tomadas individualmente, sob deter-
minadas condições de racionalidade, produziriam A síntese neo-institucionalista
instabilidade coletiva, ou seja, conduziriam à irra-
cionalidade do ponto de vista social. Este era um Como visto até aqui, é possível afirmar então
problema claramente político ao qual o comporta- que a retomada das instituições como objeto central
mentalismo econômico baseado na simples e or- de investigação política ocorreu, em grande parte, em
todoxa idéia da “escolha racional” individual não função da contraposição de vários cientistas sociais
podia responder, nem do ponto de vista teórico – em relação às propostas e às premissas comporta-
uma vez que esse modelo não contemplaria a irra- mentalistas. Isso foi devido, fundamentalmente, à
cionalidade –, nem do ponto de vista empírico – concepção de que aquelas, de alguma maneira, mol-
uma vez que, no mundo real, as decisões coletivas dam ou condicionam o comportamento dos indiví-
são tomadas com certo grau de estabilidade, ao duos, seja por meio de constrangimentos, seja por
contrário do que se poderia deduzir do modelo meio de restrições.17 Steinmo resume este argumento:
teórico.
Quanto ao segundo processo, a discrepância As atenções voltaram-se mais explicitamente para as
entre a demonstração matemática de Arrow (1951), variáveis institucionais no final da década de 1970, em
decorrência do aumento das críticas à ênfase behavio-
pela qual as decisões coletivas seriam cíclicas e irra-
rista que predominava no campo dos estudos de políti-
cionais, portanto, as assembléias nunca consegui- ca americana e de política comparada durante as déca-
riam decidir nada realmente – uma vez que as deci- das de 1950 e 1960, a qual – embora tenha dado atenção
sões seriam sempre instáveis –, e os dados empíricos a aspectos da vida política que antes eram negligencia-
das pesquisas sobre o Congresso norte-americano, dos – geralmente acabava por obscurecer a importân-
que mostravam que os parlamentares, votando em cia das estruturas socioeconômicas e políticas que mol-
dam o comportamento de forma distinta em diferentes
assembléia por regra majoritária, tomavam deci- contextos nacionais (1997, p. 1).
sões sem enfrentar o problema dos ciclos irracio-
nais, previstos pelo autor, logo levaram os teóricos Quanto a estes aspectos, Pierson, por exemplo,
a um óbvio questionamento. Estaria incorreto o ressalta que “o surgimento do novo institucionalismo
teorema de Arrow ou será que existiria alguma va- na Ciência Política reflete um renovado interesse pelo
riável interveniente, não considerada em suas equa- próprio modo como arranjos relativamente estáveis
ções, que estaria a contribuir para a “anulação” do e rotineiros estruturam o comportamento político”
efeito esperado? (1996, p. 152). Justamente por isso, como observa
De acordo com os teóricos, o teorema esta- Norgaard, “os institucionalistas rejeitam a proposi-
ria correto e o problema seria precisamente a não ção de que um conjunto de características compor-
consideração de uma variável fundamental que ga- tamentais e sociopsicológicas seja suficiente para
rantiria a estabilidade das decisões: as instituições explicar a ação individual e a ação coletiva. [De acordo
políticas.16 Ou seja, as regras que estruturam o pro- com eles], a ação é forjada e circunscrita pelas insti-
cesso decisório seriam as responsáveis não apenas tuições” (1996, p. 33). Com efeito, a estruturação do
pela estabilidade das decisões como também pelo comportamento pelas instituições se daria pelos mais
próprio resultado da escolha, dado que se as deci- diversos mecanismos, tanto formais como informais.
sões são estáveis, com uma maioria vitoriosa, num Sobre este ponto, Pierson afirma ainda que:
contexto em que várias maiorias seriam possíveis, a
decisão tomada deveria conter certo grau de injus- As instituições estabelecem as regras do jogo das lutas
tiça, pois contemplaria apenas uma maioria possí- políticas – influenciando na formação de identidades
vel (Riker, 1980; Smith, 1988; Shepsle, 1995). Des- de grupo, de preferências políticas e de escolhas de
se modo, então, cada vez mais as instituições coalização, bem como promovendo o aumento de po-
der de alguns grupos, em detrimento de outros. As
estritamente políticas passaram a ser consideradas instituições também afetam a atuação do governo – na
como as variáveis explicativas centrais dos proces- medida em que interferem nos recursos administra-
sos e das decisões, inclusive como variáveis que tivos e financeiros que viabilizam as intervenções po-
condicionariam aquela que até então estava no cen- líticas (Idem, p. 152).

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Portanto, a posição generalizada de rejeição cala de racionalidade entre estes. Com isso, ao lon-
às premissas comportamentalistas enfatiza que as go do tempo, as instituições moldariam/estrutura-
variações quanto ao desenho constitucional – por riam cada vez mais as preferências.
exemplo, forma de governo, sistema eleitoral, Contudo, há uma diferenciação que deve ser
modelo federativo, regras do processo legislativo feita. Na vertente sociológica, a concepção preva-
etc. – e quanto às modalidades de interação econô- lecente é a de que as instituições moldariam as pre-
mica – relação entre Estado e mercado, relações ferências dos atores, ou seja, o que está em questão
contratuais de trabalho, relações entre eleitores e em termos tanto teóricos como empíricos é o pro-
partidos etc. – produzem interações específicas e, cesso de formação das preferências. Em última ins-
dessa forma, induzem a resultados políticos diver- tância, isso significa que o foco privilegiado da aná-
sos. Então, como sugerem Steinmo et al.: lise é o processo de socialização; no caso, de
socialização política. Na vertente da Ciência Políti-
[…] De modo geral, os institucionalistas estão interes-
ca – em sua quase totalidade adepta ao “institucio-
sados em todo tipo de instituições sociais e estatais que
moldam a maneira pela qual os atores políticos defi- nalismo da escolha racional” –, o que prevalece é
nem seus interesses e estruturam as relações de poder concepção de que as instituições interagem com as
com os outros grupos. Portanto, essa definição tam- preferências já dadas, provocando um processo de
bém abrange outras dimensões institucionais, tais como “transição” destas em relação aos objetos, de acor-
as regras da competição eleitoral, a estrutura do siste- do com uma “escala de utilidades”. Ou seja, as ins-
ma partidário, as relações entre os diversos setores do
tituições, como formas de restrição das decisões
governo e a estrutura e a organização de atores econô-
micos, tais como sindicatos (1997, p. 2). em favor daquilo que ocuparia o primeiro lugar
numa dada escala de preferências, provocaria o
Mas, apesar da oposição ao comportamen- deslocamento dessa escolha para objetos outros que
talismo, especialmente por causa de sua desconsi- ocupariam ou o segundo, ou o terceiro, ou o quar-
deração quanto às instituições políticas e econômi- to lugar de suas preferências, e assim por diante.
cas, o ressurgimento do programa de pesquisa Nesse caso, então, não se mostram relevantes nem
institucionalista herdou, por assim dizer, a preocu- o processo de socialização, nem a formação das
pação com o rigor metodológico e a orientação preferências, uma vez que o problema é exclusiva-
empírica daquele paradigma. Assim, enquanto, de mente circunscrito ao processo da tomada de de-
uma parte, os neo-institucionalistas retomaram as cisão num contexto em que as preferências já estão
instituições como objeto primordial da análise, de estruturadas e que são restringidas por certo tipo
outra parte, procuram explorar abordagens que de arranjo institucional.
privilegiam maior precisão conceitual e, na maioria Isso significa que tanto a Sociologia como a
dos casos, definições operacionais que facilitem o Ciência Política neo-institucionais tomam as esco-
máximo possível o tratamento empírico de dados. lhas como unidade de análise, com a diferença de
Dessa forma, uma das marcas diferenciado- que, enquanto para a primeira as variáveis explicati-
ras dos neo-institucionalistas em relação aos prati- vas seriam exógenas à própria decisão, para a se-
cantes do antigo institucionalismo é a oposição que gunda, tais variáveis seriam endógenas ao processo
os primeiros fazem ao caráter pouco científico dos decisório. Mas, em ambos os casos, o mecanismo
segundos, assim como a abordagem institucional- articulado estabelece que, em um primeiro momen-
mente descontextualizada dos comportamentalis- to, as instituições agiriam exteriormente, constran-
tas. Paralelamente, os neo-institucionalistas mantêm gendo/restringindo os indivíduos. Esse processo,
o foco nas instituições, tal qual proposto pelo anti- ao longo do tempo, geraria uma interiorização/
go institucionalismo, do mesmo modo que a preo- conhecimento das instituições como cursos possí-
cupação com a acuidade científica, sugerida pelos veis de ação, moldando/estruturando, em um se-
comportamentalistas. De forma geral, esses aspec- gundo momento, as preferências. Assim, primeira-
tos são comuns a todos os neo-institucionalistas, na mente, as instituições constrangeriam/restringiriam,
medida em que julgam que as instituições são fato- ou seja, limitariam as preferências, depois, as insti-
res de constrangimento/restrição às e de molda- tuições as moldariam/estruturariam. Nesse caso é
gem/estruturação das ações, pois limitariam seus que se poderia falar que determinada instituição está,
cursos de ação possíveis e estabeleceriam uma es- de fato, institucionalizada. Com isso, as interações

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COMPORTAMENTO OU INSTITUIÇÕES? 65

políticas estão diretamente associadas ao modelo fatores que concorreram para a “revolução neo-
institucional no qual estas estão inseridas, tendo seus institucional”: (1) a crise do behaviorismo a partir
resultados influenciados por esse modelo. da segunda metade da década de 1960 e (2) a emer-
Com tal perspectiva, a partir de meados dos gência, a partir dos anos de 1950, da análise econô-
anos de 1970, as instituições voltaram ao centro da mica dos fenômenos políticos sob a ótica dos pa-
análise, eleitas como as variáveis explicativas, por radoxos das decisões coletivas. Sob tal perspectiva,
excelência, do comportamento e das decisões po- minha intenção foi mostrar, mesmo que sucinta-
líticas. Na verdade, a própria unidade de análise tam- mente, que o desenvolvimento do paradigma neo-
bém foi deslocada, passado do comportamento institucional se deu como um movimento que sur-
puro e simples, agora relegado ao segundo plano, giu a partir das críticas e da rejeição do paradigma
para as decisões coletivas. Do ponto de vista da até então dominante, o comportamentalismo, de
Sociologia, o retorno das instituições significou a uma parte, e, de outra, a partir da incorporação, de
subdivisão de suas análises em pelo menos duas certo modo, crítica, da abordagem econômica à
escolas; uma centrada nas instituições sociais e, ou- análise do problema político.
tra, no Estado (cf. Hall and Taylor, 1996; Norgaard, O segundo ponto que intentei destacar foi que,
1996; Kato, 1996). não obstante a oposição ao comportamentalismo
No caso da Ciência Política, o recorte institu- e ao antigo institucionalismo, a abordagem neo-ins-
cional foi processado por uma redução radical das titucional tem como característica teórica central a
variáveis explicativas fundamentais, concentrando- síntese epistemológica e metodológica de parte do
se quase exclusivamente no desenho constitucional comportamentalismo com parte do antigo institu-
e nas regras que presidem o “jogo político”. A cul- cionalismo. A volta das instituições ao centro da
tura, as crenças, os valores, enfim, as instituições análise resolveu o problema teórico apresentado
sociais e até mesmo a estrutura econômica passa- pelo paradoxo do voto em assembléias, mas não
ram a ser considerados, todos, elementos exóge- significou a rejeição completa das premissas do in-
nos tanto ao fenômeno estritamente político como dividualismo metodológico, na medida em que a
ao conjunto de variáveis explicativas das decisões concepção do “Homem-Político” dos neo-institu-
coletivas. Na maioria das vezes, tais instituições se- cionalistas é semelhante à concepção do “Homem-
quer são consideradas, num processo – para mui- Econômico”. Isso significa que as premissas do al-
tos, problemático – semelhante ao ceteris paribus da truísmo e da razão, entendida como faculdade
Economia, pelas quais estas simplesmente deixam destinada à reflexão ética, foram substituídas pelas
de ser variáveis para se tornarem constantes não premissas do egoísmo e da razão como instrumen-
intervenientes no fenômeno. to de cálculo.
Seja como for, a idéia básica que serve de Na verdade, o retorno das instituições, nos
núcleo epistemológico e metodológico das análises moldes adotados pelos neo-institucionalistas da po-
atuais acerca dos fenômenos políticos é a de que os lítica, somente pôde fazer sentido no contexto do
atores respondem estratégica ou moralmente a um individualismo metodológico da Economia. Isso
conjunto de regras formais ou informais que são porque, com esse enfoque, que concebeu um mun-
circunscritas às instituições. Estas, moldam, condi- do sem instituições e, por isso mesmo, tenebroso,
cionam ou induzem os atores a agirem e a decidi- onde decisões nunca são tomadas e a coletividade
rem de determinada maneira e acabam, assim, ex- jamais chega a alguma vontade majoritária estável –
plicando grande parte do que ocorre na dinâmica ou, então, prevalecendo apenas a vontade de um
da política. ditador – , torna-se ainda mais evidente a força e a
importância das instituições como variáveis determi-
nantes das decisões minimamente justas e estáveis.
Conclusão Então, a relevância dos modelos constitucio-
nais como objetos de investigação voltou à cena,
Meu objetivo neste texto foi fazer uma breve mas não mais com aquele casaco puído e empoeira-
reconstrução histórica do paradigma neo-institucio- do do teórico que só estuda os textos das constitui-
nalista da Ciência Política, com a finalidade de des- ções e deduz da razão abstrata qual o melhor mo-
tacar dois pontos. O primeiro é que houve dois delo político para se produzir o “Bem”. Vestidos

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com seus “aventais de cientistas” e munidos de to- 4 Wilhelm Wundt também teve grande influência so-
das as “ferramentas” – ou, como já se disse, “as bre Malinowski. Este, depois de obter doutoramento
peças e as engrenagens” da ciência – das pesquisas em Filosofia, deslocou-se até a Universidade de Leip-
empíricas trazidas pelo comportamentalismo, os zig, onde estudou folk psychology com Wundt, entre
neo-institucionalistas, agora, investigam, de manei- 1908 e 1910. Graças a tal influência, Malinowski pas-
ra positiva e analítica, os efeitos dos desenhos insti- sou a se interessar por Antropologia, o que o levou
tucionais sobre o comportamento dos atores e so- aos seus estudos de campo em Mailu e nas Ilhas
bre os resultados políticos. Tobriandesas, onde, então, desenvolveu as clássicas
e inovadoras técnicas de observação participante,
bem como sua teoria funcionalista da cultura.
Notas 5 Parece-me plausível conjecturar que, ao enfatizar a
observação sistemática e a descrição densa dos com-
1 Na verdade, o embate contra o republicanismo veio portamentos como objetivação de “acordos” sim-
tanto dos pluralistas como dos liberais. Os maiores bólicos coletivos que cumpririam determinadas fun-
representantes disso são Dahl (1956), em favor do ções sociais, Malinowski (1944) avançava em direção
pluralismo, e Riker (1982), em favor do liberalismo. a uma forma de comportamentalismo metodoló-
Ambos, entretanto, tinham em comum a identifi- gico. Isso porque ao compreender que a ação huma-
cação de republicanismo com populismo. na efetiva conduziria ao comportamento organiza-
2 Na verdade, é importante destacar que houve pelo do e que tal organização é dada por um conjunto de
menos dois importantes precursores do compor- regras e valores, denominado instituições, o autor
tamentalismo. Um deles foi o fisiologista russo Ivan sugere que se, de um lado, a unidade de análise
Petrovich Pavlov (1849-1936), o pioneiro da psico- legítima do fenômeno cultural seriam as próprias
logia comportamental. Suas experiências envolven- instituições, de outro, seu estudo somente seria
do o condicionamento animal levaram-no à pro- possível por intermédio da observação dos com-
posição de que qualquer comportamento, inclusive portamentos. Segundo o próprio autor, “o valor
o humano, seria o resultado de um processo de do behaviorismo é devido, em primeiro lugar, ao fato
condicionamento, viabilizado, por sua vez, pelos de que seus métodos são idênticos, no tocante às
mecanismos mentais de associação como um siste- limitações e vantagens, aos do trabalho de campo
ma de estímulo/resposta. O outro foi o psicólogo antropológico. [. . .] O princípio fundamental do
e filósofo alemão Wilhelm Wundt (1832-1920), investigador de campo, assim como também o do
fundador do famoso e pioneiro Instituto Experi- behaviorista, é que as idéias, as emoções e as cona-
mental de Psicologia e formulador da abordagem ções nunca prosseguem a conduzir uma existência
“elementar”, por meio da qual costumava dividir a crítica, oculta dentro das profundezas inexploráveis
complexidade dos fatores envolvidos no compor- da mente, consciente ou inconsciente” (Malinowski,
tamento em elementos básicos e isolados, como 1970, p. 31).
determinados sentimentos e sensações, de forma a 6 Sobre esse debate metodológico na Economia, ver
ser possível mensurá-los como respostas a deter- detalhes em Blaug (1993), Mäki e Knudsen (1993),
minados estímulos. Blackhouse (1994), Hausman (1998) e Hands (2001).
3 O relato de Durkheim sobre sua visita à Alemanha 7 A importância de Charles Merriam também pode
e suas impressões acerca dos estudos de Wundt ser percebida pela constatação da relevância que al-
foram publicados em 1887. Embora Durkheim seja, guns de seus orientandos vieram a ter no desenvol-
essencialmente, um analista de viés institucional, a vimento posterior da Ciência Política norte-ameri-
despeito de sua filiação ao “naturalismo social”, sua cana, entre eles, destacam-se Leonard White, Harold
ênfase nos métodos empíricos observacionais em Gosnell, Quincy Wright, Harold Lasswell, V. O. Key,
oposição à abordagem filosófica possibilitou a aber- Gabriel Almond, Avery Leiserson, Herbert Simon
tura necessária às influências do comportamentalis- e David Truman.
mo na Sociologia subseqüente. Para maiores deta- 8 Geralmente, considera-se que Merriam (1921, 1925)
lhes sobre o debate do autor com a Filosofia, com foi autor dos dois trabalhos pioneiros do tipo de
vistas a formular uma ciência da moral, ver: Weiss abordagem que seria adotada mais vigorosamente
(2006). apenas duas décadas depois, no âmbito do com-

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portamentalismo. Na verdade, há até quem afirme foi cunhado por um grupo que tinha fortes inclina-
(Gunnell, 2005) que a década de 1920 foi de tal for- ções quantitativas, qual seja, o grupo dos cientistas
ma crucial para o posterior desenvolvimento desse sociais da Universidade de Chicago. Preocupados
paradigma que poderia ser considerada um período em atrair verbas federais para as ciências sociais e
“pré-behaviorista”. receosos que estas fossem confundidas com socia-
9 Além das atividades acadêmicas, Merriam também lismo, eles conceberam o termo ciência comporta-
atuou na política de seu país, sendo consultor de mentalista” (1967, p 183).
dois presidentes, o republicano Herbert Hoover [31°, 14 Há vários textos que tratam em detalhes de tal pa-
que governou no período 1929-1933 e o democrata radoxo, seja em nível didático, seja em nível avança-
Franklin Roosevelt, o 32º da república norte-ameri- do. Para um melhor entendimento a esse respeito,
cana, que governou entre 1933 e 1945. consulte Brams (1976) e Riker (1982).
10 Segundo consta, também foi decisiva para tal con- 15 O espaço aqui não permite que se avance sobre to-
versão a leitura de duas obras anteriores que abor- dos os aspectos desta questão, mas é importante
davam a “natureza humana” na política sob a ótica salientar que há outro autor de fundamental im-
da irracionalidade guiada pelos sentimentos: portância no desenvolvimento dos problemas ine-
Graham Wallas (1908) com Human nature in politics rentes às decisões coletivas. Trata-se de McKelvey
e Walter Lippmann (1922) com Public opinion. Da (1976), que desenvolveu aquela que ficou conhecida
mesma forma, seu irmão, John Merriam, um im- como a “teoria do caos”, relativa às decisões parla-
portante geólogo, trouxe-lhe várias influências das mentares. Este autor demonstrou geometricamen-
ciências da natureza (cf. Jensen, 1969). te que numa decisão coletiva qualquer resultado é
11 De acordo com Gunnell (2005), há ainda outros possível, mesmo aquele que discrepe da vontade da
dois importantes autores da década de 1920 cujas maioria, na medida em que as decisões em assem-
duas obras lançadas naquele período foram igual- bléia podem ser manipuladas por intermédio da
mente de fundamental importância, quais sejam, simples escolha das alternativas a serem votadas e
Catlin (1927) e Elliott (1928). Gostaria de acrescen- até pela ordem em que estas são colocadas em vota-
tar outras obras de grande relevância nesse mesmo ção. Com isso, o autor evidenciou, em termos lógi-
momento, cujo foco se concentrava na discussão da cos, o enorme poder daquele que controla a agenda
aplicação de métodos quantitativos à análise dos de votação, bem como a importância das “regras do
fenômenos políticos: Rice (1928, 1931) e Gosnell jogo”, pois estas definem como o “jogo” é jogado
(1933). e até quem tem mais chances de ganhá-lo. Para uma
12 Trata-se da American Political Science Association, exposição didática desse modelo aplicado aos estu-
fundada em 1903 e atualmente a maior entidade dos legislativos, ver Limongi (1994).
profissional da área, tanto em número de filiados, 16 No caso dos estudos sobre o Congresso norte-ame-
como em importância acadêmica [possui atualmente ricano, os esforços dos pesquisadores na tentativa
mais de 15 mil membros de cerca de 80 países]. A de encontrar empiricamente as variáveis explicativas
APSA é a responsável pela edição da American Politi- para a inexistência da instabilidade prevista logica-
cal Science Review, uma das revistas mais importantes mente pelo teorema de Arrow (1951) ensejaram o
da Ciência Política mundial. Por meio de sua linha desenvolvimento de três linhas de pesquisa confli-
editorial, a APSA matiza a prática do que deve ser tantes, a “distributivista”, a “informacional” e a “par-
uma pesquisa científica e sua forma de comunica- tidária”. Para uma análise sintética destas linhas, ver
ção. Com isso, colabora preponderantemente para a Limongi (1994). Tais abordagens e até mesmo a
definição dos parâmetros cosmológicos [o que é o forma de construir o problema de investigação in-
fenômeno político, quais seus elementos mais rele- fluenciaram bastante as pesquisas sobre o Congres-
vantes, quais as grandes questões que os envolve so brasileiro a partir de meados dos anos de 1990.
etc.] e metodológicos da comunidade dos cientistas Neste caso, os pesquisadores têm se dividido entre
políticos. duas linhas explicativas, quais sejam, a “distributi-
13 Segundo Somit e Tanenhaus, essa absorção ao cam- vista”, mais pessimista, e a “partidária”, mais oti-
po das ciências comportamentais representou, in- mista. Para uma análise da forma de utilização das
clusive, uma orientação de ordem prática. Segundo “teorias positivas” no estudo do legislativo brasi-
os autores, “o termo ciência comportamentalista leiro, ver Santos (2006).

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17 No caso da Sociologia, o termo mais apropriado é BRAMS, Steven. (1976), Paradoxes in politics. Nova
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às normas sempre são “punidos” por algum tipo BUCHANAN, James & TULLOCK, Gordon.
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No caso da Ciência Política, o termo mais apropria- of constitutional democracy. Ann Arbor, Univer-
do seria “restrição”, na medida em que a escola pre- sity of Michigan Press.
dominante – o institucionalismo racionalista – pres- BUTLER, David. (1958), The study of political behavior.
supõe que as decisões encontram alguma oposição Londres, Routledge.
em termos de recursos escassos [porcentagem de CATLIN, G. E. (1927), The science and method of poli-
eleitores disponíveis, dotação orçamentária etc.] ou tics. Nova York, Knopf.
institucionais [regras eleitorais, regras do processo CHARLESWORTH, James. (1962), The limits of be-
legislativo etc.], demandando, em face de tais restri- havioralism in political science. Philadelphia, Ameri-
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