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6 – Prestação de serviços

1.6.1- Conceito

Pode-se conceituar o contrato de prestação de serviços como “[...] o negócio jurídico


por meio do qual uma das partes, chamada prestador, se obriga a realizar uma atividade em
benefício de outra, denominada tomador, mediante remuneração.”(FILHO;GAGLIANO,
2019,p.560). Além disso, é importante destacar a similitude do contrato de prestação de
serviços com o contrato de emprego, ambos apenas se diferindo “[...]pelo elemento
subordinação jurídica(entendida como hierarquização) que é indispensável no segundo e
ausente no primeiro.”(FILHO; GAGLIANO, 2019, p.560).

Portanto, a prestação de serviço é um contrato típico, em virtude do qual uma das


partes, denominada “prestador de serviço”, assume a obrigação de realizar alguma atividade
de sua especialidade, não revestida de perenidade e subordinação hierárquica, em favor do
tomador do serviço que, em razão disso, se obriga a remunerá-lo mediante o pagamento de
honorários.

1.6.2 – Disciplina Jurídica

Os dispositivos legais onde está regulado o contrato de prestação de serviços podem


ser observados no Código Civil de 2002, previstos do artigo 593 ao 609. O artigo 593 do
Código Civil ressalta que o contrato de prestação de serviços é “[...]uma modalidade
contratual aplicável a qualquer tipo de atividade lícita, seja manual, seja
intelectual[...]”(FILHO; GAGLIANO,2019, p.560).

Além disso, é válido fazer uma pequena análise do artigo 594 do Código Civil, o qual
estipula que serviços e trabalhos lícitos, sejam eles materiais ou imateriais, podem ser
contratados mediante retribuição. Nesse sentido, em outras palavras, qualquer atividade
corpórea(material) ou incorpórea(imaterial) que seja lícita pode ser contratada de forma
eventual, remunerada e sem subordinação, o que não afasta o reconhecimento de que o
tomador do serviço eventualmente indique ao prestador a forma como quer que seja realizada
a atividade.

O artigo 595, por sua vez, estipula acerca do analfabetismo das partes; como técnica
de proteção à vulnerabilidade do prestador, que se encontra na difícil condição de analfabeto,
o dispositivo anotado prescreve a possibilidade de o contrato ser feito por escrito, cuja forma
servirá como meio de prova, quando qualquer das partes não souber ler nem escrever, ocasião
em que o instrumento contratual poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas.

O artigo 596 do Código Civil trata a respeito do caso da prestação de serviço não ser
estabelecida convencionalmente. Nesse caso, se o valor da prestação não for estipulado de
forma convencional, e as partes não chegarem a um acordo acerca do valor do serviço, o
Poder Judiciário exercerá tal função de forma subsidiária, devendo estipular, por meio da
persuasão racional do magistrado, um valor equânime para o serviço que fora prestado.

O artigo 597 do Código Civil trata a respeito de que modo se pagará o serviço
prestado. Assim, a norma em análise tem um caráter supletivo, ou seja, assume caráter
cogente na ausência de disposição contratual contrário, fixando como regra geral que o
serviço deverá ser pago após a sua realização, exceto se o costume do local ou a convenção
determinarem o adiantamento do pagamento, ou que este seja feito em prestações.

O artigo 598 transmite a ideia de que a prestação de serviço pode ser estabelecida por
prazo determinado, contudo no prazo legal máximo de quatro anos, findo o qual o contrato se
extinguirá por caducidade.

O artigo 599 do Código Civil, por sua vez, trata a respeito do direito de resilição
unilateral do prestador, o qual somente pode ser exercido quando o contrato não tiver prazo
estipulado, ou não se puder aferir qual a natureza do mesmo segundo a consulta aos costumes
ou a quaisquer outros meios de convicção.

1.6.3 – Sujeitos envolvidos

Tal como mencionado anteriormente, os sujeitos envolvidos nessa modalidade


contratual são o prestador de serviços e o tomador. Por se tratar de contrato oneroso, ambos os
sujeitos envolvidos possuem obrigações para com o outro. Nesse sentido, o prestador se
obriga a realizar uma atividade em benefício da outra (o tomador) enquanto que este se obriga
a realizar uma remuneração ao outro.

1.6.4 – Designação específica de cada sujeito

1.6.5 – Direitos e deveres de cada sujeito

Tendo-se em vista que o contrato de prestação de serviço é um contrato oneroso, isso


implica, ainda que de maneira indireta, direitos e deveres de ambos os contratantes. O
prestador de serviços tem direito, por exemplo, pela devida execução de seus serviços, a uma
remuneração por parte daquele que contrata esse mesmo prestador. Assim, “trata-se de um
direito do trabalhador, como contraprestação à sua atividade laboral, sendo ajustada
normalmente sob a forma de retribuição pecuniária.” (GONÇALVES, 2020, p.511). O que
não exclui, cabe ressaltar, outras formas de pagamento. Por outro lado, o prestador de
serviços, além do seu direito a um pagamento, também tem obrigações. Ele deve efetuar seu
serviço da maneira como foi acordada com o contratante, não podendo entregar um serviço
mal feito ou mal executado.

Da parte do contratante, ele tem a obrigação, tal como foi dito antes, de dar uma
remuneração ou qualquer tipo de pagamento ao prestador de serviços. Mas, de outro modo,
ele tem o direito de exigir uma devida prestação de serviço.

1.6.6 – Espécies

1.6.7 - Critérios de classificação

1.6.8 - Unilateral, bilateral ou plurilateral?

O contrato de prestação de serviços pode ser caracterizado como bilateral, “uma vez
que o prestador se obriga a realizar a atividade, em troca da retribuição, e o tomador se obriga
a pagar o pactuado, em retorno à conduta efetivada.”(FILHO; GAGLIANO,2019, p.561).
Nessa mesma toada, de acordo com Gonçalves (2020, p.511), “ trata-se de contrato bilateral
ou sinalagmático, porque gera obrigações para ambos os contratantes. O prestador assume
uma obrigação de fazer perante o dono do serviço, que, por sua vez, compromete-se a
remunerá-lo pela atividade desenvolvida.”

1.6.9 – Gratuito ou oneroso?

Muito embora nos dispositivos legais se tenha feito menção apenas à forma onerosa de
prestação de serviços, pode-se ter tambem contrato de prestação de serviços gratuitos: “No
sistema brasileiro, portanto, a prestação de serviços não onerosos está fora do campo de
aplicação das regras codificadas, sendo própria da disciplina do trabalho
voluntário.”(FILHO;GAGLIANO,2019, p.561). Nesse sentido, de acordo com
Gonçalves(2020, p.511), “ por trazer benefícios ou vantagens para um e outro contratante, a
prestação de serviços é também contrato oneroso. A remuneração é paga por aquele que
contrata o prestador”.
1.6.10– Comutativo ou aleatório?

Tendo-se em vista que no contrato de prestação de serviços há uma equivalência entre


as prestações, ele se classifica “como um contrato comutativo,[...] em que é estabelecida a
equação financeira do contrato, impondo-se a compensação de eventuais alterações sofridas
no curso do contrato.” ( FILHO; GAGLIANO,2019, p.561). É importante destacar, também,
que “em função do caráter bilateral e comutativo do contrato de prestação de serviço, o
regular desempenho da atividade pactuada faz surgir o direito a uma
contrapartida.”(FILHO;GAGLIANO, 2019 , p.565).

1.6.11 – Informal ou solene?

Quanto à forma, o contrato de prestação de serviços pode ser caracterizado como um


contrato informal, isto é, com forma livre de pactuação(consensual), concretizando-se com a
simples declaração de vontade. Em outras palavras, trata-se um contrato não solene, onde as
partes tem a liberdade de pactuar livremente. Dessa forma “[...]pode ser estabelecido tanto
verbalmente (o que, aliás, é muito comum no dia a dia das relações jurídicas de direito
material) quanto de forma escrita”.(FILHO; GAGLIANO,2019, p.564).

Interessante pontuar, acerca desse último tópico que, quando “[...]na hipótese de
qualquer não ser alfabetizada, a lei estabelece um meio de prova para a sua declaração de
vontade.”(FILHO; GAGLIANO,2019, p.564). De fato, isso pode ser depreendido a partir do
artigo 595 do Código Civil de 2002. Alem disso, vale observar o ensinamento de
Gonçalves(2020, p. 512): “ a prestação de serviço é também contrato consensual, uma vez que
se aperfeiçoa mediante o simples acordo de vontades”. Assim, de acordo com
Gonçalves(2020, p. 512), “Estatui o art. 595 do Código Civil que, ‘quando qualquer das partes
não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subscrito por duas
testemunhas’”.

1.6.12 – Paritário ou de adesão?

O contrato de prestação de serviços é um contrato singular, na medida em que se


diferencia de todos os outros contratos existentes por permitir que se celebre tanto na
modalidade paritária quanto na modalidade por adesão.

1.6.13– De execução instantânea, diferida ou de trato sucessivo

O contrato de prestação de serviços “pode ser tanto instantâneo(seja na modalidade de


execução imediata, seja na execução diferida), quanto de duração(determinada ou
indeterminada)”.(FILHO; GAGLIANO, 2019, p. 562). Cabe acrescentar, nesse mesmo
sentido, tal como dispõe Roberto Gonçalves Dias( 2020, p. 513) acerca da duração do
contrato, que “ [...] para evitar prestação de serviço por tempo demasiado longo,
caracterizando verdadeira escravidão, o tempo de duração do contrato é limitado a quatro
anos, no máximo[...]”. Não obstante, é permitido que, ao fim desses quatro anos, um novo
contrato possa ser negociado entre as partes pelo mesmo prazo.

1.6.14 – Forma de extinção do contrato

De acordo com o artigo 607 do Código Civil, o contrato de prestação de serviços se


extingue quando uma das partes morre ou quando ocorre o escoamento do prazo, pela
conclusão da obra, ou pela rescisão do contrato mediante aviso prévio; ou até mesmo por
inadimplemento de qualquer uma das partes envolvidas ou pela impossibilidade de sua
continuação, motivada por força maior.

Além disso, é importante ressaltar que “ a inserção da morte de qualquer das partes
como causa de extinção da prestação de serviço demonstra o caráter personalíssimo ou intuiu
personae da avença, insucestível de transmissão causa mortis.”(GONÇALVES, 2020, p.515).
Interesante notar também que diferentemente do Código Civil de 1916, o qual considerava
terminado o contrato com a morte do prestador de serviço, o atual Código Civil prevê como
causa de extinção a morte de qualquer das partes.

1.6.15 – Jurisprudência sobre o contrato

Para finalizar a análise do contrato de prestação de serviços, verifiquemos algumas


jurisprudências sobre o assunto. De início, vale mencionar a seguinte jurisprudência, na qual
se discute a relação entre o vínculo empregatício e o desvirtuamento do contrato de prestação
de serviço autônomo, tal como se pode perceber pela ementa:

EMENTA: VÍNCULO DE EMPREGO - DESVIRTUAMENTO DO CONTRATO


DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO AUTÔNOMO. É de curial sabedoria que o
contrato de trabalho é um "Contrato Realidade", ou seja, são os fatos que o define e
não o nomem iuris que possa ser-lhe atribuído. O princípio da primazia da realidade
distingue-se pela preponderância dos fatos sobre a forma. E mais, o normal se
presume e o extraordinário se prova. Recurso não provido. ( AgRg no Ag
811.147/RS, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, DJ 29.3.2007)

O caso em questão envolve o contrato de prestação de serviços na medida em que há


um desvirtuamento desse contrato. Além do mais, cabe destacar o contrato de trabalho,
diferentemente do de prestação de serviços, é acordo tácito ou expresso pelo qual a pessoa
física que se obrigou a prestar serviços não tem liberdade no modus de prestá-lo, ao contrário
do que ocorre com o trabalho autônomo. Assim, é incontroverso que o reclamante desejou e
firmou contrato de prestação de serviços autônomos, promovendo a constituição de pessoa
jurídica para atuar sob seu nome.

Além disso, analisemos também a seguinte jurisprudência:

EMENTA:APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL. CONTRATO DE PRESTAÇÃO


DE SERVIÇO. Parte autora alega ter sido contratada pelo clube réu para prestar
serviço de marketing, ajustando contraprestação mensal no valor de R$ 15 mil.
Assevera que, a partir de outubro/2017, o réu restou inadimplente, deixando de
efetuar o pagamento mensal, e ainda rescindiu o contrato unilateralmente, em
fevereiro/2018. Pugna pelo pagamento referente aos meses de outubro/2017 a
fevereiro/2018, além de mais 2 mensalidades, em decorrência de cláusula rescisória
contratualmente ajustada. Em resposta, o clube réu alega que os serviços contratados
não foram efetuados, pelo que rescindiu o contrato com a autora. Alega que inexiste
débito sem prestação de serviço. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA acolhendo a
tese de defesa. APELAÇÃO da parte autora, alegando que há inúmeros documentos
nos autos capazes de comprovar a prestação de serviço que ensejou o débito em
testilha. NÃO ASSISTE RAZÃO À PARTE AUTORA. Em que pese a farta
documentação adunada, não se vislumbra quais serviços foram prestados pela ré no
período de outubro/2017 a fevereiro/2018. Tendo em vista que o ônus da prova
incumbe ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito (art.373, I, CPC), e que
nenhum dos serviços contratados restou comprovadamente prestado, não há falar em
inadimplemento contratual. Sentença de improcedência que se mantém. Majoração
de honorários sucumbenciais. NEGATIVA DE PROVIMENTO AO RECURSO. (
AgRg no REsp 1.397.419/SC, Rel. Min. Humberto Martins, DJe 10.2.2014)

No caso em questão, verifica-se um caso de prestação de serviço envolvendo


irregularidades

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