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HUMANOS E
DIVERSIDADE
Silvia Zuffo
Diversidade e tolerância
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os direitos culturais, incluídos na nova geração de direitos humanos,
são a garantia de que todos os povos têm o direito de expressar a sua
forma de viver diante do mundo, ou seja, a sua cultura. Nesse sentido,
a manifestação cultural dos povos, em uma sociedade cada vez mais
conectada, desafia o convívio social sob a ótica da diversidade. Nessa
ótica, encaixa-se o respeito e a tolerância para com o diferente.
Neste capítulo, você vai estudar como se estabelece a relação entre
diversidade e cultura, o modo como a cultura influencia a percepção de
mundo do homem e como o tema da tolerância é importante quando
o assunto é diversidade cultural.
Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são
universais, indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma
diversidade criativa exige a plena realização dos direitos culturais, tal como os
define o Artigo 27 da Declaração Universal de Direitos Humanos e os artigos
13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.
Toda pessoa deve, assim, poder expressar-se, criar e difundir suas obras na
língua que deseje e, em particular, na sua língua materna; toda pessoa tem
direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite plenamente
sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural
que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites
que impõe o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais
(UNESCO, 2002, documento on-line).
Nesse sentido, a cultura deve ser entendida como algo dinâmico, com
constantes processos de mudanças. Para Barroso (2017), os processos culturais
são mudanças pelas quais as culturas passam, assimilando ou abandonando
certos costumes, hábitos ou valores que identificam determinado povo. Os
processos culturais também são resultados de interações diretas ou indiretas
com outras culturas. Segundo Barroso (2017, p. 60), por meio dessas interações,
“[...] aperfeiçoam-se elementos através de invenções e descobertas, copiam-se
elementos culturais de outras sociedades, abandonam-se aspectos culturais
considerados inadequados ao novo contexto e esquece-se de traços culturais
aprendidos por meio das gerações”.
É importante observar que as mudanças ou interações culturais não ocor-
rem de forma neutra, mas são determinadas por relações de poder. Ou seja,
uma cultura dominante pode impor sua forma de organização a uma cultura
dominada ou com exercício de poder menor. Nesse sentido, a diversidade
cultural é um conceito característico das sociedades modernas, que influen-
ciam diretamente nos processos culturais, fazendo necessárias constantes
reflexões sobre sua prática.
Para Gomes (2014), a partir daí, instaura-se o multiculturalismo, que
se apoia no apelo à tolerância e ao respeito para com a diversidade. Frente a
isso, coloca-se um desafio: como trabalhar com as identidades culturais e a
diversidade, incorporando-as, ao aceitar e conviver com as diferenças? Como
lidar com manifestações culturais que não se encaixam harmoniosamente
como peças de um quebra-cabeça?
A diversidade cultural, em síntese, é a diversidade de formas de ser
humano. O único valor capaz de referenciar a diversidade cultural é a hu-
manidade. Para Sodré (2017), é lógico que os indivíduos são diferentes, o
problema está em aceitar o diverso no espaço de convivência e dar-se conta
da percepção de valor que o outro traz como ser humano. Acompanhe um
exemplo a seguir.
Para Elias e Scotson (2010, p. 195), “[...] muitas vezes, há quem fale como
se as pessoas adquirissem do nada os valores que defendem [...]. O senso de
valor dos seres humanos modifica-se de acordo com suas condições mutáveis
de vida, e como parte dessas condições, de acordo com os progressos do saber
humano”. Se interessa conhecer uma cultura, é importante compreender que
cada pessoa tem uma cultura e assume um padrão de pensamento relacionado
a essa cultura. Para conhecer o significado de cada aspecto do comportamento
escolhido, deve-se analisar o contexto das motivações, das emoções, dos
valores institucionalizados e das funções das suas instituições, conforme
leciona Benedict (2013).
Ruth Benedict foi uma antropóloga americana, e os seus estudos influenciaram forte-
mente a análise das relações entre cultura e personalidade, sendo utilizados no campo
das ciências sociais até os dias atuais. Em uma de suas pesquisas, analisou aspectos do
Japão durante a Segunda Guerra Mundial, a fim de compreender a cultura japonesa e
sua posição na guerra, diferente da posição dos Estados Unidos. Essa pesquisa resultou
no livro O crisântemo e a espada (1946).
Fake news é a divulgação em massa de notícias falsas. Esse movimento tem contribuído
para alimentar atitudes de intolerância e comportamentos radicais. Para combater
as fake news, escolas têm incluído em seu currículo aulas para orientar os alunos a
identificar notícias falsas e para compreender o problema que essas notícias geram.
Em uma escola do Brasil, por exemplo, professores estão incrementando uma nova
habilidade nos seus currículos. Não basta saber ler e interpretar texto; para eles, é
preciso também avaliar a qualidade de uma informação, a veracidade de uma fonte
e o quanto notícias falsas podem ser danosas para todos. Como instrumento, os
professores trazem situações-problema para analisar com os alunos. Os alunos são
instigados a se verem vivendo a situação, a buscar a fonte da informação e a verificar
se essa fonte pode ser associada à produção de fake news.
A equipe diretiva da escola acredita que essa habilidade pode ser trabalhada já nos
primeiros anos, visto que os alunos têm acesso à internet desde cedo. O resultado
dessa iniciativa, segundo a escola, são alunos mais críticos frente às informações e com
maior cuidado para não se deixarem enganar por situações duvidosas.
https://goo.gl/UUCqbR
FEILER, C. +Cultura: 7 bilhões de outros. Nossa Causa, 26 jun. 2015. Disponível em: <http://
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Leitura recomendada
ARAKAKI, F. F. S. Constituição federal e direitos humanos. In: ARAKAKI, F. F. S.; VIEIRO, G.
M. (Org.). Direitos humanos. Porto Alegre: SAGAH, 2018.