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Como assim um livro sobre memes em uma editora
universitária? Ai, meu Deus, vai sair na lista das
extravagâncias da academia brasileira publicadas por
aquele jornal de Curitiba? Mas meme não é uma coisa de
menino que vive on-line? Rá! Quem pensa assim não está
entendendo o paradigma. Meme continua sendo coisa de
moleque, sim, está ligado às diversas culturas juvenis (e
olha que são muitas) e aos ambientes digitais, mas quem
disse que nesse universo não se escondem questões
conceituais e políticas da maior importância? Em um país
que está sob o domínio de um presidente lacrador,
escolhido por uma direita cuja origem em grande parte é
digital e por uma multidão de pessoas que consome
informação política em mídias sociais, subestimar a
comunicação “memética” é uma estupidez que não pode
ser cometida mais uma vez. A cultura “zoeira” e irreverente
dos memes foi peça fundamental da guerrilha
comunicacional da direita, tanto quanto o foram as fake
news, originárias do mesmo ambiente. Memes não são
meros gracejos com acabamento ruim feitos para a diversão
on-line, mas parte da artilharia política com que se disputou
intensamente o agendamento e enquadramento de
problemas e posições políticas. O sentimento antipolítica, a
cultura da lacração, o discurso de ódio e a polarização que
tanto nos impressionam devem mais às práticas de
comunicação digital baseadas em memes do que cogita a
sua vã fi losofi a, meu amigo. Se liga.
Conselho Editorial
Alberto Brum Novaes
Angelo Szaniecki Perret Serpa
Caiuby Alves da Costa
Charbel Niño El Hani
Cleise Furtado Mendes
Evelina de Carvalho Sá Hoisel
Maria do Carmo Soares de Freitas
Maria Vidal de Negreiros Camargo
Viktor Chagas
Organizador
A cultura dos memes:
aspectos sociológicos e
dimensões políticas de um
fenômeno do mundo
digital
Salvador
EDUFBA
2020
2020, Autores.
Direitos dessa edição cedidos à Edufba.
Feito o Depósito Legal.
1ª Reimpressão: 2021
C968
ISBN: 978-65-5630-178-5
CDU – 659.3:004.738.5
Elaborada por Geovana Soares Lira CRB-5: BA-001975/O
Editora afiliada à
Editora da UFBA
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s/n – Campus de Ondina
40170-115 – Salvador – Bahia
Tel.: +55 71 3283-6164
www.edufba.ufba.br
edufba@ufba.br
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Polivocalidade mediada
Ele para na Vila Sésamo para punir Grover mais uma vez.
Ele faz uma aparição na Última Ceia para jogar spray de
pimenta em Jesus e no Memorial Nacional dos Veteranos do
Vietnã para pulverizar uma pessoa de luto sob o olhar de
heróis caídos.
O Policial do Spray de Pimenta foi repetidamente
retratado aplicando sua força em inocentes fictícios de
textos de mídia popular (Figura 28):
Polivocalidade pop
Esse estudo é evidência de que pode haver uma relação
positiva entre a inteligente mediação pop e a conversação
polivocal e populista. Perspectivas públicas sobre o OWS
foram vibrantemente articuladas através dos memes. Os
participantes empregaram múltiplos modos de comunicação
e meios de argumentação. Redes de mídia participativa
como 4chan, Reddit, Tumblr, the Cheezburger Network, e
Canvas foram mobilizadas durante o OWS, tecendo tramas
de comentários políticos. Dahlgren (2009, p. 110)
argumenta que a capacidade de se engajar com “novas
modalidades de pensamento e expressão” – e para
reapropriá-las em formas imprevistas – significa a
capacidade de participar mais integralmente no discurso
público. Esses sites e práticas são as vertentes fundacionais
da sociedade civil, oscilando entre o discurso protopolítico e
o engajamento político:
GABY, S.; CAREN, N. Occupy online: how cute old men and
Malcolm X recruited 400,000 US users to OWS on facebook.
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Discurso cifrado
Escassez de atenção
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em: http://www.alexa.com/topsites. Acesso em: 21 dez.
2012.
fazer aderir;
prender a atenção; e
resumir.
Não quero destruir Dilma ou Aécio! Quero poder ajudar o Brasil, que há vinte
anos vive uma guerra entre azul e vermelho! (Marina Silva, Globo)
Eu pergunto à dona de casa: tem ou não tem mais empregos? Tem ou não
tem mais comida na mesa? (Dilma Rousseff, Band)
Eu acredito que o povo tem memória. Ele lembra que o governo do PSDB
quebrou o Brasil por três vezes. Chegamos a ter taxas de juros de 45%. Nós
reduzimos e hoje elas são as menores da história. (Dilma Rousseff, Record)
Governar requer firmeza, coragem, posições claras e atitude firme. Não dá
para improvisar. (Dilma Rousseff, Record)
Eu quero um país que gaste menos com o governo e mais com a população.
(Aécio Neves, Band)
Jamais transformamos, ou transformaremos, eventuais filiados que tiverem
cometido qualquer crime em heróis nacionais. (Aécio Neves, SBT)
Não é possível que o Brasil continue a ser administrado com tanto
descompromisso com a ética, com a decência, com os valores cristãos.
(Aécio Neves, TV Aparecida)
Quem fala olhando para trás tem receio de debater o presente ou não tem
nada para dizer em relação ao futuro. (Aécio Neves, Band)
O Plano Real é o maior programa de transferência de renda do Brasil. (Aécio
Neves, SBT)
Mas, de modo geral, os trechos citados nos pôsteres
reforçam a intenção do candidato em se apresentar, desde o
início, como a única opção real de oposição, havendo,
portanto, não apenas neste caso como em todos os demais,
uma nítida confluência entre a estratégia de campanha e o
uso político dos pôsteres políticos on-line e dos memes e
virais de caráter persuasivo em sentido amplo.
Como lembra Huntington (2016), diferentes pesquisadores
já se questionaram até que ponto textos visuais podem ser
considerados retóricos. No caso dos pôsteres políticos on-line
com citações dos candidatos ou de seus apoiadores
destacadas, essas mensagens podem ser analiticamente
evidenciadas em seu modo verbal. Em outras peças gráficas,
contudo, a estratégia politicamente orientada não é menos
clara (Figura 1). Nós sustentamos que os memes persuasivos
permitem aos políticos não apenas disseminar seu programa
como estimular a comparação com as candidaturas
adversárias, ao passo que, aos cidadãos comuns conectados,
esses mesmos conteúdos atuam como ferramentas de
demonstração pública de afiliação e apreço a uma dada
proposta ou de crítica a outra.
Considerações finais e limitações da
investigação
Além de, no espectro geral, procurar contribuir para
compatibilizar a literatura de Comunicação Política sobre
mídia e eleições com os estudos recentes sobre memes de
internet e campanhas eleitorais on-line, nossa principal
ambição com esse trabalho foi de aproximar a compreensão
de diferentes conceitos e categorias até então tratados de
modo esparso pelos pesquisadores. Como afirmado
anteriormente, não pretendemos, com isso, unificar
artificialmente todas essas ideias em torno do conceito de
meme político. Entretanto, com esse artigo, objetivamos
demonstrar a aplicabilidade da categoria para os mais
diferentes usos históricos e sociais.
Ademais, os dados acima, bem como os quadros que
exemplificam alguns dos memes persuasivos e pôsteres
políticos on-line apresentados nesse trabalho, sugerem a
autenticidade das hipóteses H1 e H2, conforme traçadas no
início dessa discussão. Para responder, então, às questões Q1
e Q2 levantadas, propomos que o meme político pode ser
compreendido como uma forma de propaganda na medida
em que atua com função persuasiva sobre as audiências a
que se destina. Esta condição se materializa nos pôsteres
políticos on-line, mas também nos conteúdos gerados por
usuários que emulam a linguagem publicitária, indicando –
sobretudo a partir de referências aos slogans dos candidatos,
citações diretas às suas falas ou de seus apoiadores e dados
dispostos em formatos gráficos – uma apropriação da
propaganda política para o ambiente conversacional
frequentado pelo cidadão comum conectado.
Por seu turno, a propaganda política pode ser interpretada
como um meme se e quando produzida com finalidade
específica de gerar ampla repercussão junto ao público
através de uma mensagem e/ou um formato que facilite a
sua reprodução. Esse formato pode ser compreendido
midiaticamente como os pôsteres políticos on-line, mas não
apenas, já que os memes não se restringem às peças visuais.
Mensagens que operem sobre fórmulas verbais ou não
verbais, canções musicais e padrões sonoros, ou ainda peças
audiovisuais baseadas em uma estrutura que flerta com a
repetição ou que estimule sua propagação de forma viral –
como o jingle, o slogan etc. – podem se converter em memes
políticos, desde que apropriados pelas audiências a que se
destinam.
Essa pesquisa pretende ainda avançar nos paralelos
traçados entre os memes e a propaganda política de tal modo
a resolver algumas das limitações em sua forma atual. A
primeira e mais inquietante delas diz respeito à origem dos
conteúdos difundidos nas mídias sociais. Uma vez que esta
origem é de difícil determinação – já que os internautas
podem simplesmente copiar e renomear as imagens,
aplicando sobre elas infinitas variações, e tampouco há
marcas evidentes de autoria –, a distinção entre peças de
propaganda desenvolvidas por agentes político-partidários ou
grupos de interesse e por cidadãos que participam
casualmente da política é tênue e fica restrita a uma
avaliação subjetiva sobre a qualidade e o profissionalismo
dessas produções. Outra limitação evidente está no fato de
que, como é comum ao jogo político, a relação entre os
agentes políticos oficiais e os grupos apócrifos politicamente
interessados nem sempre é transparente (SANTOS JUNIOR,
2016), de modo que o reconhecimento dessa barreira
impacta na avaliação sobre a espontaneidade ou
intencionalidade de um dado meme ou viral que circula pelo
ambiente das mídias sociais. Por último, embora o volume de
dados, no presente estágio da investigação, seja grande o
suficiente para nos permitir a construção de um detalhado
banco de dados sobre os memes político-eleitorais em 2014,
as técnicas de coleta desses dados são ainda incipientes e
dificultam a retroação, para fins comparativos, da pesquisa a
contextos históricos anteriores.
À guisa de conclusão, o presente trabalho buscou testar e
aperfeiçoar o framework teórico desenvolvido previamente
para o estudo dos memes políticos e apresentar importante
justificativa para o olhar mais atento dos pesquisadores da
Comunicação Política sobre o papel desempenhado pelos
memes (e contramemes) no contexto atual das ações
conectivas. (BENNET; SEGERBERG, 2012) Esperamos, assim,
ter contribuído com um ponto de partida possível para o
debate teórico sobre o tema.
Referências
AUSTIN, J. L. How to do things with words. Londres: OUP,
1962.
Espero que este blog tenha, ao menos, contribuído de alguma maneira para a
queda da sua campanha Presidencial e, quem sabe, talvez em quatro anos, se e
quando ele tentar voltar, nós voltaremos também. Realmente não há como prever
com esse homem. (ERIC apud RICK PERRY’S UNPOPULAR OPINIONS, 2012)
Mitt Romney
O candidato presidencial Mitt Romney obteve, previsivelmente,
ampla cobertura do noticiário tradicional, especialmente depois
das primárias. Apesar do fato de ser o primeiro candidato
mórmon do Partido Republicano ter sido um dos principais pontos
de discussão no começo da campanha, o discurso acabou
migrando para questões políticas. As discussões políticas se
refletiram na LOLítica de Romney e cidadãos on-line também
direcionaram bastante atenção à sua personalidade. Como nos
casos de muitas outras figuras políticas, a reescrita lúdica de um
personagem também ocorre em outras arenas de cultura popular,
incluindo o Saturday Night Live, que tem obtido ampla atenção ao
longo dos últimos anos por suas paródias das campanhas
presidenciais. O Mitt Romney do Saturday Night Live, interpretado
por Jason Sudeikis, é simultaneamente malicioso, desajeitado,
impassível e, em última análise, desagradável – nas situações
estressantes, ele é frequentemente visto se embebedando
secretamente com leite. Na classificação de Edwards (2001),
Romney é visto como detestável, sem carisma e incompetente.
Os image macros foram consistentemente criados e
distribuídos durante as primárias. Uma das primeiras formas da
LOLítica de Romney é um image macro contendo uma fotografia
do político particularmente estranha e legendas geradas por
usuários aludindo à sua fortuna. As legendas geralmente são
leves, lembrando a hashtag popular #firstworldproblems
[#ProblemasDoPrimeiroMundo], frequentemente usada para
pontuar sarcasticamente comentários feitos por pessoas que
enfrentam inconvenientes triviais. Os image macros de Romney
foram difundidos amplamente nos espaços on-line apoiados em
envios feitos por usuários, incluindo o Reddit e o Tumblr. Um site
de tema único, “Relatable Romney”, hoje extinto, e uma conta de
Twitter de “Relatable Romney” foram criados cerca de cinco
meses após a primeira aparição dessas imagens. Alusões
culturais e informações factuais, como citações diretas reescritas
em tons mais impertinentes, eram comumente usadas para
enfatizar a riqueza de Romney (Figuras 9 e 10). Enquanto as
críticas a Romney parecem leves, elas refletem um consenso
geral quanto à falta de carisma do candidato e sua incapacidade
de se relacionar com a classe média; o Buzzfeed o apelidou de
“um meme com o qual as pessoas ricas se identificam.”
(MEZRAHI, 2012)
Desculpe-me, Jim, mas vou cortar o subsídio à PBS. Vou cortar outras coisas. Eu
gosto da PBS, adoro o Big Bird [Garibaldo]. Na verdade, gosto de você também.
Mas eu não vou... não vou continuar gastando dinheiro em coisas para [depois ter
que] pedir empréstimo na China para pagar. Isso é o primeiro ponto. (CNN
POLITICAL UNIT, 2012)
Texts from Hillary surgiu na hora certa em que realmente dialogava com aquilo
que era uma corrente do clima vigente em Washington, assim como,
aparentemente, com a nação. Criamos algo que era, definitivamente, genuíno e
real. Eu acho engraçado. Era simples e se preservou livre de política, o que eu sei
que soa bizarro, pois ele é rotulado como um dos melhores memes políticos deste
ano. Mas a nossa ideia era nunca tomar partido em uma determinada questão, era
capturar a ideia ou persona de alguém que todos nós viemos a conhecer e, então,
deixar as pessoas terem uma válvula de escape com isso.
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Análise temática
Cheezfrenz
MemeGeeks
Usuários Casuais
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Trailers reeditados
Fonte: Twitter.6
Em suma, podemos considerar os memes como objetos
primeiramente visuais e textuais, criados, compartilhados,
editados e recompartilhados de novo por intermédio das
comunidades on-line. Eles podem ser triviais e caprichosos, mas
também podem ser atos de protesto e de perpetuação de
estereótipos. Essa introdução aos memes nos oferece o contexto
necessário para entender seu potencial enquanto objetos
passíveis de integrar um museu. Embora esse artigo tenha como
proposta o acervo de memes em museus como uma estratégia
produtiva de representação da cultura digital, ele não pretende
desenvolver um argumento abrangente sobre por que / e se
todos os museus deveriam possuir memes em seus acervos:
museus e suas prioridades com respeito aos seus acervos são tão
diversos quanto os próprios memes. Os acervos de bens
contemporâneos são geralmente vistos como problemáticos,
mesmo sem a complexidade extra de tais bens serem, ainda por
cima, digitais. O professor de Estudos de Museologia Simon Knell
(2004a) afirma que “a curadoria contemporânea é uma das
práticas mais difíceis em função de sua natureza multifacetada e
gigante.” Um dos maiores e mais frequentes desafios da
curadoria de bens contemporâneos tem sido avaliar a
significância do objeto. Acadêmicos e profissionais da área têm
questionado: como medir a significância de um objeto sem a
objetividade trazida pelo tempo e distanciamento? (ALBERTI et
al., 2018; CROOK, 1993; RHYS, 2011) Não há respostas simples.
Cada curador de museu tem que operar de acordo com seu
próprio conhecimento e alinhado com a política oficial de acervo
do museu. Avaliar acervos de objetos de patrimônio cultural
digital, como memes, tem de se basear no mesmo princípio que
salienta a seleção dos demais itens nos museus. (CHOY et al.,
2016, p. 9) Com isso em mente, sugiro, a seguir, possíveis razões
pelas quais um museu poderia querer exibir memes em seu
acervo e, como parte disso, a discussão sobre em que medida
pode um meme contribuir para um acervo que se alinhe com um
dado interesse curatorial.
O museu enquanto instituição de acervo possui uma longa
genealogia. Miticamente é apontado, algumas vezes, como o
herdeiro da Biblioteca de Alexandria – muitos acervos de museus
se desenvolveram a partir de antigos tesouros das igrejas, dos
Gabinetes de Curiosidades do século XVI, ou dos acervos
oitocentistas do iluminismo. A museologia contemporânea
enxerga o museu de modo controverso: como um “farol da
democracia cultural”, mas também como uma “instituição de
poder da desigualdade social”. (MCCARTHY, 2016) Sejam vistos
como uma força positiva ou negativa, os museus têm sido
percebidos como a memória da sociedade, cabendo-lhes o poder
e a responsabilidade de decidir aquilo que deve ser lembrado.
(STEEN, 2004) O modo primário de fazer isso é através dos seus
acervos; grupos de objetos que atuam como evidência
documental, fornecendo sentido e afirmando identidades.
(MACDONALD, 2006a) A partir dos discursos em torno das
percepções dualistas dos museus, é possível perceber que as
conotações negativas se encontram atreladas aos acervos e às
narrativas dominantes brancas, masculinas, heterossexuais e
saudáveis que eles contam. Embora esse artigo não esteja
voltado para uma discussão aprofundada das políticas de acervo
dos museus, essa informação de pano de fundo é importante
para estabelecer algumas das razões pelas quais um acervo de
memes pode ser um passo importante para os museus. Owain
Rhys (2011, p. 10), antigo curador de Coleções Contemporâneas
do National Museum Wales (País de Gales, Reino Unido), destaca
como o acervo de objetos contemporâneos pode ajudar a
preencher as lacunas dos acervos históricos. Esse preenchimento
de lacunas permite aos curadores contar a história na íntegra em
vez da parcialidade de narrativas que muitos são capazes de
representar no momento presente. Gostaria de sugerir que os
memes podem ter um papel a desempenhar nesse sentido. Os
gêneros dos memes são variados e as comunidades que fazem
seu remix, reescrevem seus códigos e projetam seus valores,
interesses e senso de si por seu intermédio são com frequência
representadas de forma inadequada nos acervos de museus. Por
exemplo, muitas pessoas nas comunidades LGBTQ têm sido e são
usuárias prolíficas de memes. Noam Gal, Limor Shifman e Zohar
Kampf (2016) discutem o vídeo “It Gets Better”, postado no
YouTube em 2010 como uma resposta ao suicídio de adolescentes
na comunidade gay, e demonstram como a resposta memética a
ele fomentou uma campanha expandida e contribuiu para o
fortalecimento de uma identidade coletiva LGBTQ. Ao incluir no
acervo uma cópia do vídeo original e uma seleção de respostas
meméticas, um museu teria o potencial para representar as
diferentes realidades da vida contemporânea para os
adolescentes LGBTQ de diferentes partes do mundo – uma
história que pode ser difícil de representar através de acervos
materiais existentes.
No Reino Unido, há um movimento encabeçado pela Museums
Association para tornar os museus mais ativistas. A campanha
“Museums Change Lives”7 afirma que: “estando a sociedade
diante de questões como a pobreza, a desigualdade, a
intolerância e a discriminação, os museus podem ajudar a
entender, debater e desafiar essas realidades”. (MUSEUMS
ASSOCIATION, 2017) A noção de que os museus são espaços
neutros para narrativas apolíticas têm sido desconstruída ao
longo dos últimos anos graças à influência dos trabalhos de
pesquisadores como Suzanne MacLeod (2007), Lynda Kelly e
Fiona Cameron (2010), Ricard Sandell e Eithne Nightingale
(2012), Jenny Kidd e demais autores (2014a), Richard Sandell
(2016) e Louise Tythacott (2017). Também houve contribuições
substanciais de instituições como a Glasgow Women’s Library,
que lançou o relatório Equality in Progress em 2018,
inspecionando o estado de igualdade entre todos os aspectos do
setor de museus: desde sua força de trabalho até seus acervos.
(THAIN-GRAY; PATRICK, 2018) Como unidades de expressão
cultural, os memes têm uso potencial ao facilitar o debate sobre
desigualdade, intolerância e discriminação.
Lisa Nakamura (2014) salienta os tons implicitamente racistas
das culturas de memes – especialmente no que diz respeito a
pessoas de origem africana e asiática. Ela explica como os
memes do tipo “legende essa imagem”, frequentemente
compartilhados através de mídias sociais como Facebook, são
particularmente prejudiciais. Ryan Milner (2013) e Shifman
(2014a) frisam que, apesar dos memes fazerem uso frequente de
ironia e paródia de estereótipos, a lógica do lulz8 pode resultar no
encobrimento do racismo e da misoginia ao enquadrá-los como
piadas. Mais recentemente, o desenvolvimento do “digital
blackface”9 tem recebido atenção. A escritora Victoria Princewill
descreve a popularidade dos GIFs de reação mostrando pessoas
negras fazendo expressões dramáticas. Princewill comenta que
pessoas brancas estão usando cada vez mais GIFs para performar
um blackface exagerado e argumenta que eles retratam negros
como símbolos de emoções em excesso. (IS IT..., [2017]) Essa
discussão prosseguiu ao longo do artigo publicado por Ellen E.
Jones no The Guardian, no qual a autora discorre sobre o
“misogynoir” – misoginia dirigida especificamente às mulheres
negras – e o digital blackfacing por meio da cultura on-line de
memes com Shafiqah Hudson, uma feminista pesquisadora da
temática racial. (JONES, 2018) Ao usar memes em acervos de
museus, a conversa sobre racismo e misoginia na sociedade
contemporânea pode ser examinada através de nossas práticas
on-line.
Vinte anos atrás, em 1998, Peter Lyman e Howard Besser,
falando especificamente de arte digital, declararam que, no
desenvolvimento de cada meio de comunicação novo há um
momento de realização de que as origens de uma nova era
cultural estão sendo perdidas e que deveriam ser salvas.
Podemos argumentar quase com convicção que isso já teve lugar
no que tange ao início da cultura da internet. O coletivo
Archiveteam, grupo de arquivistas digitais, programadores e
escritores descreve o encerramento do GeoCities pelo Yahoo! em
2009 como um evento que teve sucesso em “destruir –
certamente de propósito – a maior quantidade de história na
menor quantidade de tempo, em termos de memória. Milhões de
arquivos, contas de usuários, tudo perdido”. (ARCHIVETEAM,
2009) Deveríamos nos perguntar se o momento de reconhecer os
memes é agora. Quais foram os memes originais que auxiliaram
no desenvolvimento dessa forma de comunicação? O que nos
conta a difusão de outros memes iniciais como LOLcats e “Rage
Comics” a respeito das comunidades on-line e do
10 11
desenvolvimento de gírias de internet como “derp” e “tl;dr” –
palavras oficialmente acrescentadas ao Dicionário Oxford em
2013.12
Ao ler a seção anterior você pode ter uma ideia melhor das
histórias mais amplas, das narrativas e das perspectivas
memeais que podem ser usados para explorar alguns cenários,
ou, de forma igualmente válida, você pode discordar
completamente e considerar que os memes não têm lugar nos
acervos dos museus. De todo modo, eu reconheço que cada
museu tem diferentes políticas de acervo e prioridades – alguns
podem se alinhar às perspectivas delineadas acima e outros não.
Contudo, tendo trabalhado em museus por uma boa parte da
última década como gerente de acervo, estou mais preocupado
em entender como podemos efetivamente manejar os memes
caso eles estejam em um acervo do que tentar convencer os
museus de que devem tê-los em suas coleções. A seção a seguir
explora como o conceito de acervo digital tem se desenvolvido no
âmbito dos museus. A seguir, abordarei alguns processos
específicos de manejo de acervos e, usando memes como uma
provocação, problematizarei alguns dos processos
profundamente entranhados da gestão de acervos.
A UNESCO diz para preservarmos o
patrimônio digital. Pq tu n preserva o
patrimônio digital?
Image
GAL, N.; SHIFMAN, L.; KAMPF, Z. ‘It Gets Better’: Internet memes
and the construction of collective identity. New Media & Society,
Londres, v. 18, n. 8, p. 1698-1714, 2016.
GERE, C. New media art and the gallery in the digital age. In:
PAUL, C. (ed). New media in the white cube and beyond:
curatorial models for digital art. Berkeley: University of California
Press, 2008. p. 13-25.
Image
BENNER, J. He’s the real tourist guy. Wired, [s. l.], 20 Nov. 2011.
CASSEL, D. Bert Leaves Sesame Street for bin Laden? AlterNet, [s.
l.], 9 Oct. 2001. Disponível em:
https://techcrunch.com/2008/08/01/the-reports-of-usenets-death-
are-greatly-exaggerated/. Acesso em: 30 jan 2019
ZITTRAIN, J. The future of the internet: and how to stop it. New
Haven: Yale University Press, 2008.