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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

ORIENTADORA: RITA DE CÁSSIA BRÊDA MASCARENHAS LIMA

DISCENTE: MAYARA GRILLO SANTOS

A EDUCAÇÃO ESPECIAL INCLUSIVA ENQUANTO UM DIREITO LEGAL:


COSNTRUÇÃO HISTÓRICA

Neste capítulo, o objetivo é fazer um delineamento histórico da Educação Especial Inclusiva


durante as conquistas dos direitos legais que garantem o acesso das pessoas com deficiência à
uma educação de qualidade.

A discussão com relação à Educação Especial Inclusiva tem crescido bastante nos últimos
anos, de acordo com Aranha (2001), a palavra inclusão passou a ser usada amplamente em
diversos contextos e com os mais variados significados, muitas vezes até superficialmente,
fazendo da inclusão um simples modismo. Dessa forma, a Educação Especial Inclusiva tem se
modificado com o passar do tempo, a maneira como as pessoas com deficiência eram e são
tratadas e até mesmo a forma como acontece atendimento das instituições para com as
pessoas com algum tipo de deficiência, pois conforme Aranha (2001):

A relação da sociedade com a parcela da população constituída pelas pessoas


com deficiência tem se modificado no decorrer dos tempos, tanto no que se
refere aos pressupostos filosóficos que a determinam e permeiam, como no
conjunto de práticas nas quais ela se objetiva. (p.1)

Faz-se necessário salientar que nada dessa evolução seria alcançada se não houvessem as
conquistas das Leis e Constituições brasileiras, como firmamento da garantia dos direitos das
pessoas com deficiência ao acesso à educação de qualidade e a inclusão das mesmas nos mais
diversos espaços de convívio social. Cada lei e constituição que foi decretada no Brasil,
refere-se a um momento histórico do país, às necessidades das pessoas com deficiência
naquele determinado momento; sendo assim as leis são como suportes que fundamentam cada
decisão tomada com relação às pessoas com necessidades especiais.

A educação voltada para as pessoas com deficiência nem sempre foi tratada como especial,
muito menos inclusiva, o momento no qual estamos vivendo hoje é bem diferente do que o
vivido em 1980, por exemplo. Conseguir que uma pessoa com deficiência pudesse ser
escolarizada era uma tarefa muito difícil; poder sair na rua e conviver com pessoas ditas
normais, nem pensar; malmente a família desse sujeito sabia lidar com as necessidades que
estes indivíduos tinham, recorrendo muitas vezes à hospitais especializados no tratamento de
determinadas deficiências.
De acordo com Kassar (2011), a educação destinada às pessoas com deficiências só pode ser
entendida dentro da história da educação e da história geral de um país, que nesse caso, trata-
se do Brasil; desta forma, farei um delineamento histórico das Leis e Constituições que
embasam a Educação Especial Inclusiva, tendo como base principal as próprias Leis,
Diretrizes e Constituições, assim como as contribuições de alguns autores como Kassar
(2011) Miranda (2003), entre outros.

Existem registros de que no início da República do Brasil, as pessoas com deficiência eram
tratadas como “anormais”, de acordo com a medicina da época; uma parte restrita dessa da
população tinha acesso à escolarização, segundo Kassar (2011); em 1927 em Minas Gerais, o
decreto-lei 7.970 trazia que era dispensado de frequência às aulas, crianças com
“incapacidade física ou mental” e os indigentes, aqueles que não tinham roupas e hábitos
adequados para uma boa higiene.

No ano de 1933, foi sancionado o Decreto 5.884 no estado de São Paulo, por meio do qual
“normatizou a sua “Educação Especializada”, entendeu como parte do seu alunado “doentes
contagiosos”, “cegos”, “surdos-mudos” e “delinquentes” (KASSAR, 2011 apud BRASIL,
1933); dessa forma, o Decreto citado era utilizado tanto para garantir que essas pessoas
pudessem ter acesso às escolas especializadas, quanto para impedir que o mesmo acontecesse.

Em 1961 a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) N° 4.024, traz em seu
artigo 88 que “a educação de excepcionais, deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema
geral de Educação, a fim de integrá-los na comunidade” (BRASIL, 1961), neste trecho
podemos perceber que as instituições não tinham como obrigatório garantir o acesso das
pessoas com deficiência às mesmas, mas que se o fizessem seriam “recompensados” em
tratamentos especiais, como bolsas de estudo, empréstimos e subvenções dos poderes
públicos, como é trazido no artigo 89. Ressaltando que alguns artigos e incisos da Lei de N°
4.024 de 1961, serão incluídos ou revogados no decorrer da história das legislações que forem
sancionadas no Brasil.
Em 1971 foi sancionada a segunda Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de N°
5.692, que na verdade foi uma revisão da lei anterior. “Esse período foi decisivo para o início
da formatação da Educação Especial como uma política de estado” (KASSAR, 2011), criando
assim o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), órgão que ficou responsável pela
Educação Especial no Brasil. O governo do regime militar acreditava na eficácia da teoria do
Capital Humano, a qual afirmava que investir em educação, saúde e treinamento podem ser
um bom negócio para a empresa, pois a mesma baseia-se nos custos e ganhos futuros, levando
em consideração a taxa de retorno do investimento e os juros de mercado, e ainda teria um
funcionário mais produtivo; e através desta teoria houve a propagação da normalização e da
integração, ou seja, através do tratamento e da educação o indivíduo poderia se tornar útil e
contribuir para o crescimento da sociedade na qual vive, podemos entender que mesmo tendo
uma solução aparentemente boa, o objetivo na verdade era deixar de gerar custos extras e
fazer crescer a economia do país. Ressaltando que esta teoria surgiu nos Estados Unidos e
chegou ao Brasil assessorada pelos professores James J. Gallagher e David M. Jackson.
No entanto o Ministério da Educação e Cultura por meio de uma avaliação constatou que
“apenas 13,8% dos que iniciaram a 1ª série em 192 conseguiram terminar a 8ª série em 1979”
(KASSAR, 2011 apud BRASIL s/d), diante disso o poder público foi implantando diversas
classes especiais nas escolas de ensino regular, com perfil de integração, aumentando o
número inicial para 97,8% de alunos com deficiências leves; lembrando que as instituições
privadas continuaram atendendo os indivíduos com mais necessidades.

A Constituição da República federativa do Brasil de 1988 traz a educação como um direito


social, bem como o acesso à saúde; no Art. 208, no 3º parágrafo diz que é garantido o
“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na
rede regular de ensino” (BRASIL, 1988), sempre afirmando que é preciso existir a igualdade
de acesso e permanência de na escola. De modo geral, essa constituição é manual dos direitos
e deveres de todos os cidadãos brasileiros, infelizmente sabemos que a maioria deles não tem
acesso ao mesmo e muito menos tem conhecimento da existência de um documento deste.

A Lei N° 7.853 de 1989, afirma que a matricula de pessoas com deficiência é obrigatória nos
estabelecimentos públicos e privados, bem como o acesso ao material escolar, merenda
escolar e bolsas de estudo; promover a integração desses sujeitos na sociedade através do
acesso a escola, ao trabalho e a quaisquer outras atividades que forem possíveis realizar.
Em 1990 foi sancionada a Lei 8.069, mais conhecida como O Estatuto da Criança e do
Adolescente, que pode ser encontrada em livros didáticos e até mesmo na internet de forma
simplificada para melhor entendimento das crianças, para que elas tenham conhecimento dos
seus direitos e deveres enquanto cidadãos desde cedo. É garantido pela lei o direito das
crianças e adolescentes com deficiência serem atendidos sem nenhuma forma de
discriminação ou segregação em suas necessidades gerais, assim como o acesso a
escolarização, ao cuidado por profissionais qualificados e o fornecimento gratuito dos
medicamentos, órteses, próteses e matérias necessários para a reabilitação ou habilitação das
crianças e adolescentes. Nesse meio tempo, no ano de 1994 surgiu a Política Nacional de
Educação Especial, que tinha basicamente com objetivo retirar a maioria dos alunos com
deficiência e coloca-los em escolas especiais, deixando nas classes regulares aqueles com
deficiência leve, que desse para acompanhar o ritmo normal da sala.
Foi então que foi decretada a Lei N° 9.394 de 1996, trazendo Artigo 4°, parágrafo III que o:
Atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1996).

Ou seja, não é obrigatório o acesso, mas sim preferencial, de forma que se a instituição não
conseguir atender a esse indivíduo, a família do mesmo deve procurar um outro tipo de
atendimento, ressaltando que a instituição não deve negar o atendimento.

O Decreto 3.298 do ano de 1999 em seu Artigo 2° detalha que:


Cabe aos órgãos e às entidades do Poder Público assegurar à pessoa
portadora de deficiência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive
dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao
lazer, à previdência social, à assistência social, ao transporte, à edificação
pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infância e à maternidade, e de
outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-estar
pessoal, social e econômico. (BRASIL, 1999)

Além disto, traz detalhado cada tipo de deficiência e suas características; a inclusão entra na
educação especial como modalidade na rede regular de ensino, porém é um ensino
obrigatório.
Em 2001 foi sancionada a Lei 10.172, este documento possui decretos e objetivos e metas a
serem alcançados pelas instituições de ensino. Observa-se que existem muitas metas para
serem alcançadas em pouco tempo, como por exemplo, em cincos anos a partir da vigência
da lei, dispor livros didáticos falados, em braile e em caracteres ampliados para todos os
alunos cegos. No mesmo ano foram instituídas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE)
as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, afirma que o acesso ao
ensino obrigatório e gratuito é de direito público; acesso aos níveis mais elevados do ensino,
da pesquisa e criação artística, segundo a capacidade de cada um e o atendimento
especializado.
Em 2002 foi sancionada a Lei 10.436, que reconhece como meio legal a Língua Brasileira de
Sinais como meio de comunicação e expressão, e através do poder público garante o
atendimento e tratamento adequado dos deficientes auditivos em instituições públicas. No ano
de 2005 foi sancionado o Decreto Nº 5.626/05 que regulamenta a Lei N° 10.436.

Em 2006, foi criado o Plano Nacional dos Direitos Humanos, deixo aqui explícito que não
tive acesso ao documento, somente à um resumo do mesmo, no qual diz que é documento
elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), Ministério da Justiça, Unesco e Secretaria
Especial dos Direitos Humanos. Entre as metas está a inclusão de temas relacionados às
pessoas com deficiência nos currículos das escolas. Em 2007, criou-se o Plano de
Desenvolvimento da Educação, com objetivos como formação de professores, piso salarial,
melhores infraestruturas, financiamentos, avaliação do IDEB, entre outros. Neste mesmo ano
foi sancionado o Decreto n° 6.094, com o Plano de Metas Compromisso Todos pela
Educação, com a junção “dos esforços da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
atuando em regime de colaboração, das famílias e da comunidade, em proveito da melhoria da
qualidade da educação básica” (BRASIL, 2007).
Em 2009, a Resolução 4 foi criada para fundamentar a matrícula de alunos
Com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação nas classes comuns do ensino regular e no
Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado em salas de
recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento Educacional
Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais
ou filantrópicas sem fins lucrativos. (BRASIL, 2009)

Em 2012, foi sancionada a Lei n° 12.764, de 27 de dezembro de 2012, que garante a proteção dos
direitos da pessoa com transtorno do espectro autista.
Em 2014, foi criado o Plano Nacional de Educação (PNE), ele garante o acesso a
escolarização na rede regula de ensino, ao sistema educacional inclusivo, ao atendimento nas
salas de recursos multifuncionais e acesso aos serviços especializados, sejam eles públicos ou
privados.
Neste capítulo, tentei fazer um delineamento histórico das Leis e Decretos que fizeram parte
da construção histórica da Educação Especial Inclusiva. Podemos perceber muita coisa
mudou, referente ao acesso das pessoas com deficiência à educação e ao mercado de trabalho.
Ainda existem muito entraves a questão da concretização por parte das pessoas, seja por falta
de formação ou por falta de verba nas instituições, no entanto não devemos generalizar, até
porque existem muitas outras instituições que estão conseguindo fazer um bom trabalho de
inclusão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Andrade, Rita de. Teoria do capital humano e a qualidade da educação nos estados brasileiros,
2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/10183/25425.
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Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf.
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BRASIL. Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas. 2007.
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