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MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS EM REDE NACIONAL COORDENAÇÃO


NACIONAL
EXAME NACIONAL DE ACESSO AO MESTRADO PROFISSIONAL EM LETRAS
(PROFLETRAS)

DESCRITIVO PESSOAL

1.1 Um pouco sobre minha trajetória escolar

Aqui relato alguns aspectos da minha trajetória desde a minha infância, que a me são muito
inerentes. Porém, o faço com uma mistura de emoção e orgulho, tentando apresentar um pouco do
que me levou a chegar a este ponto da minha carreira acadêmica e profissional: ao processo de
seleção para o PROFLETRAS. Orgulho e me emociono, porque vim de uma família simples, com
pais que pouco estudaram, trabalhadores rurais e que foi um grande incentivo para a formação de
cada um dos filhos. Meus pais estudaram o suficiente para ler um pouco, assinar o nome e fazer
contas, mas sempre defenderam a importância da educação e estimularam que eu e meus irmãos
estudássemos. Dificilmente se imagina chegando aonde cheguei. porque a vida dá tantas voltas,
apresenta dificuldades em todos os aspectos, que poucas vezes acreditamos ser possível superá-las.
Nada foi fácil, são coisas que marcaram intensamente minha vida.
Nascida no dia 02 de setembro de 1982 na cidade de Grão Mogol, Norte de Minas Gerais,
região muito pobre, onde passei maior parte da infância e adolescência. Sou a segunda de cinco
filhos dos meus pais. Onde morávamos, e ainda hoje moram meus pais, o povoado mais próximo
era de 4 km que já faz parte do município de Botumirim, divisa de município, onde está localizada a
escola onde fui matriculada no pré-escolar aos 5 cinco anos de idade, uma única escola estadual que
existia em minha região. Eu, meus irmãos e primos fazíamos esse percurso até a escola andando por
cerca de uma hora, em dias de sol ou chuva, noites escuras e chuvosas, isso até a 8ª série. As
sandálias eram de borracha ou muito emendada. Os cadernos, eram levados em saquinhos de
plásticos e as roupas eram muito simples. No caminho de volta, comíamos frutas do cerrado, como
macaqueira, grão de galo etc. e castanhas de coco, pois, já estávamos famintos. Ao chegar em casa
os trabalhos já estavam previamente divididos para fazermos, pois, tínhamos que ter tempo para as
tarefas escolares.
Ainda na infância, já era apaixonada pela arte de ensinar, gostava muito de leitura, de
encenação, apesar de não ser muito corajosa para participar como personagem. A pequena
biblioteca da escola era um sonho para mim. Tinha pouco tempo para isso, mas aproveitava cada
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minuto, pois os livros não podiam ser levados para casa. Sempre tive boas notas, gostava muito dos
meus professores. Brincava de professora com meus irmãos.
Aos dez anos de idade, em casa, brincando de ser professora com meus irmãos mais novo do
que eu, com um lindo salto de uma tia, torci meu tornozelo. Minha mãe estava no hospital, pois, havia
nascido minha irmã caçula. Depois do acontecido, meu pai, passou alguns remédios caseiros no meu
tornozelo, mas eu não conseguia pisar com o pé, nem ele, nem eu, sabíamos que iríamos passar por
situação tão difícil por esse acontecimento. Minha mãe chegou com a bebê uma semana depois.
Fiquei em uma cama, durante 21 dias em casa com tratamentos caseiros, devido a contratempos de
período chuvoso, quando se diz em zona rural, com todas as dificuldades referentes a esse período e
longe de cidades que proporcionava o tratamento adequado na época e não conseguir transporte para
fazer esse trajeto. Quando conseguiram me levar, já havia passado de tratar, tiveram que me
encaminhar para um hospital em Montes Claros-MG para fazer uma cirurgia arriscada, que poderia
até que amputar a perna, por ter passado o tempo de tratamento.
Após isso, o caminho percorrido não foi fácil, eu e minha família enfrentamos muitas
dificuldades. Fiquei 26 dias esperando vaga em outro hospital que realizava a cirurgia. Meu pai ao
meu lado, sem dinheiro praticamente, mas com muita fé e coragem. Fiz a cirurgia e graças a Deus,
tudo ocorreu bem. Fiquei recuperando no hospital por mais um bom tempo, tornou minha morada.
Depois que sai, fiquei na casa de uma parente do meu pai para voltar à revisão, pois, o acesso era
longe e não tinha dinheiro. Voltei para casa no final de março. Com o gesso em toda a perna, por 60
dias não tinha como andar. Então, estava apta para estudar já no final de maio, pois andava 4 km até a
escola e não tínhamos meio de transporte.
Para minha surpresa e da minha família, a professora não me aceitou mais na sala de aula no
respectivo ano. Dizendo que eu não acompanharia mais a turma (3ª série) e que ela não era paga para
fazer um acompanhamento a parte. Eu era apaixonada por estudar. Não acreditei! Fiquei muito triste!
Eu tinha certeza de que conseguiria acompanhar, implorei com a professora, Nazaré. Nunca esqueci
seu nome, nem sua atitude grosseira. Perdi o ano escolar e meus colegas. Chorei muito! Meus pais
muito simples não recorreram a nada, sobre o meu direito de estudar, a diretora, parente da professora,
também não os instruiu, nem fez questão de nada.
Passei por isso, no ano de 1993 cursei a 3ª série e não tive dificuldade nenhuma, lia muito bem,
escrevia, fazia contas. Pois, tudo que meus irmãos traziam da escola eu queria ler. Durante o ano que
fiquei em casa, minha mãe colocava minha irmã mais velha para me ajudar. Sentia muito prazer em
estudar. Continuei com a mesma determinação, com a mesma vontade. Entre a 6ª série e a 7ª, li quase
todos os livros da coleção Vaga-lume. Cada um mais lindo que o outro. Queria ser a primeira da
turma. Nunca peguei recuperação em minha trajetória escolar, até o ensino médio. Contei essa parte
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no meu relado, por ser um acontecimento marcante em minha vida escolar. Tudo que vivemos me
serviu muito como aprendizagem, e apesar de tudo, sou grata por ter conseguido chegar até aqui.
Meu ensino médio foi diferente, uma etapa com muita insegurança, onde tive que sair de casa,
dos 15 para os 16 anos, trabalhar como doméstica, durante o dia e trabalhar a noite. Por mais que
minha mãe nos ensinou fazer de tudo, mas nossa casa era muito simples, não tínhamos praticamente
nada de móveis em casa. Mas minha mãe sempre nos ensinou, que tudo deveria ser feito com
capricho e coragem. Foi o que fez a diferença na minha vida fora de casa, enquanto fazia meu ensino
médio.
O segundo momento marcante que me fez decidir pela área de "Letras" foi no Ensino Médio,
quando apaixonei pela minha professora de português. A qual, ensinava muito bem e eu gostava
muito da gramática. E essa era apaixonada por história e indicava muitos livros literários de
grandes escritores para lermos, como, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade., Luís
Fernando Veríssimo, José de Alencar, Clarice Lispector, Guimarães Rosa, dentre outros.
Terminei meu ensino médio, todo o conteúdo aprendido durante meu período de escola básica
me parecia familiar, embora não o dominasse, deixou-me claro que não tinha adquirido a base
necessária para tentar um vestibular e o salário que ganhava era pouco para pagar um cursinho.
O que passarei a relatar a seguir, minha vida acadêmica e profissional, é fruto da minha vida
simples de menina da roça, sem acesso a grandes centros, bibliotecas, livros, teatro. Uma menina
que não conhecia cidade grande; que pisou a primeira vez em um cinema apenas aos 18, em uma
biblioteca boa aos 17 e em uma livraria aos 18; que conseguiu fazer uma faculdade, após ser mãe
para realizar o sonho de infância; que compreendeu muito cedo a necessidade de resolver seus
problemas sozinha e se custear para sua sobrevivência; que nunca perdeu o desejo de aprender; e
que, principalmente, sabe dar valor a tudo e a todos os que cruzaram seu caminho.

1.2 Minha vida acadêmica.

Tentei primeira vez o vestibular no ano de 2002, foi uma decepção muito grande na minha
vida quando vi que não consegui passar, que naquela época quem conseguia passar em faculdades
públicas, a maioria eram filhos de papai que vinham de escolas particulares e cursinhos. Então
resolvi que em 2003 que iria me casar, para não morar mais na casa dos outros, pois não aguentava
mais. Foi o que aconteceu.
Depois disso, mudei de cidade e comecei a trabalhar no programa de “Cidadão Nota 10”,
por um tempo, pela prefeitura, tentei o concurso do IBGE, no Censo de 2004, e passei trabalhar
como recenciadora. Passando esse período, fiquei desempregada e voltei a trabalhar como
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doméstica. Em 2007 voltei para Montes Claros e fiz cursinho para tentar concursos públicos. No
final do ano engravidei do meu primeiro filho, sendo uma gravidez de risco, onde tive que parar
com tudo novamente. Voltei e fui estudar sozinha em casa. Após o nascimento do meu filho, em
2010 decidir fazer faculdade particular a distância, onde frequentava uma vez por semana. Fiz o
primeiro período. Não tive condições financeira suficiente para continuar e parei no final do
primeiro período.
Finalmente, em 2011 decidi que a qualquer custo iria fazer minha faculdade. Mas como em
minha cidade não tinha opção nenhuma, o curso teria que ser a distância, devido ter que conciliar
ser dona de casa e mãe. No período que estudei sozinha em casa me apaixonei ainda mais pelo
português. Decidi então, fazer Letras.
Nessa época meu marido vendia e entregava hortifrutis em minha cidade. Minhas viagens
para faculdade eram com ele de caminhão, levando meu filho junto. No final do curso em 2013, já
trabalhando na área, engravidei do meu segundo filho. Fazendo esse mesmo trajeto. Muito
Cansativo, mas Deus cuidou de mim em todos os aspectos. Aprendi que tudo que passamos é uma
soma a mais em nossos títulos, que é o maior conhecimento obtido na vida, a experiência vivida. E
que nada, absolutamente nada, que passamos e dificuldades que enfrentamos são em vão!
Hoje dos meus 5 irmãos, todos fizeram uma faculdade e vivem dignamente, para felicidade
dos meus pais, pessoas que são os principais responsáveis pela nossa vitória. Sinto-me muito feliz
pela oportunidade dada por Deus em minha vida. Todas as coisas ruins que passei são compensadas
hoje por Ele e sei que tenho muito a apreender, esta longa jornada não terminou.
Em 2012 tentei concurso para agente administrativo da prefeitura, passei e peguei posse em
2014, também tentei o concurso da Educação do Estado de Minas Gerais e obtive sucesso. No ano
de 2016 renuncie ao cargo da prefeitura e em 2017 peguei posse no estado em minha terra natal
Botumirim/MG. Onde atuo como professora do ensino fundamental e médio até o momento. E esse
é o motivo pelo qual, estou tentando esse processo seletivo para minha maior capacitação
profissional, fazer o PROFLETRAS: Linguagens e Letramentos e assim aumentar meu
conhecimento nesta área.

1.3 Considerações sobre o ensino de língua

Considerando-se o processo de ensino e aprendizagem da língua portuguesa, é importante


ressaltar que as práticas pedagógicas se baseiam em uma concepção de linguagem e ensino. Antes
de qualquer consideração específica sobre a atividade de sala de aula, é preciso que se tenha
presente que toda e qualquer metodologia de ensino articula uma opção política – que envolve uma
teoria de compreensão e interpretação da realidade – com os mecanismos utilizados em sala de aula.
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(GERALDI, 2003, p.40). A opção por uma corrente teórica e por um tipo de metodologia revela os
valores, as crenças e a identidade do professor. A concepção que o professor tem da língua, bem
como sua formação acadêmica e o contexto social no qual ele está inserido vão interferir no modo
como ele ensina. O objeto de ensino nas aulas de Língua Portuguesa é “o conhecimento linguístico
e discursivo com o qual o sujeito opera ao participar das práticas sociais mediadas pela linguagem.”
(BRASIL, 1998b, p.22). Para planejar as aulas, o professor precisa desenvolver atividades didáticas
que orientem o aluno a refletir e usar a língua, de forma que a aprendizagem se efetive. O ensino de
língua portuguesa, é concebido como uma prática interativa em que alunos e professores constroem
juntos os conhecimentos. Assim, a escola é vista como um espaço de exercitação e ampliação das
competências de comunicação oral e escrita nas mais diversas situações de interação social; é um
espaço para explorar os recursos linguísticos para a produção de sentido; e também é um espaço
para se compreender e se produzir os mais variados gêneros discursivos que circulam na sociedade,
ou seja, é um lugar para se desenvolver o letramento dos alunos. O ponto de partida do ensino de
língua portuguesa na escola deveria ser a linguagem, em uma abordagem que se inicia pelas práticas
linguísticas dos alunos para, progressivamente, permitir o uso de novas habilidades linguísticas.
Assim, o objetivo do ensino é permitir que os alunos reflitam sobre a linguagem, de forma que a
compreendam e a utilizem de maneira adequada à situação de interlocução. Nesse sentido, “[...] a
escola não ensina língua, mas usos da língua e formas não corriqueiras de comunicação escrita e
oral. O núcleo do trabalho será com a língua no contexto da compreensão, produção e análise
textual.” (MARCUSCHI, 2008, p. 55).

2. IDENTIFICAÇÃO

MARIA SILIA PEREIRA DOS SANTOS DUARTE, brasileira, nascida em 02 de setembro


de 1982, na cidade de Grão Mogol, Norte de Minas Gerais. Formada em Letras, pela Universidade
de Uberaba (Uniube) em 2014. Pós-graduada em Educação Especial, pela faculdade Verde Norte no
ano 2017.

3. FORMAÇÃO

 Graduação, Letras – Universidade de Uberaba, 2014.


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 Pós-Graduação, Educação Especial – Faculdade Verde Norte, 2017.

4. FORMAÇÃO COMPLEMENTAR

Recentemente ingressei no curso de inglês básico. Além disso, anteriormente eu fiz outros
cursos com foco em concursos públicos.

5. ATIVIDADES DE PESQUISA

PÓS GRADUAÇÃO

Na pós graduação em Educação Especial meu trabalho de conclusão foi sobre “Educação
inclusiva e as dificuldades de aprendizagem”, finalizado em 2017.
6. REFERÊNCIA

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre:


Mediação, 2001.
GERALDI, João Wanderley. Concepções de linguagem e ensino de português. In:
GERALDI, João Wanderley (Org.). O texto na sala de aula. 3. ed. São Paulo: Ática, 2003. Cap. 5,
p. 39- 46. (Na sala de aula).
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In:
KARWOSKI, Acir Mário; GAYDECZKA, Beatriz; BRITO, Karim S. (Org). Gêneros Textuais:
reflexões e ensino. 4. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2011. Cap. 1, p. 23-36.

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