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DOI: 10.5585/rgss.v5i2.290
Data de recebimento: 10/12/2015
Data de Aceite: 28/04/2016
Organização: Comitê Científico Interinstitucional
Editora Científica: Marcia Cristina Zago Novaretti
Editora Adjunta: Lara Jansiski Motta
Avaliação: Double Blind Review pelo SEER/OJS
Revisão: Gramatical, normativa e de formatação
RESUMO
The role and importance of innovation in all processes is recognized internationally as one of the main drives for
development and sustainability in various areas of activity. In Portugal, innovation in the health sector was applied
to hospital management, which in the first phase adopted business management practices and later a model of
public-private partnership. In this article, using the method of literature review and data analysis, we intend to
evaluate the better production in management with the creation of enterprise-hospitals and public-private
partnerships and verify if there is any difference in the results of access and quality among the new models. As a
result of the analysis, it can be noted that innovation has positively influenced both organizations, and they show
increase in production. However, it was found that enterprise-hospitals have better access indicators and hospitals
in public-private partnership show better quality results.
1
Doutoranda em Administração da Saúde na Universidade de Lisboa - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas -
ULISBOA, Lisboa (Portugal). E-mail: matos.andreia@gmail.com
2
Doutor em Administração da Saúde pela Universidade de Lisboa - ULISBOA, Lisboa (Portugal). Assessor do Ministro da
Saúde, Lisboa (Portugal). Investigador no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa, Lisboa (Portugal).
E-mail: alexandre.m.nunes@tecnico.ulisboa.pt
Um estudo promovido por Calantone et al. determinassem uma trajetória inovadora, com a adoção
(2010) analisou os pontos fortes para a promoção da de novas práticas de gestão (Bilhim et al., 2013;
inovação, focando vários aspetos, entre os quais: Hidalgo & D’Alvano, 2014), permitindo a obtenção de
melhores resultados de desempenho e de eficiência
(Hood, 1991; Osborne & Brown, 2005; Windrum,
O desenvolvimento tecnológico; 2008). No entanto, os estudos de inovação nesse setor
A orientação para o cliente/utente; são poucos e muitas vezes negligenciados (Djellal,
A orientação para os mercados (embora a Gallouj, & Miles, 2013), mas há a expectativa de que
orientação para o cliente/utente seja mais poderão crescer nos próximos dez anos (Howells,
valorizada nos países ocidentais); 2010).
A orientação da concorrência; O setor público, pela sua natureza, e com a
A necessidade de alcançar um melhor nível de exceção das pesquisas realizadas no ensino superior,
desempenho; não foi alvo de pressões para inovar durante muitos
A promoção de novos produtos/serviços. anos, devido a um conjunto de motivos, de entre os
quais se destacam:
A inovação traduz um paradigma de
sustentabilidade da sociedade e do conhecimento, que A forte influência política;
assume uma clara importância para o desenvolvimento, A falta de recursos;
conduzindo à coesão social e projetando uma A ausência ou fraca pressão dos cidadãos;
competitividade econômica (Afgan, & Carvalho, A pouca pressão, que é dispersada por
2010). Através da inovação é possível criar novos estruturas burocráticas;
conhecimentos e novas ideias a incorporar na produção A inércia do setor;
e nos processos. O boicote dos grupos profissionais, no caso de
Por todas as vantagens da integração dos sentirem que existe um risco de a inovação, de
processos de inovação, a gestão hospitalar optou pela alguma forma, poder comprometer as suas
adoção de novas capacidades de resposta na busca por posições privilegiadas (Bilhim et al., 2013).
maior desempenho e competitividade, como forma de
gerar vitalidade e aumentar o seu peso numa Para o setor público acatar a inovação, e esta ser
determinada área de ação (Alpkan et al., 2011). promovida pelos políticos, dirigentes e servidores, é
necessário que a mesma defenda o bem público e
Inovação no setor público estimule a qualidade dos serviços prestados aos
cidadãos. Mas nem todas as organizações públicas
A inovação no setor público está relacionada adotam a inovação da mesma forma, havendo casos em
com a responsabilidade do governo em prestar serviços que a sua adoção é fraca e acontece de forma
públicos à população, no sentido de garantir o fragmentada (Bilhim et al., 2013).
fornecimento de bens e disponibilizar os recursos Os estudos organizacionais demonstram que o
necessários (Bilhim et al., 2013). Essa inovação é setor privado deu os primeiros passos nos caminhos da
entendida como um conjunto de “novos processos, inovação, despertando o interesse estratégico em torno
práticas ou estruturas que mudam a natureza do desse conceito (Djellal, Gallouj, & Miles, 2013). No
trabalho de gestão” (Jansen, Vaccaro, Van Den Bosch, entanto, o setor público tardou em aderir à inovação,
& Volberda, 2012, p. 30) e representa as “novas surgindo as suas correntes teóricas apenas em 1989,
estruturas organizacionais, administrativas, de aquando do Consenso de Washington, que retratou o
sistemas, práticas de gestão, processos e técnicas que atraso do Estado perante o crescimento e expansão dos
possam criar valor para a organização” (Aravind & mercados, pondo mesmo em causa o desenvolvimento
Damanpour, 2012, p. 424). Desse modo, orientam a econômico dos países.
forma como o trabalho é feito dentro das organizações. A OCDE (2005) publicou um conjunto de
A inovação no setor público iniciou-se após a considerações sobre a investigação, do ponto de vista
implementação da New Public Management (NPM) na da inovação no setor público, concluindo que:
Administração Pública, que em Portugal ocorreu na
década de 90 (Nunes & Harfouche, 2015). Com a Envolve a introdução de novos métodos,
adoção dessa perspectiva, o Estado deixou de ser o rotinas e procedimentos (ex.: definir bases de
único agente na prestação do serviço público e, por boas práticas, fixar os trabalhadores e pôr em
meio de uma administração em rede, foi criada uma prática os sistemas de gestão);
concorrência e competitividade entre várias Compreende a aplicação de novos métodos de
organizações/serviços nos setores público e privado distribuição de responsabilidades;
que, de um modo saudável, pretendem responder da Envolve a implementação de novas medidas
forma mais consensual às necessidades dos cidadãos. na tomada de decisão e na distribuição do
Esse fato fez com que diversas organizações públicas trabalho;
Contribui para a definição de novos conceitos No entanto, a longo prazo, a inovação despertou
que validam a estruturação de atividades. o interesse da gestão, perante o desperdício dos
No âmbito das relações externas, engloba a escassos recursos e da inércia inovadora, aliados aos
introdução de novas formas de organização e problemas de saúde da população, o que contribuiu para
de relacionamento com outras organizações uma desmotivação dos vários stakeholders do setor
(públicas ou privadas); (Denis, Fleiszer, Ritchie, Richer, & Semenic, 2015).
Promove o intercâmbio e a relação com outras A inovação de processo é um importante
organizações de pesquisa e investigação, contributo para o garante da sustentabilidade financeira
fornecedores e outsourcing. dos sistemas de saúde, dado que esta tem como objetivo
conseguir atingir os mesmos resultados com menores
Em face do exposto, a inovação está recursos. O combate ao desperdício é um dos meios
intimamente relacionada com a renovação de rotinas, para tentar melhorar a sustentabilidade do sistema,
procedimentos e mecanismos, que promovem a partilha sendo as mudanças ao nível da organização um modo
de informação de forma coordenada, num trabalho para o conseguir. Tudo isso resulta numa forma de
proativo em equipa (Alpkan et al., 2011). inovação de processo na gestão (Barros, 2011).
Dados os contributos apresentados, verifica-se O setor da saúde também está sujeito à inovação,
que a aposta na inovação produz efeitos positivos numa não apenas pela melhoria da sua sustentabilidade e pela
organização pública, na medida em que promove uma necessidade de investigação clínica e tecnológica, mas
melhoria do seu desempenho, através de uma clara também pelo fato de ser um setor empregador, que
tendência para: promove a construção e o consumo de bens, produtos,
pessoas e ideias (WHO, 2013).
Reduzir custos administrativos; A inovação na saúde possibilitou ganhos
Reduzir custos de transação; visíveis, através do aumento da esperança média de
Reduzir custos de operação; vida da população (Ministério da Saúde, 2015). Na base
Melhorar a satisfação dos funcionários no desse progresso esteve a inovação tecnológica e
médica, e o fato de ter sido apresentado um
local de trabalho;
extraordinário desenvolvimento, com o objetivo de
Melhorar a produtividade;
melhorar os cuidados de saúde. “A capacidade
Construir capacidades de valor acrescentado;
tecnológica disponível para entender, prevenir,
Promover o acesso a bens não diagnosticar e tratar a doença foi transformada numa
comercializáveis; progressão quase exponencial” (WHO, 2013, p. 44).
Promover a união e contribuição de todos os
funcionários (Alpkan et al., 2011; Ganter & A REFORMA DA GESTÃO HOSPITALAR EM
Hecker, 2013; OCDE, 2005). PORTUGAL
Inovação no setor da saúde Os elevados custos apresentados pelos hospitais
públicos estiveram na base da busca de eficiência para
O problema de sustentabilidade do setor da essas unidades (Barros, 2013). Esse é um problema
saúde foi reconhecido mundialmente, não só pelo transversal a diversos países com sistema público de
impacto direto que tem na população como também saúde, não sendo apenas específico de Portugal
pelos efeitos indiretos na sociedade em geral, que (Mintzberg, 2012).
afetam sobretudo a economia (gerada pelo próprio setor Sendo que um período de recessão ou de crise
e pela diminuição da produtividade, causada por uma estimula o investimento no processo de inovação
população doente/inativa) (WHO, 2013). (Baumol, 2014), foram várias as tentativas para
Como solução, foi criada a expectativa de que procurar um modelo ideal de gestão para o setor
através da inovação adoptada pelas organizações público, que gerasse resultados mais eficientes nas
públicas se poderia melhorar o serviço prestado aos unidades hospitalares. Existe inclusive diversa
cidadãos, em termos de qualidade e também de gestão, legislação publicada nesse sentido, desde 1946, até ao
para melhor gerir os recursos disponíveis, chegando a início das parcerias público-privadas (PPP) e da
mais cidadãos e proporcionando melhor assistência e empresarialização dos hospitais públicos.
qualidade de vida (Damanpour et al., 2010). Por muitos A transformação dos hospitais do Setor Público
anos, o desenvolvimento e a implementação da Administrativo em hospitais Sociedades Anônimas
inovação, no setor público da saúde, foram retardados (S.A.), iniciada em 2002, decorreu após um período de
pelo seu impacto na sustentabilidade do mesmo, experiências de gestão inovadoras, entre os anos 1995
consequente de um financiamento e de uma cobertura e 2001:
de necessidades por parte dos governos, numa
perspetiva limitada, com base num sistema de 1995: Concessão da gestão a uma entidade
pagamentos retroativos (Nunes, 2016). privada do Hospital Professor Doutor
A adoção da gestão empresarial insere-se numa Em 2001, com a criação da Estrutura de Missão
política de reforma e modernização do Serviço Parcerias Saúde (EMPS), foi reforçada a colaboração
Nacional de Saúde, que entende a necessidade de entre os setores público e privado, através da projeção
adoção de uma gestão inovadora com caráter de unidades hospitalares com um modelo de gestão
empresarial, com foco na qualidade e assistência ao inovador no âmbito da parceria público-privada, que
paciente (Nunes, 2013). Dessa forma, foi objetivo do concessionava não apenas a construção e manutenção
Governo de Portugal dotar a gestão hospitalar com um do prédio, como também a prestação da atividade
modelo inovador com maior autonomia de gestão e clínica (Simões, 2010).
promotor de maior eficiência, redução de gastos e com A prestação de cuidados hospitalares nas
melhores resultados operacionais (Campos, 2008). parcerias é contratualizada de forma global com o
O Programa de Estabilidade e Crescimento Serviço Nacional de Saúde e financiada através de uma
(2005-2009) elaborado pelo Governo e com a negociação contratual em função da produção a
aprovação da União Europeia entendia que a adoção de realizar, tendo por base os princípios de universalidade,
uma gestão empresarial para os hospitais públicos era o acessibilidade, equidade e gratuitidade tendencial. O
modelo de gestão mais adequado, pois permitia uma planeamento da atividade realizada e o controlo da
maior racionalidade econômica. Assim, no ano 2010 atividade em parceria público-privada são públicos. O
iniciou-se um alargamento do modelo de gestão investimento, o risco financeiro e a responsabilidade
empresarial a todos os hospitais, com exceção das pela gestão são privados (Nunes, 2016; Ruckert &
unidades PPP (Nunes, 2016). Laboté, 2014).
Essa relação com o setor privado descende de
A procura da eficiência constitui-se como um práticas já realizadas em outros países, nomeadamente
pilar da empresarialização, pelo que nesse objetivo se no Reino Unido com as denominadas PFIs (Private
pautam todas as práticas de gestão (Dorgan et al., Finance Initiatives). No entanto, a experiência
2010). Foi reconhecida a fraca eficiência aliada ao portuguesa foi inovadora, pois Portugal foi o primeiro
crescente aumento dos custos hospitalares, como um país a adoptar a parceria para a construção/manutenção
dos problemas associados ao fraco desempenho e do prédio e para a prestação de cuidados de saúde,
organização do sistema de saúde português (Campos, existindo por isso uma Entidade Gestora do Prédio e
2008). Num mesmo sentido, Harfouche (2008) refere a uma Entidade Gestora para o Estabelecimento
existência de uma ideia geral de que o setor da saúde é (Moreno, 2010).
um setor ineficiente, defendendo que com os recursos Em Portugal, o programa de hospitais PPP na
que lhe estão atribuídos se deveria produzir mais. saúde teve como objetivos:
Contudo, segundo essa mesma autora, “A gestão
empresarial é vista como o elemento facilitador e Melhoria do acesso aos cuidados de saúde;
potenciador de maior eficiência nos hospitais públicos. Melhoria da qualidade dos cuidados com foco
Estes passaram, ao mesmo tempo, para um sistema de no melhor atendimento;
Renovação dos parques hospitalares, através Com base nesse modelo foram constituídas
das construções modernas e ajustadas à quatro unidades hospitalares em regime PPP: Hospital
inovação tecnológica; de Cascais; Hospital de Braga; Hospital de Loures e o
Adoção de um modelo de prestação mais Hospital de Vila Franca de Xira.
eficiente, econômico e eficaz, cujos riscos Para uma melhor percepção das diferenças entre
financeiros estão alocados ao parceiro privado a gestão empresarial do Estado e a gestão hospitalar em
(Simões, 2004b). regime de concessão parceria público-privada,
desenvolveu-se um quadro síntese que se apresenta em
seguida.
Quadro 1 – Quadro comparativo entre modelos inovadores de gestão nos hospitais portugueses
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os hospitais E.P.E. e PPP existem em simultâneo no sistema de saúde desde o ano 2013. O quadro seguinte
mostra a evolução da atividade assistencial de atendimento hospitalar nos últimos três anos.
Ao comparar alguns dos indicadores de multas por incumprimento dos critérios de qualidade
qualidade e desempenho, de forma agregada, no definidos nos contratos de gestão dos hospitais (Nunes,
conjunto de hospitais E.P.E. e PPP, retiram-se 2016).
importantes conclusões, que se apresentam em seguida:
A % de consultas, em tempo adequado, via
CTH, é superior nas unidades E.P.E., que CONCLUSÃO
mantêm uma tendência crescente, ao contrário
das PPP; A inovação na gestão hospitalar teve por
A percentagem de inscritos em LIC dentro do objetivo a melhoria da eficiência, da produção e dos
TMRG, embora em 2013 tenha sido mais resultados financeiros dos hospitais, evitando os
positiva nos hospitais E.P.E., no ano 2014 foi desperdícios e melhorando a qualidade e o acesso para
superada pelas unidades PPP; o paciente.
A percentagem de partos por cesárea, de Em resposta à pergunta de partida, pode
forma global, caiu nos dois modelos, mas as concluir-se que a inovação nos hospitais quando aliada
PPP apresentam valores mais baixos; a uma forte regulação e planejamento em saúde produz
A cirúrgica ambulatorial cresceu também em um aumento da produção de cuidados hospitalares.
ambos os modelos, tendo um maior destaque Quando comparados os tipos de gestão entre si,
nos hospitais PPP. No entanto, no ano 2015 os verificou-se que os hospitais em parceria público-
hospitais E.P.E., apesar de terem uma privada apresentaram melhores resultados em termos
percentagem abaixo das PPP, apresentaram de qualidade e os hospitais-empresa em termos do
um crescimento do indicador em face de 2014, acesso, nomeadamente no cumprimento do tempo de
sendo que as unidades PPP baixaram a sua resposta para os pacientes que aguardam uma consulta
percentagem; ou cirurgia.
A % de readmissão em 30 dias é inferior nas Os processos de inovação na saúde estão longe
unidades PPP; de ter terminado. A aposta na inovação está na agenda
A % de internação com tempo superior a 30 europeia e são necessários mais estudos para analisar a
dias é também inferior nas unidades PPP; eficiência em ambas as unidades portuguesas. Com este
artigo, ao confirmar que existem diferenças nos
A taxa de ocupação da internação é maior no
resultados dos indicadores de acesso e qualidade entre
grupo de hospitais com gestão em regime de
PPP. os modelos inovadores de gestão analisados, há um
caminho a percorrer, na investigação futura, para
explorar os motivos que estão na causa dessas
Com base nos resultados se confirma que há
diferenças comparando os hospitais em função do
diferenças significativas entre os modelos de gestão. Os
desempenho com recurso a metodologia quantitativa
hospitais-empresa têm melhores resultados de acesso e
paramétrica e não paramétrica, como a análise
os hospitais em parceria melhores resultados de
envolutória de dados ou a análise de fronteiras de
qualidade. Os resultados já eram expectados pelo fato
eficiência estocásticas.
de que nas parcerias público-privadas existem pesadas
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