CULTURA RELIGIOSA
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A fenomenologia das religiões, chamada por alguns autores de história
comparada das religiões ou ciência sistemática da religião, ampara o
entendimento do fenômeno religioso, em que não se separa religião de cultura,
analisando suas complexidades.
O papel do fenômeno religioso possui um destaque na história, nas
relações humanas e sociais. Compreender a função da religião não só nos
aspectos positivos, mas também nos conflitos, auxilia na compreensão da própria
humanidade. São muitos fatos que se interligam e que são o campo de estudo
dos cientistas da religião, teólogos e estudiosos.
Thomas Luckmann (2014) identificou a religião como uma constante
antropológica, pois a religião se faz presente, sempre, na vida humana. Culturas
se desenvolveram, valores morais e éticos foram influenciados por ela.
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No Livro das religiões (Gaarder; Hellern; Notaker, 2013, p. 15), afirma-se
que “[...] o pesquisador investiga de uma perspectiva externa todas as religiões,
buscando semelhanças e diferenças e tenta descrever o que vê”.
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No livro Como a religião se organiza: tipos e processos, Jair Passos (2006)
relata que Mircea Eliade aprofundou e explicitou a categoria nos seus estudos
comparados das religiões. Para o grande historiador romeno, o sagrado é um
modo de ser no mundo. O ser humano experimenta a realidade, nos seus mais
diversos aspectos, recortada pelas dimensões do sagrado e do profano. Temos,
então, o tempo e o espaço como duas grandes categorias que se mostram como
sagrado e profano, sendo que esses binômios se alternam em intensidade maior
ou menor, a depender do estágio cultural em que se encontram os grupos
humanos. De qualquer forma, sagrado e profano são dois aspectos que se opõem
nas construções espaciais e temporais (Passos, 2006).
Passos (2006) ainda afirma que as diversas religiões se estruturam com
base na dinâmica entre sagrado e profano e oferecem aos fiéis a possibilidade de
experimentá-Ias como um caminho de vida na busca do sentido mais profundo da
realidade e da possibilidade de salvação da precariedade da vida. As tradições
religiosas, com suas diversidades de doutrina, rito, disciplina e organização,
sustentam-se nessa relação bipolar, podendo distinguirem-se umas das outras no
modo de afirmar a diversidade e a relação entre as duas dimensões.
Paulo Dalgalarrondo (2008, p. 18) afirma que muitas concepções do
sagrado e de Deus foram formuladas, em diversos momentos históricos e
contextos socioculturais. Deus nem sempre foi judaico-cristão, perfeito,
onipresente, onipotente e onisciente, o grande pai que salva e pune os homens
em todos os momentos de suas vidas.
Para Wilges (1995), a religião é o conjunto de crenças, leis e ritos que visam
a um poder que o homem, de fato, considera supremo, do qual se julga
dependente, com o qual entra em relação pessoal e do qual pode obter favores.
As religiões são constituídas por:
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uma comunidade de fiéis, com diferentes tipos de líderes e sacerdotes, que
estão mais ou menos convencidos das crenças e que seguem os preceitos
dessa religião.
1 Manipanso: ídolo africano, feitiço; qualquer coisa ou objeto, tanto real quanto abstrato, que possa
ser utilizado para realização de um culto, cuja essência possa ser sobrenatural.
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Em artigo de Geovane Macedo da Costa (2017), a morte como
possibilidade existencial é analisada segundo a ótica de três filósofos: Dilthey,
que, pela filosofia da vida, aponta a morte como limitação da existência e isso
direciona o homem à compreensão e valorização da vida; Karl Jaspers, que, pela
filosofia cristã, diz que a morte é situação-limite, isto é, situação decisiva essencial;
e, por último, temos a filosofia de Martin Heidegger, que considera a morte como
possibilidade de impossibilidade e, além disso, a possibilidade mais própria
do Dasein.
Explicar a origem da vida é um desafio, mas abordar seu fim é uma busca
que remonta à história humana. De acordo com Gaarder, Hellern e Notaker (2013,
p. 26), nas sepulturas dos vikings, os mortos eram enterrados com armas,
ornamentos e comida, mostrando que a ideia da vida após a morte não é atual.
Para os gregos, os mortos permaneciam no Hades, em um mundo de sombras.
Em diversas culturas, há crenças em espíritos ancestrais, vida eterna,
salvação.
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A fundamentação auxilia na legitimação da instituição religiosa onde se
formulam todos os dogmas e doutrinas da religião em sua estrutura,
preceitos, papéis e mecanismos.
Após a fundamentação, a religião passa pelo processo de preservação
da instituição. Nela são estabelecidas regras, leis e normas para o
funcionamento e convivência dentro da instituição religiosa. Por último
acontece o funcionamento que estabelece os papéis de cada membro
dentro da instituição religiosa, com seus direitos e deveres religiosos, é
nesse processo que nascem os líderes religiosos.
A partir do momento em que é institucionalizada, esses elementos dão
significado à organização religiosa. Ou seja, a sequência: carisma, rotina
e instituição permite um percurso possível e comum às religiões, que
começam a partir do carisma e tornam-se institucionalizadas.
a. O momento fundacional:
experiência do fundador;
autoridade do fundador portador de dom extraordinário;
regras de vida aceitas pelo grupo;
comunidade informal, com poucos discípulos;
centralidade da mensagem religiosa;
comprovação da mensagem por eventos extraordinários;
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participação intensa dos membros dos grupos;
conflitos latentes controlados pelo carisma do fundador.
b. O momento de crise:
expansão do grupo;
morte do fundador e transmissão do carisma;
busca de consenso em torno do carisma;
busca de regras para sucessão e transmissão do carisma.
c. O momento de institucionalização:
elaboração de regras gerais para o carisma fundacional;
formulação da doutrina, dos rituais, da disciplina e dos papéis;
fixação de uma estrutura de organização;
busca de ligação entre o momento fundacional e a estrutura institucional;
distinção e fixação dos papéis religiosos entre especialistas e leigos;
criação de mecanismos de reprodução da instituição, por meio da teologia
e da catequese;
oposição entre a Igreja oficial e as práticas alternativas.
d. O momento de burocratização:
organização da instituição conforme regras objetivas;
afirmação do papel dos especialistas religiosos;
criação de normas e trâmites jurídicos universais;
importância do discurso religioso racional, de uma teologia;
estabelecimento de regras impessoais para o exercício dos cargos
religiosos;
autonomia das funções e das regras da organização;
busca de eficiência nas práticas religiosas, conforme parâmetros
preestabelecidos;
carreira eclesiástica estabelecida com regras teológicas, disciplinares e
rituais.
luta pelo monopólio dos bens religiosos: Igreja versus seitas.
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Para O’Dea (1969, p. 66), “A teologia racional se desenvolve como parte
da racionalização do pensamento e é encontrada, de uma forma ou de outra, em
todas as religiões mundiais”.
O ideal original de uma religião vai se moldando ao processo de
institucionalização e, para alguns de seus adeptos, essa é uma experiência
negativa, que burocratiza o sagrado e sua intervenção na salvação, gerando
conflitos e dissidências. Alves (2012, p. 29) afirma que a função da religião é
contribuir no processo de humanização da humanidade, tornar o homem, afinal,
humano, educando-o para a vida.
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REFERÊNCIAS
GAARDER, J.; HELLERN, V.; NOTAKER, H. O livro das religiões. São Paulo:
Companhia de Bolso, 2013.
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