Você está na página 1de 19

REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO

AGREGADO NO CONCRETO ENDURECIDO NA REGIÃO DE


JALES E SANTA FÉ DO SUL – SP1

Éder Cristiano Lopes FARUTHE2


Maisa Cristina Cardoso FREITAS3
Fabrício Augusto de LIMA4
Marcelo Jacomini Moreira da SILVA5
Fernando José PEDRO6

RESUMO

O concreto é a mistura básica utilizada em praticamente todos os tipos de construção, sendo


utilizado tanto em pequenas construções,
construções quanto em grandes edificações,
edificações como pontes e
edifícios.. Por conta desta grande variedade de aplicações, espera-se
espera se que o concreto seja
resistente a diferentes condições de estresse físico-químico,
físico químico, bem como a diferentes condições
ambientais. Um importante fator que pode afetar negativamente a resistência do concreto
con éa
presença de reações químicas entre os álcalis e os agregados da mistura. Esta reação recebe o
nome de reação álcali-agregado
agregado (RAA) e culmina na mitigação do concreto. Este artigo
almeja explicar as reações químicas envolvidas na cura do concreto e como as reações álcali-
álcali
agregado influenciam nesteeste processo. Adicionalmente, pretende-se
pretende se buscar indícios de RAA
em construções da região de Santa Fé do Sul e Jales/SP. Observou-se
Observou se que diferentes fatores
estão relacionados à ocorrência de RAA, tais como temperatura
temperatura e pH da mistura, solubilidade
dos agregados e teor de álcalis do cimento. Foram visitadas quinze construções e seis destas
apresentaram patologias de concreto. Metade destas apresentavam características semelhantes
à RAA. Foram adquiridos laudos dos ensaios previstos na NBR-15577 elaborados a partir de
amostras dos agregados utilizados para edificação das obras visitadas.
visita s. As análises contidas
nestes laudos revelaram que as patologias encontradas provavelmente não ocorreram devido à
presença de reações álcali-agregado.
agregado. O principal fator que levou a esta conclusão é o fato da
brita utilizada nas construções visitadas ter sido produzida nas pedreiras apontadas nos laudos
como sendo não reagente.

Palavras-chave: Concreto. Reação álcali-agregado.


álcali Mitigação
ação do concreto.

REACTION ALKALI AGGREGATE IN CONCRETE HARDENED IN JALES


REGION AND SOUTH SANTA FE DO SUL - SP

ABSTRACT
1
Trabalho desenvolvido com bolsa PIBIC na Fundação Municipal de Educação e Cultura, Cultura FUNEC Santa Fé do
Sul/SP,
SP, com orientação do Prof. Dr. Denis Esmael Rasera (in memoriam).
2
Graduado em Engenharia Civil – Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa Fé do Sul/SP.
eder_faruthe@hotmail.com
3
Graduada em Engenharia Civil – Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa San Fé do Sul/SP.
maisacardoso_@hotmail.com
4
Doutorado (2016) pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Doutorado em 2017 (USP). fablima@usp.br
5
Orientador do TCC. Doutor formado na Universidade
Universidade Estadual de Campinas e orientador na Fundação
Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa Fé do Sul/SP. silvamjm@gmail.com
6
Graduação em Ciências - Licenciatura pelo Centro Universitário do Norte Paulista (1996). Atualmente é
professor do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, coordenador da área química – UNIFASS,
Sistema de Ensino e professor universitário da Fundação
Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC/Santa Fé do
Sul-SP. fernando.pedro@terra.com.br
25
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
Concrete is the basic mixture used in most of constructions worldwide, being used either in
small structures or in large edifications, such as bridges and buildings. Because of its wide
variety of applications, concrete is expected to be resistant to different physical-chemical
stress as well as to different environmental conditions. An important factor that may adversely
affect the strength of concrete is the presence of chemical reactions between the alkalis
coming from the cement and the aggregate. This reaction is commonly referred as alkali-
aggregate reaction (AAR) and causes the concrete mitigation. This article aims to explain the
chemical reactions involved in the curing of concrete and how the alkali-aggregate reactions
influence this process. Furthermore, this research intends to look for AAR evidences in
constructions located in Santa Fé do Sul and Jales/SP. It was observed that different factors
are related to the occurrence of AAR, such as the mixture temperature and pH, the aggregates
solubility and cement alkali content. There were visited fifteen constructions and six of them
have presented concrete pathologies. Half of these have shown characteristics similar to the
AAR. The reports of the tests described in NBR-15577 obtained from aggregates used in the
visited constructions were retrieved. Those reports revealed that the concrete pathologies were
probably not originated due to the presence of alkali-aggregate reactions. The main reason
that led to this conclusion is the fact of aggregates used in the buildings have been produced
in the quarries identified as non-reagent.

Keywords: Concrete. Alkali-aggregate reaction. Concrete mitigation.

1 INTRODUÇÃO

O concreto está presente em praticamente todas as obras de construção civil da


atualidade, sendo utilizado desde aplicações simples, sem efeito estrutural, até as mais
complexas como base de estruturas, lajes e pré-moldados. A mistura básica de todo concreto é
formada por um aglomerado de agregados graúdos (seixos e basaltos, entre outros), agregados
miúdos (areia e pó de pedra, entre outros) e algum aglutinante (cal, cimento, entre outros)
(AMORIM, 2010). Ao ser hidratado, o aglutinante forma uma pasta resistente e adere aos
fragmentos de agregados, formando um bloco monolítico. O concreto pode ser preparado
manualmente ou mecanicamente e o preparo deve atender requisitos básicos para garantir a
homogeneidade da mistura. Em outras palavras, os materiais devem estar bem distribuídos em
toda a massa de concreto, independente do método de preparo adotado (LEONHARDT,
1979).
A durabilidade do concreto é definida por sua capacidade de resistência às ações de
intempéries, ataques químicos e processos de deterioração (MEHTA; MONTEIRO, 1994). A
resistência à compressão é a propriedade do concreto adotada por ocasião do
dimensionamento da estrutura, segundo Britez et al. (2015). Portanto, está diretamente ligada
à segurança e estabilidade estrutural. O concreto endurecido deve apresentar resistência
mecânica e durabilidade compatíveis com as condições do projeto e com o ambiente ao qual a

26
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
estrutura fica exposta. Visto que as propriedades do concreto fresco estão diretamente ligadas
às características do material endurecido, uma série de cuidados deve ser tomada nas etapas
de recebimento, transporte, lançamento, adensamento e cura do concreto para que este
apresente a resistência requerida no projeto.
Os principais fatores que afetam a resistência do concreto são (ALMEIDA, 2002):
• Relação água/cimento: quanto menor for a relação entre a quantidade de água e a de
cimento utilizados na mistura, maior será a resistência do concreto. Concretos com
índice excessivo de água apresentam resistência baixa, podendo causar o colapso da
estrutura. Contudo, é necessário que haja uma quantidade mínima de água para que
a reação de hidratação do cimento ocorra. Além disso, concretos fabricados com
quantidades muito pequenas de água são de difícil manuseio, dificultando a sua
aplicação.
• Porosidade: dependendo da relação água/cimento da mistura, o concreto pode ficar
com espaços vazios em sua estrutura, diminuindo a sua resistência.
• Procedimento e tempo de pega da mistura: o concreto tem um período de tempo
específico para ser aplicado, chamado tempo de pega do concreto. Dependendo das
condições climáticas e da composição da mistura, o tempo de pega pode variar de
duas a três horas. Caso o concreto não seja aplicado neste período, a formação dos
cristais do cimento fica comprometida, tornando-o inapropriado para aplicações
estruturais.
• Tipo e quantidade de cimento: como no mercado existem diferentes tipos de
cimento, e que cada tipo requer proporções específicas dos constituintes do
concreto, a escolha de uma mistura inadequada frente às necessidades da
construção pode comprometer a resistência e durabilidade do concreto.
Outro fator que diminui a resistência do concreto é a presença de reações químicas
entre os álcalis do cimento e os agregados da mistura. De acordo com Lindgård et al. (2012),
a ocorrência de reações álcali-agregado (RAA) foi considerada a principal causa da
deterioração do concreto em diversos países como Canadá, Estados Unidos, Groenlândia e
África do Sul em meados da década de cinquenta. No Brasil, os primeiros estudos de RAA
foram conduzidos na década de sessenta na Barragem de Jupiá no rio Paraná, conforme
trabalho publicado por Paulon (1981). Nos anos seguintes, a reação álcali-agregado foi
identificada em diversos tipos de construção no território nacional, como barragens, pontes,
pavimentos e dormentes, segundo Veiga et al. (1997). Por exemplo, o colapso do edifício

27
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
Areia Branca em outubro de 2004, na região metropolitana do Recife, vitimou quatro pessoas
e foi atribuído à incidência de RAA nos pilares de sustentação da construção (GUIBU, 2005).
Na região de Santa Fé do Sul e Jales, estado de São Paulo, pouco se comenta sobre as
reações álcali-agregado. Os consumidores de concreto usinado da região alegam não ter
conhecimento destas reações. A análise minuciosa de possíveis manifestações desta patologia,
como trincas e esfarelamentos, ainda não se configura como uma prática corrente na região. A
análise de tais indícios é geralmente feita visualmente, podendo levar a diagnósticos
equivocados. Tendo em vista que a presença de RAA pode comprometer toda a estrutura de
uma construção, é importante compreender os processos que levam à ocorrência destas
reações, bem como conhecer os métodos disponíveis atualmente para a sua identificação e
prevenção.
A norma NBR-15577 (ABNT, 2008) descreve ensaios para avaliar a reatividade
potencial dos agregados utilizados no concreto. O principal objetivo da norma é discutir as
medidas necessárias para evitar a ocorrência de reações expansivas deletérias devidas à reação
álcali-agregado, fornecendo procedimentos para a realização de análise de risco da estrutura.
Apesar da NBR-15577 (ABNT, 2008) apresentar os ensaios para verificar a
reatividade dos agregados, as reações químicas envolvidas no processo de hidratação do
cimento e secagem do concreto, bem como aquelas envolvendo as RAA, não são descritas na
norma. Desta forma, os detalhes da relação entre RAA e o comprometimento da resistência do
concreto não são claramente divulgados, dificultando a assimilação deste tema pelos
consumidores e também pelos profissionais de engenharia civil.
Assim, este trabalho pretende explicar as reações químicas envolvidas na cura do
concreto e como as reações álcali-agregado influenciam neste processo. Adicionalmente, esta
pesquisa apresenta uma metodologia para análise dos indícios de ocorrência de RAA em
obras e em construções finalizadas, e análise da reatividade álcali-agregado, de acordo com a
NBR-15577.

2 METODOLOGIA

2.1 Procedimento

A primeira etapa da pesquisa envolveu o estudo aprofundado das reações químicas


envolvidas na preparação do concreto, bem como a influência das reações álcali-agregado
neste processo.
28
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
A segunda etapa contemplou a visita a construções da região de Santa Fé do Sul e
Jales, estado de São Paulo. Foram visitadas 15 construções, sendo cinco pavimentos de
concreto, cinco estruturas de sobrados e cinco pilares residenciais. As patologias de concreto
encontradas foram registradas por meio de fotografias.
Foram adquiridos laudos dos ensaios previstos na NBR-15577 (ABNT, 2008),
elaborados a partir de amostras dos materiais utilizados para edificação das obras visitadas.
As análises contidas nestes laudos foram utilizadas como base para diagnosticar as patologias
encontradas nas construções.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

A reação álcali-agregado ocorre em diversos empreendimentos como já apresentado


no início do presente texto, sendo importante compreender os detalhes desta reação, pois a sua
ocorrência pode comprometer toda estrutura de uma construção. Estar atento às ações
mitigatórias é responsabilidade de todo engenheiro civil, bem como dos fabricantes de
concreto. O conhecimento dos fatores que causam RAA e a sua relação com a diminuição da
resistência do concreto é requisito para o correto planejamento de uma obra.
A primeira etapa dos resultados descreve como as reações álcali-agregado
comprometem a resistência do concreto. A segunda etapa mostra diferentes patologias de
concreto encontradas na região de Santa Fé do Sul e Jales, bem como as etapas que levaram à
identificação das mesmas como sendo ou não RAA.

3.1 Etapa 1: hidratação do concreto e a influência da RAA

Existem diferentes tipos de concreto, dependendo da proporção dos ingredientes que


compõem a mistura e dos tipos de aditivos que são utilizadas. A mistura final do concreto
pode ser adaptada de acordo com a finalidade de sua aplicação, podendo apresentar alta
resistência mecânica, alta densidade, resistência a altas temperaturas ou resistência à ação de
compostos químicos específicos.
De maneira geral, a mistura básica do concreto é formada por cimento, água,
agregados e, opcionalmente, aditivos. O cimento mais utilizado na construção contemporânea
é o cimento Portland (NEVILLE, 1999), uma mistura de clínquer (argila, silicato de cálcio,
alita, belita, sulfatos diversos e escória siderúrgica), aluminatos, ferritas, gipsita e álcalis
(tabela 1). Os agregados são formados, principalmente, por sílica, basalto e seixo.
29
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
Tabela 1 – Porcentagem ponderal dos óxidos presentes no cimento.

Óxidos Designação % Ponderal

Principais CaO Óxido de cálcio 60 a 68%

Secundários SiO2 Dióxido de silício 17 a 25%

AI2O3 Óxido de alumínio 2 a 9%

Fe2O3 Óxido de ferro (III) 0,5 a 6%

MgO Óxido de magnésio 0,1 a 4%

SO3 Trióxido de enxofre 0,1 a 4%

Na2O Álcali (Óxido de Sódio) 1 a 3%

K2O Álcali (Óxido de Potássio) 0,5 a 1,5%


Fonte: Neville (1999).

Quando o cimento entra em contato com a água, uma série de reações químicas é
iniciada. Cristais de cimento são formados em um primeiro momento, seguidos da unificação
com os agregados. O resultado é uma rocha sintética de alta resistência mecânica. O termo
hidratação é comumente empregado para designar as reações que levam à formação do
concreto. Apesar das moléculas de água estar em constante contato com o cimento durante a
hidratação, os compostos que formam o cimento não se hidratam ao mesmo tempo. Segundo
Metha e Monteiro (1994), as reações com aluminatos ocorrem primeiro e são responsáveis
pela perda da consistência e pelo tempo de pega do concreto. Já as reações com os silicatos
geram o endurecimento e ganho de resistência mecânica ao longo do tempo.
A hidratação do cimento pode ser dividida em três etapas principais (PELISSER;
STEINER; BERNARDIM, 2012). A primeira etapa ocorre quase imediatamente à adição de
água à mistura. Os sulfatos presentes no clínquer se dissolvem na água, assim como a gipsita
e os álcalis do cimento. O resultado desta dissolução é uma solução aquosa de pH alcalino e
rica em sulfatos.
A segunda etapa é marcada pela produção de calor. Os aluminatos do cimento reagem
com a água, formando um gel rico em alumínio. Este gel, por sua vez, reage com os sulfatos
produzidos na primeira etapa da hidratação, formando cristais de etringite. Esta reação
exotérmica é popularmente conhecida como cristalização do cimento. Apesar da maioria dos
cristais de etringite serem formados nos primeiros minutos após a mistura dos materiais, esta

30
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
reação pode continuar por algumas horas. O tempo compreendido entre o início da
cristalização e o endurecimento final da mistura é o tempo de pega do concreto. Este tempo
determina o período disponível para aplicação da mistura. Em outras palavras, compreende o
período entre a mistura dos materiais e o seu adensamento e acabamento final.
A terceira etapa da hidratação é marcada pelo aumento acentuado da resistência
mecânica da mistura. Nesta etapa, ocorre a formação de silicato de cálcio hidratado a partir da
reação entre a alita e belita presentes no clínquer com os produtos das etapas anteriores.
Durante este processo, os grãos dos agregados ficam presos em meio à mistura, o que confere
força e resistência ao concreto. Esta etapa da hidratação pode demorar meses para terminar,
porém o maior ganho de resistência é atingido geralmente após um mês da aplicação do
material.
De forma geral, a hidratação do cimento pode ser resumida na forma da Equação 1
abaixo (NEVILLE, 1999).

2 +7 →3 ₂ .4 +3 + 173,6

Apesar da quantidade de álcalis no cimento geralmente ficar abaixo de 3% da massa


total da mistura (tabela 1), a importância destes compostos na cadeia de reações químicas que
culminam na cristalização do cimento é grande. A contribuição dos álcalis para o aumento do
pH da solução na primeira etapa da hidratação é crucial para que as etapas seguintes
aconteçam.
Alguns tipos de agregados são susceptíveis ao aumento de pH gerado pelos álcalis,
gerando as reações álcali-agregado. A dissolução dos agregados pelos álcalis diminui a
resistência do concreto, já que a carga de agregados fica desbalanceada com relação aos
outros componentes da mistura. Além disso, como as RAA geralmente acontecem no cimento
já endurecido, o espaço inicialmente ocupado pelos agregados passa a ser ocupado por ar,
aumentando a porosidade do material e diminuindo a sua resistência mecânica. segundo Peter
at al. (2008). Macroscopicamente, as RAA geram fissuras e desagregação do concreto
endurecido. Diferentes tipos de agregados rochosos utilizados na confecção do concreto
podem ser atacados pelos constituintes alcalinos do cimento, gerando diferentes tipos de RAA
(BARBOSA; PIRES SOBRINHO, 1997).
A reação álcali-sílica é uma das mais estudadas mundialmente (KRIVENKO, 2017).
Neste tipo de reação, a alta alcalinidade da mistura nas etapas iniciais da hidratação leva à
dissolução da sílica presente nos agregados. Adicionalmente, os álcalis reagem com a sílica e

31
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
cálcio dissolvidos, formando um gel higroscópico. Se a produção deste gel acontecer em um
meio com grande teor aquoso, o gel absorverá água, aumentando o seu volume e pressionando
o material ao seu redor. A consequência direta da expansão do gel higroscópico é a perda de
aderência do concreto.
Diversos fatores influenciam o coeficiente de dissolução dos agregados utilizados na
confecção de concreto. Por exemplo, Alexander, Heston e Ile (1954) mostram como a
solubilidade da sílica varia com o pH da mistura. A figura 1 abaixo mostra que a solubilidade
da sílica é aproximadamente constante em pH ácido, porém apresenta grande aumento em pH
alcalino. A porcentagem de sílica dissolvida em uma solução com pH 11, por exemplo, é
aproximadamente 50 vezes maior que a porcentagem deste mesmo material em uma solução
com pH 7. Na prática, o teor de álcalis do cimento (Na2O e K2O) contribui fortemente para o
aumento do pH da mistura de concreto, uma vez que estes compostos se dissociam em
presença de água, dando origem a íons Na+ e K+. Conforme o pH da mistura aumenta, a sílica
se torna cada vez mais solúvel, favorecendo a ocorrência de RAA e, consequentemente, a
formação do gel higroscópico. O resultado, conforme mencionado anteriormente, é a
expansão do gel e a dissociação do concreto (figura 1).

Figura 1 – Solubilidade da sílica em função do pH.

Fonte: Alexander, Heston e Ile (1954).

Outro fator que influencia a solubilidade dos agregados é a temperatura.


(ICENHOWER; DOVE, 2000) apresentam um extenso levantamento bibliográfico
demonstrando dados teóricos e experimentais sobre a relação entre a taxa de solubilidade da

32
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
sílica e a temperatura. A figura 2 abaixo exibe um resumo dos dados apresentados por
Icenhower e Dove (2000): verifica-se que a taxa de solubilidade da sílica aumenta
exponencialmente com o aumento de temperatura. Nota-se ainda nesta figura uma excelente
correspondência entre a previsão teórica da taxa de solubilidade da sílica (linha pontilhada)
com os dados coletados experimentalmente (linha sólida e pontos).

Figura 2 - Taxa de solubilidade da sílica em função da temperatura.

Fonte: Alexander, Heston e Ile (1954).

Cada ponto representa uma medida experimental de acordo com a respectiva


referência apresentada na legenda. A linha sólida é a regressão linear entre todos os valores
experimentais e a linha pontilhada corresponde à previsão teórica para os valores de taxa de
solubilidade da sílica.
Analogamente ao aumento da solubilidade dos agregados com o aumento do pH, o
aumento da temperatura tem grande influência sobre a ocorrência da RAA. Quanto maior a
temperatura da mistura durante a cura, mais solúvel será a sílica, favorecendo a formação do
gel higroscópico. Como a secagem do concreto é essencialmente uma reação exotérmica,
torna-se naturalmente difícil controlar os efeitos da temperatura no que diz respeito ao
potencial de reação álcali-sílica. Adicionalmente, alguns tipos de estruturas são
particularmente sujeitas à ocorrência de RAA em razão da temperatura, como fornos, estufas
e construções que ficam longos períodos de tempo expostas ao sol. Mesmo que estas
edificações sejam protegidas das altas temperaturas durante a secagem do concreto, os

33
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
processos químicos relativos à ocorrência de RAA podem durar anos (LINDGÅRD et al.,
2012).
A tabela 2 mostra a diversidade no tempo necessário para a identificação da ocorrência
de RAA em diversas construções brasileiras. Enquanto a ocorrência de RAA foi notada
apenas cinco anos após o término da construção da usina de Paulo Afonso III na Bahia, foram
necessários 67 anos para que os efeitos desta reação se manifestassem na usina de Ilha dos
Pombos no Rio de Janeiro. Nota-se, ainda, que a reação foi identificada em construções
utilizando diferentes tipos de agregados, como granito, quartzito e gnaisse.

Tabela 2 - Ocorrência de Reação álcali-Agregado (RAA) nas usinas hidroelétricas brasileiras7.

Tipo da Fim da Percepção


Nome da estrutura Tipo de agregado
estrutura construção de RAA
Billings-Pedras Barragem 1936 1992 Granito
Furnas Barragem 1963 1976 Quartzito
Ilha dos Pombos Barragem 1924 1991 Gnaisse
Quartzito
Jaguara Barragem 1971 1996
Granito
Joanes II Barragem 1971 1988 Gnaisse
Gnaisse
Jurupará Barragem 1937 *
Biotita granito
Mascarenhas de Moraes Barragem 1957 * Quartzito
Moxotó Casa de Força 1974 1980 Granito-gnaisse
Paulo Afonso I Barragem 1955 1978 Granito-gnaisse
Paulo Afonso II Barragem 1962 1978 Granito-gnaisse
Paulo Afonso III Barragem 1973 1978 Granito-gnaisse
Paulo Afonso IV Barragem 1979 1985 Granito-gnaisse
Pedro-Beicht Barragem 1932 1991 Granito-gnaisse
Peti Barragem 1945 1964 Gnaisse
Vertedouro e
Porto Colômbia 1973 1985 Cascalho e basalto
Casa de Força
Sá Carvalho Barragem 1951 * Ganisse
Tapacurá Barragem 1975 1990 *
Traição Usina Elevatória 1940 1980 Milonito
Túnel 6 Tomada d’água 1974 1989 Granito-gnaisse
Fonte: Adaptado de Andriolo (2000), Munhoz (2007) e Veiga et al. (1997).

7
Não foi possível encontrar dados precisos para os campos marcados com *.
34
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
Apesar de a RAA ser um problema conhecido, poucos estudos são encontrados
avaliando a expansividade do gel higroscópico em estruturas de concreto ao longo dos anos.
A dificuldade de quantificar a expansão do gel e o longo tempo necessário para realização de
tal levantamento certamente figuram como os principais limitantes para uma pesquisa desta
natureza.
Lindgård et al. (2012) apresentam um dos poucos trabalhos que mostram a evolução
do gel higroscópico com o tempo. A figura 3 mostra que o aumento da quantidade de álcalis
utilizada na mistura de concreto conduz a um amento na expansão do gel higroscópico após
um ano de secagem. O mesmo efeito pode ser observado independentemente da quantidade de
cimento utilizado na confecção do concreto, já que todos os pontos apresentados na figura 3
apresentam aproximadamente o mesmo comportamento. Este importante resultado mostra que
a expansão do gel ao longo do tempo não está relacionada com a proporção de cimento
utilizado na mistura. Ao mesmo tempo, os resultados de Lindgård e seus colaboradores
(2012) revelam que cimentos produzidos com alto teor de álcalis podem favorecer a
ocorrência de RAA.

Figura 3 – Expansão do gel higroscópico (após um ano) em função do teor de álcalis do cimento e
também da proporção de cimento utilizado na confecção do concreto.

Fonte: Lindgård et al. (2012).

Nota-se que a quantidade de cimento utilizada na mistura não interfere na


expansividade do gel. Por outro lado, o teor de álcalis do cimento influencia fortemente o
volume do gel higroscópico após um ano da confecção do concreto.

35
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
3.2 Etapa 2: identificação de patologias em construções da região

Dentre as 15 construções visitadas, foram identificadas patologias do concreto em


nove construções, sendo que três construções apresentaram patologias com características
semelhantes à RAA: uma estrutura de sobrado com trincas (figura 4), um pilar residencial
apresentando esfarelamento (figura 5-a) e um pavimento de concreto apresentando
esfarelamento (figuras 5-b e 5-c).
A figura 4 apresenta trincas de porte pequeno em pilares de sustentação de um
edifício. Nota-se uma intensa exsudação de água na parte superior da figura 4-b assim como
na lateral direita da figura 4-c. Geralmente, esse efeito é causado pela tendência da água de
amassamento vir à superfície do concreto. Este fenômeno faz com que o fator água/cimento
da superfície fique relativamente alto, reduzindo a resistência mecânica do concreto nesta
região. Como este tipo de problema é comumente encontrado em construções afetadas por
RAA, a análise visual das patologias apresentadas na figura 4 sugere a possibilidade de
ocorrência de RAA nesta construção.

Figura 4 - Trincas encontradas em um pilar de sustentação localizado no pavimento térreo de um edifício.

Fonte: Dos próprios autores.

A figura 5 mostra o esfarelamento de um pavimento de concreto (partes a e b) e o


esfarelamento de um pilar de sustentação (parte c). A perda de aderência do concreto e
esfarelamento observados tornam a armação desprotegida contra intempéries e outros fatores
deteriorantes. Novamente, a análise visual dos esfarelamentos apontados na figura 5 sugere a
presença de RAA.

36
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
Figura 5 - Esfarelamento de um pavimento de concreto (partes a e b) e esfarelamento de um pilar de sustentação
(parte c), ambos encontrados em uma obra particular.

Fonte: Dos próprios autores.

Uma das maneiras de verificar se as patologias encontradas são realmente oriundas das
reações álcali-agregado é avaliar as propriedades dos agregados utilizados no concreto
utilizado na construção. Com base nas discussões apresentadas na seção 3.1, observa-se que
as características dos agregados utilizados na mistura estão associadas à probabilidade de
ocorrência de reações álcali-agregado. Por exemplo, agregados com grande teor de sílica
podem ser altamente susceptíveis às RAA devido ao aumento da solubilidade da sílica nas
etapas iniciais da hidratação do cimento, onde o pH da solução é notavelmente alcalino.
A fim de verificar a reatividade álcali-agregado dos materiais utilizados nas obras que
apresentaram as patologias observadas, foram adquiridos os laudos dos ensaios descritos na
NBR-15577 (ABNT, 2008), executados a pedido das empresas que forneceram concreto para
as obras mencionadas (DETERMINAÇÃO..., 2014).
A análise dos laudos fornecidos pelos fabricantes de concreto revelou que a brita
utilizada nas obras foi obtida de diferentes pedreiras: Pedreira ICÉM, Pedreira Embaúba,
Pedreira Valentim Gentil, Pedreira Planalto e Pedreira Icem – Rebaixo. De acordo com os
laudos, todas as pedreiras apresentaram agregados não reativos em relação aos limites
descritos na NBR-15577 (ABNT, 2008), com exceção da Pedreira Embaúba. Assim, o exame
laboratorial apontou que concretos produzidos com brita proveniente da Pedreira Embaúba
são altamente susceptíveis à ocorrência de RAA.
Apesar de a Pedreira Embaúba fornecer brita altamente reativa, o fornecedor de
concreto que utilizou esta brita afirmou ter adotado um sistema de produção com aditivos para
inibir a reação álcali-agregado. O fornecedor afirmou ter utilizado Metacaulim na mistura em
37
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
uma proporção de 8% da massa total de cimento. De acordo com Beltrão e Zenaide (2010), a
adição deste composto à mistura aumenta a resistência mecânica do concreto à compressão e
tração. Além disso, a presença de Metacaulim reduz a porosidade e capilaridade do concreto,
tornando-o menos permeável e dificultando a penetração de agentes agressivos como cloretos,
sulfatos e água. Como a penetração de água no concreto endurecido fica dificultada pela
adição de Metacaulim, mesmo que ocorra RAA no material, não haverá expansão
significativa do gel higroscópico, de modo que os efeitos deletérios da reação ficam
minimizados (BELTRÃO; ZENAIDE, 2010). Portanto, as obras que utilizaram agregados
produzidos na Pedreira Embaúba estão relativamente protegidas das RAA por conta da adição
de Metacaulim na mistura do concreto.
Sendo assim, as patologias encontradas em todas as construções provavelmente não
ocorreram devido à presença de reações álcali-agregado. O principal fator que levou a esta
conclusão é o fato da brita utilizada nas construções visitadas ter sido produzida nas pedreiras
apontadas nos laudos como sendo não reagente. Excluída a incidência de RAA, a causa mais
provável das trincas observadas na figura 4 é a preparação do concreto com uma proporção
água/cimento inadequada. Quando a mistura recebe menos água que o ideal, ocorre um efeito
de retração por secagem: conforme a água da mistura é consumida nas reações químicas que
levam à hidratação do cimento, o volume da mistura diminui. Caso a quantidade de água
presente na mistura seja muito pequena, o endurecimento do concreto ocorrerá antes que a
hidratação do cimento termine, de modo que a diminuição do volume acontece no material já
endurecido, causando trincas.
Os esfarelamentos observados na figura 5 indicam que houve fraca ligação do
aglomerante com os demais materiais utilizados. Em outras palavras, a pasta de cimento não
se ligou adequadamente aos aglomerados. Este efeito provoca a desagregação do concreto e
os agregados se mostram soltos ou de fácil remoção. Excluída a incidência de RAA, a
principal causa que leva à desagregação do concreto é a exsudação de água no material: parte
da água utilizada na mistura migra para a superfície, fazendo com que esta região tenha um
fator água/cimento maior que o adequado. Consequentemente, o concreto apresenta baixa
resistência nesta região, ficando vulnerável a desgastes de origem química e/ou mecânica.
Apesar dos laudos apontarem que os agregados utilizados nas obras não são reativos,
não é correto afirmar que as obras estão completamente livres das RAA. Os dados da tabela 2
mostram como essa patologia pode demorar longos períodos de tempo para se manifestar.
Além disso, os ensaios executados avaliaram a probabilidade que estas reações ocorram no

38
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
futuro, mas não verificaram efetivamente a sua ocorrência no concreto já endurecido das
construções visitadas.
A NBR-15577 (ABNT, 2008) sugere a execução de diferentes testes para avaliar a
ocorrência de RAA em concreto endurecido, entre eles a análise petrográfica e a microscopia
de varredura eletrônica (MEV).
Winter (2016) apresenta exemplos de concreto acometido por RAA em imagens de
microscopia de varredura eletrônica figuras 6 e 7. De acordo com o autor, o mapeamento com
MEV tem a vantagem de possibilitar que o gel seja analisado utilizando microanálise de raios
X, permitindo a sua indubitável identificação.

Figura 6 - Amostra de concreto vista no microscópio eletrônico de varredura.

Fonte: Winter (2016).

Partículas de agregado são mostradas em cinza escuro, enquanto a pasta cimento


endurecida é mostrada em cinza claro. As rachaduras marcadas pelas setas foram geradas por
RAA. A região demarcada pela linha pontilhada é mostrada em detalhe mais abaixo, na figura
7.
A figura 6 apresenta uma amostra de concreto, onde os agregados são exibidos em
cinza escuro e a pasta de cimento endurecida é mostrada em cinza claro. De acordo com o
autor (WINTER, 2016), a incidência de RAA nesta amostra causou a dissolução da partícula

39
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
de agregado localizada no centro da imagem. Esta dissolução deu origem às trincas, que vão
desde as partes internas do agregado até a pasta de cimento. A região marcada pela linha
pontilhada é mostrada em detalhes na figura 7, onde é possível
sível visualizar o gel higroscópico.
Conforme o gel aumenta de volume por meio da absorção de água, ele comprime o material
ao seu redor, causando as trincas observadas. Na mesma figura é demonstrado cristais de
etringite (produzidos na segunda etapa da hidratação
hidratação do cimento) sendo quebrados pela
expansão do gel higroscópico.

Figura 7 - Detalhe
he da uma amostra de concreto (figura
(f 6) acometida por RAA.

Fonte: Winter (2006).

As setas mostram o gel higroscópico responsável pelas trincas no concreto, assim


como os cristais de etringite formados na segunda etapa da hidratação do cimento.
Apesar da alta sensibilidade de detecção da RAA, ensaios com microscopia de
varredura eletrônica
ica demandam alto investimento. Os equipamentos utilizados nesta técnica
apresentam alto custo de aquisição e manutenção, tornando esse tipo de análise pouco
realizado no Brasil.
Como recomendação geral, antes do início de execução de uma obra deve-se
deve verificar
com o fornecedor de agregado uma análise de risco da possibilidade de ocorrência de RAA,

40
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
de acordo com a NBR-15577 (ABNT, 2008). Esta ação preventiva visa detectar o potencial de
reatividade do agregado. Caso este seja potencialmente reativo, deve-se adotar medidas de
mitigação, como a adição de compostos específicos à mistura do concreto. Na região de Santa
Fé do Sul e Jales, o Metacaulim é o aditivo de melhor custo benefício relativamente a outras
adições com mesmo efeito. Outra maneira de evitar RAA é a troca do agregado, procurando
um fornecedor que tenha agregado de potencial inócuo. Em obras finalizadas, a detecção de
RAA pode ser realizada mediante análise de microscopia de varredura eletrônica. Caso
confirmada a incidência desta patologia, o procedimento de reforço estrutural deve ser
elaborado por um engenheiro civil especializado na área.

4 CONCLUSÃO

A reação álcali-agregado está presente em grande parte da construção civil no Brasil e


no mundo. O conhecimento dos fatores que causam RAA e a sua relação com a hidratação do
concreto é requisito para que ações mitigatórias adequadas sejam tomadas. São diversos os
fatores que favorecem a ocorrência de RAA, sendo a maioria deles relacionados à
solubilidade dos agregados utilizados no concreto. O teor de álcalis do cimento contribui
fortemente para o aumento do pH da mistura de concreto, tornando a sílica dos agregados
mais solúvel e favorecendo as RAA. Quanto maior a temperatura da mistura, mais solúvel
será a sílica, favorecendo a formação do gel higroscópico. Também o aumento da quantidade
de álcalis utilizada na mistura de concreto leva a um amento na expansão do gel higroscópico,
independentemente da quantidade de cimento utilizado na confecção do concreto.
Foram visitadas quinze construções sendo que seis apresentaram patologias de
concreto. Metade destas apresentavam características semelhantes à RAA. A análise dos
laudos dos ensaios previstos na NBR-15577 (ABNT, 2008) mostrou que as britas utilizadas
na construção das edificações eram inócuas, minimizando a chance de ocorrência de RAA. A
análise de microscopia por varredura eletrônica foi utilizada como exemplo para detecção de
RAA em construções finalizadas, porém não foi possível empregar esta metodologia nas
obras visitadas. Desta forma, outras causas foram apontadas para as patologias identificadas.
A prevenção da RAA se torna cada vez mais importante mundialmente. Esta patologia
causa problemas graves nas construções, podendo comprometer estruturalmente obras de
pequeno e grande porte. Ações preventivas são recomendadas para evitar danos decorrentes
da reação álcali-agregado, como a análise de reatividade dos agregados prevista na NBR-
15577 (ABNT, 2008) e a utilização de aditivos como o Metacaulim na mistura do concreto.
41
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 15577-1.


Agregados - Reatividade álcali-agregado, Parte 1. Guia para avaliação da reatividade
potencial e medidas preventivas para uso de agregados em concreto. Rio de Janeiro: ABNT,
2008. 11p.

ANDRIOLO, F. R. Relatório Final – Panorama Brasileiro e Relato Técnico do Simpósio. In:


SIMPÓSIO SOBRE REATIVIDADE ÁLCALI-AGREGADO EM ESTRUTURA DE
CONCRETO. Anais... Goiânia: Comitê Brasileiro de Barragens, Furnas Centrais Elétricas,
2000.

ALEXANDER, G. B.; HESTON, W. M.; ILE, R. K. The solubility of amorphous silica in


water. Journal of Physical Chemistry, Elsevier Ltd, vol. 58, p. 453-455, 1954.

ALMEIDA, L. C. Estruturas IV – Concreto armado. [Notas de aula]. Campinas: Faculdade


de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas, 2002.

AMORIM, A. A. Durabilidade das estruturas de concreto armado aparentes. Belo


Horizonte, 2010.

BARBOSA, F. R.; PIRES SOBRINHO, C. W. A. Reação álcali-agregado: caracterização e


estudos da influência no maciço de uma barragem de concreto gravidade. In: SIMPÓSIO
SOBRE REATIVIDADE ÁLCALI-AGREGADO EM ESTRUTURA DE CONCRETO.
Anais... Goiânia: Comitê Brasileiro de Barragens, Furnas Centrais Elétricas, 1997, p. 323-
328.

BELTRÃO, F. C. M.; ZENAIDE, J. C. A influência do Metacaulim nas propriedades do


concreto. 2010. 66f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Civil) –
Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade da Amazônia, Belém/PA.

DETERMINAÇÃO da mitigação da expansão em barras de argamassa pelo método


acelerado. Relatório Técnico - Ensaio em Agregado. São Paulo: Concremat Inspeções &
Laboratórios, 2014.

BRITEZ, C.; PACHECO, J.; LEVY, S; HELENE, P. High performance concrete applied in
structural columns overlooking sustainability. ALCONPAT Journal, v. 5, n. 1, p. 69-78,
2015.

GUIBU, F.; Laudo aponta que edifício desabou por falha de construção em PE. Folha de São
Paulo, 06 jul. 2005. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u110821.shtml>. Acesso em: 07 nov.
2017.

ICENHOWER, J. P.; DOVE, P. M. The dissolution kinetics of amorphous silica into sodium
chloride solutions: Effects of temperature and ionic strength. Geochimica et Cosmochimica
Acta, vol. 64, p. 4193-4203, 2000.

42
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299
KRIVENKO, P. Alkali Activated Cements versus Geopolymers. Civil Engineering
Research Journal, v. 1, Issue 5, september 2017. Disponível em:
<https://www.researchgate.net/profile/Pavel_Krivenko2/publication/320305931_Alkali_Activ
ated_Cements_versus_Geopolymers/links/59dccdd3a6fdcca56e35d8f8/Alkali-Activated-
Cements-versus-Geopolymers.pdf >. Acesso em: 07 nov. 2017.

LEONHARDT, F. Construções de concreto. Princípios básicos da construção de pontes de


concreto. México: Interciência, 1979. (V. 6)

LINDGÅRD, J. et al. Alkali–silica reactions (ASR): Literature review on parameters


influencing laboratory performance testing. Cement & Concrete Composites, Elsevier Ltd,
42, p. 223-243, 2012.

MEHTA P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: estrutura, propriedades e materiais. São


Paulo: Ibracon, 1994.

MUNHOZ. F. A. C. Efeitos de adições ativas na mitigação de reação álcali-sílica e álcali-


silicato. 2007. 189 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo.

NEVILLE, A. M. Properties of concrete. New York: Wiley, 1999.

PAULON, U. A. Reações Álcali-Agregado em concreto. 1981. 125 f. Dissertação (Mestrado


em Engenharia Civil) - Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo.

PELISSER, P.; STEINER, L. R.; BERNARDIN, A. M. Recycling of porcelain tile polishing


residue in Portland cement: hydration efficiency. Environmental Science & Technology, 46,
p. 2368-2374, 2012.

PETER, M. A. et al. Competition of several carbonation reactions in concrete: A parametric


study. Cement and Concrete Research, v. 38, n. 12, p. 1385-1393, 2008.

VEIGA, F. N. et al. Reação álcali-agregado: a utilização da técnica de microscopia eletrônica


de varredura na identificação de seus produtos. In: 1º SIMPÓSIO SOBRE REATIVIDADE
ÁLCALI-AGREGADO EM ESTRUTURAS DE CONCRETO. Anais... Goiânia:
CBGB/FURNAS, 1997, p. 13-20.

WINTER, N. Understanding Cement. 2016. Disponível em: <http://www.understanding-


cement.com>. Acesso em: 24 fev. 2016.

Recebido em: 18 de setembro de 2017


Aceito em: 02 de dezembro de 2017

43
Org. Soc., Iturama (MG), v. 6, n. 6, p. 25-43, jul./dez. 2017
DOI: 10.29031/ros.v6i6.299

Você também pode gostar