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RESUMO
ABSTRACT
1
Trabalho desenvolvido com bolsa PIBIC na Fundação Municipal de Educação e Cultura, Cultura FUNEC Santa Fé do
Sul/SP,
SP, com orientação do Prof. Dr. Denis Esmael Rasera (in memoriam).
2
Graduado em Engenharia Civil – Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa Fé do Sul/SP.
eder_faruthe@hotmail.com
3
Graduada em Engenharia Civil – Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa San Fé do Sul/SP.
maisacardoso_@hotmail.com
4
Doutorado (2016) pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós Doutorado em 2017 (USP). fablima@usp.br
5
Orientador do TCC. Doutor formado na Universidade
Universidade Estadual de Campinas e orientador na Fundação
Municipal de Educação e Cultura, FUNEC Santa Fé do Sul/SP. silvamjm@gmail.com
6
Graduação em Ciências - Licenciatura pelo Centro Universitário do Norte Paulista (1996). Atualmente é
professor do Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, coordenador da área química – UNIFASS,
Sistema de Ensino e professor universitário da Fundação
Fundação Municipal de Educação e Cultura, FUNEC/Santa Fé do
Sul-SP. fernando.pedro@terra.com.br
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Concrete is the basic mixture used in most of constructions worldwide, being used either in
small structures or in large edifications, such as bridges and buildings. Because of its wide
variety of applications, concrete is expected to be resistant to different physical-chemical
stress as well as to different environmental conditions. An important factor that may adversely
affect the strength of concrete is the presence of chemical reactions between the alkalis
coming from the cement and the aggregate. This reaction is commonly referred as alkali-
aggregate reaction (AAR) and causes the concrete mitigation. This article aims to explain the
chemical reactions involved in the curing of concrete and how the alkali-aggregate reactions
influence this process. Furthermore, this research intends to look for AAR evidences in
constructions located in Santa Fé do Sul and Jales/SP. It was observed that different factors
are related to the occurrence of AAR, such as the mixture temperature and pH, the aggregates
solubility and cement alkali content. There were visited fifteen constructions and six of them
have presented concrete pathologies. Half of these have shown characteristics similar to the
AAR. The reports of the tests described in NBR-15577 obtained from aggregates used in the
visited constructions were retrieved. Those reports revealed that the concrete pathologies were
probably not originated due to the presence of alkali-aggregate reactions. The main reason
that led to this conclusion is the fact of aggregates used in the buildings have been produced
in the quarries identified as non-reagent.
1 INTRODUÇÃO
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estrutura fica exposta. Visto que as propriedades do concreto fresco estão diretamente ligadas
às características do material endurecido, uma série de cuidados deve ser tomada nas etapas
de recebimento, transporte, lançamento, adensamento e cura do concreto para que este
apresente a resistência requerida no projeto.
Os principais fatores que afetam a resistência do concreto são (ALMEIDA, 2002):
• Relação água/cimento: quanto menor for a relação entre a quantidade de água e a de
cimento utilizados na mistura, maior será a resistência do concreto. Concretos com
índice excessivo de água apresentam resistência baixa, podendo causar o colapso da
estrutura. Contudo, é necessário que haja uma quantidade mínima de água para que
a reação de hidratação do cimento ocorra. Além disso, concretos fabricados com
quantidades muito pequenas de água são de difícil manuseio, dificultando a sua
aplicação.
• Porosidade: dependendo da relação água/cimento da mistura, o concreto pode ficar
com espaços vazios em sua estrutura, diminuindo a sua resistência.
• Procedimento e tempo de pega da mistura: o concreto tem um período de tempo
específico para ser aplicado, chamado tempo de pega do concreto. Dependendo das
condições climáticas e da composição da mistura, o tempo de pega pode variar de
duas a três horas. Caso o concreto não seja aplicado neste período, a formação dos
cristais do cimento fica comprometida, tornando-o inapropriado para aplicações
estruturais.
• Tipo e quantidade de cimento: como no mercado existem diferentes tipos de
cimento, e que cada tipo requer proporções específicas dos constituintes do
concreto, a escolha de uma mistura inadequada frente às necessidades da
construção pode comprometer a resistência e durabilidade do concreto.
Outro fator que diminui a resistência do concreto é a presença de reações químicas
entre os álcalis do cimento e os agregados da mistura. De acordo com Lindgård et al. (2012),
a ocorrência de reações álcali-agregado (RAA) foi considerada a principal causa da
deterioração do concreto em diversos países como Canadá, Estados Unidos, Groenlândia e
África do Sul em meados da década de cinquenta. No Brasil, os primeiros estudos de RAA
foram conduzidos na década de sessenta na Barragem de Jupiá no rio Paraná, conforme
trabalho publicado por Paulon (1981). Nos anos seguintes, a reação álcali-agregado foi
identificada em diversos tipos de construção no território nacional, como barragens, pontes,
pavimentos e dormentes, segundo Veiga et al. (1997). Por exemplo, o colapso do edifício
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Areia Branca em outubro de 2004, na região metropolitana do Recife, vitimou quatro pessoas
e foi atribuído à incidência de RAA nos pilares de sustentação da construção (GUIBU, 2005).
Na região de Santa Fé do Sul e Jales, estado de São Paulo, pouco se comenta sobre as
reações álcali-agregado. Os consumidores de concreto usinado da região alegam não ter
conhecimento destas reações. A análise minuciosa de possíveis manifestações desta patologia,
como trincas e esfarelamentos, ainda não se configura como uma prática corrente na região. A
análise de tais indícios é geralmente feita visualmente, podendo levar a diagnósticos
equivocados. Tendo em vista que a presença de RAA pode comprometer toda a estrutura de
uma construção, é importante compreender os processos que levam à ocorrência destas
reações, bem como conhecer os métodos disponíveis atualmente para a sua identificação e
prevenção.
A norma NBR-15577 (ABNT, 2008) descreve ensaios para avaliar a reatividade
potencial dos agregados utilizados no concreto. O principal objetivo da norma é discutir as
medidas necessárias para evitar a ocorrência de reações expansivas deletérias devidas à reação
álcali-agregado, fornecendo procedimentos para a realização de análise de risco da estrutura.
Apesar da NBR-15577 (ABNT, 2008) apresentar os ensaios para verificar a
reatividade dos agregados, as reações químicas envolvidas no processo de hidratação do
cimento e secagem do concreto, bem como aquelas envolvendo as RAA, não são descritas na
norma. Desta forma, os detalhes da relação entre RAA e o comprometimento da resistência do
concreto não são claramente divulgados, dificultando a assimilação deste tema pelos
consumidores e também pelos profissionais de engenharia civil.
Assim, este trabalho pretende explicar as reações químicas envolvidas na cura do
concreto e como as reações álcali-agregado influenciam neste processo. Adicionalmente, esta
pesquisa apresenta uma metodologia para análise dos indícios de ocorrência de RAA em
obras e em construções finalizadas, e análise da reatividade álcali-agregado, de acordo com a
NBR-15577.
2 METODOLOGIA
2.1 Procedimento
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Quando o cimento entra em contato com a água, uma série de reações químicas é
iniciada. Cristais de cimento são formados em um primeiro momento, seguidos da unificação
com os agregados. O resultado é uma rocha sintética de alta resistência mecânica. O termo
hidratação é comumente empregado para designar as reações que levam à formação do
concreto. Apesar das moléculas de água estar em constante contato com o cimento durante a
hidratação, os compostos que formam o cimento não se hidratam ao mesmo tempo. Segundo
Metha e Monteiro (1994), as reações com aluminatos ocorrem primeiro e são responsáveis
pela perda da consistência e pelo tempo de pega do concreto. Já as reações com os silicatos
geram o endurecimento e ganho de resistência mecânica ao longo do tempo.
A hidratação do cimento pode ser dividida em três etapas principais (PELISSER;
STEINER; BERNARDIM, 2012). A primeira etapa ocorre quase imediatamente à adição de
água à mistura. Os sulfatos presentes no clínquer se dissolvem na água, assim como a gipsita
e os álcalis do cimento. O resultado desta dissolução é uma solução aquosa de pH alcalino e
rica em sulfatos.
A segunda etapa é marcada pela produção de calor. Os aluminatos do cimento reagem
com a água, formando um gel rico em alumínio. Este gel, por sua vez, reage com os sulfatos
produzidos na primeira etapa da hidratação, formando cristais de etringite. Esta reação
exotérmica é popularmente conhecida como cristalização do cimento. Apesar da maioria dos
cristais de etringite serem formados nos primeiros minutos após a mistura dos materiais, esta
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reação pode continuar por algumas horas. O tempo compreendido entre o início da
cristalização e o endurecimento final da mistura é o tempo de pega do concreto. Este tempo
determina o período disponível para aplicação da mistura. Em outras palavras, compreende o
período entre a mistura dos materiais e o seu adensamento e acabamento final.
A terceira etapa da hidratação é marcada pelo aumento acentuado da resistência
mecânica da mistura. Nesta etapa, ocorre a formação de silicato de cálcio hidratado a partir da
reação entre a alita e belita presentes no clínquer com os produtos das etapas anteriores.
Durante este processo, os grãos dos agregados ficam presos em meio à mistura, o que confere
força e resistência ao concreto. Esta etapa da hidratação pode demorar meses para terminar,
porém o maior ganho de resistência é atingido geralmente após um mês da aplicação do
material.
De forma geral, a hidratação do cimento pode ser resumida na forma da Equação 1
abaixo (NEVILLE, 1999).
2 +7 →3 ₂ .4 +3 + 173,6
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cálcio dissolvidos, formando um gel higroscópico. Se a produção deste gel acontecer em um
meio com grande teor aquoso, o gel absorverá água, aumentando o seu volume e pressionando
o material ao seu redor. A consequência direta da expansão do gel higroscópico é a perda de
aderência do concreto.
Diversos fatores influenciam o coeficiente de dissolução dos agregados utilizados na
confecção de concreto. Por exemplo, Alexander, Heston e Ile (1954) mostram como a
solubilidade da sílica varia com o pH da mistura. A figura 1 abaixo mostra que a solubilidade
da sílica é aproximadamente constante em pH ácido, porém apresenta grande aumento em pH
alcalino. A porcentagem de sílica dissolvida em uma solução com pH 11, por exemplo, é
aproximadamente 50 vezes maior que a porcentagem deste mesmo material em uma solução
com pH 7. Na prática, o teor de álcalis do cimento (Na2O e K2O) contribui fortemente para o
aumento do pH da mistura de concreto, uma vez que estes compostos se dissociam em
presença de água, dando origem a íons Na+ e K+. Conforme o pH da mistura aumenta, a sílica
se torna cada vez mais solúvel, favorecendo a ocorrência de RAA e, consequentemente, a
formação do gel higroscópico. O resultado, conforme mencionado anteriormente, é a
expansão do gel e a dissociação do concreto (figura 1).
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sílica e a temperatura. A figura 2 abaixo exibe um resumo dos dados apresentados por
Icenhower e Dove (2000): verifica-se que a taxa de solubilidade da sílica aumenta
exponencialmente com o aumento de temperatura. Nota-se ainda nesta figura uma excelente
correspondência entre a previsão teórica da taxa de solubilidade da sílica (linha pontilhada)
com os dados coletados experimentalmente (linha sólida e pontos).
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processos químicos relativos à ocorrência de RAA podem durar anos (LINDGÅRD et al.,
2012).
A tabela 2 mostra a diversidade no tempo necessário para a identificação da ocorrência
de RAA em diversas construções brasileiras. Enquanto a ocorrência de RAA foi notada
apenas cinco anos após o término da construção da usina de Paulo Afonso III na Bahia, foram
necessários 67 anos para que os efeitos desta reação se manifestassem na usina de Ilha dos
Pombos no Rio de Janeiro. Nota-se, ainda, que a reação foi identificada em construções
utilizando diferentes tipos de agregados, como granito, quartzito e gnaisse.
7
Não foi possível encontrar dados precisos para os campos marcados com *.
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Apesar de a RAA ser um problema conhecido, poucos estudos são encontrados
avaliando a expansividade do gel higroscópico em estruturas de concreto ao longo dos anos.
A dificuldade de quantificar a expansão do gel e o longo tempo necessário para realização de
tal levantamento certamente figuram como os principais limitantes para uma pesquisa desta
natureza.
Lindgård et al. (2012) apresentam um dos poucos trabalhos que mostram a evolução
do gel higroscópico com o tempo. A figura 3 mostra que o aumento da quantidade de álcalis
utilizada na mistura de concreto conduz a um amento na expansão do gel higroscópico após
um ano de secagem. O mesmo efeito pode ser observado independentemente da quantidade de
cimento utilizado na confecção do concreto, já que todos os pontos apresentados na figura 3
apresentam aproximadamente o mesmo comportamento. Este importante resultado mostra que
a expansão do gel ao longo do tempo não está relacionada com a proporção de cimento
utilizado na mistura. Ao mesmo tempo, os resultados de Lindgård e seus colaboradores
(2012) revelam que cimentos produzidos com alto teor de álcalis podem favorecer a
ocorrência de RAA.
Figura 3 – Expansão do gel higroscópico (após um ano) em função do teor de álcalis do cimento e
também da proporção de cimento utilizado na confecção do concreto.
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3.2 Etapa 2: identificação de patologias em construções da região
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Figura 5 - Esfarelamento de um pavimento de concreto (partes a e b) e esfarelamento de um pilar de sustentação
(parte c), ambos encontrados em uma obra particular.
Uma das maneiras de verificar se as patologias encontradas são realmente oriundas das
reações álcali-agregado é avaliar as propriedades dos agregados utilizados no concreto
utilizado na construção. Com base nas discussões apresentadas na seção 3.1, observa-se que
as características dos agregados utilizados na mistura estão associadas à probabilidade de
ocorrência de reações álcali-agregado. Por exemplo, agregados com grande teor de sílica
podem ser altamente susceptíveis às RAA devido ao aumento da solubilidade da sílica nas
etapas iniciais da hidratação do cimento, onde o pH da solução é notavelmente alcalino.
A fim de verificar a reatividade álcali-agregado dos materiais utilizados nas obras que
apresentaram as patologias observadas, foram adquiridos os laudos dos ensaios descritos na
NBR-15577 (ABNT, 2008), executados a pedido das empresas que forneceram concreto para
as obras mencionadas (DETERMINAÇÃO..., 2014).
A análise dos laudos fornecidos pelos fabricantes de concreto revelou que a brita
utilizada nas obras foi obtida de diferentes pedreiras: Pedreira ICÉM, Pedreira Embaúba,
Pedreira Valentim Gentil, Pedreira Planalto e Pedreira Icem – Rebaixo. De acordo com os
laudos, todas as pedreiras apresentaram agregados não reativos em relação aos limites
descritos na NBR-15577 (ABNT, 2008), com exceção da Pedreira Embaúba. Assim, o exame
laboratorial apontou que concretos produzidos com brita proveniente da Pedreira Embaúba
são altamente susceptíveis à ocorrência de RAA.
Apesar de a Pedreira Embaúba fornecer brita altamente reativa, o fornecedor de
concreto que utilizou esta brita afirmou ter adotado um sistema de produção com aditivos para
inibir a reação álcali-agregado. O fornecedor afirmou ter utilizado Metacaulim na mistura em
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uma proporção de 8% da massa total de cimento. De acordo com Beltrão e Zenaide (2010), a
adição deste composto à mistura aumenta a resistência mecânica do concreto à compressão e
tração. Além disso, a presença de Metacaulim reduz a porosidade e capilaridade do concreto,
tornando-o menos permeável e dificultando a penetração de agentes agressivos como cloretos,
sulfatos e água. Como a penetração de água no concreto endurecido fica dificultada pela
adição de Metacaulim, mesmo que ocorra RAA no material, não haverá expansão
significativa do gel higroscópico, de modo que os efeitos deletérios da reação ficam
minimizados (BELTRÃO; ZENAIDE, 2010). Portanto, as obras que utilizaram agregados
produzidos na Pedreira Embaúba estão relativamente protegidas das RAA por conta da adição
de Metacaulim na mistura do concreto.
Sendo assim, as patologias encontradas em todas as construções provavelmente não
ocorreram devido à presença de reações álcali-agregado. O principal fator que levou a esta
conclusão é o fato da brita utilizada nas construções visitadas ter sido produzida nas pedreiras
apontadas nos laudos como sendo não reagente. Excluída a incidência de RAA, a causa mais
provável das trincas observadas na figura 4 é a preparação do concreto com uma proporção
água/cimento inadequada. Quando a mistura recebe menos água que o ideal, ocorre um efeito
de retração por secagem: conforme a água da mistura é consumida nas reações químicas que
levam à hidratação do cimento, o volume da mistura diminui. Caso a quantidade de água
presente na mistura seja muito pequena, o endurecimento do concreto ocorrerá antes que a
hidratação do cimento termine, de modo que a diminuição do volume acontece no material já
endurecido, causando trincas.
Os esfarelamentos observados na figura 5 indicam que houve fraca ligação do
aglomerante com os demais materiais utilizados. Em outras palavras, a pasta de cimento não
se ligou adequadamente aos aglomerados. Este efeito provoca a desagregação do concreto e
os agregados se mostram soltos ou de fácil remoção. Excluída a incidência de RAA, a
principal causa que leva à desagregação do concreto é a exsudação de água no material: parte
da água utilizada na mistura migra para a superfície, fazendo com que esta região tenha um
fator água/cimento maior que o adequado. Consequentemente, o concreto apresenta baixa
resistência nesta região, ficando vulnerável a desgastes de origem química e/ou mecânica.
Apesar dos laudos apontarem que os agregados utilizados nas obras não são reativos,
não é correto afirmar que as obras estão completamente livres das RAA. Os dados da tabela 2
mostram como essa patologia pode demorar longos períodos de tempo para se manifestar.
Além disso, os ensaios executados avaliaram a probabilidade que estas reações ocorram no
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futuro, mas não verificaram efetivamente a sua ocorrência no concreto já endurecido das
construções visitadas.
A NBR-15577 (ABNT, 2008) sugere a execução de diferentes testes para avaliar a
ocorrência de RAA em concreto endurecido, entre eles a análise petrográfica e a microscopia
de varredura eletrônica (MEV).
Winter (2016) apresenta exemplos de concreto acometido por RAA em imagens de
microscopia de varredura eletrônica figuras 6 e 7. De acordo com o autor, o mapeamento com
MEV tem a vantagem de possibilitar que o gel seja analisado utilizando microanálise de raios
X, permitindo a sua indubitável identificação.
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de agregado localizada no centro da imagem. Esta dissolução deu origem às trincas, que vão
desde as partes internas do agregado até a pasta de cimento. A região marcada pela linha
pontilhada é mostrada em detalhes na figura 7, onde é possível
sível visualizar o gel higroscópico.
Conforme o gel aumenta de volume por meio da absorção de água, ele comprime o material
ao seu redor, causando as trincas observadas. Na mesma figura é demonstrado cristais de
etringite (produzidos na segunda etapa da hidratação
hidratação do cimento) sendo quebrados pela
expansão do gel higroscópico.
Figura 7 - Detalhe
he da uma amostra de concreto (figura
(f 6) acometida por RAA.
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de acordo com a NBR-15577 (ABNT, 2008). Esta ação preventiva visa detectar o potencial de
reatividade do agregado. Caso este seja potencialmente reativo, deve-se adotar medidas de
mitigação, como a adição de compostos específicos à mistura do concreto. Na região de Santa
Fé do Sul e Jales, o Metacaulim é o aditivo de melhor custo benefício relativamente a outras
adições com mesmo efeito. Outra maneira de evitar RAA é a troca do agregado, procurando
um fornecedor que tenha agregado de potencial inócuo. Em obras finalizadas, a detecção de
RAA pode ser realizada mediante análise de microscopia de varredura eletrônica. Caso
confirmada a incidência desta patologia, o procedimento de reforço estrutural deve ser
elaborado por um engenheiro civil especializado na área.
4 CONCLUSÃO
BRITEZ, C.; PACHECO, J.; LEVY, S; HELENE, P. High performance concrete applied in
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