DIREITOS HUMANOS
Prof. Dr. Jefferson Aparecido Dias
004 Aula 1: Conceito de Direitos Humanos
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Introdução
O que são os direitos humanos?
Eu, como ser humano, tenho direitos pelo simples fato de ter nascido ou os
meus ancestrais, com suas lutas, são os grandes responsáveis para que, no
presente, meus direitos sejam garantidos e respeitados?
Essas são algumas das perguntas que pretendo responder com o texto a
seguir, em 16 (dezesseis) aulas, nas quais é apresentado amplo conteúdo a
ser investigado, a fim de que todos nós possamos, juntos, evoluir no reco-
nhecimento e garantia dos direitos humanos.
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01
Conceito de
Direitos Humanos
004
O que são os direitos humanos? Essa, provavelmente, é uma das perguntas que mais
intrigam os estudiosos, tamanhas as polêmicas que envolvem a conceituação de
direitos humanos, muitas delas vinculadas à sua origem e amplitude. A presente aula
pretende trazer algumas respostas possíveis e convidar a todos para uma re exão
sobre o que são os direitos humanos.
Direitos humanos –
produtos naturais?
Para uma teoria tradicional dos direitos humanos, os direitos humanos são produtos
naturais, ou seja, decorrem da própria natureza dos seres humanos. Nesse sentido,
querido(a) aluno(a), pelo simples fato de nascer, independentemente do local em que
isso ocorra, todos nós, seres humanos, já teríamos garantidos os nossos direitos
humanos.
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Em razão desses conceitos, defende-se que os direitos humanos são dotados de
essencialidade, pois seriam inerentes a todos os seres humanos e vinculados
diretamente à sua essência. Outra decorrência lógica dessa concepção de direitos
humanos é que eles seriam universais, ou seja, titularizados por todos os seres
humanos, independentemente do seu local de nascimento e mesmo do contexto
social no qual vivem. Assim, pouco importaria, para ns de garantia dos direitos
humanos, se uma pessoa nasceu em um país da África ou em algum país europeu,
pois os direitos humanos, sendo naturais e universais, deveriam ser garantidos para
todos, independentemente de seu contexto social.
Essa concepção universalista dos direitos humanos foi estabelecida inicialmente com
a Revolução Francesa e, posteriormente, foi rea rmada pela ONU ao ser aprovada a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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econômicos e culturais, os quais exigiriam uma atuação positiva do Estado, que seria
obrigado a garantir a igualdade de direitos para todos os cidadãos.
Apesar dessa minha posição crítica, tenho que reconhecer que, na atualidade, ao
contrário do que ocorria no passado, tem crescido a preocupação com os supostos
direitos de terceira geração, ou seja, os relacionados com a fraternidade ou com a
solidariedade. Essa preocupação tem motivado posições altruístas, a partir das quais
os cidadãos têm colaborado cada vez mais com as pessoas que, por uma razão ou
outra, buscam auxílio junto a seus pares.
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Direitos humanos –
produtos culturais?
Se para a teoria tradicional de direitos humanos eles devem ser concebidos como
produtos naturais e vinculados à essência dos seres humanos, para uma teoria crítica,
os direitos humanos, na verdade, são produtos culturais construídos e conquistados
historicamente pelos seres humanos dentro de seus contextos sociais.
Se para a teoria tradicional de direitos humanos eles devem ser concebidos como
produtos naturais e vinculados à essência dos seres humanos, para uma teoria crítica,
os direitos humanos, na verdade, são produtos culturais construídos e conquistados
historicamente pelos seres humanos dentro de seus contextos sociais.
Nesse sentido, para Joaquín Herrera Flores, os direitos humanos são “resultados
provisórios de lutas sociais por dignidade.” (HERRERA FLORES, 2009, p. 120). Uma vez
que o autor conceitua a dignidade humana como o acesso igualitário, não
previamente hierarquizado, aos bens necessários para uma vida digna de ser vivida, é
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possível conceituar direitos humanos como os resultados provisórios de processos de
luta pelo acesso igualitário, não previamente hierarquizado, aos bens necessários
para uma vida digna de ser vivida (HERRERA FLORES, 2009).
Por essa concepção, os direitos humanos não são, portanto, garantidos a todos os
seres humanos pelo simples fato de nascerem, sendo necessário que lutas sejam
travadas para que os direitos sejam conquistados e, posteriormente, tais lutas
continuam a ser necessárias para que os direitos humanos sejam mantidos.
Outra consequência da adoção dos direitos humanos como produto cultural é que
eles deixam de ser considerados universais e ganham conotação regional ou local.
Assim, já não se pode falar que os direitos humanos são necessariamente os mesmos
independentemente do local de nascimento e o contexto social no qual vive cada ser
humano.
A obra “El tres de mayo de 1808 en Madrid'', de Goya, é usada por Joaquín Herrera
Flores para explicar como o suposto universalismo dos Direitos do Homem e do
Cidadão consagrados pela Revolução Francesa não foram garantidos aos espanhóis
em 1808:
Por outro lado, porém, como o autor adverte, não se pode admitir um regionalismo
absoluto, pois se estaria diante de um novo universalismo ou, conforme defende, um
universalismo de retas paralelas.
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Da mesma forma que um universalismo de partida não é desejável, pois ele
desconsidera o contexto social no qual os seres humanos nascem e vivem, um
universalismo de retas paralelas também não deve ser buscado, pois ele acaba por
desconsiderar as características particulares dos demais, sendo válido apenas o local.
Não basta que o direito à saúde seja reconhecido pelo texto constitucional e por
inúmeras leis, mas é necessário que os governantes efetivamente disponibilizem
médicos, remédios, hospitais, etc. para que tal direito seja usufruído pelo cidadão,
que tem no voto e na participação popular a sua maior arma.
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No Brasil, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC),
vinculada ao Ministério Público Federal, atua de forma intensa na
defesa dos direitos humanos, seja por meio da emissão de notas
técnicas referentes a atos normativos, seja por meio de outras formas
de atuação extrajudicial. Em sua página da internet, a PFDC divulga
todas as suas atuações em defesa dos direitos humanos.
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Ética
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“Ética” é uma expressão que faz parte do nosso dia a dia como algo que deve ser
respeitado por todos. Repetimos de forma quase que automática que somos éticos e,
com a mesma facilidade, julgamos as atitudes dos outros e as classi camos como
antiéticas. Mas, a nal, o que é ética?
Conceito de ética
A expressão ethos, que se originou da palavra ética, era utilizada pelos gregos para
representar “aquela dimensão da vida humana sobre que incidem normas [...]
destinadas a fornecer parâmetros para decidir entre opções de conduta futura
igualmente possíveis e mutuamente contraditórias.” (ADEODATO, 2012, p. 71).
Em razão disso, a ética é conceituada como “a ciência ou loso a que fará a eleição
das melhores ações tendo como horizonte o interesse coletivo, universal.” (ALMEIDA;
CHRISTMANN, 2009, p. 4).
Essa busca pelo coletivo e pelo universal, inclusive, seria a diferença apresentada
entre ética e moral, pois esta segunda não teria “pretensões de universalização,
porque ela tem como base o próprio comportamento social, não uma re exão sobre
ele [e] não se baseia numa re exão, mas nos costumes de determinada sociedade em
determinado lugar, em um preciso tempo histórico. Ele é, portanto, costumeiro,
tradicional, e não losó co” (ALMEIDA; CHRISTMANN, 2009, p. 4).
Apesar dessa suposta distinção de moral e ética, não raras vezes as duas palavras são
utilizadas como sinônimos, pois ambas estariam relacionadas ao agir humano e
teriam como objetivo delimitar se esse agir é correto, justo.
Aristóteles (2001), em sua obra “Ética a Nicômacos”, defende que o justo (e, portanto,
o que seria moral e ético) é agir com proporcionalidade, no meio termo, evitando os
excessos que se caracterizariam como injustos.
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Assim, para Aristóteles, a atuação correta e justa é aquela que pode ser considerada
proporcional e que se afasta dos extremos, sendo que as condutas extremas e,
portanto, desproporcionais, seriam violadoras da moral e da ética.
Trazendo essas situações para os nossos dias, é possível veri car que a atuação ética
e moral de um político tende a bene ciar toda a comunidade na qual ele está
inserido, ao contrário do agir imoral e antiético, que além de prejudicar a
comunidade, também acaba por prejudicar até mesmo o país como um todo.
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Ética na prática
Como se vê, os conceitos de ética, moral e justiça, apesar de não serem idênticos,
acabam por se entrelaçar, pois todos dizem respeito às regras de condutas impostas
aos seres humanos e que tenham como resultado algo que pode ser tido como certo,
apesar da imensa di culdade que tais conceitos impõem.
Neste sentido, para a mencionada Lei, são considerados como atos de improbidade
administrativa e, portanto, atos imorais e injustos, aqueles que (1) tenham como
objetivo o enriquecimento ilícito do agente público, (2) resultem em prejuízo ao
Patrimônio Público e (3) violem os princípios que devem nortear a atuação da
Administração Pública (BRASIL, 1992).
Assim, em resumo, ética pode ser considerada a ciência que se dedica a estudar o que
deve ser considerado como sendo um agir moral e justo ou, em outras palavras, o
estudo que permite diferenciar o certo do errado.
A partir desse conceito, praticamente todas as pro ssões elaboram o seu Código de
Ética, que traz regras de conduta e vedações que servem de orientação para que os
pro ssionais ajam de forma correta e não adotem posturas que possam ser
consideradas inadequadas.
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Da mesma forma que o Conselho Federal de Medicina, praticamente
todas os conselhos de classe possuem um Código de Ética, o qual é de
observância obrigatória pelos pro ssionais. Além disso, os preceitos
dos Códigos de Ética com frequência são exigidos em concursos
públicos. No caso da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o Código
de Ética (Resolução nº 02/2015) é um dos temas exigidos no Exame de
Ordem, cuja aprovação é imprescindível para o Bacharel de Direito que
pretenda advogar.
Como vimos na aula anterior, os direitos humanos podem ser concebidos como
produtos naturais, vinculados à própria essência dos seres humanos e de observância
obrigatória por todos, ou como produtos culturais, resultados provisórios de
processos de luta pela dignidade humana.
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Em qualquer um dos dois sentidos, porém, os direitos humanos demandam uma
atuação tendo em vista a si próprio e o outro, ou seja, impõem uma conduta que, a
despeito de permitir o exercício do meu direito, também respeite o direito garantido
ao outro.
Existe um dito popular no sentido de que “o meu direito vai até onde começa o direito
do outro”. Apesar de tê-la ouvido com enorme frequência, não consigo concordar com
tal frase, pois ela transmite a ideia de que a única forma que possuo para aumentar
os meus direitos é reduzindo os direitos dos outros. Assim, parece-me que uma
melhor formulação da frase seria que “o meu direito vai até onde VAI o direito do
outro”, pois, se para mim é garantido o direito à saúde, é porque esse é um direito
que é garantido para todos, ou seja, um direito humano.
A nal, não se podem garantir direitos humanos se os humanos não agirem com ética
em relação a si mesmos e à natureza.
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Cidadania
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Imagine-se morando na Europa antes da Revolução Francesa, durante os Estados
Absolutistas. Imaginou? Bom, que sabendo que naquele momento histórico inexistia
a gura do cidadão, e os seres humanos eram tidos como objeto (e não titular) de
direito dos que detinham o poder.
Assim, o Estado tinha o poder soberano de “deixar viver e fazer morrer”, conforme
leciona Foucault (1999), pois os seres humanos eram tidos como vinculados à terra
que ocupavam e junto com ela integravam a propriedade de seu dono.
Com a revolução francesa, surge a gura do cidadão e, como vimos na primeira aula,
é criada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Assim, a gura do cidadão surge apenas com a Revolução Francesa, a partir da qual
passam a ser estabelecidos direitos deste em relação ao Estado. E hoje, como
podemos conceituar a cidadania?
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Conceito de cidadania
Atualmente, já não estamos num estado absolutista, e o poder soberano foi
substituído, no caso das democracias, pelo poder do povo. No caso do Brasil, a
Constituição Federal de 1988 é expressa em a rmar que: “Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.” (parágrafo único, do art. 1º. BRASIL, 1988).
Assim, cidadania pode ser conceituada como a "capacidade para o exercício dos
direitos políticos, como processo de transformação do poder soberano em órgão
representativo." (FRANCO, 2019, p. 106).
Como no Brasil os direitos de votar (cidadania ativa) e ser votado (cidadania passiva)
são exclusivos dos brasileiros, o conceito de cidadão, em certa medida, acaba se
confundindo com o de nacional ou naturalizado.
E os estrangeiros?
No Brasil, os direitos e deveres dos estrangeiros estão previstos na Lei nº 13.445, de
24 de maio de 2017, a qual instituiu a Lei da Migração. Para referida lei, são adotados
os seguintes conceitos:
020
de nitivamente no exterior;
IV - residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou
apátrida que conserva a sua residência habitual em município
fronteiriço de país vizinho;
V - visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao
Brasil para estadas de curta duração, sem pretensão de se
estabelecer temporária ou de nitivamente no território nacional;
VI - apátrida: pessoa que não seja considerada como nacional por
nenhum Estado, segundo a sua legislação, nos termos da Convenção
sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto nº
4.246, de 22 de maio de 2002 , ou assim reconhecida pelo Estado
brasileiro.
Para tais pessoas, ao contrário do que ocorre com o nacional, não é garantido o
direito ao voto, razão pela qual é possível concluir que eles não são titulares de
cidadania ativa ou passiva. Apesar disso, a mencionada Lei de Migração é expressa
em a rmar que para todos os acima mencionados é adotado como princípio a
“universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos.” (art. 3º,
inciso I).
Assim, apesar de não serem cidadãos brasileiros, os estrangeiros, qualquer que seja a
sua classi cação de acordo com a lei, são titulares de direitos e de deveres. Nesse
sentido:
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Apesar de o Brasil não admitir o direito de voto para os estrangeiros, o que também
ocorre na Argentina, alguns países da América do Sul o admitem. Vejamos um breve
resumo sobre o tema (BAHTEN, 2013):
Dentre os estrangeiros, porém, existem alguns que têm sofrido ainda mais em relação
à violação de seus direitos e esses são os refugiados, que estudaremos no próximo
tópico.
Cidadania e direitos
humanos: o desafio dos
refugiados!
Como vimos no item anterior, apátridas são pessoas que nenhum Estado reconhece
como nacional. Isso pode ocorrer por alguns motivos (PEREIRA, 2014, p. 12):
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(2) a não inclusão de todos os residentes do país no patamar de “cidadãos” quando o
Estado se torna independente; e
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Os refugiados, assim, são forçados a deixarem os seus países e ingressarem em
outros Estados a m de tentar garantir a própria vida. Para se ter uma ideia do
crescente desa o que é garantir os direitos dos refugiados, dados do ACNUR, Agência
da ONU para Refugiados, indicam que, em 2017, o número de refugiados chegou a
68,5 milhões de pessoas (ACNUR, 2018).
Assim, da mesma forma que para os estrangeiros devem ser garantidos todos os
direitos humanos garantidos aos cidadãos, também os refugiados precisam ser
tratados com igual respeito e consideração, levando-se em consideração a sua
condição especial de perseguido, obrigado a deixar para trás o próprio país.
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04
Desenvolvimento Histórico da
Construção dos Direitos
Humanos (1ª Parte)
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A compreensão da evolução histórica dos direitos humanos depende de qual a
concepção que deles se adota, pois, se entendermos que os direitos humanos são
produtos naturais, que decorrem da própria essência dos seres humanos, eles teriam
surgido no exato instante em que o homem foi criado (criacionismo) ou nasceu
(evolução natural).
Por outro lado, se a teoria adotada for a que atribui aos direitos humanos a qualidade
de produtos culturais (resultados de processos de luta), tais direitos nasceram
justamente após uma luta realizada para a sua consagração.
Antecedentes históricos
No próximo item, estudaremos a Magna Carta de João Sem-Terra, de 1215, tida como
um dos primeiros documentos a reconhecer direitos humanos. Antes dela, porém,
Castilho apresenta os seguintes documentos que, em tese, representariam as
primeiras manifestações em defesa dos direitos humanos:
No Egito do ano 1250 antes de Cristo, consta que Moisés recebeu no monte
Horeb os dez mandamentos que lhe foram entregues por Deus. Supõe-se ter
sido o primeiro documento escrito, relacionado com direitos humanos.
Na China do século IV antes de Cristo, os lósofos Mêncio e Mo-Tseu
reformaram a teoria do altruísmo, de Confúcio, e passaram a chamá-la de teoria
do amor universal. Segundo esses lósofos, todas as pessoas, de todas as
classes sociais, são iguais. E os indivíduos, governantes ou governados, devem
ter sua dignidade respeitada por meio da tolerância, da generosidade e da
conduta reta.
Na Roma do ano 450 antes de Cristo, os plebeus obtiveram a votação da Lei das
XII Tábuas, que diminuiu o poder arbitrário dos cônsules.
Na Roma do ano 413, Santo Agostinho publicou “Cidade de Deus”, re etindo
sobre as diferenças entre governos tirânicos e governos que agem conforme a
lei. (CASTILHO, 2018, p. 31).
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Esses documentos não são citados como sendo os portadores de regras e princípios
de direitos humanos, mas é certo que eles, de alguma forma, podem ter sido
utilizados para a elaboração de documentos futuros, que possuem em seu conteúdo
normas relacionadas a direitos humanos.
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Vários são os preceitos da Magna Carta que inspiraram regras e princípios atuais,
dentre as quais merece destaque a sua cláusula 39, que prevê o princípio do devido
processo legal, atualmente previsto no art. 5º, inciso LIV, da Constituição Federal
(COMPARATO, 2019, p. 94).
Além disso, em sua cláusula 61, a Magna Carta traz o “primeiro esboço de um
mecanismo de responsabilidade do rei perante os seus súditos, vale dizer, o início do
processo de abolição do próprio regime monárquico.” (COMPARATO, 2019, p. 94).
Importante destacar, contudo, que a Magna Carta não teve como objetivo garantir os
direitos do cidadão, mas sim os direitos dos barões do reino, ou seja, da burguesia
que buscava se proteger do arbítrio existente em um Estado absolutista que, por sua
vez, nem sempre respeitou os preceitos nela contidos. Nesse sentido,
Realmente, apesar de hoje ser questionável a e cácia que a Magna Carta possuiu na
época, é evidente que muitos de seus preceitos serviram de fonte de inspiração para
a construção do constitucionalismo moderno e, também, para a sua posterior
conversão em direitos que devem ser garantidos para todos os seres humanos.
A Declaração de Virgínia
A Declaração de Virgínia, de 1776, que marca a independência dos Estados Unidos, é
considerada um dos mais importantes documentos de reconhecimento dos direitos
humanos, pois pela primeira vez é reconhecido o “direito à vida, que só voltaria a
aparecer no século XX” (CASTILHO, 2018, p. 84).
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Além disso, a mencionada Declaração pela primeira vez reconhece a soberania
popular e a existência de direitos inerentes a todos os seres humanos (e, portanto,
naturais). Nesse sentido, é a lição de Comparato (2019, p. 117):
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(Declaração de direitos formulada pelos representantes do bom povo
de Virgínia, reunidos em assembleia geral e livre; cujos direitos que
pertencem a eles e à sua posteridade, como base e fundamento do
governo)
Artigo 1º: Que todos os homens são, por natureza, igualmente livres e
independentes e têm certos direitos inatos, dos quais, quando entram
em estado de sociedade, não podem por qualquer acordo privar ou
despojar seus pósteros e que são: o gozo da vida e da liberdade com
os meios de adquirir e de possuir a propriedade e de buscar e obter
felicidade e segurança.
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05
Desenvolvimento Histórico da
Construção dos
Direitos Humanos (2ª Parte)
031
Em nossa aula anterior, dedicada ao estudo da história dos direitos humanos, vimos
alguns antecedentes históricos que precederam a elaboração de documentos
especí cos para tratar dos direitos humanos, bem como a Declaração de Virgínia,
elaborada no contexto da Independência dos Estados Unidos e na qual foram
contemplados, pela primeira vez, alguns direitos humanos garantidos até hoje.
Revolução Francesa e
Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão
A Declaração de Virgínia de 1776, mencionada na aula anterior e que marcou a
independência dos Estados Unidos, é tida como a primeira declaração moderna sobre
direitos humanos, e teria servido de inspiração para a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão, aprovada em 1789 pela Revolução Francesa e considerada “um
dos mais importantes documentos sobre o tema dos direitos humanos de todos os
tempos.” (CASTILHO, 2018, p. 31).
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l'Etat c'est moi" (Eu sou a Lei, eu sou o Estado; o Estado sou eu!) e bem demonstra o
tamanho do poder do rei na época, o qual concentrava em suas mãos o poder sobre
tudo e sobre todos.
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doravante em princípios simples e incontestáveis, redundem sempre
na manutenção da Constituição e na felicidade de todos. Em
consequência, a Assembleia nacional reconhece e declara, na
presença e sob os auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do
Homem e do Cidadão.
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A Declaração Universal
dos Direitos Humanos
Em 10 de dezembro de 1948, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, foi
aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos que, reiterando os ideias
defendidos durante a Revolução Francesa, proclama, em seu artigo I, os “três
princípios axiológicos em matéria de direitos humanos: a liberdade, a igualdade e a
fraternidade.” (COMPARATO, 2019, p. 233).
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independentemente de sua nacionalidade ou condição especial, como aconteceu com
o regime nazista, “que condicionava a titularidade de direitos à pertinência à determinada
raça (a raça pura ariana).” (PIOVESAN, 2018, p. 231).
Outros momentos e
documentos históricos
Além dos importantes documentos analisados nestas duas aulas dedicadas à história
dos direitos, outros momentos da história, tanto do Brasil, como de outros países,
têm importância na consagração (ou construção) dos direitos humanos. Dentre esses
momentos, Castilho destaca os seguintes:
036
- No Brasil de 1888, a nal é abolida a escravidão por meio da Lei
Áurea (Lei nº 3.353). Foi o último país a tomar tal atitude.
- Na Bélgica de 1890, o Ato Geral da Conferência de Bruxelas
dispunha sobre a repressão ao trá co de escravos africanos.
- Na Roma de 1891, o papa Leão XIII promulgou a encíclica Rerum
Nova-rum, sobre a situação dos trabalhadores.
- Na França de 1898, Émile Zola divulga o seu famoso “Eu Acuso!”, um
libelo contra o processo do capitão Dreyfus.
- No Brasil de 1908, é fundada a Cruz Vermelha brasileira, tendo sido
seu primeiro presidente o médico Oswaldo Cruz.
- Na Rússia de 1918, Lênin proclamou a Declaração dos Direitos do
Povo Trabalhador e Explorado, um ano após a revolução socialista. O
fundamento principal era eliminar a exploração da força de
trabalho.
- Na Inglaterra de 1942, Mahatma Gandhi (“Mahatma”, do sânscrito
“A Grande Alma”) a partir do seu discurso “Um Apelo à Nação”,
propõe e funda o moderno estado indiano. Sua revolução tinha como
princípio o chamado Satyagraha, uma forma não violenta de
protesto.
- No Brasil de 1951, é aprovada a Lei Afonso Arinos (Lei nº 1.390), que
inclui entre as contravenções penais a prática de atos resultantes de
preconceitos de raça ou de cor.
- Nos Estados Unidos de 1963, Martin Luther King Jr. profere o
discurso “Eu tenho um Sonho”, na Marcha para Washington.
(CASTILHO, 2018).
Como se vê, muitas foram as lutas para que os direitos humanos fossem consagrados
(ou criados), mas é importante destacar que o fato de um direito ser reconhecido não
garante que ele será respeitado e mantido, pois é necessário que as lutas continuem
a m de que os preceitos contidos na Constituição e na lei sejam efetivamente
concretizados.
037
Martin Luther King.
038
06
Direitos Humanos e
Direitos Fundamentais
039
Vimos nas aulas anteriores como se deu a consagração histórica dos direitos
humanos: por meio de instrumentos internacionais que os reconheceram como
sendo direitos universais, a serem garantidos a todos os seres humanos,
independentemente de qualquer condição especial.
¹ Uma versão ampliada deste texto pode ser encontrada em: SERVA, Fernanda
Mesquita. DIAS, Je erson Aparecido. A repercussão dos direitos fundamentais nas
relações particulares a partir de uma teoria crítica de direitos humanos. In FERREIRA,
Jussara Suzi Assis Borges Nasser. AMARAL, Ana Cláudia Corrêa Zuin Mattos do.
Empresa, negócio jurídico e responsabilidade civil. Florianópolis: Qualis Editora, 201,
p. 247-275.
040
Além dos termos “direitos humanos” e “direitos fundamentais”,
também são usados outros termos, como “direitos humanos
fundamentais”, mas, basicamente, a diferença entre estes termos
consiste no fato de eles estarem ou não previstos na Constituição ou
nas leis do país. Utilizando a expressão “direitos humanos
fundamentais”, o Ministério Público Federal lançou uma coletânea de
artigos, em homenagem aos 70 anos da Declaração Universal dos
Direitos Humanos e 20 anos do reconhecimento da jurisdição da Corte
Interamericana de Direitos Humanos e as mudanças na aplicação do
direito no Brasil.
Corroborando tal posição, Rodrigo Maia Santos (2014, p. 36-37) ressalta a importância
da diferenciação no que tange ao aspecto geográfico para a distinção de direitos
fundamentais e direitos humanos:
041
direitos fundamentais e direitos humanos”.
No caso do Brasil, faz-se oportuno salientar que a tutela dos direitos humanos pelo
ordenamento jurídico concretizou-se por meio das incorporações dos Tratados
Internacionais e, também, pela sua expressa adoção em nível constitucional como
direitos fundamentais.
042
Preliminarmente, é necessário frisar que a Constituição Brasileira de
1988 constitui o marco jurídico da transição democrática e da
institucionalização dos direitos humanos no Brasil. O texto de 1988,
ao simbolizar a ruptura com o regime autoritário, empresta aos
direitos e garantias ênfase extraordinária, situando-se como o
documento mais avançado, abrangente e pormenorizado sobre a
matéria, na história constitucional do País.
[…]
Ao m da extensa Declaração de Direitos enunciada pelo art. 5º, a
Carta de 1988 estabelece que os direitos e garantias expressos na
Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos
princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte. À luz desse dispositivo
constitucional, os direitos fundamentais podem ser organizados em
três distintos grupos: a) o dos direitos expressos na Constituição; b) o
dos direitos implícitos, decorrentes do regime e dos princípios
adotados pela Carta constitucional; e c) o dos direitos expressos nos
tratados internacionais subscritos pelo Brasil. A Constituição de 1988
inova, assim, ao incluir dentre os direitos constitucionalmente
protegidos, os direitos enunciados nos tratados internacionais de que
o Brasil seja signatário. Ao efetuar tal incorporação, a Carta está a
atribuir aos direitos internacionais uma hierarquia especial e
diferenciada, qual seja, a de norma constitucional.
Concluindo, veri ca-se que a distinção precípua entre direitos humanos e direitos
fundamentais é no plano de consagração. O primeiro, universal, reconhecido a todos
os seres humanos, embora nem sempre positivado; o segundo, nacional, reconhecido
pela Constituição ou leis de cada país.
043
Agora que você já sabe a diferença entre direitos humanos e direitos
fundamentais, que tal ler o artigo 5º da Constituição da República
Federativa do Brasil, que traz um extenso rol de direitos fundamentais
expressamente garantidos em nosso país? A Constituição está
disponível no seguinte endereço eletrônico: BRASIL, Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988.
044
07
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Trata-se de decisão proferida pelo Tribunal Constitucional Alemão em
que se tratou a respeito da vinculação ou não, e de que forma os
particulares estariam vinculados ou não a direitos fundamentais. Em
1950, o Presidente do Clube de Imprensa de Hamburgo, Erich Lüth
sustentou boicote a um lme (Amada Imortal), dirigido por um
cineasta, Veit Harlan, que havia produzido um lme anti-semita
produzido durante o 3º Reich. Este cineasta conseguiu no Tribunal de
Justiça de Hamburgo que Lüth abstivesse-se de boicotar o lme, com
base no art. 826 do BGB que reza: “quem causar danos intencionais
a outrem, e de maneira ofensiva aos bons costumes, ca obrigado a
compensar o dano”. Lüth, insatisfeito com a represália sofrida em
seu direito de livre manifestação de pensamento/expressão, recorreu
ao Tribunal Constitucional alegando ofensa aos seus direitos
fundamentais. A Corte deu provimento ao recurso de Lüth
entendendo que o Tribunal de Justiça desconsiderou o signi cado do
direito de expressão e informação de Lüth também no âmbito das
relações entre particulares, como se o mesmo fosse aplicável
somente nas relações estabelecidas com o Estado. Reconheceu,
assim, a e cácia irradiante dos direitos fundamentais. Nesta decisão
apontou-se que o Poder Judiciário, como órgão do Estado, não
poderia deixar de intervir na questão, eis que, em relação a ele há
uma e cácia direta e imediata dos direitos fundamentais. Assim, o
Estado, através de seu órgão de Poder Judiciário, ao omitir-se de
adentrar na questão dos direitos fundamentais que lhe fora trazida à
tona, estaria atuando como agressor a estes direitos fundamentais.
Trata-se, neste caso, da teoria dos deveres de proteção (MATEUS,
2007, p. 79).
No que tange aos sujeitos passivos dos direitos fundamentais, tem-se entendido que
pode gurar tanto o Estado como o particular. Assim, os direitos fundamentais
incidem não apenas nas relações entre o Estado e o cidadão, mas também naquelas
entre particulares (cidadãos).
¹ Uma versão ampliada deste texto pode ser encontrada em: SERVA, Fernanda
Mesquita. DIAS, Je erson Aparecido. A repercussão dos direitos fundamentais nas
relações particulares a partir de uma teoria crítica de direitos humanos. In: FERREIRA,
Jussara Suzi Assis Borges Nasser. AMARAL, Ana Cláudia Corrêa Zuin Mattos do.
Empresa, negócio jurídico e responsabilidade civil. Florianópolis: Qualis Editora, 2015,
p. 247-275.
047
Além das e cácias vertical e horizontal, Bruna Pinotti Garcia Oliveira e
Rafael de Lazari (2018, p. 118). também destacam a chamada “e cácia
diagonal dos direitos humanos/fundamentais, aplicada às relações
entre particulares em que há subordinação entre eles, notadamente
nas relações de trabalho (empregador/empresa e empregado).”
Segundo os autores, essa subordinação exigiria que os direitos
humanos/fundamentais fossem aplicados de forma proporcional m
de promover o equilíbrio entre os agentes. Apesar de reconhecer a sua
importância, os autores adotam postura restritiva e crítica à sua
aplicação.
048
proclamação dos direitos fundamentais podem, agora, justi car que
eles sejam também invocados contra particulares.
Nota-se que a problemática do tema envolve, em muitos casos, o aparente con ito
entre dois princípios constitucionais: o da autonomia da vontade (implícito) e o da
aplicação imediata dos direitos fundamentais (explícito – art. 5º, § 1º da Constituição
da República de 1988). Nesse sentido, Mendes (2014, p. 177) assevera que:
049
para o assentamento da de nição dos limites indispensáveis ao novo
modelo negocial.
Essa possibilidade dos direitos fundamentais serem aplicados nas relações entre
particulares, com e cácia horizontal, é facilmente percebida pela simples leitura de
vários preceitos elencados na Constituição da República de 1988. Por outro lado,
alguns direitos consagrados na constituição, evidentemente, são aplicáveis apenas
nas relações entre os cidadãos e o Estado, possuindo, portanto, apenas uma e cácia
vertical. A exemplo, destaca-se que teriam e cácia somente vertical os seguintes
preceitos constitucionais:
050
2. 3º, inciso IV: princípio da vedação à discriminação odiosa;
3. 5º, caput: princípio da igualdade;
4. 5º, inciso V: direito de resposta, proporcional ao agravo (o sujeito passivo pode
ser o órgão de imprensa particular);
5. 5º, caput e inciso X: princípio da liberdade e da privacidade;
6. 5º, incisos LIV e LV: princípio do contraditório e da ampla defesa;
7. 6º e 7º: direitos sociais, especialmente o direito ao trabalho (e cácia direta
contra empregadores privados);
8. 79, inciso XVII: gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de ⅓
constitucional;
9. 79, inciso XXX: proibição aos empregadores de estabelecer diferenças salariais e
de critérios de admissão, por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Nesse aspecto, veri ca-se que alguns direitos fundamentais admitiriam uma e cácia
vertical, ou seja, seriam aplicáveis apenas nas relações do cidadão com o Estado e
outros, além dessa e cácia vertical, também teriam uma e cácia horizontal,
regulando as relações entre particulares.
Essas posições, contudo, não são unânimes, pois também existem teorias no sentido
da ine cácia horizontal (ou doutrina da State Action), segundo a qual os direitos
humanos não podem ser aplicados às relações entre particulares e a teoria da e cácia
horizontal indireta, a qual prevê que os direitos “só se aplicam indiretamente aos
particulares, sob o argumento de que, do contrário [...] acabaria aniquilando por
completo a autonomia da vontade.” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 119).
051
O STF (Supremo Tribunal Federal) expressamente reconheceu a
possibilidade de aplicação dos direitos humanos nas relações entre
particulares, ou seja, com e cácia horizontal, ao julgar o Recurso
Extraordinário nº 201.819/RJ, no qual decidiu que sociedade civil sem
ns lucrativos não poderia expulsar associado sem a observância do
devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório. BRASIL,
Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 201.819/RJ: União
Brasileira de Compositores UBC x Arthur Rodrigues Vilarinho. Relatora:
Ministra Ellen Gracie. Relator para acórdão: Ministro Gilmar Mendes.
Julgamento: 11/10/2005. Publicação: DJ 27/10/2006.
052
08
O Sistema Internacional de
Proteção dos Direitos
Humanos
053
De certa forma, a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pode ser
considerada a certidão de nascimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos,
pois, a partir de então, o mundo passou a ter um documento que se propôs a garantir
e impor a adoção de mecanismos de respeito aos direitos humanos de forma
universal, ou seja, a todos os países, permitindo a criação, na sequência de um
Sistema Internacional de Proteção aos Direitos Humanos.
054
Assembleia Geral
A Assembleia é formada por todos os membros das Nações Unidas, sendo que cada
um deles pode indicar até cinco representantes, o que “não signi ca que cada
membro possa votar cinco vezes, pois a Carta é expressa no sentido de que cada qual
possui um voto.” (OLIVEIRA; LAZARI, 2018, p. 844).
Nos demais casos, as deliberações poderão ser tomadas, segundo o mesmo preceito,
pela maioria simples dos membros presentes e votantes.
055
Assim, a falta de pagamento da contribuição nanceira devida por cada um dos países
da ONU impede-o de participar das suas deliberações, salvo caso da permissão
especial prevista no nal do preceito acima mencionado.
Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança da ONU é composto por quinze membros, sendo cinco
permanentes (França, China, Reino Unido, Rússia e Estados Unidos) e dez não
permanentes (temporários), eleitos pela Assembleia Geral para um mandato de 2
anos. O Brasil já foi um membro não permanente no Conselho de Segurança por dez
vezes (BRASIL, s.d.):
056
No Conselho de Segurança existe a possibilidade de os membros
permanentes, quais sejam, França, China, Reino Unido, Rússia e
Estados Unidos, exercerem o poder de veto, o que impede que a
medida votada seja implementada. Assim, mesmo que 14 dos 15
membros votem a favor de alguma medida, se um dos membros
permanentes vota contra a medida não será aprovada. Sobre o tema:
GUIMARÃES, Fernanda. CARVALHO, Patrícia Nasser de. A atuação do
conselho de segurança das nações unidas na guerra civil síria: con itos
de interesse e impasses entre os P5 e a consequente falta de resolução
para a questão. Austral: Revista Brasileira de Estratégia e Relações
Internacionais, v.6, n.12, Jul./Dez. 2017, p.66-83.
A Corte Internacional de
Justiça
A Corte Internacional de Justiça é o principal órgão judicial da ONU e tem seu
funcionamento regulado por seu Estatuto, que foi anexado à Carta da ONU. É
composta por quinze juízes e possui competência contenciosa e consultiva. Somente
os Estados-partes podem gurar nos seus processos (PIOVESAN, 2018, p. 219).
057
Para a defesa dos Direitos Humanos, Bruna Pinotti Garcia Oliveira e
Rafael de Lazari destacam que o Sistema Internacional contempla o
Comitê de Direitos Humanos, criado pelo Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos de 1966, e o Conselho de Direitos Humanos,
órgão intragovernamental criado pela Resolução nº 60/251, de
15/03/2006, com o “objetivo de proteger todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais em relação a todas as pessoas.” (OLIVEIRA,
LAZARI, 2018, p. 906).
058
09
Sistemas Regionais de
Proteção dos Direitos
Humanos
059
Sistemas regionais de
proteção dos direitos
humanos
Ao lado do Sistema Internacional (ou Global) de Direitos Humanos, estudado em
nossa última aula, também temos os sistemas regionais, os quais congregam o
Sistema Europeu, o Sistema Interamericano e o Sistema Africano, os quais
analisaremos nos próximos tópicos.
060
Sistema Europeu de
Direitos Humanos
O Conselho da Europa foi criado em 5 de maio de 1949, após a Segunda Guerra
Mundial, “com o objetivo de uni car a Europa.” (PIOVESAN, 2018a, p. 123).
Posteriormente, em 4 de novembro de 1950, os países membros do Conselho
elaboraram a Convenção Europeia de Direitos Humanos, criando o Sistema Europeu
de Direitos Humanos.
061
As decisões da Corte Europeia de Direitos Humanos são
disponibilizadas na internet, mas apenas em inglês ou francês.
(EUROPA. European Courts of Human Rights).¹
Sistema Interamericano
de Direitos Humanos
No Sistema Interamericano de Direitos Humanos, três temas precisam ser estudados:
a Convenção Americana, a Comissão e a Corte Interamericana de Direitos Humanos.
062
o direito à liberdade de associação; o direito ao nome; o direito à
nacionalidade; o direito à liberdade de movimento e residência; o
direito de participar do governo; o direito à igualdade perante a lei; e
o direito à proteção judicial (PIOVESAN, 2018a, p. 150).
Note-se que a Comissão não é um órgão jurisdicional, papel reservado para a Corte, e
tem como principal objetivo atuar como uma instância que visa garantir a observância
dos direitos humanos por parte dos estados parte da OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Além disso, tal qual ocorre com a Corte Europeia de Direitos Humanos, o cidadão,
grupos de cidadãos ou organizações não governamentais também podem apresentar
petições perante a Comissão para questionar atos praticados pelos países que
possam resultar na violação de direitos humanos.
063
A apresentação de petição para a Comissão Interamericana de Direitos
Humanos pode ser feita pela internet: OEA. Comissão Interamericana
de Direitos Humanos. Portal do Sistema Individual de Petições.
A Corte possui atribuições consultivas, quando emite uma Opinião Consultiva sobre
algum tema suscitado por um Estado-parte, e contenciosa, quando decide sobre
alguma denúncia de violação de direitos humanos praticada por um Estado-parte
(PIOVESAN, 2018a).
064
Sistema Africano de
Direitos Humanos
O Sistema Africano de Direitos Humanos é o mais recente dos Sistemas Regionais,
uma vez que a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos somente foi
aprovada em 1981, entrando em vigor em 1986.
Tal Carta, segundo Piovesan, traz quatro particularidades, aferíveis desde o seu
preâmbulo: é conferida grande atenção às tradições históricas e aos valores da
civilização africana; prevê uma gramática dos “direitos dos povos”; traz, além de
direitos civis e políticos, um rol de direitos econômicos, sociais e culturais; e, por m,
apresenta uma concepção de deveres ao lado dos direitos: “o gozo dos direitos e
liberdades implica o cumprimento dos deveres de cada um.” (PIOVESAN, 2018a, p.
247-248).
Visando dar garantia aos direitos e a observância dos deveres nela previstos, a Carta
prevê uma Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, com as seguintes
competências (PIOVESAN, 2018, p. 251):
Por m, o Sistema Africano também conta com uma Corte, que, tal qual as demais
Cortes dos Sistemas regionais, possui competências consultiva e contenciosa.
Contudo, ao contrário das demais Cortes, a Africana somente poderá conhecer uma
petição formulada por indivíduos ou ONG se houver declaração formulada por
Estado-parte para este m (PIOVESAN, 2018, p. 257).
065
A Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos está disponível na
internet e em português: Comissão Africana dos Direitos Humanos e
dos Povos. Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos.
066
10
Diversidade Cultural e
Direitos Humanos
067
A globalização cultural que gera intenso debate sobre a homogeneização cultural,
localismo e transculturação também se estende para os direitos humanos, os quais,
a nal, são concebidos por alguns como produtos culturais (HERRERA FLORES, 2009).
Por outro lado, porém, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada em
Paris, em 10 de dezembro de 1948, durante a Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU), estabeleceu em seu art. I que: “Artigo I - Todos os seres
humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e
consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”
(ONU, 2019). Assim, segundo a mencionada Declaração, os direitos humanos são
universais e devem ser garantidos a todos os seres humanos, desde o nascimento.
Apesar disso, há que se ressaltar que, de acordo com Comparato (2018), os Direitos
Humanos, estabelecidos pela Declaração Universal de 1948, não têm efeito
vinculante, ou seja, trata-se de uma “recomendação” das Nações Unidas, adotada sob
a forma de resolução da Assembleia Geral, mas não propriamente consagrada como
regra constitucional escrita, daí a necessidade da adoção de tratados ou acordos
posteriores. Obviamente que o referido contexto não interfere na absoluta
concordância da necessidade de assegurar, pelos atores internacionais, os direitos
que garantam a plena dignidade dos indivíduos. Assim que:
Essa garantia dos direitos humanos de forma inata e universal, segundo a Declaração
Universal sobre a Diversidade Cultural, promulgada pela UNESCO, no ano de 2001,
deve respeitar a diversidade cultural e o direito dos povos:
068
DIVERSIDADE CULTURAL E DIREITOS HUMANOS
Artigo 4º – Os direitos humanos, garantes da diversidade cultural
A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável
do respeito pela dignidade da pessoa humana. Implica o
compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades
fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a
minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode invocar a
diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo
direito internacional, nem para limitar seu alcance.
Neste quadro, a diversidade cultural não pode ser invocada para impedir a aplicação
dos direitos humanos, inatos e universais, consagrados em nível internacional. A
pergunta que resta, contudo, é saber como agir nas situações em que os supostos
direitos humanos internacionalmente consagrados não condizem com a realidade
existente no contexto social no qual se pretende que ele seja aplicado, tema que será
tratado no próximo item.
³ Uma versão ampliada deste texto pode ser encontrada em: DIAS, Je erson
Aparecido. FERRER, Walkiria Martinez Heinrich. Cultura e direitos humanos: entre o
absolutismo e o relativismo (no prelo).
O absolutismo e o
relativismo cultural
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos e os textos que dele
decorreram, os direitos humanos devem ser concebidos como produtos naturais,
vigentes desde o nascimento dos seres humanos, e que buscam validade universal. Se
está diante do que se pode chamar de um olhar absolutista (ou universalista), que
teria as três seguintes condições (HERRERA FLORES, 2007, p. 58):
069
nalista) de toda prática social garantida por alguma instância,
procedimento ou racionalidade de corte transcendental.
Para a posição relativista, que parte da premissa de que os direitos humanos são
produtos culturais e, portanto, não inatos, três também deveriam ser as condições a
serem observadas. A primeira delas é que (HERRERA FLORES, 2007, p. 60):
070
culturalmente [...]
3) Uma loso a da imanência que a rme que o único horizonte da
política, da ética e da ciência é nossa interação criativa com o
mundo.
Importante salientar, contudo, que pela posição aqui adotada, não se pode admitir
um localismo “puro”, no qual as culturas locais sempre prevaleçam sobre todas as
outras concepções culturais, pois se estaria diante de outro universalismo, um
“universalismo de retas paralelas que somente se encontrarão no in nito do magma
das diferenças culturais.” (HERRERA FLORES, 2007, p. 162).
Assim, não se pode ter concepções pré-concebidas, sejam elas globais (universais) ou
locais (particulares), pois tais posturas acabam por ignorar o contexto social no qual
estão inseridos os seres humanos e tendem a excluir do debate os próprios seres
humanos, que acabam sendo concebidos como meio e não m do processo de
garantia de seus direitos.
071
(aproximadamente 1000 habitantes) e poderia garantir que o ecossistema local
supriria as necessidades de sobrevivência do grupo” (PINEZI, 2010) devem ser
realizados dentro de seus contextos sociais e sem preconceitos, pois, a nal, tais
práticas não são muito diferentes da adotada por uma médica que decide abreviar a
vida de pacientes terminais para liberar leitos em UTI, para que eles possam receber
pacientes com melhor prognóstico de vida e é absolvida (NUNES, 2017) ou da decisão
de um tribunal inglês que impediu a transferência para os Estados Unidos de criança
portadora de uma doença rara, que acabou morrendo (G1, 2017).
Se o direito humano à vida é inato, absoluto e universal, como justi car tais condutas?
Elas, na verdade, apenas demonstram que, efetivamente, o direito à vida não possui a
validade universal que a priori lhe é atribuída, ou seja, para ser efetivado, ele depende
do contexto no qual os seres humanos estão inseridos. Assim, essa pergunta, para ser
respondida, depende de um amplo debate, no qual os envolvidos, desprovidos de
qualquer preconceito, possam buscar caminhos para que os direitos humanos sejam
analisados e postos à prova, a m de que, ao nal, se for o caso, sejam
universalizados. Nesse cenário, portanto:
Dessa forma, no que diz respeito aos direitos humanos, não é possível admitir a
homogeneização cultural pretendida pela globalização no aspecto econômico (que se
baseia e tenta justi car um universalismo a priori), tampouco a prevalência do
localismo (que acaba por gerar um universalismo de retas paralelas). Deve-se buscar,
incansavelmente, um universalismo de chegada. Assim, ao analisar os exemplos
apresentados, é bem provável que se chegue à conclusão de que a atuação humana
não foi capaz de criar as “condições sociais, econômicas e culturais” para que o direito
à vida fosse efetivamente respeitado, apesar de garantido não apenas em nível
internacional, mas também nos ordenamentos jurídicos locais.
072
No mesmo sentido, a propriedade privada, que aportou em solo latino-americano
vindo da Europa, pode e deve dialogar com o conceito de propriedade comunitária ou
coletiva, do art. 393 e seguintes da Constituição boliviana (BOLÍVIA, 2019), da mesma
forma que o meio ambiente sustentável, garantido como direito humano por
documentos internacionais pode ser mesclado com o conceito de “pacha mama”
trazido pela Constituição do Equador (ECUADOR, 2008).
Nesse caminho, contudo, como concluiu Joaquín Herrera Flores, “não temos feito mais
que começar.” (HERRERA FLORES, 2007, p. 162).
073
11
Os Direitos Fundamentais
na Constituição de 1988
074
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi generosa na consagração
de direitos fundamentais, tendo destinado o Título II, aos “Direitos e Garantias
Fundamentais” e, nele, tratado no Capítulo I, “Dos direitos e deveres individuais e
coletivos” (art. 5º); no Capítulo II, “Dos direitos sociais” (arts. 6º a 11); no Capítulo III,
“Da nacionalidade” (arts. 12 e 13); no Capítulo IV, “Dos direitos políticos” (arts. 14 a 16);
e no Capítulo V, “Dos partidos políticos” (art. 17).
075
seja parte.
§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004).
Note-se que, para que um tratado ou convenção internacional passe a ter validade no
Brasil, ele precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional, por meio de um Decreto
Legislativo, e, posteriormente, promulgado por meio de um Decreto do Presidente da
República, trâmite que efetivamente ocorreu nos dois casos acima indicados.
Piovesan (2018b, p. 128), contudo, apresenta alguns problemas com a sistemática
adotada pela constituição:
076
tampouco previsão de prazo para que o Presidente da República
rati que o tratado, se aprovado pelo Congresso. Essa sistemática
constitucional, ao manter ampla discricionariedade aos Poderes
Executivo e Legislativo no processo de formação dos tratados, acaba
por contribuir para a afronta ao princípio da boa-fé vigente no
Direito Internacional.
Outra polêmica diz respeito aos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos aprovados antes da Emenda Constitucional nº 45 (BRASIL, 2004), que
passou a exigir o quórum quali cado (3/5) e aprovação de dois turnos de votação
para que os preceitos por eles trazidos passassem a ter status constitucional.
077
Na página da Presidência da República é possível veri car quais os
tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos trazem
preceitos que possuem hierarquia constitucional.
078
12
Solução para a
Colisão de Princípios
079
Na vida em sociedade, seja nas relações entre particulares ou entre estes e o Poder
Público, as normas desempenham papel fundamental para estabelecer as condutas
que devem ser adotadas ou, ainda, as consequências que deverão ocorrer diante de
condutas indesejadas.
As normas, assim, são razões para se agir desta ou daquela forma, dependendo dos
objetivos que se pretende atingir ou as consequências que se pretende evitar.
Também nos con itos de interesses, as normas são importantes para estabelecer
qual interesse deverá prevalecer e qual sucumbirá.
Na maioria dos casos, esses con itos são facilmente solucionáveis pela aplicação das
regras estabelecidas pelo legislador no ordenamento jurídico, regras que, de forma
simples, estabelecem algumas situações nas quais serão aplicadas, existindo outros
casos mais complexos, que demandarão a aplicação de princípios para a solução da
colisão (DWORKIN, 2002, p. 46).
Esses choques serão solucionados de forma diversa, de acordo com a natureza das
normas que se entrechocam, ou seja, dependendo se neles ocorre um con ito de
regras ou uma colisão de princípios.
Outras situações, porém, não admitem a solução do con ito pela inclusão de cláusula
de exceção em uma das regras, ocasião em que teremos de usar outros métodos
para reconhecermos qual regra deverá prevalecer e solucionar o con ito.
080
Dentre esses métodos, poderemos prestigiar a regra mais nova em face da anterior, a
regra especial em face da geral e, ainda, veri car as competências e atribuições para o
estabelecimento das regras, adotando aquela exarada pela autoridade competente
ou hierarquicamente superior. Em todos estes casos, os con itos serão solucionados
pelo reconhecimento de invalidade de uma regra em relação à outra ou de
inaplicabilidade de uma das regras no caso concreto.
Os con itos entre regras, portanto, devem ser solucionados numa perspectiva de
“tudo ou nada” (DWORKIN, 2002, p. 39), em que uma regra é ou não aplicada, não se
admitindo a aplicação gradual delas.
Além do con ito entre regras, algumas vezes nos deparamos com situações nas quais
um princípio impõe uma solução que, por sua vez, acaba por afrontar outro princípio.
As colisões entre princípios, concebidos como mandamentos de otimização, não
admitem uma solução de tudo ou nada e impõem uma ponderação para a sua
resolução.
Diante dessa colisão, precisaremos veri car qual princípio deve prevalecer sobre o
outro, e para tanto, deveremos veri car quais as condições especí cas daquele caso
concreto.
As soluções possíveis para esta colisão de princípios podem ser representadas pelas
seguintes fórmulas, nas quais “p” signi ca a prevalência de um princípio em face do
outro, e “C”, as condições nas quais isto ocorrerá:
1) P1 p P2
2) P2 p P1
081
3) P1 p P2 C 1
4) P2 p P1 C 2
Numa outra colisão entre os mesmos princípios, sob condições diferentes, o princípio
ora preterido poderá prevalecer sobre o outro, sempre de acordo com o caso
concreto. Assim, tal qual o encontro das águas de dois rios de colorações diversas, em
que ora prevalece a coloração de um e ora prevalece a coloração do outro de acordo
com as condições climáticas, como a precipitação pluviométrica enfrentada por eles
no seu curso, também os princípios cedem mutuamente e são aplicados
gradualmente, ora prevalecendo um, ora o outro de acordo com as condições do caso
concreto, mas sempre sobrevivendo e sendo aplicados os princípios colidentes.
082
Importante destacar, ainda, que em todos os casos a constrição de um dos princípios
deverá corresponder à maior aplicação do outro, ou seja, ao limitarmos a aplicação de
um princípio, restringido o seu conteúdo, deveremos, pelo menos na mesma
proporção, ampliar o conteúdo do princípio que concluirmos preponderante naquele
caso.
083
13
Igualdade na
Ordem Constitucional
084
A Constituição de 1988, no caput do seu art. 5º, prevê expressamente que: “Todos são
iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se [...] a
inviolabilidade do direito à [...] igualdade” e complementa em seu inciso I que
“homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta
Constituição”.
A partir de tal preceito e dos demais conceitos que são atribuídos ao princípio da
igualdade, ele frequentemente é analisado em dois aspectos: a igualdade material e a
igualdade formal.
Nas precisas palavras de Boaventura de Souza Santos (2003, p. 56), “[...] temos o
direito a ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a ser
diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma
igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente
ou reproduza as desigualdades”. Assim, tratamento igualitário não é aquele que
possui as mesmas características, mas sim aquele que busca os mesmos resultados,
apesar das diferenças entre as pessoas.
Além dessa igualdade material, também existe a igualdade formal, conhecida como
isonomia, que é a igualdade perante a lei. Segundo essa igualdade formal, todos são
iguais perante a lei, sendo vedadas práticas discriminadoras. Tal preceito está
consagrado no art. 5º de nossa Constituição, o qual sentencia que “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”.
Uma análise mais detida da igualdade formal deixa claro que ela não é su ciente para
garantir direitos e promover justiça, já que tratar igualmente os desiguais acaba
sendo tão injusto quanto tratar desigualmente os iguais, razão pela qual ganha
importância a igualdade material.
Nesse sentido, é bastante interessante a lição de Amartya Sen (2001), que defende
que, por serem as pessoas naturalmente desiguais, é necessário estabelecer quais
aspectos da vida são importantes a ponto de merecerem tratamento materialmente
igualitário e, a partir de então, adotar medidas práticas visando garanti-lo. Tal
085
tratamento igualitário tem um aspecto importante da vida, porém, representará um
reconhecimento, expresso ou tácito, de que outros aspectos da vida serão colocados
em segundo plano.
086
Um instrumento muito utilizado para tentar promover igualdade
material tem sido o estabelecimento de cotas, tanto no ensino
superior, quanto em concursos públicos para cargos do Governo
Federal. Para saber mais sobre o tema, que tal consultar algumas leis?
Veja: BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o
ingresso nas universidades federais e nas instituições federais de
ensino técnico de nível médio e dá outras providências.¹
Muitos defendem uma igualdade plena, mas não se dão conta que, ao tratar
igualmente os desiguais, provavelmente acabaremos por gerar graves violações a
direitos humanos. Por outro lado, estabelecer tratamento desigual para pessoas
iguais também pode resultar em privilégios indevidos.
087
Alguns defendem que a diferença de idade ainda se justi ca porque as mulheres
continuam a suportar de forma mais intensa as atividades domésticas e, portanto,
ostentam uma dupla jornada. Outros, por outro lado, defendem que a igualdade
buscada pelas mulheres em relação aos homens impõe a xação de uma mesma
idade, com as mesmas regras.
Não pretendo apresentar a minha opinião especí ca sobre esse tema, mas acho que
precisamos eliminar de nitivamente de nossos vocabulários, no que diz respeito às
atividades domésticas, as “coisas de homem” e as “coisas de mulher”.
088
14
Liberdade na
Ordem Constitucional
089
No dia 6 de janeiro de 1941, durante o seu discurso do Estado da União, perante o
Congresso norte-americano, o então Presidente Franklin D. Roosevelt defendeu que
aos seres humanos é necessário que sejam garantidas quatro liberdades essenciais: a
liberdade de expressão, a liberdade religiosa, a liberdade de viver sem penúria e a
liberdade de viver sem medo (COMPARATO, 2018).
Liberdade de expressão
A liberdade de expressão, no caso do Brasil, é expressamente prevista na Constituição
de 1988 que, em seu art. 5, inciso IV, estabelece que “é livre a manifestação do
pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988) e, em seu inciso IX, que “é
livre a expressão da atividade intelectual, artística, cientí ca e de comunicação,
independentemente de censura ou licença.” (BRASIL, 1988).
090
Apesar disso, é possível extrair do texto da Constituição de 1988 que a liberdade de
cátedra, bem como as demais liberdades previstas no texto espanhol, também estão
amparadas pela liberdade de expressão.
Esse respeito mútuo em caso de discursos dissonantes, infelizmente, tem sido raro há
alguns anos, num contexto em que “esquerda” e “direita” elegem-se mutuamente
como inimigos, alimentando um discurso de ódio que se alimenta de si mesmo
(MACHADO; DIAS; FERRER, 2018).
Claro que os excessos devem ser prevenidos e, caso ocorram, punidos, mas é
necessário que a liberdade de expressão reencontre o campo do diálogo, no qual
juntos possamos construir as melhores soluções para todos. Precisamos,
de nitivamente, substituir o “eu” e o “outro” pelo “nós”!!
Liberdade religiosa
A liberdade religiosa, em certa medida, foi substituída pelo conceito do princípio da
liberdade de crença e não crença. Claro que não se trata de um conceito novo, mas
me pareceu bastante interessante a utilização dessa expressão e não a expressão que
é mais usual, que é a do princípio da liberdade religiosa.
O atual fundamento jurídico para ambos os princípios é encontrado no art. 5º, inciso
VI, da Constituição, que prevê que “é inviolável a liberdade de consciência e de crença,
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a
proteção aos locais de culto e a suas liturgias”.
Realmente, quando optamos por utilizar a expressão “liberdade religiosa”, parece que
estamos excluindo a possibilidade de um cidadão optar pela “não religião”, ou seja, a
liberdade que cada um tem de ser ateu. Neste ponto, a adoção do princípio de crença
e não crença traz explícita esta possibilidade.
091
Este suposto detalhe é bastante importante, pois é crescente o número de pessoas
que declaram ser ateias. No caso do Brasil, não existem dados o ciais, mas existem
países em que os ateus são a maioria. A título de exemplo, na Suécia, 85% da
população é ateia ou não tem religião (SANT’ANA, 2018). Impossível imaginar que
estas pessoas ateias não possuam o direito de não professar qualquer crença.
Além disso, ao usarmos o princípio da liberdade religiosa, pode-se argumentar que
acabamos por restringir a liberdade das pessoas, pois estas, em tese, estariam na
posição de poder escolher sua religião dentre um rol pré-estabelecido de religiões
existentes e reconhecidas.
Assim, estariam excluídas aquelas pessoas que, a despeito de não serem ateias, não
se identi cam com qualquer religião especí ca e, assim, consideram-se “sem religião”.
Este grupo é dos que mais cresce no Brasil (junto com os que se declaram
evangélicos) e já representam 8% da população segundo dados do Censo de 2010 do
IBGE (G1, 2012).
É certo que alguns autores defendem que a liberdade religiosa é mais ampla e inclui a
opção de escolher qualquer prática religiosa mesmo que ela não seja reconhecida
o cialmente, ou seja, o cidadão poderia optar por uma religião só dele, uma religião
própria e individual.
Assim, nas palavras do Ministro Marco Aurélio, no julgamento da ADPF 54/DF (BRASIL,
2013):
092
que as religiões não guiarão o tratamento estatal dispensado a
outros direitos fundamentais, tais como o direito à
autodeterminação, o direito à saúde física e mental, o direito à
privacidade, o direito à liberdade de expressão, o direito à liberdade
de orientação sexual e o direito à liberdade no campo da
reprodução.
093
15
Fraternidade na
Ordem Constitucional
094
A Constituição brasileira de 1988 não possui, em seu texto, a palavra “fraternidade”
como era de se esperar, já que ela, ao lado da igualdade e da liberdade, compõe os
ideais que inspiraram o movimento iluminista que resultou na Revolução Francesa,
marco na consagração dos direitos humanos.
Assim, o agir solidário pressupõe uma preocupação com o outro e com o seu bem-
estar, pois o objetivo é que o viver bem seja uma realidade compartilhada por todos
dentro da sociedade. Nas palavras de Eros Grau (2006, p. 215):
095
– a energia que vem da densidade populacional fraternizando e não
afastando os homens uns dos outros.
Assim, a distribuição das vantagens e onerosidades não deve se dar apenas entre a
presente geração, mas também envolver as futuras gerações de forma a permitir que
eles possam ter garantido um meio ambiente equilibrado. Em razão disso, ao adotar
medidas no presente, há que se pensar no futuro, também.
096
Esse é um grande desa o, pois, conforme nos alerta Oscar Vilhena Vieira, muitas
vezes os seres humanos não são aptos a identi car e proteger as suas metas de longo
prazo, que “constantemente são subavaliadas por maiorias ávidas por maximizar seus
interesses imediatos” (VIEIRA, 1997, p. 54). Em razão dessa tendência para a não
solidariedade, as Constituições modernas acabam adotando mecanismos de
autolimitação ou pré-comprometimento, que atuariam como reserva de justiça
(VIEIRA, 1997) e muitos deles baseados na solidariedade, inclusive intergeracional.
Nos dois casos, todos contribuem para todos, numa lógica de solidariedade que é da
essência dos referidos sistemas.
097
Uma opção para o sistema baseado na solidariedade é o chamado de
sistema de capitalização. No caso da Previdência Social, com o sistema
de capitalização, o trabalhador recolheria contribuições para a própria
aposentadoria. O mesmo ocorreria no caso dos Planos de Saúde, no
qual o consumidor recolheria mensalidades para uma conta individual
e, posteriormente, ao realizar procedimentos, descontaria os
respectivos valores da mencionada conta. O tema é bastante polêmico
e ainda causa bastante insegurança (BRASIL. Senado Federal.
Capitalização prevista na reforma da previdência provoca incertezas).
098
16
099
Um dos livros mais famosos do jus lósofo Norberto Bobbio se chama “A Era dos
Direitos”. Nele, o autor italiano defende que já não precisamos discutir a origem dos
direitos ou mesmo os seus fundamentos, uma vez que eles já foram estabelecidos,
cabendo, a partir de agora, começar a discutir como efetivar tais direitos.
Tenho algumas reservas com relação a esta a rmação, pois a maioria dos ditos
“direitos humanos” atualmente vigentes foram estabelecidos no mundo ocidental, por
homens, religiosos, brancos, heterossexuais, magros e proprietários.
A consequência disso é que muitos dos direitos vigentes não se aplicam às pessoas
que não preenchem os pré-requisitos dos seus criadores, ou seja, muitas vezes as
mulheres, os não religiosos, os negros, os de cientes, os homossexuais, os gordos e
os trabalhadores não proprietários são simplesmente excluídos do rol de pessoas
reconhecidas como titulares de direitos. Na aula de hoje, porém, não pretendo
analisar os direitos das minorias, mas sim os deveres da maioria.
Neste aspecto, é interessante observar que falamos muito de direitos e, por outro
lado, quase não discutimos os nossos deveres. Infelizmente, em nosso dia a dia, é
comum pessoas que acham que elas apenas têm direitos, sendo impensável imaginar
que tais direitos possam trazer, como acompanhamento, um rol de deveres. O outro,
nessa lógica, não é concebido como alguém também titular de direitos. O outro é,
simplesmente, o inimigo.
Essa postura é lamentável, uma vez que faz com que a vida em sociedade perca muito
de seus atrativos e, às vezes, se torne um fardo quase que insuportável de ser
carregado. É imprescindível uma mudança de paradigma, com a adoção de uma nova
lógica que reconheça que, além dos direitos, que devem ser respeitados por todos e
pelo Poder Público, também temos deveres que precisamos observar, não apenas em
relação ao outro e à natureza, mas, também, em face do Poder Público.
100
Ao lado de tais deveres, existem autônomos, como o dever de pagar impostos, o
dever de fazer com que a propriedade cumpra a sua função social, dever de defesa da
pátria, etc. São deveres que não estão diretamente relacionados a direitos
fundamentais (CANOTILHO, 1998).
Interessante destacar que nos Sistemas de Direitos Humanos, tanto Global quanto
Regionais, apenas a Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos apresenta uma
concepção de deveres ao lado dos direitos, partindo da premissa de que “o gozo dos
direitos e liberdades implica o cumprimento dos deveres de cada um.” (PIOVESAN,
2018a, p. 248).
Além disso, segundo Canotilho, apesar de não existir uma divisão clara, é possível
“detectar deveres primordialmente cívico-políticos (dever de defesa da pátria, dever
de voto), e deveres de caráter econômico, social e cultural (dever de defender a saúde,
dever de defesa do patrimônio)” (CANOTILHO, 1998, p. 480).
101
Ao lado de tais deveres, é importante reconhecer que a Administração Pública (uma
das facetas do Estado) também passou por um processo de evolução, pois, se
inicialmente à Administração Pública bastava prestar serviços, com o passar do
tempo, ela também passou a ter como uma de suas obrigações atuar da forma mais
transparente possível e dando ouvidos ao cidadão, cuja opinião e manifestação
ganharam relevância na tomada de decisões pela Administração Pública.
Assim, como se vê, precisamos reconhecer que vivemos numa era de direitos e
deveres, cabendo a cada um de nós a busca por uma vida digna de ser vivida, a partir
de um pacto de respeito recíproco.
102
Material Complementar
LIVRO
LIVRO
WEB
103
Conclusão
Para o significado da palavra contexto, podemos conceber um determinado
momento na história de uma cidade, estado ou país, como também uma
situação específica na qual uma pessoa ou instituição se encontra. Assim, o
estudo do contexto é de extrema importância quando se pretende analisar
um fato, uma vez que as circunstâncias que permeiam a sua ocorrência
podem ser decisivas para a sua compreensão.
104
Tais pessoas dão concretude ao ensinamento de Gilles Deleuze, que sustenta
que “a vida não pode fixar-se em uma descrição que imobilize o seu poder de
mudança e devenir. Ou, em outras palavras, a vida não se define pelo que é,
mas sim pelo que pode ser, pelo poder de um corpo de afetar e ser afetado,
de multiplicar conexões, de criar novas relações, de aumentar sua capacidade
de atuar”.
Assim, convido a todos os alunos a viverem seus sonhos e projetos para que
possam construir um futuro melhor; construir um novo contexto no qual a vida
seja cada dia mais digna de ser vivida.
(Texto escrito em homenagem aos meus filhos, Arthur e Márcio que, apesar de
terem nascido nesse contexto aparentemente não tão positivo, tenho certeza
que terão condições de lutar por um futuro melhor, um melhor devenir).
105
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