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UNIVERSIDADE PAULISTA

LUANA CAROLINA DE ALMEIDA

REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA

Santana de Parnaíba
2011

1
LUANA CAROLINA DE ALMEIDA

REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA

Apresentação da monografia a Universidade


Paulista para a obtenção do título de Bacharel em
Direito, sob orientação do Professor Dr. Marcelo
Pietro Iacomini.

Santana de Parnaíba
2011

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Parecer final:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Nota obtida: ________________

Santana de Parnaíba, _____ de ___________________ de 2011.

Professor Orientador: _______________________________


Marcelo Pietro Iacomini

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, gostaria de agradecer a todos os professores do curso que


dedicaram os alguns instantes de suas vidas para repassaram os seus
conhecimentos tão preciosos.
Enfim, gostaria de agradecer do fundo do meu coração a ajuda e colaboração da
minha família. Pai, obrigada pela dedicação e por todas as conversas e incentivos.
Mãe, a minha fortaleza, sem palavras para agradecer tanto amor. Lala, estarei
sempre ao seu lado. Dan, que o nosso futuro seja eterno.

4
SUMÁRIO

Tema: Reorganização Societária


INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
CAPÍTULO I – DAS SOCIEDADES
1- NOÇÕES GERAIS .......................................................................................... 9
2- SOCIEDADE LIMITADA ................................................................................ 10
3- SOCIEDADE ANÔNIMA ............................................................................... 12
3.1) Distinção entre companhia aberta e fechada ........................................ 13
3.2) Sociedade anônima de capital aberto .................................................... 14
3.3) Assembleia geral.................................................................................... 15
3.4) Conselho de administração .................................................................... 20
3.5) Diretoria.................................................................................................. 22
3.6) Conselho Fiscal...................................................................................... 23
3.7) Comissão de valores mobiliários (CVM) ................................................ 24
CAPÍTULO II – REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA
1- NOÇÕES GERAIS ........................................................................................ 28
2- TRANSFORMAÇÃO SOCIETÁRIA ............................................................... 28
3- INCORPORAÇÃO SOCIETÁRIA .................................................................. 29
4- FUSÃO SOCIETÁRIA ................................................................................... 31
5- CISÃO SOCIETÁRIA .................................................................................... 32
6- PROTOCOLO E JUSTIFICAÇÃO ................................................................. 33
7- DIREITO DOS CREDORES .......................................................................... 34
8- DIREITO DE RETIRADA ............................................................................... 35

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 38
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 40

5
INTRODUÇÃO

O Direito Societário Brasileiro, desde a sua última reforma do Código Civil


no ano de 2002, vem apresentando diversas mudanças e se destacando no ramo do
Direito Empresarial.
Numa pesquisa recente realizada entre as empresas brasileiras de
grande porte, pode-se constatar que as movimentações societárias realizadas desde
2007 atingiram o valor de aproximadamente de 120 bilhões de reais em compras1
(aquisições, fusões, incorporações, etc.).
Entre as dez maiores operações em 2011, três foram realizadas no
terceiro trimestre com volume de R$ 10 bilhões. Além das operações da Schincariol
e da Cia Brasileira de Metalurgia e Mineração, também houve a OPA (Oferta Pública
de Ações) da Vale Fertilizantes que movimentou R$ 2,2 bilhões. Em número de
operações, 70 foram fechadas, duas a mais que no período de janeiro a setembro
do ano anterior(2010).
No ranking da ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos
Mercados Financeiro e de Capitais), em nove meses, o Santander lidera no mercado
de fusões e aquisições com volume de R$ 16,382 bilhões, seguido pelo Morgan
Stanley com R$ 13,486 bilhões; JP Morgan com R$ 12,828 bilhões; HSBC com R$
11,329 bilhões e BES com R$ 11,123 bilhões. Entre o sexto e décimo do ranking
figuram Caixa Geral com R$ 11,067 bilhões; Bofa Merrill Lynch com R$ 10,656
bilhões; BR Partners com R$ 5,071 bilhões. O Itaú BBA e Itaú aparece em nono com
R$ 4,924 bilhões e o Citigroup encerra o décima posição com R$ 4,805 bilhões no
segmento2.
Tendo em vista a ascensão do Direito Societário Brasileiro, este trabalho
buscou introduzir o tema, desde o início (composição de uma sociedade) até as
possíveis movimentações (reorganização societária).
No primeiro momento, cumpre destacar e explicar, o que é uma
sociedade, desde sua natureza, suas diferentes espécies e diversos tipos
societários. Diante do conceito amplo, foi necessário afunilar o tema, ressaltando a

1
Revista EXAME – Edição 1002 – ano 45 – número 20 – 19/10/2011
2
http://www.dealmaker.com.br/blog/index.php/2011/11/18/fusoes-e-aquisicoes-somam-r233-bilhoes-no-
trimestre/

6
sociedade limitada, tipo societário mais presente dentre as sociedades existentes no
Brasil.
Ocorre que o tipo societário que impulsiona a economia brasileira, devido
as grandes movimentações societárias, é a sociedade anônima de capital aberto,
razão pela qual esse tipo societário teve maior abrangência neste trabalho. Foram
apresentados seus conceitos, características, formas de constituição e os órgãos da
administração.
Por fim, após o entendimento básico de como funciona uma sociedade,
foi a vez de compreender as possíveis movimentações que a mesma poderá
realizar.
Essas movimentações são chamadas de reorganizações societárias,
dentre elas ressaltou-se a transformação, incorporação, fusão e cisão.

7
CAPÍTULO I

DAS SOCIEDADES

8
1- NOÇÕES GERAIS

O Direito Societário Brasileiro define as sociedades considerando a sua


natureza, havendo uma divisão inicial em sociedade não personificada e sociedade
personificada.
A sociedade não personificada é aquela desprovida de personalidade
jurídica, ou seja, há ausência de registro de seus atos constitutivos. Essa ausência
de registro tem por efeito apenas a ausência de atribuição de personalidade, não
tornando ilícito o contrato de sociedade.
Dentre as diversas possibilidades jurídicas de sociedade não
personificada, o legislador tipificou duas situações específicas: a sociedade em
comum (CC, artigos 986/990) e a sociedade em conta de participação (CC artigos
991/996).
Na sociedade personificada, a existência de personalidade jurídica, atribui
direitos e obrigações, dentre eles a titularidade processual (demandar judicialmente)
e titularidade patrimonial (possui patrimônio próprio e distinto do patrimônio de seus
sócios). Esse tipo societário se divide em sociedade simples e sociedade
empresária:

o Sociedade simples é o tipo societário criado como regra geral para


sociedades não empresárias (profissão intelectual, de natureza científica,
literária e artística), previstas entre os artigos 997 a 1.038 do CC;

o Sociedade empresária é a pessoa jurídica de direito privado que irá exercer a


sua atividade na forma de empresário e que tem por objeto o exercício de
atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
de serviços, conforme estabelecido no artigo 9823, CC. Ex.: Sociedade em
Nome Coletivo (CC, artigos 1.039 a 1.044); Sociedade em Comandita Simples
(CC, artigos 1.045 a 1.051); Sociedade Limitada (CC, artigos 1.052 a 1.087);

3
Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o
exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais.

9
Sociedade Anônima (CC, artigos 1.088 e 1.089) e Sociedade em Comandita
por Ações (CC, artigos 1.090 a 1.092).

Todos esses tipos societários possuem particularidades, porém, iremos


nos aprofundar em apenas dois deles: a sociedade limitada e a sociedade anônima.

2- SOCIEDADE LIMITADA

A sociedade limitada é o tipo societário da maioria das sociedades


registradas no Brasil. Esse sucesso deve-se a duas principais características: a
limitação da responsabilidade dos sócios e a contratualidade.
A limitação da responsabilidade representa importante ferramenta para
conferir aos investidores (potenciais sócios) uma forma mais segura de organização
societária, diante dos riscos do negócio. Outra característica importante da
sociedade é a contratualidade, que pauta as relações entre os sócios nas
disposições de vontade destes, sem os rigores previstos na lei da sociedade
anônima.
Na sociedade limitada, os sócios são responsáveis apenas pelo valor da
quota ou quotas sociais que subscrevem e, assim, devem adimplir, como se afere do
artigo 1.052 do Código Civil4. Quotas ou cotas sociais são frações do capital, que
representa a parte do capital social imputada ao seu titular, conferindo-lhe direitos e
obrigações. (CC, art. 1.055 e ss). Qualquer pessoa, física ou jurídica, pode se tornar
sócio em uma sociedade, obrigando-se a contribuir para o patrimônio da mesma
com o aporte de capital, o que lhe dará, em contrapartida, o direito de receber cotas
do capital. Esse ato de se obrigar ao aporte de capital é a subscrição.
Os valores das quotas podem ser livremente estipulados pelos sócios,
porém deverão ter o seu valor expresso em moeda corrente nacional. Vale ressaltar,
que a lei não estipula qualquer limite para o capital e para a participação societária.
Sendo assim, não há em que se falar em capital social mínimo, nem capital social
máximo.

4
Art. 1.052. Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas
todos respondem solidariamente pela integralização do capital social – Código Civil 2002.
10
O que dará a legitimidade de sócio ao subscritor da quota é o ato de
integralização, que ocorre quando há o cumprimento da obrigação contraída no ato
da subscrição. Caso a integralização não seja realizada no prazo previsto, o sócio
deverá ser constituído em mora, mediante notificação para se, querendo, integralizar
o capital no prazo de 30 (trinta) dias.
Se mesmo após a concessão do prazo acima informado o sócio (sócio
remisso) permanecer em mora, poderão os demais sócios tomar as quotas para si
ou transferí-las para terceiro, hipótese em que o remisso será expulso da sociedade.
Depois da integralização, o sócio adquire a cota e adquire ao mesmo
tempo a posição definitiva de sócio. A quota representa, portanto, o conjunto de
direitos e deveres que são inerentes à posição de sócio.
Definido os sócios, outro passo importante para a constituição da
sociedade limitada é a escolha de seus administradores.
A administração na sociedade limitada será realizada por uma ou mais
pessoas designadas no contrato social ou em ato separado, podendo ser os
administradores sócios ou não, desde que permitido no contrato social.
No caso do administrador não sócio, dentre as diversas restrições, a
principal destaca que dependerá da aprovação por unanimidade dos sócios, no caso
do capital não estar totalmente integralizado, e de dois terços, no mínimo, após a
integralização.
A administração da sociedade poderá ser outorgada a uma única pessoa,
porém é lícito indicar dois ou mais administradores, sócios ou não, que poderão agir
isoladamente ou em conjunto perante terceiros.
Após as definições acima realizadas e para a efetiva constituição da
sociedade limitada será necessário a elaboração de contrato social, no qual deverá
conter as seguintes informações:

(a) Qualificação dos sócios - que poderão ser pessoas físicas ou jurídicas;
(b) Qualificação da sociedade – identificação da sociedade perante terceiros;
(b.1) nome – identificação individual da pessoa jurídica;
(b.2) objeto social – finalidade da sociedade;
(b.3) sede – varias funções dentre elas definir quem tem competência para
determinados atos. Ex.: registro na Junta Comercial;

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(b.4) prazo de duração da sociedade;
(b.5) capital social – investimentos na sociedade;
(b.6) administradores – a sociedade é um ente abstrato que deverá possuir
pessoas naturais que exteriorizem sua vontade.

Após a elaboração do contrato social e para que terceiros tenham


conhecimento da existência da sociedade será necessário o registro do contrato
perante a Junta Comercial do Estado em que fica localizada a sede da companhia.

3 - SOCIEDADE ANONIMA

A sociedade anônima é uma pessoa jurídica de direito privado, em que o


capital social é dividido em ações de igual valor nominal.
O Código Civil dispõe sobre a sociedade anônima nos arts. 1.088 e 1.089,
porém a lei especial que rege ela como um todo é a Lei n. 6.404/76, com alterações
das Leis n. 9.457/97 e n. 10.303/01.
Há diversas características que difere a sociedade anônima dos demais
tipos societários, seguem algumas das principais diferenças:

(a) O capital é dividido em partes, em regra, de igual valor nominal, são as ações,
que são títulos representativos da participação societária no capital da companhia;
(b) O titular da ação é chamado acionista;
(c) A responsabilidade dos sócios vai até o preço da emissão das ações que
subscrever ou adquirir, não respondendo os subscritores perante terceiros pelas
obrigações assumidas pela sociedade;
(d) A sociedade será designada por denominação ou fantasia como nome
empresarial, devendo ser acrescida da palavra sociedade anônima (S/A) ou da
palavra Companhia (CIA), sendo que a última expressão só pode ser colocada no
início ou no meio do nome empresarial;
(e) O órgão deliberativo máximo é a Assembleia Geral que tem competência para
aprovar e reformar os estatutos sociais, eleger seus dirigentes (conselho de

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administração e diretoria), seus fiscais (conselho fiscal), aprovar, a cada ano, as
contas da diretoria.
Os órgãos acima mencionados não possuem personalidade jurídica
própria, ou seja, o titular de direitos e obrigações será sempre a sociedade anônima.
Sendo assim, entende-se que os órgãos apenas exteriorizam a vontade
da pessoa jurídica.
Vale ressaltar, que essa exteriorização deverá ser feita dentro dos limites
de cada órgão da sociedade anônima. Desta forma, a assembleia geral se manifesta
em relação à aprovação das contas dos administradores e definição das normas
estatutárias; o conselho de administração responsabiliza-se pela escolha dos
diretores e emissão de novas ações no limite do capital social integralizado; o
conselho fiscal realiza a convocação da assembleia geral, e por fim a diretoria
manifesta a vontade da companhia durante as assinaturas de contrato e demais
manifestações de vontade.
Dentro dessa organização, segundo Fábio Ulhôa Coelho os órgãos
classificam-se em divisíveis (diretoria e conselho fiscal) e indivisíveis (assembleia
geral e conselho de administração). Os divisíveis são aqueles que podem atuar
mediante vontade individual de um de seus membros, bem como, através do
colegiado. Já os indivisíveis só poderão se manifestar diante de todos os membros
do respectivo órgão.

3.1) DISTINÇÃO ENTRE COMPANHIA ABERTA E FECHADA

Na Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76) a distinção entre a


companhia aberta e fechada é definida no art. 4:

Art. 4: Para os efeitos desta lei, a companhia é aberta ou fechada


conforme os valores mobiliários de sua emissão estejam ou não
admitidos à negociação no mercado de valores mobiliários.

13
A companhia aberta é aquela em que os valores mobiliários5 (ações6,
debêntures7, bônus de subscrição8) são passíveis de negociação junto às bolsas de
valores ou mercado de balcão. Já a companhia fechada é aquela que não emite
valores mobiliários passíveis de negociação. Vale ressaltar que devido a companhia
aberta captar recursos junto a investidores em geral, deverá ter prévia autorização
do governo, registrando seus valores mobiliários no órgão governamental próprio,
neste caso, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
A sociedade anônima é uma pessoa jurídica de direito privado, portanto
poderá figurar como sujeito de direito e obrigações em diversas relações jurídicas.
Desta forma, a companhia deverá ter uma nacionalidade, uma denominação, uma
sede e um patrimônio absolutamente distintos daqueles dos seus acionistas.
Diante dos tipos societários pesquisados, a organização societária que
iremos nos aprofundar abrangerá a sociedade anônima de capital aberto.

3.2) SOCIEDADE ANONIMA DE CAPITAL ABERTO

Diz-se companhia ou sociedade de capital aberto quando os valores


mobiliários de sua emissão são admitidos à negociação no mercado de valores
mobiliários (art. 4º da Lei 6.404/76), ou seja, negociações em bolsa ou no mercado
de balcão. Ressalte-se que para a emissão de ações, é necessário, autorização e
controle da Comissão de Valores mobiliários - CVM.
O investimento em companhias ou sociedades de capital aberto dá-se
quando se objetiva um grande empreendimento, para o que é necessária a captação
de recursos viáveis junto aos investidores em geral. Assim sendo, é necessário um

5
Valores mobiliários – são títulos emitidos com o propósito de possibilitar a captação de recursos e que
representam para aqueles que o adquirem um investimento.
6
Espécies: Ordinária – direitos comuns de sócios, sem privilégios, vantagens ou restrições; Preferencial – atribui
ao seu titular vantagens; Fruição – emitida pela Cia em substituição as ações ordinárias e preferenciais que
tiveram seu valor amortizado.
7
Espécie de valor mobiliário emitida por Cias abertas ou fechadas com valor nominal e que confere ao seu
titular direitos de crédito contra a Cia, nos termos da escritura de emissão e, se houver, no certificado.
8
Espécie de valor mobiliário emitida por Cias de Capital Autorizado, que confere ao seu titular direito de
preferencia na subscrição de novas ações que venham a ser emitidas pela Cia.
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grande aporte de capital para atingir os objetivos especificados.
Uma das principais vantagens nesta espécie de sociedade é a liquidez do
capital. Um empreendedor que investe seu dinheiro neste tipo de companhia terá
mais vantagens quando da venda de suas ações, pois é negociada na bolsa de
valores e balcão, cuja venda pode se realizar rapidamente, considerando a
segurança da sua aplicabilidade, especialmente se o empreendimento é uma
sociedade próspera e age com seriedade.
Trata-se de companhias fiscalizadas rigorosamente pelo governo, que
objetiva resguardar o investimento dos acionistas minoritários.
As sociedades anônimas abertas contam com recursos captados no
mercado de capitais, e, por isso, sujeitam-se a sua administração à fiscalização
governamental. O objetivo desse controle é conferir ao investimento em ações e
outros valores mobiliários dessas companhias a maior segurança e liquidez possível.
No sentido de dispensar ao investidor maior segurança é que neste tipo
de sociedade o Estado se sente na obrigação de manter severa fiscalização e
controle, dando publicidade de todos os atos nela praticados, especialmente no
sentido de resguardar os interesses dos acionistas em particular e também dos
interesses sociais, este último de visível cunho nesse tipo de sociedade de capital,
posto que com o investimento de diversas pessoas do público da sociedade em
geral, podendo advir consequências benéficas ou maléficas de acordo com a
administração proferida nas mesmas, o que pode gerar insegurança, cujo objetivo
está fora das expectativas do poder estatal.

3.3) ASSEMBLEIA GERAL

Na hierarquia estrutural a assembleia geral é o órgão máximo da


sociedade anônima. Sendo assim, o mesmo assume a função de discutir, votar e
deliberar sobre qualquer assunto do interesse geral da sociedade, inclusive dos
problemas administrativos, conforme estabelecido no art. 121 da Lei das Sociedades
Anônimas (Lei n. 6.404/76).

Art. 121. A assembleia geral, convocada e instalada de acordo com a


lei e o estatuto, tem poderes para decidir todos os negócios relativos
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ao objeto da companhia e tomar as resoluções que julgar
convenientes à sua defesa e desenvolvimento.

Embora seja considerada a instância superior da sociedade anônima, e


com poderes para deliberar sobre quaisquer assuntos, a assembleia geral costuma
ser convocada apenas nas hipóteses em que lei determina. Sendo assim, vale
destacar as competências privativas da assembleia geral, segundo Fabio Ulhôa
Coelho:

(a) reforma do estatuto social;


(b) eleição e destituição da diretoria, se não existir o conselho de administração;
(c) eleição e destituição do conselho de administração, se existente;
(d) eleição e destituição do conselho fiscal;
(e) julgamento da prestação anual de contas dos administradores;
(f) votação das demonstrações financeiras anuais da companhia;
(g) autorização para a emissão de debêntures, exceto nas companhias abertas, se
não houver cláusula de conversibilidade nem outorga de garantia real (hipótese em
que a competência da assembleia não é privativa);
(h) emissão das partes beneficiárias;
(i) aprovação da avaliação dos bens oferecidos por acionistas, a título de
integralização de ações;
(j) suspensão de direitos de direitos de acionistas;
(l) deliberação sobre as operações de transformação, fusão, incorporação e cisão;
(m) dissolução e liquidação, incluindo eleição e destituição do liquidante, bem como
votação de suas contas;
(n) autorização prévia para pedido de autofalência e requerimento de recuperação
judicial, ou, em caso de urgência, ratificação desses atos.

A dinâmica da assembleia varia conforme o controle exercido sobre a


companhia. Esse controle poderá ser de diversos tipos: totalitário, majoritário e
minoritário.
No controle totalitário, todas (ou quase todas) ações com direito a voto na
sociedade anônima estão concentradas em uma única pessoa. Quando há o
controle majoritário a maioria das ações votantes encontra-se em posse do acionista
16
controlador, porém alguns acionistas minoritários poderão unir suas ações em
quantidades suficientes para decisões nas assembleias.
Na última hipótese, do controle minoritário, o acionista controlador possui
menos da metade das ações com direito a voto. Ocorre que, neste caso, o poder
não é estável, sendo possível a perda do controle.
As espécies de assembleia geral são definidas em lei, sendo distintas em
razão da matéria de votação e classificadas em: Assembleia Geral Ordinária (AGO)
e Assembleia Geral Extraordinária (AGE).
A Lei das S/A define as matérias que são competentes a cada espécie de
assembleia. Conforme art. 132, incisos I e II são temas característicos da AGO:

(a) o julgamento das contas dos administradores;


(b) a votação das demonstrações financeiras;
(c) a deliberação da destinação do lucro líquido do exercício e;
(d) a distribuição de dividendos.

A assembleia geral ordinária não pode apreciar mais nenhuma outra


deliberação, exceto quando deliberar a eleição de administradores e membros do
conselho fiscal. Vale ressaltar que a última matéria não é típica da sessão ordinária,
podendo ser deliberada através da AGE.
A AGO realiza-se uma vez por ano, nos 04 meses seguintes ao término
do exercício social, e somente pode deliberar os assuntos listados no art. 132 da
LSA. A outra (AGE) realiza-se a qualquer tempo, e sua competência é irrestrita,
podendo ser convocada quando a matéria de votação não for restrita a AGO.
Pela regra geral, é competente para convocar as assembleias o conselho
de administração ou outro órgão deliberativo da estrutura societária.

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O conselho de administração é órgão obrigatório apenas para as
sociedades anônimas abertas, de economia mista ou com capital autorizado. Sendo
assim, naquelas companhias em que o conselho não existe, a competência geral
para a convocação de assembleias é atribuída legalmente aos diretores (art. 123,
caput, LSA9).
A regra é a exposta anteriormente, porém excepcionalmente, a
convocação pode ser feita pela própria assembleia, pelo conselho fiscal ou por
acionista e/ou acionistas.
O conselho fiscal pode convocar a assembleia geral em duas situações
(arts. 123, parágrafo único, a, e 163, v). Em primeiro lugar, se o conselho de
administração ou, quando inexistente este, os diretores retardam a convocação da
AGO em mais de um mês; e a segunda situação, em que o conselho fiscal é
investido de competência para chamar a assembleia, caracteriza-se com a
verificação de motivos graves ou urgentes.
Acionistas, por sua vez, podem convocar assembleia em quatro situações
de inércia dos órgãos de administração:

(a) quando a reunião for obrigatória por lei ou pelo estatuto;


(b) para instalação do conselho fiscal;
(c) para apreciação de matérias que reputam relevantes;
(d) para deliberar sobre conflito de interesses inibidor do exercício do direito de voto.

A última hipótese de convocação da assembleia geral a se considerar não


está especificamente prevista em lei, mas é admitida pela doutrina. Trata-se de
convocação pela própria assembleia que é o órgão deliberativo superior, na
estrutura da sociedade anônima, e pode deliberar sobre qualquer assunto do
9
Art. 123 - Compete ao conselho de administração, se houver, ou aos diretores, observado o disposto no
estatuto, convocar a assembleia geral. Parágrafo único - A assembleia geral pode também ser convocada:
a) pelo conselho fiscal, nos casos previstos no número V, do Art. 163;
b) por qualquer acionista, quando os administradores retardarem, por mais de 60 (sessenta) dias, a
convocação, nos casos previstos em lei ou no estatuto;
c) por acionistas que representem 5% (cinco por cento), no mínimo, do capital votante, quando os
administradores não atenderem, no prazo de 8 (oito) dias, a pedido de convocação que apresentarem,
devidamente fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas.
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interesse social, não há como negar à assembleia a competência para se
autoconvocar, desde que obedecidas as formalidades e condições legais relativas
ao modo de convocação.
A convocação se faz mediante publicação de anúncio, chamando os
acionistas a se reunirem em assembleia. São requisitos indispensáveis à
regularidade do anúncio:

(a) indicação do local em que se realizará a reunião;


(b) data de realização;
(c) hora do início dos trabalhos;
(d) ordem do dia;
(e) se for companhia aberta, deverá disponibilizar a pauta da eleição do conselho de
administração, o edital deve informar o percentual mínimo de participação acionária.

O anúncio convocatório deve ser publicado, no mínimo, por três vezes


nos veículos mencionados pela lei (art. 289 - LSA10), e, se aberta a companhia,
também nos exigidos pela CVM. Nas sociedades anônimas abertas, o prazo de
antecedência da primeira convocação é de 15 dias e o da segunda, 08 dias.
Quando é extraordinária a assembleia geral, a lei exige mais um requisito
para a regular convocação: os documentos pertinentes às matérias a serem

10
Art. 269. O grupo de sociedades será constituído por convenção aprovada pelas sociedades que o
componham, a qual deverá conter: I - a designação do grupo; II - a indicação da sociedade de comando e das
filiadas; III - as condições de participação das diversas sociedades; IV - o prazo de duração, se houver, e as
condições de extinção; V - as condições para admissão de outras sociedades e para a retirada das que o
componham; VI - os órgãos e cargos da administração do grupo, suas atribuições e as relações entre a
estrutura administrativa do grupo e as das sociedades que o componham; VII - a declaração da nacionalidade
do controle do grupo; VIII - as condições para alteração da convenção. Parágrafo único. Para os efeitos do
número VII, o grupo de sociedades considera-se sob controle brasileiro se a sua sociedade de comando está sob
o controle de: a) pessoas naturais residentes ou domiciliadas no Brasil; b) pessoas jurídicas de direito público
interno; ou c) sociedade ou sociedades brasileiras que, direta ou indiretamente, estejam sob o controle das
pessoas referidas nas alíneas a e b.

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discutidas e votadas devem ser postos à disposição dos acionistas, na sede da
companhia, ao se publicar o primeiro anúncio convocatório.
A convocação da assembleia é um ato formal, indispensável à validade
das deliberações nela adotadas, salvo se presentes todos os acionistas, inclusive os
não titulares do direito de voto.
A assembleia geral é uma reunião privada, somente tendo acesso os
acionistas (por si ou por procuradores), ou seus advogados. A lei prevê, também, a
eventual presença de membros de outros órgãos societários, para esclarecimentos
dos acionistas. Ninguém mais está legitimado a presenciar os trabalhos, salvo se
convidado ou convocado pela mesa diretora.
A direção dos trabalhos da assembleia geral cabe à mesa, composta na
forma estipulada em estatuto ou eleita pelos acionistas. Cabe aos seus integrantes
racionalizar a discussão e votação dos pontos de pauta, com o objetivo de garantir
aos acionistas presentes o pleno exercício do direito de voz e voto.
Os trabalhos desenvolvidos na assembleia, bem como das deliberações
adotadas pelos acionistas presentes, será lavrada em ata, no livro próprio que a
sociedade é obrigada a escriturar (art. 100 – LSA).
Em geral, a ata deve mencionar, com precisão e detalhes, todos os fatos
verificados na assembleia geral, como retrato fiel das discussões, votações,
declarações de voto, dissidências e protestos feitos oralmente pelos presentes.
A ata deve retratar, com pormenores, todas as intervenções e
deliberações havidas em assembleia, a menos que adote a forma sumária.
A lei exige sempre a publicação da ata da assembleia geral ordinária (art.
134, parag. 4, LSA), mas não obriga a mesma formalidade à todas as
extraordinárias.
Observe-se, contudo, que a publicação da ata da assembleia geral
extraordinária é a condição para que as deliberações nela adotadas produzam
efeitos perante terceiros, e, por essa razão, é sempre conveniente que a companhia
a providencie, mesmo nas hipóteses em que a formalidade não é obrigada na lei.
A publicação será feita em dois veículos, sendo um deles oficial e o outro
um jornal de grande circulação, valendo a sede da companhia como o critério para a
escolha (art. 289 – LSA). Caso a companhia aberta não tenha registro para
negociação em bolsa, mas apenas em mercado de balcão, a publicação adicional da

20
CVM deve ser feita em jornal de grande circulação, editado na capital do estado em
que é situada a sede.

3.4) CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

O conselho de administração é um órgão deliberativo e fiscalizador,


integrado por no mínimo três acionistas, com competência para qualquer matéria do
interesse social, exceto as privativas da assembleia geral (art. 122 da LSA).
Sua função é agilizar o processo de tomada de decisão, no interior da
organização empresarial. Como órgão destinado a agilizar o processo decisório
interno da sociedade, o conselho de administração é, em regra, facultativo. A
existência do conselho de administração, portanto, depende de previsão estatutária,
na generalidade dos casos. Apenas em três hipóteses ele é obrigatório por lei: na
companhia aberta, na sociedade com capital autorizado e na economia mista.
A votação para o preenchimento de cargos do conselho de administração
pode ser majoritária ou proporcional.
A votação majoritária se realiza por dois diferentes modos. No primeiro, os
acionistas votam em chapas, integrada cada uma por tantos candidatos quantos são
os cargos a serem preenchidos. No segundo, cada cargo do conselho de
administração é posto em votação em separado, ou seja, caso haja três cargos a
preencher, procede-se as três eleições diferentes. Em todas as eleições o acionista
é chamado para manifestar a sua preferência por um dos candidatos. Em ambos os
modos de votação majoritária, a cada ação votante atribui-se um voto.
Já na votação proporcional, além de não existirem chapas, os votos
recaem sobre candidatos isolados, para fins de preenchimento não de determinado
cargo, mas do órgão como um todo. Outro elemento essencial dessa modalidade é a
eleição compreender o órgão como um todo, e não cada cargo em separado.
Se não existir norma estatutária que defina a modalidade, caberá à mesa
fazê-lo. Desta forma, somente em duas hipóteses deixará de prevalecer o estatuto
ou a decisão da mesa (dois pontos) voto múltiplo e eleição em separado.
Se omisso o estatuto, a mesa da assembleia geral definirá a modalidade
a ser adotada. Essa é a regra geral do direito societário brasileiro. Sua finalidade é

21
proteger os interesses desse grupo de acionistas, garantindo-lhes alguma
representação no conselho de administração. Pelo voto múltiplo, são atribuídos à
cada ação votante tantos votos quantos sejam os cargos do conselho de
administração. Os acionistas podem distribuir livremente os votos que recebem,
concentrando-os em um único candidato ou distribuindo-os entre dois ou mais.
De início, destaca-se que o processo do voto múltiplo beneficia o
acionista minoritário tanto da sociedade anônima aberta, como da fechada; já as
eleições em separado só têm lugar nas companhias abertas.
O estatuto deve estabelecer o prazo do mandato dos membros do
conselho de administração, observado o máximo legal de 03 anos (LSA, art. 140,
III).
Os conselheiros, a rigor, exercem cargos de confiança da assembleia
geral, e, por isso, podem ser destituídos a qualquer tempo, pela maioria dos votos
dos sócios nela presentes. A destituição, por outro lado, não pode ser considerada
sanção, mas mera decorrência de deliberação, adotada pela maioria dos titulares de
participação acionária votante, e, por isso, não cabe cogitar de eventual direito de
defesa prévia do conselheiro destituído.
A assembleia geral, ao destituir um dos membros do conselho de
administração, deve eleger o novo membro, para completar o prazo de gestão
destituído. A situação dos demais integrantes do órgão, cujo mandato não se
interrompe, em regra não é alterada.
Outro aspecto a considerar é o de substituição de membro do conselho
de administração, hipótese que não se confunde com a destituição. De fato, se esta
última é ato da assembleia geral, que não deseja mais determinada pessoa como
conselheiro, a substituição é o preenchimento da vaga, decorrente de fato estranho
à vontade da companhia, como, por exemplo, a morte ou a renúncia do integrante
do órgão.
O conselho de administração deve possuir um presidente escolhido entre
os seus membros. Normalmente, o presidente é escolhido pelo próprio conselho na
primeira reunião após a posse dos acionistas. As reuniões do conselho de
administração são convocadas, instaladas, e se realizam também de acordo com as
regras do estatuto. Destas se lavrarão atas, lavradas em livro próprio, com
assinatura dos membros presentes aos trabalhos.

22
3.5) DIRETORIA

A diretoria é o órgão executivo da companhia. Aos seus membros


compete, no plano interno, dirigir a empresa, e, externamente, manifestar a vontade
da pessoa jurídica na generalidade dos atos e negócios. A segunda função, refere-
se a representação legal da sociedade anônima não podendo ser atribuída a outro
órgão societário; sendo de sua competência privativa.
A diretoria é órgão executivo da companhia, composta por, no mínimo
duas pessoas, eleitas pelo conselho de administração, ou, se este não existir, pela
assembleia geral. O órgão que instituir os membros da diretoria será o responsável
por fiscalizar e supervisionar suas atividades, competindo, inclusive, destituí-los,
quando verificado qualquer incompatibilidade na permanência do diretor em seu
cargo.
Vale ressaltar, que até 1/3 dos membros do conselho de administração
pode ser eleito pela diretoria. O estatuto da sociedade anônima define o número de
diretores (ou o mínimo e máximo permitidos), a duração do mandato, substituição e,
principalmente, a competência de cada um. Dependendo, assim, da dimensão ou
espécie da sociedade, a diretoria poderá ter cargos como diretor-presidente, diretor
financeiro, comercial, de produção, jurídico, de relação com os investidores etc. Os
trabalhos da reunião e as decisões são, então, registradas em ata, lavradas em livro
próprio.

3.6) CONSELHO FISCAL

O conselho fiscal é órgão de assessoramento da assembleia geral, na


apreciação das contas dos administradores e na votação das demonstrações
financeiras da sociedade anônima, conforme rol de competência do art. 163 da LSA.
Trata-se de órgão de existência obrigatória, mas de funcionamento
facultativo. Só em duas hipóteses o conselho fiscal tem acionamento permanente:
nas sociedades de economia mista, ou se prevista a permanência no estatuto.
A exemplo da diretoria, o conselho fiscal é um órgão divisível da
sociedade anônima. A tarefa do conselho fiscal cinge-se aos aspectos da legalidade

23
e regularidade dos atos de gestão. O conselho é composto por, no mínimo, três e,
no máximo, cinco membros titulares e seus suplentes. São elegíveis apenas
pessoas naturais, residentes no Brasil, com formação superior ou experiência
empresarial (demonstrada esta pelo exercício de cargo de administrador de empresa
ou de conselheiro fiscal, no mínimo por 3 anos). O conselho pode ser posto em
funcionamento em qualquer assembleia geral, ordinária ou extraordinária, mesmo
que não incluída a matéria na ordem do dia.
O processo de composição do conselho fiscal compreende a realização
de até 03 eleições, em separado: a) a dos representantes (titular e suplentes) dos
preferencialistas sem direito a voto, ou com voto restrito; b) a dos representantes
(titular e suplentes) dos minoritários com direito a voto, quando possuem pelo menos
10% do capital votante; c) a dos representantes (titular e suplentes) do acionista
controlador, sempre em maioria do conselho fiscal.

3.7) COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS (CVM)

A Lei que criou a CVM (6385/76) e a Lei das Sociedades por Ações
(6404/76) disciplinaram o funcionamento do mercado de valores mobiliários e a
atuação de seus protagonistas, assim classificados, as companhias abertas, os
intermediários financeiros e os investidores, além de outros cuja atividade gira em
torno desse universo principal.

A CVM tem poderes para disciplinar, normatizar e fiscalizar a atuação dos


diversos integrantes do mercado. Seu poder normatizador abrange todas as
matérias referentes ao mercado de valores mobiliários.
Cabe à CVM, entre outras, disciplinar as seguintes matérias:

(a) Registro de companhias abertas;


(b) Registro de distribuições de valores mobiliários;
(c) Credenciamento de auditores independentes e administradores de carteiras de
valores mobiliários;
(d) Organização, funcionamento e operações das bolsas de valores;
(e) Negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
(f) Administração de carteiras e a custódia de valores mobiliários;

24
(g) Suspensão ou cancelamento de registros, credenciamentos ou autorizações.
(h) Suspensão de emissão, distribuição ou negociação de determinados valores
mobiliários ou decretar recesso de bolsa de valores.

O sistema de registro gera, na verdade, um fluxo permanente de


informações ao investidor. Essas informações, fornecidas periodicamente por todas
as companhias abertas, podem ser financeiras e, portanto, condicionadas à normas
de natureza contábil, ou apenas referirem-se a fatos relevantes da vida das
empresas. Entende-se como fato relevante, aquele evento que possa influir na
decisão do investidor, quanto a negociar com valores emitidos pela companhia.
A CVM não exerce julgamento de valor em relação à qualquer informação
divulgada pelas companhias. Zela, entretanto, pela sua regularidade e confiabilidade
e, para tanto, normatiza e persegue a sua padronização.
A atividade de credenciamento da CVM é realizada com base em padrões
pré-estabelecidos pela Autarquia que permitem avaliar a capacidade de projetos a
serem implantados.
A Lei atribui à CVM competência para apurar, julgar e punir
irregularidades eventualmente cometidas no mercado. Diante de qualquer suspeita a
CVM pode iniciar um inquérito administrativo, através do qual, recolhe informações,
toma depoimentos e reúne provas com vistas a identificar claramente o responsável
por práticas ilegais, oferecendo-lhe, a partir da acusação, amplo direito de defesa.
O Colegiado tem poderes para julgar e punir o faltoso. As penalidades
que a CVM pode atribuir vão desde a simples advertência até a inabilitação para o
exercício de atividades no mercado, passando pelas multas pecuniárias.
A CVM mantém, ainda, uma estrutura especificamente destinada a
prestar orientação aos investidores ou acolher denúncias e sugestões por eles
formuladas.
Quando solicitada, a CVM pode atuar em qualquer processo judicial que
envolva o mercado de valores mobiliários, oferecendo provas ou juntando pareceres.
Nesses casos, a CVM atua como "amicus curiae11" assessorando a decisão da
Justiça.

11
“Amicus curiae” intervenção de terceiro numa relação processual na qual não é parte, mas que tem interesse
em seu resultado.

25
Em termos de política de atuação, a Comissão persegue seus objetivos
através da indução de comportamento, da auto-regulação e da auto-disciplina,
intervindo efetivamente nas atividades de mercado, quando este tipo de
procedimento não se mostrar eficaz.
No que diz respeito à definição de políticas ou normas voltadas para o
desenvolvimento dos negócios com valores mobiliários, a CVM procura junto à
instituições de mercado, do governo ou entidades de classe, suscitar a discussão de
problemas, promover o estudo de alternativas e adotar iniciativas, de forma que
qualquer alteração das práticas vigentes seja feita com suficiente embasamento
técnico e, institucionalmente, possa ser assimilada com facilidade, como expressão
de um desejo comum.
A atividade de fiscalização da CVM realiza-se pelo acompanhamento da
veiculação de informações relativas ao mercado, às pessoas que dele participam e
aos valores mobiliários negociados. Dessa forma, podem ser efetuadas inspeções
destinadas à apuração de fatos específicos sobre o desempenho das empresas e
dos negócios com valores mobiliários.

26
CAPÍTULO II

REORGANIZAÇÃO SOCIETÁRIA

27
1 – NOÇÕES GERAIS

Este estudo é fundamental em face das tendências negociais


contemporâneas, extremando as potencialidades de utilização das pessoas jurídicas
como forma de estruturação de atividades produtivas ou especulativas, na busca de
auferir mais vantagens econômicas.
As sociedades podem se organizar mediante processos de
incorporações, fusões ou cisões, ou de outras maneiras. Estes processos podem ser
simples ou complexos e envolver valores e operações de pequena, média ou grande
monta, e para tal fim devem ser considerados:

(a) os aspectos operacionais e financeiros da sociedade resultante, inclusive a


necessidade de injeção de novos recursos por parte dos proprietários;
(b) os reflexos tributários das operações do ponto de vista da sociedade e dos
proprietários;
(c) outros interesses por parte da sociedade e dos seus proprietários.

Na opção pelos processos de reorganização devem ainda, ser levados


em conta os seguintes fatores:

(a) a negociação entre as diversas partes envolvidas nos processos;


(b) a identificação das diversas dificuldades e alternativas envolvidas;
(c) as operações e desenvolvimento da nova organização, ou seja, posteriores
operações de fusão, cisão ou incorporação;
(d) a definição quanto à melhor ou mais adequada solução.

2 - TRANSFORMAÇÃO SOCIETÁRIA

O direito analisa a transformação em dois sentidos diversos; no sentido


largo, transformação é a metamorfose societária, isto é, a alteração do tipo
societário sem que se dê a extinção da sociedade transformada, o que é chamado
de transformação (em sentido estrito) pode ser incorporada por outra sociedade,

28
pode fundir-se com outras sociedades e, mesmo, pode cindir-se em duas ou mais
sociedades.
Essa realidade fica extremamente clara no estudo da transformação
societária, em sentido estrito, ou seja, da alteração qualitativa da pessoa jurídica,
que abandona um tipo societário para converter-se noutro tipo, transformar-se. Esse
ato de transformação, segundo o artigo 1.113 do Código Civil e o artigo 220 da Lei
6.404/76, independe de dissolução e, portanto, de liquidação da sociedade; ele se
manterá existente, apenas se transformando, para o que deverá obedecer aos
preceitos que regulamentam a constituição e inscrição do tipo societário em que vai
converte-se.
Em regra, para transformar-se a sociedade, é necessária a aprovação
unânime de seus membros.
O instituto da transformação aplica-se aos tipos de sociedades com
personalidade jurídica regulada pelo Código Civil de 2002 e pela lei societária em
vigor. No entanto, por outro lado, a transformação societária tem caráter restrito, não
podendo ser estendida a outros tipos de associação, como por exemplo, as
cooperativas, as sociedades de créditos mobiliários ou as fundações.
Entre as peculiaridades da transformação societária, podemos citar que a
transformação somente se produz entre tipos diversos de sociedades, ao passo que
nas demais modalidades de reorganização societária podem as sociedades
envolvidas ser de um mesmo tipo. Além disso, a transformação não acarreta sua
extinção, diferentemente dos demais casos, que sempre implicam a extinção ou a
constituição de uma nova sociedade.
A transformação do tipo societário não extingue o antigo Registro público
competente.

3 - INCORPORAÇÃO SOCIETÁRIA

Na incorporação, uma ou mais sociedades são absorvidas por outra,


como dizem os artigos 1.116 do Código Civil e 227 da Lei 6.404/76, esclarecendo o
artigo 223 desta última pode operar-se entre sociedades de tipos iguais ou

29
diferentes; portanto, uma sociedade anônima pode incorporar sociedade limitada ou
vice-versa.
A incorporação é medida que deverá ser aprovada tanto pela sociedade
incorporadora, quanto pela incorporada, aplicando-se, em cada hipótese, as regras
específicas do tipo societário. Assim, na sociedade simples (qualquer que seja seu
tipo, inclusive a limitada), na sociedade em nome coletivo e na sociedade em
comandita simples, combinado os artigos 997 e 999 do Código Civil, será necessária
a aprovação por todos os sócios; nas sociedades empresárias limitadas, conforme
se depreende dos artigos 1.071, VI, e 1.076, I, do Código Civil, aprovação por votos
que correspondam a três quartos do capital social, no mínimo; e nas sociedades por
ações, maioria na assembleia geral especialmente convocada para examinar tal
proposição, aplicados os artigos 223 a 227 da Lei 6.404/76.
A sociedade que houver de ser incorporada tomará conhecimento da
justificação, sendo submetida aos seus sócios quotistas ou acionistas; a aprovação
se fará pelo quórum legal, acima disposto, salvo expressa disposição estatutária de
quórum diverso. Aprovada a proposta de incorporação, no mesmo ato os sócios
autorizarão os administradores a praticar os atos necessários a incorporação.
Ademais, a aprovação da justificação por ambas as sociedades se seguirá da
assinatura pelos órgãos de administração ou sócios das sociedades interessadas de
um protocolo, no qual as condições da incorporação serão incluídas.
Pela incorporação, o patrimônio da empresa incorporada acresce-se ao
patrimônio da empresa incorporadora, a implicar um aumento deste último, bem
como nova distribuição da participação societária, informações que, como visto,
deverão estar claras na justificação apresentada às coletividades sociais de ambas
as sociedades, permitindo-lhes ter a exata compreensão do ato cuja a deliberação
lhes é submetida.
Os acionistas da sociedade incorporadora, portanto, deverão aprovar um
aumento de capital correspondente ao patrimônio que lhes será acrescido, bem
como, um aumento de quotas ou ações a serem destinados aos sócios da
incorporada, que passarão a ser sócios quotistas ou acionistas da incorporadora.
A integralização do capital correspondente às novas quotas ou ações
transformará o patrimônio líquido da sociedade incorporada, razão pela qual os
sócios da incorporada, como previsto pelos artigos 1.116, parágrafo 2, do Código

30
Civil e 227, parágrafo 1, da Lei 6.404/76, deverão nomear peritos para avaliar as
relações jurídicas da sociedade a ser incorporada, seu patrimônio ativo (direitos,
créditos) e seu patrimônio passivo (deveres, obrigações), aferindo o valor do
patrimônio liquido.
Nova assembleia de sócios quotistas ou acionistas deverá ser então
convocada, atendendo aos artigos 1.118 do Código Civil e 227, parágrafo 3, da Lei
6.404/76, para que o laudo de avaliação seja aprovado e, via de consequência,
ultimem-se os atos de incorporação, que se completará apenas então com a
deliberação de extinção da sociedade incorporada.
A incorporação conclui-se com a aprovação de seus atos pela sociedade
incorporadora, já com a presença dos sócios da sociedade incorporada; no mesmo
ato, declararão extinta a sociedade incorporada, fazendo arquivar e publicar os atos
correspondentes. Os sócios da sociedade incorporada receberão as ações ou
quotas que lhe cabem diretamente da sociedade incorporadora, como previsto pelo
artigo 223, parágrafo 2, da Lei 6.404/76.
Como resultado da incorporação, todos os direitos e obrigações da
sociedade incorporada passarão a ser direitos e obrigações da sociedade
incorporadora. Na incorporação há apenas a extinção do nome e registro da
incorporadora; a sociedade preservou-se, pessoas e patrimônio, ainda que
absorvida por outra sociedade. Não haverá registro de transferência, pois
transferência não houve; haverá mera averbação do novo nome do titular do bem,
certo que, ao se incorporar a outra sociedade, a sociedade incorporada passou a
existir e funcionar pelo nome da sociedade incorporadora.

4 - FUSÃO SOCIETÁRIA

Na fusão, a metamorfose societária dá-se de forma ligeiramente distinta


da incorporação. Em ambos os casos, tem-se o somatório dos patrimônios
societários, bem como das coletividades de sócios quotistas e ou acionistas, todavia,
na incorporação, esse somatório dá-se a bem de uma das sociedades, que
literalmente assumirá o patrimônio e os sócios da incorporada.

31
Na fusão, os dois corpos sociais somam-se a bem da constituição de uma
terceira pessoa. Somam-se os patrimônios e as coletividades sociais, mas a bem de
um novo corpo social, extintas as nominações anteriores.
Nesse tipo societário poderão fundir-se sociedades de tipos iguais ou
diferentes, sendo que a sociedade fruto da fusão poderá adotar tipo societário
diferente das empresas que se fundiram.
Referida reorganização societária deverá ser aprovada pelos sócios de
ambas as sociedades, segundo as regras especificas de cada tipo societário. Finda
a avaliação, os administradores das sociedades convocarão reunião ou assembleia
dos sócios para tomar conhecimento dos laudos.
Somente diante dos laudos se saberá qual a participação societária de
cada sócio, se fundidas as sociedades, já que apenas diante deles se poderá
identificar o patrimônio social total – somatório das avaliações feitas – e, assim, a
proporção de cada sócio no patrimônio fundido.
Para além desses demonstrativos, os sócios ainda deverão aprovar o
contrato social ou estatuto da sociedade fruto da fusão, num situação análoga à
constituição de uma sociedade daquele tipo e preenchendo todos os requisitos
legais para tanto, com essa aprovação a fusão irá se concluir.

5 - CISÃO SOCIETÁRIA

Outro tipo de reorganização societária é a cisão que é uma operação pela


qual a sociedade transfere parcelas de seu patrimônio para uma ou mais sociedades
existentes constituídas com tais parcelas.
A cisão poderá ser PARCIAL ou TOTAL, neste caso com a extinção da
sociedade cindida.
Na cisão PARCIAL a sociedade cindida continua existindo, terá apenas
uma parcela destinada à constituição de outra sociedade. Já na cisão TOTAL a
sociedade tem o seu patrimônio integralmente vertido para duas ou mais
sociedades, sendo que estas sociedades sucederão a sociedade cindida.
Em qualquer das hipóteses, a cisão deverá ser aprovada pelos membros
da sociedade cindida.

32
6 - PROTOCOLO E JUSTIFICAÇÃO

O processo de incorporação, fusão e cisão começa com a elaboração da


justificação e posteriormente do protocolo (art. 224 LSA) firmado pelos órgãos de
administração ou sócios-gerentes das sociedades interessadas, completando-se
com as aprovações das respectivas assembleias gerais ou reunião dos sócios.
Na justificação, serão expostos os motivos ou finalidades da operação
proposta, e o interesse de cada sociedade na sua realização (artigo 225, I – LSA12).
Deverá, ainda, ser feita uma descrição minuciosa sobre como ficará o capital social
da sociedade incorporadora.
O artigo 225, II da LSA, ainda determina que sejam especificadas
eventuais modificações nos direitos e deveres dos sócios quotistas ou acionistas, o
que pode decorrer da lei, quando uma sociedade seja de tipo societário diferente da
sociedade incorporadora.
A justificação é elemento vital ao processo de incorporação, fusão ou
cisão, designadamente naquelas sociedades em que as negociações sejam
conduzidas pelos administradores, com parte da coletividade social delas tomando
conhecimento pelo que seja apresentado em reunião ou assembleia de quotistas ou
acionistas. A sua importância e gravidade é ainda maior nas sociedades com grande
número de sócios, designadamente nas sociedades anônimas de capital aberto.
O protocolo é ato jurídico que caracteriza promessa, ou seja, assunção da
obrigação de fazer, no caso, de concluir a negociação.
No protocolo são definidas várias condições da operação, especificando,
entre outros, os seguintes aspectos: características das ações a serem distribuídas
aos sócios das sociedades que se extinguirão e critérios de apuração dos
respectivos quantitativos; critérios de avaliação do patrimônio líquido das sociedades
12
Art. 225 - As operações de incorporação, fusão e cisão serão submetidas à deliberação da assembleia geral
das companhias interessadas mediante justificação, na qual serão expostos:
I - os motivos ou fins da operação, e o interesse da companhia na sua realização;
II - as ações que os acionistas preferenciais receberão e as razões para a modificação dos seus direitos, se
prevista;
III - a composição, após a operação, segundo espécies e classes das ações, do capital das companhias que
deverão emitir ações em substituição às que se deverão extinguir;
IV - o valor de reembolso das ações a que terão direito os acionistas dissidentes.
33
envolvidas; projeto de estatuto; o valor do capital das sociedades a serem criadas ou
do aumento ou redução do capital das sociedades envolvidas na operação.
Além disso, os atos dessas operações devem ser arquivados na junta
comercial a ainda publicados. Cabe acentuar que nos processos de incorporação,
fusão e cisão os estabelecimentos das empresas envolvidas não sofrem
continuidade. Os contratos, compromissos fiscais, relações empregatícias, e todo o
universo de interesses das empresas abrangidas na operação continuarão afluir,
sem que nem mesmo se torne necessário qualquer aditivo ou providência, salvo a
comunicação do evento.

7 - DIREITOS DOS CREDORES

Em relação aos direitos dos credores das sociedades envolvidas, os


efeitos das operações societárias variam de acordo com a natureza do crédito.
Quando se trata de crédito trabalhista, tributário ou titularizado pelo INSS,
o regime jurídico correspondente confere ao credor garantias para que a
transformação, incorporação, fusão e cisão da sociedade devedora não o
prejudique.
Na transformação, os direitos dos credores não são afetados
(LSA,art.222; CC, art.1115). A sociedade, cujo tipo se alterou, mantém sua
personalidade jurídica; assim, a transformação não altera a titularidade de direitos e
obrigações. O credor da sociedade continua sendo titular de crédito perante a
sociedade, mesmo após a conclusão da transformação. Haverá satisfação do
crédito, nas mesmas garantias oferecidas pelo tipo societário anterior,
principalmente no que diz respeito a responsabilidade subsidiária dos sócios, como
afirma Fábio Ulhôa Coelho.
Na incorporação, a incorporadora sucede a incorporada (LSA art.227; CC
art.1116), e na fusão, a sociedade resultante da operação é sucessora das
originárias (art.228, LSA; art,1119, CC).
Nesses dois casos, o credor da pessoa jurídica extinta (por absorção ou
união) exerce o direito de crédito contra a incorporadora ou a sociedade resultante
da fusão. Se não ficar satisfeito com a nova situação, por considerar que o

34
atendimento de seu crédito não está tão garantido, como na anterior, o credor pode
pedir a anulação judicial da operação.
O seu prazo será de 60 ou 90 dias, conforme o regime jurídico aplicável à
operação. Assim, por exemplo, quando a sociedade incorporadora possuir ativo
inferior ao passivo, o credor da incorporada terá a garantia patrimonial de seu crédito
reduzida, já que o patrimônio líquido da sucessora será forçosamente menor que o
da sociedade absorvida.
Na cisão, a sucessão deve ser negociada entre as sociedades
participantes da operação. Desse modo, cada sociedade responde, após a
operação, pelas obrigações que lhes forem transferidas. Omissos os documentos da
cisão total relativamente a certa obrigação da cindida, cada uma para as quais foram
vertidos os bens desta responde na proporção do patrimônio recebido (LSA art.,
229, parágrafo primeiro).
O credor da sociedade parcialmente cindida continua podendo demandá-
la, a despeito da distribuição do passivo negociado na cisão. De fato, para proteger
os interesses dos credores cíveis da cindida, estabelece a lei a solidariedade entre
as sociedades participantes da operação.
No caso de cisão total, as sociedades para as quais os bens da cindida
forem vertidos, são solidárias pelas obrigações da pessoa jurídica extinta.
Na parcial, a sociedade cindida é aquela para a qual verteu bens,
respondem solidariamente pelas obrigações da primeira, anteriores a cisão.
A estipulação, nos instrumentos da cisão, de que a sociedade para a qual
houve versão patrimonial não responde pelas obrigações expressamente
transferidas não é eficaz contra o credor da cindida, que nos 90 dias seguintes à
publicação dos atos da cisão opuser-se a ressalva da solidariedade (LSA, art.233).
Se a cisão não envolve sociedade anônima, o credor prejudicado poderá também
pleitear a anulação da operação no prazo de 90 dias (CC,art. 1122).

35
8 - DIREITO DE RETIRADA

O sócio descontente com a operação societária pode, em alguns casos,


exercer o direito de retirada.
Na transformação, a deliberação depende, em regra, da vontade
unânime dos sócios ou acionistas, o que afasta a possibilidade de dissidência.
Esta só existe na hipótese em que a operação societária é já prevista no contrato
social ou estatuto, e a maioria societária ou controlador podem sozinhos, mudar o
tipo societário. Os membros que discordarem da transformação têm então, o direito
de retirada (LSA art.221).No contrato social da limitada, os sócios podem renunciar
ao recesso, ao estipularem a possibilidade de transformação da sociedade em
anônima. Se a limitada se transforma em qualquer outro tipo de sociedade, exceto
as por ações, a operação submete-se ao CC de 2002, em que não há previsão para
a renúncia ao direito de recesso.
A incorporação e a fusão dão, em princípio, ensejo, pelo sócio dissidente,
do direito de retirada. Na sociedade anônima, o acionista insatisfeito com a operação
jurídica que extinguiu a pessoa jurídica de que participava pode, em geral, exigir o
reembolso de suas ações. A lei, todavia, nega o direito ao recesso se a companhia
incorporadora ou da resultante da fusão, for aberta, e as ações tiverem liquidez
(integrarem índices gerais representativos de carteira de ações, admitidos à
negociação em bolsas de futuros) ou estão dispersas, caracterizada a dispersão
pelo fato de mais da metade das ações emitidas não pertencerem ao controlador).
Quando as ações da incorporadora ou da resultante de fusão atendem a
qualquer dessas condições, presume a lei que são facilmente negociáveis no
mercado de capitais. O acionista da companhia extinta pode, nesses casos,
desligar-se da incorporadora ou da nova sociedade, por meio da negociação das
ações que, na operação, foram lhe atribuídas. Note-se que o acionista da companhia
incorporadora não tem o direito de retirada. Já na hipótese de ser limitada a
sociedade incorporadora, têm os seus sócios minoritários dissidentes direito de
recesso (art. 1077, CC).
Em princípio, a cisão não enseja a retirada do sócio dissidente. Porém,
se, em razão da operação societária, verificarem-se consequências que, por lei,
confeririam o direito de recesso, este também existirá na cisão. É o caso em que o

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objeto social da sociedade sucessora é substancialmente diverso do da sociedade
cindida; em que a sucessora participa de grupo econômico não integrado pela
cindida; em que o dividendo obrigatório previsto no estatuto da sucessora é inferior
ao previsto no da cindida.
Outra hipótese em que cabe recesso é a de fechamento indireto do
capital por intermédio da cisão. O acionista da sociedade cindida pode manifestar
sua divergência da operação, e pleitear o reembolso, se ela é aberta, e a sociedade
sucessora, em favor da qual se deu a versão patrimonial, continuou fechada, depois
de transcorridos 120 dias da assembleia dessa última, que aprovou a operação. Se
as ações das empresas cindidas são facilmente negociáveis no mercado de capitais
o dissidente não terá o direito de retirada. Claro que, em relação a sociedade para a
qual foram vertidos os bens, o acionista terá direito de retirada, porque, se ela não
se registrou como aberta no prazo legal, não há como negociar a participação
societária no mercado de capital.

37
CONCLUSÃO

Diante das pesquisas realizadas para a elaboração deste trabalho foi


possível constatar que esse tema é de grande valia para o aperfeiçoamento e
entendimento das mudanças que o Direito Societário Brasileiro vem sofrendo.
As movimentações societárias (reorganização) são realizadas desde os
anos 70, porém no Brasil ganhou força nos últimos cinco anos, fazendo com que o
tema fosse alvo de diversas pesquisas.
Todos os conceitos abordados neste trabalho elucidaram e foram muito
importantes para o entendimento no tocante à tendência atual das empresas
brasileiras que utilizaram-se da reorganização societária para se fortalecerem diante
do mercado nacional, possibilitando também uma competitividade frente ao mundo
globalizado.
Esse tipo de movimentação obriga as sociedades a serem mais
transparentes perante o mercado, gerando uma confiabilidade dos atuais acionistas,
bem como, criando expectativas positivas para os futuros investidores e
possibilitando à empresa a captar mais recursos para as novas pesquisas e
desenvolvimento.
Portanto, o presente trabalho teve a preocupação de tornar clara todas as
formalidades necessárias para o sucesso de uma reorganização societária. Sendo
assim, as modalidades estudas foram: transformação, incorporação, fusão e cisão
societária.
Na transformação foi possível constatar que as sociedades buscam essa
modalidade de reorganização para mostrar o seu crescimento perante o mercado,
pois é nessa movimentação societária que muitas empresas passam de sociedade
limitada para sociedade anônima.
Na incorporação também conseguimos identificar o crescimento da
sociedade, pois nessa modalidade em que uma ou mais sociedades são absorvidas
por uma ou mais sociedades, desaparecendo as sociedades absorvidas.
Já na fusão, a finalidade da movimentação societária é “unir forças”.
Nessa modalidade duas ou mais sociedades se unem e se extinguem para dar
origem a uma nova companhia. Sendo assim, com essa movimentação haverá a

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criação de uma nova empresa que juntará o que de melhor as sociedades fundidas
possuíam.
A última modalidade de reorganização societária estudada foi a cisão, que
podemos definir como a operação que divide o patrimônio de uma empresa,
resultando em outra ou outras empresas. Essa modalidade é realizada na maioria
das vezes para proporcionar a empresa cindida a possibilidade de explorar um novo
ramo do mercado.
Diante dos conceitos apresentados, conclui-se que esses tipos de
movimentações societárias vem se tornando cada vez mais frequente entre as
empresas, resultando em grandes operações que ajudam a impulsionar o mercado
de ações, bem como a economia brasileira; razão pela qual esse tema continuará
em destaque no ramo do Direito Empresarial.

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BIBLIOGRAFIA

MAMEDE, Gladston. Direito Societário: Sociedades Simples e Empresárias. Ed.


Atlas, 2004.

COELHO, Fabio Ulhôa. Curso de Direito Comercial – Direito de Empresa. Ed.


Saraiva, 2011.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial – Teoria Geral e Direito


Societário. Ed. Atlas, 2011.

REVISTA EXAME. Edição 1002. São Paulo. 2011.

FONTES DA INTERNET
http://www.soartigos.com/artigo/211/SOCIEDADE-ANONIMA:-Nocao-historica.-Breve-
visao-sobre-Acoes-e-a-Responsabilidade-Civil.-/

http://www.cvm.gov.br/indexpo.asp

http://www.dealmaker.com.br/blog/index.php/2011/11/18/fusoes-e-aquisicoes-somam-r233-
bilhoes-no-trimestre/

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