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2020v22n35p216-232
Resumo
Este artigo pode ser considerado um panorama da organização e ações implementadas na
Educação Escolar Quilombola no Estado de Minas Gerais, pela Secretaria de Estado de
Educação, no período de 2015 a 2018. Objetiva-se relatar as ações exitosas
implementadas. E apontar caminhos para o desenvolvimento dos estudos sobre a
Educação Escolar Quilombola, a partir de diálogos e planejamentos oriundos do
diagnóstico apresentado pelo Grupo de Trabalho Multidisciplinar — instituído para
apurar as principais demandas desta modalidade de ensino. Desta forma, elencou-se os
eixos das demandas levantadas, relacionando-os com as políticas públicas enquanto um
potente instrumento de fortalecimento identitário. O impacto positivo desta construção
para os estudantes das escolas estaduais quilombolas, a partir da representatividade e
especificidade pedagógicas postas em prática nestas escolas, situa e apresenta essa
modalidade educacional como um campo de resistências e de luta para promoção da
equidade. Pretende-se, por fim, indicar caminhos para a construção de uma educação
escolar antirracista e emancipatória.
Abstract
This text can be considered an overview of the organization and actions implemented in
Quilombola School Education in the State of Minas Gerais, by the State Department of
Education, from 2015 to 2018. It aims to report the successful actions implemented,
which pointed out ways for the development of studies on Quilombola School Education,
based on dialogues and planning from the diagnosis presented by the Multidisciplinary
Working Group - established to ascertain the main demands of this type of teaching.
Therefore, the axes of raising demands were listed, relating them to public policies as a
potent instrument of identify strengthening. The positive impact of this state quilombola
1 Doutoranda em História Social da Cultura (UFMG); Mestre em História Social da Cultura; pesquisadora;
professora da Universidade do Estado de Minas Gerais, na Faculdade de Educação (UEMG/FaE/CBH). E-
mail: rogeria.alves@uemg.br
2
Graduada em Filosofia, Licenciatura Plena (PUC-MG), servidora da Secretaria de Estado de Educação.
Atua no campo de políticas públicas, diretrizes e orientações pedagógicas para as temáticas especiais de
ensino e transversalidades curriculares, com maior interesse de pesquisa e proposições na área da Educação
das Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola. E-mail:
karla.cerqueira@educacao.mg.gov.br
Recebido em 15 de novembro de 2016. Aprovado em 16 de setembro de 2020.
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Introdução
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conhecimentos, sem ser obrigado a negar suas raízes étnico-raciais, os grupos sociais a
que pertence, tampouco a adotar costumes, ideias e comportamentos que lhe sejam
adversos (SILVA, 2010, p. 38).
As Escolas Estaduais Quilombolas trabalham normalmente os componentes
curriculares e os conteúdos nacionais e estaduais que são comuns a toda rede de ensino.
Contudo, entre os princípios de organização dessa modalidade educacional, destacam-se:
a valorização da memória coletiva dessas populações; as práticas culturais; os festejos,
usos, tradições e demais elementos que conformam o patrimônio cultural das
comunidades quilombolas de todo o país; a territorialidade e respeito aos processos
históricos de luta pela regularização dos territórios tradicionais dos povos quilombolas; a
superação do racismo institucional, ambiental, alimentar; a articulação entre os
conhecimentos científicos, os conhecimentos tradicionais e as práticas socioculturais
próprias das comunidades quilombolas, em processo educativo dialógico e
emancipatório.
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Caminhos de resistência
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Apontamentos finais
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vulnerabilidade social, tais quais: as ameaças de perda do território em que vivem, para
empreendimentos agropecuários, mineração, barragens, reflorestamento, grilagem,
especulação imobiliária; desemprego e ausência de alternativas para a subsistência e
geração de renda; enfraquecimento das manifestações e referências culturais; o descaso
público em relação à saúde e às práticas de violências de cunho racial.
No contexto de Minas Gerais a modalidade de ensino “Educação Escolar
Quilombola” ainda precisa ganhar visibilidade, investimentos financeiros, além de
formação de agentes escolares — sobretudo dos professores/as, no intuito de eliminar o
despreparo para trabalharem as culturas e saberes quilombolas, de maneira que possam
associar o currículo escolar a estes saberes, promovendo aquilo que Boaventura de Souza
Santos denominou de uma "ecologia dos saberes" (SANTOS, 2010). Entende-se que esta
proposta fomenta um diálogo horizontal entre as formas de conhecimento e baseia-se,
especialmente, na participação ativa das comunidades quilombolas enquanto agentes do
conhecimento dentro das escolas desta modalidade. Essa agência compreende a
participação destas comunidades em espaços decisórios do ambiente escolar, tal como
prevê o inciso IV, do artigo 6º da Resolução nº 8, que define as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Escolar Quilombola na Educação Básica.
Além disso, falta aos educadores/as desta modalidade o acesso a materiais de
referência e repertório, cujos conteúdos sejam adequados à discussão da importância dos
povos tradicionais, enquanto patrimônio material e imaterial. Trata-se de dar voz aos
sujeitos, que não raras vezes, foram postos às margens da construção do conhecimento e
da dita "verdadeira e válida erudição". Como bem exposto por Kilomba (2019, p. 53), o
conhecimento é colonizado e o colonialismo significou também a imposição da
autoridade ocidental sobre todos os aspectos dos saberes, línguas e culturas indígenas e
assim, não é somente uma imensa, "mas também urgente tarefa descolonizar a ordem
eurocêntrica do conhecimento" (KILOMBA, 2019, p. 53). Deste modo, faz-se urgente a
construção de materiais pedagógicos que contemplem os saberes tradicionais e que sejam
livres de estereótipos e visões reducionistas sobre os quilombos.
Doravante, a modalidade de educação escolar quilombola requer ainda
investimentos em cuidados para com estes estudantes e famílias, no que se refere à saúde
e sustentabilidade, visando uma educação acolhedora e plena, que assegure a
permanência e a conclusão etapa da educação básica. Por fim, as normativas estabelecidas
e ações citadas representam avanços significativos em todo contexto da educação escolar
quilombola, no estado de Minas Gerais. No entanto, reconhece-se que tais iniciativas são
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o início da consolidação dos direitos dos estudantes e das populações contempladas por
essa modalidade escolar, que requer continuidade, aprofundamento e compromisso com
o acesso, permanência e busca do sucesso nas trajetórias escolares destes educandos,
como premissas das políticas públicas construídas para tal modalidade. Acredita-se,
contudo, que as mudanças iniciadas no cenário educacional estadual para tal modalidade
são o início e a chave mestra para impactos positivos em tal modalidade educacional. E
para parafrasear Paulo Freire, acredita-se que mudar é difícil, mas é possível (FREIRE,
1996, p. 79).
Referências
ARROYO, Miguel G. Outros sujeitos, Outras pedagogias. 2ªed. Petrópolis, RJ: Vozes,
2014.
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BRASIL. Plano Nacional das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana. Brasília, DF: SECAD; SEPPIR, jun. 2009.
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