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ESPINOZA A LIBERDADE DO PENSAMENTO

Ângelo Clair Oliveira-


Matricula 17106382 Pólo São Sepé-
UFPel -2020

O presente artigo visa fazer uma síntese acerca da vida deste filosofo sua origem e vida,
bem como uma análise breve de determinados pontos de sua filosofia que, desenvolvida
no século XVII, mostra-se plenamente aplicável à realidade atual. Busca-se também o
esclarecimento, à luz da filosofia Espinosana, da subversão de suas palavras e o quanto
isto prejudica o pensamento.
Espinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a
saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades
menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive
Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais
a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois
conhecidos por nós.
A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como
dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem,
mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução
muitas vezes considerada um tipo de panteísmo e de monismo, porém não por Espinosa,
que era um racionalista e, por extensão, se teria um acompanhamento intelectual do
Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".
Espinosa também propunha uma espécie de determinismo, segundo o qual
absolutamente tudo o que acontece ocorre através da operação da necessidade, e nunca
da teleologia. Para ele, até mesmo o comportamento humano seria totalmente
determinado, sendo então a liberdade a nossa capacidade de saber que somos
determinados e compreender por que agimos como agimos. Deste modo, a liberdade
para Espinosa não é a possibilidade de dizer "não" àquilo que nos acontece, mas sim a
possibilidade de dizer "sim" e compreender completamente porque as coisas deverão
acontecer de determinada maneira.
A filosofia de Espinosa tem muito em comum com o estoicismo, mas difere muito dos
estóicos num aspecto importante: ele rejeitou fortemente a afirmação de que
a razão pode dominar a emoção. Pelo contrário, defendeu que uma emoção pode ser
ultrapassada apenas por uma emoção maior. A distinção crucial era, para ele, entre as
emoções ativa e passivas, sendo as primeiras aquelas que são compreendidas
racionalmente e as outras as que não o são.

Palavras chaves – Panteísmo, Liberdade, Determinismo.

1- Angelo Clair Oliveira – Acadêmico do 7º semestre do curso de filosofia –


email:angelovendas1@hotmail.com- Universidade Federal de Pelotas –UFPEL-
Baruch de Espinosa, nascido Benedito de Espinosa (Amsterdam, 24 de
novembro de 1632 — Haia, 21 de fevereiro de 1677), foi um dos grandes racionalistas e
filósofos do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, ao lado de René
Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu nos Países Baixos, no seio de uma família judaica
portuguesa que havia fugido da inquisição lusitana, e é considerado o fundador
da crítica bíblica moderna.
Recebeu dos pais portugueses o nome de Benedito de Espinosa. Assinou Baruch em
vários trabalhos, pela condição de judeu nascido e criado em Amsterdam. Adotou
Benedictus, a forma correspondente latina, para assinar a sua Ética, depois do chérem
em seu nome, em 1656.
A sua família fugiu da Inquisição de Portugal. Foi um profundo estudioso da Bíblia, do
Talmude e de obras de judeus como Maimônides, Ben Gherson, Ibn Ezra, Hasdai
Cresças, Ibn Gabirol, Moisés de Córdoba e outros. Também se dedicou ao estudo de
Sócrates, Platão, Aristóteles, Demócrito, Epicuro, Lucrécio e Giordano Bruno.
Ganhou fama pelas suas posições opostas à superstição: a sua frase Deus sive natura,
"Deus, ou seja, a Natureza" é um conceito filosófico, e não religioso. Notabilizou-se
também por ter escrito sua ética na forma de postulado e definições, como se fosse um
tratado de geometria.

“Congregação, diante destes santos livros, nós excluímos,


expulsamos, amaldiçoamos e esconjuramos Baruch de Espinosa
[…]. Maldito seja de dia e maldito seja de noite, maldito seja em seu
deitar, maldito seja em seu levantar, maldito seja em seu sair, e
maldito seja ele em seu entrar.”

– Anátema pronunciada contra Espinosa, em 27 de Julho de 1656

Chérem

1- Angelo Clair Oliveira – Acadêmico do 7º semestre do curso de filosofia –


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Em 27 de julho de 1656, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam puniu Espinosa com
o chérem, o equivalente hebraico da excomunhão católica, pelos seus postulados a
respeito de Deus em sua obra, defendendo que Deus é
o mecanismo imanente da natureza, e que a Bíblia é uma obra metafórica- alegórica,
que não pede leitura racional e não exprime a verdade sobre Deus. Após o chérem,
adotou o primeiro nome "Benedictus" (termo latino para "Bendito", isto é,
uma tradução do seu nome original, Benedito), assim atestando seu desvencilho da
religião judaica.
Para sua subsistência, trabalhava com polimento de lentes durante os períodos em que
viveu em casas de famílias em Outerdek (próximo a Amsterdã) e em Rijnsburg, tendo
recusado várias oportunidades e recompensas durante sua vida, em prestigiosas posições
de ensino. Em 1670 mudou-se para a cidade da Haia, e desenvolveu suas principais
obras. Convidado a lecionar na Universidade de Heidelberg, recusou porque teria de
acatar as normas ideológicas da universidade e seria impossível continuar com a sua
obra de forma independente. Uma vez que as reações públicas ao seu Tratado
Teológico-Político não lhe eram favoráveis, absteve-se de publicar seus trabalhos.
A Ética foi publicada após sua morte, na Opera Póstuma editada por seus amigos.
Como se não bastasse a expulsão da comunidade judaica, Espinosa recebeu acusações
terríveis que, em meados de 1650, poderiam custar-lhe a própria vida. A imputação
desses preconceitos fez da filosofia espinosista um pensamento menor, pouco lido,
quase perdido na história da filosofia moderna, ao menos até ser recuperado,
inicialmente pela filosofia alemã e depois pela filosofia francesa já no séc. XX.
Esse redescobrimento, iniciado por professores de filosofia como Victor Delbos, chega
até Gilles Deleuze. Em sua interpretação sempre surpreendente, ele escreveu dois livros
sobre Espinosa. “Espinosa e o Problema da Expressão” e “Espinosa, Filosofia Prática”.
Neste último, ele expõe as três injúrias mais freqüentes ao holandês: Ateu, Materialista
e Imoralista.
“Nenhum filósofo foi mais digno do que Espinosa, mas
também nenhum outro foi tão injuriado e odiado”
Deleuze, Espinosa, Filosofia Prática
Espinosa o herege
Espinosa recebeu três acusações que só não fazem sentido enquanto acusações. Se
lermos atentamente a filosofia de Espinosa, encontraremos subversão às idéias correntes
que compreendemos num instante a má recepção. Em todos os tempos em que o
pensamento contesta os fundamentos dos modos de vida dominantes, ele encontra
dificuldades de se expressar.
Há, portanto nessas três acusações algum conteúdo que as justifica enquanto idéias, mas
não podem ser aceitas enquanto acusações. Se Espinosa desqualifica um Deus todo-
poderoso, não significa necessariamente que ele é Ateu. Igualmente, há algo que
permite identificá-lo como materialista e imoralista, mas que de maneira nenhuma
permite acusá-lo disso. Entender o que justifica esses termos pode nos ajudar entender
algumas bases da filosofia espinosista

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 Espinosa não era ateu, mas sua filosofia se apóia numa concepção tão diferente de
Deus, que acaba por justificar esse ponto de vista.
Na Ética, encontramos a célebre fórmula: Deus, ou a Natureza. Uma maneira
radicalmente nova de pensar a existência, que afasta dos  atributos divinos a vontade
livre, a transcendência, o poder, os milagres. O que justifica essa acusação é o
enfrentamento a todos aqueles que tentam tirar Deus deste mundo para então usá-lo
contra os homens e a natureza.
 Espinosa não era exatamente materialista. O que ele fazia era nadar contra a corrente de
tudo que estava sendo dito em seu tempo. Enquanto todos falavam apenas de espírito,
mente, razão, ele nos diz: “mas nós nem sabemos ainda o que pode o corpo!”. O corpo é
a base de tudo, o corpo é o solo de onde brotam os pensamentos. Não há mais um
modelo filosófico onde a alma deve dominar os instintos e comandar as pulsões; agora o
corpo pensa, reflete, julga. A consciência torna-se efeito, quebra-se a hierarquia mente-
corpo. Ou seja, chamar Espinosa de materialista porque ele não coloca a alma em
primeiro lugar. Para muitos não Será então uma acusação… soa como um elogio.
 Espinosa não era imoral no sentido que se pretende atribuir com essa palavra. Ele não
tinha nenhum apreço pela honra, nem pelo poder, nem pelo dinheiro. Inclusive, um de
seus objetivos era alcançar um bem supremo que pudesse ser um modelo para a
humanidade. A questão então é outra: Espinosa não julga, ele tenta compreender. Ele
jamais acusa a natureza de erro ou imperfeição. Não há pecado, não há culpa.
Sua filosofia está para além de bem e mal, no sentido moral. Só há bom-jeito e mau-
jeito. Se imoralista é tentar ultrapassar o moralismo, então Espinosa o seria de bom
grado.

Ao contestar um império, ninguém sai impune. Não importa


exatamente o que se diz, pois o que invariavelmente
acontece é a assunção de que ao criticar o filósofo representa
o inimigo. Razão inadequada - Rafael Lauro

Espinosa pretendeu falar sobre tudo, como por exemplo, destaco este tema quando teve
que responder sobre os milagres:
“Os homens forjam inúmeras ficções e, quando interpretam a natureza, nela descobrem
milagres, como se ela delirasse com eles”
– Espinosa, Tratado Teológico-Político, Prefácio
A Fortuna em Espinosa é o plano de imanência da Política, na medida em que os
homens percebem as causas exteriores que os governam como contingentes. A
Superstição, por sua vez, surge como resultado da vida comum do homem nesse campo,
mas só persevera através das causas políticas.
Partindo dessa perspectiva, as relações de governo entre os homens são pensadas
sempre pelo paradigma da dominação. Há um esforço para manter os homens
ignorantes, para que se possa dominá-los melhor. A Superstição é uma ferramenta que

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suscita obediência e agrega a multidão em torno de causas imaginativas, daí sua
eficiência em garantir o modelo obediente da política.
Em Espinosa os Milagres, são narrativas falaciosas usadas como instrumento político.
Os milagres simplesmente não existem. Mas será esse o argumento definitivo? Mesmo
não existindo, eles poderiam ser usados de maneira positiva não é? Não poderiam, por
exemplo, ser usados como belas histórias motivadoras? Pensem numa cura fantástica,
isso não poderia ajudar os doentes?
Espinosa dirá enfaticamente que o milagre não pode ser algo positivo, pois ele promove
ignorância. Cada vez que nos apoiamos em uma ilusão imaginativa estamos mais
distantes das causas reais, aquelas que de fato produzem os efeitos. Posto dessa maneira,
o filósofo diz que não apenas os milagres mostram um uso político impotente, mas
privilegiam uma visão ignorante da natureza.
“Ponho milagres e ignorância como equivalentes”

Espinosa, Carta LXXV a Oldenburg

O Reconhecimento
Não que tenham faltado oportunidades para tentar outra carreira. A Holanda vivia uma
efervescência econômica, e Espinosa sempre esteve cercada por contatos influentes.
Recebeu até mesmo um convite para lecionar na prestigiada Universidade de
Heidelberg, mas se viu forçado a recusá-lo por conta da orientação para que não
ensinasse teorias contrárias à religião.
Suas obras o fizeram reconhecido em vida, tendo recebido cartas de figuras
proeminentes como Henry Oldenburg da Royal Society; do inventor alemão Ehrenfried
Walther Von Tschirnhaus; do cientista holandês Huygens; de Leibniz; do médico Louis
Meyer, de Haia; e do rico mercador De Vries, de Amsterdã. Luís XIV lhe ofereceu uma
larga pensão para que Espinosa lhe dedicasse um livro. O filósofo recusou polidamente.
O príncipe de Condé, na chefia do exército da França que invadira a Holanda,
novamente convidou-o a aceitar uma pensão do rei da França e ser apresentado a vários
admiradores. Spinoza, desta vez, aceitou a honraria, mas se viu em dificuldades ao
retornar a Haia, por causa dessa suposta "traição". Porém, logo o povo, ao perceber que
se tratava de um filósofo, um inofensivo, se acalmou.
O monumento feito em homenagem a Spinoza, em Haia foi assim comentado por Ernest
Renan, filósofo e historiador francês do fim do século XIX em 1882:

"Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa.


Será punido como todas as almas vulgares são punidas — pela sua
própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino.
Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho
da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o
homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve
a mais profunda visão de Deus"

1- Angelo Clair Oliveira – Acadêmico do 7º semestre do curso de filosofia –


email:angelovendas1@hotmail.com- Universidade Federal de Pelotas –UFPEL-
O retrato de Spinoza foi impresso nas antigas notas de 1000 florins dos Países Baixos,
até a introdução do euro, em 2002.
O Colóquio Internacional Spinoza ocorre anualmente desde 2005 na Universidade
Nacional de Córdoba, Argentina, a partir do trabalho de um grupo de pesquisa
coordenado por Diego Tatián (professor da UNC). O grupo nasceu do interesse em criar
um espaço que estimulasse os estudos sobre Spinoza na Argentina e reunisse colegas da
América Latina. Desde então, de modo ininterrupto, sempre no segundo semestre do
ano, o Colóquio tem reunido pesquisadores, docentes, estudantes e leitores de Spinoza
de variadas áreas de conhecimento, com ênfase na problemática política, ética e jurídica
que deriva da obra spinozana. Ao longo desse processo, o principal e maior impulso ao
Colóquio Internacional Spinoza decorreu do encontro e trabalho conjunto com grupos
brasileiros (de São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza). E que se fortaleceu com a
presença regular, a cada ano, de pesquisadores latino-americanos (Costa Rica, Chile,
México, Uruguai, Colômbia, Venezuela) e europeus (França, Itália, Portugal, Holanda,
Turquia.

Conclusão
Em seu Tratado Teológico-Político, publicado em 1665 (sem assinatura, por medo de
represálias), o filósofo dizia que o supersticioso era alguém incapaz de compreender
essas leis do Universo – e que precisava criar explicações simples para aquilo que não
conseguia entender.
Seu exemplo fundamental: a ideia de um Deus raivoso, que precisava ser cultuado e
agradado, não passaria de uma superstição.
Espinosa defendia que essa imagem de Deus era conveniente para a Igreja, que podia
prometer o perdão e, desta forma, ganhar poder. Ou seja, a superstição ajudaria a criar
regimes autoritários baseados na religião.
Esse pensamento virou uma bandeira cada vez mais forte nos séculos seguintes: a
separação entre a Igreja e o Estado.

1- Angelo Clair Oliveira – Acadêmico do 7º semestre do curso de filosofia –


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Bibliografia
1- https://spinoza.jur.puc-rio.br/index.php/2019/06/17/xvi-coloquio-internacional-
spinoza-2019-rio-de-janeiro/
2- https://razaoinadequada.com/
3- https://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_Espinoza
4- https://spinoza.jur.puc-rio.br/index.php/2019/06/06/ii-jornada-de-estudos-
espinosanos/
5- Livro “Tratado da Correção do Intelecto” Autor: Spinoza Créditos da
digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) Homepage
do grupo: http://br.egroups.com/group/acropolis
6- : http://commons.wikimedia.org
7- AS ILUSÕES DO EU DEUS, ÉTICA E A EPISTEMOLOGIA NO PENSAMENTO DE ESPINOZA
Gustavo Stuani GASQUE1 Gustavo Oliveira FERREIRA -
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/5013/4834
8- http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/12/deleuze-g-espinoza-
filosofia-pratica.pdf- deleuze-g-espinoza-filosofia-pratica

9- http://conexoesclinicas.com.br/wp-content/uploads/2015/12/DELEUZE-G.-Espinosa-e-
o-Problema-da-Express%C3%A3o1. Gilles Deleuze- livro ESPINOSA E O PROBLEMA DA
EXPRESSÃO
10- https://super.abril.com.br/ideias/nao-chore-nao-ria-mas-compreenda-espinosa/
11-

1- Angelo Clair Oliveira – Acadêmico do 7º semestre do curso de filosofia –


email:angelovendas1@hotmail.com- Universidade Federal de Pelotas –UFPEL-

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