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FICHAMENTO JUDICIALIZAÇÃO, ATIVISMO JUDICIAL E LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA

Luís Roberto Barroso

Ana Luiza Medeiros

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IV. Objeções á crescente intervenção judicial na vida brasileira.

Três objeções podem ser contra a judicialização, especialmente contra o radicalismo judicial do
Brasil.

1. Riscos para a legitimidade democrática

● Existem duas razões para provar a legitimidade para invalidar as decisões de quem exerce a
autorização popular escolhida pelo povo. A primeira é normativa, pois a Constituição
brasileira claramente delega esse poder ao Judiciário, em especial ao Supremo Tribunal
Federal. A maioria das democracias reserva parte de seu poder político para ser exercido por
agentes públicos não recrutados por meio de eleições, e suas ações são principalmente
técnicas e justas. A segunda é também uma razão filosófica: um estado constitucional
democrático, como o nome sugere, é um produto do acoplamento, mas não da confusão de
dois conceitos. Constitucionalismo significa poder limitado e respeito pelos direitos
fundamentais. A democracia significa a soberania do povo, o governo do povo.

2. Riscos da politização da Justiça

● O direito e a política na teoria da crítica jurídica são considerados exemplos de poder e


regra. No positivismo liberal da objetividade completa da ordem e da neutralidade absoluta
do intérprete, direito não é política. O direito está próximo da ética e torna-se um
instrumento de legitimidade, justiça e realização da dignidade humana. É inegável que a
linha divisória entre direito e política nem sempre é clara e certamente não é fixa
● O significado do direito e da política reside em: sua criação é o produto da vontade da
maioria e está incorporada na constituição e na lei; sua aplicação não é divorciada da
realidade política, divorciada de seu impacto no ambiente social, divorciada da sentimentos
e expectativas dos cidadãos; os juízes não são sem a existência de memórias e desejos, estão
libertos de seu inconsciente e de qualquer ideologia, portanto, sua subjetividade deve
interferir nos julgamentos de valor que fazem. A lei não é uma política que reconhece
liberdade, preconceito ou escolha partidária.

3. A capacidade institucional do Judiciário e seus limites

● A maioria das democracias do mundo é organizada de acordo com o modelo de separação


de poderes: legislação, administração e justiça exercem controle mútuo sobre as atividades
umas das outras para evitar instâncias de hegemonia que podem representar riscos aos
direitos básicos. Os três poderes de interpretação da Constituição e da sua aplicação devem
respeitar o valor e promover o fim estipulado na Constituição, sendo o poder de decisão
final a instituição judicial.
● A doutrina constitucional contemporânea explora dois conceitos: Capacidade institucional,
que envolve determinar qual poder é mais capaz de tomar a melhor decisão sobre um
determinado assunto. A segunda ideia é o risco de influência sistêmica, que é uma postura
cautelosa e respeitosa do Judiciário. O judiciário quase sempre pode intervir, mas nem
sempre deve intervir.

V. Conclusão

● Judicialização e ativismo são características notáveis nos últimos anos. A


judicialização não vem da vontade do judiciário, mas dos eleitores. O radicalismo
judicial expressa uma forma positiva e ampla de interpretar a Constituição. A riqueza
da legitimidade democrática, porque os membros do judiciário não são eleitos, foi
enfraquecida enquanto os juízes e tribunais atribuem importância à aplicação da
Constituição e das leis e não agem de acordo com sua vontade política. O judiciário
deve verificar se outros poderes, instituições ou entidades não estão mais bem
qualificados para tomar decisões sobre as matérias que tratam. O judiciário é o
guardião da constituição e deve implementá-la em nome dos direitos fundamentais
e dos valores e procedimentos democráticos, mesmo em face de outros poderes.
Até agora, o ativismo judicial tem sido parte da solução, não o problema, e seu uso
deve ser controlado em última instância.

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