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Leia a íntegra da entrevista de Lula


para sites independentes
Transcrição da entrevista do ex-presidente Lula (PT) a canais progressitas

22 de janeiro de 2022, 14:07 h

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Lula (Foto: Ricardo Stuckert)

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Site do Lula (https://lula.com.br/leia-integra-da-entrevista-de-lula-para-


sites-independentes/) - Leia a íntegra da entrevista que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva concedeu na última quarta-feira (19), em São
Paulo, para sites independentes. 

Participaram do encontro os sites Blog da Cidadania, Brasil 247, DCM


(Diário do Centro do Mundo), Jornal GGN, Jornalistas Livres, Revista
Fórum, RBA (Rede Brasil Atual) e Tutaméia. 

A íntegra da entrevista:

Mediador:Bom dia a todos, estamos começando aqui a coletiva do


presidente com sites da mídia independente. Todos estamos aqui com
distanciamento e vacinados. A gente vai começar a entrevista com uma
abertura do presidente, depois a gente vai encaminhar para as perguntas.
Presidente.

Luiz Inácio Lula da Silva: Bem, companheiros e companheiras, eu não

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quero considerar isso aqui uma entrevista tradicional. Eu quero considerar


isso aqui uma conversa muito verdadeira entre as pessoas mais
significativas da chamada imprensa alternativa nesse país, as pessoas que
têm lutado para restabelecer o processo de democracia nesse país, as
pessoas que têm denunciado constantemente o descalabro do que está
acontecendo no Brasil. Então, eu acho que vocês devem considerar isso
aqui uma conversa em que vocês terão que ser os mais francos possíveis
nas perguntas. Não existe veto, não existe censura, não tem pergunta
ruim, o que pode ter é resposta não satisfatória, mas isso faz parte das
conversas que se tem. 

Eu queria começar dizendo para vocês que depois de toda a nossa


participação no processo de reconstrução democrática desse país durante
os anos 70, os anos 80, depois das Diretas, depois da Constituinte, depois
da eleição do primeiro presidente, depois do Golpe Militar, eu não
imaginava que a gente tivesse um retrocesso político na questão da
democracia, na questão dos direitos humanos, na questão dos direitos
dos trabalhadores, na questão dos valores de uma sociedade como a
gente está tendo agora. Não imaginava. 

Eu não conseguia imaginar que fosse possível um país que foi capaz de
realizar a Campanha das Diretas, um país que foi capaz de se tornar
protagonista internacional, que em 2008 e 2009 alcançou um patamar de
sexta ou sétima economia mundial, um país que passou a ser respeitado e,
pela primeira vez, o Brasil não só participou da construção do G20, como
foi convidado a participar do G8, junto com a China, com a Índia e com a
África do Sul, eu não imaginava que a gente pudesse retroceder tanto. 

Hoje o Brasil é tratado como se fosse pária na política internacional,


ninguém quer vir aqui, ninguém tem prazer em receber o presidente do
Brasil, porque ele não fala em democracia, não representa a democracia.

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Ele representa fake news, representa uma coisa que a gente não estava
habituado a ver na história política do mundo e que começou muito
fortemente com o Trump, nos Estados Unidos, contando 11 mentiras por
dia. 

O Bolsonaro, segundo a imprensa, tem contado em média sete mentiras


por dia. Um presidente que não tem preocupação de falar com a
imprensa, tudo que ele fala é dentro de quatro paredes, transmitido pelas
suas redes para ele falar o que ele quiser sem ser questionado. Um
presidente que montou um governo que não tem nenhuma preocupação
em responder às ansiedades do povo brasileiro, as ansiedades da
sociedade brasileira com emprego, com saúde, com estudo, com cultura.
Ou seja, um presidente que não respeita os valores elementares da
democracia, não respeita negro, não respeita sindicalista, não respeita os
pequenos produtores rurais, não respeita a preservação ambiental, não
respeita relação internacional, não respeita as 620 mil vítimas do
Covid-19. Você não vê um gesto dele de carinho com as pessoas que
sofreram com Covid. Um presidente que tem que ser responsabilizado em
algum momento da história, pelo menos pela metade das pessoas que
morreram, mortes que poderiam ter sido evitadas, se o Brasil tivesse agido
de forma civilizada. Se o presidente tivesse agido de forma minimamente
democrática e humanista, se tivesse ouvido a ciência, se tivesse ouvido a
medicina, se tivesse ouvido os governadores, se tivesse ouvido os
secretários de saúde, se tivesse ouvido a Organização Mundial da Saúde,
certamente, a gente não teria o desastre que nós tivemos com a pandemia
no nosso país. 

Obviamente, que todos nós sabemos que não é um governo que vai
conseguir acabar com a pandemia, o papel do governo é organizar a
sociedade com aquilo que ela tem de especialidade, com aquilo que ela

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tem de acúmulo de conhecimento científico, para que ela possa minimizar


o sofrimento causado por uma pandemia, que é mundial. E ele fez questão
de destratar tudo aquilo que era possível ser feito, inclusive na escolha dos
seus ministros da Saúde. Eu nunca vi gente para tratar a doença, para
tratar do sofrimento dos outros, para tratar inclusive com crianças, eu
nunca vi gente com tanto descalabro, com tanta falta de humanismo, com
tanta falta de afeto, como a gente viu nesses últimos dias. Ou seja, você
falar de fazer uma consulta para saber se vai dar vacina para as crianças é
uma coisa tão absurda, num país que é um país que se tornou respeitado
no mundo pela cultura de vacinação que nós aplicamos nesse país,
abolindo várias doenças que agora começam a voltar. 

Então, esse é um momento muito delicado, além do desemprego, além da


queda do salário, além do desrespeito às instituições. E depois, uma coisa
grave, um presidente que foi eleito dizendo que era preciso abolir a velha
política. Eu não conheço na história da República Brasileira, desde
Marechal Deodoro da Fonseca, um presidente tão submisso ao Congresso
Nacional como está o Bolsonaro hoje. Mas não é submisso a um
Congresso Nacional democrático, a um Congresso Nacional que pensa um
Brasil desenvolvido, que pensa um Brasil estudado, que pensa um Brasil
evoluído, não, é submisso àquilo que tem de mais atrasado na política
brasileira, a ponto de subordinar o orçamento, que deve ser dirigido pelo
Governo Federal, a um senador eleito por um partido político da base do
governo. Isso nunca tinha acontecido no Brasil. 

Eu poderia pegar o Nassif (Luís Nassif, jornalista) aqui, como o mais


experiente de todos nós aqui na cobertura da política, para dizer que eu
nunca tinha visto no regime presidencialista deputados e senadores terem
mais influência nas decisões dos investimentos do Estado do que o
Governo Federal. Então, é um descalabro. É um país que está sem

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governo, é um país que não tem orientação para absolutamente nada, não
cuidou do ENEM, não cuidou do SISU, não cuidou do ProUni, não cuidou
do REUNI, não cuidou do FIES, não cuidou do crescimento econômico, não
cuidou da indústria, não cuidou do comércio, não cuidou das exportações,
ou seja, você não sabe para que existe governo. É o primeiro momento na
história desse país que você não sabe para  que existe governo. 

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Ele não discute nenhum assunto relevante para a sociedade brasileira, a


não ser discutir os processos de tentar evitar julgamento e investigação da
sua própria família, para tentar evitar o julgamento do resultado da CPI,
porque é muito grave o que aconteceu nesse país. Ou seja, então, diante
dessa situação que eu estou aqui me colocando à disposição de vocês. Eu
tenho dito, embora muitos de vocês não acreditem, que eu ainda não
estou candidato a presidente porque eu vou ter que esperar um tempo
para tomar essa decisão. Mas, veja, não existe possibilidade de nós não
fazermos o sacrifício que for necessário fazer, e o esforço que for
necessário fazer, para a gente recuperar a democracia do Brasil. É preciso
que a gente recupere a democracia para colocar a desigualdade na ordem
do dia como prioridade de um governo, e não colocar como prioridade o
teto de gastos. Para a gente colocar uma discussão do compromisso com a
evolução social da sociedade brasileira e deixar no segundo plano o
compromisso fiscalista do governo, que tudo faz para garantir dinheiro
para pagar ao sistema financeiro, e não faz nada para garantir o
pagamento da dívida social, que é histórica no nosso país. 

Então, é preciso juntar nesse país as pessoas que querem conversar sobre
o Brasil. O Brasil é um país que precisa efetivamente se dar conta de que é
plenamente possível melhorar a vida desse povo, é plenamente possível
esse povo estudar, é plenamente possível esse povo trabalhar, é

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plenamente possível esse povo tomar café, almoçar e jantar todo dia. É
plenamente possível a gente voltar a fazer o povo acreditar no seu
churrasquinho, na sua cervejinha, na sua costelinha, costelinha de porco,
costela de gado, quem não comer como a Gleisi (Gleisi Hoffmann,
presidente do PT), quem não comer carne, quem for vegetariano, que
coma uma bela salada, que coma um bife de soja, mas que, pelo amor de
Deus, a gente tem que devolver ao povo brasileiro o prazer das coisas mais
elementares que a gente nunca deveria ter perdido. E nós perdemos tudo. 

Então, eu acho que o sistema financeiro vai ter que aprender, quando
sentar para conversar com o presidente, a não ficar discutindo apenas os
seus interesses. Nós precisamos discutir quem é que está preocupado com
os milhões de brasileiros que estão dormindo na rua de forma
vergonhosa, coisa que nós tínhamos abolido no nosso governo. A gente
vai ter que discutir porque que a massa salarial tem caído tanto nesse
país, diminuindo o poder aquisitivo, e por que 74% das famílias estão
endividadas. É importante que a gente comece a fazer perguntas para
aqueles que sempre fizeram perguntas para a gente. Porque eu já fui
candidato muitas vezes, já perdi muitas eleições e já ganhei algumas, e
toda vez que a gente vai num debate as pessoas se inscrevem para fazer
perguntas: e a dívida fiscal, e a dívida pública interna, e a dívida pública
externa, e a taxa de juro? Ou seja, ninguém pergunta como é que está
vivendo o povo brasileiro, ninguém pergunta como é que está vivendo o
desempregado, ninguém pergunta como é que estão vivendo os milhões e
milhões de brasileiros que precisam ter o direito de morar, que está
assegurado na Constituição. 

Então, eu quero dizer para vocês que o dia que eu tomar a decisão, só tem
sentido eu tomar a decisão, e eu tenho falado para a Gleisi Hoffmann, se
eu tiver um compromisso de fé, um compromisso de fé. Eu não posso

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querer ser presidente da República para resolver o problema do sistema


financeiro, para resolver o problema dos empresários, para resolver o
problema daqueles que ficaram mais ricos na pandemia. Só tem uma
razão de eu ser candidato a presidente da República, é para tentar provar
que esse povo pode voltar a ser feliz, que esse povo pode voltar a sonhar
com uma escola técnica, que esse povo pode voltar a sonhar com
universidade, que esse povo pode sonhar, sabe, de viajar, de ir passear, de
ter acesso a coisas interessantes, que esse povo possa olhar um país que
não faça desmatamento. Mas não só cuidar do meio ambiente falando da
Amazônia, cuidar do meio ambiente falando da qualidade de vida das
pessoas da periferia, no esgoto a céu aberto, nas praias poluídas, nas
condições de vida que as pessoas vivem na periferia desse país, vivendo
em lugares efetivamente desumanizados. 

Então, é essa discussão que nós temos que fazer para a gente definir que
país nós vamos querer. E é plenamente possível, e eu acredito nisso, já
fizemos isso. Eu sempre cito uma frase que alguns gostam, outros não
gostam, mas que a solução para o país não é muito difícil. A gente tem,
para solucionar o problema do país, primeiro, colocar o pobre no
orçamento e, segundo, colocar o rico no imposto de renda. São duas
soluções que podem resolver o problema desse país. E a outra coisa que
nós vamos fazer nesse país é fazer com que a sociedade participe das
decisões importantes desse país. Vocês estão lembrados que, quando eu
fui presidente, nós fizemos 74 Conferências Nacionais. Conferências para
discutir tudo, inclusive a conferência para discutir a questão da regulação
dos meios de comunicação. Nada foi feito da cabeça do presidente ou do
ministro da Comunicação, ou de um ministro, tudo era discutido, de LGBT
a questão do sindicato, a questão da estrutura sindical.

Então, é plenamente possível a gente reconstruir uma convivência pacífica

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na diversidade. Ninguém quer ser unanimidade, ninguém quer ser o dono


da verdade, porque não tem mágica para governar esse país. Esse país
precisa de seriedade, esse país precisa de alguém que converse com o
povo, que acredite no povo e que permita que o povo possa ser sujeito da
história nas decisões importantes que nós queremos fazer. A gente não
precisa ler o Manifesto Comunista, a gente nem precisa ler o Livro Verde do
Kadafi, a gente só tem que ler a Constituição Brasileira para saber que
tudo que a gente quer está estabelecido na Constituição. 

Então, eu quero que vocês saibam que nós vamos fazer valer aquilo que
nós já provamos, aquilo que nós já conquistamos, para que o povo
brasileiro volte a ter orgulho de ser brasileiro de verdade, a ter orgulho de
gostar da bandeira brasileira. Não como se ele fosse a bandeira de um
partido político, porque eu tenho orgulho de dizer para vocês, eu tenho
um partido que tem uma bandeira e eu tenho orgulho da bandeira
vermelha do PT e da estrela do PT. Isso não diminui o orgulho que eu
tenho pela bandeira brasileira, pelos valores da minha pátria, pelo valor da
minha nação. O que eu não posso é roubar de 213 milhões de brasileiros o
símbolo que é de todos para tentar transformar num símbolo de um
partido. Quem tiver partido que crie juízo, faça a música do seu partido,
faça uma bandeira do seu partido, faça o manifesto do seu partido, faça
um programa do seu partido e diga por que que eles criaram um partido.
Eu sei por que eu criei o PT, tenho noção, eles que façam o mesmo. E aí
sim a gente vai construir um país democrático com, muita divergência,
porque a democracia, como eu digo sempre, não é um pacto de silêncio, a
democracia é efetivamente uma sociedade em evolução, em movimento,
questionando e brigando, lutando, reivindicando para que ela possa
sempre aperfeiçoar a democracia e melhorar a sua condição de vida. Dito
isso, eu agora me coloco à disposição de vocês para que vocês exercitem a
democracia, questionando o quanto vocês quiserem. Obrigado.

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Laura Capriglione – Jornalistas Livres: Bom dia, presidente Lula! Eu não


poderia abrir essa rodada de perguntas sem pegar a grande interrogação
desse momento. Eu sei que o senhor acabou de dizer que nem sabe se
será candidato, o Alckmin (Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo)
nem sabemos se será candidato. Mas eu queria perguntar para o senhor,
se o senhor, discutindo assim em cima da experiência vivida: o senhor
imagina uma chapa do PT para derrotar o Bolsonaro, porque é isso que se
trata, a gente tem que derrotar o Bolsonaro como primeira missão. Mas o
senhor imagina uma chapa para derrotar o Bolsonaro que o PT lidere e
que tenha como vice um cara que fez o massacre do Pinheirinho, um cara
que perseguiu professores, o cara que bombardeou os secundaristas, o
cara que é o principal responsável pelas chacinas que ocorreram na
periferia de São Paulo em 2006. Então, eu queria perguntar para o senhor
se, em tese, já que não estamos discutindo nomes, se em tese, o senhor
admite uma composição como essa no governo. Eu não estou falando
como aliança, aliança a gente faz com todo mundo para derrotar o
Bolsonaro, mas, no governo, como vice-presidente.

Luiz Inácio Lula da Silva: Laura, eu sinto que você construiu uma
quantidade de defeitos para poder falar do Alckmin. Deixa eu te dizer uma
coisa, eu não sei se vocês perceberam que só não tem falado do assunto o
Alckmin e eu. Você vê todo mundo falar todo santo dia, você vê todo
mundo dar palpite, mas você não vê uma fala minha, uma fala do Alckmin.
Por uma razão simples, o Alckmin saiu do PSDB e não se definiu para que
partido ele vai. Ele é um homem que não tem partido hoje, e eu não defini
a minha candidatura. Então, não pode ter nem candidato nem vice, é o
óbvio. Eu queria dizer isso para ficar claro. 

A segunda coisa é o seguinte, eu não sou candidato para ser protagonista,


eu sou candidato para ganhar as eleições, e sou candidato para ganhar as

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eleições no momento em que o Brasil está infinitamente pior do que


estava em 2003, quando eu tomei posse, economicamente, politicamente,
socialmente, o Congresso está muito, mas muito, muito, muito pior do que
o Congresso que eu tomei posse em 2003. 

Ganhar as eleições é mais fácil do que governar, e governar significa que


você tem que adquirir possibilidade muito grande de conversar com as
pessoas. Por isso é que nós precisamos fazer alianças, por isso é que nós
precisamos construir parceria. Eu estive com o governador Alckmin
durante quatro anos na presidência, que eu fui, porque o outro período foi
o Serra, e a minha relação com o Alckmin, eu não tenho nenhuma
divergência da minha relação com o Alckmin e nem com o Serra. Tive uma
conversa com os dois extraordinária, sabe, na relação entre os entes
federados. 

Nós temos divergências? Temos, por isso, pertencemos a partidos


diferentes. Temos visão de mundo diferente? Temos, mas isso não impede
que, se for necessário, que você construa a possibilidade das divergências
serem colocadas num canto e você colocar as convergências no outro
canto para você poder governar. Eu não terei nenhum problema se tiver
que fazer uma chapa com o Alckmin para ganhar as eleições e para
governar esse país. Só não posso dizer para você que vou fazer porque o
Alckmin tem que definir para que partido ele vai. Nós vamos ter que saber
se o partido que ele vai está disposto a fazer aliança com o PT, porque nem
as nossas alianças mais certas estão fechadas. 

Quem lê a imprensa vê todo dia, parece que está tudo certo entre PT e PSB
e daqui a pouco parece que está tudo, sabe, destruído, e daqui a pouco
você vê com o PSOL a mesma coisa, e daqui a pouco você vê com o PSD,
do Kassab. Então, nós precisamos ter tranquilidade porque o tempo vai se
encarregar e o tempo está chegando. Nós temos que definir a questão das

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federações, nós temos que definir a questão das alianças políticas, e aí


quando a gente fizer aliança o partido pode reivindicar vice, pode
reivindicar outro cargo. 

Eu só quero te dizer que da minha parte não existe nenhum, nenhum


 problema de eu fazer aliança com o Alckmin e ter o Alckmin de vice. Não
tenho nenhum problema. Nós vamos construir um programa de interesse
da sociedade brasileira, todo mundo sabe o que eu quero para esse país.
Não abro mão de que a prioridade é o povo brasileiro, a prioridade é o
povo trabalhador, a prioridade é a classe média baixa, a prioridade é o
povo que está ,desempregado, aquele chamado descamisado que o Collor
falava isso em 1989, essa gente é que tem que ser a nossa prioridade, e eu
espero que o Alckmin esteja junto, sendo vice, não sendo vice, sabe,
porque me parece que ele se definiu de fazer oposição definitiva não
apenas ao Bolsonaro, mas também ao dorismo aqui em São Paulo. 

É importante lembrar que o PSDB, do Dória, não é o PSDB social


democrata do Mário Covas, do Fernando Henrique Cardoso, do José Serra,
criado no período da Constituinte, no tempo do Franco Montoro. Então,
querida Laura, fique tranquila, que na hora que tiver que acontecer, eu
terei imenso prazer de marcar uma outra coletiva, se for o Alckmin, trazer
o Alckmin aqui, como eu levava o José Alencar junto comigo para mostrar:
está aqui a parceria para ganhar as eleições. É preciso ele querer, é preciso
saber que partido que ele vai entrar, e é preciso saber a definição do meu
partido, se vai querer também que eu seja candidato, porque tudo pode
acontecer no PT.

Luis Nassif – Jornal GGN: O presidente tem um teste que a gente fazia
com automóveis, mas vale para Supremo, vale para Procuradoria, que é a
instituição em situação normal sob voo e sob estresse. Nós já tivemos a
experiência do que foi o Supremo sobre estresse, a Procuradoria Geral da

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República sob estresse. Quando a gente fala no vice-presidente, com


todas, o Alckmin tem um conjunto de virtudes aí, é um sujeito de boa
índole, mas vamos supor o estresse. O estresse é o seguinte, por alguma
razão aí, porque ninguém é invencível ou é eterno, o presidente sai, o
senhor deixa a presidência por alguma razão. Ou seja, tem a situação
normal que é o Lula indo até o final do governo, o Alckmin seria um vice-
presidente tão legal quanto o José Alencar. E uma outra situação, que
pode vir a ocorrer, do Lula ter que sair no meio de um governo. O projeto
Lula nos transformaria num projeto Fernando Henrique Cardoso? O
pessoal que votou nesse projeto Lula… porque a cabeça do Alckmin, um
dos pontos de divergência é a questão do mercado, é a questão do modelo
Fernando Henrique Cardoso. A vice-presidência não devia ser algum
umbilicalmente ligado ao pensamento do presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, o problema é que quando a gente pensa
política às vezes a gente pensa no que a pessoa foi, e a gente tem medo de
pensar no que a pessoa vai ser. O ser humano ele é mutante, ele vai se
transformando, uns se transformam para pior. Eu vejo muitos
comentaristas na televisão brasileira que eram extremistas de esquerda,
sabe, há vinte anos atrás e hoje são direitistas, e fazem o julgamento dos
outros todo dia. E eu vejo pessoas como Teotônio Vilela, que no Golpe de
64 utilizava metralhadora para atirar em comunistas nas praças de Maceió,
e depois virou o símbolo da democracia e dos direitos humanos nesse
país. Eu, o que eu posso dizer para você? Quando você é candidato você
não, você não sabe o que vai te acontecer. O que eu sei que vai acontecer é
com esse país, nós vamos ganhar as eleições com um programa. Esse
programa será aprovado pelas forças políticas que vão compor a minha
aliança política. 

Quando tomei posse em 2003, a primeira coisa que eu disse foi o seguinte:

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no nosso governo não tem política de ministros, não é o ministro que


decide fazer uma ponte, um viaduto, e muito menos política de deputado,
com emenda. No nosso governo a política será definida pelo governo,
tudo será de todos. E vai ser assim. Então, veja, como eu acho que não vai
me acontecer nada porque eu tenho um compromisso, e acho que Deus
vai me ajudar a viver 120 anos, porque já nasceu o cara que vai viver 120
anos e eu fico pensando que pode ser eu… Então, eu não tenho, eu não
penso no pior, eu penso no melhor. Eu penso que eu vou ser eleito
presidente se eu for candidato, penso que nós vamos governar esse país, e
penso que nós vamos recuperar a alma desse país para o povo brasileiro, o
orgulho de ser brasileiro. E obviamente que o vice estará, como esteve o
José Alencar. 

O José Alencar eu vou contar para vocês uma pequena história, para
ninguém ter dúvida. Eu fui convidado para ir numa festa de 50 anos de
vida empresarial do José Alencar. O José Dirceu foi convidado,
telefonaram para o José Dirceu pedindo para ele me convidar. E eu disse
textualmente: eu não tenho porquê ir em Minas Gerais na festa de um
burguesão como o José Alencar. Eu sabia que ele era um grande
empresário, eu falei: `o que eu vou fazer lá?´ Não quis ir. Mas aí me
convenceram a ir. Cheguei lá tinha uns vinte senadores, tinha uns dez
governadores de estado, e eu estou lá com o nariz torcido: ´o que eu estou
fazendo aqui?´ E fala senador e fala… E daqui a pouco vai falar o José
Alencar. E o José Alencar começa a contar a vida dele. Quando ele
terminou de falar, eu falei para o José Dirceu: `encontrei o meu vice´. Eu
não conhecia o José Alencar, encontrei o meu vice. O José Alencar estava
disputando uma vaga, me parece que na presidência do Senado ou dentro
do PMDB, ele só teve o voto dele, só teve o voto dele. Eu fui conversar com
o José Alencar no dia que ele só teve voto dele. Cheguei lá, conversando
com o José Alencar e falei: companheiro, é o seguinte, olha, eu vim aqui

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para te convidar para ser meu vice, tem condição, você ter que sair do
PMDB… Porque o PMDB está apoiando outro candidato, eu queria você.
Fomos discutir a entrada dele no PL, acertamos a entrada dele no PL, e eu
duvido que alguém tenha a sorte de ter o vice que eu tive como o José
Alencar. 

Eu espero, eu espero que, se as forças políticas que me apoiam decidirem


se o Alckmin é vice, que ele esteja ouvindo o que eu estou falando, porque
ele tem que provar que ele vai ter que ser igual ou melhor que o José
Alencar. E aí eu estarei muito tranquilo porque o vice tem que ajudar a
governar esse país. Tem que ajudar a governar esse país de qualquer jeito,
porque esse país não tem mais espaço para brincadeira, não tem mais
espaço para aventura. E eu vou me cuidar. Vou me cuidar pedindo para a
mãe natureza olhar pelo Lulinha aqui, que eu preciso, eu vou casar com a
Janja, como é que eu posso casar e ter um problema? Eu tenho que casar
e viver pelo menos uns vinte anos.

Luis Nassif: Mas tem um negócio chamado escritório do crime, milícias,


essas coisas.

Luiz Inácio Lula da Silva: Não, eu não trabalho com essa preocupação,
mesmo sabendo que ela possa existir. Eu, sinceramente, acho que esse
país não tem essa cultura, sabe, a cultura nossa é da mentira, como foi
feito com o Getúlio Vargas, como foi feito com o Juscelino Kubitschek,
como foi feito com o João Goulart, como a vida inteira foi feita com o
Brizola, como foi feito com o Miguel Arraes, como tentaram fazer comigo.
Eu tive sorte, a ajuda de vocês, ajuda dos blogueiros desse país, eu tive
sorte do povo brasileiro, sabe, que me ajudaram a provar a farsa que foi
montada contra mim, em vida, outros não tiveram. Juscelino até hoje
paga por um apartamento que nunca foi dele no Rio de Janeiro. E eu,
graças a Deus, consegui desmontar, sabe, o canalha que foi o Moro no

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julgamento dos meus processos, do Dalagnol, a mentira, o fake news, o


PowerPoint da quadrilha, tudo isso eu consegui provar, que quadrilha
eram eles. 

Então, eu acho que nós temos que estar tranquilos. Eu tenho muito juízo,
muito juízo, eu sei da responsabilidade, você sabe, Nassif, que eu sou um
cara que eu gosto de conversar com as pessoas, eu gosto de ouvir as
pessoas, eu não tomo decisão com 39 graus de febre, ninguém acha que
eu tenho que tomar a decisão agora. Eu vou pensar, eu vou conversar, eu
vou ouvir e vou decidir. É assim que eu quero governar esse país, ouvir
mais o povo brasileiro. Eu não vou, se for candidato, Gleisi, é importante
você estar sabendo, eu não quero ser um candidato do PT. O PT é o meu
partido, mas eu quero ser candidato de um movimento que esteja
disposto a resgatar a decência do povo brasileiro, a dignidade do nosso
povo e o direito dele ser feliz e viver dignamente. É esse movimento que
vai restabelecer a democracia, é esse o movimento que vai dar um golpe
no Bolsonaro. É um golpe na urna, não é um golpe militar, é um golpe na
urna. E esse negócio de ele ficar bravo, dizer se não sabe se vai entregar,
que não sabe se vai aceitar, que vai ter capitólio. Não, ele calminho,
calminho, pode até sair pela porta dos fundos, como o Figueiredo. Mas
quem ganhar vai tomar posse e vai presidir esse país. E é isso que eu tenho
certeza. E, por isso, eu me preparo. Levanto todo dia seis horas da manhã,
faço seis quilômetros todo dia, faço muita musculação, faço muita perna,
para poder aguentar a marimba nesse país, e para aguentar a Janjinha
também. É isso.

Rodolfo Lucena – Tutaméia: Bom dia, presidente! A minha pergunta: os


Estados Unidos apoiaram o Golpe de 64, os Estados Unidos apoiaram o
golpe contra a presidenta Dilma, os Estados Unidos apoiaram todo o
processo da Lava Jato para tirar o senhor do processo eleitoral em 2018.

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Como o senhor avalia que os Estados Unidos, e aí eu falo desde o Estado


Profundo, CIA, órgãos de segurança, o trumpismo e a Casa Branca
mesmo… ontem mesmo a gente conversou com o Frei Beto e ele alertava:
a Casa Branca não dorme. Então, eu queria saber como o senhor avalia
que os Estados Unidos vão se comportar frente a um processo eleitoral em
que, ao julgar por hoje, as chances são de que saia do Planalto o
presidente que foi mais submisso, mais subserviente aos Estados Unidos
na história do Brasil, e entre um presidente que, como disse o seu biógrafo
Fernando Morais, saiu da prisão muito mais anti-imperialista? 

Luiz Inácio Lula da Silva: Veja, eu acho que o Frei Beto cometeu um
equívoco. Se ele estiver assistindo, eu queria alertar Beto, que a Casa
Branca dorme, quem não dorme é o Pentágono e a CIA. Os presidentes
dormem e, de tanto dormir, às vezes acontecem coisas que eles não
gostariam que acontecesse. Agora, eu tenho clareza do papel histórico dos
Estados Unidos, tenho muito, muito, muito, sabe, compreensão. Agora, eu
acho que muitas coisas que acontecem no Brasil dependem menos da
ingerência dos Estados Unidos e dependem mais do complexo de vira-lata
da elite brasileira. É ela que permite, é ela que muitas vezes chama esses
golpes que você citou para dentro do Brasil. Porque é assim
historicamente, é assim historicamente. 

Quando se dizia, sabe, que os Estados Unidos tinha participação no Golpe


de 64, todo mundo que dizia isso era chamado de conspirador: você
acredita em conspiração, você acredita nisso. Aí vem a informação, o
telefonema do embaixador americano recebendo ordem do presidente
Kennedy para fazer o que tinha que fazer aqui no Brasil. Então, nós temos
fita, nós temos vídeo de procurador americano festejando a minha prisão.
Nós temos dados e informações do procurador da Suíça, sabe, fazendo
toda a canalhice que fez. Eu lembro que eu fui conversar com o

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embaixador da Suíça e eu falei para ele, sabe, vocês sabem que vocês
estiveram envolvidos no meu processo. Ele falou: não, mas ele já foi
afastado, ele já foi afastado. Mas significa que tiveram. 

Deixa eu te dizer uma coisa, Rodolfo, eu aprendi desde muito pequeno que
quando a gente não se respeita, ninguém respeita a gente. Eu tive uma
relação muito, muito, muito séria com o presidente Bush. Vocês já sabem
dessa história, dia 10 de dezembro de 2002, eu já eleito presidente da
República, fui aos Estados Unidos conversar com o Bush. Primeiro eu fui à
Argentina, depois eu fui ao Chile, que eu queria mostrar o meu
compromisso com a integração sul-americana. E, quando eu cheguei lá, o
Bush passou 40 minutos me convidando para a guerra do Iraque, inclusive
dizendo que se o Brasil participasse da guerra o Brasil poderia participar
da reconstrução do Iraque. É engraçado, você faz uma guerra para
destruir, já pensando que as suas empreiteiras vão reconstruir o país. E eu
disse para o Bush a coisa mais simples do mundo: `eu não conheço
Saddam Hussein, o Iraque fica a quase 14 mil quilômetros do meu país, ele
nunca me fez nada, o meu inimigo é a fome, não é o Saddam Hussein. E eu
vou então fazer uma guerra contra a fome do meu país´, e acabou. E
nunca perdi a relação de amizade com o Bush, e ele tratou o Brasil muito
dignamente. Tratou tão dignamente que nós fomos visitar uma refinaria, e
chegamos num posto de gasolina ele estava com o quepe da BR na
cabeça, e apareceu um carro da GM para ele tirar foto, ele falou: eu não
posso tirar foto perto de produto. E ele estava com o chapéu da BR, eu
nem avisei para ele tirar o chapéu da BR porque era importante ele fazer
propaganda da nossa BR. 

Mas depois eu tive uma boa, uma boa relação com o Obama. Eu acho que
o Obama, ele não foi, não foi tão cortês com o Brasil como foi o Bush na
relação comigo. A invasão da Líbia foi decidida e ele estava no Brasil,

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quando ele recebeu o telefonema para falar com o Sarkozy, com o


primeiro-ministro da Inglaterra. Aquela espionagem que ele fez no Brasil,
ele teve a sensatez de pedir desculpa para a Angela Merkel, mas não pediu
desculpa para a Dilma, sabe. 

Então, o que, como é que eu vou tratar os Estados Unidos? Primeiro eu


trato os Estados Unidos com respeito que eu acho que eles merecem,
agora, eu quero que eles me tratem com o respeito que o Brasil merece.
Eles têm que compreender que o Brasil é o país mais importante da
América Latina, é o país maior do ponto de vista da população, é o país
maior economicamente, e o Brasil tem interesse em crescer junto com
todos os países da América Latina e da América do Sul. E o Brasil pode ser
um grande protagonista da América do Sul. O Brasil pode ser um parceiro,
porque o Brasil não pode querer crescer sozinho, nós temos que crescer
levando junto conosco os nossos parceiros: Argentina, o Chile, Uruguai,
Paraguai, o Peru, Equador, Bolívia, sabe, a Colômbia, sabe, os países do
Caribe, ou seja, o Brasil tem potencial para isso. 

O que os Estados Unidos precisam aprender é que o Brasil não é serviçal


deles, o Brasil é um país soberano, que define a sua política externa, e da
mesma forma que o Brasil respeita a política externa dos Estados Unidos
nós queremos que eles respeitem a política externa do Brasil. É só isso. É
só isso. Nós não somos quintal de ninguém. Isso vale para os Estados
Unidos, vale para a China, vale para a Rússia, vale para a Índia, e vale para
a Guiné-Bissau, sabe? Respeito é bom, a gente gosta de dar, e a gente
gosta de receber. É isso que eu posso falar para os Estados Unidos. A gente
não vai aceitar, como eu não aceitei, interferência daquilo. Os Estados
Unidos não queriam que eu fosse ao Irã, o Obama não queria que eu fosse
ao Irã. A Hilary Clinton ligou para o Emir, do Catar, para que o Emir me
convencesse a não ir para o Irã. O Obama ligou para o Medvedev, eu estava

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em Moscou, quando o Medvedev me falou: olha, o Obama ligou pedindo


para mim interferir para que você não vá. Eu falei: eu vou. Ele não quer que
eu vá porque ele não acredita que a gente vai conseguir um acordo, e eu
acredito. Nós fomos lá, depois de dois dias conseguimos o acordo melhor
do que o que eles fizeram depois de nós, bem melhor. Mas a imprensa
brasileira, com o complexo de vira-lata, não queria que o Brasil fizesse o
acordo porque também para os vira-latas desse país o Brasil não tem que
se meter, o Brasil não tem tamanho. 

Eu lembro que eu fui conversar com um embaixador importante do Brasil,


e eu fui reclamar porque tiraram o Bustani. O Bustani era embaixador do
Brasil e era o diretor da agência que cuidava de armas químicas. E o
Bustani dizia que não tinha armas químicas no Iraque. O Clinton pediu
para o Fernando Henrique Cardoso tirar o Bustani, e o Fernando Henrique
Cardoso tirou o Bustani. Aí escolheram aquele japonês que dizia que o
Iraque tinha armas químicas. Ou seja, eu fui dizer para o embaixador
porque o Brasil tirou. Ele falou: ah, porque o Brasil não põe dinheiro, só
quem põe dinheiro são os americanos, então eles têm que mandar
mesmo. Com essa visão, a gente não vai a lugar nenhum. 

Então, é preciso a gente saber se respeitar. Eu reconheço o valor dos


Estados Unidos, a importância dos americanos, a importância da China, a
importância da Rússia, a importância da Índia, mas reconheço a
importância de uma ilha pequena no Caribe, todos têm o direito de ser
soberanos, e cada um age de acordo com a sua força. E o Brasil tem muita
força, basta ter coragem de utilizá-la. Agora, se o Brasil tiver um presidente
que fica batendo continência para a bandeira americana, ou rastejando-se
de quatro aos pés de um presidente como o Trump, o Brasil não vai a lugar
nenhum.

Mauro Lopes – Brasil 247: Presidente, uma brevíssima consideração:

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Logo depois do golpe contra a presidenta Dilma, em 2016, os poderosos


desse país e as famílias decretaram que todo esse grupo de mídia
independente que está aqui estava liquidado. Pouco depois, quando o
senhor entrou na cadeia, em abril de 2018, esses mesmos poderosos e sua
mídia disseram: Lula está morto politicamente. Hoje eu cheguei aqui,
entrei e falei e com o Stuckert: Stuckert, que lugar presidencial esse,
bonito, chique, elegante, a gente está aqui, essa mídia independente, e o
senhor. Eles perderam. Eles perderam. Eles, o povo brasileiro está aqui, a
mídia independente está aqui e o senhor está aqui. Então, eu quero dizer
que para mim é um momento de grande emoção e considero um encontro
histórico na abertura do ano das eleições desse país. 

Isso posto, queria lhe propor mudar um pouco a agenda da conversa. Eu


vou fazer alguns pressupostos e uma pergunta bem concreta. São eles:
primeiro, as pessoas negras e as mulheres são as duas grandes maiorias
do país, tanto as pessoas negras quanto as mulheres são mais do que 50%
do país. Essas mesmas pessoas, segundo as pesquisas de opinião, se o
senhor for candidato, deverão garantir a sua vitória. Não há nenhum outro
grupo no país, mulheres, negros, e os mais pobres, no qual a proporção de
votos, de intenção de voto que o senhor tem, seja maior. É disparado
maior. Então deverão garantir a sua vitória, se o senhor for candidato. Os
movimentos negros e feministas, mais o movimento indígena e o LGBTQI+
são um polo dinâmico da luta política social e cultural do país, com
presença que atravessa inclusive o movimento sindical, Movimento dos
Sem Terra e todos os movimentos sociais do país. O PT tem a luta contra o
racismo e contra o sexismo e o patriarcalismo como centrais em seu o
programa, e na discussão de suas lideranças mais expressivas, como o
senhor, Gleisi Hoffmann, Fernando Haddad e tantos outros. Em que pese
tudo isso, os governos do PT deixaram muito a desejar em relação à
presença das mulheres e das pessoas negras nos seus governos, tanto nos

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governos, nos dois governos Lula, como nos governos Dilma. Nos seus
dois governos, presidentes, houve 99 pessoas que passaram pelo
ministério, apenas 10 eram mulheres, dessas apenas 3 eram mulheres
negras. Apenas 7 homens negros, 82 eram homens brancos, 81% dos seus
ministros e ministras. As pessoas negras e as mulheres foram objeto
efetivo dos programas de seu governo, mas foram pouco protagonistas na
liderança do processo. Nesse momento nós temos uma enxurrada de
mulheres e homens negros que foram formados pelas políticas de cotas
dos governos do PT, mestres e doutores, e a gente tem ao mesmo tempo
uma tendência na esquerda mais contemporânea que acontece, por
exemplo, na Alemanha, Olaf Scholz, o senhor deverá ter como parceiro na
arena internacional, assumiu o governo alemão com a promessa e
cumpriu a promessa de paridade de gênero, lá são 8 ministros homens, 8
ministros mulheres. Boric, aqui no Chile, já se comprometeu a um governo
paritário com mulheres. Na Bolívia as mulheres ocupam 56% do Senado.
O México aprovou uma lei que garante paridade de gênero em todas as
esferas de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário. 

O senhor está pronto a se alinhar com essa tendência e assumir um


governo, se o senhor for candidato e vencer as eleições, com o
compromisso de paridade de gênero e raça? A minha pergunta é, eu não
estou perguntando uma adesão a ideia, é uma pergunta concreta: o
senhor terá paridade total de gênero e raça no seu governo, ou pode
assumir conosco aqui um compromisso pelo menos de percentuais
mínimos de presença de pessoas negras e mulheres no seu ministério?

Luiz Inácio Lula da Silva: Mauro, primeiro obrigado pela pergunta. Eu


acho que essa é uma das razões que eu dizia em 2018 que gostaria de
voltar à presidência da República, porque era preciso a gente fazer coisas
que a gente não tinha feito. Veja, eu acho que, quando eu ganhei as

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eleições de 2003, é preciso que a gente veja o momento histórico para a


gente não menosprezar as coisas grandes que foram feitas. Não pense que
foi fácil criar o Ministério da Igualdade Racial, não é uma coisa simples
num país que foi o último a abolir a escravidão, o último a fazer a
independência, o último a garantir o direito de voto das mulheres, o
último a ter uma universidade. Ou seja, nós somos um país que tem um
acúmulo de retrocesso e de atraso nos avanços sociais, e nós pagamos um
preço por isso. Graças a Deus, eu faço parte de um partido político que
tudo no partido político é paritário hoje, tudo no PT, tudo, sabe. 

É importante você lembrar que avanços importantes, inclusive a


candidatura de mulheres hoje, ela é paritária, a candidatura de mulher
tem, inclusive, aporte de verbas, sabe, necessária para a gente alavancar o
atraso a que a gente foi submetido. Eu acho que nós caminhamos para ver,
em algum momento da história desse país, uma maioria de mulheres
mandando. Porque quando você fala que só teve isso de negro e de
mulher você esquece de falar que foi no nosso governo que pela primeira
vez uma mulher virou presidenta da República desse país e não uma
mulher qualquer, uma mulher que aos 20 anos de idade tinha sido presa,
condenada, torturada, sabe, e dada como morta para a política. E ela virou
presidente da República. Então, isso foi um gesto revolucionário muito
grande. E também no governo da Dilma não teve a quantidade de
mulheres que a gente poderia ter. O que eu posso te dizer? Eu não posso
numa entrevista coletiva falar cota ou falar números, mas eu posso te dizer
que hoje os partidos políticos sabem, trabalham com a ideia de que as
mulheres terão que ter uma participação muito mais forte dentro do
partido, nas bancadas dos partidos e dentro dos governos, como,
sobretudo, o povo, o movimento negro, como a questão dos indígenas. 

A sociedade está caminhando e o PT é um dos partidos que puxa essa

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discussão internamente, para que a gente possa fazer um governo


efetivamente, que respeite a densidade da sociedade brasileira tal como
ela é. As mulheres são tão ou mais qualificadas do que os homens em
muitas coisas. Aliás, eu acho que algumas coisas as mulheres têm muito
mais coragem do que os homens para fazer, sabe, e eu acho que primeiro
nós temos que ganhar as eleições. Você está lembrado que tem gente que
quer que eu já indique quem é o meu guru econômico, tem gente que quer
que eu indique o meu vice, tem gente que quer que eu indique quem vai
ser o meu ministro da Justiça, tudo isso vai acontecer no tempo certo. 

Eu aprendi em 85, com a campanha do Fernando Henrique Cardoso, que a


gente não senta na cadeira antes do tempo que dá azar. Eu não ganhei
nada ainda, e essa força que vai ser o meu governo, ela vai ser
demonstrada na campanha. Porque na campanha nós vamos querer uma
participação bastante paritária, senão em alguns casos até
majoritariamente, pessoas que não participavam muito da vida política
desse país. Porque nós vamos montar muitos comitês, nós vamos fazer
muitos grupos para criar um programa, e eu vou reeditar as Conferências
Nacionais para elaboração das políticas públicas e vou remontar, sabe, o
chamado, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, muito mais
paritário agora, muito mais representativo da sociedade brasileira, sabe.
Então, você continue escrevendo que você vai ter muita surpresa com o
que vai acontecer nesse país, até porque eu volto, se disputar as eleições,
com uma consciência de que um governo, o presidente da República não
pode tudo, sabe. 

Eu dizia que quando me perguntavam qual era o grande feito meu no meu
governo eu dizia: o grande feito meu não foi uma obra, foi o povo ter
descoberto que ele fazia parte do governo, foi a inclusão do povo nas
decisões. E agora eu acho que nós precisamos transformar o povo, sabe,

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em sujeito da história. Esse país não é meu, esse país não é teu, esse país é
nosso. Então, é esse nosso que envolve negros, índios, desempregados,
empregados, gente que mora na periferia, o povo na rua, o catador de
material reciclável, é esse povo, sabe, que tem que ajudar a dizer que país
nós queremos ser. Não é apenas a Avenida Faria Lima, não é apenas a
Bolsa de Valores. Eles também serão ouvidos, mas eles têm que aprender
que tem outros setores importantes para decidir que tipo de Brasil nós
vamos querer. Essa é uma das razões pelas quais eu posso ser candidato,
que eu quero provar que é possível exercer a democracia na sua plenitude,
respeitando a totalidade da sociedade brasileira. 

Só dizer para vocês o seguinte, eu acho que nós ainda não vencemos. Nós,
você, disse na sua pergunta que eles pensavam que a gente estava morto e
estamos nós aqui. Não, nós ainda não vencemos, porque o vencer que
você pensa e o vencer que eu acho que você pensa, é um vencer que além
de ganhar uma eleição nós temos que aprimorar as instituições nesse país.
As instituições nesse país ainda elas são compostas pela, eu diria, pela que
plutocracia que fez a proclamação da República, ainda do tempo do
Império, quem são os desembargadores, quem são os juízes, quem são
procuradores, quem são… sabe, essa gente da casta do aparelho de
Estado é gente muito sofisticada, ainda não tem ninguém do ProUni, ainda
não tem ninguém das cotas, sabe. E quando essa gente estiver
participando das instituições, a gente pode ter certeza de que a
democracia está se consolidando de forma definitiva no Brasil. 

Paulo Donizete – Rede Brasil Atual: Bom dia a todos, bom dia presidente!
Eu queria destacar que eu falo também em nome do coletivo que tem a
TVT, a Rádio Brasil Atual, e a parceria do Brasil de Fato. Presidente, acho
que nunca antes na história desse país ficou tão evidente o papel da
ciência, diante da tragédia que tem sido o combate à pandemia. Então,

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acho que nunca se deu tanta importância ao valor que tem a ciência para
a construção de uma humanidade mais civilizada. Essa mesma ciência,
presidente, ela também tem afirmado ao longo dos anos que o nosso
modo de produção industrial de bens de consumo ele está sendo letal
para o planeta, o aquecimento global, o mau uso dos recursos naturais, a
emissão de gases de efeito estufa, o uso da tecnologia como forma de
ampliação do lucro, ao invés de melhorar as condições de trabalho e de
vida de quem produz. Então, é uma infinidade de mudanças que seriam
necessárias para que o nosso modo de produção e o nosso modo de
consumo fosse revigorado. 

Então, levando em conta que o senhor também ainda não confirmou a sua
candidatura, mas estamos aqui falando também com um possível
candidato e um possível presidente, eu gostaria de saber se o senhor e o
campo progressista que o acompanha, estão se preparando para
apresentar para o mundo, para liderar ou para participar de maneira
protagonista na construção de um novo modelo de produção industrial,
principalmente. Hoje em dia, por exemplo, quem consegue comprar um
carro elétrico é 1%, 99% não consegue nem sonhar com isso. Então, eu
pergunto, até porque em termos de política industrial, e todos os
economistas desenvolvimentistas falam que é preciso uma política
industrial nacional forte para o país se desenvolver, já que vamos começar
do zero, já que ela está destruída, há muitos anos ela vem sendo
destruída, em parte também por esse sistema de financeirização da
economia, eu gostaria de saber se o senhor está preocupado em se
preparar, em preparar o país para já que vai reconstruir, reconstruir a partir
de um novo modelo mais humano e mais sustentável.

Luiz Inácio Lula da Silva: Paulo, eu tenho a seguinte consciência, o Brasil


precisa pensar em recuperar a sua capacidade industrial. A indústria já

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representou no Brasil 30% do PIB, e hoje a indústria representa de 10% a


11% do PIB, ou seja, significa que a nossa indústria desapareceu. E ela
desapareceu porque as pessoas quiseram que ela desaparecesse, ou seja,
tanto as multinacionais começaram afundando as nossas empresas de
autopeças, quanto os nossos grandes empresários, a gente tinha
empresário nacionalista, pessoa de envergadura, que era respeitada. Eu
lembro sempre uma pessoa que não gostava de mim, o Antônio Ermírio de
Moraes, mas eu nunca deixei de reconhecê-lo como um grande
empresário brasileiro, um cara como uma visão nacionalista, com uma
visão de soberania da indústria nacional. Os Villares, os Mindlin, os
Bardella, ou seja, eram um conjunto de empresários que pensava o Brasil,
não deixavam de ser atrasados na relação com os trabalhadores. Eu
lembro que o Antônio Ermírio de Moraes, nós fomos fazer uma greve na
fábrica química dele lá em São Miguel Paulista, e nós fomos pedir
Comissão de Fábrica, que nós tínhamos conseguido já na Volkswagen, e
ele disse: na minha fábrica ninguém vai mandar. E nós fomos e ele não
aceitou fazer a Comissão de Fábrica. Mas embora eu tenha essa
discordância com a visão do mundo, do trabalho dele, da relação com o
sindicato, eles tinham uma noção nacional, sabe, e isso acabou. 

Isso, quando eu vejo os empresários brasileiros é o velho da Havan, sabe,


o que é uma tristeza para o nosso país, ainda vendendo produto chinês,
não é nem produto brasileiro. Então, eu acho que nós temos que pensar,
em que nicho de indústria a gente vai apostar para que esse país possa
voltar a ser industrializado. Porque, nós perdemos a era da indústria
automobilística, nós somos o único país que está entre as dez economias
maiores do mundo que não tem uma indústria automobilística. Nós
poderíamos ter tido, mas não quisemos ter, ou não deixaram que a gente
tivesse. Como não queriam deixar, em 53, que a gente tivesse petróleo,
porque era melhor, diziam na época, importar dos Estados Unidos. É só

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pegar o editorial do Jornal O Estadão da época. Você pensa que o Estado é


conservador agora que ele está pequenininho? Não, ele era conservador
na época já, em 53. 

Então, nós temos que pensar, nós estamos discutindo isso dentro da
Fundação Professor Abramo, nós temos o NAPP, o Núcleo para discutir
política industrial, nós temos que definir que nicho de política industrial a
gente vai querer, que tipo de indústria a gente quer fazer crescer. Nós
temos plataforma, sabe, de algumas coisas que nós precisamos crescer. O
Brasil é um país que era o terceiro produtor de avião do mundo, a terceira
indústria de aviação do mundo era brasileira, a Embraer, que embora a
aviônica fosse importada dos Estados Unidos, mas a gente tinha uma
participação no mercado respeitável. O Brasil pode voltar, apesar da
Embraer já ter voltado, porque a Boeing devolveu, mas o Brasil pode
escolher algumas coisas, sobretudo agora que nós estamos praticamente
na América Latina e na Europa quase que começando do zero.

Porque nessa nova indústria da inteligência artificial, nessa famosa


indústria digital, nessa famosa indústria de dados, que todo mundo fala e
ninguém sabe o que é ainda, a China e os Estados Unidos detém 90%
desse mercado. A Europa e a América Latina tem 10% só. Como é que a
gente vai entrar nisso? Você veja a confusão que deu só pelo fato de eu ter
dito: está na hora do movimento sindical começar a ficar atento às
mudanças trabalhistas que estão acontecendo na Espanha. Você viu que
houve uma gritaria. É por isso que nós fomos o último país a abolir a
escravidão, sabe. E ainda quando se aboliu a escravidão, os donos dos
escravos queriam que o Estado pagasse indenização. Então, essas pessoas
não se dão conta que não há democracia sólida se a sociedade não estiver
bem estruturada do ponto de vista organizacional. Isso acontece na
indústria que paga um salário, sabe, mais importante, que tem mais valor

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agregado. 

Bem, eu te confesso que o único desafio que cabe a mim nesse instante,
que sou um leigo em muitas das coisas ,é envolver as universidades,
envolver os empresários e o Estado para que a gente discuta o que fazer.
Eu, no tempo que eu era presidente, nós criamos no BNDES vários núcleos
para discutir inovação industrial. Essas coisas estão dando muito pouco,
porque os empresários brasileiros não investem em inovação, não
investem em pesquisa, quem investia em pesquisa era a Petrobras. Era
Petrobras, era o Estado que investia, porque eles não investem. Então, nós
precisamos, primeiro, fazer uma grande discussão com a sociedade
brasileira, o que nós entendemos por uma nova política industrial, qual é
o mercado que a gente pode entrar, o que a gente pode estruturar. E aí eu
tenho consciência que se a gente pegar, sabe, os cientistas brasileiros,
pegar as nossas universidades, pegar os nossos empresários, os mais
jovens e mais modernos, e pegar o agente que tem o governo, a gente
pode apresentar. 

Eu lembro que no governo da Dilma, Aloizio Mercadante era ministro da


Ciência e Tecnologia, eu lembro que foi apresentado uma plataforma de
dez tipos de indústria que a gente poderia começar a desenvolver no
Brasil. E nós temos que fazer isso tendo consciência que ninguém vai nos
ajudar, é nós, é a nossa inteligência e os nossos interesses soberanos, para
a gente discutir claramente como é que a gente pode criar um novo
mundo. Uma coisa que está certa, Paulo, o seguinte: todo mundo fala que
o mundo tem que mudar, mas todo mundo continua fazendo a mesma
coisa. Todo mundo fala que tem que mudar, mas quando você pega a
imprensa você lê que tem pouca gente que ficou duas vezes, três vezes,
até dez vezes mais rico na pandemia, e os pobres do mundo inteiro
continuam sem ter acesso a vacina, sabe. A gente nem recebe informações

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de como está a pandemia na maioria dos países africanos. 

Então, eu acho que nós temos que construir um outro mundo. Por isso eu
queria lhe dizer uma coisa que eu defendi no Congresso em Genebra, no
Parlamento Europeu: nós precisamos rediscutir uma nova governança
mundial. A gente não vai resolver a questão ambiental, se a gente deixar
por conta do Estado Nacional. Porque quando você aprova coisa numa
conferência para discutir meio ambiente, essa coisa volta para dentro dos
estados para eles aprovarem, e normalmente os Congressos não aprovam.
Você sabe que eu era presidente, em 2008, a União Europeia tinha
decidido que em 2020 todos os carros europeus teriam no mínimo 10% de
etanol ou de biodiesel. O que aconteceu? Nada. Nada, não introduziram.
Portugal queria 20%, o Japão queria ter 3% de biodiesel e de etanol na sua
gasolina, não fizeram nada. 

É preciso que a gente tenha uma governança, que a gente tenha uma ONU
rejuvenescida, renovada, mais representativa da geopolítica atual, com
determinados poderes que algumas coisas, sobretudo, na questão
ambiental e na questão da paz, tem que ter uma decisão coletiva e não
uma decisão unilateral. É preciso acabar com o poder de veto na ONU, é
preciso acabar com o poder dos Estados Unidos não respeitar nenhuma
decisão. Ou seja, a mesma ONU que em 48 construiu o estado de Israel,
não tem coragem de construir o estado palestino. Então, é preciso ter uma
nova governança. Por que o Brasil não está no Conselho da ONU? Por que
a Argentina não está? Por que o México não está? Por que a Índia não está?
Por que a Alemanha não está? Por que o Japão não está? Por que o Egito
não está? Por que a Nigéria não está? Por que a África do Sul não está? Ora,
a Segunda Guerra Mundial já faz muito tempo, ou seja, de 45 até 2020, já
são 75 anos, sabe, é preciso que a gente, tem coisa que a gente tem que
mudar para a gente pensar um novo mundo. 

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Que tipo de indústria a gente vai querer desenvolver, como a gente vai
cuidar do meio ambiente, como a gente vai cuidar das nossas riquezas
minerais, da nossa água, da nossa floresta, sabe, isso tem que ser uma
discussão que envolva além das nossas fronteiras, que envolva o mundo.
Para que cada um cumpra com a sua função. E hoje não dá, hoje o que eu
vejo são os países ricos dizerem que os pobres tem que fazer um fundo,
que eles tem dinheiro para financiar um fundo, sabe. O pobre quer se
desenvolver. Ninguém quer que a Amazônia seja transformada num
santuário da humanidade, as pessoas que moram na Amazônia querem
ter acesso a bens materiais, querem produzir. É possível utilizar a riqueza
da biodiversidade da Amazônia para desenvolver a Amazônia? É. Então,
nós temos que investir em pesquisa. 

Nós temos que fazer parcerias como nós fizemos no meu governo com
aquele fundo da Alemanha e com a Noruega. É possível fazer, é possível a
gente utilizar riqueza daquele ecossistema para a gente ganhar dinheiro
para desenvolver o Brasil. Agora, é preciso ter um governo que queira fazer
isso, e é preciso envolver a sociedade. A gente tem que pensar nisso e
pensar como melhorar a vida do povo na cidade. Porque tem muita gente
que fala de meio ambientes pensando apenas na floresta amazônica, e é
preciso pensar no esgoto a céu aberto na periferia de São Paulo, nos
dejetos a céu aberto, é preciso pensar nas condições de moradia, sabe,
tudo isso nós temos que pensar. Esse é o novo Brasil que eu acho que a
gente pode construir. 

E é por isso, Paulo, que eu quero dizer para você que se depender da
minha vontade nunca a sociedade brasileira foi tão convidada a participar
das decisões como será convidado agora. Porque eu tenho 76 anos de
idade, se eu ganhar as eleições, vou estar com 77, e eu preciso dar a esse
povo a oportunidade dele dizer o que ele quer desse país. Ele não pode

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receber da mão dos burocratas desse país o Brasil que ele quer, ele tem
que construir. E eu peço forças a Deus para poder ter forças para juntar
essa gente e dizer que país nós queremos, que agricultura nós queremos. 

As pessoas tem que aprender que você pode criar gado, que você pode
plantar soja, que você pode plantar milho, sem degradar o meio ambiente.
É possível você utilizar a quantidade de pesticida que você utiliza. Para
isso a ciência evolui. Agora, o que nós estamos é refém das grandes
empresas que produzem esses venenos. Então, nós temos que lutar contra
isso. Você veja o que nós perdemos depois que teve o golpe da Dilma.
Você lembra a quantidade de veneno que foi autorizado a jogar na
agricultura brasileira depois que houve o golpe da Dilma, sabe. Então,
restabelecer isso, meu caro, significa a gente inclusive fazer um
chamamento aos empresários que têm consciência, de que eles não vão
progredir muito de vender os seus produtos no exterior se eles não
tiverem preocupados com a questão ambiental. Essa tese de que vamos
abrir a cerca para o gado passar não será predominante no meu governo.
Não será predominante. 

E nós vamos ter que envolver a ciência para provar que a gente pode,
como a Embrapa provou durante muito tempo, que a gente pode ter uma
agricultura mais sadia, uma indústria mais limpa, menos poluente do que
nós tivemos até agora. Não é o desafio de um presidente, é o desafio de
uma sociedade, sabe. Esse é um debate que a gente tem que envolver a
sociedade para ela participar, para ela saber o que ela quer. A gente pensa
que as pessoas não sabem das coisas, não é? Esses dias eu fui num evento
de catadores de materiais recicláveis em Brasília. Chego lá, me deparo
com uma senhora de 37 anos, 7 filhos, 7 filhos. Quando me falaram, a
doutora, a dona fulana de tal tem 7 filhos, ela é catadora há 14 anos, eu
falei coitadinha. Coitadinha uma ova! Ela está terminando o curso de

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Direito. 

Então, eu fico perguntando, um país que é capaz de produzir uma


catadora de papel que tem 7 filhos aos 37 anos e está se formando em
Direito para defender o seu povo, nós vamos ter medo do quê? Nós temos
que incentivar mais gente, sabe, mais gente, a ter consciência, como essas
pessoas estão tendo consciência. Então, eu sou um cara que quero ouvir a
sociedade naquilo que eu vou discutir bastante. Nós não faremos um
governo de especialistas, sabe aquele governo, outro especialista, outro
especialista, e o povo nunca é especialista de nada. Então, nós queremos
ouvir os especialistas em sobrevivência, em condições adversas, que é o
povo brasileiro. É isso que vai acontecer no Brasil.

José Cássio – DCM (Diário do Centro do Mundo): Bom dia, presidente.


 Bom dia, amigos Presidente, o senhor falou aqui em complexo de vira-
latas, depois falou em, na nossa cultura de servidão aos Estados Unidos. O
senhor viveu o período da ditadura, o senhor foi vítima dela, contou que o
Figueiredo saiu pela porta dos fundos. E agora o que a gente vê é um
governo de conotação militar dentro de um ambiente democrático, não é?
É um governo eleito, mas que faz a sua gestão sustentada pelo ideal do
militarismo, por militares. E o que a gente vê dessa turma que está aí no
comando do país é gente como Pazuello, que aprontou o que aprontou lá
em Manaus, nós temos o Braga Neto, que dispensa apresentações, o
general Heleno, num avião presidencial sob o comando dele foi
encontrado cocaína nesse avião, no exterior, temos até um militar, um
ministro, Luiz Eduardo Ramos, que foi chamado de Maria Fofoca por um
ministro do governo Bolsonaro, Ricardo Salles, para dar um nível da turma
que comanda o país aí, do ponto de vista militar. Então, a gente descobre,
presidente, que esse pessoal, além de golpista, são entreguistas, e são,
para usar um português bem correto, um bando de pangaré. A pergunta

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que eu quero fazer para o senhor é a seguinte: as Forças Armadas no Brasil


são um caso perdido ou tem solução, presidente?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, nós não podemos julgar as Forças
Armadas pelas pessoas que estão no governo Bolsonaro. Eu tive o prazer
de conviver com as Forças Armadas durante oito anos. Eu, sinceramente,
tive uma relação de recuperação das Forças Armadas Brasileira, sabe, a
palavra correta é essa. Eles podem colocar lá nos livros deles que o
governo do Lula foi o governo de recuperação das Forças Armadas
Brasileiras, dando a ela o mínimo de dignidade para que ela pudesse
cumprir aquilo que está garantido na Constituição. As Forças Armadas
defender a soberania desse país, defender o povo brasileiro contra
interesses externos. Foi assim que a gente recuperou, pagando salário
mínimo para os recrutas que não recebiam salário mínimo, foi assim que
nós fizemos, dando o direito deles almoçar. Porque, quando eu cheguei na
presidência, os recrutas eram liberados às 11 horas da manhã porque não
tinha dinheiro para pagar o almoço para os recrutas. Nós garantimos que
eles tinham que ficar o dia inteiro e almoçar. Nós criamos o Soldado
Cidadão, para dar aos recrutas no ano que ele estava no Exército uma
profissão, e depois tentar no mercado de trabalho sobreviver. 

Foi assim que nós recuperamos a engenharia do Exército Brasileiro para


ajudar a fazer obras em lugares, Norte e tudo, ou seja, e nós
transformamos o Batalhão de Engenharia das Forças Armadas numa
empresa poderosa, para poder nos ajudar, inclusive a balizar preço na
construção civil. 

Foi assim que nós recuperamos uma parte da Marinha, fazia anos, anos,
que a gente não fazia um investimento em Iperó, no enriquecimento de
urânio, nós fomos lá e garantimos que ia ter dinheiro todo ano para que a
gente continuasse se aprimorando. Foi assim que nós compramos um

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navio para substituir aquela vergonha do Barão de Tefé, que eu fui visitar
na Antártica, não cabia, sabe, nem o pesquisador lá dentro. Eu fiquei com
vergonha de ver o tamanho, de ver a pequenez de um navio que eu
admirava quando eu via a televisão falar: o Barão de Tefé não sei das
quantas. Eu achava que era uma coisa grande. Resolvemos comprar
navio. 

Foi assim que nós recuperamos a Força Aérea Brasileira que não tinha
avião para nada. E essas Forças Armadas cumpriu um papel importante
durante todo o meu governo e acho que durante o governo da Dilma. Eu,
eu não posso balizar as Forças Armadas pelos que estão no governo. Eu
não sei se é essa gente que está no governo hoje eram aqueles tenentes
que estavam quando se recusaram, sabe, quando o Geisel despediu o
Frota, eu não sei se eles faziam parte dessa turma, sabe, mas essa gente
não representa as Forças Armadas. Eu estou convencido, estou
convencido, por isso que eu não me preocupo muito quando eu tenho
falado das Forças Armadas, ou seja, que você tem um grupo de
aproveitadores hoje. 

O Pazuello jamais poderia ser general com a formação que ele tem, com a
grosseria que ele tem, com a ignorância que ele tem. Não pode um
homem daquele chegar a general. Dizer que ele pensou em ir na CPI de
farda porque ele seria mais respeitado… As Forças Armadas precisam
compreender que não é a farda que mostra o caráter, é a formação deles, é
os interesses de defender a soberania nacional. 

Eu trabalho com a certeza absoluta de que as Forças Armadas não é isso,


as Forças Armadas têm gente preocupada com o Brasil, tem gente
preocupada com o desenvolvimento do Brasil, tem gente preocupada com
a soberania brasileira, tem gente preocupada com a independência do
Brasil. E é essa Forças Armadas que nós queremos que prevaleça no Brasil.

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Nós precisamos ter uma Forças Armadas altamente preparada, armada,


porque a gente precisa deles, quando a gente menos precisa, mas quando
precisar, eles têm que estar prontos. O que não dá é para ter uma Forças
Armadas falida. 

Então, eu trabalho com a ideia, sabe, de que esses oito mil militares que
estão trabalhando no governo, na burocracia, eles certamente irão se
afastar, ainda durante o processo eleitoral, eles vão percebendo que eles
têm que pedir a conta. Porque eu acho que o Brasil tem que ser governado
pela sociedade civil, os militares têm uma função constitucional que eles
têm que cumprir, e eles cumprem bem quando eles cumprem a função
deles, e, portanto, eu vou estabelecer uma relação, sabe, como sempre
mantive essa relação. É importante lembrar que, quando eu ganhar as
eleições, eu serei o chefe supremo das Forças Armadas, e, portanto, sabe,
nós iremos discutir o papel das Forças Armadas, que é um papel mais
nobre do que esse que está acontecendo agora. 

Eu não vejo problema nas Forças Armadas, o que eu vejo é falta de


orientação. E que como quem governa o Brasil não orienta nada, quem
governa o Brasil, não conhece de economia, não conhece de
absolutamente nada, então, ele não tem orientação, não tem orientação
para as Forças Armadas, não tem orientação para o Itamaraty, não tem
orientação para a política externa, não tem nada. E ela, bem orientada, as
Forças Armadas podem prestar grandes serviços a esse país, sabendo que
eles são iguais a nós, que eles não são soberanos, que eles não são mais
importantes, não são mais inteligentes do que você, mais do que o Nassif,
mais do que eu, eles são iguais, apenas tem uma função definida na
Constituição. É isso que eu quero que eles compreendam.

Ivan Longo – Revista Fórum: Bom dia, presidente! O senhor já afirmou


aqui que ainda não tem candidatura confirmada, que não definiu o vice e

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que vai fazer isso no momento certo, etc. Mas eu queria voltar um
pouquinho na discussão sobre o Alckmin, que está muito à tona aí, mas
levantando um outro aspecto. Há uma certa resistência em certos setores
da esquerda, e mesmo dentro do PT, com relação à possibilidade de se
firmar essa aliança com o Alckmin, ou mesmo que não seja ele, que seja
alguém com o perfil dele, um perfil mais à direita do senhor. E o grande
temor aí desses setores da esquerda, ou mesmo dentro do PT, é que essa,
para firmar esse acordo com uma pessoa mais à direita do senhor se
abriria mão de pontos fundamentais aí de programas historicamente
defendidos pelo PT, questões programáticas como, por exemplo,
soberania da Petrobras, revisão do teto de gastos, ou mesmo revisão da
reforma trabalhista, enfim. Eu gostaria de saber do senhor como o senhor
recebe essas críticas que são feitas até dentro do PT a essa possibilidade
de uma possível aliança com o Alckmin, ou com alguém mais à direita do
senhor. E se o senhor avançar nessas conversas com o Alckmin, ou se
chegar a um acordo com alguém mais à direita do senhor, se para esse
acordo isso envolveria negociar pautas como essa que eu citei, questões
programáticas defendidas pelo PT.

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, deixa eu lhe dizer uma coisa assim com
muita clareza, porque eu não quero responder só para você, eu quero
tentar falar agora com o povo que vai nos ouvir, que vai nos assistir. Veja,
eu não estou procurando uma aliança ideológica. Eu não estou
procurando uma aliança apenas para ganhar as eleições, eu estou
procurando construir um conjunto de alianças com forças políticas para
me ajudarem a fazer a transformação que nós precisamos fazer no Brasil,
inclusive se a gente quiser aprovar uma reforma tributária. Eu até não
gosto de utilizar a palavra reforma tributária porque eu já a utilizei
dezenas de vezes e a gente não consegue fazer. Não sei se o Nassif se
lembra, mas em 2007 eu mandei para o Congresso Nacional uma proposta

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de reforma tributária que teve o apoio dos 27 governadores de estados, o


governador era o Serra em São Paulo, que teve o apoio de todos os líderes
partidários, que teve o apoio das 27 Federações de Indústrias do Brasil,
que teve o apoio de todas as centrais sindicais e quando chegou no
Congresso ela não andou. Porque tem sempre aquele, como o Jânio
Quadros chamava? O inimigo, tem uma força oculta que não deixa a
política tributária andar. Então, eu estou convencido que é assim, a gente
vai precisar, sabe, mudar muita coisa nesse país. 

A relação com o Congresso Nacional não pode ser uma relação promíscua,
ela tem que ser uma relação civilizada como acontece em vários países do
mundo, sabe? Nós temos que mostrar o que é preciso para reconstruir
esse país, se você não pode fazer uma reforma tributária complexa, você
pode fazer mudanças de pontos na reforma tributária, sabe. Por exemplo,
vamos definir que quem vive de dividendos pague imposto de renda.
Vamos definir que quem ganha até cinco salários mínimos não pague
imposto de renda. Nós temos que definir algumas coisas para dar mais
sustentabilidade aos de baixo e para dar mais compromisso com o Brasil
com os de cima. 

Isso dito assim parece difícil, mas eu acho que se a gente sentar para
conversar e a gente construir uma força política, eu tenho conversado
muito com o PSD, do Kassab. Tenho conversado com o Kassab, ou seja,
nada é impossível de que a gente possa construir alguma coisa juntos. É
bem possível. É bem possível que a gente possa construir. O Paulinho da
Força Sindical, com o Solidariedade, nós estamos construindo, sabe? Nós
precisamos construir uma força política capaz de dar sustentação às
mudanças que nós precisamos fazer. O movimento sindical brasileiro ele
não quer uma reforma da estrutura sindical para voltar a ser o que era.
Nada. Eles querem construir uma coisa nova, e uma coisa nova, a Espanha

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está dando um exemplo, é a participação do estado, dos empresários e


dos trabalhadores. É isso. É a sociedade encontrando soluções para os
seus problemas. 

E isso eu tenho certeza, eu tenho certeza que qualquer pessoa que vier a
ser vice vai contribuir para que a gente faça isso. Vocês se esquecem que o
José Alencar era um empresário que tinha uma empresa com 17 mil
trabalhadores, que ele tinha sido presidente da Federação das Indústrias
de Minas Gerais, que ele tinha sido vice-presidente da CNI. E o José
Alencar tinha uma visão social altamente moderna, altamente
contributiva. E é isso que um vice vai ter que ter num governo. Eu não vou
escolher um vice para o vice ser contra: ah, eu quero um vice que seja
contra. Não, ninguém faz isso, nem você, nem eu e nem ninguém. Eu
quero um vice, sabe, que compreenda que nós precisamos construir uma
nova possibilidade para construir um Brasil novo que o Paulo Donizete
disse que é possível construir. 

Eu tenho certeza, sabe, que o vice vai cumprir esse papel. Então, eu
sinceramente, eu acho que nós temos que ter algumas preocupações
antes. Ou seja, as pessoas que são contra, que falam contra, eu só digo
para elas o seguinte: falem enquanto a gente tem o direito de falar, porque
já teve momentos nesse país que a gente não podia falar. Então, como eu
acho que a democracia é uma sociedade em movimento, em busca de
novas conquistas, aproveite e fale enquanto eu for o candidato a
presidente, que vou dar o direito de vocês falarem, de ajudar a escolher,
de criticarem, e depois ajudarem a governar. Eu vejo o mundo, eu vejo um
mundo mais colorido, sabe, bem mais colorido, eu não vejo… 

Dificuldade eu tinha era em 2003. Você não tem noção do que era 2003.
Em dezembro, eu não tinha presidente do Banco Central ainda, não tinha
nem noção de quem ia ser, sabe. E eu em 2002, eu não sabia como

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escolher os comandantes das Forças Armadas, eu não conhecia ninguém,


não conhecia nem sargento, nem cabo, nem tenente, ou seja, como é que
eu vou escolher os três comandantes? Eu não tinha a menor noção. Mas
escolhi, e deu certo. Agora não, agora eu estou mais sabido, agora eu já sei
como é que funcionam as coisas, agora eu já conheço muita gente, sabe.
As pessoas colocam obstáculos no tal do Banco Central Independente.
Esse Banco Central tem que ter compromisso é com o Brasil, não é
comigo. Ah, ele vai ter meta de inflação…Vamos colocar meta de emprego,
meta de crescimento econômico também. Vamos comprometer com
alguma coisa positiva. E quem é que tem que chamar o cara para
conversar? Sou eu. Pode ficar certo, eu não conheço, mas a hora que eu
ganhar: vem cá, vamos conversar um pouquinho aqui meu, vamos discutir
o Brasil. Numa boa. 

Eu vejo contrariedade, mas não vejo obstáculos. As pessoas vão perceber,


o que vocês precisariam perguntar de vez em quando é o seguinte: qual é
o medo que as pessoas têm do PT? Essa é uma pergunta que eu acho que
vocês poderiam ajudar o Brasil fazendo para as pessoas que têm medo do
PT. Ah, o PT vai ter problema fiscal. Então vamos retratar um pouco a
história. 2003, inflação 12%, desemprego 12%, 30 bilhões de dívida
externa, o Malan, coitado, todo ano viajava para Washington para ver se
conseguia um acordozinho para pegar dinheiro para fechar o caixa, o
Brasil não tinha dinheiro para pagar as suas importações. O Brasil está
quebrado, era o que os economistas falavam para mim. O Brasil está
quebrado, o Lula não vai poder governar, coitado do Lula. E eu falava:
porra, vocês são meus amigos, querem que eu governe e fala que está
quebrado? Então é melhor dizer para mim não ser candidato. O que
aconteceu nesse país? O que aconteceu nesse país, que era, que estava
quebrado? 

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O que aconteceu nesse país é que nós fomos o único país do G20 que
fizemos superávit primário durante todos os nossos mandatos. O que
aconteceu nesse país é que nós pagamos a dívida do FMI, emprestamos 15
bilhões para o FMI, e fizemos uma reserva de 370 bilhões de dólares. O que
aconteceu neste país é que a gente tinha uma dívida pública interna de
60%, caiu para 35%, é isso que aconteceu nesse país. Os banqueiros
ganharam dinheiro, os empresários ganharam dinheiro, os trabalhadores
também ganharam dinheiro. Geramos 22 milhões de empregos, sabe. 

Se você pegar uma tabela curta, o que aconteceu nesse país é que durante
os governos do PT, 80% dos acordos dos trabalhadores feitos neste país
eram com aumento real acima da inflação. 80%. Veja quantos
trabalhadores tiveram aumento real acima da inflação agora. Eu vou dar
um dado aqui, em 2021 apenas 15.8% dos reajustes ficaram acima do
INPC, 36% tiveram valores iguais, e 48% foram abaixo. Por isso é que a
massa salarial está caindo, porque esses ignorantes acham que a
sociedade vai ficar evoluída se o povo estiver passando fome, se o povo
estiver desempregado, se o povo ganhar pouco. É essa sociedade que eles
querem, pouco para muitos, e muito para poucos. Essa sociedade não dá
certo. 

Então, é por isso que as pessoas precisam aprender uma lição de vida,
esse país só será soberano, democrático e respeitado, quando todo
mundo tiver acesso, sabe, aos bens que ele ajuda a produzir. Quando todo
mundo puder estudar, puder comer, tiver acesso à cultura. Aliás, eles têm
tanto medo de cultura, acabaram com o Ministério. Pois eu vou criar, vou
fazer uma Conferência de Cultura e vou criar um Comitê de Cultura, não
vai ser mais só um ministro de Cultura não, é um Comitê de Cultura para a
gente dizer para eles que a cultura vai ajudar a construir esse país mais
democrático. Então, quem tiver medo de cultura se prepare porque a

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cultura vai funcionar mais forte no próximo governo. É isso.

Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania: Boa tarde senhoras e senhores!


Boa tarde, presidente Lula! Primeiramente, eu gostaria que nós nos
congratulássemos pela mudança de cenário em que nos encontramos. Da
última vez que estivemos juntos presencialmente, presidente, em 2019, foi
dois dias antes do senhor ser libertado e o cenário era diametralmente
oposto. Hoje, na situação que nos encontramos, eu acho que vale alguma
comemoração porque hoje nós temos esperança. 

Presidente, nós somos oito entrevistadores, já tivemos três perguntas


sobre o Geraldo Alckmin. Para empatar eu gostaria, para ficar meio a meio,
eu gostaria de fazer a quarta. Presidente, é o seguinte, o cenário atual com
o Jair Bolsonaro é o seguinte, o sujeito ele dia sim, dia não, ele ameaça de
um golpe de estado, ameaça fechar a Globo, ameaça prender todo mundo.
Ele no seu discurso de posse disse que ia expulsar do Brasil quem não
concordasse com ele. Quando a gente está tentando vacinar criança, ele
faz campanha contra vacina, o sujeito diz que não vai aceitar o resultado
das eleições, o sujeito fica tentando aliciar policiais, aliciar militares, nós
temos um presidente da República que é repudiado pelo planeta, e se
tiver alguém em outro planeta deve repudiar também, eu suponho, não é,
vida fora da terra, devem conhecer: olha, tem um Bolsonaro lá na Terra.
Presidente, a situação é muito grave, e como o senhor bem disse, nós não
ganhamos nada, ou melhor, o senhor não ganhou nada ainda, mas o
Brasil, quando eu falo nós eu falo o Brasil, não ganhou nada ainda, a
possibilidade de se ver livre do Jair Bolsonaro. O que acontece? Parece
que há grupos bem intencionados, mas que acham que já houve alguma
vitória. Por que Geraldo Alckmin? Penso eu, porque uma aliança com um
vice mais à direita, porque, que tem uma origem na direita. Porque a
esquerda já está com a gente, a gente sabe que o eleitorado brasileiro é

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tripartite, ele tem aqueles que não são nem de direita nem de esquerda,
muito pelo contrário, tem aqueles que são de esquerda, e tem aqueles que
são de direita, e que eu digo que o direitista no Brasil, no povo, costuma
ser de extrema-direita. O que acontece? É preciso, como o senhor disse, ter
uma aliança para governar, não só para ganhar a eleição, porque depois
vai ter que fazer reformas, vai ter que fazer tudo aquilo, desfazer tudo
aquilo que foi feito, e para isso vai ter que ter apoio no Congresso. Essa
questão do Alckmin para mim não está bem solucionada porque as
perguntas elas refletem um clima, que eu acho que a única coisa negativa
que está acontecendo na sua pré-campanha é essa questão do Alckmin.
Porque veja bem, está tudo dando certo, pelo menos até aqui, mas de
repente, veja, hoje eu fiquei sabendo que querem uma CPI contra o
Alckmin. Não é brincadeira. Eles querem uma CPI contra o Alckmin. O
abaixo-assinado já tem 1300 e não sei quantos, daqui a pouco tem
manifestação na rua. Ao mesmo tempo em que os filhos do Bolsonaro,
alguns órgãos de imprensa como a Veja, por exemplo, Estadão, ficam
tentando torpedear, os filhos do Bolsonaro, gozado que eu vi resgatarem
coisas que o Alckmin dizia quando era seu opositor nas campanhas, os
filhos do Bolsonaro, o Moro, o Ciro, todo mundo postando, e setores do
seu partido postando também. Ou seja, a esquerda do seu partido. Então,
quer dizer, é uma situação muito difícil e que me preocupa muito porque
em 2013, em junho de 2013, dia 01 de junho de 2013 a ex-presidente Dilma
Rousseff, ela tinha 65% de aprovação, 15 dias depois ela tinha 29. A partir
dali tudo foi indo para o buraco, e o próprio Bolsonaro, agora há pouco, há
pouco tempo saiu um documentário da Brasil Paralelo, em que o
Bolsonaro dizia que ele nasceu em 2013. Mas 2013 só começou pelo
campo esquerdo, não é, começou pelo campo esquerdo, aí estenderam o
tapete vermelho para a direita, e a direita veio e chutou para gol, botaram
a bola na marca do pênalti. No ano seguinte, não vai ter Copa.

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Bom, a minha pergunta para o ex-presidente é a seguinte: presidente, não


está na hora de fazer um acordo com a esquerda para que a gente ganhe
as eleições primeiro, e entender que o senhor precisa governar o país, não
é só vencer a eleição, tem que vencer e tem que ter maioria para governar.
Senão acontece o que aconteceu com a presidente Dilma, não é.

Luiz Inácio Lula da Silva: Mas me diga com qual esquerda que eu devo
fazer acordo? Porque o PT é o maior partido de esquerda da América
Latina. O PSB se diz de esquerda, nós estamos trabalhando junto, o PSOL
nós estamos trabalhando junto. Qual é a esquerda que você vislumbra,
que está fora disso e descontente para mim poder conversar?

Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania: Está dentro do PT.

Luiz Inácio Lula da Silva: Mas o PT não é o problema, o PT é um partido


político, o PT as pessoas têm o prazer e o direito de ir e vir, até que o PT
decida. E quando o PT decidir, não tem esquerda e não tem direita, tem
uma posição partidária. É isso que vai acontecer. É isso. Para mim todo
mundo vai aparecer rindo, ninguém vai aparecer chorando.

Eduardo Guimarães – Blog da Cidadania: O senhor acha que não vai


atrapalhar?Antes assim, não é. 

Luiz Inácio Lula da Silva: O que nós estamos disputando nesse país é tão
sério, é tão sério, que eu vou dizer para você uma coisa que eu disse para o
encontro do Lugo com os partidos de esquerda quando o Lugo ainda era
presidente. Eu fui na Ciudad del Este conversar com o Lugo e com aquele
grupo de oposição que estava ligado ao Lugo. E eu lembro de uma menina
sentada na frente do Lugo, uma menina, jovem, bastante desaforada,
falando com o dedo em riste na frente do Lugo: porque companheiro
Lugo, porque não se mudou nada, porque não se mudou nada, porque…
Sabe, é o seguinte, é como se não tivesse acontecido nada, sabe assim, ela

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esculhambou, porque ela: caro, está caro, o feijão está caro, porque o
arroz está caro. Assim, eu fiquei até com pena do Lugo. Aí eu falei assim
para menina: companheira, se permite um estranho dar um conselho,
mudou tanto as coisas no Paraguai que antes você não conseguia chegar a
três quilômetros perto de um presidente, agora você está sentada na
frente do presidente e desbancando o presidente. Houve mudança, sabe.
E as pessoas acham que não muda. 

Eu lembro que eu fui no Congresso do PCdoB, eu era presidente e eu


estava num Congresso lá na Academia de Tênis, você conheceu a
Academia de Tênis em Brasília, aquele ginásio. E uma companheira do
PCdoB pegou um discurso: porque companheiro Lula, porque não muda
nada, porque não mudou nada. Eu falei: companheira, como não mudou?
Você viveu na clandestinidade até outro dia, agora vocês tem Agência
Nacional de Petróleo, vocês tem um Ministério, tem a Presidência da
Câmara, e está fazendo um Congresso na Academia de Tênis, isso não
mudou? Lógico que mudou, sabe. Essas coisas é que nós precisamos
compreender, o que nós estamos enfrentando. 

E eu queria te dizer, Eduardo, que o Brasil de 2023 será um Brasil muito,


muito, muito mais destruído do que o Brasil de 2003. Vai precisar de muito
mais conversa, de muito mais paciência, de muito mais habilidade para
você reconstruir esse país. Porque se fosse fácil reconstruir no grito, já
estava resolvido. Eu vou chamar o povo para a rua e vamos fazer. Você
sabe que nada acontece. Não acontece. O que você precisa é ter
inteligência política de você construir as pessoas que podem querer remar
junto com você, para fazer a travessia oceânica, que não é pequena,
tentando evitar que morra a quantidade de gente que morria no tempo
dos navios negreiros, sabe, tentar fazer a travessia sem perder ninguém, e
fazendo com que esse país volte a sonhar. A construção de um país novo,

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com ideias novas, em que a questão ambiental esteja na frente, que a


questão do emprego esteja na frente, de que, sabe, a capacidade
distributiva desse país esteja na frente, um país que coloca desigualdade,
nós temos que ficar indignados. Uma coisa que eu fico indignado é a gente
perder a capacidade de se indignar. Esse país não está tendo vacinação
para criança, esse país não está tendo material para fazer teste, esse país
não está tendo máscara. Tem gente utilizando máscara de pano, que não
protege nada, essa daqui protege, mas quantos podem utilizar uma dessa
que está custando 4 ou 5 reais? Tem gente utilizando máscara de pano
achando que está protegendo. 

Ora, esse país que não tem testagem para a sua população, que as
prefeituras não têm dinheiro para testagem, tem um presidente da
República que gasta 600 mil reais num avião para trazer um médico da
Bahamas para dizer que ele não sabe comer camarão. E a gente não fica
indignado, a gente passa desapercebido. Se o problema do Bolsonaro é
não saber comer camarão, eu poderia ensiná-lo. Ele tem que tirar a casca
e precisa mastigar pelo menos 16 vezes, como disse o médico, mas não
precisava trazer um médico da Bahamas, faz uma consulta por
telemedicina, que eles falam tanto para nós da telemedicina, vai resolver.
Por que não resolveu da Bahamas aqui no Brasil? O Bolsonaro lá na
telinha da televisão: cara, aprenda a comer camarão, precisa tirar aquela
coisa que tem na cabeça, que é só casca, aquilo machuca, machuca na
entrada e na saída, sabe, precisa tirar a casca e comer, parte em
pedacinho pequeno e mastiga. Precisava pagar 600 mil reais num avião? E
a gente não fica indignado. E crianças não tem testagem aí nas prefeituras,
que não tem dinheiro. 

E é importante lembrar que a ômicron, embora ela parece que mata


menos do que as outras, o dado concreto é que ela é mais contagiosa do

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que as outras, e um dado concreto é que ela é mais agressiva para quem
não tomou a vacina. E aí é que as nossas crianças correm o risco. Como é
que vão voltar para a escola, como é que vai voltar à normalidade na
escola, se a gente não está fazendo a testagem, se a gente não protege,
sabe? E isso a gente não fica mais indignado. E o presidente contando sete
mentiras por dia. 

Eu vejo de vez em quando o presidente falar: porque três anos sem


corrupção. Três anos sem investigação e sem apuração, porque ele não
aguenta uma investigação. Ah, se fosse o governo do PT, qualquer pessoa
denunciada vai apurar. O que nós queremos é que seja apurado e
investigado. Agora não, ele não apura nada, ele não apura nada. Então,
fica difícil a gente não se indignar com essas coisas. Então, veja, nós
precisamos, não vai ser fácil a reconstrução do país, Eduardo, não vai ser
fácil. Eu estou te dizendo uma coisa, eu sou o único que, se for candidato e
ganhar as eleições, eu não posso chegar lá e falar: olha companheiros,
sabe, eu pensei que ia fazer isso, porém, entretanto…Eu não tenho que
utilizar a palavra nem porém nem entretanto, se eu entrar, é para fazer as
coisas diferentes nesse país. 

É isso que o povo tem a expectativa, sabe, o povo quer mudança de


verdade, o povo está com esperança, o povo sabe o que é viver bem.
Ninguém se acostuma com coisa ruim, você não vê ninguém sonhar,
ninguém ter aspiração de morar numa favela, ninguém tem aspiração de
morar numa palafita, ninguém tem aspiração de ficar sem comer,
aspiração das pessoas é evoluir. 

As pessoas não são peão de fábrica porque escolheram, é porque não tem
profissão, se tivesse, eles não seriam peão de fábrica. As pessoas estão
catando material reciclável porque não tiveram chance de estudar para
ser outra coisa. Então, o que nós temos é que atender essa aspiração da

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sociedade, uma aspiração de uma sociedade evoluída, para dormir,


dormir razoavelmente bem. Você acha que alguém tem aspiração de
dormir num quartinho de 2×2 aonde ali se cozinha, ali se faz as suas
necessidades fisiológicas, ali se faz sexo com 10, 12 pessoas dormindo no
mesmo quarto? Eduardo, eu morei num quarto e cozinha com 13 pessoas. 

Tenho consciência do que esse povo está passando. Então, eu não posso,
eu não posso mentir, eu não posso ganhar aos 76 anos e falar: gente, olha,
eu ganhei, mas não dá para fazer as coisas, desculpa, eu tenho que
atender o mercado, eu preciso atender a Faria Lima, eu preciso ter
responsabilidade fiscal, eu preciso manter teto de gasto. E o teto de
comida? E o teto de emprego? E o teto de salário? E o teto de saúde, quem
é que vai devolver para esse povo? Então, meu caro, é esse cidadão que
acaba de ficar emocionado que quer ser presidente. E se for, é para mudar,
não é para continuar a mesmice. 

E por isso, companheiros, é o seguinte:  eu sei o que vocês fizeram quando
eu estava preso. Eu hoje assisto menos vocês do que eu assistia quando eu
estava na cadeia, eu passava o dia vendo vocês, sabe. Todo mundo. Eu
cansei de ver muitos de vocês, eu sei a força que vocês deram, eu sei a
força. De um lado a Globo, a Veja, o SBT, a Record, a Bandeirantes, a Folha,
o Estadão, o Globo, colocando a cara desse santo de barro chamado Moro
como se fosse herói nacional. E vocês, os blogueiros sujos, como eles
chamavam vocês, defendendo a mim e defendendo a minha causa, e a
vigília lá no Paraná. 

Então, é esse país que nós temos que mudar. E a verdade é essa: para
mudar, você tem que ter um compromisso. Eu quero que todo mundo
saiba, eu não quero mentir para ninguém, só tem sentido eu voltar a ser
presidente desse país se eu tiver um compromisso de que as pessoas vão
viver dignamente nesse país. Meu compromisso é garantir que as pessoas

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tenham um prato de feijão e arroz no almoço com bife acebolado, com ovo
no almoço e na janta, que tenha um café com pão com manteiga, que as
pessoas consigam ter uma casinha digna. Mas, se não for para fazer isso,
então  Lulinha, é melhor, pede a conta e vai embora, deixa a Gleisi livre
para indicar um outro. 

É para fazer esse país que eu preciso construir uma relação política mais
ampla do que o PT, e não mais à esquerda, mas a um centro e, se for o
caso, até com setores, sabe, de centro-direita, é isso que… é isso. 

Eu já passei por lá, Eduardo, eu sei a diferença entre falar e fazer. Eu sei o
que é você querer que o deputado aprove uma coisa e você vai pedir para
ele e ele fala: por que eu tenho que votar, eu não sou do seu partido, eu
não concordo com você? Sabe? Não basta eu querer, eu preciso convencer,
sabe. E às vezes você tem que ceder, não fazer o que o Bolsonaro está
fazendo, que se colocou de joelho diante do Congresso Nacional. 

Essa vergonha desse Orçamento Secreto, em que os deputados estão


governando ao invés do governo, os prefeitos não procuram mais
governador, procura deputado. É esse o país que nós queremos? Não.
Então, tem gente, sabe, tem gente. Eu ainda quero conversar com mais
gente, eu quero conversar, sabe, independentemente das pessoas serem
de direita ideologicamente, eu quero saber humanamente como que essa
pessoa pensa. Porque tem gente que é conservadora, do ponto de vista
ideológico, mas tem uma visão humana mais digna. Então, essa gente
toda precisa estar junto para a gente recuperar esse país. Não vai ser uma
tarefa fácil. Uma coisa que eu tenho, que é uma relação internacional
muito boa, graças a Deus. Nós construímos no nosso governo uma relação
forte, muito forte, muito respeitosa, e isso eu acho que é uma coisa que vai
poder nos ajudar a poder dar um salto de qualidade. 

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Gente, olha, eu falei para caramba, eu tenho disposição de ficar aqui mais
duas horas, eu não tenho problema nenhum. Eu vou tentar agora ser mais
curto nas minhas respostas, porque eu estava com vontade de falar, vejo o
microfone aqui, ninguém para me interromper, então eu falei demais.
Agora eu vou ser mais curto. Eu não sei como é que vai ser agora, você…

Mediador: A gente tem duas horas já de coletiva, eu acho difícil a gente


conseguir fazer uma outra rodada inteira. Eu acho que a gente pode ter
duas perguntas aqui e encerrar. Tem três pessoas aqui, a Laura, o Rodolfo
e o Mauro, e a gente encerra. 

Laura Capriglione – Jornalistas Livres: Presidente, eu vou fazer bem


rapidinho, Presidente, a gente sabe que os negros estão sofrendo um
genocídio brutal, os indígenas estão com as terras invadidas e invadidas
pelo garimpo, e invadidas pela agricultura, pelo agronegócio. Presidente,
eu vejo, na entrevista que o senhor deu para o Mano Brown e para o
Podpah, o compromisso do PT com a questão da luta contra o racismo. Eu
queria perguntar para o senhor o seguinte: dá para contar com, num
futuro governo, uma política de tolerância zero do seu governo, espero
que seja do seu governo, uma política de tolerância zero com o genocídio
negro e com as invasões de terras indígenas e quilombolas por esses
agentes aí do agronegócio e da mineração?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha, bem curto e não grosso, bem curto e
rápido. Eu acho que dá para contar com a ideia de que nós vamos fazer o
que for possível e o impossível para que a gente, definitivamente, evite o
genocídio do povo negro na periferia desse país, e do povo pobre como
um todo. E a questão indígena está muito ligada à questão ambiental, ou
seja, nós precisamos efetivamente ter a coragem de dizer que os índios
não são intrusos, nós é que somos os intrusos, e que nós precisamos
garantir para eles o direito de viver dignamente, sabe. Isso nós vamos ter

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que fazer. Já fizemos uma vez e vamos fazer, porque é importante a gente
lembrar como era o nosso tratamento quando a gente foi governo na
questão indígena. E, certamente, a gente precisa ter consciência que, para
garantir essas coisas que você pediu, nós precisamos mudar o papel do
Estado. Porque quando a gente fala em violência, Laura, a gente pensa na
polícia, sabe, e aí não tem solução. Porque mais violência, mais polícia,
mais violência. 

O problema é que a violência ela é originária, na minha opinião, da


ausência do Estado no cumprimento das suas obrigações com a
comunidade. Se o Estado não está lá gerando emprego, se o Estado não
está lá cuidando de água, cuidando de educação, cuidados de saúde,
cuidando de lazer, cuidando de cultura e o Estado só aparece lá com a
polícia de vez em quando, aí não tem solução. Então, é preciso que a gente
discuta o papel do Estado no cumprimento das suas funções sociais com a
sociedade brasileira. Essa, na minha opinião, é a grande solução que a
gente vai ter para acabar com a violência tal como nós conhecemos hoje.

Rodolfo Lucena – Tutaméia: Presidente, as políticas do Governo


Bolsonaro levaram à morte de centenas de milhares de brasileiros na
pandemia, levaram milhões ao desemprego e à fome. O senhor tem falado
bastante de desenvolver políticas para reverter essa situação. Mas o
Governo Bolsonaro também vem destruindo a economia brasileira,
vendendo as riquezas, entregando as grandes empresas estatais. O senhor
considera possível recolocar o Brasil na trilha do desenvolvimento sem
recuperar as empresas estatais, sem devolver a Petrobras que está sendo
fatiada, está sendo entregue para estrangeiros, sem devolver a Petrobras
para o povo brasileiro para ser usada como instrumento de política
energética?

Luiz Inácio Lula da Silva: Olha,eu já disse uma vez que é importante que

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as pessoas sérias nesse país ou no mundo, que estejam preocupadas com


a construção de um novo mundo, ao tentarem comprar empresas públicas
brasileiras privatizadas, levem em conta que a gente vai mudar de governo
e que a gente vai rediscutir esse assunto. Porque eu sou daqueles que
defendo um Estado forte, um Estado forte não significa um Estado
autoritário porque eu não quero um Estado autoritário, eu quero um
Estado forte, aquele Estado que seja capaz de induzir o desenvolvimento
do país, um Estado que tenha força de cobrar impostos daqueles que
ganham mais para fazer investimento e desenvolvimento industrial. 

Todo mundo sabe que quando teve a crise mais aguda, eu era favorável a
expandir a base monetária para que a gente pudesse ter um projeto de
desenvolvimento nesse país. O que a gente não pode é continuar mais um
século dizendo que a gente não pode crescer, que a gente não pode se
desenvolver porque o país não cresce. O país só vai crescer se o Estado
quiser que cresça. Não é que o Estado pode tudo, o Estado pode ser o
indutor, o Estado pode convencer empresários, o Estado pode ter linha de
crédito de longo prazo para fazer obra de infraestrutura. O BNDES tem que
voltar a funcionar para o desenvolvimento, o Banco do Brasil, a Caixa
Econômica Federal, sabe, é para isso que serve o Estado. 

Então, eu quero que as pessoas saibam que esse ser humano que vos fala
defende um Estado que tenha força para ser indutor de políticas públicas
na área social e políticas públicas na área do desenvolvimento. Eu sei o
que foi bom para esse país a criação do PAC, eu sei o que foi bom para esse
país a gente construir, no mesmo período, é importante a gente lembrar,
em 2008, a gente tinha no mesmo período, em 2010, as três maiores
hidrelétricas do mundo sendo construídas aqui no Brasil, além dos
estádios para a Copa do Mundo e das Olimpíadas. Eu sei a quantidade de
linhas de transmissão que foram feitas, a quantidade de quilômetros de

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torres que foram colocadas, a quantidade de estradas, tudo isso estava


planejado desde fevereiro de 2007.

Esse país não tem planejamento. Se eu perguntar para você: Rodolfo, me


diga uma obra que o Bolsonaro está fazendo, você não lembra. Eu, quando
dou entrevista para rádio nas cidades, nos estados, eu pergunto: você sabe
alguma obra do Governo Bolsonaro? Ninguém sabe porque não tem. Ele
agora fala do eixo ferroviário, que é um projeto que está no papel para os
estados fazerem. Então, deixa eu lhe falar uma coisa: a Petrobras, ela tem
que ser tratada, não como uma empresa de petróleo, a Petrobras é uma
empresa que ela foi durante muito tempo a empresa gestora e indutora do
desenvolvimento desse país. A Petrobras gerava oportunidade para
milhares de pequenas empresas. Quando nós aprovamos o tal do
componente nacional na indústria naval e nas nossas plataformas e nas
nossas sondas, tiveram 65 mil empresas participando. Agora, quando o
governo diz que as empresas estrangeiras vão poder participar, sabe, no
processo de venda para o Brasil, garantindo que as compras
governamentais comprem produtos estrangeiros, você está matando a
indústria brasileira. 

Então tudo isso, Rodolfo, nós vamos repensar, e vamos repensar


discutindo com a sociedade, porque a sociedade tem que entender,
porque esse discurso fácil de que o Estado é corrupto, iniciativa privada é
honesta, nós vamos desmistificar isso, de que tudo do Estado não presta,
tudo da iniciativa privada é bom, de que é preciso criar muitas agências. O
que que foi a criação das agências? Foi a entrega do Estado para a
iniciativa privada. É isso. Então, nós vamos ter que pensar, conversar com
a sociedade, sabe, nós vamos ter que rediscutir o Brasil, nós vamos
completar 200 anos de independência. Então, nós vamos ter que discutir
que Brasil a gente quer, já que nós somos independentes, vamos então

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discutir que Brasil que a gente quer a partir do olhar do povo brasileiro. 

Eu estou muito entusiasmado com essa possibilidade. Você sabe quando a


gente chega numa certa idade, que a gente já foi presidente, que a gente…
eu me sinto um homem realizado e acho que eu sou muito grato porque
acho que Deus me deu além daquilo que eu poderia merecer. Então, tudo
que eu tenho que fazer daqui para frente tem que ser despojado da minha
visão pessoal, eu preciso ouvir a sociedade brasileira para dizer o que a
gente tem que fazer para o país. Não é ouvir só um lado, é ouvir o Brasil. E
isso eu vou fazer, querido, eu vou fazer, para a Petrobras, para a Eletrobrás,
para o Banco do Brasil, para o BNDES, para o BNB, sabe. Porque o Brasil
precisa desse suporte, dessas instituições públicas. Se não fosse essas
instituições públicas, a gente não tinha sobrevivido à crise de 2008. Foi
graças ao BNDES ter coragem de colocar 500 bilhões para financiar obras
de infraestrutura, que eu disse que a crise aqui seria uma marolinha e foi.
Então, pode ficar certo que eu sou daqueles caras que sonham grande,
porque se você não sonha grande você acorda pequeno. Eu sonho grande
para acordar grande, para fazer coisa grande nesse país. E espero que você
me ajude nisso.

Mauro Lopes – Brasil 247: Presidente, até o final do ano, a lógica pré-
eleitoral, vamos dizer assim, vinha operando com a ideia das federações, e
isso levaria, por exemplo, a um candidato ao governo, aos governos
estaduais ou um candidato a cada governo estadual desta federação.
Parece que na virada do ano, de lá para cá, houve alguma mudança nessa
lógica, há uma dificuldade evidente para conformar as federações, e o PT,
além da candidatura do Haddad, que está consolidada aqui para o
governo do estado de São Paulo, lançou o senador Humberto Costa lá em
Pernambuco, o senador Fabiano Contarato lá no Espírito Santo. Como vai
ser isso, vai ter candidatos dos diversos partidos, não vai, como é que vai

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ser essa lógica?

Luiz Inácio Lula da Silva: Não, não, Mauro. Mauro, você tem que levar em
conta que o mês de dezembro e o mês de janeiro é o mês de férias, e por
conta de não ter muita gente dando entrevista aparece muita futrica,
aparecem muitos pensadores anônimos. Veja, primeiro o PT mantém a
sua afinidade com o PSB íntegra. O PSB tem o direito de lançar candidato
em Pernambuco porque é o estado em que a direção mais forte do PSB é
lá. O que está acontecendo? O candidato natural do PSB não quer ser
candidato, que é o Geraldo Júlio, e o Paulo Câmara, que deve ser, na
minha opinião, coordenador da sucessão, precisa discutir. O que eu estou
dizendo é que dessa vez o PT tem duas pessoas com potencial de força
para ser candidato, tem o Humberto Costa, que está no meio mandato
para o Senado, e tem a Marília Arraes, porque além do cargo de
governador tem o cargo de vice e tem o cargo de senador. Então, o que eu
quero é que as pessoas conversem, porque embora o PSB seja um partido
que tenha direito lá em Pernambuco de indicar, não pode tratar o PT de
forma pequena. Sabe, apenas isso que está em jogo, e o Humberto Costa é
muito fiel  com a relação com o PSB. Se o PSB definir a candidatura, o
Humberto Costa está fora. 

Nós não temos candidatura no Espírito Santo. Quando o companheiro


Contarato quis entrar no PT para ser candidato foi dito para ele que a
gente estava fazendo conversas com o PSB e que ele poderia, seria muito
prazeroso ele entrar no PT, mas não para ser candidato, porque senão a
gente estaria traindo. Então, ele entrou no PT. Se ele vai ser ou não
candidato depende da nossa relação com o PSB. Se a gente tiver reunido
com o PSB direitinho, não será candidato, sabe. 

Nós defendemos a candidatura do Freixo no Rio de Janeiro, nós


defendemos a candidatura do Flávio Dino. Agora, o companheiro Flávio

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Dino tem um candidato dele, que é o vice, que é do PSDB. Ele sabe que é
difícil a gente apoiar o PSDB. Nós temos uma candidatura do Weverton.
Então, eles vão ter que se acertar lá para facilitar a nossa vida. Aqui em São
Paulo é a mesma coisa, você tem um ótimo candidato. O PSB diz que tem
o Márcio França, sabe, em algum momento se faz uma avaliação para ver
quem tem mais chance. Se for o Márcio França, vamos discutir com o
Márcio França. Mas eu acho, com toda a modéstia, que o PT nunca teve tão
próximo de ganhar o governo do estado como está agora, sabe. E você
sabe que não seria pouca coisa isso. 

Nós temos o Rio Grande do Sul, em que o PSB tem um candidato e o PT


tem outro, a gente pode, na dúvida, fazer uma aferição, fazer uma
pesquisa, saber quem tem mais possibilidade, e indicar. O PT não está
fechado com as suas candidaturas, o PT tem interesse de que o PSB tem
direitos e que o PT também tem direitos. Então, precisa apenas a gente
afinar a viola. A Gleisi está conversando, ela vai conversar com o
presidente do PSB, e na hora que ela achar que é interessante… 

Eu ia conversar com o Kassab essa semana, mas o Kassab parece que está
com Covid.

Mauro Lopes – Brasil 247: Está. Está no hospital.

Luiz Inácio Lula da Silva: Eu quero conversar com o Kassab porque eu


tenho uma boa relação com o Kassab, tenho uma boa relação com muita
gente do Kassab, sabe, e vou conversar. Você sabe que em política a
conversa é boa, e nós temos que conversar com muita gente. Se for
necessário nós vamos conversar com o PSD do Kassab em Minas Gerais,
vamos conversar com o PSD em outros estados. Se tem uma coisa que eu
gosto de fazer é conversar. E você sabe que de uma boa conversa sempre
sai uma boa coisa, sabe. Por quê? Porque eu estou fazendo isso, Mauro?

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Porque eu acho que a situação do Brasil hoje, se comparada a 2003, está


muito pior. Está muito pior na questão social, na questão do emprego, na
questão da educação, na questão da ciência e tecnologia, na questão do
ENEM. Ou seja, o país piorou, o país foi, é como aquele jogo de palito, você
soltou, abandonou, caiu um para cada lado, ou seja, você não tem uma
orientação, você não tem orientação para as Forças Armadas, orientação
para o Itamaraty, uma orientação para a indústria. Ou seja, este presidente
não se reúne com ninguém, não discute com ninguém. E me parece que
ele não faz questão de discutir porque ele diz: eu não entendo nada. Já
que eu não entendo nada eu vou contar. E aí ele conta sete mentiras por
dia. E você sabe que sete é conta de mentiroso, então é oito já, sabe, então
é oito. Então, é esse país que nós vamos ter que remontar, querido.
Remontar. 

E é possível Mauro, é possível a gente fazer isso numa perspectiva de


reconstruir uma coisa que o povo brasileiro tem demais que é o afeto, que
é, sabe, uma coisa fraterna, uma coisa solidária. Ninguém precisa ficar
brigando com ninguém, ninguém precisa ficar brigando, ninguém precisa
ter medo porque o Lula não é de perseguir ninguém. Eu não vou fazer com
eles o que eles fizeram comigo, porque o meu compromisso é fazer para o
povo, não é fazer nada contra os outros. Eu quero fazer as coisas para o
povo. Se ao terminar o mandato, eu sendo candidato e ganhando as
eleições o povo tiver trabalhando mais, ganhando mais, comendo mais, e
estudando mais, o que eu quero? Morrer e ocupar o meu espaço no céu, eu
tenho direito. É isso. E a Janjinha que se cuide. 

Mauro Lopes – Brasil 247: Obrigado, presidente.

Luiz Inácio Lula da Silva: É assim que eu quero levar esse país, gente,
esse país precisa de muito, muito, muito, muito, muita solidariedade,
muito amor, muito carinho, muita alegria, sabe, e é isso que nós vamos

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construir. Por isso companheiros, eu quero mais uma vez agradecer a


vocês, eu não tive oportunidade de agradecer a vocês, mas vocês não tem
noção, Nassif, como vocês foram importantes para mim quando eu estava
preso. Eu recebia o pendrive de vocês, eu nunca vi tanto vocês como eu vi
na cadeia. Nunca vi, sabe. Eu andava uma hora e meia vendo vocês,
depois eu deitava vendo vocês, depois eu ia dormir vendo vocês, depois
eu tomava café vendo vocês, nunca conversei tanto com vocês como eu
conversava lá. E aquilo me animava muito, muito, muito, muito, muito. 

E além daquela vigília, que foi uma, para quem não acredita em Deus,
pode começar a acreditar porque não existe antecedente na história da
humanidade de uma vigília daquela. Não existe antecedente na
humanidade de uma vigília daquela, com aquelas milhares de pessoas
passando frio, calor, sendo provocadas, passando necessidade. E eu
herdei daquilo, além da Janja, herdei daquilo uma cachorrinha chamada
Resistência, que foi criada lá dentro da vigília, que está comigo, que de vez
em quando dorme comigo, sabe. Então, sabe, eu não tenho, eu só tenho
que agradecer a Deus. Vou fazer uma campanha leve, uma campanha
simpática, não vou fazer jogo rasteiro, não vou ficar respondendo mentiras
do Bolsonaro, não vou dar importância para o boneco de barro chamado
Moro, sabe, eu não vou dar… eu vou tentar fazer uma campanha
conversando com o povo brasileiro. Quem quiser mentir, quem quiser
ofender, pode fazer, a minha campanha será no mais alto nível, como
foram as outras que eu fiz. Porque se você fizer uma campanha em baixo
nível, você vai governar em baixo nível. Então, de coração, muito obrigado
a vocês, muito obrigado por tudo o que vocês representam para mim. É
muito mais do que vocês possam imaginar, tá? Um abraço, queridos.

Mediador: Obrigado. Encerramos agora a coletiva. Agradeço a todo


mundo que está assistindo, a vocês pela presença. Muito obrigado.

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OLAVISMO GANHOU FORÇA COM LIVROS EDITADOS POR CARLOS ANDREAZZA NA EDITORA …

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