AUP 0278 - Planejamento Urbano: Estruturas 20 de junho de de 2022
Fichamento 5 “O Zoneamento Ocupa o Lugar do Plano: São Paulo, 1947-1961”- Sarah Feldman
No final dos anos 40, segundo a autora, começa a chamada implantação da
modernidade metropolitana em que se caracteriza pela expansão urbana pela verticalização, ocupação periférica e reorganização da parte central da cidade de São Paulo. Nesse período as visões de urbanismo ainda eram muito voltadas para as obras viárias. Houve um plano de estudo de avenidas 1930 mas só em 1971 que São Paulo irá de fato ter um plano -(Plano diretor de desenvolvimento integrado), o que mostra uma lentidão para a efetivação da atuação do poder público. A partir de 1947 as idéias norte americanas começam a fazer efeito pelos urbanistas como uma organização que extrapola as barreiras físicas e imaginárias, porém na realidade, o urbanismo brasileiro vai nascer distante das atividades administrativas voltadas a uma visão estritamente técnica, para a solução de problemas do cotidiano da cidade. No período de 1947 até 1961 ideias que vinham desde os anos 20 começam a sair do papel com a criação do Departamento de Urbanismo e a Comissão Orientadora do Plano da Cidade. Do ponto de vista administrativo, o papel do departamento de planejamento urbano deve ser o de uma agência central, coordenando o processo de planejamento e cooperando com o departamento administrativo para obter uma compreensão abrangente e definir a direção das questões urbanas. Cria-se também um departamento de arquitetura e de obras reservado para arquitetos e engenheiros. Portanto, desde a criação de um órgão com atribuições específicas na esfera do urbanismo, mostra-se, pela primeira vez, na prefeitura de São Paulo, em 1925, mudanças na organização do setor de urbanismo, concepções assumidas e defendidas pelos técnicos da prefeitura, e já presentes estudos e planos desenvolvidos por eles. Se distancia e se faz cada vez mais importante o distanciamento de um entendimento puramente técnico ao de um saber da académico. Ao assumir a Divisão de Planejamento Geral, Carlos Lodi (engenheiro), aponta os trabalhos que devem ser desenvolvidos. Refere-se, em primeiro lugar, à revisão do Código de Obras, em segundo lugar, ao zoneamento e à constituição de um agrupamento de técnicos para elaborar a estrutura do plano. A legislação é apontada como o instrumento, por excelência, para ordenar e organizar o desenvolvimento da cidade, e a modalidade de lei que responde a essas demandas é o zoneamento. Em 1957, ao apresentar o esquema de plano elaborado pelo Departamento de Urbanismo, Lodi atribui ao zoneamento o papel de viabilizador de todos os princípios que defende para a ordenação do espaço urbano: a descentralização, a regulação da densidade, a reconcentração periférica, e a previsão de equipamentos e serviços. Mesmo com tantas mudanças a maior parte das obras não ultrapassam um raio de quatro quilômetros do centro e se restringem ao sistema viário principal, não atingindo as extensas áreas onde quase inexistem equipamentos básicos privilegiando as obras viárias e lidando com loteamentos irregulares apenas em relação ao que a lei estipulava. Através do levantamento e análise da legislação de uso e ocupação do solo proposta e aprovada em São Paulo, a partir de 1947, pode detectar uma intensa atividade, no interior do Departamento de Urbanismo, para introduzir os princípios de uma lei de zoneamento abrangente ao conjunto da cidade em 3 novas etapas: 1. zoneamento é entendido como instrumento 2. se aplica em diferentes esferas e circunstâncias 3. controla processos econômicos relacionados ao uso do solo A partir dos anos 40 será praticado o "zoning" que já era criticado pelos norte- americanos que citam como um instrumento para privilegiar certos pontos da cidade e valorizar a especulação imobiliária, o zoneamento ratifica, perpétua e acentua diferenças que desde fins do século XIX. Entre 1947 e 1957 o saber técnico do zoneamento se consolidou na administração municipal. A aprovação da legislação de zoneamento é marcada pela utilização de estratégias autoritárias (no auge da ditadura militar), que negam qualquer debate com a sociedade e qualquer preocupação em legitimar publicamente o novo instrumento.