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RESENHA
Escrito por Carlos Rodrigues Brandão, em 1981, “O que é educação?” foi publicado,
tendo em vista o questionamento acerca da educação e como podemos encontrá-la em
todos os momentos e partes, não se limitando apenas a instituições de ensino e
universidades, exercendo a sua existência e funcionalidade com base nas ações
socioculturais de cada indivíduo.
Nas páginas iniciais do livro, o autor traça uma relação entre a educação e a forma não
coercitiva de ensino presente em sociedades tribais e aldeias. Brandão inicia seu texto
afirmando e exemplificando, que a educação é uma prática intrínseca ao ser humano.
Seja intencionalmente ou não, ao se inserir na sociedade e frequentar espaços sociais, o
homem aprende e ensina comportamentos, costumes, valores e práticas. Inevitavelmente
assim, perpétua sua cultura, que contêm todo um arcabouço de ideias que regem aquela
sociedade, e isso se encontra presente em qualquer grupo. Porém, na sociedade
contemporânea, ocidental e capitalista o artifício da educação formal recebe um valor
simbólico muito mais reconhecido e respeitado. Sendo assim, a ideia de que existem
espaços únicos voltados para a educação se consolida, ao passo em que esta se torna
hipervalorizada em detrimento de outras práticas de aprendizagem e se estabelece que
práticas não formalizadas, não são valiosas.
Carlos Brandão, portanto, traz outro ponto de vista, ao afirmar que toda e qualquer
transferência de saber é caracterizada como educação. Já que, a partir do momento que
o homem converte o mundo ao seu redor em instrumentos de sua cultura, aprende
também a transformar suas relações, que estão igualmente inseridas nessa cultura, em
situações sociais onde se ensina e aprende e assim criando uma rede de educação. A
ideia de educação faz parte do convívio humano, pois está inserida no sistema de
relacionamentos que faz parte da espécie, e diretamente ligada a prática inconsciente de
troca que é promovida entre indivíduos.
Sendo assim, o autor prossegue seu raciocínio ao exemplificar, com base em teóricos do
assunto como Durkheim, que algumas das práticas de integrantes de aldeias e tribos, se
enquadra no conceito e ideia de educação, apesar de não serem caracterizadas dessa
forma por muitos pesquisadores da antropologia.
Wener Jaeger, questiona essa posição, já que esses pensadores trazem uma visão da
educação a partir de certos grupos sociais, como a nobreza e grupos similares,
caracterizando-a da forma que melhor lhes favorecem, encarando apenas sua realidade.
Por mais louvável que seja, a educação não é um meio imutável com o mesmo valor
para todos.
Na Grécia antiga, a base dos trabalhos braçais era formada por estrangeiros e escravos,
permitindo aos jovens gregos dedicar-se à educação, no modelo conhecido naquela
sociedade. No mundo ocidental, logo após a propagação do cristianismo, os conceitos
da educação também tomaram novos caminhos, agora mais ligados aos ensinamentos
cristãos, passada a responsabilidade educacional a igreja católica. Com o passar dos
séculos, ficou claro o quanto a educação foi se moldando aos interesses da sociedade.
Como diz Wener Jaeger, “A educação é, assim, o resultado da consciência viva duma
norma que rege uma comunidade humana, quer trate da família, duma classe ou duma
profissão, quer trate dum agregado mais vasto, como um grupo étnico ou um Estado."
Ao longo dos anos, é possível notar a fragilidade dos modelos educacionais, já que nos
primeiros momentos registrados da sociedade, era voltada a parte individual da
moralidade, comportamentos e aspectos relacionados à conduta do ser humano, se
tornando subsequentemente a se relacionar, as necessidades da sociedade, como a
profissionalização da mão-de-obra. Clarificando o papel político que a educação atual
tem na sociedade. Antes, focada no desenvolvimento humano, e agora uma espécie de
mecanismo de manipulação para fazer funcionar o modelo capitalista, ofuscando à
responsabilidade do estado de dar liberdade de pensamento crítico, moral e consciente
ao povo que vive dentro de sua tutela.