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ESPORTES NÃO CONVENCIONAIS NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NOS ANOS

FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

João Pedro da Silva Chagas1


Patrick da Silveira Gonçalves 2

Resumo
Os esportes não convencionais dentro do contexto escolar são todas as modalidades esportivas que
não são comumente abordadas durante as aulas de educação física. Este trabalho teve como objetivo
analisar como ocorre o trabalho com esportes nos anos finais do ensino fundamental. Essa pesquisa
teve uma perspectiva qualitativa. Como instrumentos de coleta de dados, utilizou-se de entrevistas
semiestruturadas com dois professores da rede pública municipal de Canoas / RS. A partir das
compreensões dos professores, é possível entender que durante as aulas de educação física nos anos
finais do ensino fundamental não ocorre a prática de esportes não convencionais.

Palavras-chave: esportes não convencionais; educação física escolar; ensino fundamental.

1 Introdução

Através do movimento, a educação física encontrou recursos para atingir seus objetivos dentro
do contexto escolar, sendo assim, o movimento é entendido como uma atividade corporal que se
revela através de jogos, danças e esportes (BETTI, 1999, p. 26).
O esporte é um dos objetos do conhecimento da educação física e está fortemente ligado à
cultura brasileira, sendo assim uma ferramenta de extrema importância para o desenvolvimento dos
alunos no contexto escolar. Ainda que seja o método mais utilizado, não é o único. A Base Nacional
Comum Curricular - BNCC (BRASIL, 2018) diz que as práticas corporais devem ser vistas como um
fenômeno dinâmico, multidimensional e contraditório, ou seja, ela visa ampliar o repertório de
práticas corporais dos alunos. Desta forma, os alunos podem ter a certeza de que vão construir uma
melhor consciência de movimento e a partir disso aprimoramos diversas habilidades motoras e
reflexos, além da coordenação e postura corporal.
A repetição dos conteúdos faz com que os alunos e professores se sintam desmotivados, uma
vez que as aulas se restringem a poucas modalidades esportivas, geralmente voltadas aos esportes
mais convencionais como futsal, voleibol, basquetebol e handebol, deixando de lado modalidades
como atletismo, dança, ginástica artística, dentre outras. Por isso, a utilização de modalidades
esportivas não convencionais pode ser um instrumento alternativo para a realização dos objetivos da
educação física.

1
Discente do Curso de Educação Física da Universidade La Salle - Unilasalle, matriculado na disciplina de Trabalho de
Conclusão de Curso II, sob a orientação do Prof. Patrick da Silveira Gonçalves. E-mail: jpschagas@gmail.com.
2 Docente do Curso de Educação Física na Universidade La Salle. Mestre em Ciências do Movimento Humano. E-mail:

patrick.goncalves@unilasalle.edu.br
2

Nos dias de hoje, geralmente as aulas de educação física são divididas em modalidades por
bimestre ou trimestre, colocando-se em prática, durante todo o ano, apenas quatro modalidades
esportivas, repetindo este processo para todos os alunos de todos os anos escolares. Betti (1999, p.
25) questiona onde estão os demais conteúdos da educação física, como atletismo, expressão corporal,
folclore e outras. De acordo com a autora, a ausência destes conteúdos pode ocorrer pela insegurança
e pouca intimidade dos professores com outros esportes, sendo assim, trabalham com o que possuem
mais afinidade. Diante disto, os alunos se sentem entediados e descontentes sem a possibilidade de
diversificar e experimentar diferentes vivências motoras e assim muitos saem da escola sem ao menos
conhecer outros esportes sem ser as modalidades praticadas na escola, por isso a utilização dos
esportes no contexto escolar não deve priorizar apenas alguns esportes específicos e sim fazer uso da
grande diversidade que existe dentro das categorias em que o mesmo é dividido.
Após essas considerações fica a dúvida, expressa nas seguintes questões problematizadoras:
As aulas de educação física, no Ensino Fundamental, acabam se restringindo à prática de esportes
convencionais? Como diversificar as modalidades esportivas usadas durante as aulas de educação
física?
O espaço e os materiais em algumas escolas realmente às vezes podem ser muito precários,
mas nem sempre o problema pode estar atrelado somente a isto, muitas vezes a restrição que se impõe
pode vir do próprio professor. A associação da aula de educação física ao esporte sempre é esperada,
mas quando não se tem o material necessário para aplicar a aula, a mesma não acontece (BETTI,
1999. p, 29).
Em resumo, pode-se perceber que nas aulas de educação física o esporte tem se tornado muito
maçante e repetitivo, fazendo com que os alunos percam o interesse e o gosto pela prática esportiva.
Sendo assim, este presente estudo tem por objetivo analisar como ocorre o trabalho com esportes
durante as aulas de educação física nos anos finais do ensino fundamental.

2 Metodologia

Para obter resultados e resposta para a problematização apresentada neste trabalho, foi
desenvolvida uma pesquisa qualitativa e explicativa. A forma orgânica de coleta de dados está entre
as principais características da pesquisa qualitativa, segundo Lüdke e André (1986, p. 11), “[...] os
problemas são estudados no ambiente em que eles ocorrem, sem qualquer manipulação intencional
do pesquisador [...]”. Gil define a pesquisa explicativa como aquele que tem

[...] como preocupação central identificar os fatores que determinam ou que contribuem para
a ocorrência dos fenômenos. Este é o tipo de pesquisa que mais aprofunda o conhecimento
da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas. (GIL, 2008, p. 28)

Nesta pesquisa, o estudo de campo foi utilizado como procedimento técnico, sendo este com
finalidade de observar fatos e fenômenos diretamente no local de pesquisa. Para Gonsalves (2001, p.
67),
A pesquisa de campo é o tipo de pesquisa que pretende buscar a informação diretamente com
a população pesquisada. Ela exige do pesquisador um encontro mais direto. Nesse caso, o
pesquisador precisa ir ao espaço onde o fenômeno ocorre, ou ocorreu e reunir um conjunto
de informações a serem documentadas [...].

A pesquisa tem por finalidade identificar como ocorre os esportes durante as aulas de
educação física nos anos finais do ensino fundamental.
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2.1 Sujeitos da pesquisa

Para realizar este estudo, busquei acompanhar a realidade vivida por dois professores de
escola pública regular localizadas no município de Canoas/RS, que atuam com alunos dos anos finais
do ensino fundamental. A única exigência solicitada é que estes professores tenham no mínimo dois
anos de atuação na escola onde lecionam, pois assim os mesmos já têm pleno conhecimento da
infraestrutura da escola, dos alunos e materiais utilizados durante as aulas de educação física.

2.2 Coleta de dados

Para atingir o objetivo referente à melhor compreensão das percepções e concepções dos
participantes sobre a relação Esportes não convencionais/Educação Física, optei por realizar
entrevistas semiestruturada como instrumento de coleta de dados, no qual: “O entrevistado tem a
possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada”, e conteve
15 questões abertas elaboradas com base nos objetivos da pesquisa (MINAYO, 2007, p. 64). A
realização desta ocorreu no horário de planejamento dos professores, sendo previamente agendada
com os entrevistados.

3 Referencial Teórico

3.1 Educação física e esporte na escola

A educação física escolar é considerada de extrema importância para o desenvolvimento dos


alunos no ensino fundamental, pois é através dela que com os esportes se proporcionam vivências
práticas a fim de ampliar a consciência corporal, também é a partir dos jogos que os alunos aprendem
a usar o seu próprio corpo como meio de comunicação, além de abordar temas relacionados com
outras disciplinas e manifestações culturais. Sendo assim, fica nítida a “importância de estudar,
ensinar e aprender o esporte como elemento significativo e fundante da cultura corporal do
movimento humano e de seu papel formador da subjetividade do cidadão” (NETO, 2009, p. 4).
Bracht (2009, p. 14) reforça a ideia de que é através da educação física escolar que o esporte
encontrou meios para atingir seus objetivos, mas ao contrário do que possa ser esperado, este processo
não é visto como crítica, e sim como um forte aliado a fim de valorizar a educação física no âmbito
escolar, sendo assim, passa a ser sinônimo do esporte na escola.
O dever da escola é utilizar o esporte como ferramenta para o desenvolvimento de capacidades
físicas, motoras e psicológicas, posto isso, o professor deve apresentar diferentes tipos de esportes a
fim de proporcionar diferentes vivências esportivas e não focar apenas em uma ou duas modalidades,
pois assim os alunos têm a possibilidade de identificar a modalidade que tiveram mais intimidade e
possam possivelmente praticá-las fora do contexto escolar como forma de lazer.
É errôneo pensar que na educação física escolar exista a possibilidade de identificar talentos
esportivos, pois nesta etapa o professor deve voltar sua atenção para o desenvolvimento pedagógico
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dos educandos. Segundo Gaya, a prática esportiva escolar não serve como detecção de talentos, ou
seja,
[...] devemos considerar é que nessa definição está implícito um sentido de acompanhamento,
de monitorização ou de avaliação, um sentido de processo no que tange ao desenvolvimento
das capacidades físicas, motoras, psicológicas e sociais dessas crianças e jovens [...]. (GAYA,
2009, p. 63)

Sendo assim, identificar os alunos durante a sua fase de desenvolvimento a partir destas
capacidades não constitui como prospecção de talentos esportivos. Apesar de a educação física
escolar não se resumir apenas ao descobrimento de possíveis grandes atletas de rendimento, não
devemos diminuir a importância de aplicar durante as aulas o desporto como ele propriamente é.
Gaya (2009, p. 66) traz algumas demandas sobre este tema ao questionar a forma como devem ser
lecionados os esportes na escola, ou seja, se o objetivo do esporte durante as aulas é a apropriação da
cultura esportiva, por que necessitaria uma modificação em sua configuração? Mas também concorda
que é errado utilizar o esporte na perspectiva da exclusão de muitos alunos em prol dos mais
talentosos.
De certa forma, Stigger (2009, p. 123) concorda que o esporte aplicado na escola precisa sim
ser adequado aos objetivos educacionais, pois a escola é um lugar onde deve prevalecer a transmissão
de conhecimentos e hábitos historicamente considerados edificantes em relação à sociedade, além de
formar cidadãos críticos e conscientes, e não um ambiente de exclusão que geralmente é imposto pela
reprodução lógica do esporte de rendimento que oferece uma visão limitada dessa prática social,
portanto os alunos que acabam por não responder às exigências impostas pelo esporte que está sendo
executado, acabam por serem excluídos desta modalidade.
Em síntese, o esporte no âmbito escolar deve ser entendido como um meio utilizado para o
desenvolvimento da cultura corporal de movimento, sendo ele a principal ligação entre o aluno e o
desenvolvimento das capacidades motoras, físicas e cognitivas. Galvão et al. (2017, p. 188) reforça
esse pensamento entendendo que

Valorizar o conhecimento e construir uma análise tendo como base as dimensões do


movimento esportivo, suas modalidades, códigos, regras, instalações e aparelhos específicos
divulgados especialmente através de meios de comunicação de massa podem configurar-se
como um passo inicial significativo, merecedor de um tratamento no âmbito escolar.

3.2 Esportes nos anos finais do ensino fundamental

Os esportes são as práticas contemporâneas institucionalizadas que no contexto escolar visa


desenvolver capacidades motoras e cognitivas através de sua prática. Segundo a BNCC (BRASIL,
2018), nos anos finais do ensino fundamental a educação física deve abordar categorias de esportes
específicas em cada etapa deste período.
- 6° e 7° ano
Os esportes abordados no 6° e 7° ano são Esportes de marca, Esportes de precisão, Esportes
de invasão e Esportes técnico-combinatórios.
1. Esportes de marca: são aqueles em que os competidores disputam através da
comparação entre suas marcas. Nas corridas, por exemplo, vence quem realizar o percurso no menor tempo
possível. Nos arremessos, a meta é atingir a maior distância. Já nos levantamentos de peso, vence quem
levantar a maior quantidade de peso.
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2. Esportes de precisão: Nesses esportes é comparado o desempenho de atingir com um objeto


algum tipo de alvo estático ou em movimento. A pontaria é a capacidade mais importante nesses esportes.
Como exemplo temos o golfe, bocha e tiro com arco.

3. Esportes de Invasão: consistem em conduzir um objeto, como uma bola, até um ponto
determinado da quadra ou do campo adversário. Além de conduzir o objeto até o local, os esportes também
possuem como elemento principal a estratégia. Como exemplo de esportes de invasão temos o futebol, rugby,
basquete e o polo aquático.

4. Esportes técnico-combinatórios: são as modalidades onde se leva em consideração a


complexidade dos movimentos realizados conforme os padrões ou critérios estabelecidos. Ginástica artística,
nado sincronizado e patinação no gelo são exemplos de esportes técnico-combinatórios.

- 8° e 9° ano
Os esportes abordados no 8° e 9° ano são Esportes de rede/parede, Esportes de campo e taco, Esportes
de invasão e Esportes de combate.
1. Esportes de rede/parede: são as modalidades nas quais o objetivo principal é lançar, bater ou
arremessar a bola ou objeto de mesma função para a quadra adversária, sobre uma rede ou rebatendo contra
uma parede. Temos como exemplo o tênis, voleibol e badminton.

2. Esportes de campo e taco: são os esportes os quais a estratégia de jogo para pontuar requer o
ato de rebater a bola o mais longe possível e tentar percorrer no campo a maior quantidade de bases. Beisebol,
críquete e softbol são esportes de campo e taco.

3. Esportes de combate: são as modalidades em que há o confronto direto entre dois oponentes,
podendo ou não haver uso de instrumentos. No entanto, essas práticas consideram um conjunto de regras e
regulamentos instituídos por entidades esportivas específicas, do qual resulta seu caráter esportivo e
institucionalizado. Como exemplo temos a esgrima, o boxe e a capoeira como esportes de combate.

3.3 Esportes não convencionais

Sabe-se que os esportes são ferramentas necessárias para instrução do movimento nas aulas
de educação física, mas quando falamos em esportes não convencionais, há de certa forma um anseio
e até mesmo temor por parte dos professores ao saírem de sua zona de conforto, dito isso alguns
esportes são mais praticados durante as aulas do que outros e os motivos são diversos, variam desde
o pouco uso de materiais a até mesmo a motivação dos professores. Mas, essa escolha acaba refletindo
diretamente no processo de aprendizagem dos alunos, pois o uso de poucos esportes não significa que
as metas estabelecidas aos alunos serão alcançadas. Gaya (2009, p. 60) ressalta a importância ao
abordar diferentes práticas esportivas e o quanto atribuí-las às suas aulas agrega em prol dos diferentes
objetivos a serem alcançados.
Kunz (2009, p. 28) também nos traz uma visão bem objetiva acerca dos esportes não
convencionais. O autor sugere que os esportes denominados como “leque olímpico” tem entre seus
princípios o desenvolvimento de capacidades físicas como força, velocidade, resistência,
coordenação e flexibilidade, sendo todos esses conceitos abordados durante as aulas de educação
física. Sendo assim, por que os professores não utilizam os inúmeros conteúdos que a disciplina de
educação física abrange? E sobre os esportes, porque se restringem apenas aos esportes mais
tradicionais como vôlei, basquete, futebol ou futsal e handebol? Segundo Epindula (2009, p. 67), isso
geralmente acontece porque a maioria dos professores justificam que a escolha dos conteúdos está
atrelada a partir de suas experiências, os mesmos foram atletas ou se especializaram em uma
modalidade específica, ou a partir do interesse da turma. “As condições de trabalho e a ausência de
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material específico para outras formas esportivas também são usados como justificativa”
(ESPINDULA, 2009, p. 67).
Além dos percalços que os esportes não convencionais enfrentam na escola, também temos a
falta de incentivo à prática fora da escola, ou seja, a falta de políticas públicas de esporte e lazer
adequadas ao perfil do jovem e que o reconheçam como sujeito de direitos, viabilizando o incentivo
e a prática na organização de atividades e seguidamente o estímulo à prática.
Ainda que existam organizações que visam o incentivo à prática esportiva, as mesmas não
estão de acordo com o que os jovens anseiam, como afirma Espindula (2009, p. 29):

Parece natural que as políticas públicas de esporte estejam voltadas de modo especial para a
juventude. Porém, diversas pesquisas indicam que a maioria dos jovens brasileiros não
pratica esporte. Isso decorre de vários motivos, dentre eles o fato de as práticas esportivas
não serem organizadas para atrair a juventude.

Para enfrentar essas e outras dificuldades que se impõem, democratizando o acesso ao


conhecimento e à prática do esporte, o espaço escolar é imprescindível. “À escola cabe à orientação
pedagógica da prática esportiva que se dá numa gama de intenções que vai da prática lúdica à prática
esportiva competitiva” (ESCOBAR, 2008 apud ESPINDULA, 2009, p. 31).
Em vista disso, supõe-se que a participação dos jovens em determinados tipos de esportes,
mediante níveis de exigências quanto à realização de esforços físicos repetitivos, não garante
necessariamente substancial contribuição para o desenvolvimento de hábitos direcionados à prática
permanente de atividade física voltada à saúde (ESPINDULA, 2009, p. 67).

3.4 Motivação dos alunos nas aulas de educação física

A educação física escolar pode ter desmotivado alguns alunos e existem diversos motivos que
justificam isso, como por exemplo, as aulas serem voltadas para os esportes coletivos e competitivos,
pondo de lado conteúdos importantes que utilizam os fundamentos de outros esportes como atletismo,
ginástica e dança para atingir os objetivos em relação ao desenvolvimento físico/motor dos alunos. O
estudo de Stavistki e Cruz (2008) destaca a aptidão motora como um dos principais fatores que
desmotivam os alunos durante as aulas de educação física, pois a falta dela faz com que os alunos se
sintam excluídos em relação aos outros colegas que têm maior aptidão motora. Além da falta de
aptidão dos alunos, outro agente desmotivacional é a repetição dos conteúdos aplicados nas aulas,
que geralmente ocorre pela falta de planejamento do professor ou até mesmo pela falta de motivação
do professor em aplicar conteúdos e esportes não convencionais durante suas aulas.
Motivação é o fator chave para adquirir a permanência e participação do aluno em aula, e deve
ser planejado para construir o processo pedagógico que vise o melhor desenvolvimento das aulas para
o professor e alunos.
Samulski (2002) diz que a motivação pode ser classificada como um processo que tem como
objetivo alcançar uma meta onde ocorre a influência de dois fatores, os pessoais (intrínsecos) e os
presentes no ambiente (extrínsecos). Também afirma que a motivação depende da interação entre os
fatores pessoais e situacionais, onde tudo depende do momento e das oportunidades. A motivação
intrínseca tem como característica a iniciativa e vontade originadas do próprio aluno, desse modo,
buscar entender o que impulsiona o aluno e o que realmente o motiva. E a motivação extrínseca é
aquela que depende de um agente externo para acontecer, ou seja, ela visa recompensar o aluno com
prêmios para fazer tal atividade. (PUENTE, 1982 apud MARNIZEK, 2004, p. 22).
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Aliado a esses aspectos o professor tem um papel fundamental na motivação de seus alunos
seja em quaisquer áreas, pois o professor precisa ser dinâmico e de certa forma ousado para manter
seus alunos motivados, buscando o interesse na atividade proposta, sempre procurando novas
estratégias de ensino.

Os professores influenciam os alunos através de sua capacidade de oferecer um sistema de


recompensa, do reconhecimento dos estudantes da competência do professor na área de
ensino e pelos processos de identificação através das qualidades pessoais e interpessoais
reconhecidas no professor (JESUS, 1996, p. 8).

Sendo assim, indiscutível a importância do professor na motivação dos educandos, tendo em


vista a enorme relevância no desempenho deles.

4. Análise de dados

4.1 Perfil dos entrevistados

Para a realização deste estudo, foram realizadas entrevistas com dois professores de educação
física, a professora Gabriele e o professor Henrique. A professora Gabriele tem quarenta e dois anos
de idade e formou-se com o título de licenciatura plena no Instituto Porto Alegre (IPA) em 2002, atua
há 13 anos no ensino público e desde 2016 é professora na escola onde leciona hoje. Durante a
adolescência até o início da graduação praticou natação e sempre foi apaixonada por esportes
aquáticos. Já o professor Henrique tem 60 anos de idade e formou-se com o título de licenciatura
plena na Universidade La Salle em 2004, atua como professor há 10 anos e desde 2015 leciona na
escola onde hoje é professor. O professor Henrique sempre praticou esportes, mas hoje a modalidade
que mais pratica é o tênis.

4.2 A cultura escolar e sua relação com os esportes

Neste estudo podemos explorar um pouco mais do entendimento da docência e dos esportes,
portanto dentro do contexto escolar o esporte pode ser entendido e vivenciado de maneiras diferentes.
Segundo Maia (2017, p. 12), o esporte é

pensado sobre um tratamento pedagógico que estimula a compreensão dos aspectos


históricos, sociais, vivência de esportes individuais e coletivos no contexto participativo e
também competitivo, respeitando as relações entre o esporte, a escola específica e seus
códigos próprios.

Para o professor Henrique o esporte na escola pode ser bom ou ruim, depende da conotação
que o professor o aplica, pois segundo ele, quando o esporte se torna muito competitivo, ele acaba se
tornando frustrante.

“O ambiente de competição ocorre na vida da gente, a gente sempre vai competir, só que uma
competição dentro da escola para uma criança que está iniciando no esporte às vezes pode
ter uma conotação um pouco frustrante, pois na competição geralmente as pessoas sempre
querem ganhar e o esporte na escola tem essa conotação bastante negativa” (Professor
Henrique).
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Henrique ainda complementa que trabalha bastante o esporte durante suas aulas, mas o foco
não está na competição e sim no aprendizado.
A professora Gabriele diz que o esporte tem grande importância no desenvolvimento dos
alunos quando trabalhado em grupo e é importante aliado quando o objetivo é a prática de exercícios
físicos.
“O esporte é importante porque o aluno aprende a trabalhar em grupo e também a lidar com
regras. Independente do esporte, tu fazer algo direcionado a se movimentar, mas não
utilizando o esporte em si, e sim ele como ferramenta para realizar uma prática de exercício
físico” (Professora Gabriele).

Os dois professores concordam que o esporte trabalhado na escola traz benefícios, mas desde
que não seja voltado para o alto rendimento, ou seja, deve ser aplicado da forma mais didática possível
abordando aspectos pedagógicos como jogos e brincadeiras.
A partir desses entendimentos, é possível descrever o esporte na escola como uma prática saudável e
necessária para o desenvolvimento dos alunos, pois dessa forma proporcionamos ao aluno acesso a
diferentes modalidades esportivas ampliando os aspectos motores e físicos mantendo a ludicidade
como traço essencial.
Durante a entrevista, foi feito o seguinte questionamento aos professores: “A escola participa
dos jogos escolares?” Os dois professores responderam que sim, a escola participa, porém a
professora Gabriele comentou que nos dois últimos anos, devido a pandemia do COVID-19, a escola
não participou. Ainda comenta que teve um modelo de jogos diferente, envolvendo jogos eletrônicos,
mas devido a falta de estrutura da escola e conexão com a internet, os alunos também não participaram
das atividades.

“A escola participa do CECA (Competições escolares Canoense), mas nesses dois últimos
anos de pandemia a gente não participou. O ano passado teve online, teve xadrez, jogos
eletrônicos, mas a escola não participou porque os alunos não têm acesso a essas coisas
(computadores e internet)’’ (Professora Gabriele).

O Professor Henrique também conta que a escola participa dos jogos escolares e nenhuma
turma fica de fora, todas as turmas participam e também tenta incluir os alunos em todas as
modalidades esportivas que fazem parte do evento.

“Sim, a gente participa em várias modalidades dos jogos escolares aqui em canoas. A gente
participa de todos os esportes, desde o futsal, futebol de campo, handebol, vôlei e basquete e
atletismo também. Todas as turmas participam’’ (Professor Henrique).

Desta forma, podemos dizer que os alunos têm grande interesse em participar dos jogos
estudantis devido a interação e competição com outros alunos de outras escolas, que de certa forma
favorece a aprendizagem dos mesmos, porém não é exatamente isso que a literatura nos mostra. O
esporte tem suas características particulares e a escola tem seus objetivos específicos. Então, como
se pode trabalhar o esporte com suas características de rendimento em um ambiente escolar? É sobre
isso que Bracht e Almeida (2003, p. 97) comentam:

A escola tem especificidades que precisam ser respeitadas; isso “obriga” todo e qualquer tipo
de saber que pretenda adentrar a escola a passar pelo crivo dessas especificidades, tornando-
se um saber tipicamente escolar. Portanto, e sem negar o potencial educativo do esporte, é
preciso que o esporte passe por um trato pedagógico para que se torne um saber característico
da escola e que se faça educativo na perspectiva de uma determinada concepção ou projeto
de educação.
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Ao serem questionados sobre a sua experiência com as práticas corporais, os dois professores
dizem ter vivenciado práticas esportivas durante a adolescência e também durante a formação
acadêmica. O professor Henrique nos conta que sempre foi muito ativo em relação aos esportes, e
que isso se tornou muito importante na sua atuação como professor.

“A prática corporal na minha vida sempre me acompanhou, sempre tive uma vida muito ativa
em relação a atividade física e em relação a esporte e eu pratiquei várias modalidades
esportivas, eu jogo tênis, já fiz rúgbi, ciclismo, enfim, são esportes não convencionais para
escola. Essa minha vivência esportiva de prática de atividade física fez com que eu tomasse
gosto pela profissão e sentisse prazer em trabalhar como professor de educação física”
(Professor Henrique).

Henrique ainda complementa o quão importante é essa experiência na sua atuação docente

“Isso dentro da escola me facilita muito, porque eu tenho vivência em vários esportes
diferentes, e isso pode fazer a gente oferecer pro nosso aluno uma diversidade um pouco
maior trabalhando um esporte que eles não estão muito habituados’’ (Professor Henrique).

A Professora Gabriele também comenta que desde muito cedo sempre foi envolvida com
atividades esportivas, principalmente envolvendo esportes aquáticos, e que a partir da sua formação,
este era o seu almejo profissional, fazer parte de uma equipe atuando como treinadora de natação,
porém, devido a alguns problemas pessoais, acabou optando pela docência.

“Eu sempre nadei desde pequena, sempre pratiquei natação e sempre fui apaixonada por
esportes aquáticos e aí isso me levou para um lado atleta onde eu treinei por um tempo e
participei de algumas competições e quando eu resolvi me formar em educação física meu
objetivo era esse, fazer parte de uma equipe e poder atuar como treinadora, algo assim na
área que eu atuava. Mas depois de ter concluído a minha formação as coisas foram se
desviando, não dando muito certo como eu pretendia, então dentro do meu campo de atuação
eu tinha algumas opções e uma delas foi atuar em escola’’ (Professora Gabriele).

Sendo assim, a experiência com as práticas corporais têm grande relevância quando são
aplicadas durante as aulas práticas de educação física, pois o professor se sente mais preparado e
capacitado para exercer sua função dentro da quadra. De acordo com Corrêa (2004), a importância
do trabalho docente necessita de saberes e habilidades específicas de cada área. Além disso, destaca
que o papel do professor é o de possuir um conhecimento pedagógico experienciado, ou seja, possuir
um saber técnico referente à sua área e transformá-lo em saber escolar, promovendo o crescimento
de seus alunos.

4.3 Esportes não convencionais na Educação física escolar

Questionado sobre como realiza o planejamento dos objetos de conhecimentos da educação


física escolar, o professor Henrique diz que o planejamento é feito a partir da realidade vivida na
escola, e por isso, muitas vezes é preciso realizar adaptações no seu planejamento, mas sempre é
baseado nas diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular).

“O planejamento é em cima da realidade da escola. Às vezes o planejamento que tu gostaria


de trabalhar com os alunos não contempla a realidade da escola ou a realidade dos alunos.
Então a gente tem que adaptar um pouco a nossa aula em relação a realidade que a gente
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encontra, mas apesar disso, mesmo com as adaptações sempre procuro seguir a BNCC’’
(Professor Henrique).

Por outro lado, a professora Gabriele diz realizar o planejamento de acordo com os marcos
de aprendizagem, onde os mesmos são baseados nas normas da BNCC.

Eu sigo os marcos de aprendizagens. No início do ano a gente define o nosso plano de


trabalho que é trimestral, então no início de cada trimestre eu defino o que vou trabalhar
naquele trimestre e assim consecutivamente, mas tudo baseado nos objetos da BNCC”
(Professora Gabriele).

Por tanto, as duas respostas nos mostram que o planejamento de ensino sempre é regido pela
BNCC, isso por que ela é um documento norteador para o professor planejar e organizar os objetos
de conhecimento durante as suas aulas, ela indica que as decisões pedagógicas devem ser orientadas
a partir deste documento para o desenvolvimento das competências exigidas para cada objeto de
conhecimento (BRASIL, 2018).
A prática corporal está presente em boa parte das aulas de educação física, isso porque ela se
manifesta principalmente no corpo e pelo movimento corporal. Dito isto, Silva et al. (2014, p. 526)
afirmam que as práticas corporais são fenômenos que se mostram, prioritariamente, no plano
corporal, constituindo-se em manifestações culturais de caráter lúdico, tais como os jogos, as danças,
as ginásticas, os esportes, as lutas, as acrobacias, entre outras. Durante a entrevista, os professores
foram questionados sobre quais práticas corporais eles trabalham nos anos finais do ensino
fundamental. A professora Gabriele diz o seguinte:

“Eu trabalho com brincadeiras, jogos cooperativos, com atividades em grupo e depois
começo a incluir os esportes. Geralmente trabalho uma parte inicial com conceitos de
habilidades e a gente trabalha um pouco de atividade física com movimentos corporais e
depois vou incluindo os esportes que a escola nos dá oportunidade de praticar’’ (Professora
Gabriele).

Já o professor Henrique nos conta que:

“Eu divido a aula em quatro partes: aquecimento, introdução das atividades, as atividades e
volta calma. Dentro disso tudo tento seguir o que a BNCC estabelece para essa faixa etária,
né, isso inclui atividades físicas com jogos cooperativos, brincadeiras lúdicas sempre sendo
realizadas em grupo’’ (Professor Henrique).

As duas respostas mostram que os professores realizam atividades e organizam seus


planejamentos de forma bem semelhante, isso porque utilizam a BNCC como norteador dos objetos
de conhecimento.
De acordo com a BNCC (BRASIL, 2018), os anos finais do ensino fundamental é organizado
em dois blocos (6° e 7° ano e 8° e 9° anos) onde cada bloco é dividido em objetos de conhecimentos
específicos para cada unidade temática, porém a partir do 6° ano é possível que os estudantes tenham
acesso a um entendimento mais aprofundado de algumas práticas corporais e modalidades esportivas,
ou seja, aumenta variedade de esportes que pode ser trabalhado nos anos finais do ensino
fundamental. Tendo entendimento deste assunto, foi feito o seguinte questionamento para os
professores: “Em relação aos esportes, quais modalidades trabalha nos anos finais do ensino
fundamental?”. O professor Henrique responde da seguinte maneira:

“As modalidades que a gente trabalha acaba caindo naquelas quatro (futsal, basquete, vôlei
e handebol), normais assim da escola. Normalmente o que eu mais gosto de trabalhar é
handebol e vôlei.”
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Já a professora Gabriele:

‘’Handebol, futebol, vôlei e algo do basquete, pois não temos cestas, então tenho que me
adaptar, mas trabalho os fundamentos e tento fazer uma prática adaptada.”

Ou seja, nas duas escolas a prática esportiva acaba se restringindo apenas ao “quarteto
fantástico’’ (futsal, vôlei, handebol e basquetebol), não incluindo esportes ditos como não
convencionais, o que já entra em desacordo com a BNCC, que propõe práticas esportivas
diferenciadas como por exemplo a habilidade “EF67EF07” do primeiro bloco (6° e 7° ano) que diz
“Propor e produzir alternativas para experimentação dos esportes não disponíveis e/ou acessíveis na
comunidade e das demais práticas corporais tematizadas na escola.” (BRASIL, 2018), e também a
habilidade “EF89EF02” do segundo bloco (8° e 9° ano) que propõe “Praticar um ou mais esportes de
rede/parede, campo e taco, invasão e combate oferecidos pela escola, usando habilidades técnico-
táticas básicas’’ (BRASIL, 2018).
Durante a entrevista foi feita a seguinte pergunta: “O que te impossibilita trabalhar com
esportes fora do “quarteto fantástico?” ou seja, quais obstáculos impedem de trabalhar esportes não
convencionais, e a professora Gabriele diz que o principal empecilho é a falta de estrutura e materiais,
ela respondeu da seguinte maneira:

“É bem complicado trabalhar onde tu não tem estrutura, a gente sabe que tu querendo muito,
mas bem lá no muito, tu consegue adaptar alguns esportes, como por exemplo o atletismo. A
nossa estrutura ali na escola é muito precária, além do pátio que é dividido com outras turmas,
temos só a quadra que também é bem precária. Já é difícil a gente trabalhar os quatros
esportes básicos, incluir outros então se torna um desafio” (Professora Gabriele).

Já o professor Henrique diz que o principal motivo são as turmas superlotadas, pois durante
as aulas é necessário realizar atividades que contemplam todos os alunos, e determinadas modalidades
esportivas, como alguns esportes individuais, acabam dificultando que seja diversificado esse tipo de
trabalho.

“Dentro de uma escola com muitos alunos a gente tem que encontrar atividades que
contemplem todos os alunos, se a gente praticar um esporte que se joga com uma quantidade
limitada de alunos fica difícil de trabalhar o esporte em si. A gente pode trabalhar os
fundamentos, algumas habilidades, mas o esporte em si, não. Eu trabalho numa turma de
quarenta alunos... às vezes trabalhar um esporte diferenciado causa um certo problema, por
que a gente tem que contemplar todos os alunos e fazer com que todos participem, e isso é
uma das dificuldades que eu encontro” (Professor Henrique).

Diante das duas respostas, encontradas diferenças nos problemas enfrentados pelos
professores, porém o problema mais comum, segundo a literatura, é a falta de materiais e espaço
adequado para a realização das aulas, Tomita e Canan (2019) apresentam alguns obstáculos sugeridos
em seu estudo. A precariedade de espaço e material, o número de aulas reduzido e a curta duração
apareceram como fatores desfavoráveis na implementação de modalidades não tradicionais. Além
disso, predileções pessoais, não somente as do professor como também dos alunos, são também
determinantes na seleção dos Esportes que compõem o currículo.
Sendo assim, é possível afirmar que o obstáculo mais encontrado pelos professores é a falta
de materiais e espaço adequado, pois mesmo que realizando adaptações para que seja inserido
esportes não convencionais no planejamento escolar, ainda é necessário o uso de materiais específicos
para desenvolver práticas mais elaboradas ou até mesmo espaço físico. Um exemplo é o atletismo,
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esportes como salto em distância e em altura que necessitam de um espaço adequado e materiais
como caixa de areia e colchões para amortecer a queda, ou até mesmo a natação, que necessita de um
ambiente grande e com piscina para realizar suas práticas. O ensino público, por ter uma estrutura
mais defasada, acaba por muitas vezes impedindo que professores diversifiquem suas aulas pelos
motivos expostos neste estudo.
Por fim, a última questão feita aos professores Henrique e Gabriele é sobre as possibilidades
e limitações do esporte dentro da escola, a pergunta foi a seguinte: “Quais as principais limitações e
possibilidades que enxerga em relação ao trabalho com o esporte na sua escola?”. A professora
Gabriele diz que :
“As principais limitações são estruturais e a falta de materiais. Devido às limitações, acredito
que as possibilidades ficam bem restritas, então meu trabalho é direcionado a fazer com que
os alunos compreendam a importância da atividade física para o seu bem estar e
saúde”(Professora Gabriele).

Ou seja, as possibilidades acabam se restringindo a limitações físicas da escola. Já o


professor Henrique conta que:

“Dentro da escola em que eu trabalho tenho liberdade pra trabalhar o que eu quiser dentro da
minha aula, eles me apoiam e às vezes até em termos de materiais a gente tem apoio da
direção, e isso me ajuda bastante. O que dificulta às vezes é a realidade dos alunos, a
quantidade de alunos.. Na escola pública muitas vezes o aluno quer simplesmente só jogar
um futebol e se tu propõe uma atividade diferente, que seja fora do futebol ele não quer jogar
e acaba atrapalhando o desenvolvimento da aula, então isso te dificulta muito’’ (professor
Henrique).

Isto significa que, ao obter o apoio da escola, Henrique tem total liberdade para realizar
expandir a aula de educação física a outros esportes, porém o que o impede de fazê-lo é a motivação
dos alunos, pois na maioria das vezes o educando prefere praticar futebol ao invés de outras práticas
esportivas.
Analisando a resposta de cada professor, é possível notar disparidade nas experiências vividas
por eles em suas escolas, ou seja, enquanto Henrique possui apoio da direção em relação a materiais
e estrutura, Gabriele aponta como limitação justamente a falta de materiais e espaço físico.

5. Considerações Finais

Essa pesquisa se propôs, como objetivo geral, identificar como ocorre o trabalho com esportes
durante as aulas de educação física nos anos finais do ensino fundamental. Para que o trabalho não
se limitasse à teoria, buscou, junto aos professores de educação física de duas escolas do município
de Canoas / RS um maior entendimento sobre este tema, como por exemplo, qual a importância da
educação física no contexto escolar, quais esportes estão inclusos no planejamento das aulas de
educação física e por que determinados esportes não são ofertados para os alunos. Pode-se chegar,
assim, a algumas conclusões: o esporte tem grande relevância dentro do contexto escolar, pois é uma
ferramenta muito importante no desenvolvimento dos alunos; na grande maioria das vezes, apenas os
esportes tidos como convencionais (futsal, vôlei, basquete e handebol) são abordados durantes as
aulas; e por fim, a estrutura precária das escolas, a motivação dos alunos e a preferência pessoal dos
professores por determinados esportes são os principais motivos pelo qual não é oferecido uma
variedade maior de esportes para os alunos dos anos finais do ensino fundamental.
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A partir dessa pesquisa, é possível ter uma melhor compreensão da importância que o esporte
tem no desenvolvimento dos alunos, sendo ele um dos principais aliados dos professores para atingir
os objetivos estabelecidos pela BNCC, porém, este mesmo documento exige maior variedade dos
conteúdos abordados durante as aulas, justamente o contrário da realidade encontrada nas escolas
onde ocorreu a pesquisa. Os professores entrevistados disseram não trabalhar os esportes não
convencionais e os motivos variam de uma escola para a outra. A professora Gabriele salientou que
o principal motivo de não trabalhar diferentes esportes é a péssima estrutura que a escola oferece para
a realização das aulas práticas, também comentou que a defasagem nos materiais é um fator
determinante para que o mesmo não ocorra. Por outro lado, o professor Henrique diz que o grande
número de alunos presentes em cada turma o impede de trazer práticas esportivas não convencionais,
ainda complementa que muitas vezes a motivação dos alunos também o impede de inovar em suas
aulas.
Sendo assim, é possível afirmar que durante as aulas de educação física nos anos finais do
ensino fundamental, a prática de esporte é voltada apenas para os esportes tradicionais, deixando de
lado o enorme aprendizado que os esportes não convencionais agregam durante as aulas. Entretanto,
esta monografia retrata a realidade vivida de apenas duas escolas e não de toda a rede de ensino
público do município de Canoas / RS, sendo assim, deixando em aberto esta temática para possíveis
pesquisas futuras. De qualquer forma, espero que este estudo sirva de motivação para que os
professores e o próprio sistema municipal de educação repense a educação física e os esportes como
um grande aliado no desenvolvimento dos alunos.

Referências

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http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/corpoconsciencia/issue/view/519/showToc >.
Acesso em: 16 jun. 2022.
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APÊNDICE A - ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

Perguntas e roteiro para entrevista:


me apresentar, informar sobre o tema e objetivo da pesquisa e realizar as seguintes perguntas:
1. Nome
2. Idade
3. Local de formação
4. Tempo de atuação como professor
5. Data de formação
6. Escola
7. Tempo de atuação na escola
8. Como entende os esportes dentro da EFE?
9. A escola participa de jogos estudantis?
10. Conte um pouco sobre a sua experiência com as práticas corporais e como isso influencia a
sua atuação docente?
11. Como realiza o planejamento dos objetos de conhecimento da EFE?
12. Explique quais são as práticas corporais que são trabalhadas por você nos AF do EF?
13. Em relação aos esportes, quais modalidades trabalha nos AF do EF?
14. O que te impossibilita trabalhar com outros esportes não convencionais?
15. Quais as principais limitações e possibilidades que enxerga em relação ao trabalho com o
esporte na sua escola?

A formação inicial e sua relação com a docência para as práticas corporais - perfil?

A cultura escolar e sua relação com os esportes - como eles entendem?

Os esportes não convencionais na EFE - Como se dá o trabalho com esportes (limites e possibilidades)

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