Você está na página 1de 14
02:65.012 Teoria dos sistemas yerais e a organizacio de Bibliotecas J. FOSKETT* ‘Teoria dow sistemas gerals. Biblioteca cons!- derada con sistema dindmico, Inverldo em sistemas maly amplos, anulisada em termos das Interrelagées de suae partes. Q problema da, administricio de bibliotecas © possibilidade de uplicugde de modernay tenieus administrativas. A teoria dos sistemas gerais vem sendo desenvol- vida nas iltimas décadas por Ludwig Von Bertalanffy e alguns clentistas ¢ filésofos, na sua maioria americanos, Cientistas e fildsofos buscaram sempre um conjunto de principios basicus relalivus & tutalidade dos fend menos naturais que aumentassem nossa compreensio do mundo. Criaram sistemas de conceitos inter-rela- cionados que, através dos tempos, sio refletidos nos esquemss de classifieagio do conhecimento € nos cur- riculos das universidades. Por exemplo, a classificagio decimal de Dewey reflete as especulacées filoséficas de W. T. Harris, que, por sua vez, refletem as de Werelty of London. aeatitute of Education Jaate artigo fo treduaido pur Alba Marka Martins Vax do Oiveiew rovinto pela Rec, R. Ese. Bibliotecon, UFMG, B. H., 2¢1): 9:22, mar. 1973 9 Francis Bacon, fundador do moderne método cien- tifico de racioeinio indutive que parte de casos par- ares, baseado mais na experimentacéo real do que na especulagio, Mas mesmo assim, Bacon baseou sua estrutura do conhecimento nas faculdades huma- nas: meméria, imaginacio e razdo; a informagao seria ineorporada a esta estrutura pelo ato de classificagio. A tradigéo empiricista surgida com Bacon desenvol- vewse nos séculos XIX e XX, dentro do Pragmatismo, como conseqiiéneia da revolugdo industrial ¢ do apa- recimento da investigagio cfentifica, com a fungio de resolver protlemas. Para o Pragmatismo, se uma teoria funciona, cla é verdadeira e responde a duas tradicionais questies de filosofia: — “Qual & o signi- fieado 2" — “Como se verifica”. Existem duas tendéncias principais 1. explicagdo de todos os fenémenos, em termos de suas partes que por sua vez so explicdveia em termos destas partes, ¢ assim por diante; 2. a quantifieagéo de todos os dados em forma de modelos matematieos. Esta segunda orientagio nos leva & idéia de que é possivel explicar tudo em termos de simbolos abstra- tos, ¢ A criagdo de novos simbolos em légica simbélica, com 0 propésito de reduzir o esforgo da explicagéo. ‘Leva-nos também a acreditar que os simbolos seriam © mesmo que os fendmenos por eles representados ‘Na Fisica moderna, 0 modelo mecanicista (Newtonia- no) do universo, foi vencido pelo principio de inde- terminag&o que leva & teoria de que nenhum conhe- cimento de verdade absoluta é possivel. A Fisica, finalmente, nio é meeanicista ¢ em conseqiiéncia, per- feitamente respeitavel, uma vez que agora ha lugar para um principio néo-materialista na concepeio do 10 kz, Ese. Bibliotecon. UFMG, B. H., 2(1) :9-22, mar. 1973 mundo, Outra consegiiéncia disto foi que se removeu um dos maiores obsticulos de outra tendéncia moderna, na filosofia da ciéncia, chamada Reducionismo. Tor- nou-se possivel a teoria de que todos os fendmenos, inclusive os biolégicos ¢ humanos séo em ultima ana- lise, explicaveis em termos de fisiea. E isto foi refor- gado pelo aparecimento da biologia molecular e pela descoberta do “alfabeto” DNA como base da estratura genética. Partindo dai parece, & primeira vista, que todos os fendmenos humanos podem ser explicados em termos de reagdes quimicas entre as “letras” desse alfabeto, que, por sua vez, sio explicdveis em termos de suas partes. A outra tendéncia, a idéia de niveis de entidades que sto qualitativamente distintas umas das outras, vem também do século XIX, apesar de nao se haver tornado popular; particularmente, os cientistas temiam que a nogio de propriedade emergente em cada nivel mais olevado fosse um disfarce do velho e desaere- ditado principio do “‘vitalismc”. O principal esforgo de Bertalanffy foi no sentido de desenvolver esta teoria dentro de um sistema zoerente de proposiges Jogico-matematicas; como bidlogo, ele se opés & redu: cao da Biologia a Fisica, mas sem admitir o vitalismo como alguma forga ctérea, imaterial, a qual nao se pode medir e que em algum momento penetra no corpo humano, como alguma coisa distinta de seus sistemas anatémico e fisiolégico. Ele sugere que estas entidades tenham propriedades que 1. revelem os vineulos intimos entre seus cons- tituintes, os quais sustentam a entidade diante das forgas ambientais mas também 2. permitam is entidades manter relagdes com outras, 0 que diminui a forca dos vinculds intimos, R. Esc. Bibfiotecon. UFMG, B. H., 2(1); 922, mar, 1973 1 mas produz uma nova entidade, de maior complexidade @ com uma forma superior de organizagio. Superioridade, neste sentido, significa melhor capacidade de haver-se com o embiente numa escala mais ampla, mas, provavelmente, menos permanente E possivel construir teorias explicativas dos fenémenos naturais em termos que caracterizam as entidades, suas partes, seu ambiente @ suas interrelagdes, Isto pode ser apresentado abstratamente por um “modelo” matemético, Este modelo pode ser entendido como forma, mas esta forma devera ser coneretizada em termos de um contexte especifico — o conteido — se 0 modelo for relevante para explicar fendmenos naturais particulares, A idéia central dessa teoria & a nogdo da explo- ragdo clentifiea do “TODO” ¢ “TOTALIDADE”, que, como diz Rertalanffy, até bem pouco tempo foram consideradas como nogies metafisicas, transcendendo, por conseguinte, as fronteiras da ciéncia. Um todo é uma colegio de partes organizadas pela estrutura de relagdes bem definida e reconhecivel, passivel de ser descoberta. Uma bicicleta é mais do que um monte de pecas de metal, borracha, plistico, ete., mas essas partes precisam ser arranjadas de um modo particular pare que essa colegio de pegas venha a ser, especi- ficamente, uma bicicleta, Assim também as letras so entidades que podem ser organizadas para formar palavras. A seqiiéncia das letras, a relagio entre elas, determinam a forma final, ¢ o significado da palavra. Assim, @ pelavra inglesa “earth” tem as mesmas letras que a palavra “heart”, mas so arranjadas de maneira diferente e tém significados diferentes. A fungéo da teorizagio ou de fazer abstracées & tentar mover do’ descritivo para o prescritivo, isto 6, de como séo as coisas, para como deveriam ser as 12. Ese, Bibliotecon. UFMG, B. H., 2(1) :922, mat. 1973 coisas. Um exame de como as coisas so no universo das bibliotecas, sob a luz dessa teoria, nos leva a uma posigéo onde somos eapazes de dizer como clas deveriam ser ‘Uma biblioteca ¢ um grupo de bibliotecas (con- junto de biblioteces reunidas por algum tipo de rela- cionamento) sio ambos sistemas para organizacdo de registros em relacio as necessidades atuaia e futuras dos usuérios. Nao sao sistemas fechados ¢ estaticos, mas precisam se desenvolver continuamente em relacko 20 ambiente e, para sobreviver e satisfazer os propé- sitos para os quais foram criados, a organizagio de suas varias partes deve ser modificada. Assim também, documentos sio sistemas, no sentido de que um documento ¢ mais do que um monte de folhas de papel cheias de simbolos. Sio letras ¢ palavras orga- nizadas para darem o sentido de uma narrativa con- tinua ¢ es folhas so organizades numa seqiiéncia especifica para que este propésito venha a ser alcan- cado. Uma bibliografia ¢ um sistema que, para ser usado eficazmente, requer uma organizagio, nfo se ordenando as entradas casualmente Uma biblioteca é um sistema, mas suas partes podem ser completamente explicadas apenas em rela- Go aos supra-sistemas dos quais a biblioteca, por si mesma, é uma parte. Por exemplo: um pais pode estabelecer uma rede de eooperacéo entre bibliotecas, como a existente no Reino Unido, com centros regio nais organizados pela Biblioteca Nacional Central Uma biblioteca é, também, parte de outro tipo de sistema, 2 organizagio em que esti inserida — uma comminidade, uma indistria, um instituto de pesquisa, uma universidade, ete. Em ambos os sistemas, a biblioteca sofre as influéncias de fora de sua organi- zagio interna, mas possui também um dinamismo A. Ese. Bibliotecon. UFMG, B. H., 2):922, mar. 1973-13

Você também pode gostar