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1.0 Hipnose
A hipnose foi assim chamada pela primeira vez pelo Dr. James Braid, ao final de
1841, quando, após assistir a uma apresentação do Magnetizador C. de La
Fontaine, percebeu que o estado era menos de um magnetismo, como propunha
o magnetizador suíço do que de uma forma induzida de sono. Por tal razão,
utilizou-se da palavra grega para sono, “Hypnos”.
Ficou claro que não se tratava de um estado de sono, pois constatou-se que as
pessoas que se sujeitavam à hipnose mantinham-se conscientes durante todo o
processo.
Os relatos dados são curiosos no sentido que as pessoas sob hipnose, apesar
de conscientes e de declararem estar ouvindo cada palavra, não conseguem
deixar de fazer o que o hipnotizador sugere.
Neste ponto podemos verificar uma relação muito estreita entre o estado
hipnótico e a influência que nosso inconsciente exerce em nossas vontades,
hábitos e costumes.
O que nos parece, a primeira vista, como nossos gostos e escolhas, muitas
vezes são manifestações de nossos desejos inconscientes, dominados pelo
nosso sensor crítico, que por sua vez veio cunhado pela nossa educação,
costumes e traumas.
A escola clássica utiliza uma técnica onde as sugestões são feitas diretamente,
buscando um relaxamento e foco progressivos que podem levar a alterações
sensoriais no paciente.
Para aqueles, o método clássico nos parece mais adequado, uma vez que o
próprio elemento teatral auxilia o paciente a entrar em um estado de permissão
e colaboração, muito propícios para que se atinja um estado hipnótico mais
profundo, rapidamente.
Por outro lado, quando não temos esta sinalização de adesão à técnica
hipnótica, ou mesmo quando sabemos que o paciente não a vê com bons olhos,
o método ericksoniano se mostra oportuno, pois pela simples sugestão de um
relaxamento e ideias, é possível ter resultado análogo, auxiliando o paciente,
mesmo que este não tenha conhecimento que o procedimento utilizado é
hipnótico.
Cabe aqui uma divagação pessoal, onde proponho que, seja razoável a
possibilidade que o estado hipnótico, muito embora mantenha a consciência,
altera a ação do Sensor Crítico, tornando aceitável a sugestão do hipnólogo, sem
que haja a resistência natural do paciente.
Sensor Crítico
Consciente
Inconsciente
Tal possibilidade nos parece validada pelo experimento realizado em 1970, na
Califórnia, pelo professor Sr. Takehito Matsukawa, demosntrando pela aplicação
do método hipnótico em 1000 crianças, que a técnica permitia uma melhora
surpreendente no desempenho dos alunis, que absorviam, ao aprenderem
piano, em 10 minutos o equivalente a 2 horas de aulas normais. O mesmo foi
observado para o aprendizado de línguas e outras matérias, não sem causar
grande controvérsia no meio acadêmico e, claro, grande procura pelo seu
método.
. mas acabou deixando de lado este método para se dedicar à livre associação.
Neste ponto temos ao menos duas correntes importantes que interpretam esta
desistência de Freud da hipnoterapia.
1 – ele não se considerava um bom hipnólogo, pois tinha baixa taxa de sucesso
com esta técnica. Aqui podemos especular que esta falta de habilidade possa
ter sido causada pela precariedade das técnicas naquela época, associada à
propensão de Freud de não acreditar integralmente na técnica.
2 – sua visão era de que a hipnose apenas atenua os efeitos e não trata as
causas. Aqui podemos verificar que ele se refere à sua experiência com Charcot,
onde os efeitos curativos da hipnose se esvaiam com a saída do paciente do
estado hipnótico. De fato, à época, a utilização da hipnose ia muito pouco além
de cortar temporariamente os efeitos e ocultar os sintomas. Naquele momento,
as possibilidades de se ressignificar traumas e mudar a perspectiva como o
paciente lida com seus traumas e condições limitantes eram parcas, senão
inexistentes.
Não entendo ser pertinente tecer críticas à decisão de Freud quanto ao uso da
hipnose, pois, com os poucos recursos de que ele dispunha na época, os
resultados certamente não demonstravam confiabilidade e solidez no uso da
hipnose nos tratamentos.
É importante lembrarmos ainda que se passaram mais de 120 anos desde que
esta técnica foi empregada por Freud, o que nos dá hoje uma vantagem histórica
colossal, onde podemos observar um profundo amadurecimento das técnicas e
das oportunidades de aplicação.
O paciente está ali porque busca a solução para uma questão qualquer e, em
algum momento, entendeu que a hipnose seria uma boa tentativa.
Segue alguns exemplos atuais, tirado das mídias sociais, que ilustram a forma
como o tema hipnose continua sendo mal conduzido pelas pessoas, que não
obstante estarem despreparadas, não se furtam à oportunidade de ludibriar
outras pessoas, sem se preocuparem com os efeitos deletérios de tal prática.
Sabemos que vivemos uma sociedade em que as pessoas têm opinião sem
terem informação e mostram-se absolutamente conhecedoras das coisas que
são absolutamente ignorantes.
Obviamente que a hipnose não passaria incólume por estas criaturas. Como
disse Humberto Eco: “...o drama de internet é que ela promoveu o idiota da aldeia
ao portador da verdade...”.
Entendo que a hipnose deve ser tratada como uma ferramenta que, em alguns
casos, tem seu papel no tratamento terapêutico.
Na linha de Freud, vejo que, com as devidas reservas, pode auxiliar na busca
pelas causas de traumas, em especial nos casos em que estes, por algum
mecanismo de defesa, encontram-se ocultos ou distorcidos no inconsciente do
paciente, permitindo que se atinja, de forma muito mais assertiva, tal questão.
Muito embora este seja um caminho já trilhado por tantos outros, inclusive
Freud, devemos tomar alguns cuidados, que também foram objeto de alerta do
pai da psicanálise: haverá casos em que o paciente poderá dizer ao analista o
que ele quer ouvir, e não o que, de fato, veio de seu inconsciente.
Adicionalmente, há a questão de compreender até que ponto está sendo tratada
a causa ou o efeito da questão que traz o paciente ao consultório.
Mas quero chamar a atenção aqui para o detalhe que aquela porta para a
gravação de valores e costumes foi se fechando com o passar dos anos e não
se pode mais colocar coisas no inconsciente com tanta facilidade, como ocorreu
em nossa infância.
A repetição por vários, dias, algumas vezes ao dia, pode auxiliar na criação de
uma informação inconsciente desejável que, de outra forma, não estaria lá.
O objetivo deste mecanismo é fazer com que, da mesma forma que nosso
inconsciente nos atrapalha, limitando nossas possibilidades por termos uma
crença inconsciente que não seremos capazes, fazê-lo nos ajudar a realizar o
que desejamos.
Sob o risco de termos efeitos apenas temporários, como o próprio Freud relatou
ter obtido, o processo deverá ser realizado de forma repetida e sistemática,
diariamente, ao menos duas vezes ao dia, pelo período compatível com a
capacidade de relaxamento do paciente e da complexidade da questão a ser
ressignificada. De uma forma geral, nunca menos de uma semana e, em alguns
casos, podem ser necessários alguns meses.
5.0 Conclusão
A hipnose, enquanto ferramenta acessória nos tratamentos psicoterápicos, tem
um papel de extrema importância, tanto no mecanismo de busca das questões
inconscientes como em sua ressignificação.
ii
BREUER, J. & FREUD, S. (1893-1895) “Estudos sobre a Histeria”. Em: Edição Standard Brasileira das Obras
Completas de Sigmund Freud (Freud, 1950a, Carta 2)
iii
Singer, Margaret Thaler; Lalich, Janja (1996). «Alphabet Soup for the Mind and Soul: NLP, FC, NOT,
EMDR». "Crazy" therapies: what are they?, do they work? (em inglês). San Francisco: Jossey-Bass. pp.
167–196