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COMO AVALIAR A ILUMINAÇÃO COM A NHO 11 2

AVALIAÇÃO AMBIENTAL e ERGONOMIA

Existe um grande paradigma para o profissional de ergonomia quando


realiza sua Análise Ergonômica do Trabalho quando precisa avaliar os
parâmetros ambientais, pois eles chocam com os limites de tolerância
estabelecidos pela NR 9 e NR 15.

Para melhor entendimento, vamos caracterizar os objetivos das


avaliações ambientais em ergonomia e na área de segurança do
trabalho:

• Em ergonomia: objetivamos os parâmetros de conforto, para as


atividades que tenham exigência cognitiva ou com demanda de
atenção/concentração importante na realização da tarefa. Neste
caso, apontamos nossa análise para a influência dos fatores
ambientais em relação ao desempenho das pessoas no trabalho e
no conforto para realização das tarefas;
• Em segurança do trabalho: o objetivo é direcionado para os
limites de tolerância estabelecidos nas normas de segurança do
trabalho e normas de higiene ocupacional. Em geral, atividades
operacionais do processo produtivo são enquadradas nessa
categoria e os valores estão relacionados aos limites das
capacidades humanas (fisiológicas) em relação aos fatores
ambientais.
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Veja que os fatores ambientais em ergonomia estão voltados


diretamente para as questões de conforto das pessoas em seu trabalho
ou para as atividades com maior grau de exigência mental.

Não encontraremos nenhuma atividade de trabalho em que não haja


exigência cognitiva/mental, mas precisamos definir claramente em
nossas análises ergonômicas, o direcionamento das avaliações
ambientais para o objeto alvo previsto nas normas, caso contrário,
iremos provocar um choque entre os dados coletados no PPRA e LTCAT
com os dados levantados na Análise Ergonômica.

Outro ponto de importante destaque é o fato que alguns fatores de risco


estão presentes apenas na NR 17 – norma de referência para a
ergonomia, como é o caso da velocidade do ar, umidade relativa e os
níveis de iluminação.

Para a velocidade do ar e umidade relativa dificilmente encontraremos


problemas importantes nos ambientes de trabalho, inclusive porque
boa parte destes ambientes são climatizados, como por exemplo
administrativos, ambientes de controle de qualidade e/ou laboratórios,
entre outros.

A maior parte das dúvidas surgem especificamente quando avaliamos


os níveis de iluminância nos ambientes internos de trabalho, em
especial com as mudanças trazidas pela NHO 11 (Norma de Higiene
Ocupacional nº 11) publicada pela FUNDACENTRO em 2018 e que foi
incorporada pela NR 17.

Sobre este tópico vamos aprofundar nossa discussão!


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AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE ILUMINAÇÃO EM AMBIENTES INTERNOS

Antes da publicação da NHO 11, a NR 17 fazia menção a NBR 5413 para


avaliação dos níveis de iluminância nos ambientes internos de trabalho
como referência.

A NBR 5413 é uma norma que foi utilizada durante muitos anos e
sempre foi considerada uma norma de fácil aplicação e com boas
referências práticas para o profissional.

Entretanto, existiam muitas limitações em relação à essa norma, como a


dificuldade na determinação dos parâmetros ambientais dos
setores/postos de trabalho, falta de parâmetros metodológicos, entre
outros.

Com a NHO 11 a maior parte das dificuldades encontradas previamente


foram sanadas e uma nova metodologia de análise foi proposta com
intuito de ser mais abrangente, completa e direcionada para as
necessidades das pessoas.

Talvez a grande mudança proposta pela NHO 11 foi a inclusão da


avaliação dos ambientes de trabalho, de acordo com suas
características e só depois as avaliações pontuais nas tarefas das
pessoas.
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Agora é preciso caracterizar o tipo de ambiente de trabalho, sistema de


iluminação (natural ou artificial), tipo e número de luminárias,
características qualitativas da iluminação, além dos valores
quantitativos.

Uma observação importante a ser feita em relação aos itens anteriores,


é a importância da avaliação qualitativa sempre antes da avaliação
quantitativa, como forma de compreensão dos ambientes de trabalho,
das tarefas, pontos de coleta e do sistema de iluminação.

Há na norma inclusive um checklist dedicado exclusivamente à análise


preliminar dos ambientes de trabalho, identificando deficiências do
sistema de iluminação como presença de sombras, efeitos de cintilação,
estroboscópio, entre outros.

TERMOS IMPORTANTES SEGUNDO A NHO 11

➢ CINTILAÇÃO: Termo utilizado para descrever variações de brilho


aparente ou de cor de uma fonte luminosa percebida visualmente. A
cintilação pode provocar fadiga física e psíquica e ocasionar efeitos
fisiológicos como dor de cabeça, incômodo visual e estresse. Pode
ser resultado de pequenas flutuações de tensão provocadas pelo
funcionamento de cargas variáveis de grande porte: fornos a arco,
máquinas de solda, motores etc. Nota do autor: se você tem uma rede
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elétrica única na sua casa provavelmente já presenciou o efeito de


cintilação quando uma pessoa entra no banho e liga o chuveiro – as
luzes da casa naturalmente diminuem sua intensidade, pois o
chuveiro consome boa parte da corrente gerada.

➢ EFEITO ESTROBOSCÓPIO: Ocorre quando uma fonte de luz


pulsante ilumina um objeto em movimento, podendo ocasionar
modificação aparente do seu movimento ou sua imobilização
aparente. Os efeitos estroboscópicos podem levar a situações de
perigo pela mudança da percepção de movimento de rotação ou por
máquinas alternativas (de movimento repetitivo). Nota do autor: Se
você já foi alguma vez em uma “balada”, danceteria ou casamento em
que o DJ utiliza os “strobos” para efeitos de luzes piscando e para
produzir o efeito de movimento diferenciado quando as pessoas se
movem – Figura a seguir
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Outro aspecto importante a considerar é que cada tipo de lâmpada


possui uma temperatura de cor correlata (Tcp) específica e que pode
interferir na avaliação dos ambientes de trabalho.

Após a publicação da NHO 11, diversas atividades estão “proibidas” de


utilizar lâmpadas quentes, ou mais especificamente, com Tcp abaixo de
3.300 K (Kelvin).

A tabela abaixo presente na NHO 11 exemplifica o termo qualitativo


para cada lâmpada com seu respectivo valor de temperatura de cor
correlata.

O quadro A1 extraído da NHO 11 mostra que as lâmpadas quentes são


classificadas como aquelas com Tcp abaixo de 3.300 K. Essas lâmpadas
são normalmente as mais antigas, incandescentes e com aparência mais
amarelada.

Esse Tcp nada tem a ver com a lâmpada “ser quente ao toque”, não é
disso que se trata, e sim da aparência da cor. Lâmpadas mais claras tem
aparência de cor mais branca e atingem níveis mais elevados em Kelvin,
como por exemplo as lâmpadas de LED, que possuem em geral mais de
5.500 Kelvin de Tcp.
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Existem muitas vantagens na adoção das lâmpadas brancas como por


exemplo uma maior economia energética, melhor caracterização da
aparência dos objetos e melhor visualização dos nossos olhos em
relação aos objetos do ambiente.

Inclusive, ao analisarmos os valores referências da NHO 11, é impeditivo


o uso de luminárias amarelas em determinados ambientes de trabalho,
pois elas têm características “relaxantes” e “calmantes”, sendo um fator
que pode contribuir para a fadiga relacionada ao trabalho, acidentes,
entre outros.

COMO INTEGRAR O LAUDO DE ILUMINÂNCIA NA ANÁLISE ERGONÔMICA

Podemos dizer que não é tarefa das mais fáceis integrar a análise
ambiental em nossas análises ergonômicas (AET), pois os Grupos
Homogêneos de Exposição (GHE) ou Grupos Similares de Exposição
(GSE) não são os mesmos.

Vamos exemplificar:

Em um ambiente administrativo em que existem funções de compras,


vendas, faturamento e recursos humanos, por exemplo, para cada
atividade devemos necessariamente elaborar uma AET para cada
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posto/função. Já para a avaliação ambiental todas podem estar no


mesmo GHE – caso estejam no mesmo ambiente.

Por isso, na Top Ergonomia (nossa consultoria) desenvolvemos os


laudos ambientais, e em especial o laudo de iluminância, em separado
da AET, pela especificidade da análise e do relatório elaborado.

Percebemos que dessa forma otimizamos o processo de coleta e análise


de dados, assim como a elaboração do relatório, em que reduzimos
significativamente seu tamanho e tempo de elaboração.

É importante ressaltar que a avaliação dos níveis de iluminação,


diferentemente dos outros fatores ambientais, se aplica a todas as áreas
da empresa, incluindo ambientes administrativos, operacionais, área de
passagem, corredores, refeitórios, entre outros.

Além disso, não temos nenhuma outra norma que cita a avaliação de
iluminação, sendo de exclusiva responsabilidade do ergonomista, em
atendimento à NR 17 (e que faz menção à NHO 11).

Por isso recomendamos que o ergonomista esteja inteirado com as


atualizações normativas, compreenda e aplique a NHO 11, elaborando
relatórios claros, proativos e em consonância com os parâmetros legais.
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SOBRE O AUTOR

Meu nome é Thiago Oliveira Pegatin,


sou formado em fisioterapia e em
administração de empresas, com
mestrado em engenharia de produção e
especialização nas áreas de fisioterapia
do trabalho e em gestão industrial.

Também tenho formação de auditoria


em saúde e segurança do trabalho (ISO 45001) e atuo com consultoria
na área de ergonomia e segurança do trabalho desde 2005, pela Top
Ergonomia. Na docência, desde 2007, em cursos de graduação, pós-
graduação e de formação profissional.

Sou autor dos livros “Segurança do Trabalho e Ergonomia” pela editora


Intersaberes (obra física) e do ebook “Guia para o ergonomista
iniciante” – obra digital voltada para o profissional que está iniciando
seus trabalhos na área.

Nossa atuação sempre foi voltada para auxiliar o profissional em


ferramentas de análise, métodos qualitativos e quantitativos, bem como
na elaboração de materiais que possam contribuir com o crescimento
da ergonomia e da segurança do trabalho.
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Espero que essa obra possa colaborar para o entendimento das


avaliações ambientais em ergonomia e contribuir para o crescimento da
área de saúde e segurança do trabalho.

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