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BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO

COVID-19 – Teresina
24ª semana epidemiológica
(12 a 18 de junho de 2022)

Os dados da COVID-19 em Teresina relativos à 24ª semana epidemiológica de 2022


(12 a 18 de junho) parecem esboçar uma tênue desaceleração do crescimento de casos
na cidade. A presença do feriado na referida semana torna tal assertiva um tanto
imprecisa, visto que, historicamente, as redes de assistência, testagem e notificação
tornam-se mais frágeis nestes períodos. Além
disso, por conta da história natural da doença e
do intervalo de série necessário para se aferir o
impacto de qualquer medida frente à COVID-19,
é precoce estabelecer relação temporal ou
causal com os decretos municipal (de
13/06/2022) e estadual (de 15/06/2022), que
voltaram a recomendar ou obrigar o uso de
máscaras, em diferentes contextos.
Da 22ª para a 23ª semana, o aumento do
número de casos confirmados foi de 253%,
enquanto da 23ª para a 24ª, o aumento foi de
126%. A taxa de transmissão (R0/Rt) manteve-se
muito alta, mas caiu de 3.5 para 2.3 entre a 23ª
e a 24ª semanas. É importante ressaltar que os
dados da capital são menos suscetíveis à
interferência de subnotificação, visto que os
casos já são contabilizados como confirmados a
partir do resultado positivo, seja ao teste rápido
de antígeno em swab nasal realizado por
profissionais em farmácias, laboratórios e
serviços de saúde (públicos e privados), seja ao
teste RT-PCR - realizado no LACEN-PI e em alguns laboratórios privados. Como exemplo,
na 24ª semana, Teresina sozinha contabilizou 1107 confirmações, enquanto todo o
estado do Piauí teve registro oficial de apenas 133 casos.
O número de hospitalizações por síndrome
respiratória aguda grave (SRAG) em Teresina – que
seriam correspondentes aos casos graves de COVID-
19 – permanece pouco impactado pelo aumento de
infecções (assintomáticas) e de casos (sintomáticos),
como provável reflexo da imunização. A totalização
dos casos de SRAG é praticamente isenta de
subnotificação, visto que, em Teresina, as
hospitalizações são aferidas por dois outros
mecanismos distintos e
independentes do terceiro – o
“oficial” do Ministério da Saúde
(SIVEP-GRIPE). Considerando-se que
a mediana para agravamento da
COVID-19 é de sete dias após o início
dos sintomas, as internações de uma
semana correspondem
aproximadamente aos casos
confirmados na semana anterior.
Portanto, o aumento de 253% de
casos confirmados na 23ª semana
resultou em desproporcionais 20% a
40% de aumento nas hospitalizações
na semana seguinte (24ª). Se não
houvesse o efeito protetor da imunização da população, o esperado seria que as
internações aumentassem na mesma proporção do aumento de casos. É importante
ressaltar que o número absoluto de casos registrado na última semana (21
hospitalizações) é numericamente inferior ao registrado em várias semanas que
antecederam o aumento recente do número de casos – o que pode indicar a circulação
anterior (recente) de algum outro vírus capaz de resultar em SRAG – em especial o Vírus
Sincicial Respiratório (VSR).

Fazendo eco ao incremento proporcionalmente inferior das internações por SRAG


frente ao aumento explosivo do número de casos confirmados, a demanda por testes RT-
PCR ao LACEN-PI manteve-se estável nas duas últimas semanas. Frente à ampla
disponibilidade de testes de antígeno, os exames RT-PCR são mais solicitados diante de
casos de maior risco, graves e/ou hospitalizados. O crescimento da taxa de positividade
dos testes RT-PCR também sofreu alguma desaceleração: de um aumento de 1,8% para
4,8% entre a 22ª e a 23ª semanas, na 24ª passou a 5,9% - ainda assim, situando-se acima
dos 5% recomendados pela OMS.
Embora óbito seja um evento tardio na história natural da COVID-19, já se pode
afirmar que não houve impacto do aumento de casos sobre as mortes pela doença, até o
momento: a média semanal de óbitos por COVID-19 na capital permanece em uma morte
por semana, há várias semanas. Geralmente, os óbitos por COVID-19 ocorrem entre 14 –
21 dias após o início dos sintomas, ou seja: as mortes de uma semana correspondem aos
casos diagnosticados duas ou três semanas antes.
A realização do autoteste para
COVID-19 em ambiente domiciliar não
traz prejuízo significativo às percepções
do sistema de vigilância epidemiológica
sobre a evolução da pandemia em
Teresina. De acordo com dados do IBGE,
apenas 17% da população da capital
possui plano de saúde. Depreende-se que
a grande maioria da população não dispõe
de aproximadamente R$ 70,00 para cada
testagem, da pessoa sintomática e de seus
familiares / contatos. A grande maioria
dos testes diagnósticos realizados na
cidade concentra-se, ainda, no sistema
público.
A aferição da ordem de grandeza de
aumento do número de casos pelo cálculo
do incremento percentual entre cada
semana sucessiva já traz informação
impactante – visto que o aumento
percentual entre a população que não
dispõe de recursos para o autoteste e
entre aqueles que conseguem comprá-lo
é, presumivelmente, semelhante /
correspondente. Como exemplo, na semana que Teresina havia registrado aumento de
385% no número de casos confirmados, o Sindicato do Comércio Varejista de Produtos
Farmacêuticos (Sincofarma) divulgou um aumento de aproximadamente 300% na
procura por testes em farmácias. Ademais, permanece a recomendação de que o
autoteste seja utilizado como exame de triagem e que, diante de resultado positivo, o
paciente procure atendimento médico para confirmação diagnóstica, orientação e
notificação de caso.
A utilização adequada dos autotestes para COVID-19 é bem-vinda, visto que pode
(1) favorecer a detecção precoce de casos e, consequentemente, o isolamento de
pacientes sintomáticos e quarentena dos seus contatos; (2) favorecer a detecção precoce
de infecção em contatos assintomáticos; (3) antecipar o diagnóstico frente a eventual
demora no agendamento para testagem por profissional em farmácia; (4) “desafogar” as
filas por testagem em farmácias, laboratórios, emergências e unidades de pronto
atendimento e minimizar aglomerações contendo sintomáticos, contatos e suscetíveis
nestes locais.
Considerando-as as métricas estabelecidas pelo Centers for Disease Control and
Prevention – que levam em conta o número de casos confirmados na semana em relação
à população da cidade, o número de casos graves (internações) e a ocupação de leitos
hospitalares no período, na 24ª semana epidemiológica Teresina “como um todo”
permaneceu na faixa verde de transmissão (nível baixo) – embora tenha se reconhecido,
desde antes, nichos de transmissão entre pequenos, médios e grandes grupos de pessoas
na cidade – o que motivou a edição do último decreto municipal, com recomendação do
uso de máscaras em ambientes fechados e/ou com aglomerações e/ou com detecção de
casos e a obrigatoriedade do uso em serviços de saúde.
O COE-Teresina também reconhece que não há mais necessidade de fechar turmas,
turnos ou escolas inteiras frente à detecção de casos. A UNESCO já reconheceu o papel
primordial das escolas na saúde integral das crianças / estudantes – mesmo em situação
de pandemia e de alta transmissão de COVID-19. Já existem diretrizes atualizadas e
cientificamente reconhecidas emanadas pela OMS, UNICEF e CDC que permitem a
manutenção das aulas presenciais mediante adoção de medidas específicas, como:
vacinação, ventilação de salas, distanciamento entre os alunos, uso de máscara,
isolamento de sintomáticos ou assintomáticos com teste positivo e quarentena de
contatos, definidos pelos protocolos.

Teresina – PI, 19 de junho de 2022.

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