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Tecnologias

Aplicadas ao
Meio Ambiente
Tecnologias aplicadas
ao meio ambiente

Carlos Roberto da Silva Júnior


Jeanedy Maria Pazinato
Kenia Zanetti Molinari
Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima
© 2015 por Editora e Distribuidora Educacional S.A

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Molinari, Kenia Zanetti


M722t Tecnologias aplicadas ao meio ambiente / Kenia
Zanetti Molinari, Jeanedy Maria Pazinato, Rosimeire
Midori Suzuki Rosa Lima, Carlos Roberto da Silva Júnior
– Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S. A.,
2015.
192 p.

ISBN 978-85-8482-126-6

1. Água. 2. Poluição. I. Pazinato, Jeanedy Maria. II. Lima,


Rosimeire Midori Suzuki Rosa. III. Silva Júnior,
Carlos Roberto da. IV. Título.

CDD 620
Sumário
Unidade 1 | Tecnologias para o tratamento da água 7
Seção 1 - Sistema convencional de tratamento de água 11
1.1 Tratamento convencional de esgoto 12

1.1.1 Tratamento primário 14
1.1.2 Tratamento secundário 14
1.1.3 Tratamento terciário 20
1.2 Para remover os materiais sólidos 25
1.3 Tratamento da água para abastecimento humano 29
Seção 2 - Remoção de alguns elementos específicos 31
no tratamento de efluentes
2.1 Para remover ferro e manganês 31
2.2 Para remover orgânicos dissolvidos 34
2.3 Para remover inorgânicos dissolvidos 36
2.3.1 Eletrodiálise 36
2.3.2 Troca Iônica 37
2.3.3 Osmose Reversa 37
2.4 Para remover fósforo 38
2.5 Para remover nitrogênio 40
2.6 Desinfecção 40
Seção 3 - Reatores biológicos 43
3.1 Reatores aeróbios 43
3.2 Reatores anaeróbios 45

Unidade 2 | Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 53


Seção 1 - Eficiência da biorremediação na recuperação ambiental 57

1.1 Principais Contaminantes Químicos 58


1.2 Biorremediação Microbiana 61
1.3 Principais Tratamentos e Técnicas de Biorremediação Microbiana 64
1.3.1 Biorremediação Intrínseca 66
1.3.2 Bioestimulação 66
1.3.3 Bioaumentação 66
1.3.4 Landfarming 68
1.3.5 Bioventilação ou Bioventing 68
1.3.6 Compostagem 69
1.3.7 Biorreatores 70
1.3.8 Contenção hidráulica e tratamento (pump and treat and reinjection) 70
1.4 Fitorremediação 71
1.5 Fatores que Influenciam a Eficiência e Aplicabilidade da Biorremediação 74

Seção 2 - Inovações e perspectivas no uso da biorremediação 83


2.1 Detecção de microrganismos e genes de degradação no ambiente e utilização de OGMs 86
2.2 Etapas de implementação de um processo de Biorremediação 87
Unidade 3 | Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 97
Seção 1 - Tecnologia de tratamento e disposição final dos resíduos sólidos 101
urbanos e dos resíduos da construção civil
1.1 Tecnologia de tratamento e disposição final dos resíduos sólidos urbanos 101
1.1.1 Resíduos sólidos urbanos: características e classificação 108
1.1.2 Tratamento dos resíduos sólidos urbanos 110
1.2 Tecnologias de tratamento e disposição de resíduos da construção civil 115
1.2.1 Classificação dos resíduos da construção civil 117
1.2.2 Tratamento de RCC 119
1.2.3 Disposição final de RCC 122
Seção 2 - Tecnologia de tratamento e disposição dos resíduos industriais e de 127
resíduos de serviços de saúde
2.1 Tecnologia de tratamento e disposição dos resíduos industriais 127
2.1.1 Classificação de resíduos 128
2.1.2 Tratamento e destinação de Resíduos Industriais 129
2.2 Tecnologia de tratamento e disposição de resíduos de serviços de saúde 127
2.2.1 Classificação 133
2.2.2 Tratamento de resíduos de serviços de saúde 137
2.2.4. Disposição final dos resíduos de Serviços de Saúde-RSS 146

Unidade 4 | Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 155


Seção 1 - Introdução ao estudo do controle de emissões atmosféricas 159
1.1 Introdução ao estudo das emissões industriais 159
1.2 Principais poluentes atmosféricos 160
1.3 Atmosfera terrestre 162
1.4. Medidas diretas e indiretas de controle de poluição do ar 163
1.5. Classificação de equipamentos de controle de poluição do ar 163
1.6. Mecanismos de coleta de material particulado 165
1.7. Mecanismos de coleta de gases 165
1.8 Métodos indiretos de controle de emissões atmosféricas 166
Seção 2 - Métodos diretos de controle de emissões gases e partículas 169
2.1 Equipamentos de sedimentação gravitacional – material particulado 170
2.2 Equipamentos do tipo ciclones – material particulado 170
2.3 Filtros – material particulado 172
2.3.1 Filtros tipo manga 173
2.3.2 Filtros tipo envelope 173
2.3.3 Escolha do meio filtrante 174
2.4. Lavadores – material particulado, gases e vapores 175
2.5. Precipitadores eletrostáticos – material particulado 177
2.6. Condensadores - Gases 178
2.7. Absorvedores 170
2.7.1 Passos para escolha de um equipamento com princípio de 180
absorção de poluentes
2.7.2 Seleção do absorvedor 181
2.8. Adsorvedores 181
2.8.1 Técnicas utilizadas para desorção de contaminantes 182
2.9. Incineradores 183
2.9.1 Incineradores do tipo tocha 183
2.9.2 Incineradores do tipo catalítico 184
2.10 Biofiltração 184
Apresentação
Prezado aluno!

Ao longo do tempo, a tecnologia se apresenta junto com a evolução das técnicas


do trabalho e da produção do ser humano, ou seja, a tecnologia sempre esteve
ligada à história do homem, pois este se apoderou dos recursos tecnológicos
para o seu desenvolvimento, visando melhorar sua qualidade de vida e bem-
estar. O avanço tecnológico acarretou impactos na sociedade devido ao rápido
crescimento em diversos setores industriais e agrícolas, provocando alterações
ambientais. Ressalta-se que esta mesma tecnologia é utilizada hoje em dia para a
remediação dos problemas ambientais causados pelo homem, assim como para
evitar que mais danos ambientais ocorram.

Desta forma, este livro foi construído para que você consiga compreender
como a tecnologia pode ser utilizada nas questões ambientais.

As tecnologias para o tratamento da água levam em consideração os diversos


usos, podendo ela estar contaminada com diferentes elementos químicos. Muitas
vezes, somente um procedimento não é suficiente para tratá-la, pois para a
remoção de determinadas substâncias faz-se necessária a aplicação de técnicas
específicas. Só assim teremos uma água com qualidade.

Outra tecnologia de recuperação ambiental é a biorremediação, esta técnica


consiste na aplicação de processos biológicos no tratamento de resíduos para
recuperar e regenerar ambientes contaminados por compostos químicos nocivos
ao meio ambiente. Os processos de biorremediação vêm sendo usados com
sucesso para o tratamento de ambientes contaminados, como águas superficiais,
subterrâneas e solos, além de efluentes industriais e esgotos domésticos. É também
uma alternativa viável de tratamento em aterros industriais de resíduos perigosos
e aterros de resíduos urbanos, em geral. Esta tecnologia é reconhecida por ser
ecologicamente correta, limpa, de custos baixos e fácil aplicação em grande
escala, além de não alterar o equilíbrio dos ecossistemas.

Há também as tecnologias utilizadas para o controle da poluição do ar, as quais


visam evitar ou minimizar a quantidade de poluentes atmosféricos emitidos.
As tecnologias de tratamento para os resíduos sólidos objetivam minimizar os
danos causados pelos poluentes dispostos inadequadamente, pois dar destinação
adequada aos mesmos tem sido um grande desafio para os diversos setores, quer
sejam públicos ou privados, que geram resíduos.

As informações deste livro tiveram como base de dados resultados apresentados


por instituições de pesquisa do setor e abrangem os resíduos sólidos urbanos, da
construção civil, de serviços de saúde e industriais, e espera contribuir para um
maior conhecimento sobre as principais tecnologias de tratamento e disposição
final.

Ressalta-se que as necessidades humanas estão em constante evolução e os


avanços tecnológicos caminham ao lado.

Sejam bem-vindos ao conteúdo que aborda as “Tecnologias aplicadas ao Meio


Ambiente”.

Esperamos que você aprecie o livro!

Boa leitura!
Unidade 1

TECNOLOGIAS PARA O
TRATAMENTO DA ÁGUA
Kenia Zanetti Molinari

Objetivos de aprendizagem: O estudo desta unidade tem como objetivo


apresentar a você alguns tipos de tecnologias aplicadas para o tratamento
da água e efluentes.

Seção 1 | Sistema convencional


de tratamento de água

Nesta seção aprenderemos as etapas do tratamento convencional


de esgoto, assim como o sistema para tratamento de água para
abastecimento humano.

Seção 2 | Remoção de alguns elementos específicos


no tratamento de efluentes

Esta seção aborda algumas tecnologias específicas para remoção de


poluentes como ferro e manganês, orgânicos dissolvidos, inorgânicos
dissolvidos, fósforo, nitrogênio e patógenos.
U1

Seção 3 | Reatores biológicos

Nesta seção aprenderemos sobre os reatores aeróbios e anaeróbios, qual


a diferença de cada reator e como podem ser aplicados para o tratamento
de água.

10 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Introdução à unidade

Devido a exigências dos órgãos públicos referentes ao controle do meio


ambiente com enfoque na saúde pública e ambiental, o sistema de tratamento
de água residuária tem evoluído muito nesses últimos anos. Entretanto, o tipo de
tratamento dependerá da finalidade do uso da água. Neste contexto, podem-se
dividir os sistemas de tratamento em três grandes categorias:

1) Purificação para uso doméstico;

2) Tratamento para aplicações industriais especializadas;

3) Tratamento da água para reutilização ou descarte em corpos hídricos.

Desta forma, o tipo de tratamento a ser realizado dependerá da utilização da água


e de suas características iniciais. Veremos a seguir alguns tipos de tratamento que
pode ser realizado nos efluentes, vamos lá?

Tecnologias para o tratamento da água 11


U1

12 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Seção 1

Sistema convencional de tratamento de água

Neta seção, você aprenderá as etapas do tratamento convencional de esgoto


e água para abastecimento humano, desde quando a água chega ao sistema de
tratamento até seu destino final.

A água utilizada por todos nós ao serem liberadas para o sistema de esgoto
(água do chuveiro, pia, descarga etc) não possuem os padrões de potabilidade
e estão impróprias para o uso porque já foram utilizadas e estão contaminadas
com detergentes, sais, gorduras, dentre outros contaminantes. O que determina o
padrão de qualidade da água são as características físicas e químicas, sua origem
e o uso da água. Por exemplo, os padrões de potabilidade são diferentes dos
padrões da água utilizada para recreação, irrigação, navegação e assim por diante.
Há legislações específicas que determinam os padrões de qualidade para cada
uso. Para água utilizada para consumo está em vigor a Portaria do Ministério da
Saúde nº 2.914 de 12 de dezembro de 2011 (BRASIL, 2011), que “Dispõe sobre os
procedimentos de controle e de vigilância da qualidade da água para consumo
humano e seu padrão de potabilidade”. Esta portaria define alguns termos
relacionados à qualidade da água, qual a competência dos Estados, do Município,
da União, bem como o padrão de potabilidade da água, ou seja, para que nossa saúde
não seja afetada, quais elementos químicos podem estar presentes na água e qual a
concentração máxima.

Leia na íntegra a Portaria no 2914 de 12 de dezembro de 2011,


está disponível no site:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/
prt2914_12_12_2011.html>.
Pesquise também as outras portarias, resoluções sobre este assunto,
como a Resolução 430, de 13 de maio de 2011, que dispõe sobre a
condições e padrões de lançamento de efluentes e a nº 357/2005 do
CONAMA, que dispões sobre a classificação dos corpos de água.

Tecnologias para o tratamento da água 13


U1

Esta água contaminada deverá passar por uma série de etapas de tratamento
para remoção de determinados poluentes, só assim é possível voltar às
características iniciais da água contaminada. Geralmente há processos similares
para a remoção de certos poluentes existentes na água, porém dependendo da
contaminação é necessário aplicação de técnicas específicas. A técnica mais
utilizada para o tratamento do esgoto e para a água utilizada para abastecimento
humano é o tratamento completo ou convencional. Vejamos um exemplo de
tratamento completo utilizado em estações de tratamento de esgoto de acordo
com Manahan (2001).

1.1 Tratamento convencional de esgoto

Segundo Manahan (2001), o esgoto municipal típico contém oxigênio,


sedimentos, graxa, óleo, espuma, bactérias patogênicas, vírus, sais, nutrientes para
as algas, pesticidas, compostos orgânicos, metais pesados, e uma variedade de
substâncias que vão desde as meias das crianças até esponjas. Vários padrões
químicos e físicos são utilizados para descrever o esgoto. Estes incluem a turbidez
(Unidades de turbidez internacional), sólidos em suspensão (ppm), sólidos totais
dissolvidos (ppm), acidez (íons H+ em grande concentração ou pH baixo) e
oxigênio dissolvido (em ppm O2). Demanda bioquímica de oxigênio (DBO) é uma
técnica utilizada como uma medida da quantidade de oxigênio que será consumida
por meio dos microrganismos presentes na água para a degradação do material
orgânico.

Macedo (2004) resume as substâncias presentes na água que a torna


contaminada, e estes materiais são classificados em:

∞∞ Substâncias que flutuam;

∞∞ Substâncias em suspensão (bactérias, algas e protozoários, lodos);

∞∞ Substâncias dissolvidas;

∞∞ Coloides (matéria orgânica, sílica, resíduos industriais).

14 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Podemos resumir o processo convencional de tratamento da água da


seguinte forma:

1) O processo de tratamento da água se inicia com a remoção das substâncias


que estão suspensas e as que flutuam. Este processo é feito por meio de grades
ou peneiras.

2) Após serão removidas as substâncias finas dissolvidas ou suspensas e de


gases dissolvidos. Esta remoção é feita através da sedimentação simples ou pelo
processo de coagulação e floculação.

3) Após esta etapa o efluente é enviado para o decantador primário em as


partículas sólidas mais pesadas irão para o fundo.

4) Em seguida, o efluente vai para a caixa de areia no qual passará pelo


processo de filtração.

5) A água é enviada então para o tanque de aeração (ou tratamento biológico)


em que os microrganismos presentes no esgoto irão se multiplicar (por causa da
quantidade de ar) e vão se alimentar do material orgânico, formando o lodo.

6) A água tratada é enviada para o decantador secundário em que o lodo


formado vai para o fundo.

7) As bactérias presentes no efluente serão removidas por meio da desinfecção


(remoção seletiva) ou esterilização (destruição total dos microrganismos).

8) Após, fazer a correção do odor e do sabor, esta correção é feita por meio
de processos químicos e filtros de carvão ativo.

9) Se necessário, fazer a correção da dureza e ajuste do pH por meio de


tratamentos químicos.

10) O lodo formado tanto do decantador primário quanto secundário deverá


passar por processos de tratamento adequados para correta disposição final.

Os processos atuais para o tratamento de esgoto são divididos de acordo com


nível de tratamento. Esses níveis são denominados de primário, secundário ou
terciário, ou seja, ao se tratar o esgoto podemos utilizar a técnica de tratmento
primário e secundário, porém se ainda possuir nutrientes, a água deverá passar
para o tratamento terciário. A técnica de tratamento terciário é uma técnica mais
completa, em que a água passa por várias etapas de tratamento. Vejamos como
ocorre cada um desses níveis de tratamento.

Tecnologias para o tratamento da água 15


U1

1.1.1 Tratamento primário

O tratamento primário de esgoto consiste na remoção da matéria insolúvel tais


como grãos, cascalhos, sólidos grosseiros, graxa, óleos que estão disponíveis na
água. O primeiro passo no tratamento primário normalmente é de triagem, que
elimina ou reduz o tamanho dos resíduos e grandes sólidos que entram no sistema
de tratamento. Estes sólidos são coletados em telas para posterior eliminação
(MANAHAN, 2001). Sendo assim, podemos entender que o tratamento primário irá
separar o material sólido não solúvel na água.

Andrade Neto e Campos (1999) comentam que no tratamento primário sólidos


sedimentáveis e em suspensão também serão removidos nesta etapa por meio da
sedimentação (através de caixa de areia e decantadores) ou por meio da flotação
(no caso das partículas suspensas). Nesta etapa há formação de sólidos (ou lodos)
que deverão ser retirados e destinados corretamente. Se os sólidos são da caixa
e areia deverá ter o destino adequado como aterros industriais. Se os sólidos são
retirados das caixas de decantação devem ser enviados para os leitos de secagem
para remoção da água e o lodo formado, que estará na forma de pasta ou seco,
também deve ter seu destino adequado. Dependendo da concentração de
elementos químicos presentes no lodo, o mesmo pode ser utilizado nos solos
fertilizante.

Após separar os materiais dos sólidos a água será encaminhada para o


tratamento o secundário.

1.1.2 Tratamento secundário

O tratamento secundário é um nível de tratamento destinado a degradação


biológica de compostos carbonáceos, ou seja, serão microrganismos que irão
degradar os contaminantes, como carboidratos, proteínas, óleos e graxas a
compostos mais simples como o CO2, H2O, NH3, H2S, dentre outros. Esses
contaminantes servem de alimento para os microrganismos, no qual irão se
reproduzir e aumentar a massa total em função da quantidade de matéria degradada
(ANDRADE NETO; CAMPOS, 1999).

16 Tecnologias para o tratamento da água


U1

O tipo de microrganismo utilizado dependerá das características do eluente,


sendo que o processo poderá ser de nível aeróbio ou anaeróbio (sobre estes
sistemas será discutido na seção 3).

Segundo Manahan (2001), o sistema de tratamento secundário


de esgoto é projetado para remover DBO, ou seja, a matéria
orgânica. Conforme comentado anteriormente, a DBO é uma
técnica de análise, porém o autor cita remover DBO no sentido
de remover o material orgânico, que quando for medido pela
técnica de DBO o valor de consumo de oxigênio será baixo.

São diversos os tipos de tratamento secundário através de processos biológicos,


mas estes consistem, basicamente, da ação de microrganismos fornecidos com
adição de materiais orgânicos degradante em solução ou em suspensão até
que o material orgânico do resíduo seja reduzida a níveis aceitáveis. Os resíduos
são oxidados biologicamente sob condições controladas para o crescimento
bacteriano e em um local onde este crescimento não influencia o meio ambiente.
Um exemplo de remoção da matéria orgânica é através de reatores biológicos. O
reator biológico é constituído por grupos de discos grandes de plástico, montados
juntos a um eixo de rotação. O dispositivo é posicionado de tal forma que a qualquer
instante metade de cada disco é imerso na água e metade fica exposta ao ar. O
eixo gira constantemente, para que a parte submersa dos discos esteja sempre
em movimento. Os discos, geralmente feitos de polietileno de alta densidade ou
de poliestireno, acumulam camadas finas de biomassa, o que degrada a matéria
orgânica do esgoto. O oxigênio é absorvido pela biomassa e pela camada de águas
residuais que aderem a ele durante o tempo que a biomassa é exposta ao ar. A
maior vantagem desse processo é o seu baixo consumo de energia, porque não é
necessária a bomba de ar ou oxigênio na água (MANAHAN, 2001).

Outro exemplo de tratamento secundário é o processo de lodos ativados


(Figura 1.1), é provavelmente o mais versátil e efetivo de todos os processos de
tratamento de água. Este sistema é capaz de remover a metéria organica, fósforo,
nitrogênio além de resíduos industriais e produtos químicos (xenobióticos).

Tecnologias para o tratamento da água 17


U1

Figura 1.1 - Processo de lodo ativado

Fonte: Adaptado de Manahan (2001)

Neste sistema, os microrganismos no tanque de aeração convertem o material


orgânico da água em biomassa microbiana e CO2. Nitrogênio orgânico é convertido
em íon amônio ou nitrato. Fósforo orgânico é convertido em ortofosfato. As células
microbianas formadas como parte da degradação dos resíduos nos processos é
normalmente mantida no tanque de aeração até que os microrganismos passem
da fase de crescimento e formem sólidos sedimentáveis. Parte dos sólidos, o lodo
de retorno, é reciclado no tanque de aeração e entra em contato com efluentes
ainda não tratados. A combinação de uma alta concentração de células no lodo de
retorno é uma fonte de alimento rico no afluente do esgoto e fornece condições
ideais para a rápida degradação da matéria orgânica (MANAHAN, 2001).

A degradação da matéria orgânica que ocorre em uma instalação de lodos


ativados também ocorre em rios e outros ambientes aquáticos. No entanto, em
geral, quando resíduos degradáveis são colocados em um córrego, ele encontra
apenas uma população relativamente pequena de microrganismos capazes de
realizar o processo de degradação. Assim, vários dias podem ser necessários
para a formação de uma população suficiente de organismos para degradar
os resíduos. No processo de reciclagem do lodo ativado, os organismos ativos
fornecem condições ideais para a degradação dos resíduos. O processo de lodos

18 Tecnologias para o tratamento da água


U1

ativados oferece duas vias para a remoção do material orgânico, como ilustrado
esquematicamente na Figura 1.2. O material orgânico pode ser removido por:

∞∞ Oxidação de matéria orgânica para fornecer energia para os processos


metabólicos dos microorganismos, e

∞∞ Síntese, no qual há incorporação da matéria orgânica em massa celular.

Na primeira via (oxidação de matéria orgânica), o carbono é removido na forma


gasosa como o CO2. A segunda via (síntese) fornece para a remoção de carbono
ligado ao sólido da biomassa. Parte do carbono convertido em CO2 é liberado para a
atmosfera e não apresenta um problema de disposição. A disposição do lodo sólido,
no entanto, é um problema, porque contém muitos componentes indesejáveis.
Normalmente, a remoção parcial da água é realizada através da secagem em filtros
de areia, filtração a vácuo ou centrifugação. As lamas desidratadas podem ser
incineradas e em certos casos, o lodo pode ser digerido, na ausência de oxigênio
por bactérias anaeróbias para produzir metano e dióxido de carbono reduzindo o
teor de matéria volátil e reduzir também o volume de lodo em cerca de 60%. A
reação a seguir nos mostra como é feita a digestão do lodo gerando metano e
dióxido de carbono:

2{CH2O} → CH4 + CO2

Figura 1.2- Caminhos para a remoção de material orgãnico no tratamento biológico


de águas residuais.

Fonte: Adaptado de Manahan (2001)

Tecnologias para o tratamento da água 19


U1

O lodo resultando do tratamento da água, dependendo das características


químicas, também pode ser utiliado como fertilizante em alguns tipos de solos. No
entanto, deve-se tomar muito cuidado, pois se o lodo apresentar níveis excessivos
de metais pesado não é apropriado para ser aplicado ao solo (MANAHAN, 2001).

Outros exemplos de tratamento biológico e suas aplicações são apresentados


na tabela 1.1.

Este processo de tratamento primário e secundário será utilizado quando


o efluente possuir elementos que poderão ser removidos nestas duas etapas
de tratamento, sendo que este efluente pode ser de origem tanto industrial
quanto urbano.

Se a água ainda possuir poluentes alguns tipos de nutrientes que não foram
removidos por essas duas etapas de tratamento, por exemplo, nitrogênio e fósforo
em quantidade, concentração e formas que podem provocar problemas no corpo
receptor, este deverá ser enviado para o nível terciário de tratamento de efluentes.

Tabela 1.1- Principais aplicações dos tratamentos biológicos

Tipo Nome comum Uso

Processos Aeróbios: Processo de lodo


ativado, convencion- Remoção de DBO
al, Mistura completa, carbonácea
Oxigênio puro, Reator (nitrificação)
Crescimento batelada sequencial, Es-
suspenso tabilização por contato,
Aeração extendida, Vala
de oxidação, Tanque
profundo, poço
profundo.
Nitrificação com
crescimento
suspenso

Lagoas aeradas Nitrificação


Remoção de DBO car-
bonácea (nitrificação)
Digestão aeróbia Estabilização, Remoção
de DBO carbonácea

20 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Continuação - Tabela 1.1- Principais aplicações dos tratamentos biológicos

Crescimento Filtros de Percolação, Remoção de DBO


imobilizado Baixa vazão, Alta vazão, carbonácea,
Contactores biológicos nitrificação
rotatórios, Reatores de
leito empacotado,
Processos com
biofiltro ativado

Processos com crescimento combinado


(suspenso imobilizado) Processos Anóxicos:

Crescimento Desnitrificação Desnitrificação


suspenso com crescimento
suspenso

Crescimento Desnitrificação Desnitrificação


imobilizado com filme fixo

Processos Digestão anaeróbia Estabilização,


Anaeróbios: Taxa padrão, único remoção de DBO
Crescimento estágio carbonácea
suspenso Dois estágios
Processos de contato Remoção de DBO
anaeróbio carbonácea

Crescimento Processos de filtros Remoção de DBO


imobilizado anaeróbios carbonácea,
estabilização de lodo,
(desnitrificação)
Leito expandido Remoção de DBO car-
bonácea, estabilização
de lodo, (desnitrificação)

Tecnologias para o tratamento da água 21


U1

Continuação - Tabela 1.1- Principais aplicações dos tratamentos biológicos

Processos Aeróbios, Anóxicos e Anaeróbios Combinados


Processos com um ou
Crescimento multiestágios Remoção de DBO car-
suspenso bonácea, nitrificação,
desnitrificação, remoção
de fósforo

Crescimento Processos com um ou


combinado multi estágios

Processos Lagoas aeróbias e Remoção de DBO


com Lagoas Lagoas facultativas carbonácea
Lagoas de Remoção de DBO
maturação carbonácea
(nitrificação)
Lagoas anaeróbias Remoção de DBO
carbonácea (estabi-
lização de lodo)

Fonte: Do autor (2014)

1.1.3 Tratamento terciário

O sistema de tratamento terciário (às vezes chamado de tratamento de


resíduos avançado) é um termo usado para descrever uma variedade de processos
realizados no efluente. Geralmente, os poluentes estarão dissolvidos no efluente,
desta forma, os contaminantes removidos por tratamento terciário se enquadram
nas categorias de:

∞∞ sólidos em suspensão,

∞∞ composto orgânico dissolvido, e

∞∞ materiais inorgânicos dissolvidos.

22 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Os materiais inorgânicos dissolvidos são nutrientes para as algas, principalmente


nitratos e fosfatos e o excesso desses nutrientes na água pode gerar o processo
de eutrofização. Muitos tipos de metais também podem ser encontrados entre
os inorgânicos dissolvidos. Além destes contaminantes químicos, contaminantes
biológicos também são encontrados nos efluentes, estes são microrganismos
causadores de doenças, desta forma será necessário a remoção deles por meio
da desinfecção. Entre as bactérias que podem ser encontradas nos efluentes
destacamos os organismos que causam a tuberculose, a cólera e as que causam
a febre tifoide. Entre os vírus encontrados no esgoto, alguns causam diarreia,
infecções oculares, hepatite infecciosa e poliomielite (MANAHAN, 2001).

A eutrofização se relaciona com uma superfertilização do corpo


hídrico devido à presença de nutrientes, que causam um crescimento
descontrolado de plantas aquáticas, como as algas no ambiente aquático.
Este crescimento excessivo de organismos vegetais é prejudicial, pois
após a morte destes organismos, no processo de decomposição há
consumo de grandes quantidades de oxigênio dissolvido criando um
balanço negativo na quantidade de oxigênio disponível no corpo de
água prejudicando as outras formas de vida que também dependem do
oxigênio para sobreviver.

O principal objetivo do tratamento terciário é a “redução das concentrações


de fósforo e nitrogênio e é geralmente, fundamentado em processos biológicos
realizados em fases subsequentes denominadas nitrificação e desnitrificação”
(ANDRADE NETO; CAMPOS, 1999). A nitrificação é um processo pelo qual o
nitrogênio é transformado em nitrato (NO3-), já a desnitrificação é o processo
em que os íons nitrato serão convertidos em N2 gasoso, que posteriormente será
enviado para a atmosfera.

O tratamento terciário também pode seguir combinações físico-químicas. Estas


combinações são etapas de tratamento denominadas de físicas e químicas, sendo
que cada etapa servirá para a remoção de um poluente específico.

No geral, os processos físicos e químicos são apresentados nas tabelas 1.2 e 1.3.

Tecnologias para o tratamento da água 23


U1

O processo físico de tratamento consiste na remoção dos materiais sólidos ou


substâncias que não estão dissolvidas na água, podendo ser material em suspensão,
sólido ou líquido. Os processos físicos utilizados para remoção desses poluentes
são o peneiramento, trituração, floculação, sedimentação, flotação e filtração. A
aplicação de cada processo está descrita na tabela 1.2. Dependendo da característica
do efluente esses processos podem ser utilizados individualmente ou em conjunto.
Por exemplo, o efluente apresenta muitas folhas, terra, pedras e material sólido
solúvel. Inicialmente iremos remover as partículas maiores através do peneiramento
e depois removeremos as partículas menores, que pode ser pelo processo de
floculação e após a sedimentação.

Os materiais orgânicos e minerais presentes nos efluentes apresentam


características distintas que variam de acordo com a forma do material que pode ser
não dissolvido (substâncias sedimentáveis, em suspensão ou flutuantes) e em parte
sob forma dissolvida (GARCEZ, 1999).

Tabela 1.2 - Principais processos físicos de remoção de poluentes e suas aplicações

Processo Aplicação

Peneiramento Remoção de materiais grosseiros e sedimentáveis.

Trituração Redução de tamanho dos sólidos grosseiros para


um tamanho mais uniforme

Floculação Promove a agregação de pequenas partículas em


partículas maiores para melhorar sua remoção por
sedimentação gravitacional.

Sedimentação Remoção de sólidos sedimentáveis.

Flotação Remoção de sólidos finos suspensos e partículas


com densidades próximas à da água.

Filtração Remoção de sólidos suspensos finos que restaram


após o tratamento químico ou biológico.

Fonte: Do autor (2014)

24 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Segundo Imhoff e Imhoff (1996, p. 3) “[...] as substâncias dissolvidas podem


ser removidas da água por processos que levem as moléculas a se transformar
em partículas que sejam atingidas pela depuração física, sob forma de sólidos em
suspensão ou então transformando-as em gases a serem dissipados na atmosfera”.

As suspensões coloidais são os elementos que estão entre o limite das


substâncias dissolvias e não dissolvidas. Através do processo de floculação ou
coagulação é possível transformar os coloides em substâncias insolúveis (IMHOFF;
IMHOFF, 1996).

Para saber qual tipo de sólido está presente no efluente é necessário


primeiramente a caracterização do efluente, esta caracterização é feita por um
laboratório no qual analisará os tipos de sólidos que este efluente apresenta. O
item 1.2 explicará melhor a remoção específica dos materiais sólidos.

Imhoff e Imhoff (1996) cita alguns processos físicos para a remoção dos
materiais insolúveis, observe o quadro 1.1.

Quadro 1.1- processos físicos para remoção de substâncias insolúveis

Impureza a ser Tipo de dispositivo de remoção


removida

Sólidos grosseiros em suspensão Grades

Sólidos sedimentáveis Caixa de areia

Óleos, graxas e substâncias flutuantes - Tanques retentores de gordura


- Tanques de flotação

- Decantadores com removedores de


escuma

Material miúdo em - Decantadores


suspensão - Tanques de flotação
- Tanque de precipitação química
- Filtros de areia
- Micropeneiras

Fonte: Do autor (2014)

Tecnologias para o tratamento da água 25


U1

O processo químico para o tratamento da água são os produtos químicos


que serão utilizados na água para remoção dos poluentes. A tabela 1.3 resume
os principais processos e suas aplicações. Observe que para remover o fósforo e
aumentar a remoção de sólidos suspensos da sedimentação primária é necessário
fazer uma precipitação química, ou seja, o processo de coagulação e floculação.
Para remoção destes flocos coagulados é necessário utilizar filtros ou pode ser
feito pelo processo de decantação. Este processo é chamado de físico-químico,
pois é feito simultaneamente o processo físico e o químico. Interessante notar
que no sistema de tratamento de água os processos ocorrem juntos, porém
em etapas que são alternadas entre os processos físicos, químicos e biológicos,
ou seja, a primeira etapa é peneiramento (processo físico) a segunda etapa é a
coagulação-floculação (processo químico) a terceira etapa é a filtração (processo
químico) e assim por diante. A desinfecção é uma etapa do processo químico que
qual é responsável pela remoção dos microrganismos causadores de doenças. O
desinfetante mais comumente utilizado é o cloro.

Tabela 1.3- Principais processos químicos de remoção de poluentes e suas aplicações

Processo Aplicação

Precipitação química Remoção de fósforo e aumento da


remoção de sólidos suspensos na
sedimentação primária usada para
tratamento físico-químico.

Adsorção Remoção de orgânicos não remividos


pelos métodos de tratamento químico
e biológico convencionais. Também
usada para remoção de cloro de eflu-
entes.

Desinfecção com cloro, cloreto de Destruição seletiva de organismos


bromo, ozônio e luz ultravioleta. causadores de doenças.

Fonte: Do autor (2014)

26 Tecnologias para o tratamento da água


U1

1.2 Para remover os materiais sólidos

Para Manahan (2001), um grande número de partículas sólidas são removidas da


água por sedimentação simples e filtração. Neste processo há filtros que são feitos a
partir de fio de aço inoxidável. São tão finos e permite a passagem substâncias com
aproximadamente 60-70 µm de diâmetro.

A sedimentação simples é o processo em que a água ficará em uma caixa,


sem movimento e as partículas em suspensão irão se depositar no fundo da
caixa. A velocidade de decantação irá depender do tamanho da partícula, a
areia e as partículas minerais em suspensão possuem velocidade de decantação
(GARCEZ, 1999).

Garcez (1999) cita que no processo de filtração a água atravessa camadas de


certas substâncias porosas no qual os poros retém as impurezas. Um exemplo de
filtro é o filtro de areia limpa. Este filtro é constituído de:

∞∞ a) camada filtrante de areia (cerca de 1m de espessura);

∞∞ b) camada suporte, de pedregulho com espessura aproximada de 0,3m


(dispota abaixo da camada de areia);

∞∞ c) sistemas de drenagem, manilhas com juntas abertas.

Quando o processo de sedimentação simples não for capaz de retirar todas


as partículas sólidas que estão no efluente será necessário acrescentar produtos
químicos que servirão para agregar as partículas em partículas maiores, estas
possuirão um peso maior e poderão ser removidas pelo processo de decantação ou
filtração. Um exemplo é o processo de coagulação.

A coagulação tem por objetivo aglomerar as impurezas que se encontram em


suspensão ou em estado coloidal, ou dissolvidas, em partículas maiores para que
possam ser removidas por decantação ou filtração. Sais de alumínio e ferro são
os coagulantes mais utilizados no tratamento de água. Destes, alumínio é mais
comumente usado. Esta substância é um sulfato de alumínio hidratado, Al2(SO4)
3.18H2O. Quando este sal é adicionado à água, o íon de alumínio hidrolisa íons
alcalinos, tais como:

Al(H2O)63+ + 3HCO3- → Al(OH)3(s) + 3CO2 + 6H2O

O hidróxido gelatinoso assim formado carrega material em suspensão com ele.


Além disso, é provável que a hidroxila positivamente carregada e polímeros sejam

Tecnologias para o tratamento da água 27


U1

formados e interagem com partículas coloidais, provocando a coagulação. Íons


metálicos em coagulantes também reagem com proteínas do vírus e destroem os
vírus em água (MANAHAN, 2001).

Sulfato de ferro anidro (III) é outro tipo de coagulante e tem suas vantagens,
pois ele funciona em uma ampla faixa de pH, aproximadamente 4 a 11. Sulfato de
ferro hidratado (II) FeSO4.7H2O, também é comumente usado como coagulante.
Ele forma um precipitado gelatinoso de óxido de ferro hidratado (III); para funcionar,
deve ser oxidado a ferro (III) por oxigênio dissolvido na água em um pH superior
a 13,5, ou por cloro, que pode oxidar a ferro (II) em valores mais baixos de Ph
(MANAHAN, 2001).

Veja as características desses coagulantes utilizados na remoção de sólidos na


tabela 1.4.

Composto Fórmula Faixa de pH Peso


Molecular

Alúmen (Sulfato Al2(SO4)3.18H2O 5,0 a 8,0 666,7


de alumínio)

Cloreto férrico FeCl3 5,0 a 11,0 162,1

Sulfato férrico Fe2(SO4)3 5,0 a 11,0 400

Sulfato ferrroso FeSO4.7H2O 8,5 a 11,0 278

Cal Ca(OH)2 - 56 como CaO

Fonte: Do autor (2014)

De acordo com Manahan (2001), os coloides formados na coagulação são


agitados lentamente para que as partículas entrem em choque e se unam em flocos,
no processo de floculação. Neste processo obtém-se a agregação das partículas
desestabilizadas em forma de flocos tornando-se mais densas, sendo decantadas
posteriormente.

28 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Polieletrólitos naturais e sintéticos são utilizados em partículas de floculação.


Entre os compostos naturais utilizados são amido e derivados de celulose, materiais
proteicos e compostos de polissacarídeos. Os polímeros sintéticos, incluindo
polímeros neutros e polieletrólitos tanto aniônicos e catiônicos, são floculantes
muito eficazes (MANAHAN, 2001).

O processo de coagulação-filtração é um procedimento muito mais eficaz do


que somente filtração para a remoção de material em suspensão na água. Como
o termo indica, o processo consiste na adição de coagulantes que agregam as
partículas em tamanho maior, seguido de filtração.

A etapa de coagulação-filtração é geralmente realizada em um meio com


areia ou carvão antracito. Um exemplo é o filtro de areia, que consiste em uma
camada de areia e camadas de partículas de cascalho, as partículas tornando-se
progressivamente maiores com o aumento da profundidade. A substância que
realmente filtra a água é um material coagulado que se prende na areia (MANAHAN,
2001).

A remoção dos sólidos coloidais e em suspensão também pode ocorrer através


dos seguintes mecanismos:

• Varredura

• Adsorção

Na varredura, os sólidos são removidos ao serem envolvidos pelo gel hidróxido,


sendo posteriormente arrastados na precipitação. Os flocos formados são de
densidade maior e de melhor
sedimentação. No caso da
adsorção, os produtos de
hidrólise de cargas opostas
às dos sólidos adsorvem
em sua superfície as
partículas coloidais. Como Qual a diferença entre
as partículas formadas são os diversos tipos de
muito pequenas, a remoção coagulantes utilizados
mais eficiente seria através da comercialmente?
filtração (MANAHAN, 2001).
Coagulantes mais utilizados comercialmente

Sulfato de alumínio

Também é chamado de alúmen, é a substância mais empregada no tratamento

Tecnologias para o tratamento da água 29


U1

de água como coagulante, porém no caso de tratamento de efluentes


industriais, são necessárias dosagens muito elevadas e os resultados não são tão
bons. O pH ótimo de coagulação situa-se entre 5 e 8. Fora deste intervalo, o íon
Al3+ permanece no líquido no estado solúvel. As soluções são preparadas com
concentrações até 10% em volume. O hidróxido de alumínio insolúvel é um floco
gelatinoso que sedimenta lentamente através dos efluentes, arrastando material
suspenso e produzindo outras mudanças (MANAHAN, 2001).

Cal

Devido ao baixo custo, é o alcalinizante mais utilizado no tratamento de águas de


abastecimento e de efluentes industriais. Suas principais utilizações no tratamento
de efluentes industriais são a elevação do pH de efluentes ácidos, precipitação
química de metais pesados, remoção de fósforo, em que é empregado somente
cal ou cloreto férrico e cal. As soluções são preparadas em concentrações entre 2
e 10%. Contudo, uma quantidade maior é adicionada para se combinar com todo
o ácido carbônico livre e com o ácido carbônico dos bicarbonatos para produzir
carbonato de cálcio, que age como coagulante. Quando os resíduos industriais
possuem ácidos minerais ou sais ácidos, estes devem ser neutralizados antes da
precipitação (MANAHAN, 2001).

Sulfato Ferroso e Cal

Este composto não deve ser usado sozinho, deve-se adicionar cal ao mesmo
tempo para que possa formar um precipitado. Como a formação de hidróxido
férrico é dependente da presença de oxigênio dissolvido, a reação não se
completa com resíduos que não contenham oxigênio. Os efluentes industriais são
praticamente sem oxigênio dissolvido, desta forma, é necessário a aeração destes,
sendo este o grande inconveniente para o uso deste tipo de coagulante. O pH
ótimo de coagulação situa-se entre 8,5 e 11 (MANAHAN, 2001).

Cloreto Férrico

É o eletrólito mais usado no tratamento de efluentes industriais como coagulante


na remoção de fósforo. Isso ocorre porque possui uma longa faixa de pH para
produzir os flocos, ou seja, entre 5 e 11. O sal anidro decompõe-se facilmente com
a luz ou umidade, formando ácido clorídrico que apresenta agressividade elevada
(MANAHAN, 2001).

30 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Polieletrólitos

Manahan (2001) cita que os polieletrólitos são moléculas de cadeias longas,


podendo ser naturais ou sintéticos e possuem cargas elétricas ionizáveis. Os
polímeros naturais são o amido e os derivados da celulose. Muitas vezes este
composto é utilizado como auxiliar da floculação.

Esses polímeros podem ser aniônicos (carga negativa), catiônicos (carga positiva)
e não iônico (carga neutra). Esta carga poderá ou não neutraliar o potencial das
partículas, ou seja, se os polieletrólitos forem catiônicos, neutralizará as cargas
negativas das partículas anulando o potencial, desta forma podem atuar como
coagulantes primários, contudo os aniônicos e não iônicos não interferem no
potencial zeta, ou seja, não neutralizam as cargas, eles são adsorvidos pela superfície
(MANAHAN, 2001).

Outra forma de remover o material sólido é por meio da flotação. A flotação é


quando as partículas sólidas, que são muito finas, são enviadas para o topo da caixa.
Uma forma de se obter isso é através de produtos químicos que se ligarão com a
partícula sólida e a deixará com densidade menor que a densidade da água, desta
forma, as partículas irão para o topo que poderão ser recolhidas com uma peneira
ou passar pelo processo de filtração. Outra forma de enviar as partículas patra o topo
é através de bolhas de ar. Uma bomba de ar é colocada na parte infeior do tanque
de flotação que enviará ar e o efluente estará constantemente aerado. As partículas
pequenas, serão arrastadas pelas partículas de ar até o topo do tanque, desta forma
o material sólido poderá ser removido (MANAHAN, 2001).

Uma desvatagem deste sistema é que nem todos os sólidos serão enviados para
o topo, uma pequena parte ficará disponível no fundo do tanque.

1.3 Tratamento da água para abastecimento humano

O sistema de tratamento de água para abastecimento humano deve ter um


controle rigoroso, pois esta deverá se enquadrar dentro dos padrões de potabilidade.

No geral, podemos resumir o tratamento de água para abastecimento


humano segue as seguintes etapas:

1- A água é bombeada da represa ou rio para o sistema de tratamento;

2- A água passa pelas grades e peneiras para remoção dos sólidos grosseiros;

Tecnologias para o tratamento da água 31


U1

3- Adiciona-se coagulantes como sulfato de alumínio. Nesta etapa pode


ser corrigido o pH com cal e adicionado o cloro para remoção parcial de
alguns microrganismos.

4- A água vai para o tanque de floculação;

5- Após a formação dos flocos a água segue para o tanque de decantação;

6- Após decantar o material sólido a água passa pelo filtro que pode ser
constituído de carvão, areia e cascalho.

7- A água segue para o reservatório parcial no qual será corrigido o pH


com cal, e será adicionado cloro para remoção completa dos microrganismos
e flúor para atender à legislação.

8- A água tratada passa pelo controle de qualidade para verificar se os


parâmetros atendem à Portaria 2914 do Ministério da Saúde.

9- A água é enviada para o reservatório final e posteriormente para os


reservatórios dos bairros e centros de distribuição.

1. Explique como é feito o tratamento convencional do esgoto.

2. Quais as etapas para a remoção do material sólido?

32 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Seção 2

Remoção de alguns elementos específicos no


tratamento de efluentes

Nesta seção serão apresentadas a você algumas tecnologias específicas para


remoção de poluentes como ferro e manganês, orgânicos dissolvidos, inorgânicos
dissolvidos, fósforo, nitrogênio e patógenos.

Os efluentes gerados pelas indústrias possuem características químicas


diferentes do esgoto sanitário, porque no esgoto sanitário há grande concentração
de carga orgânica e dependendo da atividade industrial não, cada uma possuirá o
efluente de acordo com o tipo de matéria-prima que a mesma utiliza. Por exemplo:
um curtume gerará um efluente rico em cromo e outros elementos químicos
utilizados para a preparação do couro, uma tinturaria possuirá um efluente rico
em metais pesados oriundos das tintas, e assim por diante. Por isso a técnica de
tratamento do efluente dependerá da característica química do efluente.

Antes de se determinar qual a técnica que será utilizada para o tratamento do


efluente é necessário conhecer as características físico-químicas do efluente, ou
seja, saber qual elemento químico está presente no efluente e qual a concentração.
Para isso, será necessário uma análise de caracterização feita por um laboratório
específico, que medirá, através de equipamentos, o elemento químico e a
concentração do mesmo no efluente. De posse desses dados você poderá sugerir
a melhor técnica de tratamento deste efluente.

Vejamos a seguir algumas técnicas aplicadas para remoção de determinados


tipos de elementos químicos. Vamos lá!

2.1 Para remover ferro e manganês

Manahan (2001) comenta que ferro solúvel e manganês são encontrados em


águas por causa das condições que favorecem o estado de oxidação solúvel
destes metais, sendo que o ferro é o mais comumente encontrado. Em águas
subterrâneas, o nível de ferro raramente excede 10 mg/L, e o teor de manganês
raramente é superior a 2 mg/L. O método básico para a remoção de ambos os
metais depende do estado de oxidação.

Tecnologias para o tratamento da água 33


U1

Manahan (2001) comenta que ferro solúvel e manganês são encontrados em


águas por causa das condições que favorecem o estado de oxidação solúvel
destes metais, sendo que o ferro é o mais comumente encontrado. Em águas
subterrâneas, o nível de ferro raramente excede 10 mg/L, e o teor de manganês
raramente é superior a 2 mg/L. O método básico para a remoção de ambos os
metais depende do estado de oxidação.

A oxidação é geralmente realizada por aeração. A taxa de oxidação depende do


pH, sendo que se o pH estiver elevado a oxidação é mais rápida. Dentre os agentes
oxidantes utilizados, cloro e permanganato de potássio são por vezes empregados
como oxidantede ferro e manganês. O cloro é eficaz porque destrói os compostos
orgânicos e permite a oxidação do ferro (II) (MANAHAN, 2001).

Outro método para remoção do ferro e manganês é por meio da precipitação.


Para que ela ocorra é necessário aumentar o pH acima de 13,5 e isso pode ser
feito por meio da adição de carbonato de sódio (NaCO3) ou cal (CaCO3), porém
para que este método seja eficaz é necessário que a água possua um alto nível de
carbonato, tanto de ferro quanto de manganês (FeCO3, MnCO3), contudo este
método é menos empregado do que a oxidação (MANAHAN, 2001).

Níveis relativamente altos de ferro insolúvel (III) e manganês (IV) são encontrados
na água como material coloidal, que é difícil de remover. Estes metais podem ser
associados a coloides húmicos ou material orgânico que se liga a óxidos de metal
coloidal estabilizando o coloide. Metais pesados como cobre, cádmio, mercúrio e
chumbo são encontrados em águas residuais a partir de uma série de processos
industriais. Devido à toxicidade de muitos metais pesados, sua concentração deve
ser reduzida a níveis muito baixos antes de sua liberação no corpo de água. O
tratamento com cal para a remoção de cálcio, precipitando metais pesados como
hidróxidos insolúveis, sais básicos, ou com coprecipitado de carbonato de cálcio
ou hidróxido de ferro (III), são processos que removem os elementos cálcio e
magnésio das águas, contudo não remove completamente mercúrio, cádmio
ou chumbo, sendo que para a sua remoção é necessária a adição de sulfeto,
conforme reação a seguir:

Cd2+ + S2- → CdS(s)

Outros métodos para a remoção de metais são utilizados, por exemplo:

∞∞ eletrodeposição (redução de íons de metal com metal por elétrons de


um eletrodo);

∞∞ osmose reversa;

∞∞ troca iônica;

∞∞ extração com solvente orgânico solúvel utilizando substâncias quelantes.

34 Tecnologias para o tratamento da água


U1

∞∞ adsorção em carvão ativado;

∞∞ filtração;

∞∞ tratamento biológico.

A filtração que também pode ser precedida pelo tratamento com cloreto de
ferro (III) para formar um floco de hidróxido de ferro (III), que é um eficaz em
remover metais. Da mesma forma, alumínio na forma de hidróxido de alumínio
pode ser adicionado antes da filtração com carvão ativado. Entretanto, a forma do
metal tem um forte efeito sobre a eficiência da remoção. Por exemplo, o cromo
(VI) é normalmente mais difícil de remover do que cromo (III) (MANAHAN, 2001).

O tratamento biológico também é uma alternativa em que efetivamente remove


os metais da água. Esses metais se acumulam no lodo do tratamento biológico,
contudo a disposição final do lodo deve ser levado em conta, pois possui grande
quantidade de metais (MANAHAN, 2001).

Você já parou para pensar o que é o filtro de carvão e porque


ele se chama carvão ativado?

O carbono ativado é um carvão produzido através de madeiras, carvão


vegetal, e também carvão de coco, nozes, amêndoas, no qual o material
é aquecido para se retirar os hidrocarbonetos. A partícula de carvão é
então ativada pela exposição a um gás oxidante numa alta temperatura.
Este gás desenvolve uma estrutura porosa no carvão e cria uma grande
área superficial interna.

Depois da ativação, o carbono pode ser separado ou preparado em


diferentes tamanhos com diferentes capacidades de adsorção, sendo
classificadas em dois tamanhos diferentes - em pó, que tem um
diâmetro menor que 200 “mesh”, e granular, que tem um diâmetro
maior que 0,1 mm.

Tecnologias para o tratamento da água 35


U1

O carbono pode ser regenerado depois que sua capacidade adsortiva foi
alcançada. O carbono granular pode ser regenerado em um forno por
oxidação da matéria orgânica removendo-a da superfície do carbono.
Há perdas de carbono durante o processo, cerca de 5 a 10% e deve ser
substituído. A capacidade do carbono regenerado é menor do que a do
carbono novo. O carbono em pó não tem o processo de regeneração
bem denifino.

2.2 Para remover orgânicos dissolvidos

Níveis muito baixos de compostos orgânicos em água potável são suspeitos de


contribuir com doenças no ser humano como o câncer e outras enfermidades,
por isso que os mesmos não devem estar presentes na água.

Processos realizados para a desinfecção da água, ou seja, para a remoção de


microrganismos causadores de doenças, envolvem condições químicas bastante
graves, principlamente o processo de oxidação, porque produz subprodutos tais
como aldeídos e ácidos carboxílicos e esses produtos se enquadram na classe dos
orgânicos dissolvidos (MANAHAN, 2001).

Uma variedade de compostos orgânicos são produzidos no tratamento


secundário de esgoto e devem ser considerados como fatores relevantes antes
da descarga ou reutilização da água tratada. Quase metade desses compostos
orgânicos são substâncias húmicas, o restante são carboidratos, proteínas,
detergentes, taninos e ligninas. Os compostos húmicos, devido ao seu alto peso
molecular e caráter aniônico, influenciam alguns dos aspectos físicos e químicos
de tratamento de resíduos. São encontrados também muitos ácidos graxos,
hidrocarbonetos da classe do naftaleno, difenilmetano, difenil, metilnaftaleno,
isopropilbenzeno, dodecilbenzeno, fenol, os ftalatos, e triethilfosfatos
(MANAHAN, 2001).

De acrodo com Manahan (2001), o método padrão para a remoção da matéria


orgânica dissolvida é a adsorção em carvão ativado, um produto que é produzido
a partir de uma variedade de materiais carbonáceos. O carbono é produzido por
carbonização da matéria-prima anaerobicamente abaixo de 600 °C, seguido por
uma ativação de oxidação parcial. Dióxido de carbono pode ser empregado como
um agente oxidante na faixa de 600-700°C, conforme reação:

CO2 + C → 2CO

36 Tecnologias para o tratamento da água


U1

O carbono pode ser oxidado pela água a 800–900°C:

H2O + C → H2 + CO

Estes processos desenvolvem porosidade, aumenta a área de superfície, e deixa


os átomos de C nos arranjos que têm afinidades com compostos orgânicos.

Carvão ativado pode ser encontrado em dois tipos gerais: carvão


ativado granulado, consistindo de partículas 0,1-1mm de diâmetro, e
carvão ativado em pó, em que a maioria das partículas são 50-100µm de
diâmetro. Uma razão para a eficácia deste material como adsorvente é
sua grande área de superfície, fazendo com que seja mais amplamente
utilizado.

Manahan (2001) cita que a remoção de matéria orgânica também pode ser
realizada por polímeros adsorventes sintéticos, tais como Amberlite XAD-4 (resina
não iônica) que têm superfícies hidrofóbicas e fortemente atraem compostos
orgânicos insolúveis, como pesticidas clorados. Eles são facilmente regenerados
por solventes como isopropanol e acetona. Em condições de funcionamento
adequado, estes polímeros removem praticamente todos os solutos orgânicos
não iônicos, por exemplo, fenol a 250 mg/L é reduzida a menos de 0,1 mg/L por
tratamento adequado com Amberlite XAD-4. O uso deste adsorvente é mais caro
do que o de carvão ativado.

O método de oxidação também pode ser realizado para remoção da matéria


orgânica dissolvida, para isso é necessário a utilização de oxidantes como:

∞∞ ozônio;

∞∞ peróxido de hidrogênio;

∞∞ oxigênio molecular (com ou sem catalisadores);

∞∞ cloro e seus derivados;

∞∞ permanganato;

∞∞ ou ferrato (ferro (VI).

A oxidação eletroquímica pode ser possível em alguns casos, pois alta energia
de feixes de elétrons produzidos por aceleradores de elétrons de alta tensão
também têm o potencial para destruir compostos orgânicos (MANAHAN, 2001).

Tecnologias para o tratamento da água 37


U1

2.3 Para remover inorgânicos dissolvidos

Manahan (2001) explica que um dos métodos utilizados para a remoção de


inorgânicos na água é a destilação. No entanto, é necessário grande quantidade de
energia para este processo de destilação fazendo com que esta técnica se torne
inviável. Além disso, materiais voláteis como a amônia e os compostos odoríferos
são transportados em grande parte no processo de destilação. Desta forma, um
sistema de remoção de inorgânicos dissolvidos na água mais empregado é o
processo de membrana, dentre esses processo estão a eletrodiálise, troca iônica,
e osmose reversa.

2.3.1 Eletrodiálise

A eletrodiálise consiste na aplicação de uma corrente elétrica contínua através de


um corpo de água separado em camadas verticais alternadamente por membranas
permeáveis a cátions e ânions. Os cátions migram em direção ao cátodo (parte positiva)
e ânions em direção ao ânodo (parte negativa). Assim, camadas de água enriquecida
em sais alternam com os sais que são removidos. A água salina (enriquecida em sais)
é recirculada até certo ponto a fim de evitar o acúmulo excessivo de água salgada.
Os princípios envolvidos no tratamento por meio da eletrodiálise são mostrados na
Figura 1.3. Observe que neste processo, há um cátodo (eletrodo positivo constituído
de um íon positivo) e um ânodo (eletrodo negativo constituído de um íon negativo)
e as membranas que são coinstituiídas de íons positivos (cátions) e íons negativos
(ânions) e estas estão alternadas.

Conforme a água passa por estas mebranas, os íons positivos serão atraídos
pela membrana negativa
(ânions) porque cargas opostas
se atraem e o mesmo ocorrerá
com os íons negativos
que serão atraídos pelas
membranas positivas. Desta
forma os íons dos material
inorgânico ficarão presos nas
membranas deixando a água
livre desses materiais.

Figura 1.3- Eletrodiálise para


remoção de material inorgânico
em água

Fonte: Adaptado de Manahan (2001)

38 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Embora os íons pequenos que constituem os sais dissolvidos em águas passam


facilmente através das membranas, grandes íons orgânicos (proteínas, colóides)
migram para a superfície da membrana, entupindo-as, reduzindo assim sua eficiência.
Além disso, o crescimento do microrganismos sobre as membranas pode causar
entupimento. A eletrodiálise tem o potencial de ser um método prático e econômico
para remover até 50% dos inorgânicos dissolvidos em efluentes após o tratamento
prévio para eliminar substâncias incrustantes (MANAHAN, 2001).

2.3.2 Troca Iônica

A troca iônica ocorre quando íons presentes em uma solução (cátions ou ânions)
são trocados por quantidades equivalentes de outros íons de mesma carga liberados
por um sólido, o trocador de íons. Este trocador é um composto sólido hidratado,
insolúvel em água e pode ser um sal, um ácido ou uma base. As reações de troca
ocorrem na água, entre a resina trocadora de íons e os íons presentes em solução
(MANAHAN, 2001).

O processo de troca iônica utilizada para a remoção de inorgânicos consiste


na passagem da água, ao longo de um trocador sólido de íons, em que cátions e
ânions são substituídos por íons de hidrogênio e íon hidróxido, de modo que cada sal
equivalente é substituído por um mol de água. Para o sal iônico MX, as reações que
ocorrem são as seguintes:

H+ -{Cat(s)} + M+ + X- → M+ -{Cat(s)} + H+ + X-

OH- +{An(s)} + H+ + X- → X- +{An(s)} + H2O

O -{Cat (s)} representa o trocador de cations e +{An (s)} representa o trocador de


anions.

Os trocadores de cátions são regenerados com ácidos fortes e os trocadores de


ânions com base forte.

As desvantagens desse sistema é que pode haver crescimento microbiano nos


trocadores diminundo sua eficiência, além da regeneração das resinas que é um
processo caro e os resíduos gerados neste processo exigem destinação correta, como
aterros industriais, pois esses resíduos são poluentes. (MANAHAN, 2001).

2.3.3 Osmose Reversa

Para Manahan (2001) o processo de osmose ocorre quando a água flui, através de
uma membrana, da solução menos concentrada para a solução mais concentrada,
até que as duas soluções atinjam o equilíbrio. De acordo com a figura 1.4, o nível de
água da solução mais concentrada na columa estará acima em relação à solução

Tecnologias para o tratamento da água 39


U1

mais diluída. Esta diferença entre as


duas soluções denomina-se pressão
osmótica. Quando há aplicação
mecânica de uma pressão superior
a pressão osmótica (da solução mais
concentrada), ocorre a osmose reversa.
Sendo assim, a osmose reversa consiste
em forçar a água pura através de uma
membrana semipermeável que permite
a passagem de água, mas não de outro
material. A aplicação mecânica pode
sere feita por uma bomba no qual se
pressiona a solução e a envia a um vaso
de alta pressão onde estará a membrana
semipermeável. Essa membrana atua
como barreira para todos os tipos
de sais e microrganismos com peso
molecular acima de 100. Alguns tipos
de membranas são compostos de
polisulfona microporosa, revestidas
com resinas ou fibras de vidro.

Este processo, não é simplesmente uma peneira de separação ou ultrafiltração,


depende da absorção da água na superfície de uma membrana porosa de acetato de
celulose ou membrana de poliamida. Água pura a partir da camada absorvida é forçada
através de poros na membrana sob pressão. O diâmetro dos poros ideal depende da
espessura da camada de água pura absorvida e pode ser várias vezes o diâmetro das
moléculas de soluto e solvente (MANAHAN, 2001).

2.4 Para remover fósforo

Tratamento de efluentes normalmente requer a remoção de fósforo, pois este


elemento químico é nutriente para as algas, assim como o nitrogênio, desta forma
o efluente que possuir cerca concetração de fósforo não devrá ser descartado no
corpo hídrico, pois gerará o processo de eutrifização.

O fósforo é enviado para os efluente por meio dos detergentes e outras fontes
que contribuem com quantidades significativas de fósforo e de íons fosfato. Alguns
resíduos, tais como resíduos de carboidratos a partir de refinarias de açúcar,
são tão deficientes em fósforo sendo necessároi a suplementação para o bom
crescimento dos microrganismos degradantes dos resíduos (MANAHAN, 2001).

De acordo com Manahan (2001), o tratamento com lodo ativado remove

40 Tecnologias para o tratamento da água


U1

cerca de 20% do fósforo do esgoto. Assim, uma fração apreciável de fósforo


será removida juntamente com o lodo. Em um tanque de aeração convencional
operado de uma planta de lodos ativados, o nível de CO2 é alto por causa da
liberação do gás pela degradação do material orgânico. Desta forma, a taxa de
aeração não é mantida em um nível muito elevado porque o oxigênio é transferido
mais para o ar, porque na água, níveis de oxigênio dissolvidos são baixos. Portanto,
a taxa de aeração normalmente não é alta, assim, o pH é baixo suficiente para que
o fosfato seja mantido principalmente na forma de ion H2PO4-. No entanto, se
aumentar a taxa de aeração da água, o CO2 é eliminado, o pH aumenta, e reação
que ocorre é a seguinte:

5Ca2+ + 3HPO42- + H2O → Ca5OH(PO4)3(s) + 4H+

A forma precipitada ou outros hidroxiapatita de fosfato de cálcio é incorporado


no floco de lodo. Assim, em condições anaeróbias quando o meio de lodo
torna-se mais ácido devido ao nível mais alto de CO2, o cálcio retorna à solução.
Quimicamente, o íon fosfato é o mais removido por precipitação. Alguns
precipitantes comuns e seus produtos são apresentados no quadro 1.2. Os
processos de precipitação são capazes remover pelo menos 90-95% de fósforo.

A cal (Ca(OH)2) é o produto químico mais utilizado para remoção de fósforo, e


esta remoção ocorre de acordo com a reção a seguir:

5Ca(OH)2 + 3HPO42- → Ca5OH(PO4)3(s) + 3H2O + 6OH-

A cal tem como vantagens baixo custo e facilidade de regeneração. A eficiência


com que o fósforo é removido por cal não é tão alta como seria previsto por
baixa solubilidade da hidroxiapatita, Ca5OH(PO4)3. Algumas das possíveis razões
para isso são lentas precipitações de Ca5OH(PO4)3, a formação de coloides,
precipitação de cálcio como CaCO3 em intervalos determinados pelo pH, e o
fato de que o fosfato estar presente como fosfatos condensados (polifosfatos),
que forma complexos solúveis com íons de cálcio. Os íons fosfato podem
ser removidos da solução por adsorção em alguns sólidos, particularmente
alumina ativada, Al2O3, removendo aproximadamente 99,9% de ortofosfato
(MANAHAN, 2001).
Quadro 1.2- Precipitantes químicos de fosfatos e seus produtos
Precipitante Produto
Ca(OH)2 Ca5OH(PO4)3 (hidroxiapatita)
Ca(OH)2 + NaF Ca5F(PO4)3 (fluorapatita)
Al2(SO4)3 AlPO4
FeCl3 FePO4
MgSO4 MgNH4PO4
Fonte: Do autor (2014)

Tecnologias para o tratamento da água 41


U1

2.5 Para remover nitrogênio

Segundo Manahan (2001), o nitrogênio em águas residuais está presente como


nitrogênio orgânico ou amônia. A amônia é o produto primário do nitrogênio
produzido pela maioria dos processos de tratamento biológico de resíduos. Se
o processo de lodos ativados é operado sob tais condições que o nitrogênio
é mantido na forma de amônia, o último pode ser retirado na forma de gás
amônia (NH3) da água por via aérea. Para amônia o nitrogênio amoniacal deve ser
convertido para gás NH3 volátil, que requer um pH maior do que do íon NH4+, ou
seja, aproximadamente 11,5 por meio da adição de cal (que também serve para
remover fosfato).

Nitrificação seguido da desnitrificação é sem dúvida a técnica mais eficaz para


a remoção de nitrogênio de águas residuais. O primeiro passo é uma conversão
completa de amônia e nitrogênio orgânico em nitrato sob condições aeróbicas
fortes, conforme reação a seguir:

NH4+ + 2O2 (bactéria nitrificante) → NO3- + 2H+ + H2O

O segundo passo é a redução do nitrato (NO3-)a gás nitrogênio. Esta reação


é também catalisada por bactérias e requer uma fonte de carbono e um agente
redutor, como o metanol, CH3OH, conforme a reação a seguir:

6NO3- + 5CH3OH + 6H+ (Bactéria desnitrificante) → 3N2(g) + 5CO2 + 13H2O

O processo de desnitrificação mostrado nesta reação pode ser realizado


tanto em um tanque como em uma coluna de carbono. Embora o metanol
seja mostrado na reação como um agente redutor para ação microbiana de
redução de nitrato, outras substâncias orgânicas também podem ser usadas
(MANAHAN, 2001).

2.6 Desinfecção

Esta etapa é uma das mais imporatntes, pois é nela que ocorre a eliminação dos
microrganismos que causam doenças (patógenos) para os seres humanos na água
como as bactérias, vírus e protozoáris.

Para que ocorra de desinfecção, é necessária a utilização de desinfetantes. O


mais comum é o cloro. Hipoclorito de cálcio, Ca (OCl)2, é o mais comumente
usado. Os hipocloritos são mais seguros para lidar do que o cloro gasoso. As
duas espécies químicas formadas por cloro na água, HOCl e OCl-, possuem cloro

42 Tecnologias para o tratamento da água


U1

livre disponível, sendo que o cloro livre é bem eficaz na eliminação de bactérias
(MANAHAN, 2001).

O dióxido de cloro, ClO2, é um desinfectante eficaz. Na água ácida e neutra, as


duas reações a seguir indicam como o ClO2 atua como oxidante:

ClO2 + 4H+ + 5e- → Cl- + 2H2O

ClO2 + e- → ClO2-

Na faixa de pH neutro, dióxido de cloro na água permanece em grande parte


como ClO2 molecular até entrar em contatos com um agente redutor. Dióxido de
cloro é um gás que é muito reativo com a matéria orgânica e explosivo quando
expostos à luz. Por essas razões é gerado através da reação do gás cloro com
hipoclorito de sódio sólido:

2NaClO2(s) + Cl2(g) → 2ClO2(g) + 2NaCl(s)

Como desinfetante de água, o dióxido de cloro não oxida a amônia, cloro ou


outros compostos contendo nitrogênio (MANAHAN, 2001).

Outros tipos de desinfetantes são utilizados, conforme indicado no quadro 1.3.

Quadro 1.3- Algumas vantagens e desvantagens de alguns desinfetantes

Desinfetante Vantagens Desvantagens


Ozônio - Forte oxidante; - Decompõe facilmente;
- Não apresenta odor - Alto consumo de
nem sabor; energia elétrica;
- Pequena influência - Corrosivo;
do pH; - Exige cuidados
- Contribui com a coa- na manipulação;
gulação. - Pequena ação
desinfetante.

Permanganato - Fácil manuseio - Oxidante moderado,


de potássio e aplicação; - Causa cor;
- Não forma - Pequena ação
trihalometanos. desinfetante.

Peróxido de hidrogênio - Fácil de usar; - Oxidante moderado;


- Forma radicais - Subprodutos formados
hidroxilas. ainda desconhecidos.

Fonte: Do autor (2014)

Tecnologias para o tratamento da água 43


U1

Desta forma, percebemos que quando o efluente tanto de origem industrial


quanto urbana possui alguns poluentes que não foram removidos nos processos
convencionais, estes deverão passar por técnicas específicas de tratamento.

1. Explique uma forma de remoção do ferro e do manganês


dos efluentes.

2. Explique o que é o carvão ativado.

44 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Seção 3

Reatores biológicos

Nesta seção aprenderemos sobre a diferença dos reatores aeróbios dos reatores
anaeróbios.

O esgoto doméstico contém uma grande carga de material orgânico, assim


como diversos tipos de microrganismos como vírus, bactérias e protozoários.
Garcez (1999) explica que os microrganismos são responsáveis pela estabilização
da matéria orgânica, pois através de suas atividades vitais transformam moléculas
complexas em moléculas mais simples e estáveis. Desta forma, o tratamento
biológico é uma ótima opção para o tratamento de efluentes.

Os reatores biológicos são os processos de tratamento biológico utilizados


para o tratamento da água, estes podem ser de caráter anaeróbio (sem a presença
de oxigênio) ou aeróbio (com oxigênio).

Os reatores aeróbios irão transformar o material degradado em CO2 e H2O, o


aceptor de elétrons é oxigênio molecular. Nos anaeróbios, que degradam CO2 e
CH4, o oxigênio molecular está ausente, sendo que algumas formas de carbono,
enxofre e nitrogênio participam como aceptores de elétrons (FREIRE et al., 2000).

Vejamos a seguir alguns exemplos desses dois tipos de reatores.

3.1 Reatores aeróbios

Os reatores aeróbios são processos no qual os microrganismos irão degradar a


matéria orgânica com a presença do oxigênio. A forma mais comum deste sistema
é por meio das lagoas aeradas e pelos sistemas de lodos ativados.

Conforme discutido no item 1.1.2, o processo do lodo ativado é um sistema


muito eficiente, pois é capaz de remover diversas substâncias químicas, além das
substâncias orgânicas. O tratamento por lodos ativados há um grande número de
bactérias, fungos, protozoários e outros microrganismos que reduzem um grande
número de compostos poluentes, além de serem capazes de remover substâncias
tóxicas com um menor tempo de aeração. Porém para este processo é necessário

Tecnologias para o tratamento da água 45


U1

a recirculação de um grande número de biomassa para que os microrganismos


permaneçam por um tempo maior no meio, o que “facilita o processo de oxidação
dos compostos orgânicos, diminuindo o tempo de retenção do efluente” (FREIRE
et al., 2000).

Freire et al. (2000) explica que algumas desvantagens deste sistema de lodos
ativados são:

∞∞ alto custo de implementação,

∞∞ formação de grandes quantidades de lodo (biomassa),

∞∞ perda de substratos tóxicos por volatização.

∞∞ Pelo fato de alguns efluente apresentarem substâncias voláteis como o


diclorometano, clorofenóis, tricloroetileno, pentaclorofenol, tetracloreto
de carbono, diclorofenol e clorobenzeno há pesquisas para remoção
destas substâncias através biorreatores que operam como membranas
(FREIRE et al., 2000).

Os biorreatores com membranas é a combinação do tratamento biológico


e da separação com membranas, no qual as membranas retêm totalmente a
biomassa, não sendo necessário a utilização dos decantadores das estações de
tratamento biológico convencional. Dos tipos de biorreatores com membranas
comercialmente disponíveis há aqueles com módulo externo ao tanque de aeração
ou módulo submerso ao tanque. Pelo fato das membranas reterem totalmente a
biomassa, a qualidade do efluente tratado é muito alta (SILVA, 2009).

Estudos realizados por Silva (2009) mostraram que a combinação de lodos


ativados e filtração com membranas (biorreator com membranas), mostrou-se
adequado para a remoção de matéria orgânica com eficiência média de 90%
de remoção de DBO. Sendo assim, este sistema é uma alternativa viável para o
tratamento de efluentes.

A utilização de células
microbianas no tratamento da Saiba mais sobre os biorreatores com
água também é uma alternativa membranas acessando o site:
no processo de tratamento. http://www.lume.ufrgs.br/
As células microbianas se separam handle/10183/26538. Este site
facilmente do corpo líquido e isso direcionará você a uma dissertação
ocorre pelo fato delas se agregarem de mestrado no qual explicará como
o biorreator a membrana pode
na forma de flocos ou biofilmes.
ser utilizado para o tratamento de
Estas células (biofilmes) podem
efluentes.

46 Tecnologias para o tratamento da água


U1

formar espontaneamente grânulos densos ou crescem aderidos a uma superfície


sólida estática ou suspensa. Os biofilmes podem ser formados por células de
diversos microrganismos, por isso possui grande vantagem no processo de
tratamento da água. Este tipo de tratamento é chamado de tratamento aderido,
em que a biomassa cresce sobre um meio suporte formando um biofilme. “O meio
suporte pode ser constituído por um material sólido natural (areia, pedra, solo) ou
artificial (plásticos), ou ainda, pela aglomeração da própria biomassa, constituindo
grânulos, como no caso dos reatores anaeróbios de fluxo ascendente, UASB”
(GEBARA, 2006).

As lagoas de estabilização, lodos ativados e reator anaeróbio de fluxo crescente


são exemplos de crescimento disperso em que não há estruturas de sustentação
da biomassa (GEBARA, 2006).

3.2 Reatores anaeróbios

A digestão anaeróbia é um processo biológico no qual um conjunto de


microrganismos de diferentes tipos, transformam, na ausência de oxigênio,
compostos orgânicos complexos, como as proteínas, carboidratos, lipídios em
compostos mais simples como o metano e o gás carbônico (FORESTI et al., 1999).

No sistema de tratamento aeróbio é importante que o sistema de tratamento


mantenha uma grande massa de bactérias ativas que atue no processo de digestão
anaeróbia e também é necessário que haja contato intenso da massa bacteriana
com o material orgânico. Alguns fatores influenciam as condições operacionais
como a temperatura, pH, presença de elementos nutrientes e a ausência de
materiais tóxicos no afluente (FORESTI et al., 1999).

De acordo com Foresti et al. (1999, p. 31), o sistema de tratamento aeróbio


possui maior aceitação devido a dois fatores principais:

As vantagens consideradas inerentes ao processo de digestão


anaeróbia em comparação com o tratamento aeróbio e a
melhoria do desempenho dos sistemas anaeróbios modernos,
tendo-se um aumento muito grande não somente da velocidade
de remoção do material orgânico, mas também da porcentagem
de material orgânico digerido.

A melhor compreensão do sistema de digestão anaeróbia permitiu melhorar


os sistemas, assim como desenvolver sistemas modernos muito mais eficientes
que os sistemas clássicos. Cerca de 70% do material orgânico pode ser removido

Tecnologias para o tratamento da água 47


U1

através dos reatores anaeróbios, sem dispêndio de energia ou adição de substâncias


químicas e as unidades de pós-tratamento podem ser usadas para remoção do
material orgânico restante, desta forma o efluente final ficará com qualidade
adequada e que atenderá as legislações ambientais (FORESTI et al., 1999).

A digestão anaeróbia também é capaz de degradar compostos clorados


em compostos mais simples e menos tóxicos que poderão ser posteriormente
degradados pelos organismos aeróbios.

Freire et al. (2000) cita diversos trabalhos no qual foram utilizados processos
anaeróbios para remoção de compostos clorados como o pentacloroanilina,
hexaclorobenzeno e pentaclorofenol, clorofórmio, tetracloreto de carbono e
tricloroetano, bifenilos policlorados, clorofenóis, compostos alifáticos clorados e
tetracloroetileno e os resultados apresentaram-se satisfatórios no qual todos esses
compostos foram reduzidos a compostos menos tóxicos.

O processo anaeróbios-aeróbios alternados é a mais moderna tendência para o


tratamento de efluentes. De acordo com Freire et al. (2000, p. 507):

Este sistema aumenta significativamente a eficiência do processo


de tratamento, o que permite a redução do tamanho das estações
e dos tempos de residência. Na Finlândia, por exemplo, está sendo
aplicado com grande sucesso um tratamento combinado deste
tipo. Este procedimento, denominado Enso-Fenox, permite em 7
horas de operação a mesma redução de halogênios adsorvíveis
alcançada em 7 dias de tratamento em lagoas aeróbias. No
entanto, é importante salientar que o sistema não permite uma
eficiente degradação de compostos de alta massa molar.

Para que os reatores biológicos tenham sucesso na remoção de


poluentes, quais os fatores essências?

Vários trabalhos são publicados mostrando a eficiência de reatores com


microrganismos específicos. Um exemplo é o uso de reator biológico com fungos.
Sampaio et al. (2004) tratou água residuária da indústria de beneficiamento de
caju pelo sistema UASB-RBF utilizando alguns tipos de fungos e observou que a
operação em batelada apresentou 45% de remoção da DQO com oito dias de

48 Tecnologias para o tratamento da água


U1

detenção hidráulica, mostrando que as espécies fúngicas empregadas foram


viáveis nesta operação, podendo ser utilizadas na etapa de fluxo contínuo. Este
mesmo sistema também foi capaz de remover, em escala laboratorial, 93% de
nitrato, 37% de amônia e 38% para ortofosfato.

Algumas enzimas também são aplicadas para o tratamento de águas residuárias.


Mendes et al. (2005) estudaram a aplicação da enzima lipase no tratamento de
água residuária contendo grande teor de lipídios. Pelo fato desta enzima ser capaz
de hidrolisar especificamente óleos e gorduras, a mesma pode ser de grande
interesse para o tratamento de efluentes com alto teor de gordura.

Não só diferentes tipos de microrganismos são estudados, mas também


alguns tipos de suportes que imobilizam a biomassa microbiana. Ortega et al.
(2001) comentam que a velocidade de partida de um biorreator é fortemente
influenciada pelo tipo de suporte, pois o tamanho dos poros e rugosidade afetam
a velocidade de colonização microbiana no suporte. Desta forma, eles avaliaram
a potencialidade de materiais cerâmicos porosos (argila expandida, borracha de
etileno-propileno e espumas cerâmicas de alumina e caulinita) em imobilizar a
biomassa microbiana anaeróbia. Observaram que a quantidade de sólidos voláteis
imobilizados foi maior nos suportes mais porosos e com maior tamanho de
poros. A capacidade de retenção celular de cada material foi mais alta na espuma
cerâmica de alumina, seguida pela espuma cerâmica de caulim, pela borrachade
EPR e por último pela argila expandida. Além da porosidade, o tipo de poro afetou
sensivelmente a colonização sendo que os materiais com poros fechados foram
colonizados apenas na superfície, enquanto que os materiais com poros abertos e
interconectados foram colonizados também em seu interior, o que provavelmente
afetou os valores de matéria orgânica retida em cada poro.

1. Explique a diferença entre os reatores aeróbios dos reatores


anaeróbios.

2. Por que o processo anaeróbios-aeróbios alternado é uma


alternativa para o tratamento de efluentes?

Tecnologias para o tratamento da água 49


U1

Nesta unidade você aprendeu que:

• Ao ser tratada, a água passará por diversas etapas até ficar


própria para o uso.

• A água contaminada de nossas casas (esgoto) pode ser


tratada pelo sistema convencional, que seguirá os processos de
tratamento primário, secundário e se necessário o terciário.

• O sistema de tratamento de água para abastecimento humano


passará por etapas similares ao tratamento convencional, porém
terá que passar por um processo mais rigoroso de desinfecção.

• Os métodos mais eficientes de remoção de ferro e manganês


em excesso da água é por meio da oxidação e precipitação. Para
orgânicos dissolvidos é por meio do carvão ativado, adsorventes
ou oxidação e para os inorgânicos dissolvidos o processo de
destilação e o uso de membranas são os mais eficientes.

• Os reatores biológicos são utilizados quando o efluente


possuir uma grande carga de material orgânico, no qual os
microrganismos presentes degradarão o material orgânico que
possui uma estrutura complexa em estruturas mais simples e
fáceis de serem eliminadas.

• Os reatores aeróbios são processos no qual os microrganismos


irão degradar a matéria orgânica com a presença do oxigênio. A
forma mais comum deste sistema é por meio das lagoas aeradas
e pelos sistemas de lodos ativados.

• Os reatores anaeróbios são processos no qual os microrganismos


irão degradar a matéria orgânica sem a presença do oxigênio.

50 Tecnologias para o tratamento da água


U1

Conforme você pode perceber no estudo desta unidade a água


contaminada passa por uma série de etapas para ficar com as
características químicas e microbiológicas adequadas, que
poderá ser reutilizada ou descartada em um corpo hídrico.

O tipo do sistema de tratamento a ser adotado dependerá do


tipo de contaminante que a água possuir e a finalidade do uso
desta água. Quando a água possuir ferro, manganês, orgânicos
e inorgânicos dissolvidos, serão necessárias outras técnicas que
não fazem parte do sistema de tratamento convencional.

A água utilizada para abastecimento humano sempre terá


origem dos rios ou poços, pois estas fontes possuem menos
contaminação.

1. Resuma os processos de eletrodiálise, troca iônica e


osmose reversa.
2. Qual é a diferença entre o tratamento realizado na água
para abastecimento humano do tratamento de esgoto?

3. O sistema convencional de tratamento de esgoto passa


por várias etapas até a água ficar com qualidade suficiente.
De acordo com as etapas de tratamento e o material
removido, enumere a coluna B de acordo com a coluna A.
Coluna A
1- Remoção de substâncias suspensas que flutuam
2- Remoção de substâncias finas dissolvidas.

Tecnologias para o tratamento da água 51


U1

3- Remoção do material orgânico


4- Formação do lodo
5- Remoção de microrganismos

Coluna B
( ) Decantador secundário
( ) Tratamento biológico
( ) Grades e peneiras
( ) Desinfeção
( ) Coagulação/ floculação/ filtração

5. Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a


alternativa correta:

a) A digestão anaeróbia é um processo biológico no qual


um conjunto de microrganismos de diferentes tipos,
transformam, na presença de oxigênio, compostos
orgânicos complexos, em compostos mais simples.

b) O processo anaeróbios-aeróbios alternados é a mais


moderna tendência para o tratamento de efluentes.

c) A forma mais comum dos sistemas aeróbios é por meio


das lagoas aeradas.

d) O sistema de lodos ativados é muito eficiente na remoção


de materiais inorgânicos.

52 Tecnologias para o tratamento da água


U1

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SAMPAIO, G. M. et al. Pós-tratamento de efluente de um reator UASB através de um


reator biológico com fungos. Revista Engenharia Sanitária e Ambiental, Rio de Janeiro,
v. 9, n. 1, 2004. Disponível em: <http://www.abes-dn.org.br/publicacoes/engenharia/
resaonline/v9n1/v9n1a07>. Acesso em: 15 out. 2014.

SILVA, M. K. Biorreatores com membranas: uma alternativa para o tratamento de


efluentes. 2009. 179 f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/
bitstream/handle/10183/18994/000732821.pdf?sequence=1>. Acesso em: 03 dez. 2014

54 Tecnologias para o tratamento da água


Unidade 2

TECNOLOGIA DE
BIORREMEDIAÇÃO EM AMBIENTES
TERRESTRES E AQUÁTICOS
Jeanedy Maria Pazinato

Objetivos de aprendizagem: Nesta unidade queremos levá-lo a


conhecer e refletir sobre a tecnologia de biorremediação e sua aplicabilidade
em ambientes contaminados.

Seção 1 | Eficiência da biorremediação na


recuperação ambiental

Nesta seção serão apresentados o conceito de biorremediação, os


principais poluentes dos solos e das águas, bem como as principais
técnicas utilizadas e a eficiência das mesmas na recuperação ambiental.

Seção 2 | Inovações e perspectivas no uso da


biorremediação

Nesta seção iremos abordar como a tecnologia tem contribuído para


o avanço da biorremediação, e suas perspectivas de utilização futura.
U2

56 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Introdução à unidade

Um dos grandes problemas decorrentes da industrialização e do agronegócio é


a contaminação causada por compostos químicos no solo e em corpos hídricos,
produzindo impactos e limitando seus usos. Para promover a descontaminação
utiliza-se a remediação, que pode ser química, física ou biológica. O tratamento
biológico é conhecido como biorremediação e consiste no uso de microrganismos,
ou seus derivativos, como enzimas, ou mesmo plantas para recuperar e regenerar
ambientes contaminados. O uso de seres vivos no processo de degradação ou
neutralização de substâncias nocivas ao meio ambiente visa promover a restauração
do equilíbrio ecológico do ambiente afetado e proteger as espécies, buscando a
preservação da cadeia alimentar, em todos os seus níveis tróficos. Estes métodos
são favorecidos por serem ecologicamente corretos, mais limpos, com custos
baixos e de mais fácil aplicação em grande escala, além de não alterarem o equilíbrio
dos ecossistemas. Cada processo de biorremediação é particular e quase sempre
necessita de uma adequação e de uma otimização específica para aplicação em
diferentes ambientes afetados, sendo necessária sempre uma análise integrada de
parâmetros físicos, químicos e biológicos.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 57


U2

58 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Seção 1

Eficiência da biorremediação na
recuperação ambiental

Os processos de biorremediação vêm sendo utilizados há várias décadas no


tratamento de efluentes industriais e esgotos domésticos. Também podem ser
observados processos biológicos de tratamento em aterros industriais de resíduos
perigosos e aterros de resíduos urbanos, em geral. Os microrganismos são
utilizados para estes fins desde 600 a.C. pelos romanos para tratar águas residuárias
de origem sanitária, expandindo-se hoje para tratar uma variedade de outros
contaminantes, como, por exemplo, hidrocarbonetos do petróleo e compostos
orgânicos clorados. A expansão da exploração petrolífera e o grande crescimento
das indústrias petroquímicas a partir da década de 1940 nos Estados Unidos fizeram
com que aumentasse o número de vazamentos ou lançamentos de resíduos nos
solos. Em 1961 foram relatados no Primeiro Simpósio de Contaminação de Águas
Subterrâneas casos de vazamentos de orgânicos ocorridos na década anterior. O
estudo de contaminação de solos e águas subterrâneas ganhou importância a partir
da década de 1980, embora tenha se iniciado nos Estados Unidos ainda na década
de 1950. O primeiro uso comercial de produtos para biorremediação foi em 1972,
para limpar um derramamento de oleoduto em Ambler, Pennsylvania. Em 1992
os Estados Unidos tiveram 240 casos de biorremediação, segundo a Agência de
Proteção Ambiental. A maioria desses casos envolveu tratamento de solos ou água
subterrânea contaminados utilizando processos de biorremediação.

Embora outras tecnologias que usam processos químicos e/ou físicos sejam
também indicadas para descontaminar ambientes poluídos, o processo biológico
de biorremediação é uma alternativa ecologicamente mais adequada e eficaz
para o tratamento de ambientes contaminados com moléculas orgânicas de
difícil degradação e metais tóxicos (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005). A
biorremediação baseia-se na utilização do metabolismo de organismos vivos –
plantas e microrganismos - para descontaminar ambientes afetados por resíduos.
Os microrganismos estão presentes na natureza em todos os locais, nos solos, em
águas subterrâneas e nos oceanos, sendo parte integrante dos processos naturais
de detoxificação.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 59


U2

O contaminante funciona como fonte de carbono para os microrganismos,


sendo necessário o fornecimento de nutrientes como nitrogênio e fósforo, bem
como um agente oxidante, que funcione como receptor de elétrons, além de outros
nutrientes específicos para cada contaminante.

Geralmente, os microrganismos utilizados são bactérias, fungos filamentosos e


leveduras. Dentre eles, as bactérias são as mais empregadas e, por conseguinte,
são consideradas como o elemento principal em trabalhos que envolvem a
biodegradação de contaminantes. São importantes, em função de seus efeitos
bioquímicos e por destruírem ou transformarem os contaminantes potencialmente
perigosos em compostos menos danosos ao ser humano e ao meio ambiente
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

A biorremediação, assim como as demais técnicas de degradação, têm como


objetivo principal a mineralização completa dos contaminantes, ou seja, transformá-
los em produtos com pouca ou nenhuma toxicidade (inócuos), como CO2 e água
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010). Embora outras tecnologias que usam
processos químicos e/ou físicos sejam também indicadas para descontaminar
ambientes poluídos, o processo biológico de biorremediação é uma alternativa
ecologicamente mais adequada e eficaz para o tratamento de ambientes
contaminados com moléculas orgânicas de difícil degradação e metais tóxicos
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

1.1 Principais Contaminantes Químicos

As moléculas orgânicas de difícil degradação são denominadas recalcitrantes,


podem ser de origem natural ou sintética e são estranhas ao ambiente natural. Por
essa razão, são conhecidas como xenobióticas (xenos = estrangeiro, em grego).
Estas moléculas têm sido introduzidas ao meio ambiente desde o início do século
XX, compreendem vários tipos de compostos, aplicados na indústria química e
de materiais, tais como agrotóxicos, corantes, fármacos, polímeros e plásticos,
podendo ser tóxicas a sistemas biológicos e/ou recalcitrantes, uma vez que não
fazem parte do conjunto de moléculas produzidas pelo metabolismo evolutivo que
propicia a vida na Terra. Muitos dos xenobióticos e/ou seus produtos de degradação
resultam em efeitos nocivos e/ou mutagênicos aos organismos vivos, podendo levar
à eliminação seletiva de indivíduos e acarretar modificações na estrutura ecológica e
funcional da comunidade biológica (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Dentre os compostos químicos que promovem a contaminação dos solos e


das águas estão os compostos agroquímicos, que são defensivos agrícolas com
potencial tóxico, que apresentam como princípio ativo principalmente compostos
xenobióticos aplicados para controlar pragas de plantas e de animais. Resíduos gerados

60 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

por atividades relacionadas à extração de petróleo e seus derivados, principalmente


os hidrocarbonetos, metais pesados oriundos de diferentes atividades industriais e
substâncias ou resíduos contendo compostos com potencial xenobiótico, como
dejetos de animais ou lodo de esgoto urbano, adicionados intencionalmente como
objeto de descarte ou para a melhoria das propriedades nutricionais do solo (LEONEL
et al., 2010). Abaixo, listaremos alguns dos contaminantes ambientais mais comuns:

• Derivados de Petróleo

O metabolismo dos hidrocarbonetos gera compostos com propriedades


carcinogênicas e mutagênicas, esses são responsáveis por diversos casos de
câncer de pulmão, de intestino, de fígado e de pâncreas em seres humanos. Estes
apresentam lipossolubilidade à membrana plasmática e, em decorrência disto,
acumulam-se nos adipócitos.

São formados continuamente pela combustão incompleta de substâncias


orgânicas e devido à sua polaridade e complexidade estrutural apresentam baixíssima
solubilidade em água, constituindo agentes recalcitrantes no solo, permanecendo
por longos períodos neste ambiente. Fenol e seus derivados destacam-se entre os
derivados de petróleo, pois constituem uma importante fonte de contaminação de
solo, agindo como inibidores de microrganismos, mesmo os que o utilizam como
substrato. São encontrados em efluentes industriais, refinarias de petróleo, bem
como plantas petroquímicas, indústrias de produção de resinas fenólicas, entre
outros (LEONEL et al., 2010).

A contaminação de solos por estas substâncias tem se tornado uma problemática


mundial, principalmente devido à dificuldade de reabilitar a área contaminada.
Estes problemas têm ocorrido, pois uma das principais dificuldades envolvendo a
descontaminação dessas matrizes está relacionada, entre outros fatores, à presença
de materiais argilominerais. Estes argilominerais, quando presentes em quantidades
elevadas no solo contaminado, podem reduzir consideravelmente a eficiência
do processo de biorremediação. Sabe-se que os solos argilosos, de modo geral,
apresentam baixa permeabilidade, o que pode comprometer significativamente
tanto a difusão de oxigênio, que é o elemento fundamental ao processo aeróbico
de degradação, bem como a incorporação de nutrientes (ANDRADE; AUGUSTO;
JARDIM, 2010).

A adição do etanol na gasolina afeta o processo de degradação dos compostos


como benzeno, xileno e tolueno, podendo fazer com que os efeitos tóxicos persistam
por um tempo maior. É neste ponto que a remediação natural age, eliminando os
traços do etanol e outros compostos.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 61


U2

• Metais Pesados

A presença de metais pesados no ambiente ocorre de forma natural, podendo


fazer parte de algumas funções fisiológicas de organismos vivos, tornando-
se essencial quando em concentrações adequadas. Devido a processos como
adsorção, dessorção, solubilização, precipitação, complexação e oxirredução,
os metais pesados apresentam baixa mobilidade quando no solo, o que torna
sua toxicidade reduzida. Dessa forma, podem fazer parte de uma diversidade de
formas químicas. No entanto, a contaminação por metais pesados, decorrente da
ação antropogênica, promove um elevado teor de toxicidade e o acúmulo desses
elementos na camada superficial do solo, comprometendo a microbiota natural
responsável pela ciclagem de nutrientes. A presença de metais pesados no solo
interfere no pH, aumentando a acidez e levando à inibição da atividade de algumas
espécies de microrganismos.

• Hexaclorobenzeno (HCB)

O hexaclorobenzeno (HCB) pertence ao grupo dos organoclorados, sendo


um composto xenobiótico estável no ambiente e insolúvel em água, utilizado na
indústria, que apresenta potencial carcinogênico e mutagênico, sendo um risco
para a saúde humana. É um composto que apresenta alta persistência no ambiente,
podendo ser acumulado nos níveis tróficos superiores. Está amplamente disperso
no ambiente e tem sido detectado no ar, na água, em sedimentos, solos, biota e
sítios remotos, refletindo a persistência e o longo alcance desta molécula. Existem
algumas estirpes de bactérias de grupos filogenéticos distintos que apresentam
potencial de utilização de organoclorados como aceptores de elétrons, por meio
da desclorinação respiratória de grande importância em ambientes anóxicos.
Esse processo é determinado pela transferência de elétrons dos compostos
orgânicos reduzidos pela ação biológica ou mediador abiótico, como ferro (Fe) e
produtos biológicos que recebem os elétrons transferindo-os para os compostos
organoclorados (LEONEL et al., 2010).

• Defensivos Agrícolas

É muito frequente a contaminação do solo com compostos agroquímicos, como


os herbicidas triazínicos, em decorrência do uso intensivo na agricultura nas culturas
de milho e cana-de-açúcar, representando um grande risco ao meio ambiente. Assim
que as moléculas desses herbicidas atingem o solo, em decorrência da aplicação no
sistema solo-planta, elas podem sofrer degradação e sorção. Na sorção ocorrem
simultaneamente os processos de absorção e adsorção, neste caso consiste na
impregnação de substâncias dissolvidas em um fluido na parte sólida de um meio

62 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

poroso, como o solo, obtendo-se como resultado a absorção dessas moléculas via
planta e a lixiviação para as camadas sub-superficiais do solo, podendo atingir as
águas subterrâneas (LEONEL et al., 2010).

A degradação dos herbicidas triazínicos é realizada predominantemente por


microrganismos como Agrobacterium, Klebsiella e Rhodococcus por desclorinação,
desalquilação e posterior quebra do anel aromático. A partir da ação enzimática
ocorre a remoção dos radicais etil e isopropil que serão utilizados como fonte de
carbono (C) para obtenção de energia e a quebra dos anéis e a desaminação para
obtenção do nitrogênio (N). No entanto, a velocidade da degradação depende da
densidade da microbiota degradadora presente no solo e das rotas metabólicas
(LEONEL et al., 2010).

Você quer mais informações sobre a biodegradação de agroquímicos?


No link abaixo você encontrará um texto muito informativo sobre este
tema! “Biotransformação de agrotóxicos e biotransformação”.
<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/Silva_C_M_+Agr
otoxicosAmbiente_000fdqazezq02wx5eo0a2ndxy0ul2duj.pdf>.

1.2 Biorremediação Microbiana

O sistema metabólico que se tem mostrado mais apto para biodegradar moléculas
xenobióticas recalcitrantes nos processos de biorremediação é o microbiano, uma
vez que os microrganismos desempenham a tarefa de reciclar a maior parte das
moléculas da biosfera, participando ativamente dos principais ciclos biogeoquímicos
e representando, portanto, o suporte de manutenção da vida na Terra. Esta
extraordinária diversidade metabólica se deve à combinação do potencial genético
individual das diferentes espécies microbianas em um sistema natural, com enzimas
e vias metabólicas que evoluíram ao longo de bilhões de anos, e a capacidade de
metabolismo integrado apresentada pela comunidade microbiana em conjunto:
produtos do metabolismo de um microrganismo pode ser substrato para outros.
Este intenso sinergismo metabólico entre microrganismos, praticamente ausente
nos organismos mais complexos, é de fundamental importância na biodegradação
de xenobióticos (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

A degradação de substâncias xenobióticas por microrganismos depende da

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 63


U2

presença de várias enzimas que realizam metabolismo para seu crescimento, e dessa
forma conseguem remediar os compostos químicos, reduzir as concentrações
presentes no ambiente ou torná-los menos tóxicos. Dentre os microrganismos
envolvidos neste processo estão presentes representantes dos eucariotos e
procariotos de vários gêneros (LEONEL et al., 2010).

Você sabia que cada contaminante é possível de ser degradado


por um grupo específico de microrganismos?

Pesquisas comprovam que diferentes microrganismos podem degradar diferentes


substâncias, dentre estas, substâncias recalcitrantes, como os hidrocarbonetos de
petróleo. Em alguns casos, certos microrganismos são mais especializados em
degradar contaminantes específicos. Por exemplo, para uma mesma classe de
substâncias, como os compostos organoclorados, alguns microrganismos podem
degradar contaminantes como o dicloroetano e o cloreto de vinila, porém, no mesmo
local não conseguem degradar o tricloroetano. Contudo, pesquisas sugerem que
devido à elevada diversidade de compostos em solos contaminados por petróleo e
derivados, estudos preliminares à biorremediação são de suma importância para o
tratamento dessas matrizes ambientais (EMBAR; FORGACS; SIVAN, 2006).

O emprego de consórcios de microrganismos é viável, podendo proporcionar


uma completa degradação dos contaminantes. Dessa forma, microrganismos
que não apresentam potencial para degradar completamente determinado
composto poderão transformá-lo em uma substância degradável por um segundo
microrganismo (LEONEL et al., 2010).

É de suma importância compreender a forma como o microrganismo irá atuar


no sistema de cultivo antes de utilizá-lo. Os processos biológicos de biorremediação
utilizam, geralmente, microrganismos autóctones (do próprio ambiente) ou
introduzidos (em estado nativo ou geneticamente modificados) com capacidade
de biodegradar xenobióticos, resultando em produtos de degradação com estrutura
menos recalcitrante em relação à molécula original, ou na mineralização do
xenobiótico, produzindo compostos químicos simples, como: CO2, H2O, NH3, etc.
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Os microrganismos autotróficos são capazes de utilizar moléculas inorgânicas


como fonte de energia, seja via fotossíntese (envolvendo a luz como fonte de
energia, como as cianobactérias e o fitoplâncton) ou quimiossíntese (envolvendo os
compostos químicos como a amônia e nitrito como fonte de energia). Um exemplo

64 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

de bactérias quimioautotróficas são as bactérias nitrificantes que utilizam a amônia


e o nitrito como fontes de energia via doação de elétrons e o dióxido de carbono
(CO2) como fonte de carbono inorgânico, ou seja, essas bactérias podem utilizar a
energia liberada no processo de oxidação dos compostos minerais que contêm o
nitrogênio orgânico, para reduzir o carbono orgânico em dióxido de carbono. Já os
microrganismos heterotróficos como os Bacillus spp. utilizam compostos orgânicos
para obter o carbono, que é essencial para o seu crescimento e desenvolvimento.

Os compostos orgânicos são metabolizados por fermentação, respiração ou


cometabolismo. Portanto, o processo de biorremediação pode ser aeróbio ou
anaeróbio, requerendo oxigênio ou hidrogênio, respectivamente. Além desses dois
processos, a biorremediação também pode ocorrer de forma cometabólica.

Na biorremediação aeróbia, que requer um meio oxidante, o oxigênio atua como


receptor de elétrons e os contaminantes são utilizados pelos microrganismos como
fontes de carbono (doador de elétrons), necessárias para manter as suas funções
metabólicas, incluindo o crescimento e a reprodução. Por exemplo, os compostos
BTEX (grupo de compostos formado pelos hidrocarbonetos: benzeno, tolueno,
etil-benzeno e os xilenos) cumprem essa função como doadores de elétrons, caso
haja receptores suficientes (oxigênio dissolvido) para que a reação ocorra. Quando
o oxigênio é totalmente consumido, os microrganismos passam a utilizar outros
receptores naturais de elétrons disponíveis no solo, sendo que esse consumo ocorre
na seguinte ordem de preferência: nitrato (reação de desnitrificação), manganês,
ferro, sulfato e dióxido de carbono, sendo este convertido em ácidos orgânicos para
gerar o metano (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

A biorremediação anaeróbia, que requer um meio redutor, ocorre pela ação de


espécies doadoras de elétrons, responsáveis pela degradação, principalmente, dos
poluentes halogênicos. Trata-se do fenômeno pelo qual os microrganismos, ao
metabolizarem fontes alternativas de carbono, podem causar alguns inconvenientes,
como alterações do potencial redox (Eh) da matriz estudada, o que pode provocar a
solubilização indesejável de metais e, consequentemente, a contaminação do local
por estas espécies (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

A biorremediação cometabólica é aquela na qual a degradação ocorre pela


ação de enzimas produzidas por microrganismos para outros fins. É uma técnica
praticamente idêntica às anteriores, sendo que, do ponto de vista bioquímico, rege o
princípio das reações de óxido-redução. No caso específico do cometabolismo, caso
não haja o substrato principal, ou seja, fontes preferenciais de carbono, a degradação
mediada pelos microrganismos não ocorre para um dado componente, definido
como contaminante cometabolizado. Por outro lado, neste caso específico, na
presença de uma fonte de carbono, a metabolização do substrato primário poderá
gerar enzimas capazes de atuar na degradação do contaminante de interesse
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 65


U2

A biorremediação anaeróbia in situ é ideal para ser utilizada em locais contaminados


por compostos organoclorados, como o percloroetileno (PCE), uma vez que a
fonte de carbono estimula nas bactérias a reação denominada halorrespiração ou
haloeliminação. Embora esse princípio, também denominado de descoloração
redutiva, seja aparentemente simples, a dificuldade da técnica está em criar um
modelo ideal de fonte de carbono para um determinado microrganismo. Esta fonte
de carbono deve conter compostos que sejam preferencialmente e facilmente
metabolizados pelos microrganismos na presença dos contaminantes. Apesar de
o tratamento anaeróbio ser menos comum que o aeróbio, existe atualmente uma
tendência de se promover a biorremediação anaeróbia, utilizando como fontes de
carbono melaço de cana, ácido lático, proteínas do leite e metanol (ANDRADE;
AUGUSTO; JARDIM, 2010).

Apesar de a maioria dos trabalhos desenvolvidos em processos de biorremediação


ser com bactérias, os fungos também são capazes de degradar vários poluentes
orgânicos. Acelerar o crescimento ou aumentar a quantidade de fungos pode exercer
efeitos benéficos, diminuindo a quantidade de poluentes tóxicos disponíveis, desde
que sejam dadas as condições adequadas, especialmente para os poluentes difíceis
de serem degradados. A capacidade dos fungos de adaptarem rapidamente o seu
metabolismo a diferentes fontes de carbono e energia é um fator essencial para sua
sobrevivência. Essa flexibilidade se deve à produção de uma grande quantidade de
enzimas intra e extracelulares, capazes de degradar compostos complexos, através
de uma variedade de mecanismos (LIMA; OLIVEIRA; CRUZ, 2011).

1.3 Principais tratamentos e técnicas de


biorremediação microbiana

O processo de biorremediação pode se dar in situ, quando o tratamento do


material contaminado ocorre no próprio local, e ex situ, quando envolve a remoção
do material do seu local original.

A biorremediação in situ no tratamento de solos oferece a vantagem de não


ser necessária a remoção bem como o transporte do material contaminado, ou
seja, permite o tratamento de grandes áreas e tem custo menor. Não obstante,
exige maior tempo de tratamento, apresenta menor flexibilidade para o tratamento
de grande número de contaminantes e tipos de solo, sendo mais eficaz em solos
permeáveis, como os arenosos. Além disso, é um processo mais difícil de controlar
e avaliar.

A biorremediação ex situ é indicada nos casos em que há risco de alastramento


da contaminação e quando não é possível o tratamento no local, devido, por

66 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

exemplo, à dificuldade de acesso ao local. A vantagem do tratamento ex situ é o


maior controle dos processos, aumentando sua eficácia.

Figura 2.1 - Biodegradação in situ x ex situ

Fonte: O autor (2014)

Essas técnicas devem levar em conta os poluentes, o custo dos processos e,


principalmente, a concentração final do contaminante, no término do tratamento,
como aceitável para o tipo de resíduo e para o uso futuro da área (MOREIRA,
2013). Porém, independente do local de aplicação, a biorremediação tem como
pré-requisito básico o aumento da eficiência da remoção natural feita pelos
microrganismos.

Após a escolha do tipo de tratamento, faz-se a escolha da técnica mais adequada.


Dentre as mais empregadas estão:

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 67


U2

1.3.1 Biorremediação Intrínseca


A biorremediação intrínseca é uma técnica realizada in situ, sendo conhecida,
também, como atenuação natural ou biorremediação passiva. Genericamente,
os microrganismos nativos da sub-superfície podem desenvolver a capacidade
de degradar contaminantes após longo período de exposição. Nesta técnica,
o contaminante permanece no local e a descontaminação ocorre através de
processos físicos, químicos e biológicos naturais, como volatilização, diluição,
sorção e biodegradação. É bem conhecida e ocorre naturalmente através de
bactérias e fungos, estando limitada pela disponibilidade de nutrientes, composição
e abundância das comunidades microbianas, salinidade, temperatura, concentração
de oxigênio dissolvido, a distribuição e natureza do contaminante. Normalmente,
ocorre de maneira muito lenta, exigindo o monitoramento do local em longo prazo,
visando à proteção da saúde humana e ambiental (TONINI; REZENDE; GRATIVOL,
2010). Não obstante, em poucos casos as condições naturais do local contaminado
fornecem todas as substâncias essenciais, em quantidades suficientes, para que a
biorremediação possa ocorrer sem a intervenção humana (ANDRADE; AUGUSTO;
JARDIM, 2010). A biorremediação natural é a única técnica que só apresenta custo
com o monitoramento da área contaminada.

1.3.2 Bioestimulação
A bioestimulação consiste na ativação dos microrganismos nativos por meio da
adição de nutrientes e/ou surfactantes, aumentando sua população, promovendo
o crescimento e, consequentemente, o aumento da atividade metabólica na
degradação de contaminantes. Esta técnica tem por objetivo aumentar o número
ou estimular a atividade dos microrganismos degradadores da comunidade indígena
de uma determinada região contaminada, via adição de receptores de elétrons,
nutrientes ou doadores de elétrons (MOREIRA, 2013). A bioestimulação pode ser
realizada tanto in situ quanto ex situ, entretanto, só é eficaz quando há populações
microbianas degradadoras no substrato (TONINI; REZENDE; GRATIVOL, 2010).

Técnicas de aplicação de nutrientes têm se mostrado eficientes para a


despoluição de ambientes aquáticos contaminados com petróleo. Experimentos de
campo demonstraram um aumento de 5 a 10 vezes nas taxas de degradação. No
entanto, existem dúvidas sobre os efeitos em longo prazo, uma vez que as taxas de
degradação em áreas tratadas e não tratadas tendem a se equalizar com o tempo
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

1.3.3 Bioaumentação
A bioaumentação pode ser adotada para melhorar o potencial biodegradador
de um ambiente contaminado com a adição de populações de microrganismos
degradadores autóctones (que já estão presentes naquele ambiente), ou de

68 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

organismos degradadores ou mediadores de biodegradação estranhos ao sistema


(alóctones), repicados em laboratório (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

A técnica de bioaumentação consiste na adição de culturas


bacterianas com comprovada atividade degradadora dos
poluentes a um local, garantindo que o consórcio adequado de
microrganismos estará presente em suficientes tipos, número e
compatibilidade a fim de metabolizar o poluente de forma eficaz.
Esta técnica pode ser utilizada tanto in situ quanto ex situ, sendo
particularmente importante para tratamentos in situ, quando não
há populações microbianas indígenas capazes de degradar o
contaminante. (TONINI; REZENDE; GRATIVOL, 2010, p. 1).

Na utilização dos microrganismos alóctones esses devem possuir um alto nível


de atividade enzimática, capacidade de competir com a população nativa do solo
contaminado, não podem ser patogênicos e não devem produzir substâncias tóxicas
durante o processo de biodegradação.

Apesar de ser a técnica mais eficiente, a bioaumentação é a que possui maior


custo em relação à biorremediação natural, adição de nutrientes, bioventilação e
fitorremediação. Seu custo é mais alto em virtude da identificação, seleção, cultivo
dos microrganismos.

A utilização da bioaumentação em solos é justificada pela necessidade de uma


rápida biodegradação do composto poluente, e a redução do período de adaptação
que normalmente antecede o processo de degradação pelos microrganismos
autóctones (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

O emprego desta técnica depende, primeiramente, da concordância e da


autorização de órgãos governamentais e de agências de fiscalização ambiental.
A aprovação da bioaumentação como estratégia de biorremediação depende de
vários fatores, dentre os quais, os tipos de microrganismos utilizados e a área de
aplicação.

O produto biotecnológico deverá ser devidamente avaliado e liberado pelo órgão


competente de controle ambiental. Antes de sua utilização, deve ser identificado,
caracterizado e testado em sua toxicidade, ecotoxicidade, eficiência/eficácia para
atingir os objetivos pretendidos e inocuidade ao ambiente; os microrganismos
aplicados devem ser avaliados caso a caso, sendo específicos para promover a
biodegradação total dos contaminantes presentes na área de interesse, até gás
carbônico e água, sem acúmulo de subprodutos e metabólitos, e os microrganismos
aplicados devem atuar em sinergismos com as espécies indígenas do local, sem
interferir nos processos biogeoquímicos naturais.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 69


U2

1.3.4 Landfarming
Esta é uma das técnicas mais empregadas para a remediação de solos
contaminados por petróleo. É muito utilizada em locais remotos, por não necessitar
o uso intensivo de equipamentos, sendo uma das opções de menor custo. Abaixo,
temos uma boa definição deste conceito:

O sistema de landfarming é aplicado para o tratamento da fase


sólida de solos contaminados e pode ser realizado in situ ou
ex situ (BOOPATHY, 2000). Nesta técnica, os microrganismos
da camada superficial do solo são estimulados a degradar os
poluentes transformando-os em substâncias inertes como CO2
e água, por meio do revolvimento do solo e uso de aração,
além da adição de nutrientes e, se necessário, de irrigação,
bioaumentação e surfactantes (DOELMAN&BREEDVELK, 1999,
citado em JACQUES et al. 2007, JORGENSEN et al. 2000).
(TONINI; REZENDE; GRATIVOL, 2010, p. 1).

É uma técnica que tem como princípio a aplicação do contaminante em forma


líquida ou sólida na camada superior do solo (arável) para posterior degradação
biológica. Os rejeitos são incorporados ao solo por meio da aração e gradagem. O
solo é disperso formando uma superfície de pequena espessura. No entanto, são
necessários ajustes nas condições do solo para maximizar a atividade biológica. Em
solos de landfarming de resíduos petroquímicos (LEONEL et al., 2010).

1.3.5 Bioventilação ou Bioventing


Consiste no tratamento de solo contaminado através da passagem de oxigênio
pelo solo para estimular o crescimento e a habilidade da microbiota do solo para
degradar compostos naturais ou xenobióticos, haja vista que o fator metabólico
mais crítico no processo de biorremediação é o oxigênio. O ar injetado na zona não
saturada do solo fornece aos microrganismos condições adequadas de transporte
de oxigênio, de forma que a degradação possa ocorrer de maneira eficiente e por
longos períodos.

É uma técnica muito utilizada nos tratamentos in situ devido à quantidade de


oxigênio ser limitada nos ambientes subsuperficiais, o que impede os microrganismos
de se reproduzirem e degradarem completamente o contaminante-alvo (ANDRADE;
AUGUSTO; JARDIM, 2010). As vantagens dessa técnica são o custo relativamente
baixo, a possibilidade de utilização de concentrações maiores de suprimento de
oxigênio do que a saturação que o ar proporciona, e a não persistência no ambiente.
As desvantagens são a toxicidez aos microrganismos e a rápida decomposição em
ambientes subterrâneos.

70 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

1.3.6 Compostagem

A compostagem é uma ação biológica de decomposição da matéria orgânica


presente em restos de origem animal ou vegetal. Ocorre por ação de agentes
microbianos e, portanto, precisa de condições físicas e químicas adequadas para
que o composto orgânico final seja de boa qualidade. Esta técnica requer a adição
de material que favoreça o aumento da porosidade e a transferência de oxigênio,
bem como forneça, ao sistema, uma fonte de energia capaz de beneficiar um
rápido crescimento microbiano. Os materiais, comumente, adicionados na
compostagem são: palha, grama, folhas, bagaço de cana, serragem ou esterco.
Uma das características do processo é que o calor, gerado metabolicamente, se
mantém preso ao sistema, provocando o aumento de temperatura e mudanças na
sua população microbiana.

Esta técnica é realizada ex situ por microrganismos aeróbios. Na compostagem,


o substrato contaminado é removido do local de origem e colocado em pilhas, que
podem ou não possuir aeração, e é realizado o controle da lixiviação e também o
escoamento superficial dos líquidos provenientes dessas pilhas (TONINI; REZENDE;
GRATIVOL, 2010).

Para o emprego desta técnica, inicialmente o solo é escavado e, em seguida,


preparado e colocado em biopilhas, onde é feita a estimulação da atividade
microbiana através de aeração, da adição de nutrientes e do aumento da umidade
do solo, com o propósito de promover a biodegradação dos contaminantes de
interesse (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

Esta técnica de biorremediação apresenta como principal vantagem a


possibilidade de maior controle das condições físicas, biológicas e químicas da
matriz contaminada e, consequentemente, a obtenção de cinéticas de reação mais
rápidas e a redução do tempo de degradação do contaminante quando comparado
ao processo de atenuação natural. Particularmente, quando as condicionantes do
meio são bem controladas, as biopilhas têm sido bastante eficientes na redução da
concentração de compostos derivados de petróleo presentes em solos. A maior
limitação desta técnica está relacionada à remoção do solo contaminado, tendo em
vista que o processo de tratamento ocorre no modo ex situ. Essa prática também
apresenta a desvantagem de que a remoção do solo deve ser realizada com todos
os cuidados para que não ocorra a propagação da contaminação para outros meios,
inicialmente os não afetados, como o ar e as águas, aoa exemplo do que ocorreria
durante a remoção de solos contaminados com substâncias voláteis (ANDRADE;
AUGUSTO; JARDIM, 2010).

O produto resultante da compostagem pode ser considerado como um


enriquecedor do solo, ou seja, poderá ser aplicado para melhorar as características
do mesmo, sem que haja uma contaminação do meio ambiente. É importante

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 71


U2

salientar que a técnica pode ser utilizada para a degradação de derivados de


petróleo. Nesse caso, o processo denomina-se biopilha, sendo o produto final não
necessariamente empregado na agricultura, a não ser no caso da comprovação da
ausência de toxidez do resíduo.

1.3.7 Biorreatores
Os biorreatores são utilizados para biorremediar líquidos ou suspensões
contaminadas ex situ. Neste método, o material contaminado é transportado até
o biorreator, onde ocorrerá a degradação, e misturado com água formando uma
suspensão, com 5% a 50% de sólidos. Esta suspensão é agitada mecanicamente,
aumentando a aeração, a homogeneidade dos poluentes e sua disponibilidade aos
microrganismos.

Parâmetros físicos e químicos, como pH, disponibilidade de


nutrientes, aeração e temperatura são ajustados para a máxima
produção de biomassa, sendo possível, ainda, bioaumentar
o substrato. Após a redução dos contaminantes aos níveis
desejados, a suspensão é desidratada e a água pode ser reutilizada
no biorreator. A técnica possui a vantagem de degradar poluentes
de maneira muito rápida. Deve-se, entretanto, considerar que
quantidade de substrato tratado é limitada pelo tamanho dos
biorreatores; em alguns casos, é necessário o pré-tratamento
do substrato para remoção de compostos tóxicos aos
microrganismos; além do custo elevado, devido à alta tecnologia
empregada (TONINI; REZENDE; GRATIVOL, 2010, p. 1).

1.3.8 Contenção hidráulica e tratamento (pump and treat


and reinjection)

O método, também conhecido como pump and treat, é utilizado para o tratamento
de águas subterrâneas, consistindo no seu bombeamento para a superfície,
procedendo-se a descontaminação ex situ e posteriormente, pela reinjeção da
água tratada (BOOPATHY, 2000). Neste caso, a combinação de biorremediação ex
situ pump and treat com remediação in situ (injeção de nutrientes e O2) permite a
biorremediação in situ.

72 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Figura 2.2 - Estação de tratamento de águas subterrâneas, sistema pump and treat

Fonte: Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/departmentofenergy/7631763562>. Acesso em: 05 jan. 2014.

O objetivo da captação da água é capturar a pluma de contaminação, tratar as


águas subterrâneas e, posteriormente, descartá-las ou reintroduzi-las no aquífero. A
biorremediação é considerada finalizada quando a concentração dos contaminantes
atinge níveis aceitáveis pela legislação. Este método não recupera a água para
padrões de consumo.

1.4 Fitorremediação

A fitorremediação é uma técnica in situ, que faz uso de plantas e comunidades


microbianas associadas à rizosfera para degradar, isolar ou imobilizar poluentes
no solo e nas águas subterrâneas. As plantas podem atuar sobre diversos tipos de
contaminantes. A técnica tem por base a fisiologia vegetal, a bioquímica do solo e a
química dos contaminantes, promovendo a reabilitação da estrutura e da ecologia
do solo, aumentando a quantidade de carbono orgânico, a porosidade e a infiltração
de água no solo, reduzindo a erosão. As plantas também mantêm a estrutura do
solo, garantindo trocas gasosas e o desenvolvimento dos microrganismos, inclusive
os biorremediadores (MARQUES; AGUIAR; SILVA, 2011). Como as raízes modificam

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 73


U2

as condições químicas, físicas e biológicas do solo, elas estimulam a microbiota


existente no local e os processos químicos que acarretam o aumento da degradação.
Figura 2.3 - Método de fitorremediação chamado de “controle hidráulico”. Este
método reduz o movimento de águas subterrâneas contaminadas para áreas limpas.

Fonte: Disponível em:<http://www.isfoundation.com/sites/default/files/images/fitorremed-img1.jpg>.


Acesso em: 10 nov. 2014.

Tendo em vista que nem todas as espécies vegetais desenvolvem-se em


ambientes contaminados, o primeiro passo é a identificação das espécies que, além
de apropriadas às condições locais, sejam tolerantes ao contaminante.

As plantas atuam direta ou indiretamente na remediação ambiental por meio de


diferentes mecanismos básicos, que conferem capacidade de:

a) Sequestro e acúmulo de contaminantes inorgânicos tóxicos nos


tecidos vegetais, particularmente em vacúolos, seguido de colheita e
disposição final;

b) Absorção e precipitação de contaminantes encontrados em águas


poluídas (rizofiltração);

74 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

c) Redução da biodisponibilidade por meio da estabilização


(fitoestabilização);

d) Degradação de contaminantes orgânicos, com transformação


dependente das enzimas nos tecidos vegetais ou na superfície das raízes
(fitodegradação);

e) Volatilização de contaminantes extraídos do solo e do lençol freático


(fitovolatilização);

f) Estabelecimento de condições favoráveis à atividade microbiana da


rizosfera no solo, promovendo a biodegradação dos contaminantes pelos
microrganismos (rizodegradação). (MARQUES; AGUIAR; SILVA, 2011, p. 4).

Em um estudo de fitorremediação de solo contaminado por herbicida, Santos


et al. (2006) utilizaram diferentes densidades de feijão-de-porco, por apresentar
as características necessárias como espécie remediadora, além de servir como
adubo verde. Obtiveram uma eficiente remediação do solo com densidade
populacional mínima de 20 plantas m2. Segundo os mesmos autores, a maior
densidade populacional de plantas em uma determinada área pode proporcionar
maior volume de raízes e de solo explorado, o que resulta em um incremento da
absorção e degradação. No entanto, a desvantagem dessa técnica é a dependência
do ciclo vital da planta, dificultando a visualização dos resultados, e também o fato
de possivelmente fazer parte da cadeia alimentar, aumentando os danos ambientais
(LEONEL et al., 2010).

Apresenta também a dificuldade de utilização em alguns tipos de solos


contaminados com grande mistura de compostos químicos, onde há uma dificuldade
em selecionar uma planta resistente para este conjunto de substâncias. Porém, a
eficiência desta técnica é obtida utilizando-se plantas que possuam determinadas
características, como uma boa capacidade de absorção, sistema radicular profundo,
acelerada taxa de crescimento, fácil colheita e que apresentem uma grande
resistência ao poluente (COUTINHO; BARBOSA, 2007).

As principais barreiras encontradas para a utilização desta técnica são a mobilidade


dos contaminantes na cadeia alimentar, a liberação dos contaminantes pela excreta
dos animais e madeira, a incerteza sobre a destinação do material vegetal colhido na
área remediada, a real profundidade da zona de tratamento alcançada pelas plantas,
e a dependência das estações do ano e do clima (MARQUES; AGUIAR; SILVA, 2011).
Além disso, esta técnica é influenciada pelo pH, salinidade, textura e porosidade do
solo, pelo clima e pelo tipo e concentração dos poluentes.

Contudo, a fitorremediação é uma técnica de custo relativamente baixo, traz


vantagens estéticas e não gera impactos adicionais.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 75


U2

Figura 2.4 - Tratamento de águas contaminadas por fitorremediação

Fonte: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/Biorremediacion_Tratamiento_de_aguas_


de_un_canal_contaminado.JPG> Acesso em: 10 nov. 2014.

1.5 Fatores que influenciam a eficiência e aplicabilidade


da biorremediação

A degradação biológica de compostos orgânicos é alcançada com eficiência


somente em condições naturais favoráveis, que proporcionem interações otimizadas
entre o microrganismo e o solo, entre o microrganismo e o contaminante, assim
como a relação mútua dos microrganismos entre si.

Muitos fatores ambientais de natureza física, química e biológica influenciam na


capacidade de um sistema microbiano de biodegradar uma molécula. Dentre eles,
a estrutura química da molécula, o tamanho e a presença de grupos funcionais
determinam o comportamento do composto no ambiente, como no solo, as rotas
metabólicas e a absorção por microrganismos. Outros fatores, como temperatura,
pH, características físicas, biodisponibilidade do composto, presença de metais
pesados e a quantidade de microrganismos e a adaptação da microbiota também
são importantes nesse processo (LEONEL et al., 2010).

76 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Os principais parâmetros físicos que influenciam na degradabilidade são:


natureza física da matriz onde o composto é encontrado (solo, água, sedimento),
temperatura e luz. Por exemplo, ambientes complexos, tais como solos e
sedimentos, têm a propriedade de, através da atração de cargas opostas,
adsorver moléculas, diminuindo, desta maneira, a biodisponibilidade do poluente
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Você sabe quais são os principais parâmetros que influenciam


a biorremediação de um ambiente contaminado por
xenobióticos?

- Natureza física da matriz

As propriedades físicas dos solos influenciam o transporte do oxigênio e da


água. Nesse caso, para a biorremediação de solos, os conteúdos de água entre 50%
e 80% da capacidade e o teor de O2 dissolvido maior que 1 mg L-1, geralmente,
são ótimos para a atividade microbiológica. É evidente que a estrutura dos solos
também exerce influências significativas sobre as características físico-químicas.
Dependendo da estrutura, mesmo que os solos sejam argilosos, eles podem ter
permeabilidades elevadas. Os latossolos argilosos, por exemplo, que ocupam
extensas áreas no Brasil, apresentam comumente estrutura granular e, desta forma,
elevada permeabilidade (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

Além da presença de argilominerais, muitos compostos orgânicos apresentam


como características físico-químicas baixa solubilidade em água, elevada
afinidade pela matéria orgânica do solo, como os ácidos húmico e fúlvico e,
consequentemente, baixa taxa de transferência de poluentes da fase sólida para a
aquosa. Sendo assim, devido principalmente às características hidrofóbicas, esses
contaminantes tendem a se adsorverem nos coloides do solo, dificultando a ação
de microrganismos e, por conseguinte, inviabilizando a técnica de biorremediação.
Portanto, outra limitação da biorremediação surge devido à baixa disponibilidade
de contaminantes orgânicos, como os HPA e outros hidrocarbonetos de petróleos
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

As áreas contaminadas apresentam um quadro muito variável também no


que se refere às concentrações e distribuição dos contaminantes na matriz do
solo. Pode-se considerar a possibilidade de ocorrência de contaminantes nas
seguintes fases:

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 77


U2

∞∞ Livre, quando existem altas concentrações do contaminante, ou ainda


quando existe produto puro no subsolo;

∞∞ Gasosa ou vapor, quando o contaminante se apresenta como um gás, nas


condições normais do meio ambiente, ou se encontra volatilizado;

∞∞ Adsorvida – quando os contaminantes estão retidos nas partículas do


solo por processos de adsorção, sobretudo em solos com alto teor de
argila ou de matéria orgânica;

∞∞ Dissolvida, quando o contaminante se encontrar dissolvido em


meio aquoso.

- Temperatura

A temperatura é um dos fatores ambientais mais importantes à atividade e à


sobrevivência dos microrganismos. Temperaturas baixas reduzem a fluidez e a
permeabilidade da membrana celular, o que dificulta a penetração dos nutrientes
(e contaminantes). Temperaturas altas estão associadas à alta atividade enzimática
e rápidas razões de biodegradação. Se a elevação da temperatura é muito além
do valor ótimo, proteínas, enzimas e ácidos nucleicos começam a se desnaturar
e tornar-se inativos. A temperatura das águas subterrâneas no Brasil varia entre 20
e 25 °C, sendo um intervalo muito favorável para a biorremediação natural (SILVA
et al., 2002).

A faixa de temperatura ideal para os microrganismos metabolizarem os


contaminantes com eficiência ótima está entre 25 e 30 °C, na qual se encontra a
temperatura média da maior parte dos solos do Brasil contendo áreas degradadas
por contaminação de hidrocarbonetos do petróleo. Analogamente, a atividade
microbiana é bastante comprometida em temperaturas abaixo de 10 °C e acima de
45 °C. Esta é uma excelente característica para a utilização de biorremediação em
solos tipicamente brasileiros e, portanto, reforça a probabilidade da implantação
dessa técnica em números maiores de locais contaminados. Além disso, verifica-
se que a temperatura do solo varia diariamente nas proximidades da superfície, em
solos com baixa densidade de cobertura vegetal.

Abaixo de 50 cm, a variação da temperatura dos solos é pouco significativa.


Por outro lado, a presença da vegetação sobre a área contaminada também afeta
muitos atributos físicos dos solos, incluindo estrutura, porosidade, condutividade
hidráulica e taxa de infiltração (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

- pH adequado

Enzimas são polímeros de aminoácidos, e a sua atividade requer o grau correto


de protonação do aminoácido, o que é controlado pelo pH. O pH ótimo da água

78 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

subterrânea é usualmente próximo do valor neutro, que é de 7,0, mas muitos


microrganismos presentes nos aquíferos podem ser ativos no intervalo de pH entre
5,0 e 9,0. A água subterrânea é quase sempre tamponada dentro deste intervalo.
No entanto, aquíferos contaminados por rejeitos municipais (esgoto, dejetos
industriais etc.) podem conter elevada concentração de ácido orgânico e com
isto o pH ser reduzido a 3,0 ou menos. Nestes casos, o pH pode representar um
problema ambiental para as bactérias endógenas (SILVA et al., 2002).

A faixa ideal de pH para que os microrganismos tenham atividade máxima


é entre 6,5 e 8,5. O valor do pH do meio reacional deve ser mantido próximo
da neutralidade, no qual há o predomínio de bactérias e de fungos no local
contaminado. Por outro lado, quando há diminuição do valor do pH, por exemplo,
em função dos subprodutos ácidos gerados durante a biorremediação, sugere-
se que se faça imediatamente a correção do pH do solo, caso contrário, a
eficiência do processo poderá ser diminuída consideravelmente. Normalmente,
essa correção é feita por meio de “calagem”, processo através do qual se aplica
calcário ao solo, objetivando neutralizar a acidez e, então, propiciar condições
para o desenvolvimento de plantas e de microrganismos. Salienta-se, porém, que
nos solos ácidos o desenvolvimento dos microrganismos é bastante reduzido,
principalmente das bactérias fixadoras do nitrogênio atmosférico, além de tornar
o fósforo de difícil aproveitamento pelos vegetais. Nesta situação, embora a
biodegradação de hidrocarbonetos de petróleo seja, na maioria das vezes,
realizada por bactérias, pesquisas mostram que a utilização de fungos é uma
opção considerada bastante viável. Esses microrganismos têm sido mais eficientes
que as bactérias para agirem em condições ambientais adversas, como em valores
extremos de pH (menor que 5 e maior que 10), em concentrações limitadas de
nutrientes e em solos com teores reduzidos de umidade (ANDRADE; AUGUSTO;
JARDIM, 2010).

- Ausência de substâncias tóxicas

Alguns contaminantes podem estar presentes no aquífero em altas


concentrações, os quais são capazes de inibir a atividade microbiana. Por exemplo,
não é comum para microrganismos encontrarem nos aquíferos metais tóxicos
como: Pb, Hg, Cd e Cr. Análises de laboratório feitas com amostras de gasolina
brasileira não apresentaram nenhuma substância bactericida (SILVA et al., 2002).

Metais pesados, quando presentes, podem interagir com enzimas produzidas


pelos microrganismos, inibindo a sua atividade e, por conseguinte, a capacidade
degradativa destes. Por outro lado, concentrações adequadas de metais que têm
ação de cofatores enzimáticos podem melhorar a capacidade degradativa do meio.
A presença de outros compostos xenobióticos de estrutura simples pode também
dificultar o metabolismo de moléculas mais complexas, pois a comunidade

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 79


U2

microbiana direcionaria seu metabolismo para degradar, preferencialmente, os


menos complexos (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

- Estrutura Química do Contaminante

A biodegradação é mais provável quando a estrutura química do xenobiótico


é semelhante à estrutura de moléculas naturais. Por exemplo, existe uma grande
diversidade de moléculas naturais com estruturas complexas, tais como a lignina,
rica em anéis benzênicos - estrutura moIecular natural mais abundante na biosfera
depois da glicose -, os esteroides, os terpenos e compostos halogenados naturais,
que ocorrem em grande abundância e são normalmente metabolizados por
microrganismos no ambiente. As enzimas que catabolizam a degradação de
compostos naturais podem apresentar baixa especificidade pelo seu substrato e,
desta maneira, os xenobiótícos com estrutura química semelhante a compostos
naturais podem ser reconhecidos pelo sítio ativo da enzima, possibilitando,
assim, que sejam quimicamente transformados. Quando o xenobiótico tem a
possibilidade de percorrer todos os passos catalíticos de uma determinada rota
catabólica enzimática, provavelmente ele se torna uma possibilidade nutritiva para
o microrganismo, sendo os produtos de sua degradação aproveitados pelo seu
metabolismo construtivo e energético. Porém, quando o composto é apenas
parcialmente degradado, por ação de uma ou mais enzimas de uma rota catabólica
sem que o produto resultante contribua para a sobrevivência do microrganismo,
esta transformação metabólica é denominada de "cometabolismo" (GAYLARDE;
BELLINASO; MANFIO, 2005).

Embora vários contaminantes podem ser metabolizados por microrganismos,


alguns são mais facilmente biodegradados do que outros. No caso dos
hidrocarbonetos de petróleo, por exemplo, muitas áreas contaminadas possuem
uma mistura complexa de compostos orgânicos, sendo que a maioria destas
substâncias, certamente, não é metabolizada na mesma velocidade. Em vez
disso, as taxas de degradação dos diversos compostos que são metabolizados
são diferentes e dependentes de vários fatores. Em especial, a velocidade de
degradação comumente depende da concentração do contaminante e da
quantidade de espécies catalisadoras, como as enzimas geradas on-site pelos
microrganismos (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010). Como exemplo da
influência da estrutura química na degradação de um poluente pode-se citar a
alta persistência de compostos nitroaromáticos no ambiente. Apesar de intensos
esforços, ainda não foram isoladas bactérias capazes de mineralizar muitos dos
nitroaromáticos produzidos pelo homem, como, por exemplo, o TNT (utilizado
em explosivos) e os herbicidas orizalin e trifluralina. Os três compostos apresentam,
em comum, três grupos nitro no anel aromático que dificultam sua mineralização
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

80 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Nos anos 60-70, sérios impactos ambientais foram causados pelo


elevado grau de persistência de detergentes no ambiente. Espessas
camadas de espumas se acumulavam nos rios, acarretando grande
mortandade de peixes. Pesquisas biológicas mostraram que a sua
alta persistência no ambiente estava relacionada à presença de três
grupos metilas na molécula. Um novo desenho químico da molécula,
em que foram retirados os grupos metilas, permitiu o aumento da
biodegradabilidade destes detergentes sintéticos, diminuindo, desta
maneira, o impacto ambiental!

- Microrganismos Degradadores

A biodegradação de um composto químico no meio ambiente depende,


sobretudo, da presença de uma população de microrganismos capaz de metabolizar
a molécula original e seus produtos de degradação. Não existem, na biosfera atual,
rotas enzimáticas catabólicas capazes de degradar todos os compostos novos
que a cultura humana sintetizou durante os últimos 100 anos. Sabe-se, entretanto,
que alguns xenobióticos podem ser biodegradados por microrganismos que
possuam enzimas capazes de catabolizar moléculas específicas, ou mesmo
pela ação conjunta de consórcios microbianos, em que cada microrganismo
atua individualmente sobre diferentes etapas do processo de biodegradação
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005). Trocas de material genético podem
ocorrer entre microrganismos na natureza e constituem outro fator que contribui
para o potencial biodegradador de uma comunidade. Muitas rotas catabólicas
de compostos complexos estão localizadas no genoma plasmidial. PIasmídeos
podem ser trocados entre bactérias de uma mesma espécie, ou mesmo entre
microrganismos de espécies diferentes, através de mecanismos de conjugação
ou transformação de células naturalmente competentes (células com capacidade
de assimilar DNA exógeno na natureza). Estes processos de intercâmbio de
material genético favorecem a disseminação de genes, e, consequentemente, a
disseminação potencial de enzimas relacionadas ao metabolismo catabólico de
uma molécula recalcitrante (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Outro ponto importante para o entendimento da atuação desta infinidade


de microrganismos é a íntima relação destes com o substrato necessário para
seu crescimento, e a possibilidade de degradação e oxidação do mesmo. Existe
influência da área de superfície e a porosidade que determinam a biodisponibilidade
dos compostos, o mesmo ocorre com os teores de matéria orgânica e nutrientes

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 81


U2

que estimulam a biomassa e, dessa forma, o potencial de degradabilidade (LEONEL


et al., 2010). A atividade e a população microbial estão fortemente associadas com
os conteúdos de água e de nutriente nos solos, com as espécies de plantas e
com os tipos de contaminantes. Além disso, a atividade microbiológica é afetada,
sobretudo, pelo valor do pH e pela temperatura dos solos. Todavia, mesmo
quando o meio é totalmente acondicionado ao cultivo dos microrganismos, a
biodegradação pode ser afetada, principalmente devido à capacidade intrínseca
de cada microrganismo de metabolizar uma substância qualquer (ANDRADE;
AUGUSTO; JARDIM, 2010). Mesmo que um sistema microbiano porte todos
os requisitos bioquímicos e genéticos necessários para a degradação de um
xenobiótico, se as características físico-químicas e componentes nutricionais
do meio não condizem com as necessidades metabólicas do microrganismo, a
biodegradação não ocorrerá (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

- Surfactantes

No processo de biorremediação in situ ocorre a utilização de produtos derivados


do metabolismo de fungos e bactérias, denominados biossurfactantes. Estes são
denominados compostos anfipáticos capazes de diminuir a tensão superficial e
interfacial entre dois líquidos, além de apresentar alta capacidade emulsificante,
podendo facilitar a biodegradação, atuando na biodisponibilidade de determinados
compostos com baixa solubilidade em sistemas aquosos. No entanto, a utilização
de biossurfactantes constitui um fator limitante no processo de biorremediação,
por apresentar um alto custo de produção (LEONEL et al., 2010).

Nesse contexto, a quantidade de catalisador presente, de certa forma, representa


o número de microrganismos hábeis em metabolizar o contaminante, bem como
a quantidade de enzimas produzidas por cada célula. Então, qualquer fator que
afete a concentração do contaminante, o número de microrganismos presentes
ou a quantidade de enzimas específicas, pode aumentar ou diminuir a velocidade
da biodegradação do contaminante. A utilização de um agente tensoativo pode
minimizar essas dificuldades e aumentar a eficiência da biorremediação, haja
vista que os problemas relativos à baixa solubilidade em água, elevada adsorção
e baixa transferência dos hidrocarbonetos para a fase aquosa são minimizados. A
maior eficiência na biorremediação de solos contaminados com hidrocarbonetos
de petróleo pode ser alcançada empregando-se surfactantes. Estes compostos
diminuem a tensão superficial entre a fase aquosa (na qual normalmente ocorre
a degradação do contaminante) e a fase orgânica (na qual o contaminante se
encontra inicialmente presente), favorecem a dessorção e, consequentemente,
aumentam a solubilidade dos contaminantes. Os surfactantes, como o dodecil
sulfato de sódio, são capazes de emulsificar e aumentar a solubilidade dos
contaminantes hidrofóbicos, tornando-os mais acessíveis aos microrganismos
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

82 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

O sucesso da biorremediação em derramamentos de petróleo depende da


capacidade de estabelecer e manter as condições (através do monitoramento
geoquímico), favorecendo a maior biodegradação do óleo no ambiente
contaminado (LIMA; OLIVEIRA; CRUZ, 2011). Esta tecnologia parte da premissa de
que grande parte dos componentes do petróleo é biodegradável na natureza, onde
os microrganismos utilizam como principal fonte de carbono os hidrocarbonetos
em seus processos metabólicos, podendo ocorrer em condições anaeróbias e
aeróbias (LIMA; OLIVEIRA; CRUZ, 2011).

A habilidade em degradar hidrocarbonetos não é restrita a apenas gêneros


específicos de microrganismos, pois vários grupos de bactérias, fungos, algas e
algumas cianobactérias têm mostrado possuir essa capacidade (LIMA; OLIVEIRA;
CRUZ, 2011).

1. Quais medidas devemos adotar em uma área contaminada para


estimular a biorremediação in situ?

2. É muito frequente a contaminação do solo com compostos


agroquímicos, que podem ser altamente tóxicos aos seres vivos
e, geralmente, com grande persistência ambiental. O sucesso da
biorremediação de defensivos agrícolas por meio de microrganismos
depende da presença ou introdução de microrganismos
degradadores, e também da densidade desta microbiota presente
no solo. Na seleção de um microrganismo para a biorremediação
de pesticidas o microrganismo deve ser:

(a) Capaz de realizar trocas genéticas com a microbiota local.

(b) Apto a absorver o contaminante sem alterá-lo quimicamente.

(c) Microrganismo autóctone (do próprio ambiente).

(d) Capaz de metabolizar o contaminante, liberando subprodutos


menos tóxicos ou atóxicos.

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 83


U2

84 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Seção 2

Inovações e perspectivas no uso da


biorremediação

Os baixos custos envolvidos nas transformações bioquímicas in situ, além da


possibilidade de redução ou até mesmo de eliminação total dos contaminantes,
são condições que favorecem a atratividade das técnicas de biorremediação. Esses
fatores atualmente têm sido considerados como os principais responsáveis pelas
vastas aplicações e inovações surgidas na área de remediação de solos mediada por
microrganismos.

Figura 2.5 - Comparação entre os custos do tratamento de solos empregando diferentes


técnicas de remediação

Fonte: Gaylarde, Bellinaso e Manfio (2005)

A maioria das inovações envolvendo a biorremediação de solos, ao contrário


de diversas técnicas ligadas à degradação de compostos orgânicos, não está
relacionada com o desenvolvimento de novas técnicas analíticas e de novos
equipamentos empregados para o monitoramento ambiental e para a identificação
desses compostos, mas sim focado no desenvolvimento de novos reagentes,
que têm sido produzidos com o objetivo de serem utilizados in situ para acelerar

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 85


U2

e melhorar a eficiência da biorremediação. Além disso, as inovações nessa área


também estão direcionadas ao estudo biotecnológico, envolvendo a geração de
organismos geneticamente modificados, desenvolvidos com o intuito de degradarem
contaminantes específicos em diferentes nichos ecológicos (ANDRADE; AUGUSTO;
JARDIM, 2010).

As atividades biológicas dos solos são vitais para a restauração de solos


contaminados com hidrocarbonetos de petróleo. Muitas espécies de microrganismos
dos solos conseguem metabolizar derivados do petróleo reduzindo-os em CO2
e H2O, produtos de sua completa mineralização. Neste caso, cerca de 50% da
matéria orgânica é incorporada à biomassa e os outros 50% são transformados em
dióxido de carbono. Dessa forma, o total do contaminante consumido pode ser
quantificado através da geração de CO2. Assim, o processo de biodegradação pode
ser acompanhado por cromatografia gasosa, mediante a dosagem deste composto,
utilizando detectores por condutividade térmica ou de infravermelho não dispersivo
(ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

A seguir, vantagens da biorremediação sobre os métodos de remediação


convencional em área degradada por contaminantes de petróleo:

• Não utiliza água natural tratada e não se remove os compostos


atóxicos da água, procedimentos necessários no tratamento
convencional de superfície;

• Não interfere nas operações que já estão sendo realizadas, podendo


ser utilizada em locais de difícil acesso;

• Pode ser usada (in situ) em conjunto com o bombeamento


(remediação convencional), reduzindo possibilidades de contaminação
para os trabalhadores;

• Microrganismos agem na redução dos contaminantes de


petróleo transformando-os em subprodutos menos nocivos ao meio.
(BIORREMEDIAÇÃO, 2014).

As novas pesquisas sobre biodegradação priorizam os pesticidas mais tóxicos


à vida selvagem em agroecossistemas suscetíveis à contaminação. Os principais
aspectos abordados nesta linha de pesquisa são:
∞∞ Biodegradação de herbicidas e fungicidas;

∞∞ Enzimas microbianas envolvidas no processo de biodegradação;

∞∞ Tecnologia da rizosfera - uso de rizobactérias promotoras do crescimento


de plantas em biorremediação.

86 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Como vimos até aqui, a biorremediação é uma alternativa


acessível e ambientalmente correta. No seu entendimento,
por que esta técnica ainda tem sua utilização tão restrita no
Brasil e mesmo no mundo?

No Brasil e no mundo, o uso de técnicas de biorremediação é ainda restrito


principalmente à ocorrência de graves acidentes ambientais. O desenvolvimento
de pesquisas com biorremediação pode gerar novas tecnologias ou aperfeiçoar
aquelas já existentes, o que é essencial para o incremento de novos projetos de
descontaminação ambiental tanto de solos, quanto de outros ambientes. Neste
sentido, o Brasil, um país com extensas áreas agrícolas, deve avançar tanto no uso
correto dos agroquímicos, quanto na degradação destes em solos e águas, visando
à descontaminação dos mesmos e à geração de alimentos mais seguros para o
consumo (LEONEL et al., 2010).

No momento, a maior limitação da tecnologia de biorremediação é a necessidade


de maior entendimento dos processos e seus controles. Entre os fatores críticos
para a aplicação com sucesso da biorremediação estão:

∞∞ Suscetibilidade do contaminante considerado à degradação;

∞∞ Presença de populações microbiológicas apropriadas e em quantidades


suficientes para promover uma taxa de degradação adequada;

∞∞ Condições geoquímicas intrínsecas, como o pH, temperatura, potencial de


oxirredução, para o crescimento dos microrganismos de interesse;

∞∞ Biodisponibilidade do contaminante;

∞∞ Geração de subprodutos que sejam menos tóxicos que os produtos


primários (por exemplo, o tricloroeteno gera o cloreto de vinila, que é mais
nocivo);

∞∞ Capacidade do meio de sustentar atividade biológica.

Contudo, o processo de biorremediação tem sido intensamente pesquisado e


recomendado pela comunidade científica atual como uma alternativa viável para o
tratamento de ambientes contaminados, tais como águas superficiais, subterrâneas
e solos, além de resíduos e efluentes industriais em aterros ou áreas de contenção
(GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005).

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 87


U2

2.1 Detecção de microrganismos e genes de degradação


no ambiente e utilização de OGMs
A manipulação genética de microrganismos para fins de biorremediação
objetiva o aumento da taxa de degradação de poluentes, ou mesmo a degradação
de compostos que não são passíveis de degradação por microrganismos
não modificados, sendo inseridos genes que codifiquem enzimas catabólicas
específicas para a molécula-alvo.

A introdução de microrganismos, sejam eles organismos geneticamente


modificados (OGMs) ou não, e/ou a utilização de estratégias que favoreçam o
aumento de populações microbianas específicas em um dado ambiente para
fins de biorremediação, requerem, necessariamente, a adoção de práticas de
monitoramento microbiológico voltadas para a detecção e/ou quantificação de
microrganismos e/ou dos genes introduzidos no ambiente.

Este tipo de prática pode ter diferentes objetivos, ligados direta ou indiretamente
à atividade de degradação desejada (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005):

∞∞ Quantificar a população dos microrganismos de interesse, ligados ao


processo de degradação do poluente ou xenobiótico;

∞∞ Avaliar a disseminação de OGMs e não OGMs introduzidos no ambiente;

∞∞ Avaliar a possibilidade de transferência dos genes para comunidades


microbianas locais, e, ainda;

∞∞ Fornecer informações valiosas para avaliação de possíveis impactos


ambientais da introdução ou do favorecimento de populações específicas,
refletido em alterações na composição e estrutura de comunidades
microbianas naturais do sítio.

Diferentes estratégias podem ser adotadas para a realização destes


monitoramentos. Os métodos experimentais utilizados podem ser divididos,
basicamente, em dois grandes grupos, de acordo com a abordagem que é
empregada (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO, 2005):
∞∞ Métodos baseados em isolamento e cultivo: o monitoramento é realizado
utilizando-se protocolos convencionais de microbiologia, baseados no
isolamento dos microrganismos da amostra ambiental e inoculação em
meios de cultivo seletivos e/ou não seletivos, avaliando os resultados
através do crescimento de colônias em placas de Petri ou em ensaios de
diluição utilizando tubos múltiplos, e;

∞∞ Métodos independentes de cultivo: o monitoramento de linhagens


microbianas e/ou de grupos microbianos específicos na amostra é
realizado através da análise de células e/ou ácidos nucleicos extraídos da
amostra, utilizando-se sondas moleculares para genes determinados ou
a amplificação destes por metodologias de PCR.

88 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Ficou curioso sobre os riscos que a introdução de OGMs pode causar


ao ambiente? Você encontrará no link abaixo um texto que trata da
“Avaliação de impacto ambiental de microrganismos geneticamente
modificados”. Acesse e saiba mais!
<http://docsagencia.cnptia.embrapa.br/agriculturaMeioAmbiente/
Castro_avaliacao.pdf>.

Dependendo da estratégia de biorremediação utilizada, do tipo de amostra


e ambiente-alvo, os métodos de cultivo podem ser facilmente empregados e
fornecer parâmetros adequados para avaliação das populações de microrganismos
biodegradadores e aspectos gerais das populações microbianas na amostra. No
caso de ambientes e estratégias de biorremediação onde populações microbianas
altamente diversificadas são favorecidas (alta diversidade de espécies envolvidas
no processo), onde existam fatores limitantes ao cultivo, como presença de
compostos recalcitrantes altamente tóxicos ou amostras de difícil coleta e
manipulação (subsolo, aquíferos profundos, resíduos industriais tóxicos), em casos
onde os OGMs introduzidos não são diferenciáveis de populações naturais por
cultivo, os métodos baseados em isolamento e cultivo não são adequados para
o monitoramento. Nestes casos, o uso de métodos independentes de cultivo
pode representar uma alternativa mais eficaz e eficiente para o monitoramento.
Os métodos independentes de cultivo, por sua vez, permitem a detecção e
monitoramento tanto dos microrganismos específicos como dos genes de
degradação relacionados ao processo de biorremediação (GAYLARDE; BELLINASO;
MANFIO, 2005).

2.2 Etapas de implementação de um processo de


Biorremediação

Os projetos de biorremediação de ambientes contaminados visam


fundamentalmente impedir, reduzir ou eliminar a contaminação dos aquíferos
subterrâneos, evitando o contato dos seres humanos com o contaminante e
preservando o meio ambiente de uma forma geral. O órgão ambiental competente
exigirá da parte responsável as investigações necessárias para viabilizar a tomada
de decisão quanto à natureza e à extensão das medidas remediadoras de áreas
contaminadas, nas quais, devido à variabilidade das ações exigidas, dependendo
do caso, é indicado um procedimento gradual, em função da natureza, do grau de
disseminação ou da quantidade de contaminantes. A investigação para remediação

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 89


U2

consistirá de diversas etapas operacionais, com seus aportes específicos para que
um resultado conclusivo e compreensível seja alcançado.

O fator crítico para definir se a biorremediação é a técnica mais apropriada para


o tratamento do local contaminado é a biodegradabilidade do contaminante. Por
isso, o estudo detalhado de cada parâmetro que afeta a biodegradação deve ser
feito cautelosamente pelos responsáveis do projeto de remediação (ANDRADE;
AUGUSTO; JARDIM, 2010).

É necessária uma caracterização do tipo e da quantidade do poluente, bem


como avaliações de natureza biológica, geológica, geofísica e hidrológica do
sítio contaminado. As avaliações biológicas ocorrem, em primeira instância, em
laboratório, e têm como objetivo a otimização da biodegradação do composto.
Elas compreendem os testes de bioestimulação, pela adição de nutrientes e/
ou surfactantes, e os testes de bioaumentação, pela adição de culturas de
microrganismos biodegradadores ou mediadores. Porém, devido à complexidade
desta biotecnologia, cuja eficiência envolve vários fatores, muitos problemas de
difícil equacionamento podem surgir no decorrer do processo. Entre os principais
problemas encontrados na aplicação de processos de biorremediação estão:

• A poluição geralmente envolve vários compostos, de diferentes


classes químicas, requerendo a seleção e utilização de diferentes
microrganismos com metabolismo específico para os diferentes
poluentes;

• Quando as concentrações dos poluentes são baixas, os


microrganismos podem não produzir as enzimas necessárias; quando são
muito altas, os microrganismos podem ser inibidos;

• Alguns dos poluentes presentes podem ser incompatíveis com o


processo de biodegradação implementado;

• Alguns compostos são rapidamente adsorvidos pelo solo,


sedimento e/ou água, diluindo-se abaixo do nível exigido para a ativação
da biodegradação, contudo permanecendo ainda em concentrações
acima da desejável;

• A taxa da biorremediação pode ser muito baixa, resultando em


um processo de longa duração. (GAYLARDE; BELLINASO; MANFIO,
2005, p. 30).

O conhecimento das condições geotécnicas e hidrogeológicas do meio


ambiente é necessário para a avaliação das interações solo-contaminante,
capacidade de biodegradação, identificação de zonas saturadas e não saturadas,

90 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

identificação de heterogeneidades e definição das condições de transporte do


contaminante. A forma de ocorrência refere-se à distribuição da contaminação nas
fases do solo, que exigem técnicas diferentes para seu tratamento. A presença em
zonas saturadas e não saturadas é necessária para avaliação do risco e utilização
de técnicas específicas para cada uma delas.

A escolha da técnica a ser utilizada em uma área contaminada depende de


diversos fatores, tais como:

∞∞ Localização e extensão da área contaminada;

∞∞ Condições geotécnicas locais;

∞∞ Condições hidrogeológicas locais;

∞∞ Forma de ocorrência da contaminação (fases dos compostos,


concentração);

∞∞ Ocorrência em áreas saturadas e não saturadas;

∞∞ Características químicas e físicas dos contaminantes, incluindo a


biodegradabilidade e sua caracterização como miscíveis ou não miscíveis
e, no segundo caso, se são LNAPLs ou DNAPLs;

∞∞ Identificação dos riscos envolvidos para a população local baseada em


um sistema de análise de riscos;

∞∞ Viabilidade técnica e econômica e aspectos legais para implantação de


um sistema de remediação.
Os resultados da avaliação de risco e das investigações básicas e
complementares do local possibilitarão ao responsável dividir a área contaminada
em áreas específicas, a serem tratadas com técnicas e processos diferentes. Além
da importância de se definir a técnica a ser empregada, uma etapa preliminar de
diagnóstico da área contaminada também se faz necessária, pois permite que os
profissionais responsáveis pela remediação decidam, por exemplo, pelo uso de
processos adicionais para acelerar a biorremediação ou, em alguns casos, para
promover a atenuação natural monitorada. Por ser uma tecnologia complexa, sua
implementação deve compreender etapas como o estudo do ambiente, do tipo
de contaminante, dos riscos e da legislação pertinente.

O profissional responsável pela reabilitação da área deve apresentar uma


caracterização completa do local contaminado, identificando os tipos de
contaminantes presentes, a delimitação da pluma de contaminação e uma
avaliação correta do passivo ambiental existente não apenas na área visível, mas
também no subsolo. Essas informações detalhadas são fundamentais para que se

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 91


U2

possa avaliar corretamente o risco de se utilizar essa área para qualquer que seja o
fim (ANDRADE; AUGUSTO; JARDIM, 2010).

Os testes de toxicidade também são necessários para a avaliação dos efeitos


adversos de agentes químicos sobre a biota terrestre e aquática, e possibilitam
a avaliação dos impactos de poluentes para organismos do solo e dos corpos
receptores. Estes podem ser realizados para avaliar o potencial de bioacumulação
do contaminante, fornecendo informações de toxicidade e biodisponibilidade,
podendo ser uma importante ferramenta no auxílio do monitoramento de
áreas degradadas. Nos testes de ecotoxicidade são utilizados organismos-teste
terrestres, de águas continentais, estuarinas e marinhas que ficam expostos aos
contaminantes sob condições controladas.

1. As tecnologias de biorremediação são uma área promissora


dentro da microbiologia aplicada. Neste contexto, assinale a
opção CORRETA.

a) A biorremediação é uma alternativa bastante promissora para


a recuperação de áreas contaminadas, no entanto seus custos
são mais elevados do que os métodos de descontaminação
químicos ou físicos.

b) Uma das grandes restrições ao uso da biorremediação


está no fato de que, uma vez estimulada sua proliferação, os
microrganismos biorremediadores não retornam aos níveis
normais após a recuperação das áreas atingidas.

c) Ao se empregar a biorremediação, espera-se obter a


decomposição da matéria poluente e a formação de produtos
inócuos.

d) As condições ambientais não são relevantes ao processo de


biorremediação, mas sim as concentrações do contaminante
disponível aos microrganismos degradadores.
2. Como pode ser feito o monitoramento dos
microrganismos degradadores introduzidos no ambiente?

92 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Nesta unidade você aprendeu que:

• Um ambiente é considerado contaminado quando os níveis de


poluentes são considerados acima do ambiente nativo.

• O processo de biorremediação compreende a utilização de


tecnologias que utilizam seres vivos ou seus componentes
para reduzir os contaminantes a níveis aceitáveis, ou mesmo
eliminando-os completamente do ambiente, através de sua
degradação ou neutralização.

• As tecnologias de biorremediação podem ser executadas in situ,


quando ocorre no local contaminado, ou ex situ, quando o solo
ou água contaminada são removidos e levados para um local
específico para o tratamento.

• Diversos fatores físicos, biológicos e químicos influenciam na


capacidade de um sistema microbiano de degradar uma molécula.

• Para implementar um processo de biorremediação precisamos


considerar a natureza do composto contaminante, as características
ambientais do local contaminado, o tempo requerido para que a
biorremediação ocorra, bem como os fatores econômicos.

Como aprendemos nesta unidade, a biorremediação se trata


da incrementação de um processo biológico que já ocorre
naturalmente. O uso de tecnologias que utilizam processos
biológicos para o tratamento de ambientes contaminados é
normalmente mais barato em relação às alternativas químicas e/
ou físicas, e recebe grande aceitação pública. Além disso, uma
grande quantidade de contaminantes é passível de degradação
biológica, sem apresentar riscos ao meio ambiente. Esta técnica
se consolidou como uma tecnologia inovadora na remediação
de áreas degradadas na década de 80. Contudo, ainda apresenta

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 93


U2

limitações em sua utilização no Brasil. Para que esta prática seja


mais difundida e utilizada, se faz necessária a realização de novos
estudos, que possibilitem o estabelecimento de limites permissíveis
de várias substâncias químicas e na avaliação dos impactos de
poluentes para organismos do solo e corpos hídricos, assim como
dos corpos receptores.

1. Em relação às técnicas de biorremediação, relacione as


colunas:

(a) Bioaumentação

(b) Bioestimulação

(c) Landfarming

(d) Fitorremediação

( ) Tratamento da fase sólida de solos contaminados, onde os


microrganismos da camada superficial do solo são estimulados
a degradar os poluentes, transformando-os em substâncias
inertes como CO2 e água.

( ) Faz uso de plantas e comunidades microbianas associadas


à rizosfera para degradar, isolar ou imobilizar poluentes no
solo e nas águas subterrâneas.

( ) Ativação dos microrganismos nativos por meio da adição


de nutrientes e/ou surfactantes, aumentando sua população,
promovendo o crescimento e, consequentemente, o aumento
da atividade metabólica na degradação de contaminantes.

( ) Adição de culturas bacterianas com comprovada atividade


degradadora dos poluentes a um local, garantindo que o
consórcio adequado de microrganismos estará presente
em suficientes tipos, número e compatibilidade a fim de
metabolizar o poluente de forma eficaz.

94 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

2. A biodegradação de compostos orgânicos somente é


alcançada com eficiência em condições naturais favoráveis.
Com relação aos fatores que influenciam esta biodegradação,
assinale nas afirmações abaixo (V) para verdadeiro e (F) para falso:

( ) A faixa de temperatura ideal para os microrganismos


metabolizarem os contaminantes com eficiência ótima está entre
25 e 30°C, e a atividade microbiana é bastante comprometida
em temperaturas abaixo de 10°C e acima de 45°C.

( ) A ausência de oxigênio no meio contaminado impede que


ocorra a biodegradação dos compostos orgânicos.

( ) Os principais parâmetros físicos que influenciam na


degradabilidade são a natureza física da matriz onde o composto
é encontrado, a natureza do contaminante, a concentração do
contaminante, a temperatura e a luz.

( ) A biodegradação é mais provável quando a estrutura química


do xenobiótico é semelhante à estrutura de moléculas naturais.

3. A biorremediação tem como objetivo principal a mineralização


completa dos contaminantes, transformando-os em produtos
com pouca ou nenhuma toxicidade. Assinale a alternativa
INCORRETA em relação à tecnologia de biorremediação:

(a) Biossurfactantes são produtos derivados do metabolismo de


fungos e bactérias capazes de facilitar a biodegradação;

(b) Cada processo de biorremediação é particular e necessita


de adequações e otimização para aplicação em diferentes
ambientes contaminados;

(c) A biorremediação é definida como um processo que ocorre


naturalmente, em que bactérias utilizam o contaminante como
fonte de carbono para seu metabolismo;

Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos 95


U2

(d) Os microrganismos nativos da subsuperfície dos solos podem


desenvolver a capacidade de degradar contaminantes após
longo período de exposição.

4. Qual são as necessidades de se monitorar os microrganismos


inseridos ao ambiente em processos de biorremediação?

5. Quais são as principais etapas de implementação de um


processo de biorremediação?

96 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


U2

Referências

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tmcocean.com.br/pdfs/Produtos/Artigos_periodicos/62_ToniniRezende.pdf>.
Acesso em: 05 jan. 2015.

98 Tecnologia de biorremediação em ambientes terrestres e aquáticos


Unidade 3

TECNOLOGIAS PARA
TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO
FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Rosimeire Midori Suzuki Rosa Lima

Objetivos de aprendizagem: O objetivo central desta unidade é levá-lo


a compreender a importância da destinação adequada dos resíduos sólidos,
e apresentar as principais tecnologias de tratamento e disposição final para
os resíduos.

Seção 1 | Tecnologia de tratamento e disposição final


dos resíduos sólidos urbanos e dos resíduos da
construção civil
Esta unidade está dividida em quatro seções. A primeira traça um
panorama dos resíduos sólidos urbanos no Brasil, principalmente no que
se refere à quantidade produzida, às formas de tratamento e disposição
final, além de abordar questões relacionadas ao tratamento e disposição
de resíduos da construção civil.

Seção 2 | Tecnologia de tratamento e disposição final dos


resíduos industriais e de resíduos de serviços de saúde

Na seção 2 são apresentadas tecnologias de disposição e tratamento


de resíduos industriais, além de apresentar a descrição das principais
alternativas tecnológicas de disposição e tratamento para os resíduos
sólidos de serviços de saúde.
U3

100 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Introdução à unidade

Atualmente, pode-se dizer que a produção e a destinação dos resíduos sólidos


são um problema que atinge todas as nações.

O foco da preocupação está relacionado principalmente à produção de


resíduos sólidos e nas consequências da falta de gerenciamento sobre a saúde
humana e sobre a qualidade do meio ambiente. Resíduos sólidos variam tanto em
termos de composição como de volume, a depender das práticas de consumo e
dos métodos de produção.

Atualmente, o aumento do volume de resíduos representa um problema para o


seu gerenciamento. Dentre os fatores que contribuíram para este aumento estão o
crescimento da população e o aumento da geração per capita de resíduos. Neste
cenário, encontrar solução para a destinação/tratamento para estes resíduos se
torna um dos principais desafios.

Os resíduos são produzidos pelas atividades humanas. Dar tratamento e


destino adequado a esta quantidade de resíduos tem sido um grande desafio aos
responsáveis pelo gerenciamento dos resíduos sólidos. Torna-se cada vez mais
necessário o planejamento para a gestão desses resíduos, que carece de prévio
conhecimento sobre a quantidade e características dos resíduos gerados. A partir
destas informações é que é possível definir a melhor solução para, posteriormente,
estimar o reaproveitamento e mesmo a energia que poderá ser aproveitada a partir
dos mesmos.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 101


U3

102 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Seção 1

Tecnologia de tratamento e disposição final


dos resíduos sólidos urbanos e dos resíduos
da construção civil
A gestão integrada e o gerenciamento adequado dos resíduos são objetivos da
Política Nacional de Resíduos Sólidos. É necessário adotar medidas preventivas para
evitar a degradação do ambiente.

Nesta seção vamos compreender melhor a problemática relacionada aos


resíduos sólidos urbanos e resíduos da construção civil, e as tecnologias disponíveis
para seu tratamento.

A educação ambiental é essencial para a gestão integrada dos


resíduos sólidos de uma cidade. Como podemos contribuir
para aumentar a conscientização da população em relação à
importância da redução da geração de resíduos?

1.1 Tecnologia de tratamento e disposição final dos


resíduos sólidos urbanos

Uma das dificuldades do gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos é a


heterogeneidade na sua composição, que depende do seu local de produção, dos
hábitos e da cultura da população. Outros fatores que alteram a sua composição
são a incidência de matéria orgânica, o teor de umidade e a presença de materiais
recicláveis.

Conforme a classificação da norma técnica NBR 10.004:2004, os resíduos


sólidos urbanos enquadram-se como resíduos não perigosos e não inertes, ou
seja, resíduos Classe II-A.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 103


U3

Apesar dos possíveis tratamentos para os resíduos sólidos, quer seja da fração
orgânica ou de materiais recicláveis, haverá uma porção que não poderá ser
aproveitada como matéria-prima em outros processos e que será destinada a um
aterro sanitário. Esta fração dos resíduos é denominada de “rejeito”, de acordo com
a Lei federal 12.305/2010. Rejeitos são definidos como:

[...] resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as


possibilidades de tratamento e recuperação por processos
tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não
apresentem outra possibilidade que não a disposição final
ambientalmente adequada. (BRASIL, 2010).

A destinação dos resíduos sólidos urbanos para aterros sanitários é uma prática
antiga no Brasil. Outras alternativas utilizadas no gerenciamento de resíduos
sólidos urbanos são os lixões e aterros controlados, porém são destinações
ambientalmente inadequadas.

A grande preocupação da utilização de lixões e aterros controlados são os


passivos ambientais decorrentes da sua operação, que perduram por muitos anos
após o seu encerramento, inviabilizando a utilização de grandes áreas por longos
períodos. Além disso, existe grande resistência por parte da população em aceitar
a instalação de aterro sanitário próximo às suas residências, devido ao fato de que
um aterro sanitário, dependendo das condições operacionais, pode vir a causar
impactos ambientais ao solo, à atmosfera e aos corpos hídricos locais.

A incineração é uma alternativa de tratamento para os resíduos sólidos urbanos,


no entanto há diversos aspectos limitantes à sua utilização, como o teor de
umidade e o tipo de materiais presentes na composição dos resíduos. De acordo
com Tangri (2003), existe muita resistência quanto ao uso dos incineradores para
destinar os RSU, principalmente devido ao fato do processo de incineração produzir
substâncias altamente tóxicas e de alto potencial cancerígeno para o homem.

Pelo que foi exposto sobre os aterros sanitários e a incineração, verifica-se que
estas duas formas de destinação final carecem de soluções para estas limitações
ainda existentes.

A Constituição Federal brasileira prevê que cabe aos municípios a


responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos-RSU. O Brasil
conta com um grande número de municípios de pequeno porte, com grande
dificuldade de viabilizar a implantação de aterros sanitários devido aos custos
elevados. Uma solução é o encaminhamento dos resíduos para uma destinação
conjunta, que pode ser viabilizada por meio de um consórcio intermunicipal,

104 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

instituído pela Lei federal nº 11.107, de 2005 (BRASIL, 2005).

No Brasil ainda há um longo caminho a ser percorrido em relação a uma gestão


integrada dos resíduos sólidos, que não devem ser vistos somente como algo a ser
retirado ou simplesmente jogado fora. Deve-se considerar o seu reaproveitamento
em outros processos. Esta visão ainda é pouco aceita e entendida pelos gestores
públicos. A Lei federal n. 12.305/2010, que institui a Política nacional de resíduos
sólidos no Brasil, define resíduos sólidos como:

material, substância, objeto ou bem descartado resultante de


atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se
procede, se propõe a proceder ou se está obrigado a proceder,
nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d'água, ou
exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível. (BRASIL, 2010).

Infelizmente, no Brasil são escassos


os dados referentes à produção
de resíduos sólidos, o que dificulta
estudos no setor. De acordo com a Lei
12.305/2010, somente os rejeitos
Temos como principais fontes é que devem ser dispostos em
de dados e referência bibliográfica o aterros sanitários.
diagnóstico do manejo de resíduos
sólidos urbanos-2012 (BRASIL, 2014),
publicado pelo Ministério das Cidades, e o Panorama dos resíduos sólidos no Brasil,
publicado anualmente pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública
e Resíduos Especiais, a ABRELPE (ABRELPE, 2013). Além destes documentos,
temos a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico - PNSB, realizada pelo IBGE no
ano 2000.

De acordo com dados do Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil


(ABRELPE, 2013), a geração de RSU no ano de 2013 totalizou uma produção de
aproximadamente 209.280 milhões de toneladas, equivalendo a um crescimento
de 4% em relação ao ano de 2012, que teve uma produção anual próxima dos
201.058 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos (ABRELPE, 2013), como
demonstrado na Tabela 3.1.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 105


U3

Tabela 3.1 - Quantidade de RSU gerados no Brasil

2012 2013

Regiões RSU Gerado População RSU Gerado Índice (Kg/


(t/dia)/ Total (hab.) (t/dia)/ hab./dia)
Índice (Kg/
hab./dia)

Norte 13.754 / 0,841 17.013.559 15.169 0,892


Nordeste 51.689 / 0,959 55.794.707 53.465 0,958
Centro-Oeste 16.055 / 1,113 14.993.191 16.636 1,110
Sudeste 98.215 / 1,204 84.465.570 102.088 1,209
Sul 21.345 / 0,770 28.795.762 21.922 0,761
BRASIL 201.058 / 1,037 201.062.789 209.280 1,041
Fonte: ABRELPE (2013, p. 41)

Observa-se na Tabela 3.1 crescimento da geração per capita de resíduos, que


passou de 1,037 kg/pessoa/dia em 2012, para 1,041 kg/pessoa/dia no ano de 2013,
demonstrando a necessidade urgente da conscientização da população para a
redução do consumo neste contexto. É que a não geração de resíduos está na
hierarquia da gestão dos resíduos sólidos estabelecida pela política nacional.

Os dados do diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos-2012 (BRASIL,


2014) foram obtidos por meio de entrevistas a 3.043 dos 5.570 municípios
brasileiros, que resultaram numa taxa de resposta de 54,6% com base de dados
do ano de 2012, dividida em seis faixas de acordo com o porte populacional dos
municípios, sendo: até 30 mil habitantes, de 30.001 a 100.000 habitantes, de
100.001 a 250.000 habitantes, de 250.001 a 1.000.000 de habitantes, de 1.000.001
a 3.000.000 de habitantes e acima de 3.000.001 habitantes (BRASIL, 2014).

A Tabela 3.2 apresenta dados do diagnóstico do manejo de resíduos sólidos


urbanos-2012 (BRASIL, 2014). Verificou-se que os valores médios vão de 0,81 kg/
hab./dia na região Sul até 1,17 kg/hab./dia na região Nordeste.

Ressalta-se que os resultados encontrados por região apresentam a incidência


dos menores valores per capita (kg/hab./dia) nas regiões mais desenvolvidas
economicamente do país, a Sudeste e a Sul, onde se obtém os seguintes resultados:
0,96 e 0,81kg/hab./dia, respectivamente, enquanto nas demais regiões o mesmo
índice ultrapassa 1,0kg/hab./dia.

106 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Tabela 3.2 - Massa coletada de resíduos sólidos urbanos RSU per capita dos
municípios participantes do SNIS-RS 2012, em relação à população urbana,
segundo região geográfica

Região Quantidade Massa coletada per


de municípios capita Kg/hab./dia)

Norte 160 1, 10
Nordeste 631 1,17
Centro-oeste 223 1,04
Sudeste 1.095 0,96
Sul 835 0,81
Total - 2012 2.944 1,00
Total – 2011 1.991 0,96
Total – 2010 1.465 0,93
Fonte: Brasil (2014, p. 35)

Como já mencionado, a quantidade gerada e a caracterização dos resíduos


sólidos urbanos são muito importantes para o gerenciamento dos resíduos,
principalmente no que se refere à sua destinação. A Figura 3.1 apresenta o
percentual de RSU coletado em cada região no Brasil. Observa-se que a região
Sudeste gera 52,4%, a maior parcela do total produzido no país, e a região Norte
com 6,4%, a menor.
Figura 3.1 - Participação das regiões do país no Total de RSU Coletado

Fonte: ABRELPE (2013, p. 29)

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 107


U3

Observa-se na Figura 3.1 que a região que apresenta maior incidência de


produção de resíduos sólidos é a mais populosa, e também onde se concentram
as grandes regiões metropolitanas, e a mais industrializada.

Sabe-se que a produção de RSU é diferente de uma cidade para outra. De acordo
com dados do diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos-2012 (BRASIL,
2014), cidades com população de 30.001 até 100 mil habitantes produzem em
média 0,87 kg de RSU por habitante/dia, este valor corresponde a aproximadamente
67% da produção de RSU per capita diária em relação às cidades com população
maior de 1.000.000 milhão de habitantes, que produzem em média 1,29 kg por
habitante a cada dia (BRASIL, 2013), conforme a Tabela 3.3.

Tabela 3.3 - Geração de RSU no Brasil - 2012

Faixa Quantidade Kg/Habitante/dia


populacional de municípios

Até 30 mil habitantes 2240 0,83


De 30.001 a 461 0,87
100.000 habitantes
De 100.001 a 146 0,86
250.000 habitantes
De 250.001 a 1.000.000 81 0,94
de habitantes
De 1.000.001 a 14 1,29
3.000.000 de habitantes
Acima de 3.000.001 2 1,16
de habitantes
Total – 2012 2.944 1,00
Total – 2011 1991 0,96
Total -2010 1465 0,93

Fonte: Brasil (2014, p. 44)

Os resultados apresentados na Tabela 3.3 evidenciam a diferenciação da


produção de RSU entre municípios de pequeno porte e os de grande porte.
Cidades maiores apresentam nível de desenvolvimento econômico maior que
os municípios de pequeno porte, ou seja, o poder de compra é mais elevado e,
consequentemente, a geração per capita é maior.

A complexidade do gerenciamento dos resíduos ocorre justamente devido


ao montante de resíduo produzido, e que para tal deve-se dar destinação

108 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

ambientalmente adequada, o que exige emprego de tecnologia que possibilite


o tratamento deste grande volume de resíduos. O consórcio intermunicipal,
como já mencionado, é uma alternativa que viabiliza economicamente soluções
para destinação de resíduos sólidos para municípios principalmente de pequeno
porte. Desta forma, os resíduos gerados nas cidades consorciadas são tratados
em conjunto, possibilitando a destinação adequada. A Tabela 3.4 apresenta dados
sobre a destinação dos RSU produzidos no Brasil.
Tabela 3.4 - Quantidade de municípios por tipo de destinação
adotada – 2012 e 2013

Quantidade de municípios por tipo de destinação adotada – 2013

Destinação Norte Nordeste Centro- Sudeste Sul BRASIL


Final-2013 Oeste

Aterro
92 453 161 817 703 2.226
Sanitário
Aterro Con-
111 504 148 645 367 1.775
trolado
Lixão 1.569
247 837 158 206 121

BRASIL 450 1.794 467 1.668 1.191 5.570

Quantidade de municípios por tipo de destinação adotada – 2012


Destinação Centro-
Norte Nordeste Sudeste Sul BRASIL
Final-2012 Oeste
Aterro
90 450 157 814 702 2.213
Sanitário
Aterro
110 505 149 643 366 1.773
Controlado
Lixão 249 839 160 211 120 1.579
BRASIL 449 1.794 466 1.668 1.188 5.565
Fonte: ABRELPE (2013, p. 44)

Em análise à tabela 3.4 é possível afirmar que houve aumento da quantidade


de municípios que encaminham seus RSU para aterros sanitários, que passou
de 2.213 em 2012 para 2.226 em 2013, ou seja, um aumento de 13 municípios.
Observa-se ainda que houve um aumento de dois municípios de 2012 para 2013
que encaminharam seus resíduos para aterro controlado, e de 10 municípios que
deixaram de encaminhar seus resíduos para lixões.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 109


U3

Ainda de acordo com a Tabela 3.4, em 2013, 1.569 municípios encaminharam


seus resíduos para lixões, o que representa 28% dos municípios brasileiros.

A forma inadequada de disposição final desses resíduos resulta em prejuízo à


qualidade de vida da população e ao meio ambiente. Nos chamados “lixões” são
descartados vários tipos de resíduos sólidos diretamente no solo, sem qualquer
forma de controle, facilitando a proliferação de vetores, gerando diversos impactos
ambientais, poluindo as águas superficiais, subterrâneas, o ar e o solo.

Ressalta-se que as regiões compostas por cidades de médio e grande porte


contam com maiores investimentos para a destinação ambientalmente adequada
dos seus resíduos. Conclui-se que a situação da destinação dos resíduos sólidos é
pior nas cidades de pequeno porte, devido a uma somatória de fatores, dentre eles
a falta ou insuficiência de investimentos em infraestrutura para o tratamento de
seus resíduos. No entanto, a quantidade gerada é menor, o que consequentemente
reduz o potencial dos impactos decorrentes do seu mau gerenciamento.

De acordo com a Lei federal 12.305/2010, que institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos-PNRS, a disposição final ambientalmente adequada é definida
como sendo

[...] a distribuição ordenada de rejeitos em aterros, observando


normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos
ambientais adversos. (BRASIL, 2010).

Apesar das regiões mais desenvolvidas receberem mais investimentos para a


gestão dos resíduos sólidos, incluindo seu tratamento, este não é suficiente. O que
vemos é uma grande quantidade de resíduos sendo destinada a lixões e aterros
controlados, apesar da proibição imposta pela Lei 12.305/2010.

1.1.1 Resíduos sólidos urbanos:


características e classificação
Resíduos sólidos urbanos, de acordo com a Lei federal 12.305/2010, englobam
os resíduos domiciliares e os resíduos de limpeza urbana, que são aqueles originários
da varrição, limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza
urbana (BRASIL, 2010).

• Características dos Resíduos Sólidos Urbanos

Como já estudamos, a composição dos RSU varia de região para região, a


depender das suas características e quantidade gerada. Tal fato está vinculado ao

110 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

nível econômico, costumes, estilo de vida, o clima etc., o que torna necessária a
caracterização periódica visando a atualização dos dados e a adequação do sistema
de gerenciamento dos resíduos sólidos.

As características dos RSU podem ser resumidas em três grupos: características


biológicas, químicas e físicas, sendo que esta última é a que mais interfere no
dimensionamento do sistema de coleta e disposição final. Já as características
biológicas permitem avaliar o potencial de degradação dos RSU, e as propriedades
químicas possibilitam a avaliação do processo de tratamento e técnicas mais
adequadas de disposição final.

Com relação às propriedades físicas, chamamos a atenção para a importância da


composição gravimétrica dos resíduos, para sua gestão e gerenciamento.

Destaque: A caracterização gravimétrica dos RSU é de primordial


importância para o gerenciamento dos resíduos sólidos.

De acordo com a norma técnica NBR 10.007/2004, a caracterização gravimétrica


é: “a determinação dos constituintes e de suas respectivas percentagens em peso
e volume, em uma amostra de resíduos sólidos, podendo ser físico, químico e
biológico”.

A caracterização dos resíduos sólidos urbanos é importante em todas as etapas


do gerenciamento, desde a coleta até a destinação final. É importante também para
direcionar a escolha do tipo de destinação dos resíduos, bem como para dimensionar
a quantidade de RSU produzido em cada setor/região da cidade.

Segundo Soares (2011, p. 11),

[...] o conhecimento da composição gravimétrica permite


uma avaliação preliminar da degradabilidade, do poder de
contaminação ambiental, das possibilidades de reutilização,
reciclagem, valorização energética e orgânica dos resíduos
sólidos urbanos. Sendo, portanto, de grande importância na
definição das tecnologias mais adequadas ao tratamento e
disposição final dos resíduos.

Sabe-se que a incidência de matéria orgânica na composição do RSU em locais


menos desenvolvidos socioeconomicamente é maior se comparada com locais
mais desenvolvidos. No Brasil, especificamente, esta incidência varia entre 50% e
60%, ou seja, alto teor orgânico.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 111


U3

O percentual de matéria orgânica na composição dos RSU no Brasil


varia entre 50% e 60. Alto teor orgânico.

1.1.2 Tratamento dos resíduos sólidos urbanos

Os sistemas de tratamento dos RSU estão vinculados às etapas anteriores, de


segregação, coleta e transporte.

• Compostagem

No Brasil, o sistema de compostagem é bastante atrativo, tendo em vista o alto


teor orgânico na composição dos RSU.

Os processos de compostagem, quando não precedidos de um sistema de


coleta seletiva, apresentam baixa eficiência.

A compostagem pode ocorrer com ou sem a separação prévia. A melhor


situação é quando ocorre a separação na fonte geradora. Em uma central de
compostagem, onde os resíduos da coleta domiciliar são descarregados de
caminhões compactadores, ou seja, sem pré-seleção, a qualidade dos materiais fica
comprometida devido à contaminação.

Para D’Almeida e Vilhena (2000), as vantagens do processo de


compostagem são:
∞∞ redução de cerca de 50% dos resíduos sólidos destinados ao aterro;
economia de aterro;

∞∞ aproveitamento agrícola da matéria orgânica;

∞∞ reciclagem de nutrientes para o solo;

∞∞ processo ambientalmente seguro;

∞∞ eliminação de patógenos;

∞∞ economia de tratamento de efluentes.

Ainda de acordo com os autores, dentre as desvantagens da


compostagem estão:

112 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

∞∞ custo elevado de investimento (instalação de usina de triagem


e compostagem);

∞∞ necessidade de estudo de mercado para a utilização do composto;

∞∞ contato direto do trabalhador da usina com o lixo;

∞∞ possível presença de metais pesados no composto;

∞∞ controle rigoroso quanto à qualidade do composto.

A compostagem é um processo de decomposição biológica da matéria orgânica


animal e vegetal. Deste processo resulta um composto orgânico que pode ser
utilizado como nutriente do solo. Considerando a heterogeneidade na composição
dos RSU, é necessário um rigoroso controle dos componentes químicos e micro-
organismos para se obter um composto com qualidade, devido principalmente à
presença de metais pesados, que podem contaminar os solos.

A compostagem pode ser aeróbica, com a presença de oxigênio, ou anaeróbica,


na ausência de oxigênio no processo.

Segundo D’Almeida e Vilhena (2000), há dois métodos para se executar o processo


da compostagem aeróbica. No método chamado “natural”, a fração orgânica
é depositada no pátio, formando pilhas, a aeração é realizada por revolvimentos
periódicos, e o tempo para que o processo se complete leva em média de três
a quatro meses. No método chamado “acelerado” a aeração é forçada através de
tubulações perfuradas que se encontram sob as pilhas de resíduos.

Segundo o IBAM (2001), no processo de compostagem anaeróbica a


decomposição ocorre por microrganismos que podem viver sem a presença
de oxigênio. Já na compostagem aeróbica a decomposição é realizada por
microrganismos que vivem somente na presença de oxigênio.

As chamadas usinas ou centrais de compostagem são instalações que recebem


os resíduos domiciliares, nelas realiza-se a triagem para a separação dos materiais
recicláveis dos outros que não se prestam à compostagem, como pilhas, restos
de roupas, sapatos etc. Após a retirada desses materiais o resíduo é empilhado no
pátio de compostagem, este deve ser impermeabilizado e dotado de drenagem de
efluentes que são encaminhados para um sistema de tratamento. As pilhas passam a
ser revolvidas periodicamente, no processo de cura do composto.

Ao final do processo, o composto é peneirado, neste momento retira-se o que


pode ter ficado de materiais indesejáveis. Este é prensado e enfardado, e armazenado
à espera do transporte.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 113


U3

Compreenda como é o processo da compostagem assistindo ao


vídeo Compostagem: manejo e utilização na agricultura orgânica,
acessando o link: <http://www.youtube.com/watch?v=iuKbr6-rYLI>.

• Incineração

A incineração é um processo que permite a redução do volume dos resíduos por


meio da decomposição térmica.

O processo de tratamento térmico por incineração pode ser empregado para


resíduos sólidos urbanos. Uma das vantagens do processo de incineração é que este
requer menos área do que um aterro sanitário.

De acordo com D’Almeida e Vilhena (2000), dentre as desvantagens deste


processo estão o alto custo para a instalação e operação desse tipo de equipamento
e a exigência de mão de obra qualificada para garantia da qualidade da operação.

O processo de incineração não dispensa a necessidade de aterro para disposição


de cinzas e escórias. Este processo demanda altos investimentos com a instalação
de equipamentos de controle de poluição e sistemas de controle operacional
sofisticados. Para D’Almeida e Vilhena (2000), dentre as vantagens apresentadas pela
incineração, segundo o Manual de Gerenciamento Integrado, estão:

∞∞ a redução de massa e volume a ser descartado, chegando a


representar 90%;

∞∞ a recuperação de parte da energia contida nos resíduos, que pode ser


recuperada para a geração de energia elétrica e/ou vapor d´água;

∞∞ redução do impacto ambiental e urbano com o emprego de novas


tecnologias de limpeza de gases de combustão, em que os níveis de
emissão de poluentes podem ficar abaixo dos observados em processos
de combustão convencionais e, desta forma, contribuir para a diminuição
do efeito estufa;

∞∞ a esterilização dos resíduos através da destruição das bactérias e vírus


presentes nos resíduos; a desintoxicação, que é a destruição de produtos
orgânicos tóxicos.

114 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Por sua vez, Cheng & Hu (2010 apud SOARES, 2011) apresentam, na Tabela 3.5,
algumas vantagens e desvantagens da destinação de RSU para aterro sanitário,
compostagem e incineração.

Tabela 3.5: Comparação das principais opções de tecnologia de tratamento/disposição


dos RSU: aterro, compostagem e incineração

Tecnologia Vantagens Desvantagens

- O custo aumenta
significativamente
com o liner;
-Exige grandes extensões
de terra para sua
implementação;
-Não alcança os
objetivos de redução
do volume dos RSU, e
não são convertidos em
recursos reutilizáveis;
-Solução universal -Se mal operado, pode
que permite a trazer problemas
eliminação dos secundários, como a
resíduos finais; poluição das águas
-Custo relativamente subterrâneas, do ar
baixo e de fácil e do solo;
implementação; -Necessita de cuidados
Aterro -Complementa com pós-encerramento e
Sanitário outras opções de tec- existem incógnitas,
nologia o destino dos como: se há restrições a
resíduos; longo prazo do uso do
-O gás de aterro pode solo
ser um subproduto do local;
para o uso doméstico -A localização do aterro
e industrial. pode ser limitada pela
geologia do local e da
estabilidade natural
do subsolo;
-Devido a não aceitação
pública e à limitação de
espaço, os aterros são
muitas vezes longe dos
locais onde os resíduos
são gerados,
aumentando os custos
com o transporte.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 115


U3

-Ocupa mais espaço do


que algumas tecnologias
de gestão de resíduos;
-Os custos de implemen-
tação e manutenção de
uma usina de
compostagem podem
ser altos;
-Requer a redução do
- Converte materiais
tamanho dos resíduos,
orgânicos em
com isso faz-se necessário
fertilizantes orgânicos;
algum grau de
Compostagem -Reduz a quantidade de
separação dos
resíduos a serem
resíduos/tratamento;
depositados em aterro.
-Existem problemas com
a aceitação pública, devido
à emissão de odores;
-São necessários estudos
mais aprofundados sobre
a qualidade do composto,
devido à presença de
metais nos RSU que
podem contaminar
os solos.

-Alto custo de
implementação em com-
-Fornece a redução paração com as outras
substancial de cerca de tecnologias;
90% no volume de RSU; -Necessidade de
-As cinzas provenientes da qualificação e
incineração são estáveis e experiência do operador;
podem ser usadas em ma- -Equipamentos de controle
teriais da construção civil; de poluição são necessári-
-O calor de combustão os para tratar os gases de
Incineração pode ser usado como fon- combustão, e as cinzas
te de energia para geração precisam ser dispostas em
de vapor e/ou eletricidade; aterros;
-Instalações de incineração -Pode em algum tempo
podem ser localizadas desencorajar a
perto de áreas residenciais, reciclagem e a redução de
reduzindo assim os custos resíduos;
de transporte dos RSU; -A percepção pública é,
por vezes, negativa, princi-
palmente com a emissão
de dioxinas e furanos.

Fonte: Cheng & Hu (2010 apud SOARES, 2011, p. 21)

116 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Para os autores, a tecnologia de incineração representa alto custo de


implementação e pode, em algum tempo, desencorajar a reciclagem.

1.2 Tecnologias de tratamento e disposição de resíduos


da construção civil

A Política Nacional de Resíduos Sólidos-PNRS (BRASIL, 2010) define resíduos da


construção civil-RCC como sendo: aqueles gerados nas construções, reformas,
reparos e demolições de obras de construção civil, incluídos os resultantes da
preparação e escavação de terrenos para obras civis; definição esta compatível
com a dada pela Resolução CONAMA n. 307/2002.

A Resolução CONAMA n. 307/2002 (CONAMA, 2002) estabelece diretrizes para


que os municípios e o Distrito Federal desenvolvam políticas de gestão local para
os RCC.

Conheça quem são os atores envolvidos na gestão dos RCC lendo a


Resolução CONAMA n. 307/2002. <Disponível em: www.mma.gov.br/
port/conama>

Ela define os geradores de resíduos da construção civil-RCC como sendo


pessoas, físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, responsáveis por atividades ou
empreendimentos que gerem resíduos de construção.

Aprofundar o conhecimento: Conheça mais sobre a classificação dos


RCC lendo a Resolução n. 348/2004 do CONAMA (2004).
Aprofundar o conhecimento: Conheça mais sobre a classificação dos
RCC lendo a Resolução n. 431/2011 do CONAMA (2011).

De acordo com a Resolução CONAMA 448/2012 (CONAMA, 2012), os


geradores de RCC devem ter como objetivo prioritário a não geração de resíduos
e, secundariamente, a redução, a reutilização, a reciclagem, o tratamento dos

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 117


U3

resíduos sólidos e a disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, ou


seja, devem adotar a hierarquia de resíduos estabelecida pela Política nacional
de resíduos sólidos-PNRS. A partir de então fica proibido o encaminhamento dos
resíduos da construção para aterros de resíduos sólidos urbanos, em áreas de
"bota fora", em encostas, corpos d'água, lotes vagos e em áreas protegidas por
lei. Estes resíduos, quando não passíveis de aproveitamento imediato, devem ser
enviados para aterros específicos, denominados de aterro de resíduos classe A de
reservação de material para usos futuros.

Conheça mais sobre o gerenciamento dos resíduos da construção civil


estudando o Manual: Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil,
publicado pelo Sinduscon-SP. Disponível em: <http://www.sindusconsp.
com.br/downloads/prodserv/publicacoes/manual_residuos_solidos.pdf>.

Saiba mais sobre a implantação de sistema dos resíduos da construção


civil lendo a publicação MANUAL PARA IMPLANTAÇÃO DE SISTEMA
DE GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO CIVIL EM CONSÓRCIOS
PÚBLICOS. Disponível em: <http:www.mma.gov.br/estruturas/srhu_
urbano/_arquivos/4_manual_implantao_sistema_gesto_resduos_
construo_civil_cp_125.pdf>.

Saiba mais sobre Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da


Construção Civil lendo o Guia para elaboração de projeto de RCC, de
autoria de Rosimeire Suzuki Lima, acessando o site: <http:creaweb.crea-
pr.org.br/WebCrea/biblioteca_virtual/downloads/cartilha
Residuos_baixa.pdf>.

118 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

1.2.1 Classificação dos resíduos da construção civil

A classificação dos RCC no Brasil é estabelecida pela Resolução n° 307/2002


(CONAMA, 2002). Esta resolução classifica os RCC em quatro classes: A, B, C e
D, conforme apresentado no Quadro 3.1. A Resolução n° 348/2004 (CONAMA,
2004) complementa esta classificação incluindo o amianto na classe de resíduos
perigosos, e a Resolução n° 431, de 2011 (CONAMA, 2011), altera a classificação do
gesso da classe C para a classe B. O Quadro 3.1 apresenta a classificação dos RCC.

Quadro 3.1 - Classificação dos RCC segundo a Resolução CONAMA n. 307/2002

Classe de RCC Definição Exemplos

-RCC de pavimentação
e de outras obras de
infraestrutura, inclusive
solos provenientes de
terraplanagem;
-RCC de edificações:
Resíduos reutilizáveis componentes cerâmicos,
Classe A ou recicláveis como argamassa e concreto;
agregados. -resíduos de
processo de fabricação e/
ou demolição de peças
pré-moldadas em
concreto, produzidas no
canteiro de obras.

- plásticos;
- papel/papelão;
Resíduos recicláveis - metais;
- vidros;
Classe B para outros destinos.
-produtos oriundos
do gesso;
- madeiras e outros.

Resíduos para os quais


não foram desenvolvidas
Resíduos sem tecnologia
tecnologias ou
que permitam a
Classe C aplicações economica-
viabilidade econômica da
mente viáveis que
reciclagem.
permitam a sua reci-
clagem/recuperação.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 119


U3

- Tintas, solventes e
Resíduos perigosos óleos;
oriundos do processo de -produtos que
construção, ou aqueles contenham amianto
Classe D contaminados oriundos - RCC de clínicas ra-
de demolições, reformas diológicas, instalações
e reparos de determina- industriais e outros.
das instalações.

Fonte: Adaptado da Resolução 307/2002 do CONAMA (2002)

Você sabia que o gesso mudou de classe? Leia a Resolução 431/2011


do CONAMA: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.
cfm?codlegi=649>.

O isopor integra os RCC, conheça um pouco mais sobre este resíduo


assistindo ao vídeo Isopor pode deixar de ser um resíduo problemático,
disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=7Wap2W45Fso&feat
ure=relmfu>

Conheça as normas brasileiras relacionadas ao manejo


dos resíduos da construção civil

ABNT - NBR 15.112:2004


Resíduos da construção civil e resíduos volumosos. Áreas de Transbordo e
Triagem. Diretrizes para projeto, implantação e operação.

ABNT - NBR 15.113:2004


Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes. Aterros. Diretrizes
para projeto, implantação e operação.

ABNT - NBR 15.114:2004


Resíduos sólidos da construção civil. Áreas de Reciclagem. Diretrizes para
projeto, implantação e operação.

120 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

1.2.2 Tratamento de RCC

As etapas do gerenciamento dos resíduos da construção civil são: não


geração, geração, coleta e transporte, triagem e destinação. A destinação inclui as
possibilidades de reutilização, reciclagem e disposição final no solo.

De acordo com a Lei federal n. 12.305/2010, a definição de reciclagem é o

[...] processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve


a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou
biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos
produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos
pelos órgãos competentes do do Sisnama e, se couber, do SNVS
e do Suasa. (BRASIL, 2010).

O processo da reciclagem contribui significativamente para a manutenção das


fontes de algumas matérias-primas que abastecem a indústria da construção civil.
Os RCC podem ser considerados como jazidas de matérias-primas passíveis de
serem exploradas. Tendo em vista que geralmente as centrais de reciclagem de
RCC encontram-se dentro dos perímetros urbanos, há a facilidade de acesso a esses
materiais, com possibilidade de redução de custos com transporte.

O processo de beneficiamento dos RCC em centrais de reciclagem deve seguir


um fluxo de seleção e descontaminação, trituração em equipamentos apropriados
e expedição dos agregados reciclados (PINTO, 1999).

O Quadro 3.2 apresenta a destinação dos RCC de acordo com a sua classificação:

Quadro 3.2 - Destinação dos RCC

Resíduo Destino Processo previsto


RCC – classe A: alvenaria, Aterro de resíduos da Reservação para
concreto, argamassas etc. construção civil reciclagem futura
RCC – classe A: alvenaria, Aterro de resíduos da Disposição para correção
concreto, argamassas etc. construção civil da topografia original
RCC – classe A: alvenaria, Unidade de Trituração para uso
concreto, argamassas etc. reciclagem em pavimentação
Trituração e classificação
RCC – classe A: concreto Unidade de reciclagem para uso na fabricação
de artefatos

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 121


U3

RCC – classe A: Aterro de resíduos da Reservação para


solo limpo construção civil uso futuro
RCC – classe A: solo sujo Unidade de Peneiração para uso do
recuperação de solos solo limpo
RCC – classe A: asfalto Unidade de Trituração para uso em
reciclagem camadas inferiores da
pavimentação
Reciclagem e reutilização
Usina de PMQ (pré-
RCD – classe A: asfalto em revestimento
misturado a quente)
asfáltico
Comércio de aparas
RCC – classe B: papéis,
ou recicladores já Reciclagem
plásticos, metais etc.
estabelecidos
Alimentação de fornos,
Olarias ou unidades de
RCC – classe B: madeira com ou sem trituração
reciclagem
prévia
Acumulação de grandes
Área de armazenamento cargas para envio a reci-
RCC – classe C: gesso
coberta cladores em municípios
maiores
RCC – classe D: tintas, Disposição sob controle
Aterro especial para
óleos, graxas, solventes e monitoramento per-
resíduos perigosos
etc. manentes
Desmontagem para
Resíduos volumosos: Unidade de desmon-
reciclagem dos compo-
móveis, eletrodomésticos tagem e recuperação de
nentes ou recuperação
e outros bens inservíveis peças
para novo uso
Trituração do material
verde e
Horto florestal, horta compostagem simplifi-
Resíduos volumosos:
municipal ou outro cada, para agregação ao
podas e capinas
tipo de área solo em parques, jardins,
preparo de mudas ou
cultivos diversos
Acumulação de grandes
Resíduos secos da coleta
Área de triagem ou cargas para envio a
seletiva: papel, metal,
armazenamento coberta recicladores em
plástico e vidro
municípios maiores
Resíduos da logística Havendo acordo setorial,
Área de
reversa: pneus, lâmpadas, acumulação das cargas
armazenamento
pilhas e baterias, para disponibilização
coberta
eletroeletrônicos aos fabricantes
Fonte: Brasil (2010b, p. 36)

122 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

De acordo com o Manual para implantação de sistema de gestão de resíduos de


construção civil, em consórcios públicos as áreas de reciclagem de resíduos sólidos
da construção civil devem atender aos seguintes requisitos:

a) somente podem ser aceitos na área de reciclagem os resíduos


da construção civil classe A;
b) os resíduos recebidos devem ser previamente triados, na fonte
geradora, em áreas de transbordo e triagem ou na própria área
de reciclagem, de modo que nela sejam reciclados apenas os
resíduos de construção civil classe A, incluso o solo;
c) a área de triagem, se estabelecida na própria instalação, deve
estar em conformidade com a NBR 15112/2004;
d) os equipamentos e a instalação devem ser dotados de sistemas
de controle de vibrações, ruídos e poluentes atmosféricos;
e) deve ser exigido o controle de entrada dos resíduos recebidos;
a descrição dos resíduos rejeitados e sua destinação; a
descrição e destinação dos resíduos reutilizados; a descrição e
destinação dos resíduos reciclados e o controle da qualidade dos
produtos gerados;
f) os operadores devem manter os CTR recebidos e emitidos para
eventual apresentação de relatório. (BRASIL, 2010b, p. 28).

O Quadro 3.3 apresenta os equipamentos básicos para a reciclagem dos resíduos


após triagem.

Quadro 3.3 - Equipamentos básicos para a reciclagem de RCC

Conjunto de reciclagem constituído por


Reciclagem de alimentador vibratório, britador, transportadores
RCC classe A complementos de correia, separador magnético, peneira
vibratória, quadro de comando e outros.

Conjunto de reciclagem constituído por


Reciclagem de triturador, transportador de correia, separador
madeira magnético, quadro de comando e outros
complementos.

Conjunto de recuperação constituído por grelha


Recuperação de solos vibratória, transportador de correia, quadro de
comando e outros complementos.

Fonte: Brasil (2010b, p. 36)

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 123


U3

Saiba como funciona uma Usina para Reciclagem de Entulho - Globo


News (Cidades e Soluções), disponível em: <http://www.youtube.com/
watch?v=o3ZolIrN17w>.

1.2.3. Disposição final de RCC

De acordo com a Resolução CONAMA n° 307/2002 (CONAMA, 2002), os aterros


para resíduos da construção civil devem visar à “reservação” dos RCC, com a intenção
de sua futura utilização, reservados no menor volume possível, sem causar danos
ambientais ou sanitários. Esta resolução estabelece ainda que os RCC dispostos
ou reservados nesses aterros são os classificados como Classe A, tais como solos
provenientes de terraplenagem, resíduos de componentes cerâmicos, de argamassa e
de concreto. De acordo com esta resolução, os RCC classe A deverão ser reutilizados
ou reciclados na forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterro de resíduos
da construção civil. Já os resíduos da classe B deverão ser encaminhados para áreas
de armazenamento ou disposição temporária, sendo dispostos de modo a permitir
sua utilização ou reciclagem futura. Os da classe C e D devem ser armazenados,
transportados e destinados conforme normas técnicas específicas. Os resíduos
perigosos deverão ser destinados para Aterros de Resíduos Perigosos.

A Resolução n° 448/2012 apresenta a seguinte definição para aterro de resíduos


classe A:

[...] é a área tecnicamente adequada onde serão empregadas


técnicas de destinação de resíduos da construção civil classe A
no solo, visando a reservação de materiais segregados de forma a
possibilitar seu uso futuro ou futura utilização da área, utilizando
princípios de engenharia para confiná-los ao menor volume
possível, sem causar danos à saúde pública e ao meio ambiente
e devidamente licenciado pelo órgão ambiental competente.
(CONAMA, 2012, p. 1).

De acordo com a Resolução CONAMA n° 448/2012 (CONAMA, 2012), os planos


municipais de gestão de resíduos da construção civil devem contemplar a destinação

124 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

adequada para os RCC em áreas devidamente licenciadas e em atendimento às


diretrizes da norma técnica brasileira NBR 15.113/2004 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA
DE NORMAS TÉCNICAS, 2004), que estabelece critérios para elaboração de projeto,
implantação e operação para aterros.

De acordo com o Manual para implantação de sistema de gestão de resíduos


da construção civil em consórcios públicos (BRASIL, 2010b), os aterros de resíduos
sólidos da construção civil e resíduos inertes devem observar os seguintes critérios:

a) somente devem ser recebidos no aterro os resíduos da


construção civil e os resíduos inertes;
b) os resíduos aceitos devem ser previamente triados, na fonte
geradora, em áreas de transbordo e triagem ou em área de
triagem estabelecida no próprio aterro, de modo que nele sejam
dispostos apenas os resíduos de construção civil classe A ou
resíduos inertes;
c) os resíduos devem ser dispostos em camadas sobrepostas
e não será permitido o despejo pela linha de topo. Em áreas
de reservação a disposição de resíduos deve ser feita de forma
segregada, de modo a viabilizar a reutilização ou reciclagem
futura; devem ser segregados os solos, os resíduos de concreto
e alvenaria, os resíduos de pavimentos viários asfálticos e os
resíduos inertes;
d) deve ser mantido na instalação, até o fim da vida útil e
no período de pós-fechamento, um registro da descrição e
quantidade de cada resíduo recebido e a data de disposição,
incluídos os CTR; no caso de reservação de resíduos, indicação
do setor onde o resíduo foi disposto; descrição, quantidade
e destinação dos resíduos rejeitados; descrição, quantidade e
destinação dos resíduos reaproveitados; registro das análises
efetuadas nos resíduos; registro das inspeções realizadas e dos
incidentes ocorridos e respectivas datas; dados referentes ao
monitoramento das águas superficiais e subterrâneas. O registro
deve ser mantido em caso de alteração da titularidade da área
ou empreendimento e para eventual apresentação de relatórios.
(BRASIL, 2010b, p. 28).

Saiba mais sobre a reciclagem de RCC assistindo ao vídeo Reciclagem


de Resíduos da Construção Civil - Globo Ecologia, disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=-gG9wYG2Qw8>.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 125


U3

Sobre Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil:


PINTO, T. P.; GONZÁLES, J. L. R. Manejo e Gestão de resíduos da construção
civil. Como implantar um Sistema de Manejo e Gestão dos Resíduos
da Construção Civil nos Municípios. Brasília: Caixa Econômica Federal;
Ministério das Cidades, Ministério do Meio Ambiente, 2005, v. 1. 198p.
Disponível em: <www.cidades.pmss.gov.br>.

1. Correlacione a primeira com a segunda coluna:

( ) produz a compostagem
através dos resíduos
orgânicos provenientes
da coleta nos domicílios
(1) Unidade de tratamento de
e dos resíduos orgânicos
resíduos da construção civil
provenientes de mercados
e feiras livres, que são ricos
em matéria orgânica.

( ) nesta unidade realiza-


(2) Unidade de tratamento se a triagem dos resíduos
de resíduos orgânicos domiciliares em esteiras de
separação de materiais.

( ) consiste basicamente
na seleção preliminar, na
moagem e classificação
granulométrica dos
(3) Unidade de triagem de materiais sólidos, para em
resíduos sólidos mecanizada seguida serem utilizados
em aplicações práticas de
reutilização de materiais de
obras novas, reformas
ou demolições.

126 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

A correlação CORRETA é:

a) 1, 2 e 3.
b) 2, 3 e 1.
c) 3, 1 e 2.
d) 2, 1 e 3.
e) 1, 3 e 2.

2) A Política Nacional de Resíduos Sólidos PNRS foi instituída


pela Lei 12.305/2010. Sobre este marco regulatório pode-
se afirmar que:

I) A Lei 12.305/2010 faz a distinção entre resíduo (que


pode ser reaproveitado ou reciclado) e rejeito (o que não
é passível de reaproveitamento).

II) A lei classifica os resíduos em apenas três tipos, sendo


eles: domiciliares, industriais e de serviços de saúde.

III) A PNRS estabelece a obrigatoriedade para a


elaboração dos Planos Nacional, Estadual e Municipal de
Resíduos Sólidos.

Assinale a alternativa correta (A):


a) somente as afirmações II, e III estão corretas;
b) somente as afirmações I, e III estão corretas;
c) somente a afirmação III está correta;
d) somente as afirmação I está correta;
e) todas as afirmações estão corretas.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 127


U3

128 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Seção 2

Tecnologia de tratamento e disposição dos


resíduos industriais e de resíduos de serviços
de saúde

A Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT classifica os resíduos sólidos


de acordo com suas características de periculosidade. Dentre eles estão os resíduos
de serviços de saúde e os industriais.

Por que a Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos, traz como um dos seus princípios a redução
do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos?

2.1 Tecnologia de tratamento e disposição dos


resíduos industriais

Resíduo Industrial é aquele produzido em estabelecimentos industriais, e sua


composição pode alterar conforme sua atividade.

Devido a determinadas características de periculosidade desses resíduos, deve


ser dada especial atenção ao seu manejo, desde o seu acondicionamento até a
destinação final.

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, os geradores


são obrigados a dar a destinação adequada aos seus resíduos, o que inclui seu
tratamento.

A destinação quando inadequada dos resíduos industriais causa a poluição


do ambiente, pois, muitas vezes, em sua composição estão presentes produtos
químicos (cianureto, pesticidas, solventes), metais (mercúrio, cádmio, chumbo) e
solventes químicos.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 129


U3

Uma grande preocupação entre os profissionais da área de meio ambiente é


conhecer as reais dimensões da geração de resíduos sólidos no Brasil. Conhecer
esta realidade é importante tanto para fins de planejamento empresarial, para
planejar recursos e investimentos, assim como para estudos da comunidade
científica e tecnologia.

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),


que congrega entre seus membros os Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália e
países da Europa Ocidental, adotou, no início da década de 90, alguns coeficientes
para estimar de forma indireta a geração de resíduos perigosos, e apresenta os
seguintes indicadores: Geração total de resíduos perigosos de 100 kg/per capita/
ano, para países com forte setor químico e de 6 kg/per capita/ano para países com
economia predominantemente agrícola (ABETRE, 2003).

Ainda de acordo com dados da OCDE, em regiões altamente industrializadas, a


faixa de geração de resíduos perigosos per capita varia de 50 kg/per capita/ano a
120 kg/per capita/ano. Com relação à realidade brasileira, dados do inventário de
resíduos sólidos industriais do Paraná apontam uma taxa de geração de 66 kg/per
capita/ano (ABETRE, 2003).

2.1.1 Classificação de resíduos

A norma NBR 10.004:2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas


classifica os resíduos sólidos quanto aos seus riscos potenciais ao meio ambiente e à
saúde pública.

A partir da classificação estabelecida por esta norma é possível identificar o potencial


de risco do resíduo, bem como identificar as melhores alternativas para destinação
final. O Quadro 3.4 apresenta a classificação dos resíduos com base na norma NBR
10.004:2004.

Quadro 3.4 - Classificação dos resíduos com base na NBR 10.004/2004

Resíduos que, em função de suas


propriedades físico-químicas e infec-
tocontagiosas, podem apresentar risco
Resíduos de Classe I –
à saúde pública e ao meio ambiente.
Perigosos
Apresentam ao menos uma das
(contaminantes
seguintes características: inflamabili-
e tóxicos)
dade, corrosividade, reatividade, toxici-
dade e patogenicidade, que caracterizam
periculosidade de um resíduo.

130 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Resíduos Classe II - Resíduos classe II A – Não inertes


Não Perigosos (possivelmente contaminantes).
Aqueles que não se enquadram nas
classificações de resíduos classe I ou
classe II B - Inertes. Apresentam
propriedades tais como:
combustibilidade, biodegrabilidade ou
solubilidade em água.

Fonte: NBR 10.004:2004

2.1.2 Tratamento e destinação de Resíduos Industriais

Resíduos industriais gerados em indústrias caracterizam-se por uma diversidade


de composição, e consequentemente não há um único processo de tratamento.
Esta área requer cada vez mais a realização de pesquisas e desenvolvimento de
processos para tratamento desses resíduos que sejam economicamente viáveis.
Veja na Tabela 3.6 os principais sistemas de tratamento dos resíduos industriais.

Quadro 3.4 - Classificação dos resíduos com base na NBR 10.004/2004

Este tipo de sistema visa à


valorização de materiais já utilizados
Reciclagem/Reutilização como matéria-prima nos processos
/Recuperação industriais e pode significar grande
economia de insumos e
preservação ambiental;

Reduz o volume e a umidade dos


resíduos, traz a possibilidade de sua
disposição em aterros de resíduos
industriais ou sanitários e a diminuição
Processo de Secagem e dos custos de transporte. Os
Desidratação do Lodo métodos de secagem e desidratação
mais utilizados são a centrifugação,
filtragem em prensa de placas ou fil-
tros, filtragem a vácuo e leitos
de filtragem;

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 131


U3

É um sistema biológico de resíduos


orgânicos no solo, através de suas pro-
priedades físicas, químicas e de sua in-
tensa atividade microbiana. O processo
Landfarming vem sendo utilizado especialmente pe-
las indústrias alimentícias, têxteis, papel
e papelão, sabões e detergentes, entre
outras (biorremediação em lagoas de
acumulação);

É o processo de combustão controla-


da na presença de oxigênio que visa à
redução do material a gases e mate-
riais inertes com geração de calor. É a
forma mais comum de destinação para
resíduos com elevado poder calorífico.
Esse processo permite a redução em
volume e peso dos resíduos sólidos em
cerca de 60% a 90%.

Suas grandes vantagens são:


• garantia da eficiência de tratamento,
quando em perfeitas condições de
funcionamento;
• redução substancial do volume de
resíduos a ser disposto (cerca de 95%).
Incineração
Suas principais desvantagens são:
• custo operacional e de
manutenção elevado;
• manutenção difícil, exigindo trabalho
constante de limpeza no sistema de
alimentação de combustível auxiliar,
exceto se for utilizado gás natural;
• elevado risco de contaminação do ar
devido à geração de dioxinas da quei-
ma de materiais clorados;
• risco de contaminação do ar pela
emissão de materiais particulados;
• elevado custo de tratamento dos
efluentes gasosos e líquidos.

132 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Tratamento utilizado de forma incipi-


ente, usa os resíduos como substitutos
parciais de matéria-prima ou combus-
tível no sistema de forno para pro-
dução de clínquer, na fabricação do ci-
mento, que apresenta como vantagem
o fato de ser significativamente mais
econômico que a queima em fornos
específicos (até dez vezes mais barato),
Coprocessamento em além de dispensar a disposição das
fornos de cimento cinzas ou escórias, geradas no proces-
so de incineração. Além disso, também
tem sido utilizado para imobilização de
metais pesados por incorporação em
produtos cerâmicos ou tijolos (resíduos
em 5% a 10% da massa). Este processo
requer licença ambiental, além de
cuidados com transporte e com a
saúde da população local e dos
trabalhadores envolvidos.

Fonte: Magrini e Santos (2001, p. 10)

O mercado para a indústria de tratamento e destinação final de resíduos


perigosos é amplo. Atualmente as empresas deste setor concentram-se nas regiões
Sul e Sudeste do país. De acordo com dados da ABRELPE (2013), cerca de 50% da
capacidade nacional de tratamento de resíduos perigosos está localizada a menos
de 250 km da cidade de São Paulo.

De acordo com o relatório Panorama das Estimativas de Geração de Resíduos


Industriais (ABETRE, 2003), pode-se estimar a geração de resíduos perigosos para o
Brasil em torno de 4,2 milhões de toneladas/ano.

Dentre as alternativas de destinação para os resíduos industriais está o aterro


industrial. Sua implantação e operação requerem a aplicação de rigorosas técnicas
que permitem a disposição controlada dos resíduos, com a finalidade de não causar
danos ou riscos à saúde pública, e minimizar os possíveis impactos ambientais.

Os aterros industriais são classificados conforme a periculosidade dos resíduos


a serem dispostos. Em geral, recebem resíduos industriais perigosos e resíduos
inertes.

A implantação de um aterro industrial demanda elevado investimento inicial

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 133


U3

e sua operação, a depender do grau de toxicidade dos resíduos dispostos, altos


custos operacionais.

O controle dos resíduos a serem dispostos é essencial, pois só podem ser


dispostos resíduos quimicamente compatíveis, ou seja, aqueles que não reagem
entre si. Caso esta mistura aconteça, os fenômenos mais comuns que ocorrem são
a geração de calor, explosão, produção de gases tóxicos, entre outros.

Um aspecto preocupante é o custo para destinação dos resíduos industriais devido


à distribuição geográfica dos prestadores de serviço de tratamento e disposição. A
depender da distância e do volume de resíduo gerado, o custo com transporte,
em muitos casos, é maior que o custo com seu tratamento e disposição final, ou
seja, para se tornar viável, há necessidade de escala entre quantidade de resíduos e
distância, o que normalmente não ocorre fora dos grandes centros urbanos.

2.2 Tecnologia de tratamento e disposição de resíduos de


serviços de saúde

A gestão municipal dos resíduos de serviços de saúde, sem dúvida alguma, é um


dos grandes desafios, pois os impactos desta refletem diretamente na qualidade de
vida da população e na qualidade do meio ambiente.

Destaque: O que são resíduos de serviços de saúde?

Os resíduos de serviços de saúde - RSS são gerados pelas diversas instituições


e estabelecimentos relacionados à saúde humana e animal. No Brasil, a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e o Conselho Nacional do Meio Ambiente
– CONAMA definem sua classificação com base em suas características. Saiba como
ocorre esta classificação.

Saiba mais sobre o descarte irregular de resíduos de servicos de


saúde assistindo ao vídeo: Descarte irregular de lixo hospitalar
ameaça a saúde pública, disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=aQBiJt5s9hk>.

134 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

2.2.1 Classificação

De acordo com a RDC ANVISA nº 306/04 (ANVISA, 2004), os RSS são classificados
em cinco grupos, sendo:

Grupo A - resíduos com possível presença de agentes biológicos que, por


suas características, podem apresentar risco de infecção. Subdivide-se em
grupos A1, A2, A3, A4, A5 e A6.

Grupo B – são resíduos que contêm substâncias químicas que podem


apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.

Grupo C – este grupo é representado por quaisquer materiais resultantes


de atividades humanas que contenham radionuclídeos em quantidades
superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão
Nacional de Energia Nuclear – CNEN.

Grupo D – são resíduos que não apresentam risco biológico, químico ou


radiológico à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos
resíduos domiciliares.

Grupo E – são materiais perfurocortantes ou escarificantes. Veja exemplos


dos RSS, de acordo com sua classificação.

Quadro 3.5 - Exemplos de resíduos de serviços de saúde de acordo com sua classificação

Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes


rejeitadas por contaminação ou por má conservação, ou com prazo
de validade vencido, e aquelas oriundas de coleta incompleta.
A1 - Sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou líquidos
corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo de
assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na
forma livre.

Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes


de animais submetidos a processos de experimentação com
inoculação de microrganismos e cadáveres de animais suspeitos de
A2 serem portadores de microrganismos de relevância
epidemiológica e com risco de disseminação, que foram submetidos
ou não a estudo anatomopatológico ou confirmação diagnóstica.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 135


U3

- Peças anatômicas (membros) do ser humano, produto de fe-


cundação sem sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou
A3 estatura menor que 25 centímetros ou idade gestacional menor que
20 semanas, que não tenham valor científico ou legal e não tenha
havido requisição pelo paciente ou familiares.

- Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores, quando


descartados.
- Filtros de ar e gases aspirados de área contaminada; membrana
filtrante de equipamento médico hospitalar e de pesquisa, entre
outros similares.
- Sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo
fezes, urina e secreções, provenientes de pacientes que não conten-
ham e nem sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco 4 (ver
apêndice II da resolução da ANVISA RDC 306/2004), e nem apresen-
tem relevância epidemiológica e risco de disseminação, ou micror-
ganismo causador de doença emergente que se torne
epidemiologicamente importante ou cujo mecanismo de
transmissão seja desconhecido ou com suspeita de contaminação
A4 com príons.
- Resíduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração,
lipoescultura ou outro procedimento de cirurgia plástica que gere
este tipo de resíduo.
- Recipientes e materiais resultantes do processo de assistência à
saúde, que não contenham sangue ou líquidos corpóreos na
forma livre.
- Peças anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes
de procedimentos cirúrgicos ou de estudos anátomo-patológicos ou
de confirmação diagnóstica.
- Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos provenientes
de animais não submetidos a processos de experimentação com
inoculação de micro-organismos, bem como suas forrações.
- Bolsas transfusionais vazias ou com volume residual pós-transfusão.

- Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou


A5 escarificantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de
indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação
com príons.

136 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco


à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas carac-
terísticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade.
Produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostáticos; an-
tineoplásicos; imunossupressores; digitálicos; imunomoduladores;
antirretrovirais, quando descartados por serviços de saúde, farmácias,
drogarias e distribuidores de medicamentos ou apreendidos, e os
resíduos e insumos farmacêuticos dos medicamentos controlados
B pela Portaria do Ministério da Saúde n. 344/98 e suas atualizações.
- Resíduos de saneantes, desinfetantes, desinfestantes; resíduos
contendo metais pesados; reagentes para laboratório, inclusive os
recipientes contaminados por estes.
- Efluentes de processadores de imagem (reveladores e fixadores).
- Efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em
análises clínicas.
Demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da
NBR 10.004 da ABNT (tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos).

Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que con-


tenham radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de
isenção especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia
Nuclear - CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou
C não prevista.
Enquadram-se neste grupo os rejeitos radioativos ou contaminados
com radionuclídeos, provenientes de laboratórios de análises clínicas,
serviços de medicina nuclear e radioterapia, segundo a Resolução
CNEN-6.05.

Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológi-


co à saúde ou ao meio ambiente, podendo ser equiparados aos
resíduos domiciliares.
Exemplos: papel de uso sanitário e fralda, absorventes higiênicos,
peças descartáveis de vestuário, resto alimentar de paciente, material
utilizado em antissepsia e hemostasia de venóclises, equipo de soro e
D outros similares não classificados como A1;
- sobras de alimentos e do preparo de alimentos;
- resto alimentar de refeitório;
- resíduos provenientes das áreas administrativas;
- resíduos de varrição, flores, podas e jardins;
- resíduos de gesso provenientes de assistência à saúde.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 137


U3

Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como: lâminas de


barbear, agulhas, escalpes, ampolas de vidro, brocas, limas endodônti-
cas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas; tubos capilares;
E micropipetas; lâminas e lamínulas; espátulas; e todos os utensílios de
vidro quebrados no laboratório (pipetas, tubos de coleta sanguínea e
placas de Petri) e outros similares.

Fonte: Brasil (2004, p. 26)

Conheça a resolução da ANVISA - RDC 306, de 7 de dezembro de 2004,


acessando: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2004/
res0306_07_12_2004.html>.

A RDC ANVISA nº 306/04 (ANVISA, 2004) define como geradores de RSS todos
os serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive os
serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de
produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades
de embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina
legal; drogarias e farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de
ensino e pesquisa na área de saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores
de produtos farmacêuticos, importadores, distribuidores e produtores de materiais
e controles para diagnóstico in vitro; unidades móveis de atendimento à saúde;
serviços de acupuntura; serviços de tatuagem, dentre outros similares.

De acordo com a RDC n. 306/2004 (BRASIL, 2004), o tratamento de resíduos


de serviços de saúde “consiste na aplicação de método, técnica ou processo
que modifique as características dos riscos inerentes aos resíduos, reduzindo ou
eliminando o risco de contaminação, de acidentes ocupacionais ou de dano ao
meio ambiente”.

Ainda de acordo com esta resolução da ANVISA, o tratamento pode ser aplicado
no próprio estabelecimento gerador ou em outro estabelecimento, observadas,
nestes casos, as condições de segurança para o transporte entre o estabelecimento
gerador e o local do tratamento.

138 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Saiba mais sobre o descarte adequado de resíduos assistindo ao


vídeo: Descarte Consciente - Resíduos Infectantes e Perfurocortantes,
disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=NUI1FdBZh48>.

2.2.2 Tratamento de resíduos de serviços de saúde

Os tipos de tratamento mais utilizados para os resíduos de serviços de saúde são


a desinfecção química ou térmica (autoclavagem, micro-ondas e incineração).

De acordo com o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde


(BRASIL, 2006), as tecnologias de desinfecção para tratamento dos resíduos do
grupo A são a autoclavagem, o uso do micro-ondas e a incineração, que permitem
um encaminhamento dos resíduos tratados para o circuito normal de resíduos
sólidos urbanos (RSU).

Saiba mais sobre planos de resíduos de serviços de saúde acessando o


link: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/c3df7980474586
628fb8df3fbc4c6735/PGRSS+Passo+a+Passo.pdf?MOD=AJPERES>.

• Autoclavagem

Trata-se de um processo no qual o material contaminado é submetido ao vapor


d´água com elevadas temperaturas (perto de 135ºC) por um tempo capaz de
eliminar eventuais agentes patogênicos ou até reduzi-los a um teor no qual já não
ofereçam ameaça. Esse processo associa fases de compressão e descompressão
(entre 3 e 3,5 bar) para auxiliar a ação do vapor nos resíduos.

De acordo com o Manual de Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde


(BRASIL, 2006, p. 53), o processo normal de autoclavagem comporta basicamente
as seguintes operações:

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 139


U3

∞∞ pré-vácuo inicial: criam-se condições de pressões negativas de forma a


que, na fase seguinte, o vapor entre em contato com os resíduos;

∞∞ admissão de vapor: introdução de vapor na autoclave e aumento gradual


da pressão de forma a criar condições para o contato entre o vapor e os
resíduos e para destruição de invólucros que limitem o acesso do vapor a
todas as superfícies;

∞∞ exposição: manutenção de temperaturas e pressões elevadas durante


um determinado período de tempo até se concluir o processo de
descontaminação.

No processo de autoclavagem, de acordo com a carga a tratar, o operador define


o tempo e a temperatura de cada ciclo (BRASIL, 2006 p. 54):

∞∞ exaustão lenta: libertação gradual do vapor que passa por um filtro


poroso com uma malha suficientemente fina para impedir a passagem de
microrganismos para o exterior da autoclave.

∞∞ arrefecimento da carga: redução da carga até uma temperatura que


permita a retirada dos resíduos da autoclave.

• Micro-ondas

O tratamento por micro-ondas deve estar licenciado pelo órgão ambiental


competente, e consiste basicamente na descontaminação por ondas de alta ou
baixa frequência, com temperatura elevada entre 95% e 105ºC.

Neste tipo de tratamento, os resíduos devem ser previamente triturados e


umedecidos e, após o tratamento, podem ser encaminhados para aterros sanitários.

• Incineração

No tratamento por incineração, a descontaminação acontece pela oxidação dos


resíduos com o auxílio do oxigênio existente no ar, através da reação química em
que os materiais orgânicos combustíveis são gaseificados em um período pré-fixado
de tempo. É, portanto, um processo físico-químico de oxidação, mais uma vez
com temperaturas elevadas, e que termina por reduzir bruscamente o volume dos
resíduos por meio da destruição da matéria orgânica e, principalmente, dos agentes
patogênicos existentes.

De acordo com o Manual de Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde

140 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

(BRASIL, 2006), a incineração ocorre em dois estágios, que observam os seguintes


princípios: temperatura, tempo de resistência e turbulência. No primeiro estágio,
os resíduos na câmara de incineração de resíduos são submetidos à temperatura
mínima de 800º C, resultando na formação de gases que são processados na câmara
de combustão. No segundo estágio, as temperaturas chegam a 1000º C-1200º C.

Ainda de acordo com o referido manual (BRASIL, 2006), após o processo de


incineração, os poluentes gasosos gerados devem ser devidamente processados
em equipamento de controle de poluição (ECP) antes de serem liberados para a
atmosfera, atendendo sempre aos limites de emissão estabelecidos pelo órgão de
meio ambiente.

Dentre os poluentes produzidos pelo processo de incineração destacam-se: o


ácido clorídrico, ácido fluorídrico, óxidos de enxofre, óxidos de nitrogênio, metais
pesados, particulados, dioxinas e furanos.

Além dos efluentes gasosos, ocorre também a geração de cinzas e escórias da


câmara de incineração de resíduos, além de outros poluentes sólidos e efluentes
líquidos que devem atender aos limites de emissão de poluentes estabelecidos na
legislação ambiental vigente.

Ressalta-se que, em geral, as cinzas e escórias contêm metais pesados em alta


concentração e não podem, sob hipótese alguma, serem destinadas para aterros
sanitários, sendo necessário o seu encaminhamento para aterro especial de resíduos
perigosos.

Aterro de resíduos perigosos recebe resíduos classe I, conhecido também como


"aterro industrial, e trata-se de técnica de disposição final de resíduos químicos no solo,
sem causar danos ou riscos à saúde pública, minimizando os impactos ambientais
e utilizando procedimentos específicos de engenharia para seu confinamento".
(BRASIL, 2006, p. 56)

Saiba mais sobre o tratamento dos resíduos assistindo ao vídeo:


Tratamento de Residuo Hospitalar, disponível em <https://www.
youtube.com/watch?v=g7VhtkeSu9A>.

A Resolução n. 306/2004 (ANVISA, 2004) estabelece critérios para o manejo de


RSS nas fases de acondicionamento, identificação, armazenamento temporário e
destinação final.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 141


U3

O Quadro 3.6 apresenta os tipos de tratamento que devem ser direcionados para
cada grupo de resíduo de serviço de saúde-RSS.

Quadro 3.6 - Critérios para o tratamento de resíduos de serviços de saúde de acordo


com sua classificação

- Culturas e estoques de microrganismos, resíduos de fabricação de


produtos biológicos, exceto os hemoderivados; meios de cultura e
instrumentais utilizados para transferência, inoculação ou mistura de
culturas e resíduos de laboratórios de manipulação genética. Estes
resíduos não podem deixar a unidade geradora sem tratamento prévio.
• Devem ser submetidos a tratamento, utilizando-se processo físico
ou outros processos que vierem a ser validados para a obtenção de
redução ou eliminação da carga microbiana (ver apêndice IV da RDC
306/2004).

- Resíduos resultantes de atividades de vacinação com microrganismos


vivos ou atenuados, incluindo frascos de vacinas com expiração do
prazo de validade, com conteúdo inutilizado, vazios ou com restos do
produto, agulhas e seringas. Devem ser submetidos a tratamento antes
da disposição final.
• Devem ser submetidos a tratamento, utilizando-se processo físico
ou outros processos que vierem a ser validados para a obtenção de
GRUPO
redução ou eliminação da carga microbiana.
A1 • Os resíduos provenientes de campanha de vacinação e atividade de
vacinação em serviço público de saúde, quando não puderem ser sub-
metidos ao tratamento em seu local de geração, devem ser recolhidos
e devolvidos às Secretarias de Saúde responsáveis pela distribuição, em
recipiente rígido, resistente à punctura, ruptura e vazamento, com tam-
pa e devidamente identificado, de forma a garantir o transporte seguro
até a unidade de tratamento.
• Os demais serviços devem tratar estes resíduos em seu local de
geração.

- Resíduos resultantes da atenção à saúde de indivíduos ou animais,


com suspeita ou certeza de contaminação biológica por agentes
Classe de Risco 4 (ver apêndice II da RDC 306/2004), microrganismos
com relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causador
de doença emergente que se torne epidemiologicamente importante
ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido. Devem ser
submetidos a tratamento antes da disposição final.

142 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

• Devem ser submetidos a tratamento utilizando-se processo físico


ou outros processos que vierem a ser validados para a obtenção
de redução ou eliminação da carga microbiana, em equipamento
compatível com Nível III de Inativação Microbiana (ver apêndice II
da RDC 306/2004).

- Bolsas transfusionais contendo sangue ou hemocomponentes


rejeitadas por contaminação ou por má conservação, ou com
prazo de validade vencido, e aquelas oriundas de coleta incom-
pleta; sobras de amostras de laboratório contendo sangue ou
líquidos corpóreos, recipientes e materiais resultantes do processo
de assistência à saúde, contendo sangue ou líquidos corpóreos na
forma livre. Devem ser submetidos a tratamento antes da dis-
posição final.

• Devem ser submetidos a tratamento utilizando-se processo físico


ou outros processos que vierem a ser validados para a obtenção
de redução ou eliminação da carga microbiana, em equipamento
compatível com Nível III de Inativação Microbiana (ver apêndice IV
da RDC 306/2004) e que desestruture as suas características físicas,
de modo a se tornarem irreconhecíveis.

- Carcaças, peças anatômicas, vísceras e outros resíduos


provenientes de animais submetidos a processos de experimen-
tação com inoculação de microrganismos, bem como suas for-
rações, e os cadáveres de animais suspeitos de serem portadores
de microrganismos de relevância epidemiológica e com risco de
disseminação, que foram submetidos ou não a estudo anátomo-
patológico ou confirmação diagnóstica. Devem ser submetidos a
tratamento antes da disposição final.
• Resíduos contendo microrganismos com alto risco de transmis-
sibilidade e alto potencial de letalidade (Classe de risco 4) devem
ser submetidos, no local de geração, a processo físico ou outros
GRUPO processos que vierem a ser validados para a obtenção de redução
A2 ou eliminação da carga microbiana e posteriormente encaminha-
dos para tratamento térmico por incineração.
• Os resíduos não enquadrados como resíduos contendo
microrganismos com alto risco de transmissibilidade e alto poten-
cial de letabilidade devem ser tratados utilizando-se processo físico
ou outros processos que vierem a ser validados para a obtenção
de redução ou eliminação da carga microbiana, em equipamento
compatível com Nível III de Inativação Microbiana (ver apêndice
IV da RDC 306/2004). O tratamento pode ser realizado fora do
local de geração, mas os resíduos não podem ser encaminha-
dos para tratamento em local externo ao serviço.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 143


U3

. Após o tratamento dos resíduos do item 6.1.3 da Resolução


306/2004, estes podem ser encaminhados para aterro sanitário
licenciado ou local devidamente licenciado para disposição final
de RSS, ou sepultamento em cemitério de animais.

- Peças anatômicas (membros) do ser humano; produto de fe-


cundação sem sinais vitais, com peso menor que 500 gramas ou
estatura menor que 25 centímetros ou idade gestacional menor
que 20 semanas, que não tenham valor científico ou legal e não
GRUPO tenha havido requisição pelo paciente ou seus familiares.
A3 Após o registro no local de geração, devem ser encaminhados
para: a) sepultamento em cemitério, desde que haja autorização
do órgão competente, ou; b) tratamento térmico por incineração
ou cremação, em equipamento devidamente licenciado para
esse fim.

- Kits de linhas arteriais, endovenosas e dialisadores; filtros de ar e


gases aspirados de área contaminada; membrana filtrante de equi-
pamento médico-hospitalar e de pesquisa, entre outros similares;
sobras de amostras de laboratório e seus recipientes contendo
fezes, urina e secreções, provenientes de pacientes que não con-
tenham e nem sejam suspeitos de conter agentes Classe de Risco
4 (ver apêndice II da RDC 306/2004) e nem apresentem relevância
epidemiológica e risco de disseminação, ou microrganismo cau-
sador de doença emergente que se torne epidemiologicamente
importante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido
ou com suspeita de contaminação com príons; tecido adiposo
proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimen-
GRUPO
to de cirurgia plástica que gere este tipo de resíduo; recipientes e
A4 materiais resultantes do processo de assistência à saúde, que não
contenham sangue ou líquidos corpóreos na forma livre; peças
anatômicas (órgãos e tecidos) e outros resíduos provenientes de
procedimentos cirúrgicos ou de estudos anátomo-patológicos ou
de confirmação diagnóstica; carcaças, peças anatômicas, vísceras
e outros resíduos provenientes de animais não submetidos a pro-
cessos de experimentação com inoculação de micro-organismos,
bem como suas forrações; cadáveres de animais provenientes de
serviços de assistência; Bolsas transfusionais vazias ou com vol-
ume residual pós-transfusão.
• Estes resíduos podem ser dispostos, sem tratamento prévio, em
local devidamente licenciado para disposição final de RSS.

144 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

- Órgãos, tecidos, fluidos orgânicos, materiais perfurocortantes ou


escarificantes e demais materiais resultantes da atenção à saúde de
GRUPO indivíduos ou animais, com suspeita ou certeza de contaminação
A5 com príons.
• Devem sempre ser encaminhados a sistema de incineração, de
acordo com o definido na RDC ANVISA nº 305/2002.

- As características dos riscos destas substâncias são as contidas na


Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos - FISPQ,
conforme NBR 14725 da ABNT e Decreto/PR 2657/98.
• A FISPQ não se aplica aos produtos farmacêuticos e cosméticos.
- Resíduos químicos que apresentam risco à saúde ou ao meio
ambiente, quando não forem submetidos a processo de reutilização,
recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a tratamento ou
disposição final específicos.
• Resíduos químicos no estado sólido, quando não tratados, devem
ser dispostos em aterro de resíduos perigosos - Classe I.
• Resíduos químicos no estado líquido devem ser submetidos a
tratamento específico, sendo vedado o seu encaminhamento para
disposição final em aterros.
-Resíduos químicos que não apresentam risco à saúde ou ao
meio ambiente.
• Não necessitam de tratamento, podendo ser submetidos a processo
de reutilização, recuperação ou reciclagem.
• Resíduos no estado sólido, quando não submetidos à reutilização,
recuperação ou reciclagem, devem ser encaminhados para sistemas
GRUPO B de disposição final licenciados.
• Resíduos no estado líquido podem ser lançados na rede coletora de
esgoto ou em corpo receptor, desde que atendam respectivamente
às diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recur-
sos hídricos e de saneamento competentes.
- Os resíduos de produtos ou de insumos farmacêuticos que, em
função de seu princípio ativo e forma farmacêutica, não oferecem
risco à saúde e ao meio ambiente, conforme definido no item 3.1, da
Resolução 306/2004 (medicamentos que em função de seu princípio
ativo e forma farmacêutica não oferecem riscos de manejo e disposição
final), quando descartados por serviços assistenciais de saúde, farmácias,
drogarias e distribuidores de medicamentos ou apreendidos, devem
atender ao disposto no item 11.18 da Resolução 306/2004.
- Os resíduos de produtos cosméticos, quando descartados por
farmácias, drogarias e distribuidores ou quando apreendidos, de-
vem ter seu manuseio conforme o item 11.2 ou 11.18 da Resolução
306/2004, de acordo com a substância química de maior risco e
concentração existente em sua composição, independente da forma
farmacêutica.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 145


U3

- Os resíduos químicos dos equipamentos automáticos de labo-


ratórios clínicos e dos reagentes de laboratórios clínicos, quando
misturados, devem ser avaliados pelo maior risco ou conforme as
instruções contidas na FISPQ e tratados conforme o item 11.2 ou 11.18
da Resolução 306/2004.

- Os rejeitos radioativos devem ser segregados de acordo com a


natureza física do material e do radionuclídeo presente, e o tempo
necessário para atingir o limite de eliminação, em conformidade com
a norma NE – 6.05 da CNEN. Os rejeitos radioativos não podem ser
considerados resíduos até que seja decorrido o tempo de decaimen-
to necessário ao atingimento do limite de eliminação.

- TRATAMENTO:
- O tratamento dispensado aos rejeitos do Grupo C – Rejeitos
Radioativos é o armazenamento, em condições adequadas, para o
GRUPO decaimento do elemento radioativo. O objetivo do armazenamen-
C to para decaimento é manter o radionuclídeo sob controle até que
sua atividade atinja níveis que permitam liberá-lo como resíduo não
radioativo. Este armazenamento poderá ser realizado na própria sala
de manipulação ou em sala específica, identificada como sala de
decaimento. A escolha do local de armazenamento, considerando as
meia-vidas, as atividades dos elementos radioativos e o volume de
rejeito gerado, deverá estar definida no Plano de Radioproteção da
Instalação, em conformidade com a norma NE – 6.05 da CNEN. Para
serviços com atividade em Medicina Nuclear, observar ainda a norma
NE – 3.05 da CNEN.

Devem ser acondicionados de acordo com as orientações dos


serviços locais de limpeza urbana, utilizando-se sacos impermeáveis,
contidos em recipientes com a devida identificação conforme a RDC
306/2004.
Para os resíduos do Grupo D, destinados à reciclagem ou reutilização,
a identificação deve ser feita nos recipientes e nos abrigos de guarda
de recipientes, usando código de cores e suas correspondentes no-
GRUPO
meações, baseadas na Resolução CONAMA nº. 275/2001, e símbolos
D de tipo de material reciclável.

- TRATAMENTO
- Os resíduos líquidos provenientes de esgoto e de águas servidas de
estabelecimento de saúde devem ser tratados antes do lançamento
no corpo receptor ou na rede coletora de esgoto, sempre que não
houver sistema de tratamento de esgoto coletivo atendendo a área

146 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

onde está localizado o serviço, conforme definido na RDC ANVISA nº.


50/2002.
- Os resíduos orgânicos, flores, resíduos de podas de árvore e jardi-
nagem, sobras de alimento e de pré-preparo desses alimentos, restos
alimentares de refeitórios e de outros que não tenham mantido
contato com secreções, excreções ou outro fluido corpóreo, podem
ser encaminhados ao processo de compostagem.
- Os restos e sobras de alimentos só podem ser utilizados para fins de
ração animal se forem submetidos ao processo de tratamento que
garanta a inocuidade do composto, devidamente avaliado e compro-
vado por órgão competente da Agricultura e de Vigilância Sanitária
do município, Estado ou do Distrito Federal.

- Os materiais perfurocortantes devem ser descartados


separadamente, no local de sua geração, imediatamente após o
uso ou necessidade de descarte, em recipientes rígidos, resistentes
à punctura, ruptura e vazamento, com tampa, devidamente iden-
tificados, atendendo aos parâmetros referenciados na norma NBR
13853/97 da ABNT, sendo expressamente proibido o esvaziamento
desses recipientes para o seu reaproveitamento.
TRATAMENTO
- Os resíduos perfurocortantes contaminados com agente biológico
Classe de Risco 4 (ver apêndice II da RDC 306/2004), microrganismos
com relevância epidemiológica e risco de disseminação ou causador
de doença emergente que se torne epidemiologicamente impor-
tante ou cujo mecanismo de transmissão seja desconhecido, devem
ser submetidos a tratamento, utilizando-se processo físico ou outros
processos que vierem a ser validados para a obtenção de redução ou
eliminação da carga microbiana, em equipamento compatível com
GRUPO E Nível III de Inativação Microbiana (ver apêndice IV da RDC 306/2004).
- Dependendo da concentração e volume residual de contaminação
por substâncias químicas perigosas, estes resíduos devem ser subme-
tidos ao mesmo tratamento dado à substância contaminante.
- Os resíduos contaminados com radionuclídeos devem ser submeti-
dos ao mesmo tempo de decaimento do material que o contaminou,
conforme orientações da RDC 306/2004.
- As seringas e agulhas utilizadas em processos de assistência à
saúde, inclusive as usadas na coleta laboratorial de amostra de
paciente e os demais resíduos perfurocortantes, não necessitam de
tratamento.
As etapas seguintes do manejo dos RSS serão abordadas por proces-
so, por abrangerem mais de um tipo de resíduo em sua especificação,
e devem estar em conformidade com a Resolução CONAMA nº.
283/2001.

Fonte: ANVISA (2004)

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 147


U3

A pesquisa sistematizada pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza


Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE, 2013) apresenta dados referentes à capacidade
instalada para tratamento de RSS no Brasil em 2013, estes estão organizados na
tabela 3.7.

Tabela 3.7 - Capacidade instalada de tratamento de RSS (t/ano)

Regiões Autoclave Incineração Micro-ondas Total


Norte - 4.118 - 4.118
Nordeste 11.544 16.723 - 28.267
Centro–Oeste 3.120 20.779 - 23.899
Sudeste 72.446 27.612 47.112 (*) 147.170
Sul 22.464 4.992 3.744 31.200
BRASIL 109.574 74.224 50.856 234.654
Fonte: ABRELPE (2013)

2.2.4. Disposição final dos resíduos de Serviços de


Saúde-RSS

Disposição final de resíduos de serviços de saúde nada mais é do que a disposição


definitiva dos resíduos em locais que obedeçam a critérios técnicos de construção
e operação em atendimento à legislação pertinente. Cita-se a Resolução n. 237/97
do CONAMA (1997) e o atendimento às normas técnicas da Associação Brasileira de
Normas Técnicas-ABNT.

Para saber mais sobre gerenciamento de resíduos de saúde, leia:


BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de
gerenciamento de resíduos de serviços de saúde / Ministério da Saúde, Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
Disponível para download no site: <www.anvisa.gov.br>.

O relatório Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil-2013 (ABRELPE, 2013)


apresenta dados do destino final dos RSS coletados no ano de 2013, que foram
sistematizados na Talela 3.8.

148 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

Tabela 3.8 - Percentual de municípios por modalidade de destinação de resíduos de


serviços de saúde-RSS-ano 2013 (%)

Regiões Autoclave Incineração Micro-ondas Total


Norte 1,1% 43,1% - 55,8%
Nordeste 5,4% 55,2% - 39,4%
Centro–Oeste 20,2% 58,4% - 21,4%
Sudeste 17,6% 29,9% 7% 45,5%
Sul 54,7% 41,8% 1,5% 2%

Fonte: ABRELPE (2013)

Observa-se na tabela 3.8 que a modalidade de tratamento por autoclave é mais


empregada na região Sul, com 54,7%, já a incineração ocorre com maior frequência
na região Centro-Oeste com 58,4%, e a região Norte é a que apresenta maior
percentual de resíduos destinados a outras modalidades de destinação dos RSS.

1. O princípio do "poluidor pagador" encontra-se estabelecido


na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei nº 6.938, de
31/8/1981). Isso significa dizer que "cada gerador é responsável
pelo gerenciamento de seu resíduo".
Com relação à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos,
pode-se afirmar que NÃO é de responsabilidade da prefeitura:

I) resíduos domiciliares;
II) resíduos de serviços de saúde;
III) resíduos industriais;
IV) resíduos públicos.

Assinale a alternativa correta:

a) as afirmações I e IV estão corretas.


b) as afirmações I e II estão corretas.
c) as afirmações I, II e IV estão corretas.
d) as afirmações II e III estão corretas.
e) todas as afirmações estão corretas.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 149


U4

2. A Política Nacional dos Resíduos Sólidos - PNRS tem como


objetivo incentivar a gestão integrada e o gerenciamento adequado
dos resíduos sólidos. Com relação à PNRS é INCORRETO afirmar:

a) A logística reversa é exigida para embalagens de


agrotóxicos, pilhas, baterias, pneus, óleos lubrificantes,
lâmpadas e eletroeletrônicos.
b) A PNRS determina que as pessoas façam a separação dos
resíduos domésticos nas cidades onde há coleta seletiva.
c) A PNRS proíbe ainda a criação de lixões onde os resíduos
são lançados a céu aberto.
d) A PNRS permite a existência de lixões.
e) As prefeituras terão que construir aterros sanitários
ambientalmente sustentáveis, onde só poderão ser
depositados rejeitos.

Você aprendeu, nesta unidade, o quanto é importante o


gerenciamento adequado dos resíduos. Uma de suas etapas é
o tratamento. Você conheceu diversos tipos de tratamentos e
formas de disposição final a depender do tipo e das características
dos resíduos, e assim poderá direcionar soluções eficazes.

Caro aluno, espero que você tenha gostado dos nossos


conteúdos e das sugestões de vídeos e links. Quero que você
fique bem informado sobre os principais aspectos relacionados
às tecnologias de disposição e tratamento dos resíduos sólidos.
Estou muito feliz por você ter chegado até aqui. Parabéns!

150 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

1. A Política Nacional de Resíduos Sólidos classifica os diferentes


tipos de resíduos, de acordo com a sua origem. De acordo
com esta classificação, assinale a alternativa INCORRETA:

a) resíduos domiciliares: os originários de atividades domésticas


em residências urbanas.

b) resíduos de limpeza urbana são os originários da varrição,


limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de
limpeza urbana.

c) resíduos industriais são os gerados nos processos produtivos e


instalações industriais.

d) resíduos de serviços de saúde são os gerados somente em hospitais.

e) resíduos da construção civil são os gerados nas construções,


reformas, reparos e demolições de obras de construção civil,
incluídos os resultantes da preparação e escavação de terrenos
para obras civis.

2. Um dos grandes desafios da Política Nacional é a implantação


do sistema de logística reversa, que consiste em:

a) um instrumento de desenvolvimento econômico e social


caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos
e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento,
em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra
destinação final ambientalmente adequada.

b) local onde há contaminação causada pela disposição,


regular ou irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos.

c) série de etapas que envolvem o desenvolvimento do


produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo
produtivo, o consumo e a disposição final.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 151


U3

d) conjunto de mecanismos e procedimentos que garantam


à sociedade informações e participação nos processos de
formulação, implementação e avaliação das políticas públicas
relacionadas aos resíduos sólidos.

e) coleta de resíduos sólidos previamente segregados


conforme sua constituição ou composição.

3. Sobre os resíduos de serviços de saúde é INCORRETO


afirmar:

a) A problemática dos resíduos de serviços de saúde remete


diretamente às questões de saúde pública e saneamento
básico.

b) Todos os resíduos gerados em um estabelecimento de


saúde são infectantes.

c) A autoclavagem é uma das tecnologias de tratamento para


os resíduos de serviço de saúde.

d) Os estabelecimentos de saúde devem elaborar seus planos


de gerenciamento de resíduos de serviço de saúde.

e) A resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 306, de 7 de


dezembro de 2004, dispõe sobre o Regulamento Técnico
para o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde.

4. ) Sobre a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS é


INCORRETO afirmar:

a) Um dos princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos -


PNRS é a responsabilidade total do fabricante pelo ciclo de vida dos
produtos.

b) A PNRS institui o princípio de responsabilidade compartilhada pelo


ciclo de vida dos produtos, o que abrange fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, consumidor e titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

c) Um dos pontos fundamentais da PNRS é a chamada logística


reversa, que se constitui em um conjunto de ações para facilitar o

152 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


U3

retorno dos resíduos aos seus geradores para que sejam tratados ou
reaproveitados em novos produtos.

d) Atualmente, a logística reversa já funciona com pilhas, pneus e


embalagens de agrotóxicos. A PNRS estende esta obrigatoriedade
para o setor de eletroeletrônicos.

e) A PNRS também estabelece princípios para a elaboração dos Planos


Nacional, Estadual e Municipal de Resíduos Sólidos.

5) É um processo de transformação dos resíduos sólidos que envolve


a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas,
com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas
as condições e os padrões estabelecidos pelos órgãos competentes.
Esta definição refere-se à (ao):

Assinale a alternativa correta:

a) Autoclavagem;
b) Lixão;
c) Aterro industrial;
d) Reciclagem
e) Incineração.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 153


U4

154 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U3

Referências
ABRELPE - Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil: 2013. Disponível em: <http://
www.abrelpe.org.br/Panorama/panorama2013.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2014.

ABETRE - Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos. Panorama


das Estimativas de Geração de Resíduos Industriais. Fundação Getúlio Vargas, 2003.
Disponível em:<http://www.abetre.org.br/biblioteca/publicacoes/publicacoes-abetre/
FGV%20-%20Panorama%20das%20Estimativas%20de%20Ger.%20de%20Res.%20
Industriais%20-%20Rel.%20Final.pdf>.
Acesso em: 24 nov. 2014

ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução ANVISA - RDC 306, de


7 de dezembro de 2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento
de resíduos de serviços de saúde. 2004.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15113: resíduos sólidos


da construção civil e resíduos inertes: aterros: diretrizes para projeto, implantação e
operação. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.


Lei n. 11.107, de 6 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de contratação de
consórcios públicos e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11107.htm>. Acesso em: 05 jan. 2015.

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental.


Sistema Nacional de Informações de Saneamento. Diagnóstico de manejo de
resíduos sólidos urbanos: 2009. Brasília, 2011.

______. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Manual de


gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

______. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos


Sólidos; altera a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-010/2010/lei/l12305.
htm>. Acesso em: fev. 2012.

______. Ministério da Cidades. Secretaria Nacional de Saneamento


Ambiental. Diagnóstico do manejo de resíduos sólidos urbanos: 2012. Brasília:
MCIDADES/SNSA, 2014. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/PaginaCarrega.
php?EWRErterterTERTer=104>. Acesso em: 05 jan. 2015.

Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos 155


U3

CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução CONAMA n. 237,


de 19 de dezembro de 1997. Dispõe sobre a revisão e complementação dos
procedimentos e critérios utilizados para o licenciamento ambiental. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=237>.
Acesso em: maio 2013.

______. Resolução n. 307, de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e


procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=307>.
Acesso em: mar. 2012.

______. Resolução n. 348, de 16 de agosto de 2004. Altera a Resolução CONAMA n.


307, de 5 de julho de 2002, incluindo o amianto na classe de resíduos perigosos.
Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=449>.
Acesso em: mar. 2002.

______. Resolução n. 431, de 24 de maio de 2011. Altera o art. 3º da Resolução n.


307, de 5 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA,
estabelecendo nova classificação para o gesso. Disponível em: <http://www.mma.
gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=649>. Acesso em: mar. 2012.

______. Resolução n. 448, de 18 de janeiro de 2012. Altera os arts. 2°, 4°, 5°, 6°, 8°, 9°,
10°, 11° da Resolução n° 307, de 5 de julho de 2002.

D’ALMEIDA, M. L. O.; VILHENA, A. (Coord.). Lixo municipal: manual de gerenciamento


integrado. 2. ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2000.

IBAM. Manual de gerenciamento integrado de resíduos sólidos. Rio de Janeiro:


IBAM, 2001. Disponível em: <http://www.resol.com.br/cartilha4/manual.pdf>. Acesso
em: 05 jan. 2015.

MAGRINI, A.; SANTOS, M. A. Gestão ambiental de bacias hidrográficas. Ed. COPPE/


UFRJ, 2001.

PINTO, T. P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da


construção urbana. São Paulo, 1999. 189f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, 1999.

PINTO, T. P.; GONZÁLES, J. L. R. (Coord.). Manejo e gestão de resíduos da construção


civil. Brasília: Caixa Econômica Federal, 2005.

SOARES, E. L. S. F. Estudo da caracterização gravimétrica e poder calorífico dos


resíduos sólidos urbanos. 2011. 133 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) –
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011.

TANGRI, N. Waste incineration: a dying technology. Berkeley: GAIA, 2003.

156 Tecnologias para tratamento e disposição final de resíduos sólidos


Unidade 4

ESTUDO
DOS MAMÍFEROS
Carlos Roberto da Silva Júnior

Objetivos de aprendizagem: Olá, acadêmicos, nesta unidade vocês


serão levados a conhecer um pouco sobre as tecnologias aplicadas ao
controle de emissão de poluentes atmosféricos de fontes fixas industriais.
Nossos principais objetivos serão:
• Conhecer as características dos processos de formação dos
poluentes atmosféricos.
• Avaliar as medidas tomadas para controle de emissões.
• Diferenciar os equipamentos que são destinados ao controle
de emissões de gases e os destinados ao controle de material
particulado.
• Conhecer os principais equipamentos destinados ao controle de
gases poluentes.
• Conhecer os principais equipamentos destinados ao controle de
emissão de material particulado.
Ao final desta unidade vocês serão capazes de entender como funcionam
os processos de emissão atmosférica de gases e partículas poluentes e
saberão caracterizar os principais equipamentos que são utilizados com a
finalidade de impedir ou reduzir essas emissões.
Bons estudos!

Seção 1 | Introdução ao estudo do controle de emissões


atmosféricas
Na seção 1, veremos um pouco sobre os tópicos relacionados à
normatização da área. Estudaremos o que é emissão, dispersão e deposição
atmosférica e conheceremos a atmosfera e seus principais gases poluentes.
Em seguida, iniciaremos o estudo dos conceitos básicos relacionados ao
U4

controle de poluição do ar para conhecermos os principais equipamentos


que são utilizados para esta finalidade. No final desta seção, veremos um
pouco sobre medidas indiretas de controle de poluição do ar.

Seção 2 | Métodos diretos de controle de


emissões – gases e partículas
Na seção 2, veremos os equipamentos que são utilizados para
controle direto de emissões atmosféricas, tanto para gases como para
partículas. Entre os sistemas existentes, conheceremos um pouco sobre
a sedimentação inercial, ciclones, filtros, lavadores e precipitadores
eletrostáticos para coleta de partículas e os sistemas de condensação,
adsorção, absorção e incineração para gases. Por fim, conheceremos
também a tecnologia de biofiltração.

158 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Introdução à unidade

Atualmente já é conhecido que a poluição do ar é responsável por vários


problemas de saúde, que ocorrem principalmente em grandes centros urbanos
ou em áreas com elevada carga de poluição atmosférica. Mas quais são estes
compostos que causam tanto mal à saúde das pessoas? Quais são as suas fontes
de emissão? Como estes podem ser removidos para não impactar a atmosfera?

Todas estas são perguntas de difícil resposta, porém, podemos pensar em


soluções que minimizam ou eliminam a emissão de compostos químicos para
o ar. Nesta unidade de ensino conheceremos um pouco sobre estas formas que
auxiliam na remoção de contaminantes de um fluxo gasoso, assim, reduzindo a
poluição gerada sobre o compartimento da atmosfera. Para conseguir alcançar
estes pontos, vamos dividir nosso estudo em duas seções, conforme descrito
a seguir:

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 159


U4

160 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Seção 1

Introdução ao estudo do controle de


emissões atmosféricas
Acadêmico, nesta seção iniciaremos os estudos básicos sobre o controle de
emissões atmosféricas. Para isso, iniciaremos nosso estudo com os conceitos
básicos de poluição do ar, em seguida estudaremos os conceitos de emissões e as
medidas de controle. Veremos as características dos equipamentos de controle de
poluição do ar, como funcionam os mecanismos de coleta de partículas e, por fim,
estudaremos os métodos que são considerados como indiretos para controle de
emissões atmosféricas.

Acadêmicos, a poluição atmosférica atualmente ganha destaque na


mídia devido aos seus efeitos adversos sobre a saúde das pessoas.
Já está comprovado que várias mortes ocorrem anualmente devido
a poluentes que são lançados na atmosfera diariamente. Dentro das
medidas corretivas, que são aquelas que visam eliminar os poluentes
após sua formação, podemos usar equipamentos que reduzem ou
eliminam os gases ou partículas gerados pelos processos industriais,
através de mecanismos específicos. Você conhece ou já ouviu falar
destes equipamentos que auxiliam no controle das emissões de
poluentes para o ar?

1.1 Introdução ao estudo das emissões industriais

A poluição atmosférica pode ser dividida em três momentos distintos:


o primeiro deles se resume ao processo de formação do poluente
e sua emissão para a atmosfera, a segunda etapa está relacionada à
dispersão e ao transporte deste poluente e, por fim, temos o processo de
deposição, que consiste na remoção destes poluentes da atmosfera, este
processo pode ocorrer por via seca ou úmida (FLAGAN; SEINFELD, 1988).
Acadêmico, você sabe o que quer dizer emissão, dispersão e deposição atmosférica?
O processo de emissão consiste no lançamento dos poluentes, que podem ser
gases ou partículas para a atmosfera, de uma fonte que pode ser fixa ou móvel. A
Figura 4.1 ilustra este processo.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 161


U4

Figura 4.1 - Processo de emissão de poluentes O processo de dispersão


atmosféricos por uma fonte fixa consiste no transporte, na diluição
ou no espalhamento destes
poluentes no ambiente.

Por fim, o processo de


deposição atmosférica consiste
na retirada destes poluentes do
ar, que pode ser por via seca ou
úmida. A Figura 4.2 ilustra um
exemplo de deposição úmida
com acidez elevada em uma
área de floresta, ou seja, com
Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/ ocorrência de chuva ácida.
commons/f/ff/Air_.pollution_1.jpg>. Acesso em: 20 out. 2014.

Figura 4.2. Processo de deposição úmida com Em gestão ambiental, o


acidez elevada, chuva ácida em uma região de controle de poluição do ar pode
floresta, que fez com que a floresta fosse alterada
ser classificado como uma
estratégia a ser realizada em
uma determinada região que
não possui condições suficientes
para realizar sua dispersão, pois,
através do controle, os impactos
serão menores.

1.2. Principais poluentes


atmosféricos
A poluição do ar está
relacionada principalmente à
emissão de compostos químicos,
mas não exclusivamente a eles.
De acordo com a Resolução
CONAMA n° 003/1990, os
poluentes atmosféricos são
Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/6/6e/Waldschaeden_Erzgebirge_3.jpg>. definidos como:
Acesso em: 20 out. 2014.

[...] qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade,


concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis
estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: I – impróprio, nocivo
ou ofensivo à saúde; II - inconveniente ao bem-estar público; III - danoso
aos materiais, à fauna e flora. IV - prejudicial à segurança, ao uso e gozo da
propriedade e às atividades normais da comunidade. (CONAMA, 1990, p. 1).

162 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Desta forma, podemos relacionar a poluição atmosférica como sendo os


efeitos que são derivados das atividades que emitem compostos para o ar e que se
enquadram nas definições do CONAMA. A Figura 4.3 exemplifica um caso onde há
a emissão de poluentes atmosféricos que irão resultar na poluição do ar.

A seguir, vamos conhecer, de forma resumida, um pouco acerca dos


principais compostos químicos que são emitidos para o ar por fontes antrópicas,
principalmente os que são responsáveis pela poluição do ar e necessitam de
controle e monitoramento. Estes compostos são basicamente formados em
processos de combustão incompleta.

Os principais poluentes atmosféricos são: os hidrocarbonetos (de origem


antrópica, surgem na atmosfera principalmente através da evaporação de
combustíveis fósseis e por processos de combustão incompleta), óxidos de
nitrogênio (NOx – são originados em motores de veículos, em processos industriais,
usinas termelétricas e incinerações, como também em fontes naturais), oxidantes
fotoquímicos (ozônio troposférico, peroxiacetilnitrato – PAN, peroxibenzolnitrato
– PBN, e outros peróxidos orgânicos, de origem antrópica, estes poluentes são
chamados de secundários), material particulado (constituído de poeiras, neblina,
aerossóis, fumaça, fuligem e todo tipo de material sólido ou líquido, que, em
tamanho muito pequeno, fica suspenso
Figura 4.3. Emissão de poluentes para
atmosfera por fonte fixa, que faz com no ar), monóxido de carbono (é originado
que a atmosfera se torne poluída ao longo em processos de combustão incompleta,
do tempo principalmente de combustíveis fósseis,
tanto pela indústria como pelos veículos
automotores), óxido de enxofre (formado
por processos de combustão e industriais,
pode ser convertido originando outros
tipos de poluente), entre outros (ÁLVARES
JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

Mas como podemos caracterizar esta


poluição ou essa emissão de compostos
para atmosfera? Para responder a esta
pergunta, primeiro precisamos conhecer
um pouco melhor esta fina camada que
se estende ao redor do planeta, que é,
além de tudo, essencial à vida na Terra.

Fonte: Wikimedia Commons. Disponível em: <http://


upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/2/27/Emiss
%C3%A3o%2Bde%2Bgases%2Bpoluentes.jpg>. Acesso
em: 20 out. 2014.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 163


U4

Acadêmico, você sabe o que quer dizer emissão atmosférica?


Neste link temos um material que aborda o conceito de emissões
atmosféricas e dá um giro pelos principais poluentes que são de controle
obrigatório. Leia e confira! http://www.ipt.br/download.php?filename=35-
Emissoes_atmosfericas.pdf>.

1.3 Atmosfera terrestre

A atmosfera terrestre, segundo Barry e Chorley (2013, p. 1), é “vital à vida terrestre,
envolve a Terra em uma espessura de apenas 1% do raio do planeta”.

A atmosfera é composta por uma mistura de gases chamada de ar, que


pode ser definido como “um contínuo fluido ideal compressível [...], esse fluido
é consumido como insumo básico da vida sem qualquer forma de tratamento”
(ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002, p. 28).

O ar não é considerado um composto químico, e sim uma mistura de vários


compostos químicos, que no total apresentam uma composição centesimal com
aproximadamente 99% de nitrogênio e oxigênio (BARRY; CHORLEY, 2013). A
Tabela 4.1 que é mostrada a seguir apresenta a composição média da atmosfera
seca abaixo dos primeiros 25 km de altitude, que compreende a troposfera e a
baixa estratosfera.

Tabela 4.1. Composição média da atmosfera seca ao nível da troposfera

Componentes Símbolo Volume (% de ar seco)


Nitrogênio N2 78,08
Oxigênio O2 20,95
Argônio Ar 0,93
Dióxido de carbono CO 2 0,037
Ozônio O 3 0,00006
Metano CH4 0,00017
Hidrogênio H2 0,00005
Fonte: Adaptado de Barry e Chorley (2013)

De acordo com Álvares Júnior, Lacava e Fernandes (2002), podemos expressar


os resultados das concentrações dos poluentes atmosféricos através destas outras
unidades de medida também, como o miligramas por metro cúbico (mg m-3),
microgramas por metro cúbico (μg m-3) ou partes por milhão em volume (ppmv).

164 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Conhecendo um pouco sobre os processos de emissão atmosférica e sobre


a composição do ar, podemos iniciar agora os estudos relacionados à questão
do controle das emissões atmosféricas. Para começar, como podemos classificar
uma medida de controle de poluição do ar?

Inicialmente começamos com um ponto básico, que é classificar as


medidas de acordo com o tipo de tratamento desejado, ou seja, trabalhar com
medidas corretivas ou com medidas preventivas; em seguida, conhecer os
mecanismos de coleta e sua eficiência e, por fim, conheceremos um pouco sobre
as medidas indiretas de controle, que buscam a eliminação do poluente antes de
sua geração.

1.4 Medidas diretas e indiretas de controle de poluição do ar


O controle de emissões de poluentes atmosféricos pode ser feito baseado em
dois princípios da gestão ambiental. O primeiro princípio é de caráter preventivo
e é classificado como uma medida indireta, a qual visa eliminar a emissão de
um poluente atmosférico através da não geração do mesmo, ou pelo menos sua
redução durante o processo de formação. Outras formas que podemos considerar
como sendo medidas indiretas são: a diluição feita antes de emissão, facilitando
assim sua dispersão, a segregação destes poluentes e também o seu afastamento
para que não ocorra uma zona de saturação.

O segundo princípio é de caráter corretivo e é classificado como uma medida


direta, pois houve a formação do poluente, desta forma sua geração não pode ser
evitada e, em função disto, eu preciso abater essa poluição, ou seja, utilizo técnicas
que ajudam a diminuir a emissão de poluentes atmosféricos que são formados no
processo industrial, através de equipamentos de controle.

1.5 Classificação de equipamentos de controle de poluição do ar


Os equipamentos utilizados para controle de poluentes do ar podem ser
divididos em duas categorias diferentes, uma está relacionada aos equipamentos
que são utilizados para diminuição ou eliminação de gases poluentes e a outra
está baseada em equipamentos que são utilizados para eliminação ou diminuição
da emissão de material particulado.

Acadêmico, você se recorda dos conceitos de controle de poluição do ar? Entre


as categorias de poluentes impactantes sobre o ambiente, temos uma categoria
chamada de material particulado. Você se recorda deste assunto? De acordo com
Baird e Cann (2011, p. 23), “material particulado são partículas sólidas ou líquidas
(exceto a água pura), que estão suspensas no ar e, de um modo geral, são invisíveis
a olho nu”.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 165


U4

Para coleta de material particulado, temos os coletores secos, que operam em


ambientes com baixos teores de umidade. Estes podem ser do tipo de coletores
mecânicos (inerciais, gravitacionais e centrífugos), precipitadores (dinâmicos e
eletrostáticos) e filtros de tecido (filtros do tipo manga e envelope). Já os coletores
úmidos trabalham em ambientes onde exista umidade no ar, dentro de uma faixa
aceitável, que pode variar de um equipamento para outro. Dentro desta categoria
temos os coletores do tipo de pulverizadores e lavadores (com enchimento,
ciclônico, Venturi e de leito móvel) (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Para coleta e tratamento de gases industriais, temos os seguintes tipos de


equipamentos: absorvedores, adsorvedores, condensadores e incineradores (de
gás com chama direta e de gases catalíticos) (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Para escolha do melhor sistema para controle de poluentes do ar, alguns


aspectos técnicos precisam ser destacados. Entre eles, temos o tipo e natureza
dos poluentes (gases ou partículas, por exemplo), a vazão da fonte (para avaliar a
eficiência de retenção destes poluentes), condições locais (área geográfica onde
a fonte de poluição será instalada, se a área permite a dispersão dos poluentes)
e também as formas como serão destinados os poluentes coletados por estes
sistemas (sólido ou líquido, os tratamentos pós-coleta, se aplicável etc.). Além
disso, após ter sido realizada a avaliação técnica dos equipamentos, deve-se
realizar a viabilidade econômica, contabilizando os custos de aquisição, operação
e manutenção dos mesmos (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

1.6 Mecanismos de coleta de material particulado


Para que ocorra a captura dos poluentes atmosféricos do ar, os sistemas de controle
necessitam de um mecanismo que tenha a finalidade de reter estes poluentes. Os
principais processos são:

• Sedimentação gravitacional (baseia-se na atração gravitacional que o planeta


exerce sobre os corpos presentes na atmosfera),

• Impactação inercial (refere-se ao choque direto das partículas contra anteparos


estrategicamente dispostos, para alterar o estado de movimento das partículas
que possuem energia para continuar no caminho do fluxo gasoso). A Figura 4.4
representa este mecanismo (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).
Figura 4.4 -
Mecanismo de
impactação,
as partículas
perdem seu
movimento junto
ao fluxo gasoso
pelo choque
com anteparos
estrategicamente
dispostos para
esta finalidade Fonte: Wikimedia Commons. Dísponivel em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/2/26/Impaction_scrub.gif>. Acesso em: 20 out. 2014.

166 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

• Interceptação (é um caso limite de impactação, onde partículas de pequenas


dimensões e trajetória não retilínea não se chocam diretamente com o anteparo;
neste caso, as partículas seguem o fluxo de ar e são removidas pela sua aderência
à superfície externa do anteparo, mas sem grande impacto) (ÁLVARES JÚNIOR;
LACAVA; FERNANDES, 2002).

• Difusão (ocorre com partículas bem pequenas que permanecem em movimento


aleatório, que acontece no interior do fluxo gasoso devido à energia térmica
nelas contida) (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

• Força eletrostática (baseia-se na força de atração ou repulsão que é estabelecida


entre duas partículas ou corpos em desequilíbrio térmico, que tem como
consequência sua atração ou seu afastamento) (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA;
FERNANDES, 2002).

• Força centrípeta (baseia-se em partículas que apresentam trajetória curvilínea,


tendendo a afastar-se de sua trajetória).

1.7 Mecanismos de coleta de gases


Vimos anteriormente quais são os processos que explicam como as partículas
suspensas no ar são removidas por equipamentos de controle. Mas como ocorrem os
processos de remoção quando gases poluentes estão presentes no fluxo gasoso e que
também necessitam ser removidos?

Para que ocorra a retenção dos gases, recorremos a alguns mecanismos para
descrever como ocorre este fenômeno. Segundo Álvares Júnior, Lacava e Fernandes
(2002), estes são definidos como:

• Adsorção – Processo físico superficial, onde a molécula de um composto


químico é aderida a outra molécula de outro composto químico, normalmente
ocorre entre o meio sólido-gasoso, quando se fala em remoção de gases do ar.

• Quimissorção – Processo físico superficial idêntico à adsorção, diferenciando-


se apenas pelo fato de que o processo ocorre por meio de reação química.

• Absorção – Semelhante à adsorção, neste caso a molécula fica retida no interior


de outro composto químico, o processo não é superficial.

• Combustão – Trata-se de uma reação química de oxidação, onde um


combustível reage na presença de um comburente através de uma fonte
de ignição e forma como produto dióxido de carbono, água e energia, este
processo é também conhecido como queima.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 167


U4

1. Um dos grandes problemas enfrentados todos os dias pelos


habitantes de uma grande cidade são os efeitos gerados
pela emissão de compostos provenientes da combustão
de combustíveis fósseis em veículos automotores. Entre os
importantes poluentes que são gerados por este tipo de fonte
temos o monóxido de carbono e a fumaça, também conhecida
como material particulado. Entre os mecanismos de remoção
de gases e partículas da atmosfera, assinale a alternativa correta
onde é possível a remoção do monóxido de carbono e da fumaça,
respectivamente, da exaustão dos motores.

a) Combustão e combustão.
b) Adsorção e combustão.
c) Impactação e interceptação.
d) Adsorção e impactação.

1.8 Métodos indiretos de controle de emissões atmosféricas


Métodos indiretos são aqueles em que se busca eliminar a emissão dos compostos
químicos para a atmosfera antes mesmo de sua formação no processo de origem ou sua
diminuição, por isso são métodos preventivos de tratamento de emissões.

Os métodos indiretos têm como objetivos principais:


1. Impedir a geração do poluente – baseia-se na busca de matérias-primas e
reagentes químicos durante o processo, que faz com que não ocorra a formação
do poluente, e também na mudança de processos e operações, que os tornam
mais eficientes, eliminando o poluente antes de sua formação.

2. Diminuir a quantidade de poluente gerada – baseia-se em vários pontos,


podendo ser na operação adequada de equipamentos industriais, que operam
dentro de sua capacidade nominal de trabalho, na operação e manutenção
adequadas dos equipamentos que dão origem ao poluente, no armazenamento
adequado de material sólido formado por partículas muito pequenas, chamadas
de material pulverulento, na educação ambiental, que faz com que o cidadão
comece a ter noção dos impactos da poluição sobre sua vida, e na mudança de
processos e operações, que, se feitos de forma adequada, reduzem a geração
de determinados poluentes (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

3. Diluição das emissões através de chaminés elevadas – baseia-se na diluição dos

168 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

poluentes em alta atmosfera, que faz com que as emissões de poluentes atinjam
os receptores de forma diluída, não lhes causando nenhum tipo de prejuízo.
Este tipo de metodologia é totalmente dependente das condições topográficas
e meteorológicas locais, ou seja, das condições do local onde a empresa foi
instalada (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

4. Mascaramento do poluente – baseia-se na substituição da poluição gerada pelo


odor de um poluente pela superposição de outro odor mais agradável (LISBOA;
SCHIRMER, 2007).

5. Localização da fonte – baseia-se no princípio do afastamento de uma fonte


de emissão de poluentes atmosféricos para áreas onde não haja núcleos
populacionais, este planejamento ambiental faz com que se aproveite
melhor as capacidades de diluição da atmosfera (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA;
FERNANDES, 2002).

6. Construção e manutenção adequada das plantas industriais – baseiam-se nos


princípios de armazenamento dos reagentes e produtos químicos pela empresa,
evitando emissões fugitivas e pelo tratamento e disposição correta dos resíduos
sólidos e líquidos gerados pela empresa (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 169


U4

A empresa Dante S.A. trabalha no setor de fundição de metais


para produção de peças de reposição de motores. Para alcançar
as temperaturas necessárias, utiliza-se grande quantidade de
combustíveis fósseis, que são queimados em fornos rotativos
que alcançam temperaturas em torno de 1.200 °C, o que gera
grande concentração de poluentes do ar, como monóxido de
carbono, óxido de enxofre e nitrogênio, dióxido de carbono e
material particulado. Devido a problemas com o órgão ambiental
de seu Estado, a empresa resolveu diminuir suas emissões de
poluentes atmosféricos através de medidas preventivas. Para
correção deste problema de forma responsável, contratou um
gestor ambiental para sugerir quais tipos de medidas poderiam
ser tomadas para diminuição das emissões de forma preventiva.
Entre as propostas sugeridas pelo gestor ambiental, assinale a
alternativa que não corresponde a uma medida preventiva de
controle de emissões de poluentes do ar.

a. Substituição do combustível utilizado no forno por um


que não contenha enxofre em sua constituição, deste modo,
elimina-se a geração de óxido de enxofre no processo.

b. Adequação da planta operacional da empresa, buscando-


se melhor eficiência de processo, que, como consequência,
reduzirá o consumo de combustível e a emissão de poluentes
atmosféricos.

c. A instalação de um filtro de membrana na saída da chaminé,


que fará com que parte do material particulado gerado no
processo seja removida do ar e passe para a fase sólida, sendo,
desta forma, possível a sua destinação correta.

d. Adequação dos equipamentos utilizados para queima


de combustível visando melhor eficiência e manutenção e
limpeza adequada de todo o sistema, além das adequações
dos ambientes onde são armazenados os combustíveis para
que não ocorram emissões fugitivas.

170 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Seção 2
Métodos diretos de controle de
emissões – gases e partículas
Acadêmico, agora chegamos a um ponto importante da nossa unidade de
ensino, que é estudar os métodos que são mais utilizados para controle de emissões
atmosféricas industriais. Mas, para começar, você recorda o que quer dizer métodos
diretos de controle de emissões?

Métodos diretos visam remover os poluentes que já foram gerados e não podem ser
diretamente lançados na atmosfera. Estes métodos visam à adequação das emissões de
poluentes para o ar às exigências de padrões estipulados por legislações específicas, que
podem ser nacionais, estaduais ou municipais. Para cumprir estas exigências, utilizam-
se equipamentos de controle, colocados diretamente nos pontos de saída das fontes
geradoras e poluidoras. Este controle funciona como se fosse um filtro, onde elimina
os compostos contaminantes através de determinados princípios, como a impactação
inercial, que na verdade ocorre através da transferência do poluente do meio gasoso
para os meios sólido e/ou líquido (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

De uma forma bem objetiva, podemos dizer que as medidas diretas


simplesmente transferem a poluição de um meio para outro, não resolvendo o
problema propriamente dito.

Estes equipamentos são selecionados e classificados de acordo com as características


físico-químicas dos poluentes de interesse, pois é a partir desta categoria que podemos
definir quais os tipos de mecanismos de coleta que podem ser utilizados.

Desta forma, quais são os equipamentos que podem ser utilizados para controle
de partículas? E quais são os equipamentos que são utilizados para controle
de gases?

Iniciamos a seguir com os equipamentos destinados ao controle de material


particulado, seguindo dos equipamentos de controle de poluição gerada por gases
tóxicos, e, por fim, conheceremos a técnica de biofiltração.

2.1 Equipamentos de sedimentação


gravitacional – material particulado
Estas câmaras são baseadas no princípio da gravidade para fazer a separação das
partículas do fluxo gasoso antes delas serem lançadas no ar. Nestas câmaras, os gases

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 171


U4

entram conduzidos por uma tubulação em uma cavidade de maior dimensão; com
isso, as partículas presentes no fluxo gasoso perdem sua velocidade, fazendo com que
as partículas maiores sejam atraídas pela gravidade para o fundo desta cavidade, sendo
coletadas em um compartimento abaixo da câmera, enquanto o resto do fluxo gasoso
segue seu caminho. A velocidade do fluxo não pode ser muito alta, para evitar que as
partículas sejam arrastadas durante o processo de sedimentação (ÁLVARES JÚNIOR;
LACAVA; FERNANDES, 2002).

Estas câmaras podem ser utilizadas para pré-coleta de partículas grandes e para a
diminuição ou redução do material particulado nas etapas seguintes do tratamento nos
coletores finais. Como vantagem, estes apresentam baixa perda de carga, apresentam
facilidade de desenvolvimento de projeto, construção e instalação simples, a instalação
e a manutenção são de baixo custo, não apresentam limite de temperatura, exceto
para determinados tipos de materiais específicos (como, por exemplo, material de
construção). Estes equipamentos realizam a coleta a seco, o que permite recuperação
mais fácil do material. Como desvantagem, estes equipamentos necessitam de grande
espaço para instalação e não são eficientes para coleta de partículas menores que 10
μm, material particulado fino (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

As câmaras de sedimentação apresentam poucos problemas relacionados à


manutenção, se operados adequadamente. Elas apresentam problemas internos e
externos de corrosão e pode ocorrer a formação de depósitos de material dentro da
cavidade quando as partículas separadas apresentam caráter hidrofóbico. Estas são
muito utilizadas para pré-tratamento de emissões de partículas, capturando as partículas
maiores e preparando o fluxo para o tratamento mais eficiente e maior remoção de
partículas finas (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

2.2 Equipamentos do tipo ciclones – material particulado

Figura 4.5 - Tornado


ocorrido em Manitoba,
Canadá, no ano de 2007
Para pensar no princípio de funcionamento
deste tipo de equipamento, podemos fazer
uma simples comparação, com o movimento
realizado por um ciclone que ocorre em um
fenômeno climático, o tornado (Figura 4.5),
que consiste em uma coluna de ar que gira
violentamente e potencialmente perigosa. Mas
como podemos imaginar o movimento do ar
em um tornado com o movimento do ar em um
equipamento para remoção de partículas das
correntes gasosas?
Fonte. Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Tornado#mediaviewer/File:F5_tornado_Elie_Manitoba_2007.jpg>.
Acesso em: 20 out. 2014.

172 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Equipamentos do Figura 4.6 - Ciclone utilizado para controle de material particulado


tipo ciclone funcionam emitido por processos industriais
segundo o mecanismo
de ação que é baseado
na força gravitacional da
Terra em conjunto com a
força centrípeta, que está
relacionada ao movimento
rotacional do ar. Neste
tipo de equipamento,
a força centrípeta faz
com que as partículas
presentes no fluxo de ar
do equipamento irão ao
encontro das paredes
cônicas do aparelho, onde
perdem sua energia de
movimento e tendem a
descer através de uma
trajetória circular com
formato de um vórtex
descendente. As partículas,
ao final do processo, são
coletadas na parte inferior Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Separador_
cicl%C3%B4nico#mediaviewer/File:SeparadorCiclonico.jpg>. Acesso em: 20 out. 2014.
do aparelho que contém
um compartimento para superior do equipamento onde pode ser lançado
esta finalidade, enquanto diretamente na atmosfera, ou pode passar por outro
que o fluxo de ar segue tipo de equipamento de controle de poluição (ÁLVARES
seu caminho, mais JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002). A Figura 4.6
leve do que entrou. O apresenta um equipamento do tipo ciclone simples, que
fluxo de ar sai pela parte é utilizado para controle de poluição do ar.

Os sistemas ciclone são os mais utilizados, principalmente como pré-coletores. Estes


apresentam as características: são de fácil construção e de baixo custo, apresentam
poucos problemas de manutenção, operam em diferentes faixas de temperatura e a
seco, mas têm problemas quando as partículas apresentam características de aderir
às paredes do aparelho, sua configuração é simples e são eficientes para coleta de
partículas maiores que 5 μm; quando operam com partículas menores, apresentam
baixa eficiência (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

Quando vários equipamentos ciclone são operados em conjunto, trabalhando


em paralelo, forma-se uma nova categoria de equipamentos, chamados de
multiciclones, como é mostrado a seguir na Figura 4.7. Estes equipamento apresentam
como vantagem, em relação aos ciclones convencionais, menor perda de carga para

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 173


U4

eficiências equivalentes, sua eficiência é melhor, o custo é menor, o espaço necessário


para operação do aparelho é menor e estes apresentam melhor resistência à corrosão
(LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Figura 4.7 - Multiciclones


Por apresentar pequenos diâmetros, os
multiciclones apresentam alta eficiência e excelente
qualidade de separação, entretanto, podem
apresentar problemas de entupimento frequente.
Estes equipamentos são utilizados para separação
de partículas grandes, com diâmetros maiores que
10 μm, e às vezes como coletor final (ex.: quando
trabalha com pó de madeira). Um dos problemas que
este tipo de sistema pode apresentar é a possibilidade
de abrasão de determinados tipos de partículas
quando são tratadas com altas temperaturas e
velocidades de rotação (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Em comparação com a câmara de


sedimentação, os ciclones apresentam melhor
eficiência. Um detalhe importante é que, muitas
vezes, a câmara de sedimentação serve como um
pré-coletor para o sistema ciclone.
Fonte: Wikimedia. Disponível em: <http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/e/eb/Sch_Multi-
Cyclone.jpg>. Acesso em: 20 out. 2014.

2.3 Filtros – material particulado

A técnica mais simples e amplamente utilizada para separação de compostos que


apresentam estados físicos diferentes é a filtragem. Mas como podemos definir o que
é filtragem?

A filtração ou filtragem consiste na separação de uma mistura composta, por


exemplo, de materiais sólidos de diferentes granulometrias ou de materiais sólidos
insolúveis suspensos em uma fração líquida, entre outras, na qual a separação ocorre
devido a uma restrição mecânica. O filtro, deste modo, faz-se passar a mistura por
este, com isso, obtemos a separação das fases.

A filtração também é o processo mais utilizado no controle de poluição do ar.


Ela pode ser dividida de acordo com o tipo de filtragem a ser realizada. Inicialmente
temos os filtros que podem ser descartáveis ou não descartáveis. Os fenômenos
envolvidos na separação por filtração podem ser do tipo impactação inercial,
interceptação, difusão e também por forças eletrostáticas e gravitacionais (ÁLVARES
JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

174 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

A indústria utiliza muito os filtros de tecido para servir como método de controle
para emissões gasosas, sendo que o fluxo de ar passa através dos poros existentes na
membrana do tecido, enquanto as partículas ficam retidas no tecido.

Nos filtros atuam os mecanismos de impactação e interceptação, os quais são


responsáveis pela retenção de aproximadamente 99% das partículas maiores que 1
μm. Outro fator importante a respeito da utilização dos filtros é que as partículas
retidas na malha do tecido servem como meio filtrante para outras partículas;
o grande problema é que, conforme aumenta esta camada depositada sobre o
tecido, diminui-se a eficiência no processo de filtragem (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA;
FERNANDES, 2002).

2.3.1 Filtros tipo manga


Os filtros do tipo manga são os mais utilizados pela indústria, devido principalmente
à sua eficiência de separação e seu custo-benefício. O fluxo de ar contaminado com
material particulado entra na parte inferior do filtro, que possui um duto por onde o
ar saturado percorre. Após o processo de entrada, já dentro do filtro, o fluxo de ar
contaminado com material particulado é separado, sendo que o fluxo de ar continua
seu percurso até ser lançado na atmosfera e o material particulado fica retido
nas mangas deste tipo de filtro. As membranas deste tipo de filtro são compostas
basicamente por fibras sintéticas ou naturais. Os filtros possuem forma tubular e estão
fixos no corpo do filtro da manga, o que facilita o direcionamento do fluxo de ar e o
processo de separação. Um dos grandes problemas deste tipo de sistema é que ele
necessita de limpeza constante para que não ocorra a interrupção do processo de
filtragem (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

Os filtros do tipo manga são classificados de acordo com o tipo de sistema de


limpeza que é utilizado. Neste caso, temos os do tipo sacudimento mecânico (consiste
na limpeza pela agitação mecânica), o de ar reverso (consiste no desprendimento
das partículas pela inversão do fluxo de ar) e o de jato pulsante de ar comprimido
(consiste na geração de um jato de ar por um sistema Venturi, que percorre toda a
membrana, expandindo-a e realizando sua limpeza) (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

2.3.2 Filtros tipo envelope Figura 4.8 - Filtro tipo envelope, utilizado como
filtro de ar em veículos automotores

É um tipo de filtro semelhante ao


modelo do tipo manga, mas apresenta
formato de envelope. Este tipo de filtro
é utilizado quando a concentração de
material é muito alta. Um exemplo de
filtro do tipo envelope é o filtro de ar
dos veículos, conforme demostra a
Figura 4.8.
Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/
Filtro_de_ar#mediaviewer/File:Air_filter,_opel_astra%282%29.
JPG>. Acesso em: 20 out. 2014.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 175


U4

2.3.3 Escolha do meio filtrante

Depois de termos conhecido os dois principais tipos de filtros que são utilizados
no controle da emissão de poluentes do ar, nos vem uma dúvida na cabeça: quais
são os tipos de membranas (materiais constituintes) que podemos utilizar para esta
finalidade?

A escolha do meio filtrante a ser utilizado, de acordo com Lisboa e Schirmer


(2007), dependerá de várias características, como:

∞∞ Do gás transportador (onde os fatores como temperatura, umidade, alcalinidade e


acidez do meio precisam ser levados em consideração).

∞∞ Das características das partículas a serem filtradas (onde os fatores concentração,


distribuição de tamanhos, abrasividade são importantes).

∞∞ Do tipo de limpeza a ser utilizado (devido à eficiência do método).

∞∞ Do custo e da disponibilidade no mercado do material constituinte da


membrana escolhida.

Os filtros de tecido são de elevada eficiência para fumos e poeiras acima de 0,1
μm e são usados na captação de poeira de moagem; mistura e pesagem de
grãos de cereais; moagem de pedra, argila e minerais; trituração de cimento;
limpeza por abrasão; pesagem e peneiramento de produtos químicos em
grãos; trabalhos em madeira, curtumes, fertilizantes, papel, etc. Os materiais
tradicionalmente usados na fabricação de pano são o algodão e a lã, desde
que utilizados em temperaturas de até 82 e 90 °C, respectivamente, e para
correntes de ar sem umidade. Para temperaturas mais elevadas e poluentes
agressivos a esses materiais, é necessário recorrer a tecidos de outros materiais,
como poliamida, poliéster, polipropileno, fios metálicos, fibras de vidro etc.
Os filtros com feltro de poliéster duram cerca de três vezes mais do que os de
algodão, e por isto são também muito usados (LISBOA; SCHIRMER, 2007, p. 31).

De um modo geral, os filtros utilizados para controle de emissões atmosféricas


apresentam as seguintes vantagens: proporcionam alta eficiência de coleta, sofrem
pouca variação conforme a variação de vazão do fluxo de ar, coletam o material
a seco, o que facilita sua recuperação, podem ser operados quando o material
apresenta resíduos líquidos, apresentam fácil operação e manutenção e apresentam
vida útil longa. Como desvantagem, a temperatura de operação não pode exceder a
temperatura de resistência do material do filtro, apresentam alto custo para realização
de manutenção e não podem ser operados onde haja condições de condensação de
umidade (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

176 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

A utilização de filtros para retenção de poluentes atmosféricos


particulados é de grande importância e utilização pela indústria,
devido à facilidade de uso e de custos operacionais, juntamente
com a alta eficiência de retenção, porém, para correta seleção
da membrana filtrante a ser utilizada, alguns cuidados devem ser
tomados para que não ocorram fatos inconvenientes durante o
seu funcionamento, como a perfuração da membrana. Assinale
a alternativa correta que descreve os cuidados necessários para
a correta escolha da membrana filtrante a ser utilizada em um
determinado processo industrial.

a. Para escolha da membrana filtrante, devemos levar em


consideração o tipo de gás transportador, ou seja, o fluxo gasoso
que contém as partículas em suspensão, pois fatores como
temperatura, umidade, alcalinidade e acidez podem romper
determinados tipos de membrana.
b. Para escolha da membrana filtrante, precisamos levar em
consideração as características das partículas a serem filtradas,
porém, sua concentração e distribuição de tamanhos são fatores
que não irão interferir em seu funcionamento, não necessitando
de controle.
c. Para determinação da membrana filtrante, não necessitamos
levar em consideração o tipo de limpeza a ser utilizado, pois todos
os processos apresentam a mesma eficiência para esta finalidade.
d. Para escolha da membrana filtrante, o custo é um ponto
importante a ser levado em consideração, porém, a disponibilidade
no mercado do material constituinte da membrana escolhida não
irá interferir na substituição da peça quando necessitar

2.4 Lavadores – material particulado, gases e vapores


Os lavadores são equipamentos utilizados para controle de poluição do ar que
baseiam seu funcionamento no mecanismo da absorção das partículas em um
meio líquido, que ocorre por contato forçado, ou também por impactação inercial,
que acontece por diferentes maneiras, e estas estão relacionadas ao tipo de lavador
que é utilizado. O líquido onde as partículas são transferidas de fase necessita, após
determinado tempo de uso, ser encaminhado para um sistema de remoção de
partículas, para que possa voltar a ser utilizado no lavador. Este tipo de equipamento
pode ser utilizado tanto para partículas como para gases e vapores (ÁLVARES
JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

O processo deste tipo de equipamento é úmido, pois necessita de um meio


líquido para retenção das partículas. Atualmente, existe uma grande diversidade de
equipamentos disponíveis no mercado, entre eles podemos destacar os lavadores

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 177


U4

do tipo Venturi e de orifício, que baseiam seu funcionamento no contato entre o


gás e o líquido por meio do processo de nebulização da água no caminho do fluxo
de ar, no qual resulta em um aglomerado de partículas que necessita, então, de
um equipamento para efetivação da coleta dos aglomerados (ÁLVARES JÚNIOR;
LACAVA; FERNANDES, 2002). A Figura 4.9 apresenta a imagem de um equipamento
do tipo Venturi, que apresenta alta eficiência na remoção de partículas, quando
operado dentro de sua capacidade nominal. Outro tipo importante é a câmara de
spray gravitacional, que é um lavador de orifício, onde se consegue a separação
passando-se o fluxo sob pressão, pelo orifício de bico que promove a aspersão do
meio líquido, como é apresentado na Figura 4.10.
Figura 4.9 - Lavador do tipo Venturi, utilizado Figura 4.10 - Lavador do tipo torre utilizado para
para controle de emissões de material controle de emissões de material particulado,
particulado, gases e vapores, apresentando alta gases e vapores
eficiência de remoção de partículas

Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/ Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/
Wet_scrubber#mediaviewer/File:Venturimistelim.gif>. Wet_scrubber#mediaviewer/File:Packedtowerex.gif>.
Acesso em: 20 out. 2014. Acesso em: 20 out. 2014.

Os lavadores, de um modo geral, apresentam como vantagem a possibilidade


de serem utilizados em gases com elevadas temperaturas, são eficientes para a
coleta de partículas adesivas. Umidade é um fator que não interfere no processo
de coleta. São multifuncionais, pois são eficientes e muito utilizados para remoção
de gases, partículas e vapores. Entretanto, este mesmo sistema pode apresentar,
de uma maneira geral, algumas desvantagens, como, por exemplo, necessita
de materiais altamente resistentes à corrosão em sua estrutura, pode ocorrer a
formação de pluma visível devido à condensação da umidade contida nos gases,
o material removido necessita de tratamento adequado para destinação final, pois
ele é transferido para o meio líquido, transformando-se em um efluente industrial, e
apresenta custo operacional elevado (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

178 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

2.5 Precipitadores eletrostáticos – material particulado

Acadêmico, você já ouviu falar em precipitadores eletrostáticos? Consegue descrever


qual é o princípio de funcionamento de um sistema com estas características?

O funcionamento deste tipo de sistema é baseado na ionização das partículas (sólidas


ou líquidas) que estão presentes em um fluxo de ar, de modo que, ao atravessar um
campo elétrico, estas são atraídas para o eletrodo, onde são descarregadas e caem no
coletor, sendo removidas posteriormente (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES,
2002). A Figura 4.11 apresenta um esquema de como é o funcionamento de um sistema
de precipitadores eletrostáticos, neste conseguimos observar o princípio do método
como descrito anteriormente.
Figura 4.11 - Princípio de
funcionamento de um precipitador
eletrostático

Estes equipamentos apresentam-se como um meio


efetivo para controle de emissões atmosféricas quando
o fluxo de ar apresenta partículas suspensas. São
utilizados como coletores finais para material particulado
de todos os tamanhos, em fontes de emissão pequenas
ou grandes.

De acordo com Lisboa e Schirmer (2007),


Fonte: Wikimedia. Disponível em: <http://upload.
wikimedia.org/wikipedia/commons/5/52/
Electrostatic_precipitator.svg>. Acesso em: 21
out. 2014.

O processo de precipitação eletrostática se inicia com a formação de íons


gasosos pela descarga da corona de alta voltagem no eletrodo de descarga.
A seguir, as partículas sólidas e/ou líquidas são carregadas eletricamente pelo
bombardeamento dos íons gasosos ou elétrons. O campo elétrico existente
entre o eletrodo de descarga e o eletrodo de coleta faz com que a partícula
carregada migre para o eletrodo de polaridade oposta, descarregue a sua carga,
ficando coletada. De tempos em tempos a camada de partícula se desprende
do eletrodo de coleta, pela ação do sistema de "limpeza", e por gravidade se
deposita na tremonha de recolhimento, de onde então é transportada para o
local de armazenamento para posterior condicionamento e/ou reutilização e/
ou reposição final.

Este sistema apresenta como vantagens: a alta eficiência de coleta, que funciona
para partículas muito pequenas (nestes sistemas não há limitação para o tamanho
das partículas), o custo operacional é relativamente baixo, apresenta poucas partes
susceptíveis de manutenção, opera em altas temperaturas, podendo chegar a até
650 °C. Ele também coleta o material a seco e apresenta vida útil longa. Como
desvantagem, possui investimento inicial muito alto, exige grande área superficial para
sua instalação, principalmente quando operado a altas temperaturas, e pode ocorrer

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 179


U4

também explosão quando operado nestas mesmas altas temperaturas (LISBOA;


SCHIRMER, 2007). A Figura 4.12 apresenta a foto de um precipitador eletrostático em
uma área industrial
Figura 4.12 - Exemplo de um precipitador 2.6 Condensadores - Gases
eletrostático industrial

A condensação está baseada no resfriamento


controlado do fluxo de ar contendo materiais
contaminantes, conforme pode ser observado
na Figura 4.13, através de um exemplo com
uma garrafa gelada. Quando a temperatura do
equipamento é reduzida e alcança a pressão onde o
composto orgânico começa a formar as primeiras
gotículas, nas mesmas condições em um fluxo
gasoso, temos a tendência de que estas gotículas
comecem a se aglomerar, ganhando peso, que,
como consequência, tende a condensar. Este
mesmo princípio é utilizado em sistemas de
destilação. Como estes aglomerados tendem a
precipitar no interior dos condensadores, eles são
removidos do fluxo de ar, que é então purificado e
liberado na atmosfera, sendo a eficiência de remoção
de contaminantes muito alta, mas dependente da
Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://upload. temperatura do fluxo gasoso que entra no sistema
wikimedia.org/wikipedia/commons/7/70/Electrostatic_
precipitator_in_Gdansk.jpg>. Acesso em 21 out. 2014.
(ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002).

Figura 4.13. Processo de condensação, observado pela formação de


gotículas de água provenientes da umidade do ar que condensam
sobre a superfície do recipiente que apresenta uma temperatura inferior
à temperatura ambiente
Um inconveniente
destes sistemas é
que eles não podem
ser operados quando
o fluxo gasoso
possuir mais de dois
compostos orgânicos
presentes, pois
tornaria este processo
altamente complexo.

Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/Condensation#mediaviewer/


File:Condensation_on_water_bottle.jpg>. Acesso em: 20 out. 2014.

180 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

2.7 Absorvedores

Acadêmico, você se recorda do termo absorção? Este é um dos métodos mais


utilizados atualmente para controle de emissões atmosféricas.

Absorção é um processo de remoção onde o poluente é incorporado ao material


com essa finalidade, geralmente este processo ocorre em um meio absorvedor líquido
que retém os gases contaminantes presentes no fluxo gasoso, transferindo-os para a fase
líquida, deixando o fluxo limpo para ser liberado no ambiente.

Os equipamentos absorvedores são dependentes de alguns parâmetros, o primeiro


deles é o tempo de contato entre o fluxo gasoso e o meio absorvedor, este tempo
necessita ser adequado para que ocorra a retenção total do material no meio, caso
contrário, o fluxo gasoso ainda continuará contaminado após passar pelo sistema. A
concentração do meio absorvente também é um fator importante, pois esta necessita
ser alto o suficiente para que o material a ser removido fique retido, e a velocidade de
reação entre o poluente e o meio também é avaliada, pois ela irá interferir no tempo de
contato entre a fase gasosa e o meio absorvedor (LISBOA, SCHIRMER, 2007).

Para que ocorra a absorção dos contaminantes de forma efetiva, atenção deve ser
dada ao contato íntimo entre as fases gasosa e líquida. Desta forma, a solubilidade do
contaminante no material absorvente deve ser avaliada, sendo que se os contaminantes
possuírem altas taxas de solubilidade em água, consequentemente será possível obter
altas taxas de absorção. Um problema deste sistema é que ele necessita de um tratamento
secundário, uma vez que apenas transfere o contaminante da fase gasosa para a fase
líquida (LISBOA, SCHIRMER, 2007).

Este tipo de método de controle é indicado para tratar fluxos gasosos que contenham
gases ácidos, como ácido clorídrico (HCl), ácido fluorídrico (HF) e sulfúrico (H2SO4),
misturas gasosas que apresentem gás cloro em sua constituição (Cl2), ou amônio
(NH3), ou dióxido de enxofre (SO2) e/ou hidrocarbonetos leves (HC) (ÁLVARES JÚNIOR;
LACAVA; FERNANDES, 2002).

Ainda de acordo com Lisboa e Schirmer (2007), os equipamentos absorvedores


podem trabalhar concomitantemente com colunas de enchimento, onde o material que
irá preencher a coluna necessita apresentar características e funções como:
∞∞ Aumentar a área de contato entre os fluidos e a área de superfície do meio
absorvedor, que, como consequência, aumenta a transferência de massas,
que, no entanto, pode ter como resultado a ocorrência de incrustações e
entupimento.

∞∞ O preenchimento favorece a boa distribuição dos fluidos ao longo da torre de


dispersão dos poluentes.

∞∞ O material que constitui a estrutura do objeto de preenchimento não pode


apresentar nenhum tipo de característica que favoreça a reação entre o
material de enchimento e o material absorvedor ou os gases emitidos.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 181


U4

∞∞ Não sofrer nenhum tipo de alteração física, permanecendo com sua


estrutura original.

∞∞ Ser economicamente viável diante dos demais parâmetros que são necessários
para construção da torre de enchimento.

∞∞ E ser resistente à abrasão e à corrosão no interior da coluna.


Estes sistemas apresentam algumas limitações que podem comprometer a eficiência
de remoção dos gases poluentes. Estes apresentam problemas como a corrosão, que
acaba deteriorando o material de origem do equipamento, a temperatura de trabalho
necessita ser inferior a 100 °C devido às características dos materiais absorvedores e, por
fim, a saturação do material absorvente com o gás efluente que faz com que a remoção
seja interrompida. Outro problema enfrentado por este sistema é que o principal meio
absorvedor é a água, principalmente nos equipamentos do tipo lavadores, que formam
uma pluma visível na saída da chaminé que é formada, sobretudo, por água condensada
(LISBOA; SCHIRMER, 2007).

A Figura 4.14 apresenta uma ilustração de um sistema que apresenta como princípio
básico de funcionamento a absorção de poluente.

Figura 4.14 - Equipamento que 2.7.1 Passos para escolha de um


trabalha com o princípio da absorção
de poluentes em meio líquido, mais equipamento com princípio de absorção
especificamente, um lavador de de poluentes
material particulado, gases e vapores

Para escolha de um equipamento que tenha


como objetivo a absorção de poluentes, devemos
levar em consideração, de acordo com Lisboa e
Schirmer (2007), os seguintes pontos: a seleção
do solvente a ser utilizado como absorvedor, os
balanços das reações que podem ocorrer no
sistema, principalmente os dados de equilíbrio, a
seleção do tipo de composto que servirá como
composto absorvedor, a determinação da vazão de
líquidos que deverá ser nebulizada sobre os gases,
o dimensionamento do sistema de acordo com
o fluxo de ar que sai do processo e a escolha dos
materiais que servirão de corpo do equipamento. O
absorvente não deve apresentar volatilidade para evitar
emissões secundárias e aumento no seu consumo, o
gás poluente deve ser solúvel para ser altamente reativo
e ter altas taxas de transferência de massa, não deve
Fonte: Wikimedia. Disponível em: <http://upload. apresentar-se como composto corrosivo, para reduzir
wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bf/REA_
Absorber.jpg>. Acesso em: 21 out. 2014. os custos relacionados à construção do equipamento,
que deve ser barato e altamente disponível, deve
possuir baixa viscosidade, toxicidade, não ser inflamável
e quimicamente estável.

182 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

2.7.2 Seleção do absorvedor


Para seleção do melhor meio de absorção, precisamos observar alguns fatores
que podem influenciar no processo de remoção. Inicialmente, necessitamos escolher
o meio absorvedor que melhor propicie a maior área de transferência de massa, em
seguida, devemos observar como é seu funcionamento, este deve ser simples possível
para uma fácil operação e, por último, o custo total do sistema, principalmente quanto
à operacionalização, que deve ser de custo baixo.

2.8 Adsorvedores

“A adsorção é uma técnica de controle da poluição atmosférica que se baseia na


transferência de massa de uma fase gasosa (ou líquida) para um sólido microporoso”
(ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA; FERNANDES, 2002, p. 246). A Figura 4.15 apresenta como
é a superfície de um material adsorvente e como se processa a adsorção dos gases
poluentes.

Este processo é bastante seletivo para retenção do poluente de interesse, que


ocorre devido à utilização de materiais adsorvedores específicos, sendo muito eficiente
para remoção de gases e vapores presentes em um fluxo gasoso proveniente de um
processo industrial. Este sistema também é muito eficiente quando o fluxo gasoso
apresenta odor característico, que é removido ou sua intensidade é diminuída por este
sistema. Apresenta vantagens quando comparado com incineradores, pois estes não
necessitam de combustível auxiliar para funcionamento do sistema, além do que, este
sistema pode utilizar materiais regenerativos, que podem ser reutilizados várias vezes.

Figura 4.15 - Processo de adsorção, muito utilizado para As principais substâncias


controle da emissão de compostos do ar adsorventes apresentam como
característica estado físico sólido,
de estrutura porosa e de grande
área superficial específica, sendo
os mais utilizados o carvão ativado,
a alumina ativada, a sílica gel e
peneiras moleculares (LISBOA;
SCHIMER, 2007).

Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://simple.wikipedia.org/wiki/ Os compostos adsorvedores são


Adsorption#mediaviewer/File:Langmuir_izoterma.png>. Acesso em: 20 muito efetivos quando utilizados
out. 2014.
para remoção de poluentes gasosos,
mesmo quando apresentam baixas
concentrações. Se os equipamentos
forem bem projetados, podem obter eficiências próximas a 100% de remoção de
poluentes, se operados adequadamente.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 183


U4

O processo de absorção de gases é efetuado através do contato do


fluxo gasoso contaminado com gotas de líquido, através de sprays,
colunas de enchimento ou outros equipamentos. Porém, para cada
tipo de gás deve ser usado um líquido em particular. Para escolha do
líquido devemos observar (assinale a alternativa correta):

(a) Para seleção do melhor meio de absorção, necessitamos escolher


o meio que melhor propicie a maior área de transferência de
massa e também o custo total do sistema, principalmente quanto à
operacionalização, que deve ser de custo baixo.
(b) Para seleção do melhor meio de absorção precisamos observar
apenas o custo total do sistema, que deve ser de custo baixo.
(c) Para seleção do melhor meio de absorção, precisamos observar
alguns fatores que podem influenciar no processo de remoção, não
observando o custo total do processo.
(d) Para seleção do melhor meio de absorção precisamos observar
alguns fatores que podem influenciar no processo de remoção,
como, por exemplo, seu funcionamento, que deve ser o mais simples
possível para uma fácil operação, e seu custo total, que deve ser alto.

2.8.1 Técnicas utilizadas para desorção de contaminantes


Acadêmico, se o material ficou retido na área superficial do meio adsorvedor, com
o tempo ocorre sua saturação, desta forma, como podemos reutilizar esses mesmos
materiais?

Segundo Álvares Júnior, Lacava e Fernandes (2002), existem quatro métodos


básicos para desorção dos contaminantes no material adsorvente. A primeira técnica
é a desorção térmica, que consiste em aquecer o material adsorvente até que todo o
material aderido na superfície seja removido; ao final, o material será resfriado novamente
para iniciar um novo ciclo de adsorção. A segunda técnica é a desorção por redução
de pressão, onde a temperatura é mantida constante, porém, a pressão é baixada,
reduzindo consequentemente a capacidade de adsorção do material, permitindo que
o contaminante seja removido. A terceira técnica é a desorção por adição de gases
inertes, que consiste na diluição dos gases contaminantes através da redução de sua
pressão parcial no fluxo gasoso que, consequentemente, faz com que as moléculas
adsorvidas tendem a voltar ao fluxo gasoso, sendo carreadas e coletadas desta forma.
A quarta técnica utilizada para desorção é por ciclo de deslocamento, que consiste em
deslocar o contaminante do material adsorvente pelo deslocamento do material por
uma substância de maior afinidade, que faz com que a membrana possa ser reutilizada.

184 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

2.9 Incineradores

“A incineração ou queima para a eliminação de resíduos sólidos tem sido uma


prática milenarmente empregada por toda a humanidade”. (ÁLVARES JÚNIOR; LACAVA;
FERNANDES, 2002, p. 254).

Este método é muito eficaz na eliminação de gases e vapores que apresentam


estrutura orgânica. É utilizado, por exemplo, para realizar a oxidação de gás sulfídrico
(H2S), que apresenta odor desagradável, e transforma-o em dióxido de enxofre (SO2),
que é menos impactante, e vapor d’água. Muitos tipos de emissões industriais têm
sido controlados com sucesso e de forma muito eficiente, quando os fluxos gasosos
apresentam concentrações de compostos orgânicos na forma de gás, vapor ou
particulado pelo processo de incineração (LISBOA; SCHIRMER, 2007).

Figura 4.16. Incinerador de Viena, na Áustria, ligado a


uma rede de distribuição de energia térmica
2.9.1 Incineradores do
tipo tocha

Acadêmico, você já ouviu falar em


incineradores do tipo tocha?

Este sistema também é conhecido


como sistema flares, que consiste em
sistemas compostos por tochas ao
ar livre, que são alimentados por um
fluxo de gases que são compostos
poluentes e que apresentam também
propriedades combustíveis, sendo em
alguns casos o uso de um combustível
auxiliar, misturado aos gases, quando
necessário, que serve para auxiliar na
manutenção da chama.

Entre os pontos importantes


de um sistema de tocha podemos
Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/ destacar também, segundo Álvares
Incinera%C3%A7%C3%A3o#mediaviewer/File:Hunderwasser_ Júnior, Lacava e Fernandes (2002),
Fernheizwerk.JPG>. Acesso em: 20 out. 2014.

que a combustão se processa ao ar livre, o calor da combustão é disperso na região


circunvizinha, podendo se tornar um problema ambiental, a luz emitida pela queima
pode gerar incômodos na população a ele exposta, o sistema gera ruídos, pode formar
produtos tóxicos no ambiente e, por fim, gera grande desperdício de combustíveis
auxiliares, devido a características da manutenção da chama.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 185


U4

2.9.2 Incineradores do tipo catalítico

Este sistema, de acordo com Álvares Júnior, Lacava e Fernandes (2002),

[...] apresenta ao mesmo tempo sistemas recuperadores (pré-aquecimento


em trocadores de calor, normalmente tubulares) e sistemas regeneradores
de calor (pré-aquecimento do leito cerâmico), apresentando as vantagens e
desvantagens de cada um desses sistemas. Além disso, tais equipamentos
podem operar em temperaturas mais baixas que os demais, pois os metais
nobres - como, por exemplo, a platina -, presentes no leito catalítico, facilitam
a oxidação dos compostos, baixando a energia necessária para ocorrência da
reação, acelerando a sua velocidade.

Os grandes problemas deste sistema estão relacionados ao alto custo dos materiais
que são utilizados como catalisadores e à perda da eficiência ao longo do tempo.

2.10 Biofiltração

A biofiltração é um método biológico que atualmente ganha destaque no tratamento


de poluentes atmosféricos, pois se utiliza de um processo simplificado de filtração
biológica. A Figura 4.17 apresenta um esquema que mostra como o processo é realizado.

O princípio de funcionamento está fundamentado na corrente gasosa contaminada


que é succionada (geralmente através de ventiladores) e é jogada na parte inferior de um
reator biológico, geralmente através de tubos perfurados. Estes gases, antes de atingir
o biofiltro, são pré-umificados para máxima eficiência do processo, onde são filtrados
através de um sistema biológico. A Figura 4.18 apresenta um sistema real de biofiltração.

Figura 4.17 - Sistema de biofiltração Figura 4.18 - Campo utilizado para realização do
sistema de biofiltração

Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/ Fonte: Wikipédia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/
Constructed_wetland#mediaviewer/File:Final_tags.jpg>. Acesso wiki/Constructed_wetland#mediaviewer/File:Newly_planted_
em: 20 out. 2014. constructed_wetland.jpg>. Acesso em: 20 out. 2014.

186 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Acadêmico, o processo de biofiltração está cada vez mais presente em


nossas vidas, porém, dificilmente conseguimos reconhecê-lo. A seguir estão
disponíveis dois artigos baseados em aplicações dos processos de biofiltração,
que são eficientes quando se fala em remoção de odores. Boa leitura!
<http://www.finep.gov.br/prosab/livros/coletanea2/ART%2025.pdf>
<http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/mexico26/vi-004.pdf>

Acadêmico!
Chegamos ao final de mais uma unidade de ensino do nosso
curso, neste ponto já passamos por todos os tópicos que são
relevantes para controle de poluentes atmosféricos.
Nosso estudo foi dividido em duas seções, sendo a primeira
específica para abordar os tópicos iniciais do estudo de controle
de poluição do ar, seguido de uma breve descrição de como
são feitas as medidas de controle indireto de poluentes do ar.
Nesta seção abordamos os conceitos de emissão, dispersão e
deposição atmosférica, recordamos um pouco dos principais
poluentes emitidos por fontes naturais e antrópicas, fizemos
a classificação das medidas de acordo com os princípios de
correção e prevenção, fizemos a classificação dos poluentes
de acordo com o tipo de equipamento utilizado e definimos
os mecanismos de coleta e/ou retenção dos poluentes nos
diferentes tipos de equipamentos.
Na segunda seção, focamos nosso trabalho no estudo dos
diferentes tipos de equipamentos utilizados para controle
de poluição do ar. Iniciamos nosso estudo falando sobre os
equipamentos utilizados para controle de material particulado,
falamos sobre os sistemas de sedimentação gravitacional, os
do tipo ciclone, os precipitadores eletrostáticos e os lavadores
de gases, partículas e vapores; em seguida, falamos sobre os
métodos utilizados para controle de gases, em específico,
trabalhamos com os sistemas absorvedores, com os
condensadores, com os adsorvedores e com os sistemas de
incineração. Por fim, conhecemos o sistema de biofiltração.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 187


U4

Nesta unidade de ensino trabalhamos com os conceitos


relacionados ao controle de poluição do ar, que nos últimos
anos tem ganhado destaque mundial devido ao conhecimento
e divulgação de informações sobre efeitos adversos de
compostos emitidos para a atmosfera sobre a saúde das
pessoas. A poluição do ar é uma realidade atualmente e
pode facilmente ser observada buscando informações sobre
a atmosfera sobre a China, no qual a mídia tem apelidado
a situação de “Arpocalipse”. Devido a estes fatores, medidas
devem ser tomadas para seu controle, como demonstrado no
assunto que acabamos de ver.

Porém, nosso estudo não precisa parar por aqui, ao longo do


texto foram colocados pontos de reflexão para que possamos
relacionar os problemas ambientais com nosso cotidiano. Além
disso, atividades de aprendizado estão distribuídas ao longo
do texto para facilitar o entendimento. Ao final da unidade,
exercícios são propostos para avaliar todo o entendimento
do assunto.

Como a poluição do ar é ponto que está começando a ganhar


destaque no cotidiano das pessoas, atualmente, encontramos
vários materiais disponíveis para consulta na internet que
podem servir de base para entendimento de alguns conteúdos,
como também para complementar nosso conhecimento.
Uma página que pode ser consultada por todos e apresenta
informações relevantes e de qualidade é a página da CETESB
– Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental, que
pertence ao Estado de São Paulo. Outras páginas também
podem ser consultadas para aprofundamento de seus
conhecimentos, e lembre-se: nunca deixa de estudar! Desejo
a todos sucesso em suas vidas particulares e profissionais! Um
grande abraço!

188 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

1. O controle das emissões atmosféricas tem como base a


adoção de medidas que visam reduzir os impactos dos poluentes
na atmosfera e, consequentemente, na saúde das pessoas a eles
expostas. Em relação às ações a serem tomadas para o controle
de emissões industriais com base nas medidas diretas ou indiretas,
analise as afirmativas a seguir:
I- Medidas diretas visam reduzir a geração de poluentes através
da substituição de matérias-primas utilizadas no processo.
II- Medidas indiretas visam reduzir a geração de poluentes
através da alteração do processo, como, por exemplo, a busca
de eficiência que faz com que a geração de efluentes seja menor.
III- Medidas diretas visam reduzir a geração de poluentes no
ar através de sistemas que captam o efluente gerado pelo
processo e transferem este para outra fase e, posteriormente, a
destinação final.
IV- Medidas indiretas visam mascarar determinados efluentes
que apresentam forte odor pela liberação de um composto que
seja de odor mais agradável.

Agora, assinale a alternativa correta:

a. afirmativas I, II e III estão corretas;


b. afirmativas I, II e IV estão corretas;
c. afirmativas II, III e IV estão corretas;
d. afirmativas I, III e IV estão corretas;
e. Todas as afirmativas estão corretas.
O texto a seguir é referente às questões de número dois e três,
leia atentamente.
A cidade de Cubatão era mundialmente conhecida como “Vale da
Morte” durante a década de 80, sendo apontada pela ONU como
o município mais poluído do mundo. O “boom” industrial que fez
de Cubatão um dos polos industriais mais ricos do país pagou
um alto preço, por não se preocupar e nem se resguardar quanto
aos danos causados por toneladas de poluentes lançados no
meio ambiente. O intenso volume que as indústrias trabalhavam,
eliminando quantidades enormes de poluentes no ar e nos
rios de forma descontrolada, começou a ter consequências
catastróficas visíveis e preocupantes. O ar de Cubatão no início
dos anos 80 era denso, possuía cheiro e cor. Segundo dados da

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 189


U4

CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental


de São Paulo), 30 mil toneladas de poluentes eram lançadas por
mês no ar da cidade, peixes e pássaros sumiram da poluição de
Cubatão, pois não havia condições naturais para sobreviverem
e nem para se reproduzirem, mas o Estado só começou a
intervir quando os danos à saúde da população começaram a
demonstrar números alarmantes. Entre outubro de 1981 e abril
de 1982, cerca 1.800 crianças nasceram na cidade, destas, 37
já nasceram mortas, outras apresentavam graves problemas
neurológicos e anencefalia. Cubatão era líder em casos de
problemas respiratórios no país.
Fonte: A história da poluição em Cubatão e como ela deixou de ser o “Vale da Morte” –
Pensamento Verde. Disponível em: <http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/historia-
poluicao-cubatao-cidade-deixou-vale-morte/>. Acesso em: 27 ago. 2014. (Adaptado).

2. Um dos problemas que agravaram a situação da poluição do ar em


Cubatão é que o polo industrial tem localização em uma região de vale,
o que faz com que os compostos que são emitidos para a atmosfera
não sejam dispersos e, por fim, são depositados sobre a mesma área do
complexo industrial, onde possui, além de indústria, várias habitações.
Sobre os termos relacionados à poluição do ar, descreva o significado
dos termos emissão, dispersão e deposição atmosférica.

3. Ao longo do tempo, Cubatão passou por um processo de recuperação


ambiental, tornando-se o maior exemplo deste tipo de atividade, porém,
hoje o polo industrial ainda passa por problemas relacionados à poluição
do ar, sendo que o principal problema encontrado hoje na cidade é a
emissão de material particulado, sendo que os teores destes poluentes
são maiores do que os encontrados na cidade de São Paulo. As partículas
emitidas pelas empresas em Cubatão são do tipo fino, e seu diâmetro
aerodinâmico é menor que 2,5 μm. Para remoção desta, precisamos
recorrer a medidas diretas de controle de poluição com a colocação de
sistemas que fazem a retirada destes poluentes depois que estes foram
formados. Sobre os equipamentos que são utilizados para controle de
poluição do ar, assinale a alternativa que apresenta um tipo de sistema
que seja eficiente para remoção de partículas que são atualmente
encontradas na cidade e que sua utilização auxiliará no controle da
qualidade do ar.

a Incinerador Industrial.
b. Câmara de sedimentação.
c. Precipitador eletrostático.
d. Sistema multiciclones.
e. Condensadores industriais.

190 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

4. Os precipitadores eletrostáticos são equipamentos de controle de


poluição do ar em fábricas que emitem partículas poluidoras à atmosfera.
Estes equipamentos capturam os poluentes e liberam o gás limpo para
a atmosfera, sendo muito utilizados em plantas industriais produtoras de
materiais como o ferro, petróleo, produtos químicos, metais, cimento
e energia. Sobre o princípio de funcionamento deste sistema, é correto
afirmar que: Assinale a alternativa correta.

a. Seu funcionamento é baseado na remoção das partículas que estão


presentes em um fluxo de ar através de um processo que faz com que
estas sejam absorvidas em um meio filtrante, não podendo, desta forma,
seguir o fluxo de ar.
b. Seu funcionamento é baseado na interceptação das partículas (sólidas
ou líquidas) que estão presentes em um fluxo de ar ao passar por uma
restrição física, assim elas perdem seu movimento e caem no coletor,
sendo removidas posteriormente.
c. Seu funcionamento é baseado na incineração das partículas (sólidas ou
liquidas) que estão presentes em um fluxo de ar ao atravessar um campo
elétrico onde são descarregadas e caem no coletor, sendo removidas
posteriormente.
d. Seu funcionamento é baseado na ionização das partículas (sólidas
ou líquidas) que estão presentes em um fluxo de ar de modo que, ao
atravessarem um campo elétrico, estas são atraídas para o eletrodo, onde
são descarregadas e caem no coletor, sendo removidas posteriormente.
e. Seu funcionamento é baseado na absorção das partículas (sólidas
ou líquidas) que estão presentes em um fluxo de ar de modo que, ao
atravessarem um meio líquido, estas são atraídas para o seu interior, onde
são removidas posteriormente.

5. A incineração é um processo que está baseado na combustão do


poluente orgânico gerado, que resulta em sua conversão em dióxido de
carbono e água, que serão menos impactantes no ambiente. Sobre os
parâmetros que necessitam ser obedecidos para correto funcionamento
deste sistema, analise as afirmativas a seguir:

I- A temperatura deve ser alta o suficiente para que ocorra a completa


oxidação do poluente.
II- O tempo de residência corresponde ao tempo em que o gás fica na
câmara de combustão.
III- O contato entre o contaminante e a chama é dependente do modo
de entrada do combustível auxiliar e do contaminante na câmara de
combustão.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 191


U4

Agora, assinale a alternativa correta:

a. afirmativas I e II estão corretas.


b. afirmativas I e III estão corretas.
c. afirmativas II e III estão corretas.
d. afirmativa I está correta.
e. Todas as afirmativas estão corretas.

192 Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar


U4

Referências

ÁLVARES JÚNIOR, O. M.; LACAVA, C. I. V.; FERNANDES, P. S. Emissões


atmosféricas. Brasília: SENAI/DN, 2002.

BAIRD, C.; CANN, M. Química ambiental. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2011.

BARRY, R. G.; CHORLEY, R. J. Atmosfera, tempo e clima. 9. ed. Porto Alegre:


Bookman, 2013.

CONAMA. Resolução CONAMA n° 003, de 28 de junho de 1990. Dispõe sobre


padrões de qualidade do ar, previstos no PRONAR. Disponível em: <http://www.
mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=100>. Acesso em: 06 dez. 2015.

FLAGAN, R. C.; SEINFELD, J. H. Fundamentals of air pollution engineering. New


Jersey: Prentice-Hall, 1988.

LISBOA, H. M.; SCHIRMER, W. N. Controle da poluição atmosférica: metodologia


de controle da poluição atmosférica. Montreal: ENS/UFSC, 2007. Disponível
em: <http://www.lcqar.ufsc.br/adm/aula/Cap%207%20MetControle%20PATM.pdf>.
Acesso em: 01 set. 2014.

Tecnologias aplicadas ao controle de poluição do ar 193

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