Você está na página 1de 16

cadeias globais de valor

O Brasil nas cadeias


globais de valor:
implicações para a
política industrial e de comércio
Timothy Sturgeon, Gary Gereffi, Andrew Guinn e Ezequiel Zylberberg

A ASCENSÃO DAS CADEIAS em vez de setores industriais


GLOBAIS DE VALOR completos.  Assim, por exemplo,
uma série de bens de consumo
Nos últimos anos, muitas de massa são projetados
indústrias passaram de entidades nos EUA, Europa ou Japão e
delimitadas nacionalmente a fabricados na China, Europa
redes de negócios fragmentadas, Oriental ou México. Os insumos
em termos organizacionais, vêm de dezenas de países, e os
e globalmente distribuídas, produtos acabados são vendidos
consistindo em “empresas localmente e exportados para
líderes” e fornecedora e os mercados mundiais. Esses
prestadora de serviços ― padrões existem em uma ampla
que muitas vezes operam gama de indústrias produtoras
globalmente. Devido a isso, de bens, como eletrônicos,
países e regiões podem se vestuário, bens domésticos e até
especializar em aspectos mesmo em serviços e software.
específicos da produção, Estes novos sistemas globais

Timothy Sturgeon é pesquisador associado sênior no Industrial Performance Center


do Massachusetts Institute of Technology; Gary Gereffi é professor de sociologia e
diretor do Centro de Globalização, Governança e Competitividade da Universidade
de Duke; Andrew Guinn é doutorando no Departamento de Planejamento Urbano e
Regional da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill; e Ezequiel Zylberberg
é doutorando na Universidade de Oxford, na Said School of Business.

26 RBCE - 115
de produção são comumente exportações de minerais e de bens intermediários complexos,
chamados de “cadeias globais de commodities agrícolas do Brasil customizados e produtos
valor”, ou CGVs.  No comércio dispararam e a Rússia usou suas específicos. Conforme as
internacional, as CGVs são enormes reservas de recursos cadeias de abastecimento
mais evidentes no crescente naturais, mais as tecnologias vão se globalizando, mais
comércio de bens intermediários militares, o conhecimento bens intermediários são
e na ascensão de novos e científico e os recursos de comercializados entre países, e
importantes atores no sistema software ligados ao seu papel mais peças e componentes são
de comércio global, de superpotência durante a importados para serem utilizados
principalmente a China. Guerra Fria para se tornar um nas exportações (Feenstra,
ator importante no sistema de 1998). Na década de 1990,
Após 1989, a dissolução da comércio global. como o escopo das CGVs se
União Soviética, a abertura expandiu drasticamente com a
da China ao comércio e A partir de 2001, o deslocamento abertura dos países do Bric, o
investimento internacional e da produção na economia comércio de bens intermediários
a liberalização da Índia e do global do Norte para o Sul se customizados começou a
Brasil abriram essas nações, acelerou, e um número cada vez promover o crescimento do
integrantes do Bric, mais maior de grandes economias comércio de bens intermediários
plenamente para o comércio e com elevado crescimento de forma geral, e depois de
o investimento internacionais.1 começa a desempenhar papéis 2001 a participação dos bens
Isto influenciou o processo de de destaque em uma ampla intermediários no comércio total
globalização, uma vez que essas variedade de indústrias, tanto se acelerou ainda mais (Sturgeon
economias gigantes ofereceram na condição de exportadoras e Memedovic, 2010). Em 2009,
fontes aparentemente como de novos mercados as exportações mundiais de
inesgotáveis de trabalhadores (O’Neill, 2011). Isso é o reflexo bens intermediários excederam
a baixos salários, fabricantes de múltiplos fatores, incluindo o valor das exportações de bens
capacitados, matérias-primas a crescente importância dos finais, alcançando 51% das
abundantes e grandes mercados mercados internos das grandes exportações de mercadorias,
internos. Esta primeira onda de economias emergentes inclusive combustíveis (OCDE,
economias emergentes logo se (relativamente ao lento 2011; OMC e IDE-JETRO,
tornou profundamente envolvida crescimento dos mercados 2011; UNCTAD, 2013; Fórum
com as CGVs, embora o papel dos países mais avançados) e Econômico Mundial, 2013).
específico de cada país variasse os contínuos esforços para a
de acordo com seu grau de redução dos custos operacionais,
abertura ao comércio e ao na esteira da crise econômica ONDE O BRASIL ESTÁ
investimento estrangeiro, suas mundial de 2008-2009 NAS CGVS?
dotações de recursos naturais, (Cattaneo et al, 2010).
humanos e tecnológicos e suas Ao considerar o papel do Brasil
relações geopolíticas com os Uma das características que nas CGVs, é bom levar em conta
países mais poderosos do definem as CGVs desde seu a posição relativa do país no
mundo e seus vizinhos mais surgimento, no início da década grupo dos Bric. A relação bilateral
próximos. A China tornou-se de 1970, é que as exportações Brasil-China, em particular,
a “fábrica do mundo”, a Índia de bens finais incorporam, motivou mudanças no papel do
o “back office” do mundo, as cada vez mais, importações de Brasil na economia global, como

1
Jim O’Neill (2011), o executivo da Goldman Sachs que cunhou o termo Bric em 2001 para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China agora argumenta
que há um número muito maior de “economias em crescimento” (os Brics e mais 11) que se enquadrariam nesta categoria. Estas incluem as nações
do Mist (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia), bem como outras economias com elevado desempenho, tais como Bangladesh, Egito, Paquistão,
Filipinas e Vietnã (Martin, 2012). A classificação Bric inicial foi aumentada para Brics, com a adição da África do Sul, em 2010. Para os fins deste
artigo, a origem dessas siglas é menos importante do que o efeito coletivo deste conjunto das assim chamadas economias emergentes, que estão
remodelando a oferta e a demanda em muitas CGVs.

RBCE - 115 27
a chamada “primarização” das tiveram seus ganhos mais
A China tem crescido exportações brasileiras, uma vez significativos em indústrias de
que a enorme demanda da China alta e média tecnologia, que
mais de 9% ao ano mudou o perfil das exportações anteriormente eram o ponto
há mais de 30 anos, é do Brasil, que se redirecionaram forte dos países da OCDE.
agora a segunda maior para produtos do setor primário Este fenômeno foi impulsionado
com níveis relativamente baixos principalmente pelas exportações
economia do mundo
de processamento. Aumentar de produtos processados na
(perdendo apenas para o conteúdo tecnológico das China, cuja participação nas
os Estados Unidos) e exportações tem constituído, exportações de alta tecnologia
ultrapassou a Alemanha desde há muito tempo, um dos deu um salto de 13,5% no
principais desafios do Brasil para período 1995-2007, colocando-a
como o maior avançar no desenvolvimento à frente dos Estados Unidos
exportador do mundo de atividades de maior valor como a maior exportadora
agregado nos setores primário mundial de eletrônicos
e secundário. Porém, agora (Beltramello et al., 2012: 9-10).
que a tendência aponta na
direção oposta, aumentou muito É difícil exagerar a importância
a urgência por diversificação, da China nas CGVs.
aprendizagem tecnológica e As exportações da China
up-grading na indústria. (US$ 1.899 bilhões em 2011)
são mais de três vezes maiores
Conforme as CGVs se expandiam do que as da Coreia do Sul
em escopo e complexidade, (US$ 557 bilhões), seu rival
as economias emergentes mais próximo entre as
claramente se beneficiaram, economias emergentes,
evoluindo à frente dos países e apenas ligeiramente
industriais avançados em inferiores às exportações
termos de desempenho das combinadas da Coreia do Sul,
exportações. Entre 1995 e 2007, Rússia (US$ 516 bilhões),
as participações de mercado das México (US$ 350 bilhões),
exportações globais dos Estados Índia (US$ 303 bilhões) e
Unidos e do Japão caíram 3,8% e Brasil (US$ 256 bilhões),
3,7%, respectivamente, enquanto conforme Tabela 1.
a China mais do que duplicou A China tem crescido mais
a sua participação de mercado, de 9% ao ano há mais de 30
que passou de 4% em 1995 para anos, é agora a segunda maior
10,1% em 2007, tornando-se o economia do mundo (perdendo
líder das exportações mundiais apenas para os Estados Unidos)
(à frente de Alemanha, Estados e ultrapassou a Alemanha como
Unidos e Japão). Coreia do o maior exportador do mundo
Sul, México, Turquia, África (Beltramello et al, 2012).
do Sul e os antigos países em
transição na Europa central Isso teve um grande impacto
também aumentaram as suas sobre as economias latino-
participações de mercado nas americanas, entre as quais a
exportações durante este período. do Brasil é a mais significativa.
Ainda mais surpreendentemente, Em 2010, a China foi o maior
as economias emergentes parceiro comercial do Brasil,

28 RBCE - 115
respondendo por cerca de 15% com quase 90% para a China. 95% das exportações de soja do
das exportações e importações As exportações do Brasil para Brasil para a China, em 2009,
do país. Entre 2000 e 2010 as a China estão concentradas em foram de grãos não processados.
exportações brasileiras para um número muito limitado de Por outro lado, praticamente não
a China aumentaram quase produtos, com o minério de ferro e houve exportações de farelo,
30 vezes e, desde 2002, as a soja respondendo sozinhos por farinha ou óleo de soja para a
importações cresceram 16 vezes. mais de dois terços do total em China. Para colocar em prática
Embora o governo Lula tenha se 2009. Isso se reflete na relação a estratégia de promover sua
empenhado em desenvolver uma dos dez principais produtos indústria de processamento de
forte parceria econômica com a exportados pelo Brasil em 2011, soja, a China impôs uma tarifa
China, surgiram preocupações em que os sete principais são de 9% sobre as importações de
devido tanto à composição produtos primários ou produtos óleo de soja, enquanto a tarifa
das exportações brasileiras intermediários processados ​​(ver sobre as importações de soja
para a China (a “primarização” Tabela 3). não processada foi de apenas
das exportações brasileiras 3%. As importações de outros
mencionada anteriormente), Sob o ponto de vista das produtos derivados da soja, com
quanto à sua concentração CGVs, o que é especialmente maior grau de processamento,
em um número relativamente notável no relacionamento também pagavam na China uma
pequeno de produtos e empresas comercial do Brasil com a alíquota mais elevada do imposto
exportadoras. Como pode ser China é que ele mostra um viés ao valor agregado do que os
visto na Tabela 2, cerca de 70% para a exportação de produtos grãos não processados. Esta
das exportações globais do Brasil (tanto commodities primárias mesma política protecionista de
em 2011 foram de produtos quanto bens manufaturados) barreiras tarifárias e não tarifárias
primários ou de manufaturados com um nível muito baixo de impostas pelo governo chinês
com base em recursos naturais. processamento, enquanto para proteger seus produtores
Além disso, essas duas as importações tendem a ser nacionais foi aplicada a uma
categorias representaram, em de peças e componentes e gama de outros bens primários
2009, pouco mais de 60% das intensivas em tecnologia e produtos intermediários
exportações brasileiras para e máquinas. A cadeia de valor processados do Brasil, incluindo
outros países (excluindo-se a da soja é um bom exemplo da couro, ferro e aço, celulose e
China), em comparação primeira constatação. Cerca de papel (Jenkins, 2012: 28-29).

Tabela 1
ECONOMIAS EMERGENTES EM PERSPECTIVA COMPARADA ― 2011

Indicadores Participação % no PIB

PIB
Exportações PIB PIB Crescimento do
População per capita
País (bilhões (bilhões per capita PIB (em % Agricultura Indústria Serviços
(milhões) (PPC
de US$) de US$) (US$) s/ ano anterior)
em US$)

China 1.344 1.899 7.318 5.445 8.450 9,1 10 47 43

Brasil 197 256 2.476 12.594 11.500 2,7 5 28 67

Rússia 142 516 1.858 13.089 19.940 4,3 4 37 59

Índia 1.241 303 1.848 1.489 3.620 6,9 17 26 56

Coreia do Sul 50 557 1.116 22.424 30.340 3,6 3 39 58

México 115 350 1.115 10.064 15.060 3,9 4 34 62

Fontes: Banco Mundial:http://data.worldbank.org/; UN Comtrade, Centro Internacional de Comércio (ITC).

RBCE - 115 29
Tabela 2
PERFIL DAS EXPORTAÇÕES DAS ECONOMIAS EMERGENTES ― 2011 (EM %)

Produtos industriais

País Produtos Primários


Baseados em
Baixa tecnologia Média tecnologia Alta tecnologia
recursos naturais

China 3 9 30 24 33

Brasil 32 37 5 19 4

Rússia 45 27 2 8 1

Índia 11 39 21 17 8

Coreia do Sul 3 16 9 45 27

México 20 8 9 38 22

Fonte: Nações Unidas, UN Comtrade, Rev. 2 da SITC.

Tabela 3
DEZ PRINCIPAIS PRODUTOS BRASILEIROS DE EXPORTAÇÃO (SITC–3 DÍGITOS)
E SUA PARTICIPAÇÃO NA PAUTA EM 2011

Exportações Part. (%)


Código SITC Categoria
Produto (bilhões no total das
3 dígitos do produto
de US$) exportações

281 Minério de ferro e seus concentrados 41,8 16 PI

333 Petróleo bruto e óleos de minerais betuminosos 21,6 8,4 PP

222 Sementes e frutos oleaginosos, para extração de óleo 16,4 6,4 PP

061 Açúcar e mel 15,0 5,9 PI

011 Carnes e miudezas comestíveis, frescas, refrigeradas ou congeladas 13,1 5,1 PP

071 Café e substitutos de café 8,7 3,4 PP

081 Alimentos para animais (não incluindo cereais não moídos) 6,0 2,3 PP

672 Lingotes e outras formas primárias, de ferro ou aço 5,2 2,0 MT

784 Peças de motor e acessórios para veículos, não especificados 5,1 2,0 MT

Transações especiais, matérias-primas não classificadas


931 5,1 2,0 Outros
de acordo com a classe
Total de exportações 256,0

Notas: PP = Produto Primário, PI = Processado Intermediário; BT = Baixa Tecnologia, MT = Média Tecnologia; AT = Alta Tecnologia.
Fonte: Nações Unidas, UN Comtrade, Rev. 2 da SITC.

Pelo lado das importações, oriundas da China, enquanto e produtos de baixa tecnologia,
o Brasil também tem sido os produtos de alta tecnologia 20,8%. Se olharmos para esta
influenciado pela estrutura de foram responsáveis por 25% tendência à luz das categorias
comércio internacional da China. das importações. Em 2009, de uso final na importação,
Em 1996, os produtos de baixa o padrão foi quase invertido: as importações de bens de
tecnologia representaram 40% produtos de alta tecnologia consumo da China para o
das importações brasileiras representaram 41,4% do total Brasil caíram de 44% para 16%

30 RBCE - 115
entre 1996 e 2009, enquanto economia da América Latina, profissões (Thomson, 2012).
as importações de bens de parece estar no meio de uma Além disso, a proximidade
capital e suas partes duplicaram recuperação notável, tendo geográfica do México com os
(Jenkins, 2012: 29-31). Assim, como base uma revolução Estados Unidos permite cadeias
o Brasil tem sido subordinado a industrial pouco divulgada de abastecimento mais curtas,
ocupar os degraus mais baixos e que está permitindo que o custos reduzidos de transporte
da escada do valor agregado no país se torne um plausível para produtos a granel e prazos
seu comércio com a China nas concorrente da China, depois de entrega mais rápidos, no
últimas décadas, o que aponta de ter perdido, por mais de contexto dos cada vez mais
para desequilíbrios estruturais uma década, participação de populares “fast fashion” (moda
de longo prazo para o Brasil mercado nos EUA em favor rápida), “just in time” e outros
se a situação não mudar. da China (Gereffi, 2009). O modelos de negócios de
México exporta atualmente mais “resposta rápida”. No entanto,
Vale ressaltar que, desde uma produtos manufaturados do essa reviravolta não se baseia no
perspectiva de CVG com foco na que o resto da América Latina sucesso de empresas nacionais.
localização do valor agregado em seu conjunto, e começou a Tal como acontece com a China,
em sistemas de produção diversificar seu perfil exportador, o México é uma plataforma para
globais, as importações de alta com as exportações para os as empresas multinacionais
tecnologia da China Continental Estados Unidos caindo de 90% (EMNs) que procuram localizar
são, na maioria das vezes, do total das exportações, há as atividades de trabalho
impulsionadas pelos produtos uma década, para menos intensivas das CGVs (incluindo
e as estratégias de empresas de 80% hoje. tanto trabalho manual quanto
sediadas em países da OCDE, intelectual) em um país que
juntamente com os seus Um dos principais elementos do detém baixos custos e que fica,
parceiros [empresas comerciais, sucesso mexicano é um elevado ao mesmo tempo, bem próximo
fabricantes por contrato (contract grau de abertura comercial ― do enorme mercado dos
manufactures), e produtores o México tem acordos de livre Estados Unidos.
de componentes] localizados comércio com 44 países, o que é
em outras partes do mundo, mais do que o dobro da China e Acreditamos que o Brasil pode
especialmente Taiwan, Hong quatro vezes mais que o Brasil. seguir o exemplo do México,
Kong e Cingapura. Assim, Os aumentos dos salários e e até mesmo fazer melhor.
a dependência histórica do dos preços dos combustíveis O Brasil está se conectando às
Brasil nos “países do Norte” tornaram cada vez mais caro CGVs num momento histórico
no que se refere a produtos de exportar da China para o diferente, e tem meios para
alta tecnologia, em essência mercado dos EUA. Os salários melhorar a sua posição nas CGVs
persistiu, mesmo com o aumento mexicanos, que costumavam que nem a China, nem o México
da importância da China como ser quase quatro vezes maiores possuem. Em muitos aspectos,
parceiro comercial. Em outras que os da China há uma década, a explosão das CGVs na década
palavras, a China se tornou um são apenas 29% maiores hoje. de 2000 negligenciou o Brasil.
grande canal para a tecnologia Da mesma forma, não só o Mas as CGVs estão se ampliando
do hemisfério Norte. México ainda tem abundância rapidamente no país hoje, que
de mão de obra barata (mais da tem agora a oportunidade de virar
Apesar do crescimento sem metade de sua população de a sua entrada tardia a seu favor.
precedentes da China na 112 milhões tem menos de 29 Primeiramente, outros países
economia global, os problemas anos), como seus trabalhadores já preencheram muitos dos
de competitividade do Brasil também estão se tornando mais nichos de baixo valor agregado
podem ser atenuados ou até qualificados, com proporções nas CGVs, tanto nas indústrias
mesmo revertidos. O México, crescentes de graduados em produtoras de bens quanto de
que é a segunda maior engenharia, arquitetura e outras serviços. Empresas líderes estão

RBCE - 115 31
apenas iniciando sua experiência que tipo de políticas industriais
As CGVs estão com a terceirização e offshoring faz sentido implementar no
de processos de negócios atual contexto histórico?
criando novos desafios mais intensivos em tecnologia O Brasil deve insistir com as
em muitas áreas, e conhecimento. Isso coloca o políticas implementadas no
incluindo as que dizem Brasil em excelente posição. passado e procurar desenvolver
Historicamente, o Brasil tem indústrias domésticas totalmente
respeito às estratégias
uma base tecnológica nacional independentes, separadas das
empresariais, mais robusta do que a China CGVs? O Brasil deve perseguir
às políticas ou o México. As políticas de as mesmas atividades de
governamentais, industrialização por substituição baixo valor agregado que têm
de importações (ISI) do passado, impulsionado o crescimento na
à coleta de estatísticas embora não tenham tido sucesso China e no México? Ou será que
econômicas, e assim em estimular o desenvolvimento o país deve procurar capturar
por diante de indústrias totalmente uma fatia maior das novas
competitivas e independentes, funções de maior valor agregado
criaram áreas de excelência que que estão sendo transferidas
podem, com uma combinação para as CGVs hoje?
adequada de políticas,
desempenhar papéis importantes
nas CGVs daqui para frente. AS OPORTUNIDADES E OS
Assim como o México, o Brasil DESAFIOS APRESENTADOS
está no mesmo hemisfério dos PELAS CGVS
Estados Unidos, o que possibilita
a colaboração em tempo real Como nós já deixamos implícito,
em atividades intensivas em as CGVs estão criando novos
conhecimento. Do mesmo modo, desafios em muitas áreas,
a proximidade temporal e cultural incluindo as que dizem respeito
do Brasil com a Europa Ocidental às estratégias empresariais,
é também uma vantagem, pela às políticas governamentais,
mesma razão. Nos serviços e à coleta de estatísticas
nas atividades de conhecimento econômicas, e assim por diante.
intensivas das CGVs, a distância Fundamentalmente, as CGVs
física do Brasil dos grandes criam novos desafios para a
mercados do Norte não é um estratégia de desenvolvimento
obstáculo, diferentemente do que econômico.  É melhor se
ocorre no caso das indústrias especializar em partes
produtoras de bens. específicas e subprocessos
dentro das CGVs, ou será que
Assim como a China, o Brasil as empresas e os países que
tem um grande mercado estão totalmente integrados
interno, o que permite a verticalmente apresentam
implementação de políticas melhor desempenho?
industriais impossíveis de serem No século 21, é possível para
adotadas em um país de menor uma única nação controlar e
tamanho (por exemplo, regras capturar todos os aspectos de
de conteúdo local e incentivos uma indústria, especialmente
fiscais), e o país encontra-se no se a indústria for de alta
centro do Mercosul. A questão é: tecnologia? Se a especialização

32 RBCE - 115
é admissível, importam quais nos países industrializados desenvolvimento econômico
são as especializações? Quais quanto nos países recentemente e social, como as políticas de
são os efeitos das CGVs na desenvolvidos, como a Índia e saúde, sociais e de educação
criação de riqueza, emprego e a China (Miroudot et al, 2009; (Whittaker et al, 2010). No campo
inovação?  Quais estratégias Goldberg et al, 2008). do desenvolvimento econômico
e políticas podem ajudar as e tecnológico, as CGVs podem
indústrias nacionais a se Para os países em criar barreiras à aprendizagem
envolverem com as CGVs de desenvolvimento, o comércio, e levar ao desenvolvimento
maneira produtiva e sustentável? os investimentos e os fluxos de desigual no longo prazo, mesmo
Qual é a forma que deve assumir conhecimento que sustentam as quando desencadeiam rápido
uma política industrial eficaz, CGVs fornecem mecanismos que desenvolvimento industrial
orientada para as CGVs? estimulam o rápido aprendizado, e modernização, por causa
a inovação e o up grading na das disjunções geográficas e
Essas são questões difíceis, indústria. As CGVs podem organizacionais que muitas vezes
em parte porque as respostas fornecer às empresas locais podem existir entre inovação
são altamente dependentes melhor acesso à informação, e produção. Há evidências
das condições e tendências abrir novos mercados e criar consideráveis ​​de que os maiores
das CGVs de indústrias muito oportunidades para a rápida lucros revertem, por um lado, para
específicas (por exemplo, aprendizagem tecnológica e a as “empresas líderes” na cadeia
padrões, efeitos e possibilidades aquisição de conhecimentos. de valor, que controlam a marca
das CGVs da indústria de Como as transações e e a concepção do produto (por
vestuário são diferentes dos da investimentos ligados às CGVs exemplo, a Apple), e por outro,
indústria aeroespacial). Mas o vêm acompanhados normalmente para os “líderes de plataformas”,
que podemos dizer sobre as de sistemas de controle de que fornecem tecnologias de
CGVs em geral? Em primeiro qualidade e de padrões de núcleo e componentes avançados
lugar, sabemos que as CGVs negócios globais dominantes, (por exemplo, a Intel). Ao mesmo
tornaram-se uma força central que excedem os dos países tempo, os fabricantes por
impulsionando mudanças em desenvolvimento, empresas contrato (contract manufactures)
estruturais em muitas economias e indivíduos desses países e os prestadores de serviços de
modernas, e que isso tem podem ser “empurrados” para a terceirização de processos de
provocado resultados tanto aquisição de novas competências negócios (BPO) (por exemplo,
positivos quanto negativos em e habilidades através da centrais de atendimento) tendem
nações em desenvolvimento participação em CGVs. Nos a ganhar lucros magros e podem
e em nações industrializadas. países em desenvolvimento mais nunca desenvolver a autonomia e
No lado positivo, sabemos que estreitamente ligados às CGVs, as capacidades necessárias para
as empresas que desenvolvem estas melhorias de processos de desenvolver e comercializar os
atividades de comércio exterior negócios às vezes podem ser seus produtos de marca própria.
tendem a ser maiores, ganhar sentidas muito além dos setores e Com efeito, empresas que
maiores lucros, gastar mais empresas exportadoras. desenvolvem tarefas rotineiras de
em P&D e pagar salários mais montagem e fornecem serviços
altos do que as empresas que Entretanto, as CGVs não simples dentro das CGVs
não o fazem (Bernard et al, são necessariamente uma ganham menos, pagam menos
2005). Pesquisas empíricas receita milagrosa para o aos seus trabalhadores e são
também mostraram que o desenvolvimento. Pelo lado mais vulneráveis ​​aos ciclos de
acesso a uma gama de bens negativo, um desenvolvimento negócios, até porque elas são
intermediários estrangeiros a muito rápido ou “comprimido” obrigadas a sustentar empregos
preços competitivos tem sido dirigido pelas CGVs pode criar em larga escala e elevado
crucial para alcançar maior uma série de novos desafios montante de capital fixo
produtividade tanto no âmbito das políticas de (Lüthje, 2002).

RBCE - 115 33
Além disso, os mais importantes formas tradicionais da análise
Se as atividades de fornecedores e prestadores estatística e da formulação
de serviços nas CGVs tendem de políticas, por uma razão
baixo valor agregado a ser, eles mesmos, grandes simples: as atividades das
tendem a dominar multinacionais (“fornecedores empresas começaram a
um país ou região globais”), diminuindo, assim, transcender as fronteiras
as oportunidades para as nacionais. Há um descompasso
específica, então as
empresas locais. Finalmente, crescente entre as atividades
consequências para o se as atividades de baixo valor das empresas e as economias,
desempenho econômico agregado tendem a dominar políticas e a política dos
e o bem-estar social um país ou região específica, estados nacionais. As regras
então as consequências para domésticas fornecem apenas
podem ser profundas e o desempenho econômico um dos elementos da estrutura
persistentes e o bem-estar social podem da governança global que as
ser profundas e persistentes, grandes multinacionais levam
moldando os sistemas de em consideração.
negócios de economias
inteiras durante longos Para tornar as coisas ainda
períodos. Especificamente, o mais difíceis, as ferramentas
entrincheiramento em atividades tradicionais de elaboração
restritas, rotineiras, de baixo de políticas estão ficando
valor agregado pode “trancar” enferrujadas pela ação da
empresas e indústrias nacionais globalização e a ascensão
em segmentos não rentáveis ​​ das CGVs. Como a discussão
e intelectualmente restritos da até aqui sugere, a confiança
cadeia de valor. A qualificação nas estatísticas brutas do
pode ser rápida no início, mas comércio pode produzir
em longo prazo esses limites resultados enganosos e
podem se tornar agudos, políticas mal concebidas.
especialmente se as empresas Por exemplo, um estudo
líderes nas CGVs migrarem para recente da OCDE examinou
novas plataformas de produção as origens dos componentes
de baixo custo e para mercados para o smartphone de US$
mais promissores (Humphrey e 600 da Apple (o iPhone 4),
Schmitz, 2002). que foi montado na China.
O estudo estima que apenas
Qual é o papel das políticas? US$ 6,54 (3,4%) do preço total
A globalização econômica é de fábrica de US$ 194,04 foi
principalmente um construto realmente adicionado na China,
da estratégia corporativa. Altos onde o produto é montado
executivos e membros dos pela empresa fabricante de
conselhos de administração eletrônicos contratada para
tomam decisões todos os dias esse fim, a firma taiwanesa
sobre o que investir e onde Foxconn. Isso ocorre porque
investir. Conceitualmente US$ 187,50 (96,6%) do custo
isso parece bastante simples, de fábrica vieram de materiais
mas começar com uma e componentes importados
estratégia para a empresa para a China, principalmente da
nos coloca em conflito com as Coreia do Sul, Estados Unidos

34 RBCE - 115
e Alemanha. No entanto, o valor comércio internacional precisa consultoria e logística, têm
das exportações registrado depositar menos confiança nas alcance global e rotineiramente
nas estatísticas brutas de estatísticas brutas de comércio ajudam outras empresas a se
exportação da China foi o preço e experimentar novos conjuntos globalizarem.
total de fábrica de US$ 194,04, de dados sobre “comércio
que superestima largamente o internacional em valor agregado”, ● A liberalização do mercado e
valor das exportações chinesas como o de dados TiVA da OCDE do comércio, embora desigual,
(OCDE, 2011). ou a Base de Dados Mundial tem crescido.
de Insumo-Produto (World Input
Um exemplo similar, desta Output Database ― WIOD), ● A infraestrutura de comércio
vez do Brasil, também pode com sede na Universidade de melhorou consideravelmente
ser encontrado na indústria Groningen.2 em muitos locais. Todos
de telefonia móvel celular. os continentes, e muitos
Estatísticas comerciais países, têm agora instalações
recentes mostram uma queda POLÍTICAS INDUSTRIAIS portuárias e de carga aérea de
radical nas exportações de BRASILEIRAS última geração.
telefones celulares do Brasil, RELACIONADAS ÀS
e um aumento ainda mais CGVS E CLIMA GERAL ● Finalmente, a tecnologia
radical nas importações. Essa DE INVESTIMENTO para juntar todas essas
mudança reflete transformações peças tem avançado
na arquitetura básica dos É certo que as CGVs se tornarão significativamente desde o
telefones celulares, de mais importantes no Brasil advento da informatização
“celulares convencionais” para nos próximos anos. Uma das e da comunicação digital de
smartphones, uma mudança razões é que as barreiras para baixo custo, geralmente por
que viu novos atores (Samsung o desenvolvimento das CGVs meio da internet, mas também
e Apple) ganharem participação estão caindo rapidamente. com o uso de tecnologias
de mercado em detrimento de Por exemplo: mais específicas, tais como
empresas que atuam no softwares de planejamento
Brasil (por exemplo, Nokia, ● Os modelos de negócios de recursos empresariais
Motorola, NEC). das CGVs amadureceram. (Enterprise Resource
Eles estão bem teorizados, Planning) de empresas como
Essas dinâmicas, relacionadas às documentados e conhecidos. a SAP, gerenciamento de
indústrias, empresas e produtos, banco de dados de empresas
é que devem fundamentar a ● Os mercados e as como a Oracle, design de
política industrial, e não apenas capacidades das bases computador de empresas
a lente embaçada da análise de de fornecimento também como a AutoCAD e a Mentor
comércio no nível macro e a fé têm amadurecido em todo Graphics, e assim por diante.
cega nas estatísticas brutas de o mundo, oferecendo às
comércio. Em outras palavras, empresas líderes, que são as Com as peças do quebra-
essas estatísticas podem ser orquestradoras das CGVs, cabeça da globalização
mais bem aproveitadas a serviço um conjunto maior e mais econômica se encaixando
de estudos de caso detalhados e amplo de potenciais clientes e em termos de modelos de
de políticas industriais afinadas, parceiros de negócios. negócios, ferramentas e
flexíveis e adaptáveis. Embora práticas, pode-se perguntar por
as técnicas para medir as CGVs ● Os maiores prestadores que o engajamento global no
com mais precisão estejam de serviços terceirizados, Brasil (exportação, importação,
apenas no início, a análise do incluindo capital financeiro, investimento, terceirização)

2
Veja http://www.oecd.org/industry/ind/measuringtradeinvalue-addedanoecd-wtojointinitiative.htm e http://www.wiod.org.

RBCE - 115 35
não é mais difundido do que regionais, estão se tornando do trabalho pode aumentar
já é. Para muitas empresas parte de empresas multinacionais com a globalização econômica
brasileiras, é uma questão de e se incorporando profundamente ― não só empiricamente,
falta de informação e motivação. nas redes de fornecimento mas também sua percepção
A realização de negócios “como globais e regionais (Reardon et ― diminuindo a mobilidade
de costume” exerce uma força al, 2003; Daviron e Ponte, 2005). laboral e as exigências por
poderosa para a dependência Em muitos países, a globalização melhores salários e condições
em um só caminho, e mercados econômica vem acompanhada de trabalho. Ao mesmo tempo,
protegidos favorecem a produção pelo aumento da escala e da as CGVs criam claramente uma
local. Se fazer negócios em concentração, especialmente grande dose de dinamismo
casa for aceitável, as empresas no setor varejista, com mega e de emprego. Embora os
podem não estar interessadas lojas que vendem utensílios resultados sejam confusos,
nos riscos e pressões do domésticos, produtos para casa, sentimentos de incerteza e
engajamento global, sejam reais móveis e alimentos provenientes ansiedade desencadeados pela
ou imaginados. Se os clientes globalmente, levando os globalização têm expressão
são específicos e locais, se as varejistas menores para nichos política. Os policy-makers
cadeias de abastecimento são especiais ou totalmente para reagem e forjam as políticas
nacionais e não tolerantes à fora do mercado, especialmente de acordo. Como resultado,
distância, ou se os mercados quando eles estão localizados uma era de comércio mais
de trabalho são únicos, e nas proximidades e operam livre, ditada pela OMC e pelo
os mercados protegidos, a no mesmo ramo de negócio “Consenso de Washington”,
internacionalização pode ser a (Haltiwanger et al, 2010). Como baseada no entendimento de
coisa mais distante na mente resultado, a pressão sobre que as barreiras comerciais,
de gerentes ocupados. Serviços empresas totalmente locais inevitavelmente, prejudicam
de alimentação, varejo, serviços cresceu em vários setores. os países que as usam, está
públicos, serviços pessoais, Alguns sobrevivem bem, e alguns sendo atrapalhada por uma nova
equipamento especializado, permanecem imunes às pressões rodada de políticas industriais
a produção de bens de luxo, da globalização econômica, e até mesmo por ações
equipamentos militares e mas muitos têm visto seus protecionistas.
compras do governo são todos clientes optarem por alternativas
setores econômicos grandes maiores, mais “da moda” ou de As implicações das CGVs para
e importantes que têm sido menor custo oferecidas pelos as políticas de desenvolvimento
resistentes à globalização concorrentes com alcance global. econômico do Brasil são de
até agora. longo alcance. Como podemos
Como resultado, a percepção providenciar aos trabalhadores,
Entretanto, vêm ocorrendo da abrangência da globalização empresas e indústrias o melhor
surpresas em diversos setores. foi além da realidade, mas ambiente para se engajarem
Em serviços financeiros, serviços só até certo ponto. Há um na economia global? Como
de centrais de atendimento, sentimento de inevitabilidade podemos ter certeza de que
funções de back office, e sobre o processo, da dominação riqueza, emprego e capacidade
mesmo em pesquisa legal e insidiosa de marcas globais, de inovação suficientes são
P&D corporativo, as maiores que chegam aos consumidores gerados em casa, com a
empresas multinacionais e cada vez mais por meio de globalização econômica?
marcas globais têm encontrado mega lojas e da internet. Neste Quanto de especialização
formas para entrar no Brasil. quadro, muitos trabalhadores, nacional ― e, por extensão, de
Supermercados, e até mesmo justificadamente ou não, sentem interdependência com outras
lojas de café, antes domínio a pressão sobre: os salários, sociedades ― é demais? Como
exclusivo de empresas locais a qualidade do trabalho e a as atividades das empresas
ou, na melhor das hipóteses, estabilidade. A insegurança multinacionais (tanto empresas

36 RBCE - 115
líderes quanto fornecedores conjunto distinto de desafios e de setor refletem o fato de que,
globais) podem ser alavancadas oportunidades relacionadas, uma embora intervenções por meio
sem eliminar completamente vez que continua a desenvolver de políticas industriais sejam
as oportunidades para a suas capacidades em atividades necessárias, elas terão sido em
participação produtiva e rentável de alto valor em uma faixa alvo vão, a menos que a questão
de empresas domésticas e de de CGVs. O principal desses mais ampla do “custo Brasil”
pequenas e médias empresas desafios é a complexidade e seja também abordada. Um
(PMEs) nas CGVs? Essas a instabilidade do regime de executivo de relações públicas
são questões em aberto. políticas industriais do país. confidenciou: “Se você não
Mesmo que os formuladores Como as políticas mudam conhece o sistema tributário no
de políticas façam poucas constantemente, as empresas Brasil, se você não consegue
intervenções diretas nas estão tendo dificuldades para se trabalhar com o governo, se
áreas de comércio, indústria projetar no futuro. Por exemplo, você não tem nenhuma fonte
ou políticas de inovação, a em nossa recente pesquisa no local de financiamento, então é
globalização econômica pode Brasil, os executivos de empresas muito difícil operar no mercado
tornar o processo de ajustamento de eletrônicos indicaram que brasileiro”. Assim, embora o
econômico mais difícil porque a incerteza relacionada à “Desenvolvimentismo de Terceira
acelera o ritmo da mudança. rápida mudança de incentivos Via” do Brasil procure colocar
à produção local (Processos capital estrangeiro e nacional em
Com apostas tão altas, existe um Produtivos Básicos, ou PPBs) pé de igualdade, as empresas
amplo interesse em encontrar e os níveis das tarifas de multinacionais, não acostumadas
mecanismos para garantir que importação têm sido restrições com o mercado, permanecem
as CGVs não só prosperem, significativas para o crescimento. em desvantagem.
mas também trabalhem para Essa incerteza tende a impactar
elevar, em vez de diminuir, o as PMEs de forma mais Mesmo que processos melhores
bem-estar das sociedades em significativa do que as grandes estivessem em vigor, as
que estão inseridas. Mas com empresas, porque as pequenas políticas industriais do Brasil
tantos fatores externos, alta empresas não têm força junto carecem de objetivos coerentes.
complexidade e resultados aos formuladores de políticas em Embora uma das prioridades
mistos, o desafio em questão Brasília. do Plano Brasil Maior seja
é entender de forma mais melhorar as atividades de alta
completa os efeitos dinâmicos A incerteza das políticas produtividade e tecnologia
da crescente fragmentação no é apenas um dos muitos dentro das cadeias de valor,
desenvolvimento econômico. elementos do que veio a ser pouco se faz para identificar
Há uma necessidade urgente conhecido como “custo Brasil”. e incentivar o crescimento em
de desenvolver ferramentas Os custos adicionais associados nichos específicos das CGVs nos
melhores para avaliar o impacto com o trabalho no Brasil incluem quais o Brasil tem uma vantagem
da globalização econômica e do a má infraestrutura, camadas competitiva. Os formuladores de
papel que categorias específicas excessivas de burocracia, políticas e a indústria precisam
de empresas ou mesmo corrupção e altas taxas de juros, identificar os nichos específicos
indústrias nacionais inteiras entre outros. De acordo com o de alto valor nas CGVs em que
desempenham dentro dela. ranking Doing Business 2013 do o Brasil pode ser competitivo,
Banco Mundial, o Brasil ocupa o e se concentrar neles. Muitos
Acreditamos que o Brasil precisa 130o lugar do mundo em termos desses nichos podem estar
de um processo de formulação de facilidade de fazer negócios, nos segmentos de serviços
de políticas inteligente, dinâmico, atrás de China e Rússia. O país de indústrias específicas,
adaptável e com base em ocupa o 156o lugar em termos como de engenharia ou de
evidências. Há um longo caminho de pagamento de impostos. desenvolvimento de software
a percorrer. O Brasil enfrenta um Entrevistas com executivos do relacionados com a indústria

RBCE - 115 37
petroquímica, por exemplo, mas particularmente premente, impulso para a diversificação
aplicáveis em toda uma gama de dada a escassa oferta de e condições de concorrência
setores. trabalhadores qualificados. equânimes para as empresas
locais e multinacionais
As exigências de conteúdo A logística continua a ser um registradas no país. (Por
local são demasiado onerosas gargalo para muitas empresas exemplo, o Plano Brasil Maior
nos mercados de produtos em brasileiras que querem participar ― PBM de 2011-2014). A Apex-
que a terceirização global é a das CGVs. Estas exigem órgãos Brasil apoiou isso, ajudando
norma incontestável, tais como alfandegários bem administrados os exportadores em indústrias
dispositivos de imagem de e boa infraestrutura de específicas a encontrar
ressonância magnética (MRI), comércio para garantir que compradores no exterior, e o
equipamentos de infraestrutura os cronogramas de produção financiamento à exportação
de telecomunicações e apertados sejam cumpridos. Tem do BNDES seguiu o exemplo.
eletrônicos de consumo. Os havido esforços isolados para As linhas de crédito para a
instrumentos das políticas melhorar a logística no Brasil; exportação de bens e serviços
industriais, como o PPB, não no entanto, esse continua a ser são abertas para empresas
conseguem acompanhar um dos principais fatores do constituídas sob a legislação
o ritmo de mudanças de “custo Brasil”. O Recof (Regime brasileira; a propriedade não
indústrias constantemente Aduaneiro de Entreposto precisa ser brasileira. Embora os
em desenvolvimento, Industrial sob Controle passos necessários para receber
como a aeroespacial, a de Informatizado) é um dos poucos o financiamento das exportações
equipamentos médicos e a esforços que visam a melhorar pareçam transparentes, a
eletrônica. As exigências de os procedimentos aduaneiros. estratégia por trás dos produtos
conteúdo local devem ser Sob o regime, as exportações selecionados é menos clara;
repensadas para serem mais e importações são controladas os grupos de produtos dentro
flexíveis, permitindo que as e processadas em seis horas das “indústrias-alvo” parecem
empresas se especializem no e as tarifas de importação aleatórios e incoerentes. Por
Brasil em produtos de nicho e são suspensas, entre outros exemplo, o estanho e seus
bem adaptados tanto para o benefícios. O problema principal subprodutos estão agrupados
mercado doméstico quanto para é que o regime está limitado a com máquinas de escrever
mercados similares no exterior. empresas que exportam mais elétricas e antibióticos. Em
de US$ 10 milhões por ano e, suma, a ligação entre o
A participação em nichos das 33 empresas certificadas, PBM e o financiamento de
de maior valor das CGVs, apenas duas (Embraer e Itautec) exportações do BNDES não
como integração de sistemas, são brasileiras. Alfândegas é clara. O financiamento de
desenvolvimento de software, rápidas e eficientes não devem exportações opera no nível do
design e engenharia vai ser privilégio de algumas produto, e abrange uma gama
exigir um esforço agressivo empresas líderes estrangeiras. diversificada de bens. É difícil
para aumentar a qualificação Em vez disso, expandir o saber como esses bens podem
da força de trabalho. Seu programa e fazer esforços claros ser mapeados em pontos de
desenvolvimento continua a para atrair empresas brasileiras interseção e nichos específicos
ser um enorme problema no menores poderia levar a uma dentro das CGVs. É preciso
Brasil, especialmente entre maior integração com as CGVs. aprofundar os estudos para
as ocupações nos segmentos identificar os “pontos sensíveis”
de alto valor agregado das As políticas de promoção de do Brasil nas CGVs atualmente
CGVs. Há necessidade de uma exportações do Brasil parecem em evolução e alinhar essas
maior oferta de engenheiros e não ter foco e são mal alinhadas metas mais precisas em um
gerentes de projeto. A retenção com as realidades das CGVs. conjunto flexível e adaptável de
de trabalhadores é uma questão Aspectos positivos incluem um políticas industriais.

38 RBCE - 115
COMO DEVE SER UMA valor localmente sejam modestas dos padrões de escala global
POLÍTICA INDUSTRIAL e direcionadas o suficiente de organização industrial
EFETIVA PARA AS CGVS? para não aumentar os preços a que vieram à tona nas
ponto de impedir o crescimento CGVs desde os anos 1990.
As políticas industriais nem do mercado (o que faria com As empresas líderes estão
sempre têm que começar que os produtos de ponta não contando com fornecedores
com formuladores de políticas chegassem nas mãos das e intermediários globais para
“escolhendo” as indústrias, mas empresas e consumidores um conjunto de processos,
sim com tentativas de melhorar que os desejam). insumos especializados e
o desempenho das indústrias serviços, e exigindo que
existentes que conectam as No momento em que os seus fornecedores mais
empresas nacionais com a formuladores de políticas importantes tenham uma
economia global. Isso envolve aceitarem a proposta de que presença global. Por isso é
a busca por mecanismos que uma abordagem equilibrada é que os fornecedores, e não
possam direcionar investimentos possível, a questão torna-se as empresas líderes, estão
e aumentar a posição de então como elaborar políticas fazendo muitos dos novos
agregação de valor de um industriais eficazes direcionadas investimentos no Brasil.
país em segmentos altamente para as CGVs. Uma maneira Além disso, os maiores
móveis de CGVs que já estão de examinar esta questão é fornecedores servem a vários
no processo de se espalhar para se perguntar como as políticas clientes, por isso o sucesso
novos locais, ou que podem já industriais atuais diferem das dos investimentos não está
estar dentro da competência políticas industriais tradicionais. necessariamente ligado ao
dos formuladores de políticas. Uma análise rápida dos casos sucesso de qualquer única
Quando os formuladores de atuais de políticas industriais empresa líder. Não é por
políticas do Brasil tentam do Brasil poderia sugerir que as acaso que o Brasil buscou
capturar mais valor agregado motivações e os instrumentos investimentos da Foxconn,
local nos mercados locais que já de política empregados por em vez da Apple, em seu
estão crescendo rapidamente, grandes economias emergentes desejo de ter iPhones e
não podemos dizer que eles têm muitas das características iPads produzidos no país.
estão escolhendo os vencedores. das políticas industriais de ISI Finalmente, ao servir a vários
tradicionais: a condução da clientes, os fornecedores
Naturalmente, os formuladores de substituição de importações globais podem gerar um
políticas que utilizam exigências com requisitos de conteúdos volume de negócios suficiente
de conteúdo local também devem locais, instituindo requisitos para para justificar os investimentos
se preocupar em não desacelerar o investimento em P&D locais, de capital intensivo que
o crescimento do mercado por estimulando a demanda em têm elevados requisitos
meio de um aumento nos preços áreas de produtos-chave etc. mínimos de escala, tais como
em níveis que impeçam o acesso No entanto, vemos três grandes displays eletrônicos e peças
dos consumidores aos produtos diferenças: automotivas complexas.
de ponta. Um crescimento
econômico amplo pode ser 1. Fornecedores globais. 2. Terceirização global e
retardado quando os mercados Ao invés de meramente especialização em cadeias
para produtos que tornam a exigirem que as empresas de valor. As políticas que
economia como um todo mais líderes façam grandes promovem vínculos com as
eficiente, como smartphones e investimentos, as políticas CGVs têm objetivos muito
computadores, estão truncados. industriais direcionadas diferentes das políticas
Mas é possível que as políticas para as CGVs hoje no Brasil industriais tradicionais, que
que pressionam as empresas revelam um entendimento pretendem construir indústrias
líderes em CGVs a agregar mais cada vez mais sofisticado nacionais plenamente

RBCE - 115 39
desenvolvidas, verticalmente Isso pode diminuir o risco de importações (ISI), ou seja por
integradas. As políticas podem e as barreiras à entrada de meio de um maior acesso aos
atingir nichos especializados empresas locais, proporcionar mercados, através da promoção
nas CGVs. Estes podem o acesso a capacidades e da exportação conhecida como
ser nichos de maior valor, escala que ultrapassam de industrialização orientada para
adequados às capacidades longe o que está disponível no a exportação (EOI). O objetivo
existentes. Também podem mercado interno, e assegurar dessas “políticas industriais
ser capacidades genéricas que os produtos e serviços domésticas” foi o de nutrir um
a serem partilhadas pelos estão sempre atualizados, conjunto de indústrias nacionais
investidores estrangeiros. justamente porque participam totalmente desenvolvidas em
Ambos podem servir tanto a das CGVs desde o início. Os setores-chave que poderiam
mercados nacionais quanto produtos e serviços modernos, eventualmente competir de frente
aos de exportação. Este tipo de de padrão internacional, abrem com as nações industrializadas
especialização em cadeias de também mercados para a (Baldwin, 2011).
valor assume uma dependência exportação.
contínua em serviços e Hoje, apesar de uma lista cada
insumos importados. Depender vez maior de signatários da
da terceirização global significa RESUMO OMC, as políticas industriais
que a cadeia de valor completa estão em ascensão. A adesão
pode nunca ser capturada, As CGVs inicialmente se à OMC muitas vezes vem com
mas também assegura a desenvolveram em um permissões para que políticas
participação contínua em período de queda de barreiras industriais seletivas (por
tecnologias de ponta, padrões comerciais, da ascensão exemplo, promoção do comércio,
e “boas práticas” da indústria. da Organização Mundial regras de conteúdo local,
Claramente, as indústrias dos do Comércio (OMC) e das impostos, tarifas e programas
países em desenvolvimento receitas de políticas ligadas mais indiretos que impulsionam
não podem mais fazer ao “Consenso de Washington” a produção local) permaneçam
produtos obsoletos, porque os ― ou seja, os governos só em vigor por certos períodos.
consumidores com aumento da tinham que proporcionar um Acordos comerciais bilaterais
renda deixarão de aceitá-los. forte conjunto de políticas podem substituir o que foi
“horizontais” (como educação, acordado sob as regras da OMC,
3. Passando para o topo infraestrutura e estabilidade e um punhado de economias
das CGVs. Incentivar macroeconômica) e estarem emergentes relativamente
fornecedores globais a abertos ao comércio para serem grandes e avançadas (como as
estabelecer instalações no bem sucedidos. Naturalmente, do G-20) têm mais influência nas
Brasil pode ter vantagens muitos observadores notaram instituições de governança global
a longo prazo. Empresas que as economias emergentes e estão usando essa influência
líderes locais podem contar de maior crescimento (por para criar uma maior margem de
com fornecedores globais exemplo, Coreia do Sul, Taiwan, manobra para se engajarem em
em seu meio. De outro lado, Cingapura) fizeram muito mais políticas industriais
em CGVs industriais maiores do que isso, por meio de um mais atuantes.3
elas podem contar ainda conjunto de políticas industriais
com uma ampla gama de que tiveram como alvo indústrias Ainda assim, a fragmentação
insumos e serviços, desde nacionais específicas para o das indústrias globais em
a concepção à produção, crescimento, seja através de CGVs dificulta os debates
passando pela logística, barreiras protecionistas, da sobre políticas industriais.
marketing e distribuição. industrialização por substituição Argumentamos que não pode

3
Por exemplo, o novo diretor-geral brasileiro da OMC, Roberto Azevêdo, prometeu nomear um vice-diretor chinês.

40 RBCE - 115
haver um retorno às antigas interligadas através de redes de e geram resultados distintos
políticas de ISI e EOI. negócios complexas, sobrepostas dos anteriores. Gostem ou
As indústrias nacionais, tanto nos em escala global, criadas através não, os governos agora devem
países industrializados quanto das ondas recorrentes de se engajar na industrialização
nos em desenvolvimento, não investimento estrangeiro direto orientada pelas CGVs ao
estão mais isoladas, atuando (IED) e terceirização global que escolher setores-chave para o
essencialmente em condições compõem as CGVs. Devido a crescimento. Ainda há muito a ser
de concorrência; em vez disso, isso, as políticas industriais de aprendido sobre como fazer isso
tornaram-se profundamente hoje têm um caráter diferente, de forma eficaz. ■

Bibliografia

Baldwin, R. 2011. Trade and industrializa- Haltiwanger, J., Jarmin, R., Krizanb, C. J. Reardon, T., Timmer, P., Christopher, B. and
tion after globalisation’s 2nd unbundling: 2010. Mom-and-pop meet big-box: comple- Berdegue, J. 2003. The rise of supermarkets
how building and joining a supply chain are ments or substitutes?  Journal of Urban in Africa, Asia  and Latin America. American
different and why it matters. Cambridge, Economics. 67:1, janeiro, 116–134. Journal of Agricultural Economics. 85;
MA: National Bureau of Economic Re- 5, 1140-1146.
Humphrey, J. e H. Schmitz, H. 2002. How
search, Working Paper 17716, dezembro.
does insertion in global value chains affect Sturgeon, T., e Memedovic,O. 2010. Meas-
Endereço eletrônico: http://www.nber.org/
upgrading in industrial clusters? Regional uring global value chains: intermediate
papers/w17716.
Studies. 36 (9), 1017-27. goods trade, structural change and com-
Beltramello, A., Backer, K. de e Moussiegt, pressed development. UNIDO Working Pa-
Jenkins, Rhys. 2012. China and Brazil:
L. 2012. The export performance of coun- per. United National Industrial Development
economic impacts of a growing relation-
tries within global value chains (GVCs). Organization, Vienna.
ship. Journal of Current Chinese Affairs.
OECD Science, Technology and Industry
1: 21-47. Thomson, A. 2012. Mexico: China’sun likely
Working Papers, 2012/02. OECD Publish-
challenger. Financial Times. September 19.
ing. Endereço eletrônico: http://dx. di. Lüthje, B. 2002. Electronics contract manu-
org/10. 1787/5k9bh3gv6647-en. facturing: global production and the inter- UNCTAD. 2013. Global value chains and
national division of labor in the age of the development: investment and value added
Bernard, A., Bradford, J. J. e Schott, P.
internet. Industry and Innovation. 9 (3): trade in the global economy ― a prelimi-
2005. Importers, exporters and multination-
227–247. nary analysis.Geneva: United Nations
als: a portrait of firms in the U.S. that trade
Conference on Trade and Development.
goods. NBER Working Paper, 11404. Martin, E. 2012. Move over, BRICs. Here
Endereço eletrônico: http://unctad.org/en/
Come the MISTs. Bloomberg Business
Cattaneo, O., Gereffi, G. and Staritz, C. PublicationsLibrary/diae2013d1_en.pdf.
Week, agosto, 9. Endereço eletrônico:
(eds.). 2010. Global value chains in a post
h t t p : / / w w w. b u s i n e s s w e e k . c o m / a r t i- Whittaker, D. H., Zhu, T., Sturgeon, T.,
crisis world: a development perspective.
cles/2012-08-09/move-over-brics-dot-here- Tsai, M. and Okita, T. 2011. Compressed
Washington, DC: The World Bank.
come-the-mists. Development Studies in Comparative
Feenstra, R. 1998. Integration of trade and International Development, 45 (4).
Miroudot, S., Lanz, R., e Ragoussis, A. 2009.
disintegration of production in the global
Trade in intermediate goods and services. World Economic Forum. 2013. Enabling trade:
economy. Journal of Economic Perspec-
OECD Trade Policy Working Paper. 93, no- valuing growth opportunities. Relatório elabo-
tives.12(4): 31-50.
vembro, 3. Endereço eletrônico: http://www. rado em colaboração com Bain&Company
Gereffi, G. 2009. Development models and oecd. org/dataoecd/47/14/44437205.pdf. e o World Bank. Endereço eletrônico: http://
industrial upgrading in China and Mexico. www3.weforum. org/docs/WEF_SCT_Ena-
O’Neill, J. 2011. The growth map: econom-
European Sociological Review. 25,1: blingTrade_Report_2013.pdf.
ic opportunity in the BRICs and beyond.
37-51.
New York: Penguin. WTO e IDE-JETRO. 2011. Trade patterns
Goldberg P., Khandelwal, A., Pavcnik,N., e and global value chains in east Asia:
OECD. 2011. Global value chains: prelim-
Topalova, P. 2008. Imported intermediate in- from trade in goods to trade in tasks.
inary evidence and policy issues. Paris:
puts and domestic product growth: evidence World Trade Organization and Institute of
Organisation for Economic Co-operation
from India. Asian and Pacific Department. Developing Economies, Genebra e Toquio.
and Development, DSTI/IND(2011)3. En-
IMF, outubro. Endereço eletrônico: http://www.ide.go.jp/
dereço eletrônico: http://www.oecd.org/
English/Press/pdf/20110606_news.pdf.
dataoecd/18/43/47945400.pdf.

RBCE - 115 41

Você também pode gostar