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Caso julgado:

Depois do encerramento da audiência final mas antes do decretamento da decisão


final decorre um período de tempo mais ou menos longo, e importa notar que durante
esse período mais ou menos longo, que vai desde o encerramento da audiência final à
leitura da sentença, será irrelevante o acontecimento de factos novos, ou seja, factos
que ocorram a seguir ao encerramento da audiência final serão irrelevantes para o
juiz, o juiz não os poderá analisar, assim nos diz o artigo 611º n.º 1 do CPC.
As decisões do tribunal podem ser de várias formas, ou um despacho, que é uma
decisão não final – à exceção do despacho saneado que é final - proferida sobre
matéria processual, ou uma sentença, que é uma decisão final proferida numa causa
ou, por fim, uma resolução, que é uma decisão proferido nos processos de jurisdição
voluntária com base em critérios de conveniência e oportunidade.
Da decisão final podemos retirar um de três fins, ou a absolvição do réu do pedido,
que é o julgamento de mérito contra o autor, ou a absolvição da instância, que é a
recusa do tribunal de apreciar do mérito da causa devido a alguma exceção dilatória,
artigo 576º n.º 2, 577º e 278º n.º 1 do CPC, ou a condenação do réu no pedido, que é
quando o juiz dá razão ao autor e torna procedente a sua pretensão.
Ora, a partir do momento em que a decisão é decretada, a partir do momento em que
a sentença é lida, fica imediatamente esgotado o poder jurisdicional do juiz, é um dos
efeitos processuais da decisão, é o principio da irrevogabilidade da sentença presente
no artigo 613º n.º 1 do CPC. Este artigo é dirigido ao juiz e não às partes, isto é, a partir
do momento em que a decisão é decretada a mesma passa a ser imutável e inalterável
por parte do juiz, torna-se imodificável para o juiz que já não se pode pronunciar sobre
a mesma. Este principio permite, porém, uma exceção, disposta no n.º 2 do mesmo
artigo e que nos diz que é licito, porém, ao juiz, retificar erros materiais, suprir
nulidades e reformar a sentença, nos termos dos artigos seguintes.
Importa também notar que, quando a sentença é decretada, não existe ainda caso
julgado. Acontece que o juiz, como vimos, não pode mais alterar a decisão, não
obstante, as partes podem de certa maneira atacar a sentença, ou seja, a parte para a
qual a sentença foi desfavorável tem um período de 30 dias para impugnar a sentença,
é a possibilidade de interpor recurso, artigo 638º n.º 1 do CPC. Assim sendo, só há caso
julgado, segundo o artigo 628º do CPC, se a decisão não for mais suscetível de recurso
ordinário ou de reclamação. Assim, o caso julgado significa que as partes já não podem
fazer nada, todo o processo terminou e é agora imutável tanto para o juiz como para
as partes.
O caso julgado tem duas modalidades, o caso julgado formal, artigo 620º do CPC e que
traduz a força obrigatória dentro do processo, e o caso julgado material, artigo 619º do
CPC e sobre o qual nos debruçaremos agora.
Ora, no caso julgado material existem dois efeitos, um efeito negativo, a exceção de
caso julgado, que é uma exceção dilatória presente no artigo 577º alínea i) e que,
como exceção dilatória que é, obsta a que o juiz conheça do mérito da causa, artigo
576º n.º 2, absolvendo assim a instância pelo artigo 278º n.º 1 alínea e), e um efeito
positivo, a autoridade de caso julgado, que é basicamente a vinculação do tribunal a
certos fundamentos que foram decididos na ação anterior. Assim, e como afirma RUI
PINTO, enquanto que o efeito negativo obsta a uma decisão posterior, o efeito positivo
determina o sentido da decisão posterior.
A exceção de caso julgado está presente no artigo 580º e 581º do CPC. Diz-nos o artigo
580º n.º 1 do CPC que a exceção do caso julgado verifica-se quando há a repetição de
uma causa depois de uma primeira ter sido decidida por sentença que já não admite
recurso ordinário. Veja-se o artigo 581º n.º 1 que nos diz que se repete a causa quando
se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir.
Temos então três requisitos cumulativos para se verificar a repetição da causa e, por
conseguinte, a exceção de caso julgado, são eles a repetição dos sujeitos, artigo 581º
n.º 1, a repetição do pedido, artigo 581º n.º 2 e a repetição da causa de pedir, artigo
581º n.º 3. A exceção de caso julgado tem como finalidade, como nos diz o artigo 580º
n.º 2, evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizer ou de reproduzir
uma decisão anterior, protegendo assim a segurança jurídica.
Ora, se não se verificar a exceção de caso julgado temos de ver se há autoridade de
caso julgado. Neste efeito o que vai acontecer é que pode haver uma vinculação do
tribunal a determinados fundamentos que foram decididos na ação anterior. Por
exemplo, se numa primeira ação o tribunal decide que A é proprietário do imóvel X
então numa segunda ação não pode vir o juiz dizer que A afinal não é proprietário do
imóvel X. Trata-se de outra tentativa para tentar obviar à contradição nos tribunais e
para assegurar a segurança jurídica.
Quanto aos limites do caso julgado, estes dividem-se nos limites objetivos e nos limites
subjetivos, focar-nos-emos apenas nos objetivos. Estes dizem respeito não às partes
mas ao objeto do processo, ou seja, ao pedido e à causa de pedir.
A pergunta que se coloca nesta sede é a de saber se o caso julgado através da exceção
de caso julgado por repetição do pedido e da causa de pedir se estende: a) à decisão;
b) aos fundamentos autonomamente considerados e à decisão; ou c) à decisão
vinculada aos seus fundamentos lógicos e indispensáveis. Sendo que o Professor
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA vem dizer que há fundamentos que podem não ser
relevantes ou que não são o pressuposto lógico da decisão, pelo que o que
efetivamente forma caso julgado deve ser a decisão e os fundamentos lógicos e
indispensáveis que levam à decisão do juiz.
Por fim, apenas realçar que existe um caso especial que deve ser devidamente
identificado, é o caso do contrário contraditório. O contrário contraditório decorre do
disposto no artigo 564º alínea c) e basicamente diz que o réu não pode propor ação
destinada a alcançar efeito contrário à de uma outra ação transitada em julgado, isto
é, o réu deve-se defender na ação proposta pelo autor, não deve procurar discutir a
razão dessa parte numa outra ação por ele proposto. Por exemplo, após o autor
intentar uma ação de simples apreciação negativa na qual pede a declaração da
inexistência de uma divida, o reu não pode intentar uma ação na qual pretende obter a
condenação do autor no cumprimento dessa mesma divida.

Nulidades das sentenças e recursos:


As decisões judiciais, uma vez proferidas, não são necessariamente irrevogáveis, a lei
permite à parte cuja decisão foi desfavorável reagir contra a mesma. A forma de
reação é a impugnação da decisão, isto é, o pedido de substituição da decisão
proferida por uma outra mais favorável à parte impugnante. A impugnação de uma
decisão assume uma de duas formas, o recurso ou a reclamação, veja-se o artigo 628º
do CPC.
As decisões finais podem sofrer de alguns vícios, vícios essência, vícios de conteúdo,
que se dividem em erro material e erro judicial, e, por fim, vícios limites. No caso está
retratada uma causa de nulidade da sentença, que é um dos vícios limites.
Os vícios limites ocorrem quando a decisão não contém todos os elementos que
deveria conter, um dos exemplos é o vasto elenco presente no artigo 615º n.º 1 do
CPC.
Se a nulidade derivar da falta de assinatura do juiz, deve-se atentar o n.º 2 do artigo
615º, que nos diz que esta omissão pode ser suprida oficiosamente ou a requerimento
de qualquer das partes, enquanto for possível colher a assinatura do juiz que proferiu a
sentença, devendo este declarar no processo a data em que apôs a assinatura. Ora,
retira-se deste preceito que, na infelicidade de o juiz falecer antes de assinar a
sentença, a mesma será insuprível e, por conseguinte, será nula.
Se a nulidade derivar noutra causa, deve-se atentar ao n.º 4 do artigo 615º do CPC,
que nos diz que as nulidades mencionadas nas alíneas b) a e) do n.º 1 só podem ser
arguidas perante o tribunal que proferiu a sentença se esta não admitir recurso
ordinário, podendo o recurso, no caso contrário, ter como fundamento qualquer
dessas nulidades. Ou seja, este artigo diz-nos basicamente que se estiver em causa
uma destas causas de nulidade da sentença e não for possível interpor recurso
ordinário, por exemplo por não cobrir a alçada do tribunal superior, artigo 629º n.º 1
do CPC, então a nulidade da sentença deve ser arguida no próprio tribunal que a
proferiu através de reclamação, isto é, a parte dirige-se ao tribunal que proferiu a
sentença e solicita-lhe que a repense. Caso seja possível interpor recurso ordinário
para um tribunal superior então o recurso poderá ter como fundamento essa nulidade.
É importante notar que a nulidade da sentença tem de ser invocada, à exceção da falta
de assinatura do juiz, as restantes causas de nulidade da sentença não são supridas
oficiosamente.
DEPOIS DE SABER SE É POR RECLAMAÇÃO OU POR RECURSO:
Reclamação - Tendo em conta que se trata de uma reclamação da nulidade da
sentença, visto não ser possível interpor recurso da mesma, o que acontece é que,
segundo o artigo 617º n.º 6 1ª parte do CPC, o juiz vai proferir decisão definitiva sobre
a nulidade. Esta decisão ou será no sentido de suprir a nulidade, caso em que será de
aplicar o artigo 617º n.º 2, que nos diz que se o juiz suprir a nulidade ou reformar a
sentença, considera-se o despacho proferido como complemento e parte integrante
desta, ficando o recurso interposto a ter como objeto a nova decisão, ou então será no
sentido de não suprir a nulidade, o que levará à nulidade da sentença da qual não
caberá recurso autónomo do indeferimento segundo o artigo 617º n.º 1 parte final do
CPC.
Recurso – Tendo em conta que se trata de um recurso ordinário da nulidade da
sentença temos que, segundo o artigo 617º n.º 1 e 641º n.º 1 do CPC, cabe ao juiz
apreciar a alegada nulidade no próprio despacho em que se pronuncia sobre a
admissibilidade do recurso, não cabendo recurso da decisão de indeferimento,
conforme nos diz o artigo 617º n.º 1 parte final do CPC.

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