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ITO) @ mir nile = SOBRE 0 AUTOR Paulo Mattos é médicopsiquiatra eprofessor da Uni versdade Federal do Rio de janeiro (UFR). Mestre « doutor em Psiquiatria; fez seu pSs-douterado em. Dloguimien coordenador do GEDA~ Grape de Est dos do Déficit de Atengdo do Institute de Psiquatria ‘4a UFR). Fundador e Memo do Comit Centifico 4a ABDA ~Associaio Brasileira do Deficit de Aten {lo Membr da Assecagio Brasileira dePiquiatria, {4 Academia Brasileira de Neurologa eda Amer: ‘an Psychiatrie Assocation, Membro do Comité Ea erat ae journaler attention Uisoaer, a0 jor ‘Brasileiro de Piquiatria eda Revista de Psiquatria clinica ‘tc de unin a rade aw rhe ss Paulo Mattos No Mundo da Lua capitulo 1 A © QUE E TRANSTORNO DO DEFICIT DE ATENGAO/HIPERATIVIDADE? Dequetrata este ivro? Este livo trata de eriangas, adolescentes € adultos que tém muitas dificuldades de man. tera atencio por muito tempo. E comum que sediga quecles “vivem no mundo da lus", sto acabam pensando em outra coisa (ou em. ‘um monte de outras coisas. quando conver- sam com alguém. quando estio estudando ou endo, trabalhando,enfim, em uma grande va- rledade de situagées, Na maioria dos casos, porém nem sempre, fessas pessoas também sio inguietas (no permanecem paradas, sossegadas, por muito tempo e detestam coisas monétonas e repe tives), além de serem impulsivas no seu dia dia. Sio pessoas que vivem trocando de inte- esses e planos e tém dificuldades em levar as coisasatéo fim. las tendem a ser desorganiza- dase esquecer coisas com mais facilidade que os demais, las podem ter problemas na sua vida acadé ‘mica (em geral, as queixas comesam na es- cola, mas isso néo & obrigatério), bem como nnas suas vidas profisional, social e fami- liar. Apesar de esses sintomas serem muito freqlenter e causarem virios problemas na vida do individuo, podem ficar muito tempo - ‘até mesmo a vida inteira sem serem con- siderados como expressio de um transtorno, ue nio é diagnosticado ou tratado ce modo correto, Em mais da metade dos casos exister, ‘outros problemas assoclades, especialmente ‘quadros de ansiedade e depressio que podem sero tii foco de preocupacio do préprioin- ipl neem uli va es peta, Esto problema se chama Transtorno do Défi- cit de Atencio com Hiperatividade/Impulsivi- dade (abreviado como TDAH, em portugues, fu ADHD, am ingle) Fle jf fk ehamada *ADD" (ou “DA” em portugués, para se eferir aos casos em que ndo existe a Hiperatividadeo “H"] mas isto foi abandonado) (© TDAH éum problema que deve ser diagnos- tieado por um profissional de saide (médico ‘ou um psicélogo), embora seja comum uma equipe integrada de diferentes profssionais que “culda’ do paciente (méicos, psiélogos epecagogos, prinepalmente), Fonoaudiologos também fazem parte da equipe, quando exis- Esta “histéria" de TDAH néo émera invengdo para vender remédios, erlanao um traramento parauma doenga que ndo existe, na verdade? Para responder a esta pergunta, © melhor ‘mesmo ¢reproduziro que. Associagio Médica ‘Americans, uma das mais rigorosas e influen- tes do mundo, disse a este respeito em 1998, quando selevantowamesma questionos Esta. os Unidos: ‘0 TDAH é um dos transtornes ‘mais bem estudados na medicinae 08 dados gerais sobre wa validade so muito mais convincentes que amaioria dos transtornos mentais ‘até mesmo que muitas eondigdes médicas" ‘Mas por queexiste tanto barulho por conta dodiagnéstico de TDAH? Hi grupos que aio aceitam a existéncia do transtorno, -H4 provavelmente viviasraades para tamanho Darulho. Ha grupos que sugerem ser o TDAH ‘um mero “rétulo” para designar um grupo de criangas que se comporta diferente (veremos {sto mais adlante). Nosso cérebro é natural- ‘mente estruturado para dlassificar automati- ‘camenteas coisas agrupé-ls em categorias— tom dificuldades especficas de letura, de es- crite ou de comunieagio oral ‘Mas isto ésuficiente para seter um ‘diagndstico? Nao éum exagero? (0 TDAH éreconhecido pela Organiza¢do Mun- dial da Sade (OMS), responsivel pela lista de todas as doengas existentes, desde as mas co- -muns até as mals raras Doengas novas vio surgindo (alguns virus, Por exemplo), ourras aesaparecem (a variola, por exemplo,é considerada extinta),algumas ‘mudam de nome (a artrite de Reiter mudou de nome pare nde homenagear um médico nnazista),outras sio tratadas de modo comple- tamente diferente (antes era considerado erro :médico dar betabloqueadores na insufieiéncia, cardiace, hoje sio medicamentos indieados), etc. A sifls ea hansenfase(antigamente cha- ‘mada do leprs) foram considoradas a mesma doenga durante muito tempo. Alguns com- portamentor desspareceram da lista oficial porque considerou-se que ndo havia embasa- ‘mento cientifico para clasificétos como do- lencas médicas (casoda homossexualidade), (© TDAH permanece sendo um diagnéstico com grande embasamento cientifico, diagnos- ticado em paises muito diferentes cultural~ ‘mente (como ora, Estados Unidos, China, ra sil, México, et). estas itimas no sio o problema, mas sim 0 uso que se faz delas. Este grupo de pessoas em. geral pertence ao grande grupo que acredita ue do pescogo para Baixo temos intimeras “dooncas de verdade”(genéticas. metabélicas, infecciosas, etc.) mas do pescogo para cima, por slgum mistério indecifrivel, elas no exis- temesio invencies" ‘HA outros grupos que, nacreditavelmente,jul- gam que se trata de "questdes sociai” (2) num eco tardio das idelas de Rousseatieque atéhoje podem ser percebidas em alguns movimen- tos de esquerda, principalmente no Brasil (0 ‘homem nasce bom e puro, ¢a sociedade que o tomna diferent). (Outros ainda nao acreditam no diagnéstico de TDAH pelo simples fato de que os sintomas, podem ser observados, em diferentes graus, fem qualquer um. Existom dois tipos de di- ‘agnésticos em Medicina. No caso de algumas ddoencas, como o cincer ea hepatite, vocé est fin grape das aie “tim? ars nn Ane qe "naa tem’, Neste caso, falamos em diagnéstico por categorias ou eategoriais. Mas em virios ou tos casos, 0 diagnéstio é definido a partir de ‘um determinado ponto, embora todo mundo tenha aquela caracteristica ou comporta ‘mento em algum grau, Neste caso, falamos de agnésticos dimensfonais (de dimensio). Este 60 caso de intimeros problemas médicos: hi- pertensio arterial (pressio alta), diabetes, cbe- sidade ete Os diagndsticos dimensionais sio muito co- ‘mons. Embora todo mundo tenha pressio arterial (uns tem pressio mais baixa, outros nna média, outros no limite superior da nor ‘malidade, etc alguns individuos tem pressio ‘muitoalta. Eoqueacontece com eles? Cada au ‘mento de 20mm na pressiosist6lica (maxima) ‘oa 10mm na pressio diastdlica (minima) obraachancede mortepor doenga cardiovas- calla. O mesmo acorre no caso do diabete me- Lite: todo mundo tem agicar no sangue, uns ‘mais, outros menos. Algumas pessoas tm ni- veis de agicar que a maioria da populagio no tem e isto acarreta indmeros problemas em. suas Vidas; nos os chamamos de diabeticos. 0 diagnéstico de TDAH, como o da hiperten- ie ached udilidle sRsumetiials teks ‘mundo tem alguns sintomas de desatencio e Inguietude, mas algumas pessoas (cerca de 5% a populagéo) tém muito mais sintomas que ft demais e este “excesso" de sintomas (que '95% das pessoas no tem) causam muttos pro- Inlemagam mie vides, cama ueromoe dante (Ou seja: nfo se trata de “ter” ou “nao ter” sintomas dedesetencéo ou dehiperatividade;o ‘que determina seexiste ou nao um problema "0 quanto" vocé tem daqueles sintomas. No existe o grupo dos ‘completamente atentos" e dos ‘completamente desatentos” ‘Mas isto ndo seria uma tentativa de se controlar ocomportamento de criangas a9? E se 0 porteiro nio desse a menor bola para seubomn-diaealém disso “nio souberse ‘onde enfiou as suas cartas que chegaram pelo correio"?E seo caixa simplesmente resolvesse discutir com vocé por um erro de troco que ele ‘mesmo cometeue nfo sedeu conta? E sea sua nnamorada nao estivesse prestando 2 devida atenciio enquanto vocé izesse uma deelaracio ‘deamor ou rerolvesteselevantar para congerit se chegou um e-mail na caixa postal? ‘Acho bastante razodvel que pais desejem que seus filhos prestem atengio ao que o professor std dizendo em sala de aula, ndo se levantem toda nora e ragam bagungd atrapainando os demais (que nao tém absolutamente nada a ver com isto) e que consigam estudar quando cchegam a casa, Francamente, nio consigo en- tender por que isto €algo “*horrivel” para algu- ‘mas pessoas... Criangas freqlentemente no tim aide formada de quanto aprencizado é importanteem suae vidas Por queexatamente 10s pais ndo deveriam ter expectativas quanto aa comportamanta dala ‘Acho que muitas pessoas confunclem isto.com. {intolerincla quanto as diferencas pessoas, tas como o modo se vestir,crengas pessoais, hi- bitos ctidianos etc. (geralmente é a confusio ue alguns grupos de forte orientacdo politica com frigil discurso pseudocientificc), Obvia~ ‘mente, sio coisas completamente diversis. A {intolerdncia é ruim em qualquer época ou cultura e geralmente se associa a0 atraso, sob todos os pontos de vista. Uma coisa é nd tole- rardiferencas ndividuais, outrabem diferente por meio do uso de medicamentos, "deixi- as" do modo que os pais querer? ‘Todos nés ~ sem excesio - temos a expecta ‘iva de que os outros se comportem desta ou daquela maneira. Quando vamos ao médico ‘04 a0 dentista,temos uma idéia prévia (eum. ‘esso) de como cles 3 comportardo conosco durantea consulta. Quando cumprimentamos © porteiro, quando pagamos ao caixa do su- ppermercad, quando vamos 20 cinema com 2 namorada,invariavelmente temos uma expec- tativa decomo essas pessoasirdose comportar. VVivendo em sociedad, existem padrées acei- tos e toleriveis de comportamento, 0 que permite o convivio e a interagio de pessoas Giferentes, Dependendo da época e da cultura Tocal, esses padrdes sio mais ou menos fle- sxiveis, Nem todo mundo se comporta exata- mente de uma mesma forma; mas a grande rmaioria das pessoas se comporta dentro de uma faixa de vatiagio que chamamos “no ‘mal U agucar no sangue, a pressaoarterialeo peso também variam de pessoa a pessoa, mas dentro de uma determinadafaixa que conside- ramos como sendo “normal. [No nosso caso, estamos falando de prestar atenglo, de ser capaz de ficar tranquilo nos ‘momentos de lazer, de ser capaz de gerenciar suas emogSes e controlar os impulsos. O que ined acharia ae ett dontieta nia frontatee atencio 8 sua boca ¢ levantasse a toda hora para atender 20 telefone ou fazer outras coi- 6 no querer que seu filho tenha um trans- tomoquelevaacomportamento que oimpede de aprender, se desenvolver eter um relacio- ‘namento satdivel eomoas demaiseriangas da ‘mesma dade Desejartratar 0 TDAH 6 querer que seu filho ‘compense defciéncias (todo mundo consegue piestar atengio e ficar sentado, concentrada, ‘menos ele)efiqueem “pé deigualdade” com os, demais, E querer que ele possa se desenvelver comoos outros. £ exatamente porgue temos uma “fara” de vvariagao do normal, ¢ que sabemos quando temos que trataralguém que esté com agticar alto demais, om pressio ata demais ou est com peso elevado demais. Se fssemos con- siderar que ‘cada um é de um jeito’, entio ‘io tratariamos diabetes, hipertensio ou obe- sidade (e mais um sem-nimero de doengas). [Née tratamos tanto as doengas “categorie” ‘quantoas ‘dimensionais" ‘Quais sio 0s problemas associados (0 TDAH eatsa muitos problemas! Se voeé est lendo este livre porque acha que éportador de ‘TDAH ou conhece alguém préximo que é,jé sabe aresposta, nio émesmo? Ninguém 1é um livre sobre uma coisa quendo causa problemas aninguém ou cuja importineia é minima ‘A seguir, uma lista de problemas demonstra dos em estudos cientfices que acontacem com, ‘maior freqiéncia em portadores de TDAH, quando sio comparados a outras pessoas da ‘mesma idade e classe social, porém sem 0 transtorne: Criancas eadolescentes: +Malor freqléncia de acidentes + Mais problemas deaprendizadoes- colar ‘maior trequencia ae reprovacoes, expulsies eabandonoescolar Maio incidents de abuse de a cool e drogas.o final daadolescén- +Maor incidéncia de depressio ¢ ansiedade +Maior incidéncia de obesidade Adultos: +Malor inciddneia de desemprego + Maior incidéncia de divéreio +Menos anos de escolaridade com- pletados tor sido alguém to importante e famoso? Em primero lugar, ndo se sabe setal sueito erare. almente portador de TDAH. Jévi alguns casos de personagens famosasterem "diggnéstico de TDAH", apesar de suas biografias oficiais in- dicarem que eram portadores de outro trans- tomnocompletamente diferente! Em segundo lugar, “TDAH néo dé em poste, di em gente’, Pessoas que tém uma histé- sia pessoal, uma familia, uma personalidadee vrios outros aspectos que vio determinar 0 “resultado fina’, Alguém que tem inteligéncia ‘muito acima da média, por exemplo, também pode ter 1uaH. 1ampem pode ter umasérie de ‘outros problemas, tais como dislexia, depres- so, fobias ete, uma coisa ndo impede a outra. Pode ser bem-ricedido em uma determinada rea, porque sua inteligéncia minimiza o im- pacto do transtorno. $6 que sio poucos os fll- zardos que tém inteligéncia superior, Pode-se dizer que os sintomas de TDAH no razor henafirine para ninessém: ancentraeia, tuazem problemas. Naqueles individuos com ruitas outras habilidades, estes problemas podem ndo ser tio aparentes ou mesmo fica rem minimizados em determinados contex- tos Este livro aborda os sintomas do TDAH e for- rece algumas orientagdes para quem tem ou lida com o transtorno, seja com o marido, um filho ou um aluno. Frequentemente nestelivro no se fard distingdo entre aspectos infantis © dos adultos, © TDAH pode ser um problema +Malor freqiéncia de acidentescom veiculos -Maior incidéncia de abuso de 4l- cool erogas +Malor incidéncia de depressio ansiedade +Malor incidéncia de obestdade Em alguns (poucos) casos, 0 comprome- timento da vida didria nio é evidente num contato mais superficial. Apenas quando con- versamos com 0 mnaividuo acerca de suas re lagdes interpessouis e de vida profissional é fue percebemos sintomas tipicos do TDAH, in gen ones Lilla ue nollie te hhabilidades e uma capacidade intelectual que permite “driblar”o TDAHem varias ituagées, ‘maz ndoem muitaedelas, ‘Maso TDAH nao pode trazer ‘beneficios para oportador? ‘Alguns portadores de TDAH podem ser indi- viduos bem-sucedidos em algumas dreas, mas terio problemas em outras, Este um outro ponte: freqientementelemes emrevistas que fulano”(getalmenteuma per- sonagem famosa da Historia) era portadcr de ‘TDAH. Se 0 TDAH tem impacto t30 rulm na vvidadas pessoas, como seria possivel tal fulano para toda a vida, erénico na maioria dos casos (mais de 60%), causando difculdades tanto para 0 garoto que vai 4 escola quanto para 0 adulte que écasado, tem flhos etrabalha. Compreende-se melhor 0 TDAH do adulto ‘quando se conhecer 0s sintomas que o porta- dor apresenta desde pequeno. Muitos sintomas do adilto s4o consegiéncia de uma vida toda com TDAH, outros sio os prdprios sintomas de crianca ¢ adolescente com uma “nova rou pager” eoutros ainda sioreativos ao apareci- ‘mento de problemas emocionais, que aconte- ccem com maior freqiéncia nos portadores de Em geral,os sintomas io basicamente os mes- mos, expressando- se de forma parecida nas diferentes etapas da vida: 0 aluno que néo presta atengio a0 que a professora diz eo ma- ido que parece nio escutar o que a mulher std contando; @ aluna que nio para sentada ‘um minuto sequer e a profissional que vive arranjanda coisas para fazer »-22 movimentar © tempo todo; o garoto que responde a per- sgunta sem ler até o final porque é impulsivo eo marido que decide as coisas sem consultar a esposa. Foi justamente por se acreditar que setratava deum problema exclusivamentein- fantil que muitosadultoshojendo receberamo diagnéstico nem otratamento adequados. Por que um livro de perguntas erespostas? Ollivro foiescritoassim porqueprovavelmente ‘muitos dos letores sio portadores de TDAH e, ‘como estamos carecas de saber, eles no Iéem por muito tempo nem gostam de textos lon- 0s, Eles também gostam de ir “sltando” par- tes, :inimo dels (ome em qualquer transtorno). Portanto, os sintomas permitem virios “ar- xanjos" diferentes, embora todos eles tenham. muitos aspectos em comum, Os portadores de ‘TDAH tam realmente virios problemas pareci- dos que veremos adiante, seja durante. infin- ciaea adolescéncia, seja na vida adulta, Como “TDAH nio dé em poste, dé em gente", 0s portadores sero individuos com histéricos pessonis,personalidades diferentes, extiloe de vidas particulars, idiossincrasias, outros pro- bblemas astociados, contextos familiares ete Os sintomas podem nio apenas variar quanto ao “arranjo" de sintomas, como a sua expres- si vai depender de quem & o individuo que temessetranstomo, TDAH secaracteriza por umacombinagio de dois grupos de sintomas: + desatengio; Os sintomas istados sio aqueles descritos no _DSM-5 publicadoem 2013 Diagnosticand sta- tistical Manual, 5a edicio), um manual prepa- rado pela Assoclagao Psiquidtrica Americana {ue lista todos os sintomas de todas as enfer- ‘midades psiquitricas exstentes, tornando os iagnésticos mais padronizados, mais homo- séneos entre os profissionais. capitulo2 K (OS SINTOMAS DO TDAH ‘Todo porteder de TDAIé parcside? Claro que nZo, da mesma forma como no fexistem dois aiabeticos “iguais cada caso € lum caso, Mesmo que o nivel de agiicar no sangue seja exatamente o mesmo em dois di- abéticos, muitas dferengas poder existr: um. pode ser gordo eo outro, magro, um deles pode contar com a ajuda da familia em casa e 0 ‘outro nfo, um poda nfo “reeicts" a choeolatse fete, Um pode tr boa resposta a um tipo de in- sulina e outro somente responder a outro tipo diferente. Pessoas que slo portadoras de TDAH. tim muitas coisas em comum, mas nio sione- cessariamente iguais no seu comportamento, De todos os sintomas que constituem 0 TDAH. (18 no total), alguns portadores apresentam. os sintomas A, Be C, enquanto outros, os sin- tomas B, C e D. Nio é necessirio ter todos ‘os sintomas, apenas um determinado numero ‘Abalxo, sio apresentados os sintomas e al- guns exemplos que podem ocorrer no cotidi- sano. Todos eles devem ser observados por pelo ‘menos 6 meses e ser incompativeis com a dade da crianca ou do adolescente: ‘intomas de desatencio (todos devem ocor- rer_frequentemente ou muito frequente- mente) 1) Deixar de prestar atengio em detalhes ot fazer erros por falta de atengio Exemplos: +Muitos erros por falta de atengao nostrabalhos da escola +Muitos erros por ndo ler 0 enun- clade das questdes corretamente (ao atentar para os detathes) + Deixar quests em branco porque + Deixar de responder verso da pé- sina porque "esqueceu” de verifi- car seas questdes continuavam do lado detris + Marear errado as respostas nofinal sperarde ter desenvolvide corzeta- menteas questoes +Errar contas por errar os sinais rmatemiticos (adigio, subtracio, etc) +Errar quando passava algo de uma linha para outra(‘passarerrado") «Precisar de mais tempo que os de- ‘mais para finalizar um trabalho com muitos detalhes +0s pais precisam rever constan- temente as tarefas para corrigit Importante:individuos com Dislexis, uma: ficuldade de leitura que veremos adiante, ou Discaleulla, winadifvaldade cons sates podem fazer erros devido a estes problemas ‘mesmo sem terem TDAH! 2) Ter dificuldade para manter a atencio en- quanto se estéfazendo uma atividade Exemplos +Dificuldade para se manter atento nos deveresrealizados em sala de aula ou em casa ou para se manter stento ao que oprofessorestdensi- nadoem saladeaula +Ser fcilmente distraido pelos pré- prios pensamentos tazendo deve- res de casa ou estudando +Ser preciso olhar nos seus olhos ou levantar a voz para que preste atengio numaconversa, -+Necersidade de se repetir as ins- ‘trugdes (orientagdes ou ordens) cou perguntas pelos professores ou Pai Responder algo diferente do que scabou de ter perguntada pelos professores ou pais (alando dire- ‘tamente com ele) 4) Derxar as consas pela metade, sem termina Exemplos + Nio seguir instrugées ou orienta- Bes dos professores ou os pais até ofim ‘Ter dificuldade com tarefas que (sé fazer uma parte elas) +0s deveres de casa ficam incom- pletos ou entio precisam de super- visio constante para ndo fica in- completos. 5) Ter dficuldade para organizar e planejar as atividades Exemplos: +Flear rapidamente entediado com 5 coisas (exzeto aquelas que gosta rite) -Precisar de supervisio constante dos pais pare se manter atento nos deveres em casa ou dos professores para se manter atento nos deveres femala de aula -Perguntar coisas que © professor acabou de falar para a trma por- que ni estava ouvindo* ster ainculdade ae se manter atento em brincadelzas ou jogos (Gace aqiietes qe gosta muito) 3) Ter dificuldade para se concentrar no que as peisous dizem quando elas ext falando dire- tamente consign Exemplos: +Nio saber 0 que os professores ou ospaisacabaram de falar +0s outros percebem que esti com a mente em outro lugar durante uma conversa com os pais ou ‘mesmo os amigos (falando dizeta- ‘mente com ee) + Ter dificuldade de estar pronto na hora combinada Tor difienldade dese arrumar @anho, roupa, etc) e arrumar suas colsesna tempo necessirio +Seu quarto ou escrivaninha vivem bagungados ‘Ter dificuldade de se organizar para fazer os deveres em casa (un- tar todo o material necessirio) ou ter ainculdadeae saper oque estu- dar de acordo com 0 calendtio da escola, provas, etc. Ter dificuldade de saber quais as tarefasquedever ser entregues de scordo com ocalendério da ezcola +Chegar atrasado nos compromis- 6) Evitar ou adiar tarefas que exigem esforgo ‘mental por muito tempo Exemplos: -Evitar fazer deveres de casa que exijam mais de tempo para serem completados -Evitar, adiar ou nio gostar de es- ‘udar para as provas ou entio dei- sar tudo para em cima da hora’ +Evitar, adiar ou nio gostar de ta- refasescolares que exijam concen- ‘tragio por muito tempo -Evitar jogos que exijam concen- tragio (exceto se forem excitantes, como alguns videogames) + Evitar adiar ou no gostar de tare- fas monétonas Importante:Individuos com Dislexia também, evitam deveres decasa que envalvam leitura. 17) Peder as coisas ou colocar fora do lugar € perder muito tempo procurande Exemplos -Perder material escolar (canetas, cadernos,estojs, et.) + Perdercasacos, uniforme de ginds- ticacumochila. + Perder bringuedos -Perderachave,carteiraou celular “Gastar muito tempo procurando Esquecer de levar para a escola fo material que foi padide que aluno trouxesse decasa +Esquecer de avisar aos pais sobre eventos na escola (passeios, reu- nlges, ete) + Eequece de dar recados importan- ‘esque foram ditos pessoalmentea ‘le ou portelefone Sintemas de hiperatividade-impulsividade (todos _devem_ocorrer_frequentemente ou ‘muto frequentementel: 1) Ficar se emexendo na cadeira ou mexendo com as mios ou balangando as pernas en- quanto esti sentado Exemplos: “Os prfesees ous paspreiam auieto +Ficar balangando os pés, mexendo no cabelo, estalandocs dedos +Ficar mexendo com a caneta ou outros objetos sobreamesa 2) Levantar-se da cadeira em situagBesem que ‘everia ficar sentado, como reunides, pales- tras, aulas 8) Distrair-se com © ambiente & sua volta enquanto esti fazendo alguma atividade que exijaconcentragac. Exemplos: + Flear distraido olhendo pela janela oupela porta da salana escola +Flcar distraido com qualquer ba- rulho ou conversa sua volta +Ficar dstrafdo com objetos ao seu redor 9) Esquecer-se de compromissos ou de coisas que foram combinadas com outros Exemplos: “Bequecer de atividadee pre ‘mente comunicadas ou combina- das na escola (provas, entrega ete) + Esquecer de evar trabalhos decasa (deveres,trabalhos, pesquisa) para escola + Esquecer 0 que a professora pedi ou combinou em sala de aula ou mesmo de anotar na agenda Exemplos: +Levantar-se muito em sala de aula; 19s professores precisam mandar ‘ave Squosontado +0 professores dizem que inventa desculpas para se levantar ou ca- minhar + Ter dificuldades para ficar sentado durante as refeigdes + Ter dificuldade para ficar sentado durante os aeveres casa + Ter dificuldade para ficar sentado durante jogos ou assistindo TV ou filme. 3) Correr ou subir nas coisas (em adolescents «adultos: senti-se inquieto ou agitado “por dentro”) Exemplos +Viver correndo de um lado para outro +Viver subindo nos méveis, pur landono sof + Vversubindoem drvores, muros +Sentir-se inquieto ‘por dentro" 4) Ter dificuldade para permanecer calmo, relaxado quando esta brineando ou jogando (em adolescents e adultos: quando tem tempo livre lazer) Exemplos +Falar alto ou gritar durante jogos oubrincadeiras + Nio conseguir ver TV ou filmes de ‘modo sossegado +0s outros precisam falar para que nquecaimoouguieto +Ficar rapidamente mais excitado qacunienabi ue! Liluoeletoer '5) Estar ative demais, como se estivesse com ‘um motor ligedo Exemplos: + Excessivamente ativo na escola ou -Paxecer estar com energia demais + Parecer sempre estar ocupado com alguma coisa +Parecer sempre estar com pressa para fazer algo 6) Falar demais Exemplos: + Tor dificuldades para esperar a vez mm salade aula -Querer sero primeiro a falar, res- onder ouagir +Flcar multo impaciente até chegar + Ter dificuldade para ficarem fils, 9) Interromper os outros quando eles esto ‘cupadios ou seintrometer na conversadosou- ‘ros Exemplos: sterromper a conversa das outros sem estar participando dela Interrompero: jogos oubrincadel- rasdos outros. + Mig aeparar oot nadir parmiesin para fazer as coisas Existem tipos diferentes de TDAH? ‘Anteriormente 20 DSM, dizlase que exis- tiam tréstipos de TDAH: +Professores dizem que fala demais emaala -Ficar de castigo por falar demais + Atrapalhar os outros porque fala demais 0s pais dizem que fala demais nas refeigdes ou em outras situagdes familiares -Nio deixar of outros falarem na 17) Responder antes dos outros terminarem a _pergunta ou interrompe antes os outros ter- shinny filer Ries shoo +Falar sem parar para pensar naes- posta + Responder antes que o professor “Interromper a frase dos outros no +Completarafrase dos outros 8) Dificuldade para esperar a sua vez Exem- plos: + Ter dificuldade para esperar 8 vez ematividadesde grupo -Predominantemente —_desatento, quando existem mais sintomas de desatengéo. + Predominantementehiperativo/im- pulsive, quando existem mais sin- tomas de hiperatividade-impuls- ‘vidade. Esta forma é mais diagnos- ticada em criangas menores (pos- sivelmente porque elas ainda nao fazem atividades que requeiram muita atengio e, por isso, adesa- ‘tengo nio¢ facimente percebida) +Combinado, quando existem mut- tos sintomas de desatencio ede hi- petatividade-impulsvidade. Estad © subtipo mais comum nos con- sultérios e ambulatris de erian- ase adlescentes, provavelmente porque causa mais problemas para © proprio portador e para os de- rem ajuda parao filo. ‘Atualmente, fala-se em “apresentacio atual” a0 invés detipo ou subtipo.O principal motivo para esta mudanga 60 fato de que os tipos no sito estaves (isto 6, se modificam ao longo do {tempo -um tipo pode passar a outro). Na popillagio de criangas e adolescentes em. geral (Ievando-se em consideragio todos os portadores de TDAH, estejam em tratamento ‘4 nfo), metade dos casot & predominante- mente detatenta e metade 6 combinada. Na vida adult, é esta proporcio que abservamos também, Repare que 0 antigo termo “predominante- _mente” ou o termo atual “apresentagdo” indi- ‘cam que existem também sintomas de desa- tengio ne apresentacio hiperativae sintomas de hiperatividade na apresentagao desatenta, porém nio #io os mais importantes. Sempre existrs, entretanto, algum grau de desaten- ‘eo, hiperatividade e impulsividade em todo portadar de TDAH. OBS: embora possivel e Aaceito oncialmente, uma forma “exclusiva ‘mente” desatenta ou “hiperativa” deve levan- tara suspeta de se tratar de outro problema, iv exalanseutey TDAH (veja:utisaliaute- ara odiagnosticoda apresentacio com predo- rinio de desatencio, é necessirio apresentar pelo menos seis dos nove sintomas daquele ‘médulo, No caso da apresentagio predomi rnantomente hiperativa, & naceeeirin apracen- tar pelo menos sels dos novesintomas daquele ‘médulo, Na apresentagio combinada, é pre- ciso apresentar pelo menos ses sintomas de cada um dos dois médulos £ obrigatério ainda para concluir 0 diagnés- deo 1) Que varios destes sintomas estejam pre- sentes desde cedo (antes dos 12 anos) ‘Aqui, apenas um profssional especializado poderi dizer se0s sintomas nfo sio mais bem atribuidesa um outro problema, Vamos ver 0 seguinte caso. um depoimento fornecido & Associacio Brasileira do Défict de ‘Atengio (ABDA) “teu filho sempre foi agitado, no parava quieto nem para comer. Na sala de aula ele levantava sempre endo parava. Na hora de fazer 0 ever de casa era a mesma coisa, se mexia o tempo todo, 0 mate- rial eala, a lgao neava por fazer porque ele nio dava conta (como ainda néo dé). Estava sempre no mundo da lua, desligado mesmo. Sempre achei que ele era diferente, ‘mas como ele é muito inteligente, yensava que era por isso. Ele an dava nos lugares como se andassea esto, pensando no nada. Que an- Meu marido dizia que eu estava procurando problema onde néo hhavia, que ele (0 pai), quando cxi- anca, também era assim. E que eu ‘era muito mole na hora de fazer 0 ever, que deveria por o garotosen- tado até que ele acabasse 0 dever, mas eu até que faa isso © 56 desgastava mais orelacionamento, tanta meu com omeu filho quanto ‘meu com meumarido, Sintomas de TDAH que surgem tardiamente podem ser expressio de um outro problema (principalmente ansiedade e depressio), sem. aque exsta necestariamente TDAH, 2) Que varios destes sintomas causem pro- Dlemas em pelo menos dois contextos dif rentes (por exemplo,casae escola) ‘Se 0s sintomas parecem ocorrer apenas num contexto (por exemplo,na escola) é preciso in- vestigar se existe realmente TDAH ou se hi problemas de elacionamento, graus elevados de exigincia etc. nesse ambiente Algumas vezes, €verdade, 0s pals tendem a minimizar ‘os problemas e achar que a escola “esti com mplicéneia” com seu filho. Caberi a0 médico ae psicdlogy havesiga seesteeu ease, 3) Que estes sintomas atrapalhem clara- ‘mentea vida doindividuo,sejana escola, em asa, na profissio, seja no relacionamento comosdemais Esquecimentos eventuais, desatencio sem maiores conseqiiéncias, alguma inquietude fem determinadas circunstancias no caracte- igam um transtoro médico que meresa ser tratado, 4) Que eles no sejam explicados por um ‘outro problema (por exemplo, ansiedade ou depressdo, cujos sintomas sie muito parect- os) ‘Agora que meu filho esté entrando nna adoleseéneia, por inerivel que parega, ele estd mais calmo. Os co- Tegas da escola jd tém mais paci- fncia com ele. Com relagia a0 ren- dimento escolar, continua um fra asso. Eletiranotasbalxas, Aescola std dando mais uma chance. Os cadernos slo uma bagunca total, Alguns exemplos de desatensio & hiperatividade: a gente chama para comer, ele demora a vir. A gente chama parair embora de um lugar, fle enrola. a gente chama e ele pa rece que esti em outro mundo. Na hhora das provas, ele erra por desa- tengio, Ele nio pira muito tempo quieto. Bom, com relagio ao meu marido, acho queele também temomesmo distizbio, porque nfo consegue fear om cata ser farer nid. Todo os dias ele chega do trabalho e ar- ranja algo para fazer. Dorme muito tarde e, como acorda muito cedo, std sempre sonolento,Interrompe ‘que os outros estio falando, [Nao completa o que est falando. E confuso no falar, ou sea, 6 do tipo que enrola (meu filho também a ‘uma volta imensa para falar). Nao ‘entende prontamente 0 gue 0s au- ‘tos estiofalando, mesmoas coisas mais simples. Esquece facilmente a2 coisas do dis-adia, Quando a gente chama, esti, no ‘mundo da Existe TDAH somente com desatencio? Este éum ponto polémico. Virios pesquisado- res acreditam que quando ndo hé nenhum sin- toma de hiperatividade (mesmo havendo va rot sintomas de desatencic), este quadco néo seria 0 que entendemos ser 0 TDAH. Muitas Pesquisas clentincas, por exemplo, tem como exigéncia que os participantes portadores de ‘TDAH tenham pelo menos 3 sintomas de hi- pefatividade-impulsividade, porque aciedita> se que um quadro apenas de desatencio ndo & inequivoco de TDAH. Teoricamente, nao existe restrigdo oficial ao diagnéstico de TDAH sem. nnenhum sintoma de hiperatividade, porém este diagnéstico deve ser visto com alguma re- sorva da pontn de vista lini, ‘Alguns autores cunharam o terme SCT-slow Cognitive Tempo ou ainda Siugish para se refe- rir a este quadro apenas com dessten¢io e que também apresenta outras caracteristicas (tas ‘como um processamento muito mais lento de informagbes). Ha autores que defendem a Jdeia que 0 SCT ¢ diferente do TDAH: have- ria diferengas quanto.aos problemas causados, {quanto ao grau deresposta ao tratamento me dicamentoso e até mesmo.com regio trans- rmissio genétice. b.se os sintomas se associam a pro- blemas realmente significativos, se0s exemplosfornecidos pelo pa- ciante de fato correspondem 20s sintomas do diagndstico oficial (& comum haver uma compreensio diferente por parte de leigos); .se os sintomas podem ser mais bem entendidos pela presenca de tum quadro de ansiedade, depres- sio ow perfil de personalidade (que frequentementecursam com aesaengao, inquietude eimpulsi- vidade mesmo em quem néo tem TDAH); 52 05 sintomas ecorrem em dife- runtes contextos (Isto é, no ocor- rem somenteem determinadas si- ‘tuagSes)e, por fim, fron sinters ontavarn preaenten desde idade precoce, Por isso, é muito comum que pessoas que se identificaram com a “lista” de sintomas pro- ccurem especalistas ¢ salam “desapontadas” ‘quando nio é feito odiagnéstico de TDAH, ‘A avaliagio de cada sintoma exige um trei- ‘namento bastante extenso por parte do espe- cialis, mas permite que se faca diagndstico correto Eutenho TDAH! ‘Aquilo que chamamos de TDAH é um con- junto de sintomas variados de desatencioe de Inguietude/ impulsividade em niveisacimado esperado em relagdo ao que se observa popu- lagio geral. Qualquer individuo apresenta guns daqueles sintomas (éextremamenteraro no ter nenhum), alguns mais e outros menos -porém apenas 53s dascriancas eadolescentes © 2,59% dos adultos apresentam um niimero lexcessivo dos mesmos. Wu sea, LAH € mals, raroque hipertensio arterial (pressio lta), au- ‘mento de colesterol e diabetes, Muitas pessoas, a0 lerem a lista dos sinto- ‘mas se identificam imediatamente e acredi- tam serem portadoras do TDAH. E, a partir af, passam a “justificar” um grande nimero de ‘coisas em suas vides. Este é um pro- ‘cossn ahsoitamente natural, uma tondéncia ddenosso cérebro tentar encontrar explicagoes para todas as coisas. O “autodiagnostico” fre- quente acontece justamente porque quase todo mundo tem alguns daqueles sintomas; istonio 0 suficiente parao diagnéstico,en- ‘tretanto, (Quando se far uma avaliagdo com especialista, cle id investigar varios aspectos: a.omimero total ea gravidade (in- tensidade) de sintomas; A Associagio Americana de Feiqulatria, res. ponsivel pelo DEMS, diz claramente em seu, site: o uso deste manual [DSM-5] exige trei- snamento especializado e no pode ser usado coma se fosse um livro de culinéria de recei- tas’. Isto € importante, porque ni é raro ver Individuos que foram diagnosticados de modo apressado ou incorreto, por profssionais que ilo tiveram o treinamenta necessirio para isto. ‘Mas toto mundo acha que eu sou desatentot Fu tenho certeza que tenho TDAH! ‘Sendo um aspecto que varia em toda a po- plagio (s6 recebem o diagnéstico de TDAIT lum mimero pequeno de pestoas), é possivel ser mais desatento do que varias pessoas de seu cireulo de amigos ou parentes e, mesmo assim, ndo ter TDAH. E semelhante ao.caso do diabetes: todo mundo tem agiicar no sangue, uns mais e outros menas, porém apenas umn pequeno grupo tem diabetes. £ possivel ter niveis de agicar superiores a todas os seus conhecidos e, ainda assim, estar abalxo do i rite considerado necessatio para 0 diagnés- tico. Voeé pode ser um sujeito mais desatento do que a médiae, ainda assim, nio ter TDAH, ‘Todos os sintomas para serem considerados ‘como “postivos" precisam ocorrer frequente- ‘mente e durante bastante tempo. Além disso, 6 preciso que sejam atendidos os demais erité- ros para o diagnostico conforme visto acima (quate tode mundo esquace dito). ‘Exlstem exames para o diagnéstico de TDAH? ‘Nao, Atéo momento, o diagndstico é feito ex clusivamente por meio de uma entrevista cli- nica com um especalista, utilizando-seerité- ros bem definidos, 0 eletroencefalograma (EEG), 0 exame de po- ‘enctais evocados, a ressonancia nuclear mag nética com espectroscopia nao sio capazes de “dar odiagnéstico”e também nio sio necessé- os pasa que ele sea Feito, ‘Tenha cautela com um profissional que diag nosticou TDAH utilizando exclusivamente o& resultados de exames complementares~muito provavelmente no é especialista e néo tem dia da quo esta fazenda. apenas mito rara- ‘mente muito, mesmo énecessirio solicitar fs exames relacionados acima para ce fazer di- agnéstieo diferencial com outros transtornos (epilepsia, por exemplo). Recentemente, 0 FDA (Food and Drug Aémi- ration, érgio governamental nerte-ameri- ano) aprovou para comercalizacdo dois apa- relhos que poderiam servir de “suporte a0 di- ‘agnostico”. Um deles avatia a relagao entre as ‘ondas teta (mais lentas) e beta (mais répidas) ‘OFEG eoutroavaliaos movimentos oculares. dicamento X terd malores chances de resposta, terapéutica em relagio a0 medicamento Y) tem sido alvo de inimerascritcas da comuni- dade cientfica, sendo baseado num pequeno ‘numero de publicacSes cientificas sem que hha estudos até o momento comparando dire- tamente tratamentos baseados nos resultados que teste fornece. Importante: a pontuagio em escalas (como as escalas SNAP-IV e ASRS, respectivamente para criangas e adultos, disponivels no site da ABDA), significa apenas que existe uma chance maior deexistir odiagnésticode TDAH “elas sa escalas de rastreto.U resultado em es- calas no permite odiagndstico, porque existe a necessidade de um especialstaavaliar se os sintomas nio sio mais bem explicados por outro transtorno parecido, ‘Mas existam estudos sobrealteragdes cletroen- cefalogréficas também de processamento ai ditivono TDAH! sim, como existem centenas de estudas sobre vvirias doengas mostrando alteragBes que, en- tuetanto, néo servem para fazer diagnéstico, server apenas para entender melhor @ do- ena. No lipus eritematoso, uma doenga autol- rune, existem alteragdes especificas no ea- ‘belo, mas elas ndo sio usadas para o diagnés- tico, Na esquizofrenia, existem alteragdes new roldgicas muito suis (chamadas de soft signs) ‘A comunidade cientifica reagiu prontamente porque nio estava claro para o pibblico geral "um aspecto extremamente importante que 0 apenas decide se ele pode ser anunciado. Mais ainda, na ocasifo da aprovagio para comerci- alizacéo, nao havia qualquer estudo cientifico ppblicada comperando o diagnostico pelo et pecialista e 0 diagnostico com 0 uso de tals aparelhos! ( exame neurepsicolégico(avaliagio deinteli- gineia,atencdo, meméria, ceulo, ete através {Ge testes) também nao ¢ necessario para o at- agnéstieo, sendo indicado quando existem - vidas sobre a origem de problemas do apren- Seelifow u nlve dstlaiati #ue seexistem Transtornos da Aprendizagem, por ‘exemplos).Eleestéindicado quando proble- ‘mas significativos de desempenho académico. © exame de processamento auditivo (anteri- farmente chamada de prarescamenta nition central ou PAC) também ndo é nem necessério nem suficiente para o diagnéstico de TDAH; 0 significado dos achados neste teste ainda nio esti suficentemente claro naliteraturacienti- fica. [Nao hd exames genéticos disponiveis para 0 tratamentodo TDAH. Também nich exames para se avallar a falta deste ou daquele ele- ‘mento quumico no sangue, O exame genetico para se avaliar as possbllidades de resposta a eterminados medicamentos (sto é, se 0 me- smaselas também néo sio usadas paradiagnés- tieo, Héiniimeres exemplos em medicina Além disso, muitos estudas demonstrando uma determinada alterario comparam casos tipicos de TDAH (nos quais nio existe di- vida diagnéstica) com controles norma (Isto & pessoas sem qualquer problema). Ora, a di- ferenca entre eles é muito grandee nio é preciso nenhum exame para diagnosticar um caso tipico de TDAH: ele éevidente. Os exames sb trariam beneficios caso fosse demonstrado ue eles ajudam naqueles casos mais compli- cados, onde o diagnéstico néo é tio evidente. vara Isto, seriam precisos estudos completa- ‘mente diferentes, comparando casos tipicos, controles, TDAH com comorbidades, casos subelinicos (sem sintomas suficientes para di- agnéstico), casos atipics, etc. Mas no temes estudos suficientes deste tipo, Mas nio éestranho" nio ter exames Para.um diagnostico? io, no é. Inimeras doengas so diagno ticadas sem qualquer exame complementar: autism, esquizofrenia transtorno do pnico, transtorno obsessive-compulsivo, depressio, transtorne bipolar do humor, et. ‘como posso saber sena escola existem problemas que sugerem TDAH? Obviamente, conversando com os professores! ‘Uma boa idéia é utilizar quastionérios padro- nitados, onde as perguntas sio predefinidas, de modo a minimizar “opinides pessoais" ou julgamentos acerca de comportamentos que estio relacionados ao TDAH. © questic- nnério mais uilizado 6 0 SNAPIV, que fol tra- uzido e adaptado para o portugués e pode ser obtide no siteda ABDA (wwwitdah ore. ‘As ercolas em geral chamam os pais quando identifiam algum comportamento que seja diferente para o esperado em determinada ‘dade, “Mais recentemente hd noticias de escalas que dizem ‘nio acreditar na existéncia de TDAH” fe que inclusive reusait precuclies yucstionde rios sobre os alunos, mesmo quando solicita- dos por pals. No aceitar um diagnéstico re- conhecido pela Organizapio Mundial de Sade (OMS), portanto aceito oficialmente no Brasil, J4€ por sis6 algo bem grave e, na melhor das, hhipdteses, eomateangernr nara a inetitiican de ensino, Recusar-sea preencher um question’ rio solicitado pelos pais ento. Lembre-se que os sintomas de TDAH precisem estar presentes tanto na escola quanto em casa (ou entio em outrasituagio que ndo sejaa es- cola). ‘A partir de queidadeos pais podem pereeber os sintomas do TDAH? liar esses sintomas em situagBes em que todos cestio brincando efazendo uma certa bagunca. muito mais fcil perceber quem ten TDAH nas situapBes que exigem atencio equietude. Em casa vivem correndo e sio “estabanadas’ A medida que prosseguem os anos, a agitagio ‘motora pode diminuir, porém a maioria des- sascriangaese mostra inquiets, mexenda pése _mios incessantemente, ‘As erlangas com TDAH parece sonhar acor- adas (0s professores podem perceber isso antes dos pais) e muitas vezes sio mais lentas nna copia do quadro negro e na extcuga0 dos everes (porque “voam" o tempo todo). Elas cometem muitos erros por desatencio: erram por "bobagens” nas contas de matemtica(si- ‘ais, virgulas),erram acentuacio ou pontua~ ‘fo, entveoutras coisas. E vivem apagando ou Tasurandooqueescrever. 0s portadores de TDAH, em geral, no pres- tam atone a dotalhes qe pode ntranalhar bastante seu desempenho nas provas, Um ‘exemplo comum éndoler o enunciado das per- guntas de modo adequado, sem perceber oque realmente o professor esté pedindo, respon- endo outra coisa diferente. Se a prova for de siiltipa escolha e as opgdes forem muito pa- recidas (diferindo apenas num ou noutro de talhe), a desaten¢doiré prejudicar ainda mais, ‘Também a impulsividade pode atrapalhar nas provas, quando 0 aluno nao “Ié até o final” e ja parte para responder &pergunta, Nos adultos, também existe impulsividade, Os sintomas do TDAH podem manifestar-se desde uma idade muito precoce. Entretanto, como existe muita variailidade no comporta- ‘mento de ciangas, muitos clinicos aguardam. antes de dar um diagndstico definitive. E pre- ciso, entretanto, que os sintomas estejam pre- sentes antes dos 12 anos de idade. Frequentemente, nos relatos dos pais hi re- feréncia & inquietude deste muito eedo. Na fase préescolar, estas criangas so comu ‘mente consideradas pelos professores como tendo uma "energia’ muito maior do que ow tras criancas da mesma idade. Na sala de aula, rrequentemente parecem “movidas por um ‘motor’, ndo esperam sua vez nas brincadeiras e interrompem os outros quase o tempo todo. “Vien "el Ta wpe ale sg os come “bicho-carpinteiro” Um paciente adulte, conversando comigo acerca de sou diagnéstico de TDAH, disse ‘quando perguntel se sabia se tinha sido hipe- satlun na inineia “Mow apse, quando pe ‘Queno, era ‘The Flash. Preciso dizer mais al- gama coisa?" Em atividades mais livres, como festas de aniversirio, brincadeiras no playground e em pparques ou pracas,eriancas com TDAH falam ‘multo, mexem-se sem parar, exploram o am- Diente de maneira incomum para sua idade (subindo em mesas, Ixeras, gradesete) alm. de serem muito impulsivas. Em geral, nao avaliam as conseqiénciasde nadae freqlente- ‘mente se machueam. Mas pode ser diffe ava ‘Resolvi comprar material deescri- tério num desses sites da internet @ fui motivo de chacota por todos noescrtério.Iaescolhendoositens dicando 2 compra. para depois conferir tudo ao final e pagar com 0 cartdo de crédito. £ caro que a conferéncia inal foi ‘meio por alto, como quase tudo que faa. No dia da entrega, a situagio era a se- iguinte: 0 grampos eram do tama- sho errado, os envelopes idem. Os cartuchos no eram os especifica- dos para as impressoras (acho que souamarca da mpressoraeacor). [Nem o papel era para a impressora que tinhamos nem a quantidade era certa. Comprei mais do. que devia. E comprei coisas que ‘nham que ser compradas: Quem tem TDAH geralmente se esquece de coisas do dia-a-dia (agenda, estojo,recados do prafetsnror a datas deprauas,entratras col. Sas), Uma quelxa comum - e que parece en- louguecer as mies ~ 0 fato de a crianca ou o adoleseente demonstrar saber a matéria na vvéspera da prova, quando estudou com a mie, cenodia seguinteesquecer ouerrar exatamente aquilo Exstem casosem que adistragaoeoes- quecimento associado a ele sioinacreditavels, "Todo mundo no hospital brinca que a Dra. Isabela (nome fctcio) € "ama pega’, as histérias se acu- ‘mulam ao longo dos anos. A mais idivertidtdelas 6 ter chegado ao es- tacionamento, de manhitcedo para trabalhar e,a0 desligar ocarro, sur- preender-se com os dois filhos no bbanco de tris, dizendo:'o que voeés esto fazendo ait”, Fla havia se es quecido de deixi-los no curso na- aquelediae, come era cedo, estavam Quieter ecom sana.” (Quando a apresentagio é do tipa desatenta, & comum quee diagndsticoejafeito mais tarde, porque a hiperatividade nao é tio importante «assim, o aluno nao "perturba’ tanto na sala de aula, le apenas tem um menor renaimento ‘que o dos demas, além disso, apenas quando ‘o contetido se torna maior e mais complexo é que a desatenyau se Wists evideute Existediferensa entre meninos e meninas? Acreditava-so que 6 TDAH fosse mais eamum fem meninos do que em meninas. Isto parece ser verdade no ambiente clinico, de trata- ‘mento, em ambulatérios ou consultérios pos- sivelmente porque problemas de comporta- ‘mento estio mais asoclados ao TDAH nosexo ‘masculino. Quando sio feitas pesquisas na populagao geral (numa escola, por exemple), parece existir © mesmo nimero de meninas fe meninos. Na fase adulta, tanto na popula- ‘20 geral quanto no ambiente chinico de tra- tamento, ha tantos pacientes homens quanto mulheres ‘Antes de entrar para a escola, pode ser dificil comparar a atengio e 0 comportamento com. aquela de outras criangas da mesma idade, ‘A partir da alfabetizacio. as riancas comecam. «8 participar de atividades que exigem atencio por um periodo maior e surgem novas exigén- ‘ias quanto so comportamento. Comega a se feigir que a crianca permaneca mals tempo sentada em sala de aula, 0 contetido didtico ¢ aprofundado e setorna necesciria aresponss- bilidade com deveres de casa. Com fregiineia, portadores da apresentacio com predominio ae esatencao so apresentam. comprometimento do desempenho escolar quando se encontram em uma fase escolar ‘mais adiantada (quando aumentam a quanti- dade de material didético complexo ea neces- sidade de memorizagio e de uma maior aten- foadetalhes), Existem outros sintomas do TDAH? Por que ‘les ndo estdo istados no sistema DSM? CID (Cédigo Internacional de Doencas) nlo se estina a descrever todos os sintomas de um. determinado transtorno (isto ccorre em quase todas as dreas da medicina, nio és6na psiqui- atria); que se exige dele lstar todos os prin- Cipais sintomas que odiferenciam dos demais twanstornes. Anterlormente, acreditava-se que meninos com TDAH apresentam mais comorbidade com Transtomo de Oposigio © Desafio e ‘Transtorno de Conduta, a0 passo que meni- nas teriam mais comorbidade com Depressio ‘eAnsiedade. Estudos mais recentes ecom me- todologia melhor mostraram que os perfs de comorbidade sio semelhantes em ambos os séneros. Entretanto, como meninas habitual- ‘mente diferem no padrio de relacionamento {nterpestoal, com maior nivel de vineulagao e intimidade,além de uma sensibilidade maior para problemas nos elacionamentos, 0 TDAH. (©. problemas que os sintomas causam na ‘ida social) tera um impacto atferente no sexo feminino, -Em que época da vida da crianca se fazo diagnéstico do TDAH? Embora os sintomas possam estar presents Soscia muita cela, quanda estas eviangas en- ‘yam na escola, costumam se tornar mais evi- dentes por volta dos 7 anos; em muitos casos les aparecem um pouco mais tarde (mas & necessirio que estejam presentes antes dos 12 anos), [No periodo pré-escolar, os sintomas de hipera- tividade e desatengio podem ndo ser tio facil- ‘mente identifcados pelo fato de as atividades serem mais dinamicas, a atencao do protessor ser mais individualizada e haver menor ex- pectativs em relacio ao desempenho de todos. [No caso do TDAH, isto 6 particularmente mais dificil porque muitos sintomas estio presen- tesem varios outros transtorns (apenas como ‘exemple os autistas tender a ser muito mais esatentas ques portadores de TDAH) 1) Labilidade emocional Ente dum tema muito peequisado nos iltimas anos e envolve 0 que se chama de Emotio nal Regulation. Alguns pesquisadores achem, que as oscilagdes de humor (uma hora se est de um jeito e daqui a pouco se esté muito diferente) sio algo que ocorre com muita rrequencia no 1VAH, sendo considerado um fenfmeno comérbido (coexistente) frequent, (Outros acham que a labilidade emocional faz parte integrante do TDAH, mesmo que alguns portadores nio apresentem (nem todo mundo precisa apresentar os mesmos sintomas ou grupos de sintomas para ter um mesmo diag sto). Alenia anton sgoroen que a feetabitidade & ‘um aspecto importante da labilidade emoci- ‘onal do TDAH (e iritabilidade durante certo tempo foi considerada como possivel mani- festagdo de Transtorno Bipolar; mais recen- temente estudos cientificos mostraram que a lnritabilidade se associa mais provavelmente ao surgimento de depressio eansiedade como passar dotempo). Existem aqueles individuos ue apresentam uma irrtabilidade mais eré- niea (e isto nao dependeria tanto das cireuns- tinclas) eaqueles quena verdade sioteimosos fe querem as coisas do seu jeito e ficam inrita- dos quando contrariados A irrtabilidade no a mesma coisa que Transtorno de Oposigio f Desafio (que veremos adiante) embora seja comum queocorra nestescasos. Existe ainda a chamada impulsividade emo- cional, que é a impulsividade gerada pelas cemogdes e que se associa a vérios problemas nna vida do portador de TDAH: desde agressi- vidade até graves infragBes da le. A iritabili- dade pode melhorar spenas como tratamento do TDAH, mas em geral esta melhora ndo é tio signifcativa como a melhora da desatencio e dahiperatividade. Abatxo estio os itens que permitem avaliar a presenca de labilidade emocional: 1. Incomodar-se facilmente com 0 que.as outras pessoas fezem 2. Rerder acalma com frequéncia, ‘tempo 4. Ficar irritado na maior parte do ‘tempo 5. Fiarirritado com frequéncia 6. Perder a calma facilmente 7.A tertabilidade causa problemas, de modo geral recompensas que ocorrem num futurolongin- {qua sio pouco eficazes em “gerenciar” o com- portamento atual de modo a manté-lo ou mo- dlifca-o para seatingir odesejado. Quando ocorrem ¢ sio muito significativas, as alteragBes no sistema de reeompensa se as- soeiam a mudangas constante de planos (eles ‘apidamente abandonados e trocados por outros e assim por diante) e, frequentemente, ‘iniimeros projetos que nunca slo concluidoe Noinicioas coisas sto mito empolgentes ein- teressantes e logo se tornam “chatas" [Um aspecto relacionado as alteragoes do sis- tema de recompensas € a frequente falta de motivagio observada no TDAH. Isto ocorre porque a motivasio depencie sempre da ativa- (io daquele sistema. Hi pesquisadores, inclu sive, queacreditam que os medicamentos para tratamento de TDAH funcionam através da smelhora da motivacda para fazer as cosas em. especial, aqueles que demandam mais esforgo ‘mental len qi jam mais "ehatae”) 3) Dificuldades na percepsio do tempo Muitos portadores de TDAH tem grande di- ficuldade de estimar um determinado tempo decorzido entre dois eventos. Muitos tem dif- cculdade com misica justamente porque cada, nota musical tem uma duragio diferente e é preciso combiné-las quando se executa uma Iiisica, Muitos portadores tem dificuldade para estimar quanto tempo seria necessério para realizar uma determinada tarefa ‘Alguns autores sugerem que © reconheci- mento de emogbes (Emotional Recognition) também pode estar alterado no TDAH, 2) Alteragoes no sistema de recompensas Existe um sistema cerebral envelvido com di- ferentes recompensas, algo considerado como nnecessérioa sobrevivencia de qualquer expécie animal; ele modifica 0 comportamento para 52 abter comida e proeriar, por exemplos. Os seres humanos tem um sofisticada sistema de recompensas que possui um funcionamento defictério nos individuos com TDAH (isto tamer ocorre em outros transtornos) Existem recompensas imediatas que ocorrem. Iugy apis aun compurtanenty uwssy (put exemplo, receber um beijo por termos lem- ‘ado do dia do aniversério de alguém e dado co parabéne). Estar recompense sumentam, 1 chances daquele comportamento se repe- trnofuturoe so extremamente importantes ateonstrigaa” prngresdi de nacta mada de agi. Existem recompensas, entretanto, ques ocor- xem depois de muito tempo: é 0 caso da gra- duagio apés anos de estudo, por exemplo. Ter- sminar os estudos e ingressar na faculdade de Engenharia, para ser engenbeiro como o pal pode ser uma grande recompensa. Mas ela sé ‘correrd depois de multo tempo de estudo, No TDAH, parece existir uma necessidade ‘maior de ser recompensado "aqui e agora’ eas, 4) Dificuldades com as Fungées Executivas £0 conjunto de vérias habilidades envetvidas no planejamento e execugio das nossas ati- vidades. envolvendo a capacidade de identifi. car seo plano original esta sendo cumprido e se o resultado esté de acordo com 0 esperado, ‘modificando o plano se necessério. Envolve a capacidadede planer, formular uma hipétese ‘emodificacla de acordo com ensaiowe-erro (le sxbilidade). capitulo A ‘TRANSTORNOS QUE PODEM ACOMPANHAR O TDAH (Que outros transtornos podem. parecer junto com o TDAH? ‘Atualmente, sabe-se que é muito comum a existéncia de varios outros transtornos em, conjunto com TDAH. Chamames aisto de co- ‘morbidade (algo observado em varias outras, reas da medicina) Entre os mais comuns estio a depressio & ansiedade. Criangas deprimidas tendemaficar ‘mais iritadas, com queda acentuada do ren- imento escolar. Em alguns eatos elas poder ficar mais apiticas. Elas também podem no ter spetite normal e manifestam menos inte- esse por brincadeirase jogos. Multas eriangas apresentam sintomas fisios, tais como dores ddecabega ou de barriga, principalmente antes de provas ou testes escolares.£ mutto impor tante nao "deixar passar” este diagnéstico em fechaduras, lavar as mis ou contar repetida- ‘mente as coisas sempre em um mimero detar- rminado de vezes. Outras eriangas tém rituais {que passam por “mania” fechar a porta tr eres, hater no interruptor quatro vezes etc [esses cxs0s, dizemos que elas apresentam 0 ‘Teanstarno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Problemas comportamentais também apare- ‘cem com muita freqléncia, entre eles 0 cha- mado Transtorno de Oposicio e Desafio (co- hecido pela siga TOD), que é provavelmente ‘© nome mais explicativo que jé se deu a al- guma coisa em toda a Psigulatria. © nome ‘iz tudomum comportamento em queacrianga esfia ativamente 0s pais eos professores, se ‘opondo a obedecer a regras ou limites. Carac- teriza-se por uma desobediéncia muito grande em varias situagSes diferentes, tanto em casa {quanto na escola. Criangas com TOD freqien- temente implicam deliberadamente com os Altoragiea male gravee de compartamenta estio presentes no chamado Transtorno de CConduta (conhecido pela sigia TC), em que a crianga apresenta comportamento anti-social (oubos ¢ furtos, mentiras, agressBes, maus- tratos a animais, violagio da propriedade alheia) ete. Existem diferencas importantes entre TOD eTC: no TOD existe o desafio a figu- sas deautoridade e também a regras, mas no 1 nfragSes de regras morais que sio mais ‘ou menos universais(roubar, etc). Criangas e ‘adolescentes com TOD sio muito mas irité- vels e ansiosos, em relagio Aqueles com TC quem tem TDAH, atribuindo tudo ao trans- ‘Alguns portadores de TDAH ainda podem ter ‘© que se denomina Transtorno Bipolar, que uma alternincia de fases de depressio com fases de muita energia, autoestima elevada, ‘Pouca necessidade de dormir e comer, muitos planos exeessivamente otimistas (fases ma nfacas). Existem ainda muitos debates sobre como eve ser feito 0 diagnéstico apropriado deste transtorne em criancas e adclescentes; du- ante certo tempo achou-se que ele poderia se manifestar prineipalmente com “tempesta- des’ de mau. humor e agressividade, “explo- aie a couilecul insane i recentemente acredita-se que estes sintomas compSem 0 que chamamos de "Desregulagao Grave do Humor” [Severe Mood Disregulation, em inglés] eno hi necessariamente uma pro- sgressio para Transtorno Bipolar. Desregula- ‘a Grave dn Humor seria tia firma gene de labilidade do humor, que discutimos acima. Os transtornos de ansiedade mais comuns en- contrados no TDAH sie: 0 Transtorno de An- siedade Generalizada (TAG), quando ocorrem niveis constantes de ansiedade (oscilantes a0 longo do tempo, porém sempre presentes em. algum grau) e as Fobias (medos intensos de algo ou uma situagdo especifica). Algumas cri- angas apresentam ideas persistentes(medo de ddoencas ou sujeira, por exemplos) e compor- {tamentosrepetitivos rituals, tis como checar (que podem, inclusive, te pouca ou nenhuma ansiedade). No TOD existe um “exagero" de comportamentos vistos em algum grau nas criangas normais Nocaso doTC, existerncom- portamentas que sioclaramente distintos da- guilo que se considera normal e aceitével do onto de vista moral Outror problemas que podem sparecer no ‘TDAH (também sioencontrados na populago gral, em pestoas que niotém TDAH, como os demais citados acima) slo a enurese (fazer xixi nna cama) e 05 tiques (quando sio miitiplos fe muito significatives, chamamos de Trans- torno ae siques). Quando existem tques vo ‘ais (sons feitos com a lingua ow a garganta), sho chamados de Transtorno de Tourzete Osproblemasde aprendizado que podem ccor- ze simultaneamenteao TDAH seriocomenta- doradiante, 1 fundamental a identificagdo de outros pro- Inlamae aceoriading, pai a sia pracenga mo dificard o tratamento, assim como @ escolha da medicagio mais adequada, o encaminha- ‘mento para teraplas especificas e o prognés- theo ‘Maso TDAH por si sb nio acarreta problemas emocionais? Por defini¢4o,o TDAH se associa a consequen- cias negativas na vida do individuo e, por {sso, sto esperados problemasemocionais. Mas nem todo portador de TDAH apresenta neces- sariamente comorbidade com outros transtor- ‘A comorbidade é abservada em cerca de 7056 dos casos infantis e adultos, sendo 0 TOD a irbidace mais comm, seguida da Depres- Sho, Antiadade e Transtornos do Aprendizado (adiante), ‘Mesmo quando nio hi outra diagnéstico (ato 6, nio existe comorbidade com outros trans- tornos) criancas portadoras de TDAH apresen- ‘am mais problemas psicalogics: elas poaem apresentar baixa autoestima, sensagio de fra- ‘asso e instabilidade nas relagdes com os de- duis wolegass Ad ctiauyas © Us alulescentes com TDAH tendem a ser mais reeitados pelos colegas (© mau rendimento escolar © a8 dificuldades nos relacionamentos podem contribuir paraa seneaginde mal etar Qhandaenteam na ada lescéncia, as eriangas com TDAH apresentam ‘maior risco para uso excessivo de alcool e de ddrogasilicitas, assim como comportamentos irresponsdveis, em parte eausados pela impul- sividade. Adolescentes com TDAH tem mais sgravider indesejada e também mais doengas sexualmente transmissives, [Na vida adulta, portadores de TDAH apresen- tam vari problemas no cotdiano, tais como dificuldades para iniciar as tarefas do dia- acdia, adiamento de decisdes © tempo todo, ‘queixas de desatengio s6 vio surgir um poueo mais tarde, quando howver exigéncia de se ‘manter concentrado mais tempo na explica- (io da professora ou num exereiio ou tarefa. Criancas e adolescentes com TDAH cometem ‘miltos erros por desatenio (erram “boba- gens") ¢acabam nunca estudando o suficiente orgie io consegiem ficar sentadas com um. livro muito tempo. 0 adiamento até o étimo ‘momento ea evitacio do dever de casa sho ge ralmente motives de rigas em casa. Quando a inteligincia é normal e no exis- tem problemas de leitura(veja mais adiante), 6 comum que o aluno com TDAH “vi empu zando com abarriga’, ‘dando um jeitinho aqui «outro ali" e acabe passando de ano. De um ‘modo geral,entretanto, o desempenho acadé- ‘mico de um portador de TDAH estd abalxo dor demais na mesma turms, Quando consegue dedicar-se mais, o desempenho me Ihora (Atencio mies: em nada adianta pura e simpletmnente telorar” mala erent de ten portadar de TDAH, Bem, acredito que vocts |& saibam disso. Apenas tm lembrete de que seu: filho tem um transtomne que dificulta que ele se empenbe tanto quanto os demais. Se eobrs sitar, espernear ebrigar adiantasse vocé no estarialendo estelivzo..) Entretanto, podem existir outras dificuldades, entre as criangas eadolescentes portadores de YDAH que aumentam significativamente 0s problemas na escola: difculdades com a lei- falta de motivagio © mudangas constantes ros interesses pessoais e profssionals. Comu- ‘mente sio descritos como “fogo de palha’ por demonstrarem interesses passageiros em vi- ras atividades, por vezes muito diferentes. & ‘comum a queixa de desorganizacio e de falta de planejamento na execugdo das coisas em eral. Quando estio envolvidos em relacées ffetivas mais estiveis, @ comum 0 eSnjuge queixar-se da falta de atengio e de companhei- rismo, como também da mudanga constante deplanos, ‘A maloria dos adultos portadores do TDAH apresenta quevas de memoria. A muaanca Incessante de canais de televisio ou estagies de riio e a dificuldade para ler textos lon- ges wu ouvit MstGvias longa e detalles slo a expressio da dificuldade de manter- se ‘numa mesma coisa por muito tempo. Adul- tos néo tém hiperatividade como as eriangast sho inguietes, fazer virias coisas ao mesmo tempo ou sio workaholies(trabatham excessi- vamonte) (uaisos problemas de aprendizado escolar associados a0 TDAH? (s portadores do TDAH podem ter tantos pro- ‘blemas de comportamento como de desempe- rho académico (notas). Quando as queixas da ‘escola ocorrem muito precocemente, em geral clas dizem respeito 20 comportamento hipe- rativo (no parar quieto em sala de aula). As ‘ura (Dislexia)¢ com a matemitica (Disealeu- lia) soos exemplos mais comuns. Problemas coma linguagem, comprometendo e forma mais global tantoa comunicacio ver- ‘bal quanto a letra e escrita, também poder ccorrer (Transtornos da Linguagem ou DEL ~ Déficit Especifco de Linguagem), mas sio ‘mais raros. Nestescazos, no slo apenas a lei- tura ea escrita que estio comprometidas, mas também a capacidade de se expressar demado claro ou a capacidade de entender o que os ou- tos dizem, ‘Transtornos da Aprendizagem. Ocorrem na populagdo em geral, porém aparecem em as- sociagio 20 quadro do TDAH com maior freqiéncia do que o esperado. A maioria dos portadores de TDAH nao apresenta Transtor- nos da Aprendizagam: se existe suspeita de ficuldades adicionais, deve-te fazer um exame especializado (exame neuropsicolégico com svallagio de Hngwagem) No sistema TSM-5 falase em Transtornos da Aprendizagem, de- vvendo-se indicar em qual érea ocorre o com- prometimento(leitura, matemética ec) Existem problemas clinicos ‘associados 20 TDAH? ‘Sim, Criangas e adolescentes com TDAH ten- dem a ter mais acidentes, em mais ese ma- chucam, o que se considera ser consequéncia da sua inquietude e também da sua desaten- ‘9la. Porém algumas pesquisas mostram que Lum histérico de asma émais comum em quem tem TDAH, por motives ignorados. 0 sobrepeso ea obesidade tim se tornado um problema de sate publica nos wltimos anos ehé paises onde 50% dos adultos e 25% das Criangat e adolescentes extio acima do peso ‘maximo recomendadopara aaltura.Intimeros festudos apontam que existe uma associagio entre TDAH cbesidade, mas ainda ndoéclaro como isto ocorre. sabe-se que 0 1DAH pode se assoctar a aitera- ‘es nocomportamento alimentar ataques de ‘bulimia ou binge, em inglés) e também a ina Gvidade,aopectos que tent potential de levat obesidade. Embore alguns pesquisadores te- ‘ham suspeitado que horménios relacionados A obesidade (leptina) eum comportamento de ingertio excessiva de doces pudesse se aszociar 1 sintomas parecidos com os do TDAH, um terande echidn opiderialginn arompanhanls criangas até 2 adolescéncia mostrou que é 0 TDAH se se correlaciona com o aparecimento deobesidade endo ocontrésio, ‘como podem ser evitadas ou diminuidas as consequéncias negativas do TDAH? ‘Como to! mencionado anteriormente, TDAH, um transtomo muito comum e também pre- judicial ao desenvolvimento emacional, acadé- pals. Nem toda erianga necesita de psicote- rapia, mas todo e qualquer caso de TDAH na infincia exige sempre orientacio. Tambbém existem virias téenicas que podem ser en- sinadas durante um tempo predeterminado, constituindo “programas especializados’, que sfo, na verdade, uma forma de psicotera- pia lato sensu, Algumas criangas necessitaréo {de acompanhamento com um fonoaudidlogo caso apresentem muitas dificuldades com a leitura e a escrita ou mesmo transtornos do aprendizado. Apsicoterapia sobrea qual existe ‘maior numero de publicagdes cientificas no tratamento do TDAH é a denominada cagni- ‘uvo-comportamental ‘A orientagio aos pais vai facilitar 0 convivio familiar, no s6 porque ajuda a entender 0 comportamento do portador do TDAH, mas também porque permite ensinar téenicas que awzliam no mangjo dos sintomasena preven- ‘ia de problemas futures. No caso de adultos, pode ser necessério também orfentar o e®n- ines ‘Um exemplo bem simples e muito comum: criancas com TDAH tém maiores chances, or razéee Sbvias, de serem repreendidas e de re- ceberem castigos do que de serem elogiadas f receberem prémios. Agora, imagine © que educar uma crianga quase sempre repreen- ‘endo e castigando e quase nunca elogiando ‘uipremiando.1sso geralmente se correlaciona ao surgimento de diterentes problemas futu ros, Uma das primelras (e mais importantes) ico e socal. Por isso, é importante que pais, professores, padagogos, fmoaudislogos, psies- logos e médicosselam capazes de identificar 05. sintomas. Quanto mais precoces odiagnéstico 0 tratamento, mais faclmente evitamos as consequéncias negativas © tratamento pode ser feito de uma forma {nterdiseiplinar (com visioe profissionsisdlife- rentes trabalhando em equipe), com orienta- (ia aos pas e professor. ‘Num significative numero de casos hi necessi- dade de medicagZo, que pode ser administrada por um psiguatrs, neurologista ow peciatra (mas nem sempre esses profissionais conhe- ‘em e sabem tratarespecificamente oTDAH;é Fnupostanteinfuraan-se subie issu ates) Eat criangas com problemas sérios de comporta- ‘mento, téenicas comportamentais sio especi- almente importantes ¢o uso isolado de medi- ‘camentos nia érecomendado, ‘Virineoctene macteam aie crlanga anade- Iescente com TDAH que recebem tratamento adequado sio menos propensos a desenvolver problemas de comportamento, quadros de an- siedade e baixa auto-estima,além de apresen- tar menor risco de abuso de élcool ou drogas. A psicoterapla, quando necesséria feita pelo Psicdlogo ou psiquiatra (desde que ele tenha {ido formagio especifica para tal, o que nem sempre ocorre) e consiste num tratamento mais aprofundada e longo do que a sim- ples orientagio que normalmente ¢ dada aos orlentagdes que damos aos pals é evitar pastar (tempo todo castigando. ‘A intervengdo escolar, que & necesséria em alguns casos. pode facilitar © convivio dessas, criangas com os colegas e tamibém evitar que las se desinteressem pelo colégio, fato muito ‘comum em adolescentes portadores do TDAH. © problema & a escola participar do trata ‘mento; muitas escolas nfo apenas desconhe- ‘cem o TDAH, como néo tém desejo ou possibi- lidade de participar do tratamento, pelas mais variadas razées. claro que o tratamento do 1DAH tera resul- tados variveis,dependendo de inimeros fato- es, Em alguns casos, as mudangas podem ser ramiticas, com resultados muito favorsveis (requentemente vemos professores surpresos com “tanta melhora” em casos considerados “sam jeito"). Noutros, com problemas aseo- ciados (depressio, problemas de aprendizado, abuso de cool ou drogas, presenga de TOD ou {Tate} ne racine paler nin sor Ho hone Existem também as variveis relacionadas a0 contexto familiar. Jé vi casos em que o pai = profissional bem sucedido e com boa es- colaridade ~ simplesmente achava “tudo isso ‘uma bobagem”edizia, sem o menor constran- simento, que 0 que fatava ao filo era “uma ‘boa surra’. Mais de uma ver ouvi uma mie contra esta ‘Também ja vi casos de mies ou pals que apresentavam mais problemas que os flhos: ‘io chamavam 4 atengio nem impunham rnenhum tipo de limites a comportamentos cgravermente inadequados. Certa ocasiio, uma mie se aborreceu com uma fonoaudidloga da nossa equipe (uma das pessoas mais razoiveis, com jogo de cintura que conheci),simples- ‘mente porque ela tentave reetringir um com- portamento agressivo edestrutivo de sua filha {dentro da clinica. Em casos como estes, 0 PrOg- néstico do TDAH é bem pior e o tratamento ‘menos eficaz. Infelimente, muitos pais néo suportam ereeitam qualquer tipo de critica seus fhos, mesmo quando elas so pertinen- tes eadequadas, Isto 6 tendea agravar proble- ‘mas que a existam eventualmente. concordar muito mais que o outro par. Tam- ‘bém existem of chamados estudos de adogia: as criangas com TDAH tém a mesma preva Tincia do transtorno que seus pais biolbgicos, ‘mas néo que seus pais adotivos. Isto suzere ue o ambiente familiar no 0 determinante para oaparecimento do transtorno. Nocasodo TDAH, os estudos de familia, de gémeos e de adogio, todos apontam para o mesmo restl- tador existe forte influéncta genética. Quem examina uma crianga com TDAH frequentemente reconhece a existéncia do ‘mesmo transtorno, ou pela menos alguns dos sintomas dele, no pat ou na mae. comumente, ‘quando elas sio entrevistadas na presenga dos pals, jf dentificamos alguns sinais neles pré- prios (em gera, inquietude na cadeira, movi- ‘mentagio das mis e dos pés, impulsividade para responder as perguntas antes de ouvi- las por complet, pegar coisas com as mios ¢ rmesi-las o tempo todo ete), Em outras oca- sides, quando o diagnéstico& feito eexplicado anes lee nréprineperreher om si mesmne (ou entio um percebe no outro)- Mas isto no & obrigatério, A incidéncia do TDAH em paren- tes de criancas com esse diagnéstico€, no mi- nimo, duas vezes maior que a encontrada no restante da populacio. [Nao existe um inico "gene do TDAH": otrans- toro é chamado de poliginico (poli=muitos), porque varios genes em conjunto, somados, ao origem ao transtorno, Fara entender me- hor, vejao exemplode tipo (grupe) sangiineo: algumas pessoas tém o gene que determina 0 capitulos A ‘AS CAUSAS DO TDAH ‘Setemoe que exlate uma forte pattcipasto ge nética no transtorno. Quando se diz que uma ddeterminada enfermidade sofre influéncia ge- nnética, ndo eignifiea que todoe o¢ individuoe daquela familia, do lado materno ou paterno, também sofram do mesmo mal. significa ape- nas que a ineidéncia do problema ébem maior naguela familia do que seria esperado mate- rmaticamente pelo acazo (ot ej, tem muita gente com o problema naquela familia). Outro modo de sabermos se um transtorno sofre influéncia genética é avaliarmos os gé- ‘meos univitelinos(inticos geneticamente) © 08 bivitelinos (ndo idénticos). Quando a con- cordincia isto 6, quando um tem o outro tam- ‘bém tem) entre os univitelinos é maior que entre 0s bivitlinos, sabemos que existe par- ticipagio genética, porque em ambos os casos oo pay a alknenteyiny w clan oes cexatamente os mesmos e nio haveria outra cexplicagio para o par idéntico geneticamente sgruposanguineotipo A, outras,otipoB outras tim os genes para A.e Bao mesmotempo (tipo ‘AB) e outras ainda no tim nenhum desses dois genes (tipo 0). Portanto, o grupo sangui- neo & herdado dos pais. mas com diferentes ‘combinagdes possiveis. Do mesmo modo, exis- tem genes que parecer envolvidos no TDAH; algumas pessoas tm alguns deles,outras tém ‘miitos e outa ainda néo tim nenhuum deles (quem nio tem TDAH). E 0 somatéio ~ com- Binago~ que ve determinar a predspsgto genética ‘Lembre-se que falamos que ndo se trata de “ter olnao ter {LAH todo mundo tem em algum, igrau aqueles sintomas que caracterizam 0 transtomno, uns mais e outros menos; aqueles ‘gue tém muito mais sintomas que o restante a populacio sio os portadores de TDAH (do ‘mesmo modo que a8 pessoas que tém muito ‘mais agicar no sangue que os demais tim di- abetes)-Isto acontece porque os genes envolvi- ddos no TDAH estio distribuldes deste mesmo smadana popislagiaom garal-alguns tim maie esses genes, outros tém menos; alguns tém muito mais. Esses genes estio relacionados & produgio de ddopamina e noradrenalina, substancias exis- tentesno sistema nervoso, que permitem a co- ‘municagio entreas células nervosas. Entio é genético eponto final? Existem vitias doengas de transmissdo gené tea que aparecerioncs filhos caso les herdem. (0s genes dos pais, de modo independente do ambiente (sto, de ftores externos)-Maseste 0 caso do TDAH ele é fortementeinflu- enciado pelos genes herdados, mas existe fre- quentementea interagdo com o ambiente para ‘aexpressio “final” do que conhecernos comoo transtorne, Embora a heranga genética no seja 0 tinico fator determinante para o aparecimento do ‘TDAH, ela é de longe o mais importante, Em. toro de 80 a 90% do TDAH é devido & gené- ‘ica, o que ¢ muitisimo em meaicina. alguns pesquisadores acreditam que & predisposiao hherdada dos pais podem se somar outros fato- zen aaberoomuecrst Fadiusmow cone lal h, ‘iio hiregistro de nenhum deles quando se en- ‘revista os pais, Existem algune fatores de riseo para o apareci- ‘mento do TDAH, que si listados a seguir: 1 istérico familiar (0 principal fator derisco) 2. Diabetes gestacional 3. Baixo nivel socioeconémico 4.Pumodurantea gestagio 5.Problemas ocorrendo no periodo 4o parto(perinatais) 0s circultos rerponsiveis pela atengio e pelo controle motor , os czcultos reguladoves das ‘emogées (ichuinds @ motivagdo) © 08 cir- Citas erivalvidos no sistema de recompensas agueles mais frequentamente alteradosino ‘TDAH. ‘Mass problemas familiares no podem causar TDAH? Embora alguns pesquisadores tenham suge- ido anteriormente que um alto grau de dis- corata ne ambience familiar, familias caocicas fou com ausineia de um dos pais pudessem estar relacionados ao aparecimento do TDAH, festudos mais recentes tm questionado essa hipstese. Além de ser mais provivel que esses problemas sejam consequéncia do TDAH (na crianga ¢ também em um ou ambos 0s pai) ce nfo sua causa, considera-se atualmente que ‘ambiente desfavorével precise interagir com ‘perfil genéticn para resultar num transtarno. (isto € vilido para depressio, TDAH e vitios outros trenstomos). ‘Adultos com TDAH também apresentam mais problemas de comportamento e outros trans- tomos psiquiitricos (comorbidade) que aque- les que nio tim o transtomno, como vere ‘mos adiante, Isso poderia contribuir poten- cialmente para um ambiente familiar ruim, ‘mesmo que néo fosse a causa do TDAH (que estarla"passando” geneticamente de pal para utras hipéteser mais antigas foram aban- donadas quando investigadas em estudos ci- entificos posteriores:aditivos alimentares (co- antes e conservantes); aspartame; excesso de agiicar na alimentagio; luz fluorescente; defi- ciéncias de vitaminase problemas na tireoide, Intolerdncia ao ghiten ete. Mais recentemente, (0s cientistas voltaram a se interessar por de- ficiéncias de certor elementos no sangue, mas estes resultados ainda sio preliminares e de- vero ser mais bem investigados antes que se chegue a uma conclusio mais definitive, De qualquer modo, tendo em vista a forte par- ticipagio genética, sabemos que ests fatores cexternos vao interagir com a preaisposicao Be- neticamenteherdada. Potent, v TDAH deve ser coupreeualidy como o resultado final de uma predisposicéo hereditivia e sua eventual associagdo com ou- tuos fatoressurgindo apésonascimento. ‘© queacontece com quem tem TDAH? 0s portadores de TDAH tém um funciona ‘mento alterado em alguns circuits cerebrais {sto é determinado pela genética. Estes circul- tos “funcionam” utilizando substincias que ppassam as informagGes adiante, os chamados neurotransmissores (em especial a dopamina © a noradrenalina), No caso do TDAH, hi vi ros eircutos que tem um funcionamento ai- ferentedo que éobservadoem quemniotemo transtorne, filho, independentemente do ambiente em casa} £ dlaro que uma crianga ou adolescente com "TDAH numa familiacam muitosconflitos ters ‘um prognésticopior ‘Mas ji me disseram que problemas ‘emocionais podem causaro TDAH Procure saber se aquilo que vocé leu é baseado em Informayées cientifcas resultados de pes- {quisas publicaaas por pesqutsacores reconne- cidos em revistas cientficas De uma vez por todas: 6 TDAH nio € secun- dirio a problemas com a mie (ou 0 pai, ou 0 av, ou quem quer que sea), nao éum conflito inconsciente de medo do sucesso nem é um. problema de personalidade, ndo é uma tenta- tivainconscientede se boicotar emuitomenes ainda “uma forma diferente de lidar com aprendizado” ou “com o mundo”. E um trans- torno com forte influéneia genética em que existem alteragBes no sistema nervoso. “Tereza (nome ficticio) era psicéloga e 20 té ‘mino de um curso sobre TDAH me procuroue ste quese sentia bem emal ao mesmo tempo epois do que tinha ouvido. Sentia-sebem por- {ue havia descoberto um nome para 0 que tinhae sabia agora que exstiam outras pessoas ‘como mesmo problema e que este era bem es- tudado. Também te sentia feliz por saber que Sentia-se mal, por outro lado, porque passara ‘muitos anos submetendo-se & psicanalise, na ual a ténica sempre era o fato de que ‘la se boicotava' e'ndo queria inconstientemente rmelhorar, ter sucesso. Ou seja, a terapeuta (gueria dizer que Tereza era a culpada e melho- rar dependia apenas dela mesma. A psicand- lise, obviamente, no #6 néo trouxe nenluma rmelhora (0 que ainda por cima era interpre- tado como ‘resistencia’ de Tereza & melhora, 8 cura) como também sé fez a pacientesentir-se cada ver por. Isto nao quer dizer que uma psicoterapia que iu sea Coguitive-Comportaniental Glesdle {ue bem conduzida.. possatrazer beneficios para um autoconhecimento do individuo com ‘TDAH. Mas ela nio vai “descobrir”causasin- conscientes e nem “tratar” of sintomar de ‘TDAH. Nao hé nenhum estudo cientifco de- smanateanda ofcdein da peieanalise, nar avemn- plo, no tratamento do TDAH (apesar de muita gente alardear isto). TDAH nde pode- pura esimplesmente ser eecundivio a0 modo como a8 criangas sio edueadas pelos pais? ineumente, Todos nos sabemos come algu- ‘mas criangas se tornam muito mal comporta- das em funglo do modo pelo qual foram: foram apresentados anteriormente), & extre- ‘mamente confidvel © quadro descrito é o mesmo desde o inicio o séeulo XVIN (por incrivel que pareca!) ape sar de mudarem os nomes e as teorias sobre as causas do transtorno. Além disso, 08 sin- tomas sio os mesmos em diferentes cultura, como foj demonstrado em estudos com cri- angas do Brasil, da China, do Japao, de vitios palses da Europs, da Austriliae Nova Zeléndia, fetambémm da india. Sio culturas diferentes, e, apesar disso, a prevaléncia (taxa) de TDAH na populagdo é exatamente a mesma. E que tal Os sintomas sevem os mesmos ha mais de um, século, apesar de terem existido tantas mudan- sasna forma decriar os filhos, no sateraedu- ‘acional e na vida em geral? E, mesmo assim, tomas descritos naquela época eram pra. ‘eamente os mesmos. Nao, definitivamente o "TDAH ni é eecundério a0 modo pelo qual a= criangaesiocriadas. OTDAH ndoé meramenteum ‘comportamento mais exuberante de algumas criangas? [Nao sei bem ao certo por que algumas pessoas insistem neste ponto, Tenho varias hipéteres esse respeite, Uma delas é de que essas pes- soastém uma enorme difculdade em aceitar a existéncia de doengas acometendo o compor- {tamento. Doengas do sistema nervoso entio, nem pensar...Quanto mais em criancas! das, Aeducago dada pelos pals ou por aqueles que craram a crianga, sem sombra de divida, tem papel crucial na forma como ela se com: porta, Mas isso no & 9 mesmo que sofrer de ‘TDAH! Nao saber comportar-se num restau ante, saber esperar quando cada um tem sua veo, fala ato e ser muito baguncelto podem, e fato, ser secundarios a0 modo como uma crianga fot edtcada (basta observa um pico 05 pais.) Mas 0 portador de TDAM tem difi- caldades crénicas para se concentrar econtro- lar seu comportamento, mesmo naquelassitu- agées onde ele mesmo gostaria de estar tento ‘equieto, como as demais, Os eomportamentos Que sao secundarios ao modo como fomos er- dos se modificam continuamente 4 medida fem que vamos frequentando ambientes fora de asa ecuntvivenioe eu pensuas diferentes, {sto no acontece no TDAH. No consultério, 6 relativamente ficil para o especialista fazer 8 distingio entre comportamentos secundé- riot a "mé educagio" e sintomas de TDAH: fenquanto que os primeiros causam pouco ou rnomhism deseanfortn ane pale (qie tamném (0s apresentam em algum grau), os segundos ggeram intenso mal-estar e constrangimento, [Nio é raro que se ouga em casos de TDAH: ‘le 6 completamente diferente do irmio"(alguém {ue teve a mesma educagio e morana mesma cas). ‘Ao contri do que se pensa (e dizer alguns profissionas,infellzmente, com pouco conhe- temento acerca do assunto), 0 dlagnostico do ‘TDAH, quando feito deforma corretaeobede- cendo a crtérios bem objetivos (como os que Aids, sempre tive uma curiosidade: como & possvel alguém admitirexistrem intimeras oencas “orgéinicas" no corpo (diabetes, hepa- tite, sma, céncer, hipertensio ete), porém ne- ‘nhuma delas do pescoco para cima? 84 temos Adoencas psicolégicas do pescoso paracima? ‘Algumas pessoas admitem que existe pro- bblemas “orginicas’ na cabesa, mas, curlosa- ‘mente, apenas nas reas cetebrais responsi veie pela forca ot coordenacio motors, lin- guagem ou meméria, por exemplos, nos casos de “derrames’, Alzheimer ou Parkinson. Bem, eas dreas do cérebro responséveis pelo com- portamento, ocontrole deimpulsos, @atengao, ‘nunca tém problemas “orginicos"? Estran io € Com bilhies de circuitor que utili: zam milhares de neusotransmissoresdiferen- tes, nunca nada fala nessasregides também? Francamente,..Como existe muito preconceito estigma sobre transtornos mentais na 50- cidade, algumas pessoas tém difculdade em aceitar que existe um “problema quimico” ou “hinldgien” no soi setoma nerunen central ‘Algumas pessoas (acredito que bem-intenci- onadas, apesar de desinformadas) acreditem ‘que somente quadros muito graves e ineapa- citantes podem ser considerados “transtornos ‘mentas”. Essas pessoas tém geralmente difi- cculdade para crer que problemas nio tio gra- vves também possam ser considerados trans- tornos mentais, Depressio, algo pelo menos duas vezes mais ‘comum que o TDAH, também é considerado ‘um transtorno mental. Como estar triste, na fossa, deluto ou com “dor de cotovelo" sia cai- sas comuns a todos nés, algumas pessoas tém dificuldade em compreender que a depressio (ujos sintomas sio parecidos com aquilo que ‘pessoas normalmenteapresentam) representa ‘umadoena que precisa ser tratada. Lembre-se do que foi dito sobre os disgndsticosdimensio- sna: toda mundo tem um pouco dessessinto- ‘mas, mas algumas pessoas tém muito, muito raise sofrem por conta disso, Veja a definicio da Organizagio Mundial da Saide de “Transtorno Mental’ (..) um com= ortamento signincative, uma sindrome ou padrdo psicolégico de um individuo que se as- socie a estresseatual.. Ou incapacidade... Ou since siguifieaivanente auuentady de su mento. Portanto, TDAH é considerado claramente um transtorne mental, do mesmo modo que de- pressio, ansiedade, alcoolismo ete. Mas em quem eu devo acreditar, afinal? Pode ser difci para um leigo saber exatamente fem quem ‘acreditar’jé que o que no falta sio informagdes completamente diferentes veicu Jadas na midiaimpressa, na TV ena internet. ‘Umgrandejornal brasileiro, aoentrevistar um ‘dos maiores pesquisadores sobre IDAH (eu es- tava presente), resolveu posteriormente con- trapor suas opinides (todas elas fundamenta- J participou? Nenhuma? Fica dificil areditar fem alguém que tem uma “opiniio tio polé- ‘mica’ e nunca tenha feito uma pesquisa séri, publicada em revista cientifica, E 6bvio que escrever sites na internet ou pu- ‘liar livros (inclusive como este que vor’ est Jendo) néo vale: qualquer um pode fazer essas coisas, desde que tenha dinheira para bancar” oscustost Inacreditavel mesmo foi uma reunilo recente (fartamente propagandeada e com apoio de 6rgl0s ofcials) onde diversos profssionais {oram dar sua opiniao sobre o 1vaH. Na ver- dade, 0 termo correto seria *palpite” e a sua relevncia éminima ou nula em medicina. Fiz questio de procurar o curriculo de cada um deles: nenhum - voo8 eucerto -nenhum deles jamais havia participado de qualquer pesquisa sobre o ascunto, Alguns haviam escrito textos te6ricos onde simplesmente divagavam sobre ‘cassunto (ou sea, novamente palpites), outros ainda haviam supsrvisionada tosoe acadirsi- cas teéricas (denovo, de novo...) Pesquisa que ‘bom, nada! Informagio cientifca, nada! Por que pesquisa cientifica é importante? Por {que para ser realizada, precisa ser previamente lida ¢ aprovada por um comité de ética da ‘universidade ou de um centro de pesquisa of cialmente reconhecido, Nenhum membro da equipe de pesquisa pode participar do comité ‘Apos sua aprovagao, os resultados deve ser publicadas numa revista cientifiea, onde no ‘minimo dois avaliadores (cujos nomes nunca das cientficamente) is de um outro individuo que jamais publicou nenhum artigo cientiico sobre assunto eu verifiquei eraustivamente) fe nunca participou de qualquer pesquisa, © titulo era "especialistas divergem sobre 0 ‘TDAH... Exatamente porque o outro indivi- duo era considerado especalista, nao se sabe Mais ainda, nio se sabe porque sua opini era relevante, Isto, quando a midia ndo erla medos infun- dados ao falar de efeitos colaterais que no existem (e invariavelmente entrevista alguém que nunca fi pesquisadr) ou, entlo, associao {uso do meaieamento aTalta de pacienela para estudar com o filho’, como disse recentemente ‘uma revista, No Brasile no mundo no falta. daetésias eas yue“especilisas” afctain yucw ‘TDAH é uma “doenga inventada’, que se trata de uma “invengZo” dos médicos para justif- car o tratamento e das empresas farmac cas para ganhar dinhelro vendendo medica- ‘mentos. Recentemente, um hoax (informagio fale) cirenlen nainternet dleenda que wen dew “criadores" do diagnéstico de TDAH se arre- pendia e, ao final da vida, reconhecia que “0 ‘TDAH ndo existi’ Em primeiro lugar, procure saber quem é 0 tal ‘especialista’, muitas vezes um profiseio- ral que simplesmente viu a oportunidade de “aparecer”falando de modo a criar polémice. Cconsulteos bancos de dados de pesquisa cien- tuhea (como o Pubsted € 0 Scilo) disponivess na internet: quantos artigos cientificas ele jé escreveu? De quantas pesquisas cientifcas ele revelados) vio aprovar 0 texto. Apés pu- blicado, todo mundo poder ler, tentar repro- zi, apontar erros que nio foram vistos an- teriormente pelos avaliadores, etc. Ou entio refazer tudo com 9 mesma método # mostrar resultados completamente diferentes, ‘Um exemplo: nas edigdes anteriores deste Livro, o fume na gravides constava como fator de riseo para 0 TDAH; depois passou a no constar e finalmente pasiou a constar nova- mental Se este dado nio tivesse sido obtida inicialmente em pesquisa (com desericio da amostra de mulheres avaliadas, do método, (os resuitados, da analiseestatstica ec.) ou ‘os no teriam como confirmé-lo ou refuté- To. Agora imagine que eu fara um texto “eon- tra! o diagnéstico eo tratamento do TDAH — lindamente escrito, com inimerascitagdes de flésofos, poetas e mesmo sambistas famosos ~ falando sobre a “medicalizagio" do compor- tamento (sto é, sobre a tentativa de tornar ‘um comportamento normal emalgo anormal, ‘qe passe ser ant ahjota de etna nalns més dicos). Como ele pode ser contestado? Apenas ‘com palpitesebate-boca.. Masse eudisser que fo medicamento X é eficaz no tratamento do "TDAH em 90% dos casos, éfacilimo saber see. estou mentindo! Ascriangas com TDAH quando recebem 0 dlagnéstico entio stotratadas sempredo ‘mesmo modo, como uma “receita de bolo”? Um estudioto de dificuldades de aprendizado disse certa ocasifo algo muito interessante: "Cada erianga é como todas as outras, como algumas criancas e como nenhuma outra cri- ang Com isso, ele quis dizer que existem coisas no comportamento de uma crianca que sio co- ‘mine em todas as demais eriangas isto € 880 normais para aquela idade. Gostar de brincar fe fazer certa bagunga so algumas delas. Em. alguns casos, entretanto, existem grupos de criangas que apresentam caractersticasparti- culares que ndo sio observadas nas eriancas fem geral. Estee o caso das eriangas com IDAH, (em toro de 5% da populagio}: elas tém um. comportamento que nio é observato nas de- dacs alana (ou sea eu itais de 959% dela), namesmaintensidadee freqiéncia. Por iltimo, quando vamos tratar alguém,néo existe uma "raceita de bolo” que srva indietin- {tamente para todo mundo: cada casotem suas, rartienlaridaden @ ma evianca nla & lal A outa, ‘Tratar o TDAH nio seria uma formade controle? ‘Algumas pessoas tém uma idéia surpreenden- temente terrivel acerca do que seja tratar 0 TDAH. Ja TeceDI pais que me questionaram Incessantemente por mais de uma hora sobre 1s “conseqiiéncias" do tratamento (em alguns psleélogos e fonoaudiélogos) nio trabalharem tendo a mesma compreansio sabre 0 pro- ‘blema, em geral as coisasnio dario certo, pode apostat! Nao adianta nada trabalhar em equipe se cada um tem uma idéia completamente di- ferente acerca das causas do problema (o que significa que terdo idéias diferentes também acerca do tratamento). Por alguma razio misteriosssima ~ que no serd desvendada neste livro - existem profie- sionals (ndo médicos, em geral) que insistem. em dizer que imiimeros transtornos se deve a causas psicol6gicas e que, portanto, deve Ser tratados com psicoterapia. sesmo quando todaaneurociénciaevoluiua pontodeé poder ‘dentifcardreas cerebrais que no esti funci- fonando direitoefotografar ()essasalteragies ‘para que todos possam evidenciar os resulta- os das pesquisas, ainda tem gente insstindo ue este ou aquele transtomo é ‘emacional”. ‘Algo muito comum é achar que por meio da psieoterapia ¢ possfvel descobrir as "verdadel- sas eens” de fois 2 qlee penlama com= portamental, ndo havendo necessidade de se ‘empregar medicamentos Essas pessoas, desinformadas, adoram dizer que “os medicamentos tratariam os sintomas, ‘mas no a causa, do mesmo modo que a as- pirina tira. a febre, mas nao resolve a infecgio ‘ue esté causando a febre™ A analogia parece ‘muito interessante, entretanto éinteiramente falsa, Uma afirmagao pode fazer sentido e, ‘mesmo assim, ser equivocada. Existem ind :meros exemplos disso. Os sintomas clinicos do casos, curlosamente, nio parecem tio preocu- pados com as “consequéncias” do transtorno), “Muitos tim dividas sobre os possives efeitos das medicagSes utilizadas (como se os sinto- ‘mas do préprio transtorno ji no trouxessem. dificuldadeso suficienteparajustificar um tra- tamento..) e, em especial, querem saber por {quanto tempo seu filhoird tomar a medicacio (G que equivalea dizer: “Tudo bem, vamos dar este medicamento para o nosso fio, mas vai ser pelo menor tempo possivel, OK?"). £ provivel que muitos pais sintam-se de certo ‘modo responséveis pelo comportamento do ‘noe, assim, tennam certa vergonna deter de tratéopor algo que, no fundo, consideram ter sido culpa sus. Quando se explica que o TDAH. du € causal pelvs pao, « wi poe nella ‘Muitos tim a idéia de que o medicamento ind transformar a mente de seus filhot e de que eles ficardo “dopados”. Os medicamentos uti- Tiradoe na tratamenta de TDAH nin sia eo dativos e nem tem por objetivo transformar © individuo em “outra pessoa completamente diferente” CCabe ressltar que, por veves, um profissional smal orientado administra erroneamente ou- {os medicamentos que nao s20 preconizados no tratamento do TDAH e acabam ocasio- nando muitos efeitos indesejivels. Em outros ‘casos 0 diagnostico de TDAH estava errado, ‘Mas este é um outro problema. Além disso, se todos 0s profissionais envolvidos (médicos, ‘TDAH (desatengio, hiperatividade eimpulsivi- dade) sio aprépria dons Quando nio tinhamos os sofisticadas apare- thos de investizacia clentifiea como hoje em ia, amaioria das hipétesesrecaia sobre causas psicol6gieas. Nao podemos também culpar os estudiosos de um séculoatris. Mas éum tanto ificilacetar isso hoje em dia, com a quan- tidade enorme de achados cientifcos,aliés, isponiveis a todos que queiram se atualizar fe freqlentar congressos. De novo, este é um jutro problema. Yor outro lado, ha pronssionais que acham. {que transtornos que tenham causas biol6gicas coubioguimicas, orginicas, devem ser tratados cexclusivamente por médicos e unicamente por meio de medicamentos. Para os psicélogos, ficariam apenas os problemas de causas “psi- col6gicae, “emocionais" Isto éoutra bobagem sem fim. Um problema pode ter causss bio- lgicas, necessitar do uso de medicamentos e, sina anim, tor trata tenden en thereat psicoldgicas que podem ser extremamenteim- portantes para o portador do TDAH. ‘A importincia da psicoterapia ndo diminui pela existéncia de causas no psicolégicas. ‘Também nio é a gravidade do problema que determina qual o tratamento mals recomen- dado ou eficaz: a anorexia nervosa, a do- fenca com indice de mortalidade elevadissimo, €é mais bem tratada com psicoterapia do que commedicamentos. (© medicamento deveser encarado exatamente como um par de éculos, como sugeriram al- guns autores. Quando se enxerga mal, éfcil ler eestudar, alm de uma série de outras ati- vidades, Quando 0 oftalmologista prescreve os ‘culos eletornao individuo capazde enxergar normalmente. O que o individuo vat decidir Jer ou observar fica por conta dele mesmo. Ele pode até mesmo decidir ndo ler coisa algum edicar-se apenas a observar a natureza er I- ‘ros defisica quintica ou histrias em quadei- thos. Os éculos sio apenas um instrumento {que permite ao individuo aproveitar sua visio dda melhor forma possivel. Os medicamentos ‘usados no tratamento do 1LaH permitem que algumas fungdes mentais sejam normaliza- as, Do mesmo modo que seria dificil estudar en- xergando mal, seria dificil estudar sem con- seguir prestar atengio Aquilo que se 1é. Os culos, assim como os medicamentos para o ‘TDAH, tornam o individuo mais capacitado para inimarasatuidadas, elocande-0 am 18 ‘Também para iniciar e manter uma conversa temos que respeitar certo "jogo". £ preciso estar atento e "perceber” se 0 outro esta gos- tandada que se esta falanda, seaqueleassinto 6 apropriado para a ocasio, se deveros pros- seguir ou interromper determinadotpico ete ‘Temos que respeitar a chamada "troca de tur ‘nos’. Com muita freqiéncia os individuos por- tadores do TDAH interrompem os outros, tro- ‘eam oassunto da conversacio continuamente ‘e prestam pouca ou nenhuma aten¢io 20 que os outros falam (‘ele ndo presta atencio no que falo'; "fall vias vres isso para le"),oque, alem ae ser percebiao como madequads, mu tas vezes faz que a outra pessoa acredite que envolvides), © que gera a impressio de que estio constantemente insatisfetos e de que a ‘opinitio dos demais nao é importante. E possivel “edministrar” a impulsividade? 0s portadores de TDAH, em geral, tem pouca capacidade de “monitorar”o préprio compor- tamento, o que faz que avaliem as consequién- cias de seus atos somente depois que) fizeram. tudo, Quem é portador do TDAH, em geral, ilo tem sinal amarelo.£ muito importante aprender a parar, nar, ouvir e pensar antes dderesponder. Sé que issotem quesertreinado, treinado,treinado,treinado. s pais podem treinar as criangas a "pensar alto’, ou seja, conversar consigo mesmas. Para isso, davem comegar a debater entre todos os problemas quesurgem. Isso, em geral, diminul ‘aimpulsividade. Trat-se de um procedimento simples, Fil da so fita, mas quo s4 tem ef cigncia quando repetido ao longo do tempo, por muito tempo. A idéia bésica é estimular ‘que. crianga pense nas alternativas enas con- seqiiéncias de cada alternativa Isto € chamado de Técnica de Resolugio de Confltos, em que os participantes sio encora- jndos a ‘identifier qual é realmente. pro- blema em questo; sua conversa nd estd endo nada interessante ("se le desse importncia,embraria’) ‘A hiperatividade caracteristca do transtorno faz que os portadores de TDAH nio consigam. permanecer sentados por muito tempo, que fagam barulho, espalhem seu material escolar, falem muito durante a aula, importunando os futroe. Esses comportamentos atrapalham & aula e provocam irritagio nos colegase profes- sores, que muites vezes os interpretam como “mi-crlagic’, baderna ou problemas de perso- nalidade, Portanto, 0s castigs sio freqlientes, A crianga sente-seincompreendlida, frustrada fepode rornar-se agressva, complicando ainda > pais de iayas wuts TDAH poles seu se "desgastados” com a freqiiente necessidade de monitorar 0 comportamento de seus filhos, ‘Muitas vezes esse deogaste faz que os pais de- rmonstrem frustragéo, iritagio ejulgamentos tendenciosos em relagdo ao filho, Discussbes ‘familiares aerostioe prestontimentas sesh virando coisas comuns A impulsividade e a desatencio fazem que as pessoas com TDAH muitas vezes sejam pre- cipitadas em suas avaliagdes por nio anali- sar todos os fatos antes de expor seus pontos de vista, sendo, eventualmente, injustas e ge- rando ressentimentos por parte dos demas. or nm, portadores do DAH mudam de ‘nos constantemente, muitas vezes ser prévia consulta os outros (mesmo quando eles estio b.tragar um objetivo principal (re- solver © problema ou conterné- Joy, parase atingir o objetivo, 4.prever_possiveis conseqiiéncias ‘para cada proposte imaginads -escolher a melhor de todas as pro- postaseexecuté-la f.avallar os resultados posterior Exempla; Discuta tranguilamente com todos durante a refelgio, na frente da crianga, sem- pre que possivel, um problema que esta sendo tenfrentado, For exemplo: "Nio estamos satie- feltos com a nosea empregada. Se nea demi- tirmos agora, por causa daquilo que ela fez de exradoe nos chateou muito, vai acontecer isto estamos nos sentindo e nio.ademitirmos, po- derd acontecer isto ¢ aquilo’ "Mas seré que conversar adianta? Para algumas pessoas pode adiantar e para outras no’. E pergunte,entio, a cada um dos demais: "O que voc achat “Valea pena conversar com elae dar mais uma chance? Como podemes saber se no caso dela vai adiantar ou nlo?"; "Por que sera que ela fez aqui?" Outro exemple: “Se nés comprarmos o carro ‘agora, nio termos dinheira para viajar nas f& rias"; "Vocés acham que © nosso carro est muito ruim?; "E melhor esperar mais um ppouco e ficar com este carro mesmo, ou de- ‘vemos trocar®"; "Eas férias, como ficam?"; “Como voeés vao se sentir com um carro nove, ‘mas sem férias?"E com um carro velho, mas tendo férias no final do ano?” [Mais um exemplo: “Este nosso visinho ouve ‘iisica muito alto’, “Nio di para relacar, ver ‘TV direito"; “0 que deveriamos fazer?"; "Ja falei com ele mais de uma ver e ndo adiantou. nadat’;“ralo de novo7";"Keclamo com o sin- ico? "Chamo ele para uma conversa séria?” Pergunte a cada um da mesa as opgées possi- vein e discula «o uuseyléucias de wad uta elas. 0s pais deve sempre que possivel exercitar este tipo de diseussio com a erianca, pergun- tando sua opinifo e ensinando a lidar com as, unghie deforma argnntada (Quando a crianga jé se acostumou a este tipo de debate, os pais devem gradualmente ir in- centivando que ela traga seus préprios proble- ‘mas (na escola, por exerplo). Para isso, antes de dar as suas sugesties de solugdes alter- nativas e indicar as conseqtiéncias, pergunte sempre quais sio as idéias dela. Discuta sem- pre cada uma das opgdes e procure pensar no -maior numero de opgoes possess. pesquisas demonstrando beneficios de outras linhas de psicoterapia para esse tipo de pro- blema, © primeira pasto & 2 identificacio. com a crianga, daquelas habilidades que estio defici- lentes, Por incrivel que pareca, demonstri-las claramente para ela e conversar sobre essas deficiéncias tem um grande impacto no com- portamento. Em geral, quem é portador do TTDAH tem uma auto-obeervacio defcitéri, especialmente criancas. Coisas do tipo ‘mas este TDAH € fogo, nao & Viu como ele fez que vvoc# acabasse brigando e perdendo a amizade orulane naquele aia” podem ter eeito muito satisfatdrio, Uma ver que a énfase nfo é mais, “voc# & desse jeito’, “voeé tem problemas de comportamento’, mas sim “esse TDAH atrapa- Iha voe®, 'o TDAH é um saco, is vezes, asco sas parecern melhorar. Com o pasar do tempo, a idéia de que "eu tenho TDAH, tenho tendéncia a fazer certo fiom de aniaat” cnmaga 4 ea eretaliear ma rei anga ou no adolescente. A partir desse ponto fica mais ficil ele ter consciéncia de que pre- cise “administrar” sintomas que por vontade prépria ndo conseguir eliminar de vez, mas apenas gerenciar. Na verdade, qualquer psico- terapia ajuda oindividuo areconhecer aaémi- nistrar melhor suas caracteristicas pessoas, ‘uaisquer que sejam, -Em seguida, so discutidos exemplos de com- portamentos mais adequados para cada situ agio e suas conseqiéncias, Para treinar os Os pais dover estar preparados para fornecer ecompensas imediatas para uma situagio em. gue tenha ocorrido claramente um controle de impulsividade (mesmo que nio seja 10036) deve haver elogio quanto a capacidade de pen- sar varias soludes possiveis para o problema antes de se agi. Lembre-se desta regra impor- tante: © reforco com elogios para comporta- ‘mentos poitivoré sempre malseficiente ques punigdo aolongodo tempo. ‘Como ¢ possivel sjudar nas dificuldades derelacionamenta quanda ocarrem? As dificuldades de relacionamento, quando ‘mvt signlfcativas necesita oer aboidadas por um psicoterapeuta. Os pais sozinhos te- iam muita dficuldade nesta rea (principal- _mente quando jd se passaram muitos anos de situagdo cadtica dentro de easa ou os préprios pais tém TDAH nio tratado, este associado fu nao 2 outras problemas). Ratvetanto, 5 ‘bendo os prinepios gerals que serio esclareci- dos peloterapeuta, os pais estardo maiscapaci- tadosa ajudar. Um modo de reduc as dificuldades de relaci- conamento é por melo do Treino em Habilid des Sociis. Esse programa deve cobrir vi ates, como, por extmplo,téenieas de entro- samento social, de conversacio, de resolusio Ge confitos ede controle aa rava. apenas os psicoterapeutas da linha cognitive comport ‘mental dominam esse tipo de técnica. Néo ha comportamentos mais adequados éutilizadaa tdenica de representacio de papéis (rle play, fem inglés), uma espécie de teatro, em que 0 terapeuta e a crianga representam diferentes situagSes. O terapeuta vai mostrando como cada aspecto do TDAH da crianga ccorre nas situagBes do cotidiano, discutindo as possiveis, conseqtiéncias e propondo comportamentos alternatives. £ possvel criar iniimerae situa ‘Bes interessantes, dscutir sobre o script eo esfecho de cada uma delas. Alguns exemplos slo: fulano pegou meu caderno e escondeu porque gosta de implicar comigo e sabe que feu vou revidar; acharam que fui eu quem fez aquulos0 porque eu tenho fama; meu pat brt- {gou com minha mae eeu que ‘paguei o pato"; quebrei 0 vaso de estimario da minha tia, ‘mas foi sem querer, falei coisas que nio devia estou arrependido, mas nio sei o que fazer agora etc. Aqui se deve usar a Técnica de Reso- lugio de Conflitos sempre que ocorrerem pro- ‘blemasnorelacionamento com os demais Com relagin & hahildade de ontracament, social, oterapeuta vai progressivamente trei- nando acrianga a siniciar uma conversa e saber ‘manti-la sem monopolizar(inici- almente com o prépri terapeuta, de pois com um ausillar ou es. taglirio de psicclogia, parte-se, entao, para situasSes reas do di aia). b.pedir permissio para participar de umaatividade em grupo car atento para seguir as regras dessa atividade. Isto leva certo tempo, & claro, Somente o trei- ‘namento repetido torna a crianga mais apta a “administrar" melhor as conseaiiéncias do seu ‘TDAH. O terapeuta pode utilizar fatos que a prépria crianca relatou e também “inventar” situagBes inéitas (© ‘treinamento tem melhores resultados quando hi um envolvimento de pais e protessores, utitzando sempre que possivel fexemplor reais. Existem situagSet-chave que slo freqdentemente utilizadas (em geral, en- vlerabs idechiunirenio cm us lege professores eos pas) e querepresentam os mo- ‘mentos em que 0 TDAH mais prejudica acri- angaouoadolescente, As situagSes podem ree tornando cada vez mais complexas, embora 0 “método' a ser utilizado seja sempre o mesmo Cnimpnrtantadraforgar a sia tina ome pre. Pode-se iniciar com algo simples, como nnegoctar os estudas com amieno dia em que ‘TV vai apresentar um deserho muito especial, atéa situagdode ser acusado injustamente pela professora de algo que ndo fez, © envolvimento dos pais é importante para esse tipo detratamento. Eles podem auxiliar a crianga no treino das habilidades aprendidas nas siluapdes do dia-a-cia, Isto 6 particularmente importante quando se lusam os alarmes que tocam para lembrar de compromissos ou obrigacBes. Quando no ha computadores, pode-se fazer umn mural de ta- ‘manha média. em frente & mesa ou escriva- ninha, onde se desenha o calendirio do més Existem quadros de férmica branea que per- rmitem que se escreva e apague depois, usando canetas hidrogréficas especiais. Com relagio a perder coisas, a tética mais eficaz ¢ crlar 0 “local” onde tudo é deixado ‘quando se chega da escola. (Qual a comunicagio mais eficaz ‘Para quem tem TDAH? Fale sempre de modo claro e objetivo. Evite cexplicagées longas ¢ detalhamento excessive. Diga exatamente o que vocé quer ou o que es- pera da eriana ou do adolescente. Em vez de sizer: “zone voed acha qua vai chogar deste jeltor,diga: "se voot fier x de novo, val acon- tecer "Em ver de dizer “deste jeito voc exté Tevando os seus pais loucura’, diga: “toda vez {que voos faz ae b eu me sinto muito chateada’ Em ver de: “quantas vezes eu preciso repetir {que isto nio se faz", experimente: “vocé sabia {gue xera errado e fez de novo e por isso vai ficar sem y, como combinamos antes” (Outro exemplo de frase que deve ser evitads, por ser longa e pouco objetiva: como vocé cha que eu me sito toda ver que sou chama- ‘Afalta de meméria atrapalha muito na escola eem casa. Tem jeito? ‘A meméria, em gral, io é muito boa para quem tem TDAH (mas isso néo é uma regra). Se for o caso, ensine truques: sempre ler em. vor ata, repetiro que lew nas partes mais im- portantes,resumir oquelewem vozalta etam- ‘bém por escrito, fazer lembretes em cartdes ("resumes"), 0 uso de canetas coloridas para ressaltar as partes mais importantes deve ser estimulado desae precocemente, Se le tiveridade suficiente, utilize a agenda letsonica doe telefones celulates, mies apenee para coisas muito especificas (como se lembrar detomaromedicamento na hora do recreio ou detelefonar quando chegar i casado amigo). uso de agendas de papel raramente funciona, porqueacrianga ou oadolescente vio esquecer Seanotara.ontioosquecer doconsultar Agen- das de papel sé raramente devem ser uilizadas (para a comunicacio entre os professores eos pals, por exemplo}. ‘Seo computador & muito usado (algo comum. hhoje em dia, em qualquer faixa etiia), pega para que o calendério seja a pégina inicial, Al estardo todos os compromistos ¢ tarefas, {que dever ser feitos. A maioria dos telefones celulares pode ser sincronizada com estes ca- Tendarios e, assim, as erlangas e adolescentes, “leva” consigo 0 calendatio o tempo todo. doa) naescolaea professora me faz um monte de criticas a seu reepeitor” Outra coisa: fale olhando para ele. Olhos nos colhos! Quem tem déficit de atencio pede sim- plesmente nio estar "captando” tudo 0 que std sendo falado com ole, Use frases curtas e simples.

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