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77
FACULDADE ARAGUAIA - FARA
1º Edição - 2018
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio e para qualquer
fim. Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais
DIRETORIA GERAL
Professor Mestre Arnaldo Cardoso Freire
DIRETORIA FINANCEIRA
Professora Adriana Cardoso Freire
DIRETORIA ACADÊMICA
Professora Ana Angélica Cardoso Freire
DIRETORIA ADMINISTRATIVA
Professor Hernalde Menezes
DIRETORIA PEDAGÓGICA:
Professora Mestra Rita de Cássia Rodrigues Del Bianco
VICE-DIRETORIA PEDAGÓGICA
Professor Mestre Hamilcar Pereira e Costa
COORDENAÇÃO GERAL DO NÚCLEO DE TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Professor Mestre Leandro Vasconcelos Baptista
COORDENAÇÃO GERAL DOS CURSOS TÉCNICOS
Professor Doutor Ronaldo Rosa Júnior
REVISÃO E APROVAÇÃO DE CONTEÚDO
Professora Mestra Rita de Cássia Rodrigues Del Bianco
REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Professor Rafael Souza Simões
COORDENAÇÃO E REVISÃO TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL PARA
EaD, TV E WEB
Professora Doutora Tatiana Carilly Oliveira Andrade
DESIGN GRÁFICO E EDITORIAL
Bruno Adan Vieira Haringl
FACULDADE ARAGUAIA
Unidade Centro – Polo de Apoio Presencial
Endereço: Rua 18 nº 81 - Centro - Goiânia-GO, CEP: 74.030.040
Fone: (62) 3224-8829
Unidade Bueno
Endereço: Av. T-10 nº 1.047, Setor Bueno - Goiânia-GO, CEP: 74.223.060
Fone: (62) 3274-3161
Unidade Passeio das Águas
Av. Perimetral Norte, nº 8303, Fazenda Caveiras - Goiânia-GO, CEP: 74445-360
Fone: (62) (62) 3604-9500
Site Institucional
www.faculdadearaguaia.edu.br
78
O autor
Possui bibliografia.
CDU: 376.33
79
SUMÁRIO
80
APRESENTAÇÃO
Bons estudos!
81
Unidade V: Um retrospecto da política educacional brasileira
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Padre José de Anchieta, o primeiro professor no Brasil.
Fonte: http://www.perfilnews.com.br/noticias/brasil-mundo/padre-anchieta-sera-canonizado-nesta-
quarta-feira. Acesso em 04/08/2018.
Em função dos objetivos práticos da ação dos jesuítas, que era recrutar fiéis,
homens brancos em geral (exceto mulheres) e indígenas passaram a receber
educação escolar. Por meio da catequese, foram criadas escolas elementares para
os “curumins” e de núcleos missionários no interior das nações indígenas. Os filhos
dos colonos recebiam a mesma educação que os jesuítas davam às crianças
indígenas. Boa parte dos homens brancos que recebia educação média continuou
nos colégios preparatórios para o sacerdócio. Os estudantes que não tinham
interesse em seguir carreira eclesiástica encaminhavam-se, principalmente, para a
Universidade de Coimbra. Ao retornar à Colônia, esses jovens deviam exibir seus
diplomas de homens letrados, prontos para exercer seu mandonismo.
A partir de 1759, esse quadro de significativa influência dos padres católicos
passaria a mudar quando da expulsão dos jesuítas capitaneada pelo Marquês de
Pombal, cuja linha de pensamento estava estreitamente vinculada ao
enciclopedismo, declaradamente anticlerical.
Segundo Francisco Leal (2017), a extinção da Companhia de Jesus se deu
por meio da bula papal Dominius ac Redemptor, de 21 de julho de 1773, na qual o
Papa Clemente XIV aboliu a Companhia de Jesus da Igreja Católica Romana, das
nações europeias e seus domínios coloniais. Mas até se concretizar, de fato, a
extinção, houve muita pressão política por parte dos reis ibéricos sobre os pontífices.
O antecessor de Clemente XIV, o Papa Clemente XIII já havia pedido clemência ao
Re Dom José para a manutenção da Ordem no reino lusitano.
86
A Constituição da República de 1891 manteve a dualidade de ensino ao
instituir o sistema federativo de governo, sendo que à União cabia criar e controlar a
instrução superior em todo o País, além de criar e controlar o ensino secundário
acadêmico e a instrução em todos os níveis do Distrito Federal; os Estados, por sua
vez, ficaram incumbidos de criar e controlar o ensino primário e o ensino profissional,
que compreendia, à época, as escolas normais para moças e escolas técnicas para
rapazes.
87
a Reforma Benjamin Constant tentou a substituição do currículo
acadêmico por um currículo enciclopédico, inserindo-se disciplinas
científicas e consagrando o ensino seriado; defendia a criação do
Centro de aperfeiçoamento do magistério e “impulsor das reformas”,
denominado Pedagogium. A Reforma B.C não chegou a ser posta em
prática, exceto em alguns pontos;
Lei Orgânica Rivadavia Corrêa, no Governo de Marechal Hermes da
Fonseca, em 1911.
a Reforma Carlos Maximiliano representou uma contramarcha, pois
reoficializou o ensino, reformou o Colégio Pedro II e regulamentou o
ingresso nas escolas superiores;
a Reforma Rocha Vaz , no Governo Arthur Bernardes, em 1925,
representou a última tentativa do período para regulamentar o ensino,
“tendo o mérito de estabelecer, pela primeira vez, um acordo entre a
União e os Estados, com o fim de promover a educação primária,
eliminar os exames preparatórios e parcelados, ainda vigentes e
herança do Império”.
1
A Universidade de São Paulo (USP) foi criada em 1934 e a Universidade do Distrito Federal (UDF), em 1935.
88
educação e cultura; e, da segurança nacional”. Já a Constituição de 1937 tinha
inspiração nos regimes fascistas europeus. Essa Constituição vigora durante o
período de 1937 a 1945, na ditadura varguista, conhecida como Estado Novo. Nesse
período, o campo educacional fica envolto por dois traços fundamentais,
“centralização e autoritarismo”.
Cabe assinalar, porém, marcos importantes da política educacional brasileira
desse período. Um deles é o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932,
momento de relevância para o debate educacional. Além do Manifesto, podemos
citar: as reformas Francisco Campos (1931-1932); as reformas Gustavo Capanema
(1942-1946). Com a Reforma Francisco Campos temos que “era a primeira vez que
uma reforma atingia profundamente a estrutura de ensino e, o que é importante, era
pela primeira vez imposta a todo território nacional. Era, pois, o início de uma ação
mais objetiva do Estado em relação à educação” (ROMANELLI, 2013, p. 133). Essa
reforma tratou do ensino universitário, dos institutos isolados e dividiu o ensino
secundário em duas etapas: “o curso fundamental com duração de 5 anos,
obrigatório para a admissão em qualquer escola superior; e, o complementar, de
caráter propedêutico e com 2 anos de duração, tendo por objetivo a ‘adaptação às
futuras especializações profissionais’” (VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 110). Já com as
reformas Capanema, segundo as autoras, o ensino técnico profissional foi
organizado em dois ciclos: fundamental e técnico. Pode-se dizer, portanto, que com
as reformas Capanema educacional brasileiro “não só mantém como acentua o
dualismo que distingue a educação escolar das elites daquela ofertada para as
classes populares. Suas diretrizes vão orientar a educação nacional até a
promulgação da primeira LDB, em 1961” (VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 120).
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira foi promulgada
em 1961, Lei Nº 4.024 de 20 de dezembro de 1961. Essa lei levou 13 anos para ser
promulgada. Essa demora toda teria sido em decorrência de longos debates
fortuitos? Vieira e Farias (2011) pontuam que dois fatores prolongaram o caminho de
tramitação da primeira LDB: um fator teria sido a displicência do legislador; o outro
foram as marchas e contramarchas do conflito entre os defensores do ensino público
e os defensores do ensino privado.
A partir de 1964, segundo Comparato (1987), com a fundação do “Estado
Novíssimo”, a política centralizadora foi reforçada. Tal reforço se deu sob duas
89
razões: de ordem ideológica e de ordem financeira. Em termos ideológicos, a
ditadura civil-militar de 1964 tinha por base a “Doutrina de Segurança Nacional”, que
responsabilizava o cidadão à resistência contra ameaças externas (comunistas) e
infiltração subversiva. Não faltaram mecanismos de controle, como é o caso Serviço
Nacional de Informação (SNI). Nesta mesma linha, “ressurgiu a ideia de um ensino
de moral e civismo na escola secundária”. As razões de ordem financeira estão
relacionadas ao fato de o Ministério da Educação e Cultura ter firmado acordos,
desde o início do novo regime, de cooperação financeira com a agência
estadunidense incumbida de auxiliar os países subdesenvolvidos em matéria de
educação (United States Agency for International Development). “Os acordos MEC-
USAID abrangeram todos os graus de ensino, inclusive o profissional”
(COMPARATO, 1987, 104). E, certamente, esses acordos não foram gratuitos...
Vieira e Farias (2011) mencionam outros autores para lembrar que o foco principal
do regime militar foram as “grandes reformas”, tais como:
90
houve luta em diversos setores da sociedade brasileira, com destaque para os
movimentos sociais, as greves do ABC paulista, passando pelas “Diretas Já!” e uma
série de outras lutas pelo direito a uma cidadania plena (VIEIRA; FARIAS, 2011).
A oposição chega ao poder em 1985. Tancredo Neves foi eleito pelo Colégio
Eleitoral nas eleições de 1984, sendo candidato pelo Partido do Movimento
Democrático Brasileiro (PMDB), mas não conseguiu tomar posse; adoeceu e morreu
e, em seu lugar, assumiu o vice de sua chapa, o maranhense José Sarney do
Partido Democrático Social (PDS). “O novo presidente dá início a uma política de
contenção, ou pelo menos de tentativa de contenção da inflação -, que em 1989,
chega a atingir índice anual superior a 1.000%” (DEL PRIORE; VENÂNCIO, 2010, p.
289). Planos econômicos, como o plano Cruzado, se sucedem sem resultado
efetivamente positivo, o que leva a aumentar as frustrações em relação ao
presidente não só por parte da população, mas também por parte do Congresso
Nacional. Durante o mandato de Sarney, a imprensa registrava diariamente
aumentos abusivos nos preços e corrupção para toda banda. Contudo, o resultado
das lutas em prol da democracia e da cidadania aos poucos aparecia como
esperança para o povo brasileiro. Em 1988 foi promulgada a nova Constituição,
democrática e cidadã, e em 1989, pela primeira vez na história brasileira, a maioria
da população escolheria seu dirigente máximo. O presidente eleito em 1989,
Fernando Collor de Mello foi impeachemado em 1992, acusado de corrupção e
tráfico de influências.
“No intervalo de 15 anos (1985-2000), o Brasil é palco de mudanças em sua
ordem econômica, política, social e cultural [...] Grande parte delas deve ser
atribuída ao movimento de globalização” (VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 173).
Em relação à política educacional no Brasil, Viera e Farias (2011) esboçam
esse período como um intervalo que vai da indefinição à explicação. Elas tratam de
cinco governos: Sarney, Collor, Itamar e FHC (primeiro e segundo mandato).
a) Governo José Sarney: em termos de administração educacional o período
de 1985-1990 pode ser resumido: “Clientelismo, tutela e assistencialismo
foram os três vetores da Nova República, que nesse aspecto só se
distinguiu dos governos militares por juntar-lhes uma bombástica retórica
(‘Tudo pelo Social’) e pela prática de cooptação dos dissidentes, bem
como pela preocupação em não poupar na troca de ‘benefícios’
91
governamentais por apoio político” (Cunha VIEIRA; FARIAS, 2011, p.
192). Ou “Com certeza, na área de formulação de políticas educacionais
nada se inovou no período de transição em relação aos processos que
caracterizaram tanto o período populista quanto o autoritário. Conseguiu-
se pelo contrário, e não por acaso, uma interessante mescla de populismo
com autoritarismo, através de um processo que, ao pretender ser
democrático contrapondo-se à centralização, terminou por caracterizar-se
pela ausência de direção e pela fragmentação (...) desta forma, de uma
fase tecnocrática de formulação de planos, passou-se à pulverização dos
recursos travestida de descentralização” (Kuenzer apud VIEIRA; FARIAS,
2011, p. 192). Enfim, caracteriza-se o governo Sarney pela “indefinição de
rumos” em matéria de educação;
b) Governo Fernando Collor de Mello: a política educacional nesse governo
não se enquadra entre as prioridades. Mas em termos de intenções,
materializaram-se no Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania
(PNAC). Os educadores não depositaram muitas esperanças nesse plano;
nem mesmo o presidente tinha clareza do que se tratava quando anunciou
o programa na imprensa. Veja o entendimento de alguns especialistas. “A
tônica dos primeiros 180 dias do governo Collor foi a degladiação entre os
donos das escolas privadas e o MEC. Não se fez nada pela escola
pública, que não recebe recursos ao mesmo tempo em que a escola
particular está cada vez mais desincentivada a continuar funcionando”
(ARROYO apud VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 195). “Há uma jogada de
marketing e não uma política definida e séria para solucionar os graves
problemas da educação. Não vi propostas concretas do MEC para se
melhorar a rede pública de 1º e 2º graus. Além disso, o governo está
sucateando a universidade, com a exigência de redução do número de
professores e funcionários” (Arapiraca apud VIEIRA; FARIAS, 2011, p.
195);
c) Governo Itamar Franco: esse governo se diz interessado em retomar a
definição de política educacional. Para tanto se iniciam os debates em
torno da elaboração do Plano Decenal de Educação para Todos (1993), o
qual se desdobra em planos decenais de educação organizados por
92
Estados e Municípios. Outro momento importante é a realização da
Conferência de Educação para Todos (1994). “Ainda que com o governo
Itamar se identifique uma ‘tentativa de retomada’ dos rumos da política
educacional no âmbito federal, [...] é no governo seguinte que este
movimento vai se explicitar” (VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 198);
d) Governo Fernando Cardoso (1º e 2º mandatos): esse governo apresenta
as primeiras ideias referentes à educação quando do tempo do então
Fernando Henrique Cardoso na forma de documento de campanha, Mãos
a obra, em 1994. Em 1995 elabora um Planejamento político-estratégico,
1995/1998, um esboço do que viria ser a política educacional do período.
“É somente em 1996, contudo, que se pode falar de uma efetiva
‘explicação de rumos’ da política educacional [...] Poucos meses depois
são aprovados outros instrumentos de reforma: a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e a Lei nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, que dispõe
sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental
e Valorização do Magistério (FUNDEF)” (VIEIRA; FARIAS, 2011, p.199-
200). FHC ainda ampliou o Sistema Nacional de Avaliação, criado em
1990. Em 1996 foi realizado pela primeira vez o Exame Nacional de
Cursos (Provão). Neste exame avaliava-se os formandos de cursos de
graduação da educação superior. A partir de 1998 o Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) passa a ser aplicado para alunos do ensino médio,
visando medir seus conhecimentos e oferecer estratégia de alternativa ao
exame vestibular. Em meio a tudo isso, desencadeou-se uma reforma
curricular no ensino fundamental por meio dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCNs). “O Governo Fernando Henrique Cardoso retoma a
tarefa de elaboração do PNE na nova LDB (Art. 87, § 1º), atribuindo à
União a tarefa de nele estabelecer diretrizes e metas para os dez anos
seguintes. Seu encaminhamento ao Congresso Nacional deveria ocorrer
no prazo de um ano, a contar da promulgação da Lei nº 9.394/96”
(VIEIRA; FARIAS, 2011, p. 204).
93
Quadro 8- Políticas Públicas Sociais nos Estados Federativos e Unitários.
As Relações das Políticas Públicas Sociais nos Estados Federativos e Unitários
O Brasil é um país que adota regime federativo, no qual vários Estados, com seus próprios
governos, se reúnem para formar um Estado Federal. Neste regime, a União, os Estados e os
municípios possuem graus de soberania no que diz respeito à autonomia para bases fiscais, força
militar, voto direto, criação de leis, etc., o que caracteriza uma descentralização destas atribuições e
poderes. Já nos Estados Unitários, as autoridades política, fiscal e militar são centralizadas.
Durante o regime militar instaurado no Brasil, o país esteve bem próximo de ser um Estado Unitário,
pois neste período, houve uma centralização dos tributos fiscais e das autoridades militares,
composições políticas feitas por indicação. Na década de 1990, embora as federações já estivessem
instituídas no Brasil, ainda prevalecia uma forte centralização da administração das políticas
públicas sociais.
Alguns autores acreditam que o regime federativo, em contraposição ao estado unitário,
acarreta uma dificuldade maior para a implantação de reformas em nível nacional, dadas suas
características de descentralização de responsabilidades aos entes federados e de poderes de veto.
No caso do Brasil, um indício da ação articulada contra ações da união seria a própria demora na
descentralização das políticas sociais, um reflexo da resistência em assumir mais responsabilidades
por parte dos governos locais. Além disso, a descentralização das políticas sociais brasileiras
ocorridas a partir de meados da década de 1990, através da transferência de uma grande parte das
funções de gestão dessas políticas para os estados, não tem confirmado tal fato (ARRETCHE,
2002).
No governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), 1994 a 2002, se intensificaram os
processos de privatização e forte descentralização na gestão. FHC atribuiu à forte centralização
herdada do regime militar, os altos graus de corrupção, de burocracia, políticas tarifárias voltadas a
satisfazer o eleitorado, renegociação sistemática das dívidas com o governo federal, prejuízos do
fundo público federal devido à indenizações de trabalhadores demitidos sem justa causa, baixo nível
dos salários, empreguismo e ineficiência administrativa em serviços. Nessa perspectiva, buscando
formas mais ágeis e eficientes de gestão, e uma forma de atrair investimentos do setor privado,
intensificaram-se os processos de descentralização das políticas públicas sociais e abertura para
empresas privadas atuarem em serviços. Como exemplos disto, podem ser citados o saneamento e
a habitação social.
Por meio de uma política de permuta, financiamentos em troca de funções de gestão, o
governo FHC conseguiu a adesão de 100% dos estados brasileiros ao regime de federação em
apenas quatro meses. Contudo, só poderiam receber financiamentos aqueles estados cuja
capacidade de endividamento ainda estivesse livre. Com esta última regra, poucos estados puderam
assumir mais financiamentos, o que levou a um acúmulo de dinheiro no caixa da união logo nos
primeiros anos do programa. Com esse ativo, FHC autorizou o financiamento da compra de
empresas estatais por empresas privadas.
A habitação, antes centralizada no financiamento por agências do município, abre-se
também para a rede privada. A vantagem disso para o mutuário foi a maior possibilidade de
escolhas de imóveis e, para o mercado privado, um grande negócio direto entre mutuário e mercado
imobiliário. Por meio desses programas de habitação provocou-se um aumento na compra direta
entre mutuário e o mercado imobiliário principalmente de imóveis usados em detrimento do
financiamento das empresas habitacionais públicas de imóveis novos: “Em outras palavras, o
desfinanciamento das empresas públicas fez parte de uma estratégia cujo objetivo central era
introduzir mecanismos de mercado na gestão das políticas de desenvolvimento urbano”
(ARRETCHE, 2002).
No que diz respeito à educação, a Constituição de 1988 previa que municípios e estados
gastassem 25% de suas receitas de impostos e transferências com o ensino. Tal obrigatoriedade
levou à uma grande expansão da oferta de todos os níveis educacionais nas duas esferas.
Entretanto, tanto o estado quanto o município, se escoraram na definição de que ensino não é
educação e gastavam seus 25% com bolsa escolar, transporte escolar, etc.
Embora a oferta educacional tenha sido ampliada em grande escala, não era foco do
governo FHC a expansão em todos os níveis. Seu objetivo era a expansão e municipalização do
Ensino Fundamental (EF) com valorização da remuneração docente. Então o governo criou uma
emenda constitucional que obrigava município e estados a repassarem 15% das receitas de
impostos para um Fundo Estadual, o FUNDEF. As receitas desse fundo seriam redistribuídas, em
cada estado, entre governos estaduais e municipais proporcionalmente ao número de matrículas
94
que cada unidade da federação oferece a cada ano.
Em consequência desse repasse, os municípios começaram a aumentar a oferta do EF na
tentativa de receber o investimento, o que levou rapidamente à municipalização do EF, aumento no
número de professores e aumentos salariais na ordem de 29% (ARRETCHE, 2002). Porém, levou
também ao detrimento de outros níveis, já que o investimento era somente para o EF.
Esta pode ter sido a oportunidade para ganhos de receita combinada à ampliação da oferta
de serviços à população e à elevação dos salários dos professores. Contudo, não deveria haver
prioridade de um nível para outro. Todos os níveis educacionais são imprescindíveis. Talvez aqui
esteja a razão de nos últimos, as prefeituras pagarem melhores salários aos professores do que o
estado, ou seja, uma das razões da rápida decadência do Ensino Médio.
Em relação à saúde, também desde a Constituição de 1988, já era obrigatório o SUS -
Sistema Único de Saúde. Mas, na prática, faltava garantir o direito à saúde para todos e um modelo
para a prestação dos serviços. Na mesma perspectiva da Educação, por meio de permutas entre
união, estado e município, conseguiu-se alcançar a adesão dos municípios à descentralização da
gestão e da oferta do SUS, tendo seu processo acelerado por meio das Normas Operacionais
Básicas (NOB).
Fonte: ARAÚJO, Adelmar Santos de; ALVES, Lenice Miranada; COSTA, Renata Luiza da. Plano
Nacional de Educação n. 8.035 (2012-202?): regime de colaboração e perspectivas para a
Conae/2014. In: Seminário de Questões Contemporâneas de Educação, coordenado por Iria
Brzezinski, PPGE/PUC-Goiás, 10/10/2012.
95
econômica no âmbito das relações entre os governos Lula e Dilma (o “lulismo”) e a
coalização produtivista e rentista — como afirma André Singer (2015)” (Editorial, p.
333).
97
partir de 1930, a forma do ideário renovador que encontrará resistência no ideário
católico que, progressivamente, irá absorver os métodos novos sem, porém, abrir
mão da doutrina tradicional” (SAVIANI, 2013, p. 445).
Em termos estruturais referentes à educação básica, tem-se que nas últimas
décadas do século XX, a democratização do ensino em todos os níveis foi
significativa. Em contrapartida, “a deterioração da qualidade do ensino foi
dramática”. Segundo Carvalho (2012), o aumento das escolas e vagas seguiu a
esteira da flexibilização do sistema de avaliação escolar. A autora pontua que a
primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1961, descentralizou e
flexibilizou a educação ao atribuir aos Estados jurisdição para organizar seus
próprios sistemas de ensino.
99
sociedade também precisa fazer sua parte nessas missões sociais e
assistenciais (LIBÂNEO, 2012, p. 26).
O autor lembra, porém, que isso não quer dizer que os movimentos que
primam pela totalidade do atendimento aos direitos demandados, sejam, de fato,
atendidos. Do ponto de vista histórico, Romanelli (2013) explica que a luta pela
escola tem assumido um caráter de luta de classe.
100
Na verdade, a forma como se expressou e se tem expressado a
demanda social de educação, forçando o sistema educacional a abrir
suas portas às camadas mais baixas da população, tomou o aspecto
de uma luta inconsciente, mas decisiva, das camadas em ascensão
por posições de maior de maior relevo. Aliás, consideramos que esse
é um dos aspectos da expansão do ensino que explicam por que o
mesmo não se modificou estruturalmente com a expansão e
permaneceu oferecendo em escala maior o mesmo tipo de educação
aristocrática e acadêmica da velha ordem, anterior a 1930
(ROMANELLI, 2013, p. 106).
É possível dizer, ainda, que da mesma forma que o Estado de São Paulo se
apropriou do excedente produzido por outros estados Brasil afora, e saiu à frente
nos auspícios da modernidade, também dispara uma enorme carga político-
ideológico educacional, sobretudo pelo poder da mídia que se concentra na região.
Felizmente, ainda que aos “trancos e barrancos”, o Brasil vem se descobrindo e,
com isso, vislumbra novas possibilidades de lutas e constituição nacional. E, apesar
das contradições, as conquistas vão se concretizando, como se vê com o segundo
PNE (2014-2024), suscitado das discussões das CONAES (2010, 2014) e demais
fóruns, por meio de sua aprovação (Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014) que,
dentre outras, em seu artigo 2º, a necessidade de “III - superação das desigualdades
educacionais, com ênfase na promoção da cidadania e na erradicação de todas as
formas de discriminação.”; outro ponto no mesmo artigo: “X - promoção dos
princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à sustentabilidade
socioambiental.” Segundo Lima (2016, p. 37) “Dentre suas 20 metas, podemos
destacar um grupo de metas que trata especificamente da redução das
desigualdades e valorização da diversidade, por meio da inclusão e centralidade no
atendimento às suas especificidades nas políticas públicas de educação”, como
podemos ver na íntegra as indicações do autor:
102
escolaridade média entre negros e não negros declarados à
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Mas, enfim, diante do exposto cabe, aqui, repetir a pergunta levantada por Gusmão
(2011, p. 34): “é possível existir uma escola voltada para a diversidade?”
convidamos o estudante a ler o artigo
(https://revistas.pucsp.br/index.php/pontoevirgula/article/view/13898/10222), e, então, tirar suas
próprias conclusões.
Resumo
Nesta unidade, você realizou um retrospecto da política educacional brasileira e
teceu algumas caracterizações, dentre elas evidenciou-se o caráter dual e perverso
do sistema educacional brasileiro, sobretudo, a considerar o processo de mudanças
atual.
Atividades
103
Referências
DEL PRIORE, Mary; VENÂNCIO, Renato. Uma breve história do Brasil. São
Paulo: Editora Planeta, 2010.
LEAL, Francisco. Papa Francisco, o jesuíta sob o olhar dos cristãos leigos e
leigas no coração da Trindade. Goiânia: Espaço Acadêmico Editora, 2017.
104
VIEIRA, Sofia Lerche; FARIAS, Isabel Maria Sabino de. Política educacional no
Brasil – Introdução histórica, 3 ed., Brasília: Liber Livro, 2011.
105