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FACULDADE ARAGUAIA - FARA
1º Edição - 2018

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NÚCLEO DE TECNOLOGIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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O autor

Adelmar Santos de Araújo é historiador com mestrado em Educação pela


Universidade Federal de Goiás (UFG), doutor em Educação pela Pontifícia
Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás). Tem especialização em Formação
Socioeconômica do Brasil pela Universidade Salgado de Oliveira (Universo).
Professor pesquisador do Centro de Educação Popular e Pesquisas Econômicas e
Sociais (CEPPES) e professor da rede estadual de educação do Estado de Goiás.
Na Faculdade Araguaia atuou entre 2013 e 2014 como supervisor acadêmico do
Núcleo de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação – NEPPG.

S676p Soares, Jackeline Império.

Planejamento e organização do trabalho pedagógico /


Jackeline Império Soares – Goiânia: NUTEC, 2018.

64 p.: il. - (Educação a distância Araguaia).

Possui bibliografia.

1. Educação. 2. Gestão Escolar. I. Faculdade


Araguaia. II. Título.

CDU: 371.26

Ficha catalográfica elaborada pela Bibliotecária Marta Claudino de


Moraes CRB-1928

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SUMÁRIO

Unidade 2: Aspectos Legais das Políticas Educacionais.


2.1 – Constituição e Educação Básica no Brasil. ...................................................... 29
2.2 – Legislação da Educação Básica no Brasil. ....................................................... 32
2.3 – A Educação e os Direitos Humanos. ................................................................ 41
Atividades. ............................................................................................................... 46
Referências. ............................................................................................................. 47

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APRESENTAÇÃO

Caro (a) aluno (a),

Colocamos à sua disposição este texto referente à disciplina Políticas e


Legislação da Educação no Brasil, com o propósito de auxiliá-lo (a) em sua
caminhada acadêmica, o que perpassa, aqui, por analisar e compreender o
desenvolvimento da educação básica no Brasil, de maneira a relacionar sociedade,
educação e legislação possibilitando, ao futuro educador e à futura educadora,
instrumentos de reflexão que lhe possibilitem desenvoltura, atitude crítica frente aos
problemas educacionais e sociais do Brasil. E, claro, com autonomia de
pensamento.
Cabe, portanto, lembrá-lo (a) que se trata de um material de apoio, ou melhor,
de ponto de partida, inacabado. Porém, se bem aproveitado, como esperamos que
seja, poderá render frutos e desdobramentos na produção do conhecimento, por
meio da prática de pesquisa.
Nesta perspectiva, estudaremos importantes documentos oficiais, tais como a
Constituição Brasileira, de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, LDB nº
9.394/96, e o Plano Nacional de Educação, PNE 2014-2024 dentre outros, além de
textos analíticos e críticos sob o olhar de vários autores.
O texto está dividido em cinco unidades: Sistema de Avaliação e
Financiamento da Educação Básica; Aspectos Legais das Políticas Educacionais;
Sistema de Avaliação e Financiamento da Educação Básica; O Plano Nacional de
Educação (PNE); Um retrospecto da política educacional brasileira. Ao final de cada
unidade você desenvolverá algumas atividades orientadoras de leitura.

Bons estudos!

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Unidade II: Aspectos Legais das Políticas Educacionais

Objetivo: conhecer os aspectos legais das políticas educacionais e seus


desdobramentos na educação básica brasileira, com foco na formação humana.

2.1 – Constituição e Educação Básica no Brasil.

Silva e Silva se baseiam em Severino para quem as políticas educacionais devem


ser analisadas sob a ótica da significação ideológica, dividida em três períodos.

“O primeiro passa-se de 1500-1889, com a predominância da


ideologia católica. Observa-se que, nesse período, a educação
brasileira sofre influências do catolicismo, desenvolvido através da
evangelização missionária. O segundo período vai de 1889-1964,
com a consolidação do Liberalismo; após a proclamação da
República, a política educacional amplia suas perspectivas, pois,
com a república, nasce também o setor burguês moderno, que
supera o domínio religioso ocorrendo, nesse período, a consolidação
da ideologia liberal. Também é válido dizer que esse período é
caracterizado pelo abandono da ideologia católica por parte da
política educacional do Estado e pelo progressivo domínio da
ideologia liberal. O terceiro período é caracterizado pela supremacia
da ideologia tecnocrática, iniciada em 1964, e vai até a sociedade
contemporânea. Esse período efetiva-se em resposta à organização
dos trabalhadores nos anos 50 e 60, fase em que a economia
nacional passa a depender da economia do capitalismo internacional,
fazendo com que a educação sofresse reorientações impostas pelos
organismos internacionais” (SILVA; SILVA, 2010, p. 33).

Nos anos 1980, a sociedade brasileira passou a compreender a importância


da educação escolar para a construção da democracia no País.

Promulgação da Constituição de 1988, a Constituição “cidadã”

Fonte: http://www.ambientelegal.com.br/jacobinos-no-brasil-entenda-como-esse-fenomeno-prejudica-
a-nacao/. Acesso em 07/07/2018.

Segundo Cury (2002, p. 169), a Constituição Federal de 1988, no capítulo


próprio da educação, possibilitou as condições para que a Lei de Diretrizes e Bases

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da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, adotasse esse conceito já no § único do art.
11 ao assinalar a possibilidade de o Estado e os municípios se constituírem como
um sistema único de educação básica. Contudo, a educação básica é um conceito,
definido no art. 21 como um nível da educação nacional e que congrega,
articuladamente, as três etapas que estão sob esse conceito: a educação infantil, o
ensino fundamental e o ensino médio. E o art. 22 estabelece que a educação básica
“tem por finalidade desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores”.
De acordo com Cury (2002, p. 170), trata-se de um “conceito novo, original e
amplo em nossa legislação educacional, fruto de muita luta e de muito esforço por
parte de educadores que se esmeraram para que determinados anseios se
formalizassem em lei”. O autor cita ainda o artigo 205 da Constituição Federal no
qual a educação é “direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”.
Quanto a garantia, obrigatoriedade e acesso à educação, a Constituição
federal de 1988 estabelece:
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de
idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria; (Inciso com redação dada pela EC nº 59, de 2009) II –
progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Inciso com redação dada
pela EC nº 14, de 1996) III – atendimento educacional especializado aos portadores
de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – educação infantil,
em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Inciso com
redação dada pela EC nº 53, de 2006) V – acesso aos níveis mais elevados do
ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI –
oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII –
atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de
programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde. (Inciso com redação dada pela EC nº 59, de 2009) §1º O

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acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. §2º O não
oferecimento do ensino obrigatório pelo poder público, ou sua oferta irregular,
importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao poder público
recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto
aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
Observe alguns pontos importantes na história da educação básica no Brasil,
com base e Silva e Silva (2010, p. 35-37):
a) Na constituição de 1824, assegurava-se, no artigo 179, instrução primária
gratuita a todos os cidadãos, e que a lei de 15 de outubro de 1827
estabeleceu que fosse dever do Estado cuidar de todos os níveis de ensino.
Essa lei estabelecia a criação de escolas de primeiras letras em todas as
cidades e vilas mais populosas. Observa-se ainda que a educação brasileira,
até os meados de 1930, quase não sofreu mudanças; além disso, nessa
mesma década o processo de industrialização e urbanização, iniciado nas
primeiras décadas do século XX, alterou consideravelmente a cara do Brasil,
consequentemente influenciando os rumos da política educacional.
b) Na Constituição Federal de 1934, evidencia-se o ideal de
educação para todos como resultado da luta pela instituição da educação
como direito público e de responsabilidade do Estado. O Estado Novo (1937-
1945) vai ser influenciado pelas disposições previstas na Constituição de 34.
Observa-se ainda que a política educacional desse período reflete as tensões
e contradições que estavam presentes na sociedade brasileira;
c) Com a Constituição Federal de 1946 ocorreram discussões em
torno da educação brasileira, destacando-se a necessidade de elaboração de
uma Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional. Todavia, a LBD só
será aprovada em 1961, na forma da Lei nº 4.021/61.
d) Em 1971, surge outra Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, a Lei nº 5692/71. Essa “nova Lei” visava atender à demanda do
processo produtivo que incitava o país a repensar novas tarefas para a
Educação Nacional. Os legisladores da época insistiam que os jovens pobres
poderiam buscar qualificação profissional e contentarem-se com a formação
de ensino médio; os antigos cursos primário e ginasial foram substituídos pelo
ensino de 1º e 2º graus.

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e) A partir de 1988, o Brasil ingressa em um período de transição
política que resulta na elaboração de uma nova Constituição Federal, a de
1988. Esta nova Constituição possibilitou o surgimento de uma nova Lei de
Diretrizes e Bases da Educação nacional, a Lei nº 9394/96.
Fábio Konder Comparato observa que a Constituição de 1934 estabelecia o ensino
gratuito para todos nas escolas primárias, enquanto a Constituição de 1967
retrocede a uma situação anterior à de 1934 e, por vezes, acentua a privatização do
ensino (COMPARATO, 1987, p. 111).
Bárbara Freitag lembra que ao nível da legislação, as iniciativas
governamentais de maior destaque na área educacional no período de 1964 a 1975
encontram-se:
a) Na nova Constituição de 1967, ainda promulgada no Governo
Castelo Branco;
b) Na Lei 5.540 da reforma do ensino superior em 1968;
c) Na institucionalização do MOBRAL com os Decretos-lei 5.379 (de
1967), 62.4848 e, finalmente, a legislação de financiamento do
Movimento em 1970;
d) Na lei 5.692 de reforma do ensino de 1º e 2º graus de 1971;
e) No Decreto-lei 71.737 que verdadeiramente institucionaliza o
“ensino supletivo” previsto na lei 5.692 nos parágrafos 81, 91, 99.
(FREITAG, 1980, p. 80).

2.2 – Legislação da Educação Básica no Brasil.

Em primeiro lugar, o que é legislação?

De forma resumida, o portal da Câmara dos Deputados define:

“a legislação de um estado democrático de direito é originária de


processo legislativo que constrói, a partir de uma sucessão de atos,
fatos e decisões políticas, econômicas e sociais, um conjunto de leis
com valor jurídico, nos planos nacional e internacional, para
assegurar estabilidade governamental e segurança jurídica às
relações sociais entre cidadãos, instituições e empresas.”

A Legislação é constituída por meio do poder legislativo. Assim, de acordo


com Castro (2018), a legislação em âmbito educacional, refere-se aos
procedimentos de formação ocorridos não apenas nas instituições de ensino, mas
32
se dão também em outras instâncias culturais como a família, a igreja, a associação,
os grupos comunitários entre outros. Deriva do latim legislatio, e quer dizer,
exatamente, ação de legislar, que significa formular, estabelecer leis, regras,
princípios, determinar, preceituar. “A Legislação educacional traduz um conjunto de
preceitos legais sobre o tema educacional.”
Certamente é um tema bastante amplo e suscita debates dos mais diversos.
Desse modo, cabe delimitar alguns pontos de discussão, sem, contudo, minimizar a
questão. Assim, elegemos três elementos fundamentais para pensarmos a
legislação da educação básica no Brasil: o Conselho Nacional de Educação (CNE),
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e o Plano Nacional de
Educação (PNE).
Embora o Conselho Nacional de Educação tenha um histórico de formação
que se principia nos idos do início do segundo reinado, o atual CNE, órgão colegiado
integrante do Ministério da Educação, foi instituído pela Lei 9.131, de 25/11/95, com
a finalidade de colaborar na formulação da Política Nacional de Educação e exercer
atribuições normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação.
Segundo o portal do MEC, a ideia de um

Conselho Superior somente seria objetivada em 1911 (Decreto nº


8.659, de 05/04/1911) com a criação do Conselho Superior de
Ensino.
A ele seguiram-se o Conselho Nacional de Ensino (Decreto nº
16.782-A, de 13/01/1925), o Conselho Nacional de Educação
(Decreto nº 19.850, de 11/04/1931), o Conselho Federal de
Educação e os Conselhos Estaduais de Educação (Lei nº 4.024, de
20/12/1961), os Conselhos Municipais de Educação (Lei nº 5692, de
11/08/1971) e, novamente, Conselho Nacional de Educação (MP nº
661, de 18/10/94, convertida na Lei nº 9.131/95).

Quanto às atribuições do CNE elencam-se: normativas, deliberativas e de


assessoramento ao Ministro de Estado da Educação, na execução das funções e
atribuições do poder público federal em matéria de educação, competindo-lhe
formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino,
velar pelo cumprimento da legislação educacional e assegurar a participação da
sociedade no aprimoramento da educação brasileira. O CNE se compromete a:

1 - Consolidar a identidade do Conselho Nacional de Educação como


Órgão de Estado, identidade esta afirmada e construída na prática

33
cotidiana, nas ações, intervenções e interações com os demais
sistemas de ensino.
2 - Participar do esforço nacional comprometido com a qualidade
social da educação brasileira, cujo foco incide na escola da
diversidade, na e para a diversidade, tendo o PNE e o PDE como
instrumentos de conquista dessa prioridade.
3 - Articular e Integrar num diálogo permanente, as Câmaras de
educação básica e de educação superior, correspondendo às
exigências de um Sistema Nacional de Educação que, ultrapasse
barreiras burocráticas, mediante prática orgânica e unitária. As
câmaras devem intensificar o dialogo entre si. Não há subordinação
entre elas, pois representam níveis de ensino de um único sistema
nacional de educação. Estrategicamente, a articulação e integração
CES e CEB possibilita aperfeiçoar as leituras das diferentes etapas
do processo de escolarização, aproximando as câmaras, constituindo
um todo orgânico, que se exerce no Conselho Pleno e,
consequentemente, um verdadeiro Conselho Nacional de Educação.
4 - Consolidar a estrutura e diversificar o funcionamento do CNE.
Não queremos que ele responda apenas às demandas, mas que se
constitua em espaço de fortalecimento de suas relações com os
demais sistemas de ensino e com os segmentos sociais, espaço de
estudos para as comissões bicamerais, audiências públicas, fóruns
de debates, sempre cuidando da dotação de infraestrutura material
necessária e do quadro de pessoal próprio.
5 - Instaurar um diálogo efetivo, articulado e solidário, com todos os
sistemas de ensino (em nível federal, estadual e municipal), em
compromisso com a Política Nacional de Educação, em regime de
colaboração e de cooperação. Talvez este se constitua no desafio
maior para o CNE.
Fonte: http://portal.mec.gov.br/index.

Por sua vez, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB,


estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Esta lei está inserida num
contexto de mudanças, particularmente, segundo Antônio Joaquim Severino (2010),
de cunho jurídico-institucional decorrentes da Constituição de 1988. O autor destaca
que o CNE desde o final da década de 1990 tem realizado a regulamentação das
medidas determinadas pela LDB e pelo PNE1. Desta forma “foram aprovados os
Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino básico e as Diretrizes Curriculares
para os cursos do ensino superior, medidas que acarretaram reformas já
implantadas ou em implantação no Sistema nacional de Educação” (SEVERINO,
2010, p. 64). Mais adiante, o autor acrescenta: “impõe-se reconhecer que o texto
final da LDB é o resultado histórico possível frente ao jogo de forças e de interesses
em conflito no contexto da conjuntura política da sociedade brasileira, na época de
sua aprovação” (SEVERINO, 2010, p. 75).

1
Sobre este aspecto estudaremos mais adiante, nas unidades III e IV deste livro.
34
Trata-se de um processo relativamente longo no qual muitas discussões
foram estabelecidas antes e depois de sua promulgação.

Toda Lei nova carrega algum grau de esperança, mas carrega


alguma forma de dor, já que nem todos os interesses nela
previamente depositados puderam ser satisfeitos. Esta lei, de modo
especial, registra as vozes que, de modo dominante, lhe deram vida.
Mas registra, também, vozes recessivas umas, abafadas outras,
silenciosas tantas, todas imbricadas na complexidade de sua
tramitação. Por isso a leitura da LDB não pode prescindir desta
polifonia presente na Lei, polifonia nem sempre afinada, polifonia
dissonante (CURY apud FAGUNDES, p. 2-3).

Nesta perspectiva, o debate parece estar sempre em aberto, sobretudo à


medida que novas demandas vão surgindo em âmbito social, cultural, econômico e
educacional.
Quanto à praticidade cotidiana da Lei, tem-se nas disposições gerais do capítulo II
da LDB:
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-
lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe
meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores.
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos
semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados,
com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o
recomendar.
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de
transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como
base as normas curriculares gerais.
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive
climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de
acordo com as seguintes regras comuns:
I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para o ensino fundamental
e para o ensino médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo

35
trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando
houver; (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino
fundamental, pode ser feita:
a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase
anterior, na própria escola;
b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela
escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita
sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo
sistema de ensino;
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento
escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a
sequência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com
níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas
estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;
V - a verificação do rendimento escolar observará os seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos
aspectos qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período
sobre os de eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante verificação do
aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de preferência paralelos ao período
letivo, para os casos de baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
instituições de ensino em seus regimentos;
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola, conforme o disposto no seu
regimento e nas normas do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas letivas para aprovação;

36
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos escolares, declarações de
conclusão de série e diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com as
especificações cabíveis.
De acordo Cury (2008), a educação básica é um conceito que está para além da
inovação, sobretudo se lembrarmos de que o Brasil é um país, cujo histórico elitista
e seletivo, que negou por séculos o direito ao conhecimento pela ação escolar ao
grosso de seus cidadãos.
“Resulta daí que a educação infantil é a raiz da educação básica, o ensino
fundamental é o seu tronco e o ensino médio é seu acabamento. É dessa visão
holística de ‘base’, ‘básica’, que se pode ter uma visão consequente das partes”
(CURY, 2008, p. 295).
Relação de Leis e decretos educacionais a partir de 1996.
LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.
LEI Nº 9.424, DE 24 DE DEZEMBRO DE 1996 (Lei do Fundef) Dispõe sobre o
Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização
do Magistério, na forma prevista no art. 60, § 7º, do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, e dá outras providências.
63 LEI Nº 9.766, DE 18 DE DEZEMBRO DE 1998 Altera a legislação que rege o
salário-educação, e dá outras providências.
LEI Nº 11.096, DE 13 DE JANEIRO DE 2005 (Lei do Prouni) Institui o Programa
Universidade para Todos (Prouni), regula a atuação de entidades beneficentes de
assistência social no ensino superior; altera a Lei nº 10.891, de 9 de julho de 2004, e
dá outras providências.
LEI Nº 11.128, DE 28 DE JUNHO DE 2005 (Lei do Prouni) Dispõe sobre o Programa
Universidade para Todos (Prouni) e altera o inciso I do art. 2º da Lei nº 11.096, de 13
de janeiro de 2005.
LEI Nº 11.494, DE 20 DE JUNHO DE 2007 (Lei do Fundeb) Regulamenta o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), de que trata o art. 6º do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias; altera a Lei nº 10.195, de 14 de fevereiro de 2001;
revoga dispositivos das Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de 1996, 10.880, de 9 de
junho de 2004, e 10.845, de 5 de março de 2004; e dá outras providências.

37
LEI Nº 11.738, DE 16 DE JULHO DE 2008 (Lei do Piso Salarial) Regulamenta a
alínea e do inciso III do caput do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, para instituir o piso salarial profissional nacional para os profissionais
do magistério público da educação básica.
LEI Nº 11.788, DE 25 DE SETEMBRO DE 2008 (Nova Lei do Estágio) Dispõe sobre
o estágio de estudantes; altera a redação do art. 428 da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; revoga as Leis nos 6.494, de 7 de dezembro
de 1977, e 8.859, de 23 de março de 1994, o parágrafo único do art. 82 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996, e o art. 6º da Medida Provisória nº 2.164-41, de
24 de agosto de 2001; e dá outras providências.
LEI Nº 11.892, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2008 (Lei da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica) Institui a Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica, cria os institutos federais de educação, ciência
e tecnologia, e dá outras providências.
LEI Nº 12.711, DE 29 DE AGOSTO DE 2012 (Lei de Cotas de Ingresso nas
Universidades) Dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e nas
instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências.
137 LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014 (Lei do PNE) Aprova o Plano
Nacional de Educação (PNE) e dá outras providências. .
DECRETOS DECRETO Nº 3.276, DE 6 DE DEZEMBRO DE 1999 Dispõe sobre a
formação em nível superior de professores para atuar na educação básica, e dá
outras providências. .
187 DECRETO Nº 5.154, DE 23 DE JULHO DE 2004 Regulamenta o § 2º do art. 36
e os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, e dá outras providências.
DECRETO Nº 5.493, DE 18 DE JULHO DE 2005 Regulamenta o disposto na Lei nº
11.096, de 13 de janeiro de 2005.
DECRETO Nº 5.622, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2005 Regulamenta o art. 80 da Lei
nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional.

38
DECRETO Nº 5.773, DE 9 DE MAIO DE 2006 Dispõe sobre o exercício das funções
de regulação, supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos
superiores de graduação e sequenciais no sistema federal de ensino.
DECRETO Nº 6.003, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2006 Regulamenta a arrecadação,
a fiscalização e a cobrança da contribuição social do salário-educação, a que se
referem o art. 212, § 5º, da Constituição, e as Leis nos 9.424, de 24 de dezembro de
1996, e 9.766, de 18 de dezembro de 1998, e dá outras providências.
242 DECRETO Nº 6.253, DE 13 DE NOVEMBRO DE 2007 Dispõe sobre o Fundo de
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos
Profissionais da Educação (Fundeb), regulamenta a Lei nº 11.494, de 20 de junho de
2007, e dá outras providências.
DECRETO Nº 6.986, DE 20 DE OUTUBRO DE 2009 Regulamenta os arts. 11, 12 e
13 da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que institui a Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica e cria os institutos federais de
educação, ciência e tecnologia, para disciplinar o processo de escolha de dirigentes
no âmbito destes institutos.
Nº 7.022, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2009 Estabelece medidas organizacionais de
caráter excepcional para dar suporte ao processo de implantação da Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, criada pela Lei nº 11.892, de 29
de dezembro de 2008, e dá outras providências.
DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011 Dispõe sobre a educação
especial, o atendimento educacional especializado e dá outras providências.
DECRETO Nº 7.824, DE 11 DE OUTUBRO DE 2012 Regulamenta a Lei nº 12.711,
de 29 de agosto de 2012, que dispõe sobre o ingresso nas universidades federais e
nas instituições federais de ensino técnico de nível médio.
DECRETO Nº 8.142, DE 21 DE NOVEMBRO DE 2013 Altera o Decreto nº 5.773, de
9 de maio de 2006, que dispõe sobre o exercício das funções de regulação,
supervisão e avaliação de instituições de educação superior e cursos superiores de
graduação e sequenciais no sistema federal de ensino, e dá outras providências.
Fonte: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Legislação brasileira sobre educação, 3.
ed., Brasília: Edições Câmara, 2015.

39
Quadro 3- Como ficou a LDB após a lei nº13.415, de 2017.
Capítulo II- Da Educação Básica
Seção I – Das Disposições Gerais
Art. 24 - § 1º - Carga horária mínima anual a partir de 02 de março de 2017, passa a ser de
1.000 horas, devendo ser ampliada para 1.400 horas, no prazo máximo de 5 anos.
Art. 26 – § 2º trata do Ensino de Artes:
O que tinha: O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá
componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (Redação (Redação dada pela Lei nº12.287,
de 2010 ).
Na MP 746: O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá
componente curricular obrigatório da educação infantil e do ensino fundamental, de forma a
promover o desenvolvimento cultural dos alunos.
Como ficou: O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá
componente curricular obrigatório da educação básica. (Redação dada pela Lei nº13415, de
2017).
Art. 26 – § 3º trata da Educação Física:
O que tinha: A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (redação
dada pela Lei nº10.793, de 2003 )
Na MP 746: A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular obrigatório, da educação infantil e do ensino fundamental, sendo sua prática
facultativa ao aluno:
Como ficou: A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente
curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno: (Redação
dada pela Lei nº13.415, de 2017).
Art. 26 – § 5º trata das Línguas Estrangeiras:
O que tinha: Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da
quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha ficará a
cargo da comunidade escolar, dentro das estrangeira moderna, cuja escolha ficará a cargo da
comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição.
Na MP 746: No currículo do ensino fundamental, será ofertada a língua inglesa a partir do
sexto ano.
Como ficou: No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto ano, será ofertada a língua
inglesa. (Redação dada pela Lei nº13.415, de 2017).
Art. 26 – § 7º - Trata temas transversais
O que tinha: Os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da
proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios.
(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
Na MP 746: A Base Nacional Comum Curricular disporá sobre os temas transversais que
poderão ser incluídos nos currículos de que trata o caput.
Como ficou: A integralização curricular poderá incluir, a critério dos sistemas de ensino,
projetos e pesquisas envolvendo os temas transversais de que trata o caput. (Redação dada
pela Lei nº13.415, de 2017)
Art. 26 – Foi incluído § 10º que diz:
Na MP 746: A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obrigatório na Base
Nacional Comum Curricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de
homologação pelo Ministro de Estado da Educação, Educação, ouvidos o Conselho Nacional
de Secretários de Educação - Consed e a União Nacional de Dirigentes de Educação –
Undime.
Como ficou: A inclusão de novos componentes curriculares de caráter obrigatório na Base
Nacional Comum Curricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e de
homologação pelo Ministro de Estado da Educação. (Redação dada pela Lei nº13.415, de
2017).
Fonte:
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/176068/Apresentacao_Reforma_Ensi
no_Medio.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em 12 de julho de 2018.

40
2.3 – A Educação e os Direitos Humanos.

Os Direitos Humanos têm uma história remota. É possível encontrar seus


sinais na Antiguidade. E o estudante pode aumentar o seu arcabouço teórico
mediante o aprofundamento na pesquisa, mas não se trata, contudo, de buscar
origens. Todavia documentos escritos que afirmam os direitos individuais têm sido
considerados como os precursores de muitos dos atuais direitos humanos, tais como
a Carta Magna (1215) e a Petição de Direito (1628), ambas na Inglaterra; a
Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789); a Constituição
dos Estados Unidos (1787) e a Declaração dos Direitos dos Estados Unidos (1791).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e com a falência da antiga Liga Das Nações,
foi criada em 24 de outubro de 1945 a Organização das Nações Unidas. Três anos
mais tarde veio a público o documento que ficou conhecido como a Carta Magna
internacional apara toda a Humanidade: a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Em seu preâmbulo a Declaração considera que “o reconhecimento da
dignidade inerente a todos os membros da família humana e dos seus direitos iguais
e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo”. E
no artigo 26 defende que “1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução
será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos,
bem como a instrução superior, esta baseada no mérito”.
Quanto à educação em direitos humanos no Brasil, em 2013 a Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República publicou o Caderno de Educação
em Direitos Humanos: diretrizes nacionais. Esse documento tem o objetivo de
orientar a comunidade escolar e todos que são responsáveis pela educação,
sobretudo no que diz respeito à inclusão da prática da educação em direitos
humanos em todos os níveis de ensino.
O documento traz em sua apresentação um histórico evolutivo da educação
em direitos humanos no Brasil, tendo como marco principal a Constituição Federal
de 1988. Em 1996, o Brasil lança o Programa Nacional de Direitos Humanos I
(PNDH) e põe em prática o compromisso assumido na luta pela consolidação dos
direitos humanos. Seis anos depois, o PNDH foi reformulado; em 2010 foi lançado o
PNDH-3, que tem um eixo que trata da educação em direitos humanos.

41
O Eixo 5 do PNDH-3 trata da educação e da cultura em Direitos
Humanos e dialoga com o Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos (PNEDH) como referência para a política nacional de
Educação e Cultura em Direitos Humanos. O Plano Nacional de
Educação em Direitos Humanos (PNEDH) foi lançado em 2003 e
teve sua versão final em 2006. O PNEDH está respaldado em
documentos internacionais, notadamente no Programa Mundial de
Educação em Direitos Humanos (PMDH) e no seu plano de ação. A
Secretaria de Direitos Humanos, o Ministério da Educação e o
Ministério da Justiça assinam o PNEDH, que está constituído por
cinco eixos, a saber: educação básica; educação superior; educação
não formal; educação dos profissionais de Justiça e Segurança; e
educação e mídia. Em 2012, o Ministério da Educação aprova as
Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
(DNEDH). As diretrizes estão em consonância com a Constituição
Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(Lei nº 9.394/1996). As diretrizes têm como fundamento os seguintes
princípios: a dignidade humana; a igualdade de direitos; o
reconhecimento e a valorização das diferenças e das diversidades; a
laicidade do Estado; a democracia na educação; a transversalidade,
a vivência e a globalidade; e a sustentabilidade socioambiental
(BRASIL-SDH/PR, 2013, p. 7).

Em termos conceituais, o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos


(2006) compreende a

educação em direitos humanos é compreendida como um processo


sistemático e multidimensional que orienta a formação do sujeito de
direitos, articulando as seguintes dimensões:
a) apreensão de conhecimentos historicamente construídos sobre
direitos humanos e a sua relação com os contextos internacional,
nacional e local;
b) afirmação de valores, atitudes e práticas sociais que expressem a
cultura dos direitos humanos em todos os espaços da sociedade;
c) formação de uma consciência cidadã capaz de se fazer presente
nos níveis cognitivo, social, ético e político;
d) desenvolvimento de processos metodológicos participativos e de
construção coletiva, utilizando linguagens e materiais didáticos
contextualizados;
e) fortalecimento de práticas individuais e sociais que gerem ações e
instrumentos em favor da promoção, da proteção e da defesa dos
direitos humanos, bem como da reparação das violações.
Sendo a educação um meio privilegiado na promoção dos direitos
humanos, cabe priorizar a formação de agentes públicos e sociais
para atuar no campo formal e não-formal, abrangendo os sistemas
de educação, saúde, comunicação e informação, justiça e
segurança, mídia, entre outros (BRASIL/PNEDH, 2006, p. 17).

Desse modo, a educação tem um papel primordial, sobretudo no quesito


universalização da educação básica, com indicadores precisos de qualidade e de
equidade, o que a torna condição essencial para disseminar o conhecimento
42
socialmente produzido e acumulado e para elevar o processo de democratização da
sociedade brasileira em curso. Tem-se, pois, nas sociedades contemporâneas, que
a escola é lugar de estruturação de percepções de mundo e de consciência social,
de movimentação e de consolidação de valores capazes de promover a diversidade
cultural, a formação para a cidadania, a constituição de sujeitos sociais e o
desenvolvimento de práticas pedagógicas (BRASIL/PNEDH, 2006, p. 23).

O Plano propõe 27 ações programáticas para a educação básica,


reproduzidas na íntegra abaixo.

1. Propor a inserção da educação em direitos humanos nas diretrizes curriculares da


educação básica;
2. Integrar os objetivos da educação em direitos humanos aos conteúdos, recursos,
metodologias e formas de avaliação dos sistemas de ensino;

3. Estimular junto aos profissionais da educação básica, suas entidades de classe e


associações, a reflexão teórico-metodológica acerca da educação em direitos
humanos;
4. Desenvolver uma pedagogia participativa que inclua conhecimentos, análises
críticas e habilidades para promover os direitos humanos;
5. Incentivar a utilização de mecanismos que assegurem o respeito aos direitos
humanos e sua prática nos sistemas de ensino;
6. Construir parcerias com os diversos membros da comunidade escolar na
implementação da educação em direitos humanos;
7. Tornar a educação em direitos humanos um elemento relevante para a vida
dos(as) alunos(as) e dos(as) trabalhadores(as) da educação, envolvendo-os(as) em
um diálogo sobre maneiras de aplicar os direitos humanos em sua prática cotidiana;
8. Promover a inserção da educação em direitos humanos nos processos de
formação inicial e continuada dos(as) trabalhadores(as) em educação, nas redes de
ensino e nas unidades de internação e atendimento de adolescentes em
cumprimento de medidas socioeducativas, incluindo, dentre outros(as), docentes,
não-docentes, gestores (as) e leigos(as);
9. Fomentar a inclusão, no currículo escolar, das temáticas relativas a gênero,
identidade de gênero, raça e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com
deficiências, entre outros, bem como todas as formas de discriminação e violações
43
de direitos, assegurando a formação continuada dos(as) trabalhadores(as) da
educação para lidar criticamente com esses temas;
10. Apoiar a implementação de projetos culturais e educativos de enfrentamento a
todas as formas de discriminação e violações de direitos no ambiente escolar;
11. Favorecer a inclusão da educação em direitos humanos nos projetos político-
pedagógicos das escolas, adotando as práticas pedagógicas democráticas
presentes no cotidiano;
12. Apoiar a implementação de experiências de interação da escola com a
comunidade, que contribuam para a formação da cidadania em uma perspectiva
crítica dos direitos humanos;
13. Incentivar a elaboração de programas e projetos pedagógicos, em articulação
com a rede de assistência e proteção social, tendo em vista prevenir e enfrentar as
diversas formas de violência;
14. Apoiar expressões culturais cidadãs presentes nas artes e nos esportes,
originadas nas diversas formações étnicas de nossa sociedade;
15. Favorecer a valorização das expressões culturais regionais e locais pelos
projetos político pedagógicos das escolas;
16. Dar apoio ao desenvolvimento de políticas púbicas destinadas a promover e
garantir a educação em direitos humanos às comunidades quilombolas e aos povos
indígenas, bem como às populações das áreas rurais e ribeirinhas, assegurando
condições de ensino e aprendizagem adequadas e específicas aos educadores e
educandos;
17. Incentivar a organização estudantil por meio de grêmios, associações,
observatórios, grupos de trabalhos entre outros, como forma de aprendizagem dos
princípios dos direitos humanos, da ética, da convivência e da participação
democrática na escola e na sociedade;
18. Estimular o fortalecimento dos Conselhos Escolares como potenciais agentes
promotores da educação em direitos humanos no âmbito da escola;
19. Apoiar a elaboração de programas e projetos de educação em direitos humanos
nas unidades de atendimento e internação de adolescentes, que cumprem medidas
socioeducativas para estes e suas famílias;
20. Promover e garantir a elaboração e a implementação de programas educativos
que assegurem, no sistema penitenciário, processos de formação na perspectiva

44
crítica dos direitos humanos, com a inclusão de atividades profissionalizantes,
artísticas, esportivas e de lazer para a população prisional;
21. Dar apoio técnico e financeiro às experiências de formação de estudantes como
agentes promotores de direitos humanos em uma perspectiva crítica;
22. Fomentar a criação de uma área específica de direitos humanos, com
funcionamento integrado, nas bibliotecas públicas;
23. Propor a edição de textos de referência e bibliografia comentada, revistas, gibis,
filmes e outros materiais multimídia em educação em direitos humanos;
24. Incentivar estudos e pesquisas sobre as violações dos direitos humanos no
sistema de ensino e outros temas relevantes para desenvolver uma cultura de paz e
cidadania;
25. Propor ações fundamentadas em princípios de convivência, para que se
construa uma escola livre de preconceitos, violência, abuso sexual, intimidação e
punição corporal, incluindo procedimentos para a resolução de conflitos e modos de
lidar com a violência e perseguições ou intimidações, por meio de processos
participativos e democráticos;
26. Apoiar ações de educação em direitos humanos relacionadas ao esporte e lazer,
com o objetivo de elevar os índices de participação da população, o compromisso
com a qualidade e a universalização do acesso às práticas do acervo popular e
erudito da cultura corporal;
27. Promover pesquisas, em âmbito nacional, envolvendo as secretarias estaduais
e municipais de educação, os conselhos estaduais, a UNDIME e o CONSED sobre
experiências de educação em direitos humanos na educação básica.

Resumo

Nesta unidade, você aprendeu a importância dos aspectos legais das políticas
educacionais e seus desdobramentos na formação profissional e acadêmica. Nesse
contexto, evidenciam-se os impactos ideológicos, por meio de embates e disputas
no processo de construção das políticas educacionais, a partir da Constituição de
1988; da nova LDB de 1996; do PNE 2014-2024, dentre outros. É de grande valia o
entendimento da relação entre educação e direitos humanos.

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Atividades

1- Nos anos 1980, a sociedade brasileira passou a compreender a importância


da educação escolar para a construção da democracia no País. Explique.
2- O que é e como se constitui Legislação?
3- Releia o quadro 3 e discuta como ficou a LDB após a Lei nº 13.415, DE 2017.
4- Relacione Educação e Direitos Humanos.
5- Explique o que é e como se constitui legislação.

46
Referências

BRASIL. Constituição Federal.


file:///C:/Users/samsung/Downloads/constituicao_federal_30anos_53ed.pdf.

BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos : 2006/ Comitê


Nacional de Educação em Direitos Humanos. - Brasília: Secretaria Especial dos
Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2006.

BRASIL. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Educação


em Direitos Humanos: Diretrizes Nacionais – Brasília: Coordenação Geral de
Educação em SDH/PR, Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção e
Defesa dos Direitos Humanos, 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. http://portal.mec.gov.br/index. Acesso em 12 de


julho de 2018.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS. Legislação brasileira sobre educação, 3. ed.,


Brasília: Edições Câmara, 2015.

CASTRO, Amélia Hamze. Educação e legislação.


https://educador.brasilescola.uol.com.br/politica-educacional/educacao-
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COMPARATO, Fábio Konder. Educação, Estado e Poder. São Paulo: Editora


Brasiliense, 1987.

CURY, Carlos Roberto Jamil. A educação básica no Brasil. Educação e Sociedade.


Campinas, vol. 23, n. 80, setembro/2002, p. 168-200. Disponível em
htt://www.cedes.unicamp.br. Acesso em 5 de julho de 2018.

CURY, Carlos Roberto Jamil. A educação básica como direito. Cadernos de


Pesquisa, v. 38, n. 134, p. 293-303, maio/ago. 2008. In:
http://www.scielo.br/pdf/cp/v38n134/a0238134.pdf. Acesso em 12 de julho de 2018.

FAGUNDES, Isabel Junqueira. LDB – Dez anos em ação. In:


www.ipae.com.br/ldb/augustafagundes.doc. Acesso em 12 de julho de 2018.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS. In:


https://www.unicef.org/brazil/pt/resources_10133.htm. Acesso em 31 de maio de
2018.

47
SEVERINO, Antônio Joaquim, os embates da cidadania: ensaio de uma abordagem
filosófica da nova LDB. In: BRZEZINSKI, Iria. LDB dez anos depois: reinterpretação
sob diversos olhares, 3 ed., São Paulo: Cortez, 2010.

SILVA, Huanger Cardoso da; SILVA, Maria Nadurce. Política educacional


brasileira. Universidade Aberta do Brasil. Montes Claros: Editora Unimintes, 2010.

48

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