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DIREITO DAS COISAS

AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM


26/03/2020

Caso 1

A, em 2017, atribuiu a B o direito de caçar no seu prédio. Agora, A vendeu o prédio a C e este impede B de
aceder ao seu prédio para caçar.

Poderá B reagir?

O direito real é um poder direto e imediato sobre uma coisa.

✓ A caça é livre e muda de prédio em prédio. Não existe um direito real sobre a caça. O direito de B de
entrar no prédio de A é real ou não? Não! É um direito meramente obrigacional.
o Em causa está necessariamente que nós soubéssemos qual era cada um dos direitos reais, 1
para saber se aqui estava em causa ou não um direito real.
o Os direitos reais são de 3 tipos: direitos reais de gozo, direitos reais de garantia e direitos reais
de aquisição.
▪ Os de aquisição, a soberania traduz-se no poder de vir a adquiri um direito real de
gozo ou de garantia.
▪ O de garantia é o poder que o credor tem de promover a venda judicial do bem e com
isso satisfazer o seu crédito.
▪ Os direitos reais de gozo é o poder de transformar a coisa e também praticar atos de
oneração da coisa. Como o direito de usufruto, superfície, uso, habitação, servidões,
habitação periódica e o direito real de habitação duradouro.
o O direito de caçar não é:
▪ Um direito de usufruto que é o direito de usar e usufruir de coisa alheia.
▪ Um direito de superfície é o direito de fazer ou manter obra ou plantação em terreno
alheio. B não podia fazer ou manter qualquer obra ou plantação.
▪ O direito de uso é um direito mais pequeno do que o direito de usufruto, usufruir de
coisa alheia de acordo com as necessidades da sua família. B aqui só pode caçar, B
não pode colher os frutos que existam no prédio de A.
▪ O direito de habitação é um direito de habitar casa alheia. Aqui B não vai habitar.
▪ O direito real de habitação periódica é o direito de usar o alojamento para passar
férias. B não pode habitar o prédio de A.
▪ A servidão traduz-se no encargo imposto a um prédio em benefício de outro prédio,
quem beneficia é o proprietário do outro prédio. Também não está em causa.
o Não havia muito menos um direito de aquisição ou garantia.
o Em direitos reais vigora o princípio da taxatividade. Em causa não está um direito real. Ou
está um direito de crédito ou um direito pessoal de gozo.
o B tem um direito pessoal de gozo, porque não se integra em nenhum direito real. Permite ao
seu titular atuar direta e imediatamente sobre a coisa mediante compromisso prévio. Só é
eficaz perante A, é eficaz inter partes.
✓ A vendeu o prédio a C? Tem o direito real de propriedade.
o O novo proprietário pode impedir o titular do direito pessoal de gozo impedir de entrar no
seu prédio para caçar? Sim, pode impedir.
o Se B aceder ao prédio de C, que agora é dele, está a violar o dever geral de abstenção, que é
imposto sempre que existe um direito real.
✓ EM SUMA:
o C pode impedir e B nada pode fazer. Porque o direito de B não é eficaz entre quem quer que
seja, é apenas eficaz perante A.
o No limite, B poderá pedir uma indemnização a A por não lhe ter permitido continuar a caçar
no prédio, por ter transmitido o direito de propriedade.

Mariana Freitas
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Caso 2

A proprietário da fração X de um prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal, em Agosto de 2019,


deu-a em comodato a B, pelo prazo de 1 ano. Em Fevereiro passado A vendeu a referida fração a C que
pretende a sua imediata restituição. Será a pretensão de C legítima?

NOTA: O comodato é um empréstimo de uma coisa não fungível. O mútuo é o empréstimo de uma coisa
fungível.

Em primeiro lugar, vamos começar por qualificar o direito de comodato, A deu em comodato a B, um prédio
sujeito ao regime de propriedade horizontal.

✓ É um direito pessoal de gozo (eficaz inter partes).


✓ Em caso de dúvida sobre a natureza do direito o que temos de fazer é ver se o direito em causa se 2
podia ser visto como um direito real.
✓ O comodato não é usufruto, porque o usufruto é o direito de usar e fruir plenamente a coisa alheia.
✓ B tinha um direito pessoal de gozo perante A, não tinha perante mais ninguém.

Em segundo lugar, temos o facto de A ter transmitido o direito de propriedade a C, e querer a respetiva fração
e quer a imediata restituição.

✓ Prevalece o direito eficaz erga omnes, prevalece o direito do proprietário. Pode exigir a restituição.
✓ O C terá adquirido a propriedade da fração por mero acordo com A, a entrega da coisa não é
pressuposto para a aquisição do direito real, vamos desenvolver mais quando falarmos do princípio
da consensualidade (os direitos reais transmitem-se por mero efeito do contrato).

Vamos supor que B não entra a coisa a C. O que C pode fazer?

✓ Pode intentar uma ação de reivindicação. Nasce uma relação creditória.


✓ A partir do momento em que sabe que o novo proprietário quer a coisa de volta, se permanecer no
imóvel alheio estava a violar o dever de abstenção (quando alguém se mantem na esfera alheia).
✓ Se alguém viola o dever geral de abstenção nasce uma relação obrigacional pela força da qual o
titular do direito real pode exigir um determinado comportamento.
✓ Temos uma ação de reivindicação de entre as ações de defesa dos direitos reais, quando não tem a
coisa em seu poder. Temos ainda neste âmbito das ações de defesa dos direitos reais, a ação negatória
e a ação de simples apreciação.

EM SUMA:

✓ A pretensão de C é legitima.
✓ O B pode pedir indemnização perante A, porque apenas ele se vinculou perante C, deixando de
cumprir o acordado.

Caso 3

A constituiu a favor de B, em Janeiro passado, um direito de usufruto sobre uma moradia de que era
proprietário. B foi imediatamente para lá viver com a sua família. Acontece que, em inícios deste mês, C
adquiriu o direito de propriedade da moradia e ontem mudou a fechadura da porta. B terá fundamento
legal para reagir?

Temos o confronto entre dois direitos reais, o de propriedade e de usufruto.

Quanto ao direito de usufruto que A constituiu a favor de B:

Mariana Freitas
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✓ A constituiu a favor de B o direito de usufruto, o que quer dizer que limitou o seu direito de
propriedade. O proprietário pode tudo. Ao constituir este direito está a comprimir o seu direito de
propriedade.
✓ Antes o proprietário podia praticar todos os atos sobre a coisa, depois deste usufruto deixou de
poder fazer tudo. O proprietário ao constituir o direito de usufruto contraiu o seu direito de
propriedade. Quando o usufruto se extinguir o proprietário pode praticar de novo todos os atos
(característica da elasticidade).

C adquiriu o direito de propriedade:

✓ A quando transmite a propriedade tem de transmitir aquilo que tem, o que C adquire é a
propriedade onerada com um usufruto. Era suposto C respeitar o direito de B.
✓ É uma das hipóteses em que temos um concurso entre dois direitos reais. Tem de respeitar o direito 3
real que foi constituído antes da transmissão da propriedade a C.

C mudou a fechadura:

✓ Quando C mudou a fechadura da porta atuou de forma licita ou ilícita? Ilícita, atuou violando a esfera
de domínio de C, contrariando a posição do usufrutuário. Violou o dever geral de abstenção, faz
nascer uma pretensão real. Privou B da possibilidade de continuar a exercer o seu direito de usufruto.
✓ B pode reagir como?
o Ação negatória ou ação de reivindicação? Temos de saber se o titilar do direito real ficou
privado da coisa. Neste caso o usufrutuário ficou privado da coisa, logo pode intentar a ação
de reivindicação.
o Esta ação de reivindicação tem 2 pedidos:
▪ Reconhecimento do seu direito;
▪ A restituição da coisa.
▪ Ainda pode ser acompanhada de um pedido indemnizatório. Temos de frisar o
problema ao nível da prova.

Vamos supor o mesmo caso, mas o C não mudou as fechaduras, este o que está a fazer é a dizer que não
reconhece o direito B, mas a verdade é que não privou o B da casa. Qual a ação a intentar?

✓ Basta ser uma ação de simples apreciação.


✓ Só instauramos a ação de reivindicação, quando ficou privado do bem.
✓ A ação negatória envolve uma condenação. Nesta faz-se 3 pedidos:
o É o pedido que dá nome a ação, pede-se que o tribunal declare que a pessoa não tem direito
a atuar daquela forma.
o Ser reposta a situação em conformidade com o direito real.
o Aquele que violou o dever geral de abstenção não volte a praticar atos daquele cariz.
✓ O novo proprietário não mudou fechaduras, nem praticou nenhum ato material que seja preciso
eliminar, também não faz sentido a ação negatória, basta a ação de simples apreciação.
✓ Não valia a pena a ação negatória, porque não era preciso condenar C a um qualquer comportamento.

ASSIM: O titular de um direito de propriedade pode também onerá-la, pode mesmo assim vender, porque
continua proprietário. A transmissão a C é válida de acordo com o princípio da consensualidade. A pode
transmitir a coisa a C, mas transmite com os poderes que tinha o momento, por isso, transmite a propriedade
onerada pelo usufruto. Se transmite-se propriedade plena, transmitia-se propriedade alheia.

Caso 4

A, proprietário e possuidor do prédio rústico x, vendeu-o a B, por documento particular autenticado, em


Junho de 2010, tendo este começado imediatamente a transformar o imóvel numa quinta dedicada à

Mariana Freitas
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agricultura biológica. Há dois dias, B foi surpreendido pela manhã quando o vizinho C decidiu despejar duas
toneladas de composto orgânico no seu terreno, tendo consequentemente destruído a plantação de ervas
medicinais. Poderá B reagir?

NOTA: Uma coisa é ser proprietário e outra coisa diferente é ser possuidor.

A transmitiu o direito de propriedade a B:

✓ A venda de A para B foi feita por documento particular autenticado em junho de 2010, neste caso não
assume relevância. Mas poderia assumir se tivesse colocado outra data. DL 116/2008, até essa altura
os negócios jurídicos que tivessem por base bens imóveis tinha de ser por escritura publica. A partir
dessa data podia ser por escritura ou documento particular autenticado. Se fosse antes do diploma
era uma venda nula por vicio de forma. É perfeitamente válido do ponto de vista formal. 4
✓ B tornou-se proprietário independente de ter pago o preço ou feito o registo ou lhe ter sido entregue
a coisa, tem por base o princípio da consensualidade (os direitos reais transmitem-se por mero efeito
do contrato; com base de um contrato válido do ponto de vista substancial e do ponto de vista formal).
✓ NOTA: Temos de fazer referência ao diploma se for anterior a 2008.

C despejou duas toneladas de composto orgânico no seu terreno e destruiu a plantação de ervas medicinais:

✓ B pode reagir, sim! Tem o direito de propriedade, é um direito erga omnes. C violou o dever geral
de abstenção, gera uma relação creditória, uma pretensão real.
✓ Como não ficou privado da coisa não vai utilizar a ação reivindicatória. Não é ação de mera apreciação,
porque temos de repor a situação material de acordo com o estatuto do direito de B. C tem de ser
condenado a retirar as toneladas de composto orgânico. Tem de pedir que seja reposta a situação
em conformidade com o estatuto do direito real, ou seja, retirar de lá o entulho. Teria de recorrer à
ação negatória, porque tinha um pedido de condenação.
✓ Ele pode fazer um pedido de cariz obrigacional, porque afetou a plantação de ervas medicinais.
✓ Ação reivindicatória e a negatória estas servem para defender direitos reais. Se o titular do direito real
em simultâneo for possuidor pode recorrer a ambas quer a de direito real quer a da posse. Temos
ações para defender os direitos reais e ações para defender a posse.

Caso 5

A é proprietário de um imóvel que, desde o início de Março, se encontra em obras. Desde essa data, A coloca
todo o entulho num prédio rústico vizinho - pertencente a B - que não é cultivado há mais de uma década.
A atitude de A é lícita?

A está a colocar o entulho num prédio rústico vizinho:

✓ O prédio do vizinho não está a sofrer danos.


✓ A atitude de A não é licita, o direito de propriedade como qualquer outro direito real está em causa
uma relação de domínio ou soberania.
✓ Não causa dano, mas está a abranger o dever geral de abstenção. Existe a violação do direito de
propriedade de B. A atitude de A não licita, violou o dever geral de abstenção, logo fez nascer uma
pretensão real na esfera jurídica de B. B tem uma verdadeira relação creditória que nasce com a
violação do direito real.
✓ Através de que ação vai fazer valer a pretensão real? É através de uma ação negatória, com os pedidos
típicos desta: 1) que de declare que não é titular do direito; 2) que A seja obrigado a repor a situação
de acordo com o estatuto do direito real; 3) aquele que violou o dever geral de abstenção não volte a
praticar atos daquele cariz.
✓ Neste caso como o prédio não era cultivado não houve dano, os pedidos da ação negatória chegam
não é preciso somar o caso da indemnização.

Mariana Freitas
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✓ Temos de fazer referência a causa de pedir, que é o facto jurídico de onde surge o facto jurídico real.

NOTA: Quando falamos das ações reais, temos de dizer quais as ações, os pedidos, a causa de pedir e a prova
(a dificuldade da mesma).

Caso 6

A construiu uma casa, abrindo janelas na parede sul, deixando um intervalo de 50 cm entre as ditas janelas
e o prédio vizinho, pertencente a B.

a) A atuação de A foi conforme à lei?


✓ Não é possível construir até a estrema abrindo janelas; podem construir ate a estrema desde que
não se abram janelas.
✓ Terá de deixar a distância 1,5 m para abrir janelas, art. 1360º CC, restrições de vizinhança. 5

Logo, a atitude de A não foi conforme à lei.

b) Sendo a resposta à questão anterior negativa, que comportamento deve A agora assumir?
✓ Tem de fechar a janela.
✓ Existe uma pretensão real quando ocorre a violação do dever geral de abstenção.
✓ Na obrigação real supõe que seja o titular do direito real pelo simples facto de o ser a estar obrigado
a comportamento de conteúdo passivo ou ativo.
✓ As obrigações reais nascem tendo por fonte uma norma de direito publico, ou privado, ou convenção
das partes sempre que um norma de direito privado permita que as partes criem obrigações reais;
quando se violem restrições de vizinhança.
✓ Apesar de ser titular deste objeto, os poderes por vezes ficam aquém dos limites do direito.
✓ A não podia abrir as janelas porque lhe era imposto pelo seu próprio direito real.
✓ Quando se viola uma restrição por prática de atos que envolvam a alteração da situação material o
que acontece é que, se está a violar o direito de propriedade do vizinho, por um lado.
✓ Por outro lado, está a atuar em desconformidade com o estatuto do seu próprio direito.
✓ Em relação a A: num polo nasce uma pretensão real porque violou. No outro nasce uma obrigação
real porque violou o seu próprio direito.
c) Na hipótese de A nada fazer, como poderá B reagir?

Pode intentar a ação negatória. Não é a de reivindicação não ficou sem o prédio, vê é o seu prédio devassado.
Fazer os 3 pedidos de acordo com esta ação.

Se tivesse sido constituída uma servidão de vistas, a lei não prevê o prazo para as servidões também não impõe
que elas seja ad eternum.

Caso 7

A celebrou com B com contrato de mútuo. Para garantia do respetivo crédito, B exigiu que A constituísse um
direito real de garantia sobre o seu carro. Tendo o carro de A sofrido uma avaria mecânica grave, este
mandou repará-lo na oficina de C. Hoje, dia em que A pretendia retirar o carro da oficina, porque não pagou
a reparação, viu-se confrontado com a decisão de C de não lhe devolver o carro.

Terá C legitimidade para assim atuar?

Está em causa o facto de C ter ficado com o carro, porque A não pagou o mecânico:

✓ A hipoteca tem por objeto em regra imóveis.


✓ O penhor tem por objeto, um direito de crédito, direito transmissíveis.
✓ A hipoteca não envolve desapossamento. O penhor de coisa móvel envolve desapossamento.

Mariana Freitas
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✓ Poderíamos pensar que era um penhor, mas a hipoteca tem por objeto imóveis e moveis (carros,
navios, etc).
o Como é um carro, que é uma coisa móvel equiparado por lei aos imóveis, teríamos aqui uma
hipoteca. A tem uma hipoteca em relação a B.
✓ C tem direito de retenção. O direito de retenção está previsto no art. 754º e ss CC. É um direito real
de garantia com a especificidade, é uma forma de coação do devedor a pagar.
✓ Temos dois direitos reais de garantia: a hipoteca e o direito de retenção.

A tomada de posição de C coloca, de algum modo, em causa a garantia de B?

✓ Como temos 2 direitos reais. Temos aqui a preferência dos direitos reais de garantia.
✓ Se um dos dois intentar a ação executiva, qual deles se vai pagar primeiro?
o É preciso graduar a hipoteca e o direito de retenção, qual delas beneficia de preferência. 6
o A regra é que a prioridade é concedida pelo primeiro constituído.
▪ Se fosse entre duas hipotecas, a regra é dada pelo registo.
▪ Aqui temos em primeiro lugar uma hipoteca e depois o direito de retenção.
▪ Em primeiro lugar, deve o dono da hipoteca ver satisfeito o seu crédito e só depois
a retenção.
▪ Mas temos uma exceção à preferência, art. 759º/2 CC, neste caso quem vai receber
primeiro é o mecânico. Isso poderia por em causa ou não a posição de B; nesta
hipótese nada existe de injusto, o carro continua-se com a avaria se B promove-se a
venda judicial do carro era menor.
▪ Não existe qualquer tutela do terceiro de boa fé.
▪ O art. 754º CC
▪ Art. 755º/1 f) CC-só existe em PT e não no resto do mundo.

02/04/2020

Caso 8

A deu de arrendamento a B uma casa de praia durante o mês de Julho de 2019, tendo convencionado que,
a partir das 9 da manhã de dia 1 de Julho, a pessoa responsável pela limpeza da casa entregaria a respetiva
chave a B. De seguida, A deu de arrendamento a mesma casa, pelo mesmo período de tempo, a C. Chegado
o dia 1 de Julho, a chave não foi entregue a B, pois C já se encontrava instalado na casa. Quem tinha direito
a ficar na casa, B ou C, tendo em conta que ambos celebraram contrato de arrendamento e pagaram
antecipadamente a renda?

QUESTÃO: Quem tem direito a ficar na casa? Temos dois contratos de arrendamento num deles temos a
entrega da chave e noutro não.

O direito que resulta do contrato de arrendamento e da entregue da chave é real ou não?

✓ À primeira vista, parece que temos um conflito entre dois direitos pessoais de gozo (mas NÃO!)
✓ O direito pessoal de gozo é um terceiro género entre os direitos reais e os direitos de crédito, porque
o titular satisfaz o seu interesse porque atua direta e imediatamente sobre a coisa; tem eficácia inter
partes.
✓ Distingue-se dos direitos reais porque a sua fonte não é uma relação de domínio ou soberania, mas
sim um contrato. Os direitos pessoais de gozo só são eficazes inter partes e os direitos reais são erga
omnes.
✓ Estes direitos também se distinguem dos direitos de créditos, porque atribuem ao seu titular um
poder direto e imediato sobre a coisa.
✓ O núcleo do direito está no poder direto e imediato sobre a coisa e por isso mesmo, só existe direito
pessoal de gozo após a entrega da coisa.

Mariana Freitas
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o Só depois da entrega é que o titular pode exercer poderes sobre ela, é que tem este direito.
Este direito ad início não é mais do que uma relação creditória, só depois da entrega da coisa
é que temos um direito.
✓ Neste caso quem tem direito pessoal de gozo?
o De um contrato de arrendamento não nasce imediatamente o direito pessoal de gozo.
o Ambos com a mera celebração do contrato de arrendamento, apenas ficaram integrados
numa relação de cariz obrigacional.
o Só depois de se poder exercer o poder direto e imediato sobre a coisa é que temos direito
pessoal de gozo.
✓ Quando em conflito estão dois direitos de crédito, a solução passa por deixar que o devedor resolva
quais os créditos quer satisfazer; satisfazendo um e indemnizando outro.
✓ Quando temos dois direitos reais de garantia, é o primeiro constituído ou aquele que o legislador dá 7
prioridade.
✓ No conflito entre o direito real e o direito de crédito prevalece o direito de real, mesmo que
posteriormente constituído.
✓ Se estivermos perante direitos pessoais de gozo, aplicamos o art. 407º CC, prevalece o mais antigo
em data.

ASSIM: Para haver dois direitos pessoais de gozo ambos tinham de receber as chaves.

Vamos supor que B não tinha recebido a chave dia 1 de julho e tinha recebido imediatamente a chave. O
senhorio tinha dado aos dois a chave: ambos teriam direitos pessoais de gozo, por isso aplicávamos o art.
407º CC. Quando em causa estão dois sujeitos que já podem exercer poderes direitos e imediatos sobre a
coisa.

EM SUMA: Aqui temos um direito pessoal de gozo e um direito de crédito: aplica-se o art. 407º CC, mas com
um argumento de maioria de razão, quando em causa está um direito de crédito prevalece o direito pessoal
de gozo. Por isso, sendo o direito de crédito que tem menos tutela; aquele que deve ter mais preferência é o
direito pessoal de gozo, como foi o primeiro que recebeu a chave e entrou no gozo da coisa.

Quem tem direito a ficar com a casa é o C.

Caso 9

Os proprietários dos olivais sitos em determinado Concelho acordaram que passariam a laborar toda a
azeitona em um determinado lagar da região. Tendo, entretanto, um dos olivais sido transmitido, pergunta-
se: O novo proprietário está vinculado por tal acordo? Vamos imaginar que o acordo foi feito com o intuito
de independente de quem é o proprietário tem de ficar vinculado ao acordo.

Não estaria.

As obrigações reais são obrigações que impedem sobre o titular do direito real só pelo simples facto de o ser.
O que as pessoas queriam era criar uma nova obrigação real. As obrigações reais apenas podem emergir de
uma norma de direito público, uma norma de direito privado, por uma convenção das partes sempre que o
direito privado ou lei a permita; podem surgir da violação de restrições em matéria das relações de
vizinhança. Estes são as fontes das obrigações reais.

A possibilidade dos proprietários criarem uma obrigação deste género não pode ser. As obrigações reais
estão subordinadas ao princípio da taxatividade (só aquelas que são permitidas; não se podem criar estas).

✓ Porque que estão sujeitas a este princípio? De acordo com a nossa posição as obrigações reais fazem
parte do conteúdo do direito real, estão por isso, sujeitas ao princípios dos direitos reais. As
obrigações reais fazem parte dos direitos reais, não são realidades distintas. Quem define quais são
os direitos reais é o legislador.

Mariana Freitas
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NOTA: Nem todas as obrigações reais na nossa perspetiva são ambulatórias.

Caso 10

Num prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal, a fração do rés do chão direito foi dada de
arrendamento e no contrato foi convencionado que o pagamento do condomínio ficaria a cargo do inquilino.
Chegada a altura de pagar o condomínio o proprietário da referida fração recusa-se a efetuar a prestação
devida. Poderá fazê-lo?

A obrigação de pagar o condomínio é uma obrigação autónoma ou real? É real, porque as pessoas não estão
vinculadas. É não autónoma não emerge de um acordo, nem emerge de um contrato que gere
responsabilidade.

No momento, o pagamento da obrigação é dos inquilinos. Mas no dia em que o inquilino não pagasse, não se 8
podia exigir o pagamento a este, porque não tinha assumido perante os outros; é eficaz inter partes. O acordo
é válido. Mas caso algum dia o inquilino não cumpra a obrigação assumida, é o proprietário que tem de pagar,
uma vez que o acordo que efetuou com o inquilino é apenas eficaz entre o proprietário e o inquilino.

O proprietário da referida fração se o inquilino não pagasse, tinha de ser o proprietário a fazer. Depois
poderia “acertar” as coisas entre ambos.

Perante os outros condomínios quem é o responsável é o proprietário, sempre. O condomínio é uma


obrigação real que tem como sujeito passivo o titular do direito real, neste caso o titular da propriedade
horizontal.

Na hipótese de a fração ter sido alienada, quem seria o responsável pela realização da prestação, o atual
ou o anterior condómino?

Quem paga o antigo proprietário ou o novo?

✓ Existe quem entenda que as obrigações reais são sempre ambulatórias. Transmitindo-se o direito real
também se transmite as obrigações reais. Portanto, o novo titular adquiria o direito com as obrigações
que estiverem no seu conteúdo.
✓ Drª Mónica Jardim diz que essa solução pode ser muito injusta.
o Se as obrigações forem obrigações de fazer, essas são ambulatórias, porque não existe outra
solução, só pode praticar atos na coisa, quem for titular de um direito real. As obrigações tem
de ser sempre ambulatórias.
o As obrigações de dare depende devem ser:
▪ Ambulatórias sempre que os pressupostos materiais que lhe deram origem, ainda se
revela na coisa.
▪ Se ao invés os factos que lhe deram origem não estiver objetivados na coisa, não for
manifesta, não deve ser vista como obrigação ambulatória.
▪ Porque o novo adquirente não tem possibilidade de saber se existe ou não,
precisamente porque os pressupostos matérias não são publicitados, não são
conhecidos; outra razão porque na maioria das vezes a prestação que deve ser
realizada é um uso ou fruição que já ocorreu.

Exemplos:

➔ 1) O titular de um direito de superfície pode estar obrigado a efetuar uma prestação periódica porque
está a exercer um direito real de gozo sobre a coisa de outrem; se transmitir esse direito sem cumprir
a obrigação; está a impor a obrigação ao novo superficiário é como que o novo superficiário vá pagar
a contraprestação no uso da coisa da esfera jurídica do anterior.

Mariana Freitas
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➔ 2) Se está os elevadores arranjados, aquele senhor que não tinha cumprido essas prestações extra
resolver vender a sua fração, o adquirente porque adquiriu uma fração com tudo perfeito, tem pagado
mais; não seria justo impor a este que já pagou mais pagar a segunda vez. Não era justo.
➔ 3) Sempre que os pressupostos materiais que deram origem a obrigação não estiverem materializados
na coisa e não foram suscetíveis de ser conhecidos, não deve ser esse adquirente, o titular da
obrigação. Devemos entender que quando se constituiu a obrigação real autonomizou-se do direito
real e foi para a esfera do direito real do antigo adquirente.

No nosso caso, a pessoa que devia a prestação era o inquilino em vez de pagar, transmitiu. Quem vai pagar?
O novo ou antigo condomínio? Temos uma obrigação de dare, é o antigo, porque os pressupostos materiais
que deram origem a obrigação não são publicitados, e quem a exerceu é o antigo condómino. Quem
beneficiou isso foi o antigo. 9
Caso 11

A, titular do direito de usufruto sobre a casa de que B é proprietário, está obrigado a proceder às reparações
no telhado, nos termos do art. 1472/1 do Código Civil.

a) Na hipótese de A transmitir o seu direito de usufruto a C deixará de estar vinculado por tal
obrigação?

Temos um caso de um direito de usufruto sobre uma casa de que B é proprietário: os direitos reais menores
ou direitos sobre coisa alheia são direitos sobre coisa que pertencem a propriedade de outrem o direito de
propriedade contrai-se.

A é titular de um direito de usufruto é o direito menor de gozo, é o direito mais amplo a seguir à propriedade;
porque pode usar e fruir coisa alheia; administrar ou transformar, coisa alheia, desde que não introduza
alterações na coisa em desconformidade daquilo que está na lei.

Está obrigado porque é ele que está a tirar os frutos, a fazer as reparações no telhado, é um obrigação real,
impende sobre o titular do usufruto, pelo simples facto de o ser.

O que se pergunta é na hipótese de o usufrutuário transmitir o direito deixa de estar vinculado? O


usufrutuário pode transmitir o direito de usufruto, art. 1444º CC; não pode transmitir a coisa, mas pode
transmitir o direito. Pode onerar o direito com a hipoteca se o objeto de usufruto for um imóvel.

Se transmitir o usufruto a C, vai continuar obrigado a reparar o telhado, ou é C? Como é uma obrigação real
de facere que envolve a prática de atos na coisa e não é a entrega de uma prestação pecuniária; assim só
podem ser cumpridas por quem exerça poderes sobre a coisa. É uma obrigação ambulatória. As obrigações
de fazer são ambulatórias.

É C, porque A já não pode praticar coisas na coisa alheia, agora quem tem o poder de usufruir é C.

b) Poderá o usufrutuário eximir-se dessa despesa?

Pode através da renúncia liberatória.

✓ O titular do direito real que está vinculado com a obrigação real, por ser titular do direito real, essa
é a especificada. Logo, se quem é o titular do direto real, liberta-se da obrigação, se renunciar ao
direito a favor do credor, deixa de estar obrigado.
✓ O usufrutuário podia recorrer a renuncia liberatória, art. 1472º/3 CC.
o Quando se renuncia através de negócio jurídico unilateral recetício para com o credor e
oneroso.
o Vai sair beneficiário o proprietário, porque tinha o seu direito comprimido por um direito de
gozo menor.

Mariana Freitas
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o O titular de uma obrigação real pode libertar-se dela mediante renuncia liberatória. Esta no
fundo é como se uma obrigação real fosse uma obrigação facultativa. É o conteúdo
alternativo. Esta possibilidade da renúncia está prevista em usufruto, servidões, etc.

A renuncia é uma possibilidade, em regra os titulares dos direitos reais não recorrem a ela porque rende mais
monetariamente, cumprirem a obrigações e depois transmitir o direito. Em regra, não há grande procura por
esta figura.

Caso 12

Em Janeiro passado, o administrador de um prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal, celebrou,


no âmbito dos seus poderes atribuídos pela Assembleia de Condóminos, um contrato com B que se obrigou
a reparar o telhado pelo valor de 20.000 euros, desde que tal valor lhe fosse entregue antes da obra. Todos 10
os condóminos contribuíram para a despesa, mas o administrador não entregou o valor a B e este, por isso,
recusa-se a proceder à reparação. Alguns condóminos recusam-se a realizar nova prestação, afirmando que
já cumpriram a sua obrigação. Terão razão?

Eles continuam a ter uma obrigação real. Por isso. Não tem razão.

✓ Nem sempre se extinguem pelo cumprimento. A regra é que extinguem pelo cumprimento. Não se
extinguem se os pressupostos estiverem na coisa.
✓ A verdade é que o administrador não entregou o dinheiro a B; enquanto este tiver a necessidade de
ser reparado, é como se a obrigação real nasce-se a todo o momento, até que os pressupostos
desaparecem. Só se extinguem pelo cumprimento, quando os pressupostos materiais que lhe deram
origem desapareçam.

Caso 13

Em Janeiro de 2019, A, proprietário de um souto de castanheiros, vendeu a B, 50 castanheiros, que foram


marcados a tinta vermelha com o nome do comprador. Em Janeiro de 2020 A vendeu o prédio a C, que se
arroga titular dos 50 castanheiros. Diga se B tem algum direito e como poderá fazê-lo valer judicialmente.

✓ B tem um direito real, o direito de propriedade sobre as árvores ligadas ao solo; temos propriedade
superficiária ou direito de superfície.
✓ Um direito real incide sobre coisa certa, atual e determinada. Aqui está em causa um direito de
propriedade sobre o souto de castanheiros. A propriedade dos imóveis corresponde ao solo, ao
subsolo e a propriedade aérea. O direito de propriedade é um direito muito amplo.
✓ Mas temos exceções: onde temos hipóteses em que o legislador veio permitir um desmembramento
do objeto, como é o caso das águas que podem ser vendidas permanecendo proprietário do prédio
aquele que já o era.
✓ Em relação a árvores ou obras existentes no prédio, o legislador também admite esses
desmembramentos. Através do direito de superfície temos essa possibilidade, art. 1528º CC. Portanto,
por força deste direito de superfície, passa a ser um o proprietário do solo e o outro o proprietário das
árvores.
✓ O direito de superfície tem 2 modalidades:
o 1) É o poder de fazer obra ou plantação em prédio alheio; depois de esta estar feita, continuar
com esta sobre o solo alheio:
▪ Esta modalidade num primeiro momento é um direito menor de gozo, o direito de
superfície;
▪ Num segundo, depois da obra ou plantação, o superficiário tem o direito de a manter
(direito real menor) e torna-se proprietário superficiário do que plantou (direito de
propriedade sobre aquilo que plantou (art. 1524º CC).

Mariana Freitas
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o 2) O direito de superfície pode constituir-se através da alienação de árvores que já existiam
no prédio
▪ O direito de superfície desde que surge como um direito real menor e em simultâneo
como propriedade das obras ou das arvores. É um proprietário superficiário.
▪ Esta propriedade não é plena, não é exclusiva supõe sempre a existência do direito de
propriedade sobre o solo.
▪ Em matéria de direito de superfície, ao dono da obra tem o poder de vender a obra;
não é transmitir o direito.

Quando A vende a C só pode estar a vender a propriedade onerada com o direito de superfície a B. Os
castanheiros são de B e tem o direito de os manter lá. O C não é proprietário dos castanheiros, bem como
tem de os manter lá. 11
Podemos falar no princípio do nemo plus iuris, A quando vende a C só pode transmitir aquilo que tem. A só
pode transmitir propriedade onerada com o direito de superfície de B.

A solução do caso podia mudar se tivéssemos em conta a regra do registo:

✓ Se ninguém tivesse registo nem B, nem C; C tinha de respeitar igualmente o direito de B.


✓ Se ambos registaram, mas o B primeiro, o registo feito a favor de B, era direito de propriedade onerado
com direito de superfície.
✓ Se B não regista e C regista propriedade plena, C ganhava e era o proprietário pleno; não obstante A
já não ser proprietário pleno, art. 5º CRPredial, onde temos uma exceção do nemo plus iuris.

Caso 14

Em Novembro de 2019 através de documento particular A atribui a B o direito de este plantar 500 nogueiras
num prédio seu e o direito de explorar as ditas árvores durante 40 anos com a obrigação de pagar um
quantitativo por ano. B plantou as árvores e começou a explorá-las. Em Janeiro de 2020 A vendeu o prédio
a C, que não reconhece qualquer direito a B. Diga se B tem algum direito e como poderá fazê-lo valer
judicialmente.

Não é usufruto:

✓ Porque o artigo que dá a noção de usufruto é o direito de gozar, fruir e fazer seus os frutos, temporária,
mas plenamente uma coisa ou direito alheio, desde que não altere a forma ou substância. A é o dono
do prédio e continua a ser, mas não deixa de administrar o prédio, não pode praticar atos que seja
aquilo que A deixou. B não tem um direito pleno.

É direito de superfície:

✓ Na primeira modalidade, está é a dizer que autoriza a plantar árvores no meu prédio e pode ter lá as
árvores por X tempo e depois pode manter coisa própria em coisa alheia. B é proprietário das arvores.
B teve o direito de fazer a plantação e depois manter. É o art. 1524º CC onde tem esta modalidade de
exercer as duas coisas (o direito de plantar e depois a propriedade sobre as arvores).

Este direito de superfície pode ser temporário ou perpétuo.

✓ Neste caso é temporário, durante 40 anos. Depois desse anos, o direito de superfície extinguia-se; o
direito de propriedade do dono do solo expandia-se e tornar-se-ia dono das 500 árvores.

C não reconhece o direito a B; B é o titular do direito de superfície. B pode reagir por causa do seu direito de
superfície. A solução é esta se ambos não tiverem registado; se B tiver registado e C não. Se C registou com
propriedade plena, B já não tem o direito.

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A extinção do direito de superfície temporário, art. 1538º CC sobre a questão de reexpansão do direito.
Extingue-se o direito de superfície tamos uma reexpansão do direito de propriedade.

NOTA: No Brasil, não se admite direito de superfície perpétuo.

Entre nós também é admitido o direito de superfície do subsolo, art. 1525º CC. O proprietário do imóvel em
vez de permitir que alguém faça uma obra no solo, pode ser no subsolo; também é um direito de superfície,
como parques de estacionamento. No Brasil, não temos direito de superfície no subsolo.

Não tendo B ser privado a coisa, não tem de aplicar a ação de reivindicação. Bastará a B uma ação de simples
apreciação positiva do direito. Nem uma ação negatória.

Caso 15
12
Em Fevereiro de 2020, A, proprietário de um terreno e emigrado, há muitos anos, no Brasil, concedeu a B,
por documento particular autenticado, o direito de usar um terreno sito nos arredores de Coimbra para
instalar e manter uma exploração agrícola dedicada a produtos hortícolas pelo prazo de 30 anos. Há cerca
de duas semanas, B apresentou a registo o seu direito, mas o conservador tem dúvidas quanto à
suscetibilidade de registo deste direito. Terá razão para tal?

De acordo com o art. 2º CRPredial, os direitos sujeitos a registo são só os direitos reais e o direito de
arredamento por mais de 6 anos.

O conservador tem dúvidas se é ou não um direito real.

✓ Na hipótese anterior tínhamos o direito de plantar as nogueiras; aqui A atribui a B o direito de fazer
uma exploração de produtos hortícolas durante 30 dias. Ele tem o direito de instalar e manter uma
exploração agrícola, ele vai fruir, mas apenas dos frutos da coisa que ele plantar.
✓ A grande diferença é que o legislador em matéria de direito de superfície, permite que o superficiário
possa fazer obra ou plantação não tem de ser necessariamente um edifico, tem de ser algo que se
incorpore ao solo, no sentido de formar uma nova realidade.
✓ Como aquela obra está incorporada, passa a pertencer ao dono do solo. É a plantação de lago
duradouro, não se pretende abarcar no direito de superfície a plantação de produtos hortícolas. Tem
de ser algo que de origem a um novo corpo, uma coisa duradoura.
✓ A lógica em matéria de direito de superfície é que a obra ou plantação tem de ser uma das daquelas
que dê origem a acessão industrial imobiliária, art. 1340º CC:
o O que diz é se alguém fizer uma obra ou plantação num prédio que não é seu, diferente da
que antes existia, verificados determinado pressupostos pode adquirir o solo, se o valor da
nova realidade predial foi superior, dentro da velha máxima que o proprietário é dono de
tudo.

Neste caso não estamos perante um direito de superfície, se as partes tiveram a intenção de criar um direito
real, não fizeram. Porque estes estão sujeitos ao princípio da taxatividade. Art. 1306º CC, assim não existe
direito real, temos um direito de crédito. O conservador não tem de o registar.

Se as partes convencionaram este direito como se fosse direito real, este negócio só vai produzir efeitos
obrigacionais.

16/04/2020

Caso 16

Em Setembro de 2019, A celebrou com B um contrato, nos termos do qual B se tornava usufrutuário de um
prédio rústico, no qual estava plantado um pomar de limoeiros e laranjeiras e que pertence em propriedade
ao primeiro. Do contrato de constituição do direito de usufruto faz parte uma cláusula nos termos da qual o

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usufrutuário B está autorizado a cortar as árvores plantadas na metade sul do prédio para construir uma
casa de habitação. O negócio foi celebrado por documento particular autenticado e, quando B apresentou
o direito a registo, foi confrontado com a recusa de inscrição. Terá esta recusa fundamento legal?

QUESTÃO: Não é possível constituir desta forma o usufruto? Ou o problema está com o conservador?

✓ O documento particular autenticado está correto. O registo em PT não é condição para aquisição de
direito, por isso vale entre nós a consensualidade. O registo não é constitutivo.
o Nada está mal quanto à forma do negócio, documento particular autenticado.
o Nada estava mal quanto ao pedido do registo.
o Art. 875º CC e de acordo com o art. 80º Código do Notariado está tudo bem.

Para o conservador ter recusado o registo é porque estava alguma coisa mal quanto ao conteúdo. Temos 13
algum problema substancial? Algo que não esteja em consonância com a lei?

✓ O usufrutuário não pode alterar a forma e a substância da coisa. Isto implica a alteração da coisa.
✓ O prédio rustico vira a sua coisa alterada e viraria um urbano. Já não pode constar.
✓ Este artigo que nos diz que o usufrutuário não pode alterar a forma e substância da coisa é uma norma
imperativa ou não? Até ao 1445º CC são imperativas.
✓ Apesar de o direito de usufruto ser um direito que consubstancia um tipo aberto, de ser uma clara
exceção, ao princípio da taxatividade. Porque o legislador no art. 1445º CC vem dizer os direitos do
usufrutuário são aqueles que foram convencionados.
✓ Pode usar plenamente, mas sem alterar a forma e substância.
✓ A clausula seria nula porque era contrária a lei e violadora da clausula de taxatividade.

No caso concreto não temos elementos que nos permitam ir muito alem.

Temos uma alteração de forma porque passa a ter uma construção. Da substância porque em vez de ser um
prédio rustico passa a ser um prédio urbano. Alterar um prédio rustico para um urbano seria substância. Uma
alteração de substância por exemplo eu converto uma vinha num eucaliptal; a natureza, a produtividade do
prédio altera-se.

Se se exclui-se a clausula tínhamos o usufruto.

Se eles celebraram um contrato com um direito real, mas com um regime diferente daquele que está na lei-
princípio da taxatividade, art. 1306º CC. As partes não podem convencionar direitos diferentes daqueles que
estão na lei. Os direitos são os previstos na lei, o conteúdo é o previsto na lei, mas aqui e ali o legislador
permite que as partes definam o regime.

No art. 1306º CC somos confrontados com a parte final do nº 1, a lei impede as partes de criarem as restrições
e ainda são direitos reais menores dos previstos na lei. O legislador estatui as restrições previstas na lei.

Oliveira Ascensão diz que um negócio nulo pode se converter em negócio obrigacional (num negócio que se
queria como real, é nulo e converte-se para obrigacional). O curso segue a posição de Orlando de Carvalho, o
negócio real era visto como nulo, tinham celebrado um negócio obrigacional. Esta parte final do nº1 do art.
1306º CC significa que o legislador estabelece a presunção do segundo requisito do art. 293º CC; em princípio
converte-se em obrigacional.

O que quer dizer que B quando confrontado de ficar apenas com direito de crédito sobre o prédio de A; pode
dizer que não. Sendo assim B pode quer que o negócio seja visto como nulo, não produz efeitos. B entrega o
terreno e pode receber o preço.

O art. 293º CC dá-nos as regras para um negócio nulo. Dizendo que se pode transformar num negócio valido.

Assim, B passaria a ser titular de um direito pessoal de gozo. Conversão legal sem prova legal de requisitos.

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O curso diz que quando o legislador diz que o negócio produz efeitos meramente obrigacionais; o negócio é
nulo e pode ser convertido; o legislador presume desde já o segundo requisito do art. 293º CC.

No nosso caso, segundo o curso B vai ser titular de um direito pessoal de gozo, em princípio, e pode fazer
tudo o que queria. Mas B pode dizer que não quer, pode querer que seja nulo e assim, não quer a conversão.

Como é evidente o conservador teve razão em não quer o registo. Temos uma invalidade substancial.

Caso 17

Em Março de 2014, A celebrou com B um contrato, nos termos do qual B se tornava usufrutuário de um
estábulo propriedade do primeiro. Deste faz parte uma cláusula autorizando B a utilizar o estábulo como
armazém de madeiras, caso o volume de negócios da madeireira que agora começou a explorar venha
mostrá-lo necessário. Será esta cláusula válida?   14

A substância não se altera porque o estabulo continua exatamente como é, não se disse que ia destruir
alguma coisa. A substância mantem-se. Em vez de estarem animais passa a estar madeira. Passa a ter outra
finalidade, é um fim diverso.

Art. 1446º CC, nos termos do qual o usufrutuário pode usar, fruir do direito, como um bom pai de família,
respeitando o destino económico do estábulo. Temos uma alteração do destino económico. De acordo com
o art. 1446º CC o usufrutuário pode usar e fruir da coisa como um bom pai de família. O curso entende que
pode alterar o destino económico da coisa, de acordo com o Dr. Oliveira Ascensão.

Sabemos que até ao 1445º CC são imperativas, depois os restantes artigos passam a ser normas supletivas.
O art. 1446º CC é norma supletiva, na perspetiva do curso, portanto as partes podem convencionar que o
usufrutuário pode alterar o destino económico do bem.

O art. 1446º CC impede a alteração do destino económico do bem, mas a verdade é que este surge depois do
art. 1445º CC; o art. 1446º CC é uma norma supletiva.

Caso 18

Em Março de 2015, A constituiu um direito de usufruto vitalício sobre uma casa de habitação a favor de B.
Este, no ano seguinte, vendeu o seu direito a C, que faleceu em Janeiro 2020. Neste momento, quem habita
o imóvel é D, filho de C. A pretende agora constituir um novo usufruto sobre a casa a favor de E, alegando
que o anterior usufruto já se extinguiu, com a morte de C. Terá sucesso na sua pretensão? 

✓ Se em causa estiver uma pessoa coletiva o prazo é 30 anos. Se for uma pessoa singular é o tempo de
vida, art. 1443º CC, é um usufruto vitalício.
✓ B a seguir transmitiu o seu direito de usufruto, este pode trespassar o direito, art. 1444º CC, para a
C.
✓ Quem morreu foi C. A acha que o usufruto se extinguiu. Não sendo fixado prazo, é vitalício. O tempo
de vida que se tem de levar em linha de conta é o tempo de vida do usufrutuário originário. O
proprietário negociou com B, e se não fixou um prazo, teve em conta a vida de B. O usufrutuário
originário é que marca o termo do usufruto.
✓ Não seria justo que o usufruto se extingue-se com a morte do usufrutuário subsequente. Seria muito
injusto, porque assim podia ser ampliado o direito de usufruto.
✓ Por isso, não faz sentido que a data de morte relevante seja a do usufrutuário subsequente deve ser
a do originário.
✓ Quando quem morre é o usufrutuário subsequente, o usufruto mantem-se e se transmite mortis
causa para os herdeiros subsequentes; porque o tempo relevante do usufruto é o tempo de vida do
usufrutuário originário.
✓ Quando é o originário não havia sucessão; não se transmite mortis causa.

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✓ Se o proprietário morre-se transmitia-se o direito de propriedade onerado com o direito de usufruto.
A morte do proprietário não assume relevância, ele deixa na sua herança um direito de propriedade
onerado com usufruto.
✓ ASSIM: O usufruto transmite-se por morte se quem morrer for o usufrutuário subsequente. Não o
originário.

EM SUMA:

➔ A não teria sucesso na sua pretensão. O que A queria era constituir um novo direito de usufruto. A
pretensão de A não colhe, vai ter de respeitar o direito de usufruto que o próprio constituiu com B,
mas sempre soube que podia ser transmitido.
➔ A pretende constituir um novo usufruto a favor de E, pode? Não pode, porque já tem um direito de
usufruto, já está constituído já está na esfera de D filho de C. 15
➔ Mas poderíamos pensar que poderia ter um direito de usufruto de D e E, mas não é viável.
o O direito de usufruto que é tao amplo, que confere tantos poderes, que não podem existir 2
direitos de usufruto sobre a mesma coisa.
o O elenco de faculdades é muito amplo, por isso tem o direito de gozar plenamente.
o O proprietário depois de onerar a sua propriedade passa a ter propriedade de raiz. O
usufrutuário é que tem a amplitude dos poderes.

Caso 19

A é proprietário de um prédio rústico localizado à beira de uma estrada por onde passa a Volta a Portugal.
Há cerca de 10 anos, A permite a B que use esse terreno para aí estacionar uma roulotte de bifanas e bebidas
frescas para vender aos aficionados do ciclismo. Este ano, quando B visitou o terreno para ver em que
condições se encontrava – como faz todos os anos –, deparou-se com a presença de C, que o informou de
que era o novo dono do terreno e que se preparava para nele instalar um café. B consulta-o para saber como
reagir contra esta situação. Que lhe responderia?

Não podemos ir para a usucapião, sem primeiro determinar que direito tem B, que poderá invocar para reagir
perante o C. A solução é diametralmente oposta se tivermos um direito real, de crédito ou pessoal de gozo.
Por usucapião apenas podem ser adquiridos direitos reais.

Devemos tentar determinar a natureza da relação jurídica em causa. O direito de B qual é?

✓ Os direitos reais são taxativos, art. 1306º CC, por exclusão de partes, concluiríamos que não
estávamos perante um direito real.
✓ Não é um direito real de garantia, que é acessório de um crédito.
✓ Não é um direito real de aquisição.
✓ Poderia ser um direto real de gozo, dentro destes podemos excluir o direto real de habitação
duradouro, o direito de habitação, o direito de superfície, não tem de manter obra ou plantação.
Podemos excluir o direito de usufruto. Portanto só sobrava aqui o direito de uso e as servidões.
o O direito de uso é o direito de apesar do nome, é o direito usar e fruir, já por aqui não tem
este. Porque a B não foi atribuído o direito de fruir.
o O direito uso e habitação são intui personae é o direito de usar no âmbito das suas
necessidades e da sua família.
o O direito de uso não temos sequer possibilidade de usufruição. O direito de uso está no art.
1484º CC.
o No caso B só podia estacionar a roulotte e depois vender os seus frutos não podia aproveitar
os frutos do terreno. Não é direito de uso.
o Só sobra as servidões. A servidão é um encargo imposto a uma prédio em benefício de outro
prédio. Quaisquer utilidades podem ser objeto de servidão. De acordo com o art. 1543º CC, o
encargo é imposto a um prédio em benefício de outro prédio. Podem ser objeto de servidão

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qualquer utilidade. Mas esta pressupõe uma relação de predialidade. Temos de ter uma
relação de predialidade.
✓ Temos de saber se uma roulotte é um prédio? Art. 204º CC, neste artigo o legislador diz que os imoveis
são aqueles, o que ali não estiver é móvel. A roulotte não é um prédio rustico nem urbano. Não tem
relação de predialidade.
✓ Tinha um simples direito pessoal de gozo apenas eficaz entre as partes.
✓ C agora é titular do direito de propriedade, que é o direito real mais amplo. O direito real é erga
omnes, e C pode obstar que B continue a usar o terreno.
✓ Num conflito entre um direito real e um direito pessoal de gozo vence o direito real, mesmo que o
direito pessoal seja constituído anteriormente.

Concluímos que seria um mero direito pessoal de gozo. 16


No caso em concreto não é dito mais nada, mas se A constituiu a favor de B o direito através de escritura
publica ou documento particular autenticado, queriam que fosse um direito real. Assim teriam constituído
um direito real não previsto na lei, tinham violado uma norma imperativa, apenas queriam um negócio
obrigacional.

B ficaria apenas com o direito pessoal de gozo apenas oponível a A. Poderia preferir que o negócio fosse nulo
havendo restituição do valor que pagou. Conduzia ao princípio da taxatividade; temos a presunção da parte
final do art. 1306º/1 CC; esta presunção seria suscetível de ser ilidida.

NOTA: perante um caso em concreto devemos resolver o caso tendo apenas em conta aquilo que lá está.

Caso 20

Entre determinada sociedade, proprietária de um colégio, e o dono de um terreno, com este confinante, foi
celebrado por escritura pública, em Junho de 2010, um contrato onde se convencionou que os alunos do
colégio poderiam, durante os períodos de recreio, utilizar o referido terreno. A sociedade pagou ao dono do
terreno, como contrapartida, 20.000 Euros. O terreno acaba de ser vendido e o proprietário opõe-se a que a
sociedade continue a utilizá-lo, pode fazê-lo?

Qual o direito que pode ser adquirido pela sociedade dona do colégio? Não é o direito de uso, que tem dois
elementos que é o direito de usar e fruir, apesar do nome. O direito de uso é o direito de usar ou fruir, no caso
em concreto apenas de dizia que as crianças apenas podiam usar, e não fruir. O direito de uso não é porque o
projeto de uso apesar da denominação, é usar e fruir dos respetivos frutos. Aqui falta a parte da fruição. O
direito de uso é um direito intuito personae. É atribuído a uma pessoa para fazer face às suas necessidades e
da sua família. Art. 1486º CC, as necessidades são fixadas de acordo com a condição social. O direito de uso é
um direito de uma pessoa física e não de pessoas coletivas. É um direito pessoal para satisfazer necessidades.
Não pode ser uma pessoa coletiva, porque é na medida do seu titular e da sua família. Portanto são pessoas
singulares, intuito personae.

Pode ser uma servidão predial? O colégio e o terreno são prédios. Temos relação de predialidade. Temos um
prédio que é um colégio que pertence a sociedade, que é um prédio urbano. O outro não sabemos se é rustico
ou urbano.

Quem é que vai beneficiar em última instância com este encargo imposto ao prédio? É a sociedade, a dona
do prédio, é um encargo imposto a um prédio em benefício de outro prédio; o colégio, que passa a ter mais
vantagens para o oferecer. Teríamos uma servidão desde que a mesma fosse constituída na forma legal e
prevaleceria sobre posteriores direitos.

Temos uma servidão que é um encargo; tem relação de predialidade, daí podemos ter servidão. Isso resulta
do art. 1544º CC, mesmo que não aumentem o valor do prédio dominante pode existir a servidão.

Mariana Freitas
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De acordo com o princípio da consensualidade podemos ter uma servidão. A servidão constitui-se com o
contrato, não basta o contrato, é preciso um título que seja um bom título. Que seja apto a produzir efeitos
reais.

Temos de ver o contrato celebrado entre o dono do prédio vizinho e o colégio e se resulta algum problema do
ponto de vista formal. A única coisa que nos é dada é que foi celebrado um contrato por escritura publica,
nada se adianta em relação a substância. Não nos diz nada sobre a possibilidade dos alunos brincarem. Do
ponto de vista substancial, não podemos apurar.

Do ponto de vista formal, o contrato foi celebrado por escritura publica. É a forma correta, porque a forma
de constituir um direito real é essa.

Foi constituía a servidão de acordo com a consensualidade e a causalidade. Seja apto a produzir efeitos reais. 17
A servidão constituiu-se com eficácia erga omnes. Os direitos reais por serem eficazes erga omnes, estão
sujeitos a registo e é condição para consolidar a oponibilidade erga omnes registar os respetivos direitos.
Sob pena de vir a aparecer um terceiro.

Este direito tinha de ser registo para consolidar a sua oponibilidade erga omnes? A regra em PT, é que o
registo é mera condição de oponibilidade; se não for feito o registo o direito pode cair se aparecer um terceiro
com certas e determinadas características. Não tem de registar as servidões aparentes, não precisam de ser
registadas. Não corre o risco de aparecer um terceiro que tenha uma situação jurídica que possa prevalecer.
É aparente quando se revelar por sinais visíveis e permanentes, é o que resulta do art. 1548º/2 CC.

Em princípio existem neste caso sinais visíveis e permanentes.

Se não existem estes sinais: ou bem que o registo da servidão era anterior ou bem que permanecia o direito
de C.

Se não existem sinais visíveis e permanentes, nessa hipótese tínhamos de ver se a servidão foi registada ou
não.

✓ Se foi registada era o primeiro direito real no tempo em relação a aquisição da propriedade, tinha a
propriedade. Prevaleceria a servidão; esta servidão continua a onerar o direito de propriedade.
✓ A servidão não foi registada, mas o C adquiriu o seu direito de propriedade e não registou, ambos,
que a sociedade quer C violaram a regra do registo. Nenhum deles tem o registo, aplica-se o direito
substantivo puro, o direito primeiramente constituído, a servidão, quando A onerou o direito de
propriedade com servidão e depois transmitiu a sua propriedade.
✓ Se não existem sinais, a servidão não foi registada devendo tê-lo sindo e do C ter registado
propriedade plena e aí de acordo com o art. 5º CRPredial, C por força do registo acaba por adquirir
um direito mais amplo do que aquele que A tinha.

C conseguiu registar, mas o registo não dava publicidade dessa realidade. Adquiriu um direito onerado do
ponto de vista substantivo. Vamos ter o direito e propriedade plena. A servidão extingue-se.

Vamos supor que A dono de um prédio onde passa muitos animais de caça atribui a B o direito de caçar no
seu prédio.

✓ Nessa hipótese não temos direito real.


✓ Vamos imaginar que A que tem o tal prédio, não atribui a B, mas à sociedade X um hotel que como
hospedes caçadores. O que a sociedade pretendeu é que quando hospeda os seus hospedes, estes
possam ir caçar numa área vizinha.
✓ A questão que depois fica sempre havendo servidão é que: vale o princípio da consensualidade
acompanhado pelo da causalidade? É preciso ou não consolidar? É aparente ou não aparente?

Mariana Freitas
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o Se for não aparente tem de consolidar através do registo. Se não for feito vai entrar em ação
o art. 5º CRPredial.
o Pode ser um caso de um hotel que propicia a outro ir as suas piscinas do outro

Caso 21

A 31 de Outubro de 2019, A vendeu um prédio rústico, composto por pomar de laranjeiras, que ele explorava
diretamente, e ainda composto por um terreno agrícola, que A tinha dado de arrendamento a C, pela renda
anual de 3000.00 Euros, o arrendamento caducará a 31 de Dezembro de 2019. Na escritura de compra e
venda nada foi convencionado, nem quanto às laranjas, nem quanto à renda. A entende que tem direito a
colher as laranjas e a receber as rendas, ao invés B entende que é o titular de tais direitos.

As laranjas são frutos. Os frutos é tudo aquilo que a coisa produz periodicamente, sem prejuízo da sua 18
substância, são imoveis enquanto não são separadas. Art. 212º CC estão aqui previstos. Temos frutos naturais
produzidos diretamente pela coisa, como as laranjas, as lãs. As rendas de um arrendamento, os juros, são
frutos civis, que se geram em virtude de um a relação civil.

Quem tem direito a eles? Quando as laranjas ficaram prontas, quem é que tinha direito a ir lá colhe-las? A ou
B? As rendas quem tem direito as rendas? Até outubro o senhorio foi A; de outubro até dezembro é B.

Art. 202º CC e ss são importantes.

✓ Neste caso podíamos ir a partilha dos frutos, art. 213º CC:


o No caso dos frutos naturais são daqueles que tiver o direito de fruição à data da colheita, na
data em que podem ser colhidos. Para A ter vendido o prédio com as laranjas pendentes é
porque estas não deviam ter sido colhidas.
▪ O critério é que B a ficar com todas as laranjas, faz seus os frutos naturais; aquele que
for titular na data em que devem ser colhidos. Não pode existir colheita prematura,
existe penalização de acordo com o art. 214º CC.
o A renda de 3000 €, uma renda anual, em causa estão frutos civis: no art. 213º/2 CC, quanto
aos frutos civis a partilha faz-se proporcionalmente à duração do direito. A foi senhorio
durante 10 meses e B durante 2 meses. Temos de fazer a divisão proporcional. B tem direito
a 500€ e A a 2500€.

Caso 22

A é arrendatário de um prédio rústico e, na vigência do contrato de arrendamento, solicitou a B autorização


para construir um barracão de apoio à agricultura, um canil e um galinheiro. O contrato de arrendamento
vai terminar e A quer saber se tem direito a algum valor pelas obras feitas.

Que direitos poderá ter A? Benfeitorias? Ou acessão?

Benfeitorias:

✓ As benfeitorias art. 216º CC e são despesas feitas numa coisa já existente, dentro destas podem ser
necessárias, úteis ou voluptuárias.
o São necessárias quando é para evitar a perda ou deteorização. Exemplo: arranjar a perda de
uma coisa, o telhado.
o Úteis: são despesas feitas numa coisa que não sendo imprescindíveis lhe aumentam o valor.
Exemplo: quando se coloca uma telha antiga da época este vai ser valorizado.
o Voluptuárias: são despesas que são para evitar perda, nem lhe aumentam o valor, é apenas
para recreio. Exemplo: uma casa que está perfeitamente pintada, mas o arrendatário, é do
SLB e resolve pintar de vermelho e branco, não é para aumentar o valor, nem para evitar a
deteorização, é apenas para recreio.

Mariana Freitas
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✓ Quem faz as benfeitorias pode ter direito a receber o respetivo direito ou valor consoante o tipo de
relação.
✓ Uma benfeitoria é uma despesa feita numa coisa já existente, neste caso foram feiras edificações. Mas
não foram despesas no respetivo edifício, foram edificações.

Acessão:

✓ A acessão é uma forma de aquisição da propriedade. O que incorporar o valor que trouxer ao imóvel.
✓ Neste caso o arrendatário poderá dizer que tem a acessão.
✓ Na vigência no CC de Seabra, quando temos despesas feitas com a coisa já existente, ato de
modificação da substância da coisa e não uma mera despesa da coisa; na vigência deste Antunes
Varela optou por outra distinção dizendo que as benfeitorias é as despesas numa coisa que tem uma
relação jurídica com a coisa. Uma acessão não tem uma relação jurídica. 19

Benfeitorias são despesas feitas numa coisa. A acessão é um ato de inovação, art. 1340º CC; impõe que se
forme um novo corpo.

A questão é saber se qualquer pessoa que pratique um ato de inovação pode recorrer a acessão ou não? O
regime da acessão só é admitido para quem não tenha relação jurídica com a coisa; não basta implementar
valor.

No nosso caso: para além de serem despesas feitas numa coisa, com alguém que tem uma relação jurídica
com a coisa, temos benfeitorias. Como temos uma relação jurídica, nunca se aplicaria o regime da acessão. Se
tiver relação jurídica com a coisa aplica-se o regime das benfeitorias se a lei o previr. Neste caso, nós tínhamos
um arrendatário, exclui o regime da acessão, nunca se aplicaria o regime da acessão.

Art. 1036º CC, o locatário tem direito a reembolso de benfeitorias necessárias e urgentes. Quando a outras
não existe direito a ressarcimento.

23/04/2020

Caso 23

A vendeu a B, por 40.000,00 Euros, determinado quadro da pintora Maluda, tendo-se convencionado que o
preço só seria pago passado um mês, altura em que A entregaria o quadro a B. Antes, porém, da data fixada
para o pagamento e para a entrega do quadro, A vendeu a C, por 50.000,00 Euros. C pagou imediatamente
o preço e recebeu o quadro. Diga que direitos assistem a B e a C.

B tornou-se proprietário do quadro por força da consensualidade, art. 408º CC. Este artigo constitui o sistema
do título, uma justa causa; não é preciso um modo. Não é preciso o registo nem o pagamento do preço. Por
força do contrato A tem de entregar o quadro, B tem de pagar o preço. Estes efeitos obrigacionais só
ocorriam passado um mês. Quanto aos reais produziram-se logo.

O direito de retenção é um direito real de garantia. C tem um direito de retenção? Não. C estava obrigado a
entregar a B, porque era o proprietário. Mas C não tinha nenhum crédito perante B. Quando A vende a C é
uma venda nula. Sendo nula, estava envolvido numa venda alheia. C vai ter direito ao dinheiro que deu pelo
quadro. C vai entregar o quadro a B. C vai reagir contra A para reaver o dinheiro e ainda pelo dano causado.

C tem posse desde que celebrou o negócio com A. Pode intentar ações de defesa da posse. Mas estas ações
não procedem quando do outro lado está o verdadeiro titular do direito real.

Se não entregar o quadro a B, o que este pode fazer? Ação de reivindicação contra C. Ao intentar a ação de
reivindicação, tem que obedecer a causa de pedir do CPC. A causa de pedir é o facto jurídico de que deriva o
direito real; conduz que sempre que a aquisição seja uma aquisição derivada, a prova torna-se diabólica. É
preciso provar que o A era proprietário. Se o A também tiver adquirido derivadamente temos de ver quem era

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aquele que adquire originariamente. A prova diabólica resolve-se recorrendo a posse ou recorrendo a certidão
do registo.

Quem tinha a posse era C, e B não podia recorrer a presunção da posse. B não tinha registo, porque não
tínhamos um bem sujeito a registo. B ia ter de provar que adquiriu daquele que era o proprietário, fazer a
prova diabólica; se A não adquiriu originariamente tínhamos de ver quem é que adquiriu originariamente.

A solução seria a mesma caso o contrato celebrado entre A e B tivesse sido uma doação?

Mudava porque neste caso é preciso um modo. É um contrato, por isso a regra era o art. 408º CC. Mas temos
uma exceção a este: hipoteca (só se constitui esta através do registo, art. 687º CC); penhor de coisa (art. 669º
CC, com a entrega da coisa); penhor de créditos (art. 681º CC, para quem considera um direito real; o curso
não aceita, é preciso é uma notificação); doação de coisa móvel (tem de haver entrega de uma coisa, 20
art.947º/2 CC; exigência de forma é documento escrito, mas se faltar basta a entrega da coisa)

NOTA: Uma exigência de forma não é uma EXCEÇÃO. A forma é uma exigência para a valia formal do negócio.

A exceção é o facto de se exigir a entrega da coisa.

Caso 24

Em 30-06-2019, A celebrou contrato com B nos termos do qual este poderia colher todas as uvas do terreno
daquele. Em 30-03-2020, A vendeu esse mesmo prédio a C através de documento particular autenticado. C
não permite agora que B recolha as uvas. Pode fazê-lo?

✓ B não é titular do direito de fruição (implica que ele seja titular de um direito que lhe de essa
possibilidade).
✓ Não tem um direito de uso, porque é o direito de se servir e usar a coisa alheia, na medida das suas
necessidades e da sua família.
✓ Não temos aqui uma sucessão de titulares do direito.
✓ B é proprietário das uvas as que já existam e as que venham a existir.

Art. 408º/2 CC: se o negócio se referir a coisa futura, os direitos reais só se produzam quando existir essa
coisa. O que este artigo nos diz é que chama a atenção, para uma realidade, tem de existir coisa para haver
um direito, a coisa tem de ter caracter impessoal e ser atual já existir.

Quiseram vender as coisas como móveis. O objeto do negócio são móveis futuros, mas separados e colhidos
e as dos outros anos que venham a existir. O negócio não pode produzir efeitos reais.

B não é titular de um direito real sobre o prédio de A. Então é um direito real sobre as uvas? Que direito
queria ele ter sobre as uvas, era propriedade, queria comprar as uvas; quando elas existirem; enquanto não
existirem não temos direito real.

Ele quis adquirir as uvas, não se tornou proprietário porque ainda não existam as uvas. Quando celebrou o
negócio entre A e B, esse contrato só produziu efeitos obrigacionais imediatamente, só tem efeitos reais
quando existirem as uvas.

C é o novo proprietário é o dono de tudo. O novo proprietário não vai ter de respeitar o contrato de B. Quando
as coisas passarem a existir já é tudo de C.

C não tem que deixar o B recolher as uvas, porque o contrato com efeitos imediatos é apenas obrigacional;
logo, é eficaz entre as partes, uma vez que o direito real só se adquire quando as uvas se separam.

Caso 25

Mediante contrato celebrado por escritura pública outorgada em Janeiro de 2010, A dono de um prédio
rústico onde existem grandes depósitos de areia, atribuiu a B empreiteiro, o direito de extrair anualmente

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daquele prédio 300 metros cúbicos de areia, para utilizar nas suas obras ou para comercializar. Declarou-se
na escritura que o direito de B teria eficácia real. A acaba de vender o prédio a C e este opõe-se a que B
continue a extrair areia. Poderá fazê-lo?

Art. 1344º CC, C é dono de tudo. C tem direito de propriedade.

Podiam atribuir eficácia real? É um direito real? B só podia ter adquirido um direito real ou sobre a areia ou
sobre o prédio?

✓ Sobre a areia: é suscetível de ser objeto de direito real? A areia é coisa fungível, não é suscetível de
ser objeto de direito real. B tem apenas o direito de crédito de ir lá buscar a areia.
✓ Sobre o prédio: tem algum direito? Não tem direito real sobre o prédio; só tem um direito de crédito
de ir lá retirar a areia. 21
A questão da eficácia real? Não, porque se viola o princípio da taxatividade, porque não é um direito real
previsto na lei.

Este negócio apenas produz efeitos obrigacionais. Não produz efeitos reais enquanto não existir a separação.
B não tem direito real nem sobre a areia nem sobre o prédio.

C tem um direito real muito amplo, por isso, pode proibir B de ir lá buscar areia. B só se pode revoltar contra
A.

Não onerou a propriedade? Só temos oneração quando se constitui um direito real menor.

Caso 26

A dono de uma quinta, pôs termo à exploração agropecuária lá desenvolvida, então vendeu os esteios de
ferro de uma ramada que circundava a quinta e um painel de azulejos a B, a C as máquinas agrícolas e
ferramentas utilizadas exclusivamente no cultivo da quinta. Ficou acordado que, quer B, quer C só poderiam
ir lá buscar o objeto do negócio a 31 de Maio. Entretanto A vendeu a quinta a D. B e C estão preocupados,
porque não sabem se podem lá ir buscar as coisas.

Um painel de azulejos que está fixado materialmente na quinta e os esteios de ferros ainda estão ligados ao
solo. A quinta é um prédio urbano.

Temos reserva de propriedade? Supõe que o vendedor mantenha para si a propriedade até um determinado
evento. Não temos.

B:

➔ O painel está integrado na parede da casa da quinta; os esteios de ferro estão ligados ao solo.
o As partes componentes fazem parte da própria estrutura da coisa. São partes que podem ser
separadas destacadas da coisa que tem valor por si, mas que tem mais valor integradas na
coisa principal. A coisa deixa de ser apta para a sua função.
o As partes integrantes, art. 204º/3 CC, são coisas móveis ligadas materialmente com carácter
de permanência a coisa. Exemplo: a antena da televisão no telhado; o painel solar fixado to
telhado.
o O painel e os esteios são partes integrantes, são partes da coisa, não são coisas autónomas.
➔ B não é titular de um direito real; apenas um direito de crédito, art. 408º/2 CC para frutos futuros,
partes integrantes e componentes.
➔ Não houve produção do efeito real de B.
➔ A compra só produziu efeitos obrigacionais.
➔ Se D se opuser que B retire os paneis e os esteios em ferro tem legitimidade; uma vez que é titular
de um direito real máximo, o direito de propriedade.

Mariana Freitas
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o Direito com eficácia inter partes e com eficácia perante A.

C:

➔ Adquiriu as máquinas agrícolas e as ferramentas são:


o Partes componentes? Não, porque sem as partes a coisa não está completa. Exemplo: as
janelas e tudo mais.
o Coisas acessórias: art. 210º CC; estão ao serviço da outra, são coisas autónomas. SIM!
➔ As coisas são de C.
➔ A vendeu a C, por mero efeito do contrato produziu-se o efeito real.
➔ C é proprietário das ferramentas e das máquinas; apenas adiaram o cumprimento da obrigação.

D: 22
➔ É proprietário da quinta incluído tudo o que dela faz parte.
➔ Neste caso só se vendeu a quinta a D. Não vendeu as outras partes.

30/04/2020

A servidão é um encargo em benefício de outro prédio. Na propriedade horizontal temos um prédio que está
subordinado ao regime de propriedade horizontal, pode-se constituir uma servidão apenas a favor de uma
fração.

Temos de analisar em concreto qual é o prédio.

Caso 27

Em 1 de Janeiro de 2020, A, dono de um solar antigo na região de Viseu, vendeu a B um painel de azulejos e
um conjunto de móveis, tudo datado do séc. XVIII. Combinaram, porém, que B mandaria técnicos
especializados para fazer o levantamento do painel e o transporte da mobília no início de Junho, altura em
que seria igualmente entregue o preço acordado. A 1 de Abril de 2020, quando os técnicos contratados por
B apareceram, o painel tinha já sido arrancado e entregue a C (que tinha também pago o preço), e a mobília
doada por escrito ao Museu de Arte Antiga de Lisboa. Se B o consultasse, que opinião lhe daria quanto à
estratégia a seguir?

O painel de azulejos é uma parte integrante. O conjunto de móveis é uma coisa acessória; não se diz parte
acessória (temos de ter atenção aos conceitos).

➔ Mobília

B adquiriu em 1 de janeiro a mobília? A mobília é uma coisa acessória são coisas autónomas distintas do solar,
vale o art. 408º CC; o efeito deste contrato é imediato a não ser que seja deferido pelas partes, como acontece
na hipótese da reserva de propriedade do art. 409º CC. A deixou de ser proprietário, transmitiu a posse, mas
ficou com a detenção. Os móveis eram coisas, foram vendidas o B tornou-se proprietário. Quando os técnicos
foram e os móveis tinham sido dados, é uma venda de coisa alheia; tem um vício substancial que é uma venda
de coisa alheia.

➔ Painel de azulejos

O painel estava ligado a parede, portanto, não foi imediatamente adquirida a sua propriedade, porque o
painel era parte integrante, não vale o art. 408º/1 CC, vale o art. 408º/2 CC. A separação foi feita por outra
pessoa que não os técnicos de B. Quando alguém arrancou ao painel, deu vida à coisa, aí ao autonomizar-se
produziu-se o efeito real, é de B. Temos venda de coisa alheia. Tal como a doação das mobílias é uma venda
de coisa alheia.

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A propriedade dos azulejos a transmissão da propriedade ocorreu no momento da separação. Ao contrário,
da mobília que foi logo em janeiro.

B que afinal é o dono de tudo. B pode intentar uma ação de reivindicação. Os pedidos são: 1) reconhecimento
do direito de propriedade; 2) a restituição da coisa. A causa de pedir, art. 581º/4 CPC, o facto jurídico de que
deriva o direito de propriedade.

Ele tem de provar como é que adquiriu a propriedade, com os contratos com A; B não adquiriu
originariamente, tem de provar que A era o proprietário originário. O facto jurídico de que deriva o direito
de B foram os contratos com A; não prova que A fosse proprietário; só adquire se tiver celebrado um negócio
com o verdadeiro titular do direito; princípio do nemo plus iuris; temos o problema da prova diabólica. Se A
adquiriu derivadamente, tínhamos de ir para trás no tempo, até que alguém tivesse adquirido
originariamente. Quando em causa temos bens imóveis ou móveis equiparados a imóveis temos o registo; 23
presume-se que é o titular do direito. Quem tem o registo predial a seu favor tem a presunção da titularidade
do seu direito. Se se tiver a posse faz prova da posse, presume-se a titularidade do direito.

Quando B quer intentar a ação de reivindicação não tem posse. B não consegue fazer prova que adquiriu de
A que era proprietário, se este não tivesse adquirido originariamente; mas se A fosse proprietário daquele
solar ou mobílias há mais de 20 anos; B pode invocar a usucapião para A, art. 305º CC. B em vez de fazer a
prova diabólica a procura daquele que adquiriu originariamente, pode invocar a usucapião a favor de A;
temos assim o problema resolvido. Resolvida a questão da prova diabólica.

Caso 28

Em Abril de 2005, A, proprietário do prédio urbano y e da antena parabólica x, ligada materialmente àquele
com carácter de permanência, vendeu esta antena a B, mediante escrito particular. Em Maio de 2005, A,
mediante a forma legalmente exigida, vendeu o prédio urbano y a C, mantendo-se, à data, a antena
parabólica x incorporada no referido prédio. Não se alterando a situação descrita, pergunta-se: Quem e
quando adquiriu o direito de propriedade sobre a referida antena parabólica?

O negócio entre A e B que tem por objeto a antena parabólica: produziu apenas efeitos obrigacionais, art.
408º2 CC, em causa estão partes integrantes. Aquele adquiriu um direito de crédito, só produziu efeitos
obrigacionais, em relação à pessoa que celebrou o negócio.

Quando vende a casa a outrem está a vender a casa e as partes integrantes. Nunca houve a separação da
parte integrante nunca houve a produção de efeitos reais.

NOTA: as partes integrantes e partes componentes tem o mesmo regime. Os negócios que tenham por objeto
a coisa recaem sobre toda a coisa, logo também as partes componentes e as partes integrantes. As coisas
acessórias tem outro regime, são coisas, o negócio que tenha por objeto a coisa principal não abrange a coisa
acessória.

Se C retirar a antena parabólica, nem por isso, a antena volta a pertencer a A para ser transmitida B. C adquire
a coisa como um todo. C é o novo proprietário. Se C separa a antena, ele vai passar a ter dois direitos de
propriedade um sobre a casa outro sobre a antena.

Caso 29

Determinada sociedade vendeu a um empreiteiro (A) dois elevadores, destinados a um edifício que o
comprador tinha em construção. A venda foi feita com reserva da propriedade a favor da vendedora, até
lhe ser paga a totalidade do preço. Depois de instalados os elevadores e de concluída a construção, A vendeu
o prédio a B. Não tendo A pago o preço à sociedade vendedora, esta, após resolver o contrato de compra e
venda que com ele celebrara, intentou uma ação de reivindicação contra B, pedindo que este seja condenado

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a reconhecer o direito de propriedade da Autora sobre os elevadores e a facultar-lhe o levantamento dos
mesmos. Como decidiria a ação?

As partes podem convencionar e diferir a constituição do direito real para um momento posterior. Podem
definir com base num termo (facto futuro e certo) ou condição (facto futuro e incerto). Os elevadores eram
coisas autónomas. Vende os elevadores, mas fica proprietário enquanto não pagar. A reservou-se a
propriedade sobre uma coisa autónoma. Mas sabia que essas coisas o iam deixar de ser, iam passar a fazer
parte do edifício. A partir do momento em que os elevadores deixam de ser coisas autónomas e fazem parte
do edifício, tornam-se partes integrantes ou componentes, pois um prédio que tenha mais de 3 andares tem
de ter elevador, se assim é, os elevadores até se tornaram partes componentes.

Os elevadores deixaram de ser coisa, por isso, o direito de propriedade extinguiu-se, a cláusula de reserva de
propriedade deixa de produzir efeitos. A não tem propriedade sobre os elevadores, porque a coisa 24
autónoma extinguiu-se, a coisa passou a ser parte integrante ou componente. Se em causa estivesse um bem
sujeito a registo, podia haver uma alteração de circunstancialismo. A partir do momento, em que os
elevadores são integrados no imóvel deixam de ser coisas e passam a ser partes; deixa de haver direito real
sobre aquela coisa; são partes, passam a ser parte do direito real sobre toda a coisa que é o edifício.

A reserva da propriedade ainda faz parte do próprio contrato, ainda é o título para produzir os efeitos. A
reserva de propriedade pode produzir efeitos de outro modo.

Exemplo: A era dono de um prédio rustico de grandes dimensões, mas não tinha dinheiro para o fracionar de
acordo com as normas de direito do urbanismo. A celebra com B, uma permuta, de um bem que já existe com
um bem que não existe. A transmissão da propriedade do terreno ocorre imediatamente. A transferência da
moradia ou terreno ainda não existe; é um bem imóvel futuro. Quem vai entregar o terreno no âmbito da
permuta, vai deixar de ser proprietário do terreno. Aquele que transmite o solo, que celebra o contrato de
permuta, reserva a propriedade do solo, até ao dia em que tiver aquilo que acordou com a contraparte.
Havendo esta reserva, o adquirente que não é o proprietário do solo. Quando existe reserva, os bancos não
querem emprestar a quem não é o proprietário, a outra hipótese é permutar o solo pelo bem futuro, temos a
propriedade para um facto futuro e incerto.

Nos elevadores, aquela cláusula só tinha valor enquanto existisse coisa. A quando celebrou o negócio sabia
que os elevadores iam ser integrados em prédios, iam deixar de ser coisas. A cláusula vai deixar de produzir
efeitos.

Quando temos reserva de propriedade, não se torna proprietário, porque a coisa está noutra esfera jurídica.
Quando A comprou ainda não é proprietário, quem continua proprietário é quem está a vender. O título só
vai produzir efeitos reais quando ocorrer o pagamento do preço. A titularidade continua a ser do alienante;
só quando ocorrer outro evento é que temos a transmissão da propriedade.

O art. 408º CC é importante na reserva de propriedade.

Caso 30

A e B são proprietários de prédios vizinhos. Em Julho de 2018, acordaram que, pelo valor de € 5.000,00 Euros
por mês, A poderia usar o prédio de B para nele instalar um esplanada, que serviria o café de que A é
proprietário e que se localiza no lado oposto da estrada. Este direito nunca foi levado a registo. Em Setembro
de 2019, A transmitiu a C o seu direito sobre o prédio de B. C é proprietário de um prédio vizinho e, para
segurança, quer obter o registo do desta situação. Poderá esta sua pretensão ser concretizada?

➔ AeB

Qual o direito que A adquiriu? Gerou um direito, o que pressuponha um título válido substancial ou
formalmente. A tem um direito real seria uma servidão, um encargo sobre o prédio de B em benefício do

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prédio de A que é dono de um restaurante. Temos uma relação de predialidade. Este direito nunca foi
registado, pode sê-lo; art. 2º CRPredial, diz quais são os direitos levados a registo. Não tem de ser sujeitos
a registo, para ter eficácia erga omnes, os direitos reais adquirido por usucapião (apenas e só os direito reais
de gozo e dentro deste nem o direito de uso, nem habitação, nem as servidões aparentes), ou as servidões
aparentes, qualquer direito real adquirido originariamente (por exemplo, direito reais adquiridos por
expropriação). Se a servidão era aparente, tínhamos sinais visíveis e permanentes; basta para consolidar
eficácia erga omnes.

Se tiver sinais visíveis e aparentes, não precisa de registo para ter eficácia erga omnes.

➔ AeC

A é o proprietário do restaurante e é titular do direito de servidão sobre B, quer transmitir este direito de 25
servidão para C. É possível transmitir um direito de servidão? Temos um princípio da inseparabilidade, nem
do prédio que beneficia nem do prédio que onera; só pode transmitir a servidão só se transmitir o restaurante.
Em causa está uma servidão predial, a partir do momento em que qualificamos o direito esquecemos o
contrato. A pessoa só é titular da servidão porque tem um prédio que é beneficiado com a servidão. Só a pode
transmitir se transmitir o prédio.

Caso 31

A, proprietário e possuidor de um prédio rústico, em 2000 emigrou para o Brasil. Como A nunca mais deu
notícias, B, em 2004, começou a agricultar o terreno e a exercer poderes de facto sobre ele à vista de toda a
gente. Em Janeiro 2009, B vendeu o prédio a C. Em Janeiro deste ano, A regressou do Brasil, apercebeu-se
da situação e vendeu o terreno a D. Este perante o que se passava, vedou o terreno e colocou um portão
impedindo C de lá entrar. Poderá C reagir?

A e B: em causa não está um caso de direitos reais definitivos. A posse não é um direito real, é a posse de um
facto juridicamente relevante. Ninguém adquire um direito real por este facto. Esta perante um caso de posse.

Temos de ver relação a relação:

A:

• A é proprietário e possuidor. Não sabemos como é que ele adquiriu o direito de propriedade, mas
dizendo-se que A era proprietário e era possuidor causal; a sua posse não era autónoma, a sua posse
era mero reflexo do direito.
• Quando temos um proprietário e possuidor, não precisamos de analisar a posse; a posse só assume
relevância quando é um facto autónomo.

B:

• B tem posse? Se sim, como adquiriu a posse? Que características tem essa posse?
• B é possuidor ou não? Sim. Para haver posse tem de haver corpus e animus. Ele exerce poderes de
facto sobre a coisa como se fosse titular de um direito real. Se tem corpus presume-se o animus.
• Como é que adquiriu? Esta forma de aquisição vai determinar as características. As características
determinam os efeitos? Os efeitos determinam a solução.
• A aquisição é derivada quando se filia na posse do anterior possuidor. É aquisição originária, no nosso
caso.
o A posse foi adquirida por B por aquisição paulatina: quando alguém pratique atos materiais
correspondentes ao exercício do direito à vista de toda a gente, de forma reiterada; não tem
de ser interrupta.
• Características desta posse:
o Titulada ou não titulada?

Mariana Freitas
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▪ É titulada quando se funda num título em abstrato idóneo a aquisição de um direito
em cujos termos se possui. É em abstrato, porque se tivesse de ser em concreto
legitimo então uma posse só seria titulada se fosse uma posse causal.
▪ O título neste foi a aquisição paulatina. Temos posse, em termos de direito de
propriedade. Alguém adquire o direito de propriedade pela prática de atos materiais
ao exercício desse direito? Não. Então a posse é não titulada.
▪ Se em causa estiver um negócio jurídico a posse só é titulada se não padecer de vícios
de forma.
▪ A regra é se o título for negócio, os vícios formais fazem com que a posse seja não
titulada. Os substanciais não relevam.
• De boa ou má fé: presume-se de má fé, porque decorre do art. 1260º CC, a não titulada presume-se
de má fé. 26
o É de boa fé, quando ignorava que estava a lesar o direito de outrem.
o No nosso caso, presume de má fé.
• Pacifica ou violenta:
o Pacifica: adquirida sem coação física ou moral. É pacifica.
• Publica ou oculta: é pública, quando é exercida de modo a ser conhecida pelo interessados.
o Para saber se é publica ou oculta, não temos de tentar saber se o antigo possuidor conhecia;
é o conhecimento da cognoscibilidade.
o Posse pública é adquirida de modo a ser conhecida.
o Vamos pensar o homem médio colocado na posição do anterior possuidor, o A, teria ou não
teria tido a possibilidade de conhecer? Sim; se o A tivesse atuado como um homem médio
teria tido a possibilidade de tomar conhecimento.

Quando a aquisição da posse se dá paulatinamente, existe como que um pré-corpus e um pré-animus. A posse
começa a praticar atos sobre a coisa e depois adquire. Na aquisição paulatina não conseguimos definir um
momento exato para a posse.

07/05/2020

Adquiriu e em 2009, vendeu a C. O que C adquiriu?

C:

• C adquiriu a posse. Não adquiriu propriedade porque esta é de A. O que B vai transmitir a C é a
posse.
• C adquire a posse derivadamente, porque funda a sua posse fundada na posse de B. Adquiriu posse,
inter vivos, por tradição real, mas explicita ou implícita? É explicita. Só é implícita quando o possuidor
não passa a exercer poderes de facto diretamente sobre a coisa. Não exerce poderes de facto quando
não os exercia, nem vai exerce-los diretamente. Se não exercia diretamente poderes de facto sobre
e vai passar a exerce-los, logo é explicita; é esta no nosso caso. Adquiriu derivadamente por tradição
real explicita.
• É titulada ou não titulada? Adquiriu com base num contrato de compra e venda; temos de perguntar?
Se alguém adquire o direito de propriedade com base num contrato de compra e venda, por isso em
princípio é titulada; temos título.
o Sempre que o título é negócio jurídico temos de ver se existem vícios de forma? O caso nada
diz; mas C celebrou um contrato de compra e venda com B, B não era proprietário, como é
evidente não tinha o registo a seu favor. B não era proprietário nem é titular registal. Por
isso, nunca celebrava o contrato com C de uma forma legalmente válida. Para obedecer a
escritura pública ou documento particular autenticado, tem o alienante ter o registo a seu
favor. Ninguém pode alienar ou onerar um imóvel na forma prevista na lei, se quem quer

Mariana Freitas
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alienar ou onerar não for aquele que é titular do registo. B não tem registo, por isso não pode
dar forma ao negócio que celebrou com C.
o A posse de C é não titulada, por força do vício de forma. Presume-se de má fé.
• É pacífica.
• É pública.

C pode reagir ou não?

✓ A continua a ser proprietário. Pode reagir através de uma ação de restituição da posse.
✓ C enquanto possuidor viu-se privado da sua posse foi esbulhado. D apropriou-se da posse de C, com
animus expoliandi.
✓ D é o novo proprietário, em vez de ter reagido judicialmente, pedindo a restituição da coisa, resolveu
vedar o terreno e impedir o C de lá entrar. 27
✓ C pode intentar uma ação de restituição da posse.
✓ No entanto, o possuidor só ganha em última instância se estiver a reagir contra quem não for o
verdadeiro titular do direito.
✓ D podia pedir a defesa do seu direito de propriedade, bastava aqui o pedido de simples apreciação.
✓ A ação de restituição da posse não chega a C. Ele adquiriu em 2009, não tem tempo para invocar a
usucapião. A sua posse é não titulada que se presume de má fé, vale a regra do art. 1297º CC, mesmo
que se ilidisse a presunção de má fé (teríamos boa fé) precisaria sempre de 15 anos, não lhe basta
ilidir a presunção.

Pode juntar a posse do antecessor? Ele adquiriu derivadamente e inter vivos e assim já é uma posse desde
2004, no caso de B. Mas mesmo assim só tem 16 anos de posse. Quando existe a junção de anos de posse
prevalecem as características piores, mesmo que C ilide-se a presunção de má fé, sozinho não tenha tempo
para invocar a usucapião. Mas mesmo juntando a de B, como é de má fé, iria precisar de 20 anos.

C pode reagir através da ação de restituição, mas mesmo assim não irá ganhar, uma vez que D é o titular do
direito de propriedade.

Se B estivesse de boa fé e C também, bastaria 15 anos. Mas temos de ter em conta que B adquiriu por
aquisição paulatina.

A perdeu a posse por força da aquisição paulatina de B. Mas A era proprietário, não possuidor. A vende a D,
vende aquilo que tem que é a propriedade. A perde a posse nos termos do art. 1267º d) CC.

D tornou-se proprietário por força do negócio que celebrou com A. Tornou-se possuidor pelo esbulho que
cometeu.

*MATÉRIA QUE NÃO FOI DADA NA AULA TEÓRICA*

Regras da acessão: acessão é de tempos de posse, art. 1256º CC não tem nada a ver com a acessão de
aquisição de forma de aquisição originária da propriedade. Se um possuidor não poder invocar a usucapião,
desde que tenha adquirido a aquisição derivada inter vivos, pode juntar ao seu tempo de posse, o tempo de
posse dos seus antecessores. Exemplo: A, B e C, C não pode quer juntar a posse de B sem juntar a de A. Tem
de ser derivada devido ao que diz na lei. Na aquisição originária ninguém adquire posse de outrem. É inter
vivos, e não mortis causa. A possibilidade de um adquirente derivado da posse inter vivos, juntar ao seu tempo
de posse, a posse dos seus antecessores é uma faculdade e não uma imposição. O art. 1256º/2 CC aí se diz
que se podem juntar posses de âmbito diferentes, nesse caso a usucapião se dará no limite daquelas que tem
menor âmbito. A posse de menor âmbito apesar da lei apenas dizer se a posse do antecessor for de natureza
diferente. Não obsta a junção de tempos de posse, não interessa ser de boa fé ou má fé, titulada ou não. Mas
quando se fala de menor âmbito falamos de posse de má fé, não titulada.

Caso 32

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
Em 1992, A, proprietário do imóvel x, celebrou um contrato de comodato com B, para que esta pudesse usar
uma sua fração autónoma como escritório de contabilidade. Em 1995, B adquiriu o imóvel a A, tendo o
negócio sido celebrado por documento particular. Há dois meses, B vendeu o imóvel a C, que já o converteu
para explorar um salão de cabeleireiro.

A:

• É proprietário do imóvel X.
• A emprestou uma coisa não fungível a B- comodato.

B:

• É detentor.
28
• B passou a exercer poderes de facto sobre a coisa, com a intenção de atuar como comodatário, não
como possuidor.
• A continua a ser possuidor. B é mero detentor. Isto até 1995.
• Em 1995, A vendeu a B. B era detentor, depois celebrou um contrato de compra e venda com A. B era
detentor, gratuito, depois comprou passou a atuar como proprietário. Tem posse também.
• Como é que B adquiriu posse?
o Derivadamente, porque funda a sua posse na posse do antecessor: inter vivos por tradição
real: explicita ou implícita? É implícita (já os exercia), por traditio brevi mano (sempre que o
detentor se converte em possuidor em virtude do negócio que celebra com o até ali
possuidor).
o É titulada ou não? Documento particular, logo não titulada. Adquire efetivamente o direito
de propriedade através de compra e venda, mas a posse é não titulada porque tem vício de
forma; existe título (C/V) mas é inválido. Presume-se má fé, pode ser ilidida; mas em princípio
ele estaria de boa fé.
o Posse pacifica.
o Posse pública e conhecia de A. Houve mais do que cognoscibilidade.

B vende o imóvel a C: C adquiriu posse, com corpus e animus. Com a intenção de atuar como titular do direito
de propriedade. Como é que C adquiriu esta posse:

• Adquiriu derivadamente. Funda a sua posse na posse do anterior possuidor. Adquiriu inter vivos, logo
por tradição real, C nunca tinha exercido poderes de facto sobre a coisa e passou a exercê-los, logo
tradição real explicita.
• É titulada ou não? Não é dito quanto ao negócio entre B e C. Mas B não é proprietário porque o
negócio que celebrou com A padece de um vício de forma. Se B nunca adquiriu propriedade porque
tinha um negócio inválido, nunca adquiriu o registo. O negócio entre B e C não pode ser reduzido a
forma legal. É não titulada, presume-se de má. Embora pareça que C está de boa fé. Temos de ter em
conta o princípio da legitimidade registal: B nunca foi proprietário nunca teve o registo do direito de
propriedade. A posse de C apesar de se fundar num título idóneo a produção de efeitos, que é o
contrato de compra e venda, é não titulada um vez que B não tinha a propriedade.
• É pacifica.
• É pública.
a) A, porém, pretende que C o desocupe, invocando a invalidade do negócio de compra e venda
celebrado com B. Tem razão? Como poderia fazê-lo?

Sim, tem razão. A pode intentar a ação de defesa do direito de propriedade, estando privado da coisa intenta
a ação de reivindicação.

Não pode valer aqui a usucapião, porque esta tem de ser invocada, art. 1292º CC que remete para diversas
normas da prescrição.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
NOTA: Quando nada nos é dito, devemos resolver o caso como está, ou seja, não houve usucapião.

b) C consulta-o para saber se pode reagir contra as pretensões de A. Que lhe responderia?

A posse de B e C são de má fé. C pode juntar a sua posse com a posse B, invocando a usucapião. C pode
deduzir pedido convencional pedindo a usucapião.

C pode utilizar as ações de defesa da posse, para reagir contra o proprietário, a posse contra o verdadeiro
titular do direito nada vale. C tinha de invocar logo a usucapião: os tempos de posse podem ser seguidos; não
pode juntar a de A, porque é proprietário, o seu oponente.

NOTA: Em qualquer das ações temos de falar dos pedidos, da causa de pedir e a questão da prova.

Caso 33 29
Em 2001, A, dono e possuidor em termos de propriedade do prédio urbano x, resolveu imigrar para a
Alemanha e, por isso, arrendou-o a B, que passou, daí em diante, a comportar-se, de facto, como
arrendatário do mesmo. Em 2009, C convenceu B que era o verdadeiro proprietário do prédio urbano x e,
em consequência, celebraram ambos um contrato de compra e venda do mesmo. Desde então, B passou a
comportar-se em relação ao aludido prédio como se fosse o seu proprietário. A ainda poderá reagir
judicialmente?

A em 2001 era proprietário e possuidor do prédio X. B adquiriu a detenção, exerce poderes de facto sobre a
coisa temos aqui um direito pessoal de gozo. C convenceu B de que era proprietário. Não é dito aqui qual a
forma do negócio.

O C não era proprietário, nunca se tornou proprietário do prédio, mas convenceu B de que era. B passou a
comportar-se como proprietário, mas não o era, era apenas possuidor.

B:

• Aquisição originária, por inversão de título de posse por ato de terceiro. Assim sendo, a posse de B é
titulada ou não titulada? Não titulada. logo, presume-se de má fé.
• É pacifica.
• É pública, ou seja, suscetível de ser conhecida pelo interessado.

A pode reagir judicialmente? Se B não se tornou proprietário, A pode reagir porque ele era o proprietário, ele
perdeu a posse, depois de 1 ano e 1 dia em que B se tornou possuidor. Como é que vai reagir judicialmente?
Deve intentar a ação de reivindicação.

Sempre que não se possa invocar a usucapião em determinado caso, devemos falar dos outros efeitos da
posse. Como os frutos e benfeitorias que podem ter sido realizadas.

Caso 34

Em 1998, A vendeu a B, por documento particular, um prédio rústico, que o comprador cultivou durante 10
anos. Em 2010, B vendeu o prédio, por escritura pública, a C, que não registou a aquisição. Em Abril de 2020,
D ocupou o prédio, alegando que o prédio lhe pertencia, por herança do pai, que nunca tinha pertencido a
A, este só tinha sido comodatário. Dando por assente que D é quem diz a verdade. Como pode C reagir
judicialmente contra a ocupação de D?

O pai de D era proprietário e possuidor, e só emprestou o prédio a A. A é comodatário, portanto mero


detentor. A vende o prédio a B, por documento particular. B vende a C o prédio.

B é possuidor, B depois de ter celebrado o negócio com A cultivou o prédio durante 10 anos. B adquiriu a
posse de quem?

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
• A comportou-se como proprietário. Quem vende um imóvel não se comporta como um comodatário,
um comodatário está lá porque houve o comodato. No momento em que A vende aquilo que não era
seu, ele não atuou como um mero detentor, atuou com animus detendendi.
• A adquiriu posse, originariamente por inversão do título de posse, era detentor, passou a comportar-
se como possuidor. Por oposição implícita, não há o tal ato declarativo, mas há atos jurídicos ou
materiais que revelam inequivocamente a mudança de animus.
o A primeira aquisição de posse contra o verdadeiro proprietário foi A, adquire
originariamente, por inversão do título de posse, por oposição implícita. É pacifica e é
publica (no caso de oposição implícita tem de ser sempre pública, porque tem de ser avisado).
A primeira posse é de A.
o Quando A adquire posse, logo transmite para B.
• B adquire derivadamente, tradição real explicita porque B nunca tinha exercido poderes de facto 30
sobre a coisa e passa a exercer. O negócio foi celebrado por documento particular logo é não titulada,
presume má fé. É pacifica e pública.

Em 2010, B vende o prédio a C que não regista e o faz por escritura pública. C:

✓ Existe de novo aquisição derivada de C, temos tradição real explícita, uma vez que ocorreu inter
vivos.
✓ Houve violação do princípio da legitimação registal.
✓ A posse de C é titulada ou não titulada? Violou ao princípio da legitimação registal por parte do
notário, art. 9º CRPredial. É titulada apesar de ter sido celebrado um negócio com quem não é titular
do direito.

13/05/2020

Caso 35

Em 01 de Outubro de 1996, A constituiu em benefício de B, por documento particular, um direito de usufruto


vitalício sobre determinado prédio rústico. B começou imediatamente a explorar o prédio, na qualidade de
usufrutuário e efetuou nele benfeitorias no valor de 10.000,00 Euros. Há cerca de 1 mês, A ficou a saber que
o negócio devia ter sido celebrado por escritura pública e pretende intentar uma ação judicial.

Havendo vício de forma pode reagir. A é proprietário pleno. B passou a atuar como usufrutuário, tem corpus
e animus. A pode pedir a ação de nulidade. B é possuidor em termos de usufruto.

A pode reagir. A demorou a reagir, portanto, vai passar a ter propriedade onerada com direito de usufruto.

Posse de B:

• Está uma posse derivada, por tradição real explicita.


• É não titulada por força do vício de forma
• É de má fé
• É pacífica e pública.

Se não pudesse ser invocada a usucapião, por exemplo se o negócio fosse feito em 2006: que direito deviam
ser reconhecidos a este possuidor que não podendo invocar a usucapião e teria de entregar a coisa? As
benfeitorias, art. 1273º CC. É uma posse não titulada que se presume de má fé, mas podia não ser e ele podia
ilidir a presunção.

• Se as benfeitorias fosse necessárias: o B poderia as levantar, se não pudesse levantar sem prejuízo da
coisa, nos casos de boa fé; quem estivesse de boa ou má fé, tinha direito a ser indemnizado.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
• Se fossem benfeitorias úteis é que teria a possibilidade de as levantar se não causasse prejuízo à coisa,
caso contrário tem direito a ser ressarcido em função do enriquecimento sem causa, se estivesse de
boa fé. Nos termos deste pode ser zero. É diferente da indemnização.

NOTA quanto ao direito de retenção: Estar de boa ou má fé, importa para o direito de retenção. O possuidor
de boa fé pode reter a coisa, não a entregar enquanto não for indemnizado (necessárias) ou ressarcido nos
termos do enriquecimento sem causa (úteis)- art. 756º CC. Pode promover a venda judicial do bem.

• Se fosse voluptuárias: é que o possuidor de boa fé tem direito a levantá-las sem prejuízo da coisa, e o
de má fé perde-as.

Passou a explorar o prédio como usufrutuário, passou a retirar do prédio frutos:

• Boa fé:
31
o O possuidor teve frutos, se fosse celebrado em 2006, quanto aos frutos percebidos, art. 1270º
CC, se conseguisse ilidir a presunção, quanto aos frutos percebidos fica com eles.
o Os pendentes perde-os, mas tem direito a ser indemnizado pelas despesas feitas, art. 1270º/2
CC.
o Quanto aos frutos percipiendos que a coisa podia ter gerado se estivesse nas mãos de A, não
responde por ele.
• Má fé:
o Se não conseguisse ilidir, tinha de restituir todos os frutos percebidos destes anos, art. 215º
CC
o Os frutos pendentes perdia-os, sem direito a indemnização.
o Respondia pelos percipiendos, art. 1271º CC.

NOTA: Sempre que tenhamos um caso deste tipo, quando temos um direito de real de gozo que concede
fruição, temos de pensar nos frutos.

Caso 36

A emprestou um seu carro a B, em 2014, em 2016, A morreu e os seus herdeiros não exigiram a devolução
do carro. Em 2017, B doou, mediante escrito particular e entrega o carro a C, sua irmã. Hoje, D, herdeiro de
A pretende reaver o carro. Quid iuris?

A era proprietário e possuidor.

• Quando este morre passa para as esferas dos seus herdeiros, temos tradição ficta. Art. 1255º CC por
morte do possuidor a posse continua na esfera dos seus sucessores. A lei dá por assente que a aquele
que vier a calhar o bem é considerado possuidor desde a data da morte. É uma tradição ficta.

B:

• Tornou-se comodatário, logo não é um possuidor, é mero detentor; exerce poderes de facto sobre a
coisa, mas não tem intenção de atuar como titular de um direito real.
• B quando doa o carro, aí atuou como proprietário, mudou de animus. Portanto, houve uma inversão
do título de posse, temos uma aquisição originária por parte de B, por oposição implícita, mas pratica
um ato que inequivocamente revela que ele mudou de animus.
• B comodatário quando faz a doação inverteu o titulo de posse, originariamente; é uma posse não
titulada, só o é quando se funda num titulo idóneo e ninguém adquire direito de propriedade por
mudar de animus, consequentemente presume de má fé (bem sabia que estava a lesar o direito de
outrem); é pacifica e pública (suscetível de ser conhecida pelo interessado, D).
• B adquiriu posse quando faz a doação pode transmitir-lhe posse.

Mariana Freitas
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AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
C:

• Funda a sua posse derivadamente, tradição real, C antes não exercia poderes de facto e passou a
exercê-los, é tradição real explicita.
• O carro é um bem móvel, o documento particular é suficiente, a lei não exige forma para a transmissão
de um direito de propriedade sobre o carro. C adquiriu uma posse titulada, a doação e não padece de
vícios de forma. É irrelevante ser donatária de alguém que não era titular do direito de propriedade.
• De boa fé, pacifica e pública.
• É possuidor.

Como é que D vai reagir, era proprietário contra a possuidor não proprietário. D vai intentar uma ação
reivindicação. Temos de referir os pedidos e a causa de pedir. A prova não seria complicada de fazer, porque
existe registo automóvel, beneficiava da presunção do direito; não teria a problema da prova diabólica. 32

Temos aqui uma situação particular, o herdeiro que tem o registo em princípio a seu favor e temos uma
possuidora que é C. Temos dois factos geradores de titularidade do direito: o registo e a posse (art. 1268º CC).
De acordo com a letra da lei, no conflito entre estas duas presunções, prevalece a do registo se for anterior à
data da posse. Neste caso, seria. Prevaleceria a presunção do registo.

C tem posse há 4 anos, chega para se confrontar com D? São suficientes para poder invocar a usucapião? Sim,
art. 1298º CC, coisas sujeitas a registo. C estava de boa fé, mas não havia registo do título, porque foi doação
de coisa alheia, não podemos aplicar a alínea a). B nunca foi o proprietário por isso não teria conseguido, logo
o B não tinha o registo a seu favor, quando doa a C não vai conseguir obter o registo a seu favor, por força do
princípio do trato sucessivo (é um princípio que está próximo do princípio da legitimação em abstrato, art. 9º
CRPredial, de acordo com este ninguém pode alienar se não tiver a seu favor o registo). Como não
precisávamos da participação do notário, B apesar de não ser titular registal, ia conseguir fazer negócio com
C, mas C não ia poder fazer o registo a seu favor (princípio do trato sucessivo- quem adquire não consegue
obter o registo a seu favor se não adquirir de quem constava como titular registal). No princípio da legitimação
diz-se que ninguém vai alienar ou onerar se não tiver o registo a seu favor. O princípio do trato sucessivo
ninguém vai adquirir o registo a seu favor se não adquirir do titular registal. O titular registal era A, por isso,
recusar-se ia a fazer o registo a C. Consequentemente ia precisar de 10 anos para invocar a usucapião. Aplica-
se o art. 1298º b) CC.

Quando C se se apresentasse perante o conservador a solicitar o registo, nos termos do qual teria adquirido
de B. O conservador veria que o registo estava a favor de A ou dos herdeiros. Nessa altura quando o
conservador visse que B nunca foi titular registal, C não negociou com o titular registal.

Caso 37

A, em 2011, deu de arrendamento um apartamento a B, pagando esta a renda mensal de 700,00 Euros. Em
2012, A vendeu, mediante documento particular, o aludido apartamento a C, depois de ter dado preferência
a B e de este ter renunciado. Hoje, A pretende reaver o apartamento, pois soube que o negócio que celebrou
com C devia ter obedecido à forma de escritura pública ou de documento particular autenticado. Pretende,
ainda, A reaver as rendas que C recebeu de B e não pagar as benfeitorias úteis, efetuadas por esta, no valor
de 40.000,00 Euros. Quid iuris?

B:

• Tornou-se detentor; exerce poderes de facto sobre a coisa como titular de um direito pessoal de gozo.

A:

• É proprietário e possuidor.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
A vende a C: O arrendamento subsiste apesar da transmissão ocorrer. Apesar de ter sido transmitida a
propriedade do apartamento para C, o arrendamento manteve-se.

C adquiriu posse ou não?

• Sim. Derivadamente por tradição real implícita; não é explicita uma vez que não houve ato de
empossamento. É implícita em que modalidade, é o constituto possessório trilateral (A, B e C).
• Existe um vício de forma, por isso é não titulada. É de má fé (presunção ilidível).
• É pacifica (sem coação física ou moral). É pública (porque é efetivamente conhecida pelo interessado).

A quer reaver o apartamento por causa do vicio de forma:

• Tem direito a reaver a coisa? Sim, através da ação de reivindicação, porque é proprietário, A. C não
33
pode reagir porque só tem posse desde 2012.
• Tem direito a essas rendas?
o Se estivesse de má tinha de restituir os frutos recebidos, tinha de restituir todas as rendas que
tinha recebido de B.
o Se conseguisse ilidir a presunção aplicaria o art. 1270º CC nos termos do qual o possuidor de
boa fé faz seus os frutos percebidos.
• As benfeitorias que A não quer indemnizar ou ressarcir, é claro que tem de o fazer. Quem esteja de
boa fé ou má fé, se forem necessárias pode ser indemnizado, se forem úteis se não for possível
retirar, nos termos do enriquecimento sem causa. Continuava a ser irrelevante para C ilidir a
presunção de má fé.

Podia reter o prédio.

Caso 38

A, proprietário de um lote de terreno, onde pode ser construído um edifício de 5 andares, cujo projeto obteve
já aprovação camarária, realizou com B em Outubro de 2017 o seguinte contrato: A transmitiu a
propriedade do terreno para B e este obrigou-se a construir o edifício, subordinado ao regime da
propriedade horizontal e a transmitir para A todas as frações autónomas do 1º andar, convencionou-se
ainda que o contrato ficaria sem efeito se B não concluísse a construção e não transmitisse as frações
autónomas do 1º andar para A. Introduziram a data: até 30 de Setembro de 2019. Após a conclusão do
contrato, B deu o terreno de hipoteca ao banco para garantir o empréstimo que lhe foi concedido para a
construção do imóvel.

B deu início à construção, mas não concluiu e hoje a obra está paralisada, em estado de abandono. A quer
que lhe seja restituído o terreno, mas sem hipoteca. Qualifique o negócio e diga se a pretensão de A tem
fundamento legal.

Este negócio é uma permuta, que não está atualmente prevista no nosso CC. Há uma permuta de bens
presentes por bens futuros. Convencionou-se que o prédio vai estar sujeito ao regime de propriedade
horizontal, ficando sujeita a uma condição resolutiva com momento certo.

De acordo com o art. 1307º CC, o direito foi transmitido para B segundo condição resolutiva. As condições
podem ser acordadas pelas partes. Isto remete-nos para o art. 1270º e ss CC. O art. 1276º CC diz que verificada
a condição resolutiva, tudo se passa como se nunca tivesse havido permuta, os efeitos retrotraem-se e A
vai ser havido como nunca ter deixado de ser proprietário.

B hipotecou o terreno ao banco. Vai receber o terreno com ou sem hipoteca, art. 1276º CC? Tudo cai para
todos os efeitos é como se o B tivesse hipotecado coisa alheia. Se a constituição daquela hipoteca fosse
nula.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
Quando se introduz num negócio que tenha por objeto móveis condição resolutivas ou suspensivas, a
aquisição a favor de B, tem também no registo a condição resolutiva. A transmite o terreno sobre condição
resolutiva, quando o banco empresta dinheiro a B e exige a constituição da hipoteca, mas que pode ser por
pouco tempo ou que pode vir a deixar de ser de B, o banco não é apanhado de surpresa; a cláusula resolutiva
tem de constar do estrato do registo. O registo tem de publicitar, não é uma opção de B. O conservador
regista a propriedade com a cláusula de resolução. O banco não é apanhado de surpresa.

Caso 39

A e B são vizinhas. A tem no seu quintal um limoeiro cujas raízes e ramos se introduzem no prédio de B. A e
B eram amigas e B apanhava os limões que nasciam nos ramos que pendiam sobre o seu imóvel. Agora, A e
B discutiram e A começou a apanhar todos os limões, à noite, sem sair do seu prédio. B entende que os
limões que nascem e crescem sobre o seu prédio são seus. Terá razão? 34

É um caso de restrições.

Os limões pertencem a A, de acordo com o art. 1367º CC. A árvore, o limoeiro pode estar plantado na estrema
do prédio. Admite que sejam plantadas árvores na estrema do prédio; só não podem ser plantadas eucaliptos
ou mimosas.

Não tem de cortar os ramos. Mas o vizinho pode reagir pedindo para que a dona da árvore proceda ao corte
dos ramos ou das raízes. Decorridos três dias sem que se proceda ao corte, o vizinho pode cortar pela linha
divisória. Os ramos e as raízes são do dono da árvore. Quem custeia o corte é o dono da árvore. O vizinho se
cortar tem direito a ser ressarcido pelos custos razoáveis.

A lei o que diz é que se pode proceder ao corte dos ramos e das raízes se tal não ocorrer, aquele que vê o
prédio invadido proceder ao corte. Por vezes, o corte das raízes não é fácil, se provocar estragos por exemplo,
estraga o mosaico, pode ser ressarcido.

Os frutos pertencem a A, art. 1397º CC. A que apanha os limões a noite, não precisa de apanhar à noite pode
apanhar à hora que quiser. Se não poder apanhar de forma confortável, tem direito a aceder ao prédio da
vizinha e a apanhar la os frutos. Sendo responsável pelo prejuízo da apanha.

Caso 40

Em 1998, A, dono de um restaurante, celebrou com B, seu vizinho e proprietário do prédio x, um contrato
nos termos do qual este aceitava receber os fumos produzidos pelos grelhadores, cujas chaminés tinham
aberturas apenas voltadas para x. Há cerca de três meses, B faleceu e C, seu único herdeiro, recusa-se a
manter a situação, invocando que o negócio entre A e B não lhe é oponível. Se fosse consultado por A, que
conselho lhe daria, considerando que aquele acordo foi celebrado por escritura pública?

A celebrou um contrato com B. B recebia todos os fumos.

• É possível ou não este contrato? Qual a regra em matéria de fumos, ruídos e emissões? A regra é o
proprietário do prédio vizinho que receba emissões, só pode reagir quando tal cause um prejuízo
substancial para o seu prédio ou quando não corresponda a uma utilização normal do prédio, art.
1346º CC.
• Este tipo de emissões são emissões de tamanho ínfimo quando corpóreas ou incorpóreas. São
emissões que ocorrem naturalmente, não podem ser direcionadas. Quando são direcionadas são a
partida ilícitas.
• A verdade é que neste caso, o vizinho concordou em receber os fumos provenientes do restaurante
de A. Tem interesse em que os fumos se dirijam para o prédio vizinho. Celebraram um negócio.
Havendo acordo não é possível? Já é porque existe acordo.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
• O direito que o A tem perante B, era um direito apenas eficaz inter partes, não era erga omnes,
portanto, não era oponível. Mas pode ser dependo da situação em concreto. Neste caso, em princípio
seria oponível. Um encargo imposto a um prédio a favor de outro prédio é uma servidão, quaisquer
utilidades pode ser objeto de servidão.
• É um servidão que conduz a um afastamento de um restrição imposta por lei. Desde que seja a favor,
haja a relação de predialidade pode existir servidão.
• B faleceu, C recusa-se a manter a servidão.
• É uma servidão aparente, porque as aberturas das chaminés davam para o prédio de B. É um direito
real. Sendo uma servidão aparente não precisa de ser registada para consolidar a sua oponibilidade.
• O C era herdeiro, mesmo que a servidão não fosse aparente não precisa de ser registada para lhe ser
oponível. É uma servidão. É um direito real como forma de afastar uma restrições, é uma servidão
desvinculativa. 35

Caso 41

A é proprietário de um prédio superior ao de B e sempre reteve a água do seu prédio. Este ano choveu muito
e A não conseguiu reter a água, por isso deixou-a escorrer livremente. B, proprietário do prédio inferior que,
em virtude da água recebida viu a sua produção agrícola, existente em estufas, destruída pretende reagir.
Será viável a pretensão de B?

O proprietário de um prédio superior pode deixar passar a água, art. 1351º CC. Estamos a falar de água que
nasça no prédio, pode aproveitar a água. O proprietário de um prédio pode no fundo, ou tem a faculdade de
exercer o direito de propriedade com efeitos no prédio do vizinho. Ou que pratiquem atos no próprio prédio
que corresponda a uma emissão no prédio de outro vizinho. É possível se for a água que for nascendo e
escorrendo naturalmente. B retinha sempre toda a água, se deixou sair a água que cai este ano é lícito. Mas
se tiver feito uma represa e ter aberto isso já não seria possível; não é possível fazer obras que agravem ou
causem prejuízo ao prejuízo do proprietário do prédio inferior. A não ser que se constitua uma servidão, art.
1351º/2 CC. Este caso não era uma obra, o proprietário do prédio inferior estava obrigado a recebe-la.

Em causa está o direito de propriedade que é tendencialmente perpétuo, com todas as faculdades que lhe
são inerentes. Não se perdeu com o facto se estar a conter a água noutros anos. Se B teve prejuízo foi porque
foi demasiado confiante.

Caso 42

A é proprietário de um prédio urbano, que construiu em 2013. Em Dezembro de 2019, B instalou no prédio
vizinho uma discoteca, que emite para o prédio de A ruídos infernais. Quid iuris se no prédio de A funciona:

➢ Uma clínica de saúde


➢ Habitação de A.

Quid iuris?

Art. 1346º CC, neste caso é emissão de sons:

• A possibilidade de reação de A só existe quando cause um prejuízo substancial ou não seja um uso
normal.
• Sendo uma clínica de saúde, causaria um prejuízo substancial ao prédio.
• É um uso normal porque é um discoteca.
• Numa clínica de saúde bem como uma habitação poderia haver reação, a emissão seria ilícita.
• O que interessa é o fim concreto do imóvel, não a utilização que está a ser dada pelo dono. O que
interessa é a situação em abstrato, não interessa se a pessoa naquele dia, o que interesse é o homem
médio que utilizasse o imóvel para aquele fim seria ou não perturbado.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
• Os problemas eram mais graves no caso da clínica de saúde, mas também haveria prejuízo para a
habitação.

Menezes Cordeiro considera que só pode existir restrições quando se verifiquem as duas restrições. Entende
que são exigência cumulativas, nessa perspetiva não se verificava uma dessas circunstâncias. O curso não
segue a sua posição.

Caso 43

A é proprietário do terreno x que confronta a norte com o prédio y e a Sul com o terreno z. A decidiu construir
uma vivenda sobre o seu terreno. Do lado norte, construiu a 175 cm do prédio y, e na parede da vivenda fez
abrir várias frestas, algumas delas com menos de 180 cm de altura. Do lado sul, construiu a 1 m do terreno
z, abrindo 3 janelas. Tanto o proprietário do prédio y, como o proprietário do terreno z pretendem construir 36
vivendas nos respetivos terrenos, mas são confrontados com a oposição de A de que aquelas construções
taparão frestas e janelas da vivenda deste. Quid iuris?

As janelas: abriu três janelas a 1 metro, só sendo gradadas é que pode. Nas janelas gradadas, art. 1364º CC.
De facto, pode-se abrir janelas gradadas, sem ter de se guardar um 1,5 m, mas ainda assim tem de ser abertas
a mais de 1, 80 m de alturas. Abriu apenas a um metro. As janelas tem de ser sempre 1,5 metro de distância
da estrema.

As frestas: não o podia ter feito, não tem se tem de guardar qualquer espaço, mas tinha de as ter colocado
mais de um 1,80 m, art. 1363º CC.

Não cumpriram as normas previstas na lei.

Podem os vizinhos construir até a extrema? Temos de colocar a hipótese de a construção ser há muito anos.

• Se for há menos de 20 anos, por um lado, violou o dever geral de abstenção e violou o estatuto do seu
próprio direito real. Podiam ter reagido através de uma ação, a ação negatória, pedindo que se
declarasse que A não tinha o direito de abrir as janelas ou as frestas. Isso implicava fechar as janelas
e as frestas.
• Se ele construir há mais de 20 anos e se os vizinhos não reagiram, ele pode adquirir uma servidão de
vistas quanto às janelas, art. 1362º CC. Podemos referir que temos uma pretensão real, porque
sempre que temos a violação do direito real temos uma pretensão real, temos uma relação creditória,
que depois pode ser atuada judicialmente através destas ações.

Neste caso se tivesse construído há mais de 20 anos, podia invocar a usucapião e ter uma servidão de vistas.

Em relação as janelas, quem construiu as janelas só guardou um metro. O vizinho vai ter de perder 50 cm de
terreno onde não vai poder construir.

As frestas a lei não refere qualquer servidão quando se abrem frestas a baixo da altura normal: quando há
frestas a baixo de 1,80 ou com tamanho irregular, não há constituição de uma servidão de vistas, mas pode
ser adquirido por usucapião, uma servidão que é a servidão de manter as frestas a baixo da altura ou
irregulares. Enquanto que sendo construída uma servidão de vistas, o vizinho mesmo que não queira abrir
janelas, vai perder terreno. No caso das frestas, mesmo que adquirida a servidão por usucapião porque numa
situação normal, podemos abrir, mas depois de abertas não é garantido que elas permanecem, porque o
vizinho não está nunca impedido de construir até a extrema, art. 1363º CC, que diz que o vizinho pode a todo
o tempo ou contramuro. Mesmo quando as frestas são abertas na altura legal e com as hipóteses da lei, não
está seguro de que as venha a manter.

Quer um vizinho quer outro, vão poder construir as suas casas. No caso das frestas vão poder construir até
a estrema. O outro vizinho que está a ser devassado pelas janelas, depois de ser constituída uma servidão de
vistas perder sempre 50 cm.

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
18/05/2020

Caso 44

A, B e C são comproprietários de um prédio rústico. A alienou a coisa comum. O que é que os outros
comproprietários podem fazer?

Não pode alienar a coisa comum porque a coisa é de todos. Só pode alienar a sua quota. O que é seu é a
quota de um direito e não a coisa. Art. 1408º/2 CC é havido como venda de coisa alheia, a alienação da
totalidade da coisa.

Temos de ter em atenção que o art. 1408º CC está mal elaborado.

Podem intentar a ação de declarar a nulidade do negócio caso ele venda; mas a verdade é que quando um 37
dos comproprietários vende a totalidade da coisa, está a revelar que não quer ser comproprietário. Para além
da declaração de nulidade pode ser pedida a redução do negócio e a sua conversão em alienação de quota;
caso se fosse possível fazer esse juízo, de que ele quereria fazer efetivamente isso. Qual a vantagem? Os
outros comproprietários dizem que convertido o negócio em alienação de quota querem exercer preferência
e querem alienar a quota, querem evitar a entrada de um estranho nessa quota.

Podem referir que temos aqui uma mudança de animus porque passou a atuar como titular de um direito
de propriedade e não como mero comproprietário.

Caso 45

A e B, legatários de um prédio rústico, que lhes foi deixado por um tio, em testamento, em 2018, dividiram-
no amigavelmente, por documento particular, há cinco anos atrás, e cada um deles passou a cultivar a
parcela de terreno que lhes coube na referida partilha. B acaba de vender, a C, a parcela que vinha
cultivando. Poderá A reagir judicialmente contra esta venda? Na hipótese afirmativa que pedidos poderá
ser formulados por A?

A e B tem um prédio em virtude de ser legatários por um tio, são comproprietário do prédio. Depois
resolveram dividir o prédio? Podiam? Sim, de acordo com art. 1412º CC, direito de exigir a divisão. Esse prédio
só podia ser dividido por escritura pública ou documento particular autenticado temos um vício de forma,
por isso é nulo.

Quando existe compropriedade cada um deles tem uma quota parte do direito sobre a coisa, é cotitular de
cada parte que componha a coisa. Ele vendeu parte especificada da coisa, como é que A pode reagir? Neste
caso alienou uma parte especificada da coisa, mas como existe um vício mantem-se a compropriedade, vale
o art. 1408º/1 2ª parte CC.

Quando se pede a declaração de nulidade, só os negócios nulos são suscetíveis de serem convertidos, relevou
o intuito de deixar de ser comproprietário. Quer converter este negócio nulo em alienação de quota, se se
fizer a prova da vontade, previstos no art. 293º CC e se o tribunal fizer a conversão, aí já se poderá exercer a
preferência.

Os comproprietários tem o direito de não estar na indivisão. Mas a divisão tem de obedecer à forma imposta
por lei, se for imóvel tem de ser escritura pública ou documento particular autenticado.

Não foi a venda da totalidade da coisa, mas apenas parte, por isso basta a conversão da alienação de quota.
Depois da conversão existe o exercício da preferência.

Caso 46

Mariana Freitas
DIREITO DAS COISAS
AULAS PRÁTICAS│ D Rª MÓNICA JARDIM
A, B e C adquiriram, em compropriedade, um apartamento e nele instalaram com um consultório
veterinário. B pretende agora usar uma parte do apartamento para vender comida para cães e gatos.
Poderá fazê-lo?

Temos 3 pessoas que adquiram um apartamento. Houve acordo para o consultório. Art. 1406º CC regula o
uso de coisa comum. Depois dos comproprietários definirem o fim a que a coisa se destina. Deste artigo
resulta literalmente também que pode usar a totalidade da coisa desde que não empregue a coisa para um
fim diferente daquele a que se destina.

O curso defende que eles podem usar a coisa para um fim diferente, mas não pode obstar para que não se
atinja o fim acordado; se o uso para o fim acordado não colocar em causa o fim económico em causa.

Neste caso temos um consultório veterinário é normal existir estes alimentos. Este uso não prejudica o fim 38
acordado por todos, é um fim que é lícito por isso os outros não se podem defender.

Caso 47

A, B e C decidiram adquirir, em conjunto, um trator, para usarem, em dias alternados. Confrontando-se A


com uma avaria mecânica no trator, pretende mandar repará-lo. Poderá fazê-lo sem, previamente, obter o
consentimento dos restantes consortes?

Temos duas questões:

• A, B e C adquiriam um trator, para o usar em dias alternados, mas não querem seguir a regra do art.
1406º CC- instituíram um uso rotativo. A primeira questão a resolver é se isto é possível? Podem os
comproprietários regular o uso da coisa comum? Sim, art. 1406º CC “na falta de acordo sobre o uso
da coisa comum”. Havendo acordo pode ser algo diverso.
• A segunda questão é que o trator se avariou, mas se pode reparar o trator sem o consentimento dos
outros? Art. 1407º CC, a coisa está avariada está necessitada de ser reparada, administração
ordinária.
o Estes correspondem à realização de benfeitorias necessárias, tudo para impedir que a coisa
se deteore, a alienação de frutos perecíveis.
o Pode mandar reparar o trator? Um dos comproprietário pode sozinho praticar um atos de
administração ordinária ou tem de ter o consentimento dos demais? Qualquer um deles pode
sozinho praticar um ato de administração ordinária.
o Depois de estar reparado todos tem de custear as quotas, art. 1405º/1, 2ª parte e art. 1411º
CC.

Vamos imaginar que A resolveu informar os restantes e que tinha intenção de o mandar arranjar. B opôs-
se.

• Aplica-se o art. 985º CC. Os comproprietários podem praticar atos de administração ordinária,
havendo oposição vai ter de se apurar do mérito da oposição e se a maioria per capita dos condóminos
entender que a oposição tem mérito o ato não será praticado se corresponder a 50% das quotas. Art.
1497º CC diz-nos que se aplica o art. 985º CC, a maioria per capita é necessária que essa maioria
represente metade das quotas. Nesse caso o ato não seria realizado.

Caso 48

Em Dezembro de 2018, A vendeu a B e C um armazém onde estes pretendiam guardar o stock da sua
empresa de comercialização de produtos de pastelaria.

a) Acordaram B e C que ao primeiro seria concedido o poder de administração do armazém.

Mariana Freitas
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Quanto ao uso pode haver acordo. Na falta de acordo vale o art. 1406º CC. Quanto à administração também
pode haver acordo; art. 985º CC, em matéria de administração ordinária, vale as regras dos sócios e o art.
1407º CC. O art. 985º CC diz-nos que na falta de convenção em contrário, a administração cabe a todos, mas
podem acordar o contrário.

b) Em Janeiro de 2019, B, que, entretanto, tinha comprado uma fábrica de calçado, começou a guardar
peças de pele no mesmo imóvel, C consulta-o para saber se pode opor-se. Que lhe responderia?

Temos um problema de uso, art. 1406º CC. Pode usar desde que não ponha em causa o fim económico a que
a coisa se destina.

Aqui temos um caso em que era para se guardar produtos de pastelaria, ele quis guardar no armazém peças
de pele, estas peças tem cheiro, portanto este uso põe em causa o destino económico deles. 39
Portanto, ele não poderia dar esse uso à coisa comum.

c) Três meses depois B decidiu vender a D os aparelhos de refrigeração instalados no teto do edifício.
Agora que se apercebeu da situação, C pretende intentar contra D uma ação de preferência. Será a
sua pretensão bem-sucedida?

B podia vender os aparelhos de refrigeração? Estavam instalados no teto, são partes integrantes. Ele retirou
uma parte e autonomizou-a para vender. Temos um ato de alienação de partes integrantes que se tornaram
autónomas, a sanção é a nulidade, art. 1408º/1 2ª parte e art. 1408º/2 CC.

Pode ser intentada a ação de preferência? Apenas quando temos a alienação da quota. Quando é da coisa,
pode pedir-se a nulidade do negócio e depois a redução ou conversão da quota. Parece ser viável do negócio
nulo em alienação da quota? Para haver conversão, art. 293º CC, ou seja, se a pessoa soubesse que era nulo
teria celebrado este negócio que era válido. Parece que se B soubesse que a venda dos refrigerados era nula
o que ele queria era vender a quota? Não, a atuação de B não é reveladora de que ele queria deixar de ser
proprietário.

Neste caso podia ser pedia a declaração de nulidade, muito dificilmente seria julgado procedente um pedido
de conversão. Depois não podia ser exercida qualquer preferência.

d) Imagine, agora, que, em vez de ter vendido o armazém, A tinha concedido a B e a C o direito de
manter esta período de 30 anos, e que, aquando da celebração do contrato de 2018, acordaram as
partes que B e C pagariam a A, anualmente, o valor de 5.000.00 Euros. Entretanto, por causa dos
conflitos sucessivos com B, e C decidiu doar a posição a E que, agora, se recusa a pagar a sua parte
daquele valor, alegando que nada tem a ver com os negócios celebrados antes da doação. Teria
razão?

Não vendeu apenas tem a possibilidade manter o armazém? É um direito de superfície na segunda
modalidade. Abrange apenas e só o armazém. Permite que exista direito de superfície por alienação de obra
ou plantação. B e C não são comproprietários, são consuperficiários.

Devido aos conflitos, C decidiu transmitir a sua posição para E. E recusa-se a pagar esse valor. C pode doar?
Pode, se um comproprietário pode um consuperficiário também pode. O que temos para a compropriedade
temos para os restantes direitos. Tem de dar preferência aos demais comproprietários caso queria vender
ou dar em cumprimento, art. 1406º/1 1ª parte CC. Tinha de dar preferência, art. 1409º CC? Só existe quando
se pretende em caso de venda a estranhos. No caso temos uma doação, quando existe doação nunca temos
direito de preferência.

A forma para doar a quota, art. 1408º/3 CC é a mesma para a disposição da coisa, por isso, escritura publica
ou documento particular autenticado.

Mariana Freitas
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E vem dizer que não quer pagar o valor que B e C tinham acordado a pagar anualmente. É um cânone
superficiário. O cânone superficiário é um a obrigação real de dare. O argumento de E é irrelevante porque
temos um estatuto que está a reger o direito que agora é de E.

Se o valor em divida já estava em divida quando o direito ainda estava na esfera de E, é de E, porque foi ele
que teve o beneficio (se o valor em divida for), está obrigado porque nasceu na esfera jurídica que era dele, e
aí não se coloca a questão da ambulatoriedade.

Se em causa estivesse um valor pretérito aí sim, tínhamos a questão da ambulatoriedade. Uma das hipóteses
em que não é ambulatória é quando corresponda a um uso do anterior, neste caso C, não era ambulatória.

Caso 49

A e B são estudantes da UC e em 2018 compraram um andar num edifício que foi subordinado ao regime da 40
propriedade horizontal. Entretanto desentenderam-se e A pretende pôr fim à situação jurídica existente.

a) Poderá fazê-lo?

A e B são comproprietários. Como se põe fim? Pode ser por acordo ou por ação de divisão de coisa comum,
art. 1412º CC. No caso da divisão de coisa comum, temos de ver se é suscetível de divisão material ou se é
insuscetível de divisão material. Neste caso se não houvesse acordo tínhamos ação de divisão de coisa
comum.

É suscetível de divisão material? Pode, temos de ver as regras da propriedade horizontal. Para a divisão as
frações art. 1422º A/3 CC. O facto de ser uma fração não nos pode conduzir que em causa esteja uma coisa
que não pode ser dividida. Pode ser. Quando nada conste no título o que é preciso é uma deliberação sem
oposição. Quando haja a divisão ou divisão as alterações tem de ser introduzidas no título constitutivo.

O art. 1422º A é uma exceção à regra de que a alteração do título tem de ser feita com o acordo de todos.

NOTA: Não podíamos dar por assente que a coisa era insuscetível de indivisão material.

b) A resposta seria a mesma se tivessem acordado manter a situação jurídica durante os 6 anos de
duração dos respetivos cursos e posteriores mestrados?

Celebraram um acordo para que a situação se mantivesse a mesma. Era possível dividir? Este acordo é válido?

• Sabemos que qualquer um deles tem o direito de não se manter na indivisão, art. 1412º CC.
• O prazo fixado para a indivisão não pode exceder 5 anos, art. 1412º CC. Decorridos os 5 anos eles
podem renovar o prazo por nova convenção. Mas a cláusula de indivisão tem de ser registada. Se for
fixada por mais de 5 anos reduz-se a 5, porque se entende que seria demasiado oneroso a
manutenção da compropriedade, pode existir conflitos. Este pacto para valer perante terceiros tinha
de ser registada.

Para ocorrer a divisão de coisa comum tinha de ocorrer pelo menos 5 anos. E neste caso só foi em 2018. Por
isso, não podia ser feita a divisão.

c) Nesse mesmo edifício C comprou uma fração, antes destinada a habitação e instalou um consultório
médico. Alguns vizinhos estão descontentes e pretendem reagir. Poderão fazê-lo? De que modo?

No título constitutivo pode estar o fim da fração, art. 1418º/2 a) CC. O que é imperativo estar no título
constitutivo é o art. 1418º/1 CC. Se no título constar que é para habitação o novo condómino tinha de cumprir
ou se convence-se os outros ou através de autorização camarária. Só depois de alterado o título podia ser
alterado.

A indicação para o fim a que se destina a fração não é imperativo.

Mariana Freitas
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Quando nada é dito para o fim a que se destina a fração, é o primeiro condómino que usou a fração, art.
1422º/4 CC.

Para existir alteração do fim se houver uma deliberação representativa por uma maioria de 2/3 dos
condóminos.

É relevante fixar a percentagem.

Como é que os vizinhos podem reagir?

• No art. 1422º CC, onde temos o número 4 que nos diz que se o fim da fração não estiver no título é o
primeiro titular que o define e depois só pode alterar se for aprovado.
• O art. 1422º CC fala sobre as limitações ao exercício de direitos. Este artigo é para defesa dos outros
condóminos individualmente. 41
• A ação que intentariam é uma ação de defesa do seu direito de real é uma ação negatória. Uma ação
de simples apreciação era pouco.

Caso 50

A proprietário de um edifício que sujeitou ao regime de propriedade horizontal, alienou a fração do Rés-do-
chão a B, garantindo que esta nela poderia instalar uma lavandaria. Ocorre que, de acordo com o título
constitutivo da propriedade horizontal, todas as frações se destinam à habitação. Poderá, ainda assim,
utilizar a sua fração como lavandaria?

A é que fez o título constitutivo.

Não pode ter lá a lavandaria, a mudança do fim pode ocorrer quando no título não esteja o fim a que a coisa
se destina, mas mesmo assim temos de levar a decisão à assembleia, art. 1422º/4 CC. Para a mudança no
título temos de seguir os tramites do art. 1419º CC, tem de ser com o acordo de todos.

Caso 51

O regulamento do condomínio, contido no título constitutivo da propriedade horizontal do prédio x, proíbe


os condóminos de receber convidados a partir das 02h00 e impõem-lhes a pintura das respetivas frações de
dez em dez anos. Tais disposições serão lícitas?

São licitas ao abrigo do art. 1418º/2 b) CC e art. 1429º A CC. Art. 1424º CC.

O condomínio dizem respeito às partes imperativamente comum ou presuntivamente comum. Se não


fossem aquelas frações, sujeitas ao regime da propriedade horizontal são partes integrantes. Essas partes não
existiam sem as partes que servem a todas as outras. Sem as outras não seriam funcionais. Daí que temos a
assembleia geral e temos um administração. Se tivermos mais de 4 condóminos temos um regulamento
sobre o uso, fruição e conservação.

Estas disposições são licitas. Quanto à pintura é mais duvidosa. Os convidados é claro que pode restringir.
Quanto à pintura poderíamos problematizar mais um pouco. Sabemos que podemos considerar a pintura para
conservação.

Caso 52

A, proprietário de um apartamento localizado no rés do chão de um prédio sujeito ao regime da propriedade


horizontal, recusa-se a pagar as despesas de conservação dos elevadores e a limpeza dos diversos lanços de
escadas e pondera, em última instância, renunciar ao uso de tais partes comuns do edifício. B, administrador
do prédio, pretende saber se A tem razão. Que lhe responderia?

Não tem razão. As despesas com as partes comuns, art. 1424º CC, o que se diz é que salvo disposição em
contrário, as despesas são pagas pelos condóminos em proporção do valor das suas frações- REGRA GERAL.
Mariana Freitas
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Em relação aos elevadores e escadas, art. 1424º/3 e 4 CC:

• Quanto às escadas vale o número 3, ficam a cargo dos que delas se servem. Se A vive no res do chão
e não tem escadas, se não usa, de facto não está vinculado a despesas relativas aos lances de escadas.
• Os ascensores, à partida ele também não teria de custear. Mas temos de ver a situação em concreto.
• Por exemplo, as reuniões são feitas nas partes comuns e se o sótão que é comum, ele pode ter de
utilizar as escadas ou elevadores. Temos de ver em concreto, vale o art. 1424º/3 e 4 CC.

Na hipótese de poder tem de custear.

Ele quer renunciar ao uso de algumas partes, para desse modo deixar de estar obrigado a custear as
despesas, pode?
42
• É uma obrigação real, por isso quando ele quer renunciar, ele quer fazer uso de uma renúncia
liberatória, que implica abrir mão de um direito.
• Art. 1420º/2 CC não pode renunciar.
• A renúncia liberatória é uma renúncia ao direito e não apenas a uma faculdade.

Caso 53

A, proprietário de um apartamento sito num prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal, pretende
pintar a parede exterior das suas varandas de azul e mandar aplicar uma rampa de acesso aos elevadores,
uma vez que tem um irmão que tem dificuldades motoras e durante certos períodos apenas se consegue
deslocar cadeira de rodas. Poderá realizar tais obras sem autorização dos restantes condóminos?

Pode pintar as paredes e mandar aplicar a rampa de acesso?

• Pintar as paredes: art. 1422º/2 a) CC e o número 3. Não se pode pintar. Mas se tiver essa aprovação
pode pintar tem de ser a maioria de 2/3 do valor total do prédio.
• As rampas: é um ato de inovação, art. 1425º/1 CC, essas dependem da aprovação da maioria do
condóminos, devendo essa maioria representar 2/3 do valor total do prédio. Tinha de levar a questão
à assembleia, mesmo que assembleia assim delibera-se, nunca são permitidas inovações que possa
prejudicar a utilização por parte de algum dos condóminos.
• As despesas devem ser custeadas por todos; a não ser que a recusa seja judicialmente fundada.

Art. 1425º/3 CC pode aplicar-se? Não, porque não se diz que o irmão é um condómino. Se lá vivesse, nesse
caso seria de aplicar este artigo, porque faria parte do agregado familiar.

Caso 54

A, em Janeiro deste ano, adquiriu um apartamento sito num prédio sujeito ao regime da propriedade
horizontal e em cujo regulamento (não constante do título constitutivo) os condóminos determinaram, há
dois anos, proibir que nas partes comuns circulassem carrinhos de compras e de bebé.

A é mãe de gémeos e não se conforma com tal proibição, por isso consulta-o para saber se está obrigada a
cumprir o regulamento e, na hipótese afirmativa, o que necessita de fazer para que o mesmo seja alterado.

É possível?

• Art. 1429º A CC, tem de haver regulamento desde que existam mais de 4 condóminos.
• Art. 1422º/2 d) não podem praticar atos que sejam proibidos no título constitutivo.
• A lei exige muito, exige decisão sem oposição. Parece que o legislador pretendeu uma decisão de mais
peso, portanto não pode ser no tal regulamento que vai apenas regular o uso e fruição que se pode
impor a não prática de atos. Pode-se defender para estas restrições tem de ser o art. 1422º e não o
art. 1429º A CC. A proibição valerá enquanto o regulamento se mantiver, portanto, o condómino pode

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solicitar a marcação de uma assembleia extraordinária, para que haja a alteração do regulamento
naquele aspeto. Esta imposição não é definitiva ou permanente, como não consta do título pode ser
alterado o regulamento numa assembleia.

Caso 55

A e B compraram, em 2016, um apartamento num prédio sujeito ao regime da propriedade horizontal.


Entretanto, os proprietários de um apartamento vizinho, localizado imediatamente abaixo da fração de A e
B, decidiram colocá-lo à venda e estes ponderam adquiri-lo para, de seguida, proceder à junção de ambas
as frações. Poderão fazê-lo?

Art. 1422º A CC, nº 1: para haver a junção de frações não é preciso uma autorização da assembleia, basta
que sejam contiguas. Depois de juntarem as frações tem de fazer a alteração do título, art. 1422º A/4 e 5 CC. 43
No mesmo prédio, existe uma fração cuja área corresponde à totalidade do último andar e o seu proprietário
pretende convertê-lo em duas frações, a sua pretensão será viável tendo em conta que é condómino que
tem maior permilagem no edifício?

Podem ser divididas.

Ele pode fazer isso tendo em conta que é o condomínio que tem mais permilagem? Não pode fazer assim
livremente, art. 1422º A/3 CC, a assembleia tem de aprovar sem oposição dos presentes.

É irrelevante ele ter a maior permilagem do edifício.

Caso 56

A é proprietário de uma fração autónoma y, num edifício sujeito ao regime de propriedade horizontal e é o
único condómino que usa desde sempre o logradouro. No título constitutivo da propriedade horizontal
consta que o logradouro, parte comum, está afeto ao uso exclusivo do proprietário da fração de y. Este ano
a assembleia de condóminos deliberou, por maioria de 2/3, que todos passariam a usar o logradouro. A,
não se conformando, pretende reagir. Será procedente a sua pretensão?

Mariana Freitas

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