Você está na página 1de 83

Casa-Grande & Senzala

formação da família brasileira


sob o regime de economia
patriarcal
Gilberto Freyre

Robson de Paula Araujo

Disciplina Sociedade Civil, Governo, Estado


e Organizações no Brasil - RAD5006
Apresentação da obra
TV Cultura
Leituras do Brasil: Casa-Grande e Senzala

FAZENDA Noruega. In: FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal.
21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.
Gilberto Freyre

• Recife, 1900 – 1987


• Bacharel em Artes Liberais (EUA)
• Especialista em Ciências Políticas e Sociais (EUA)
• Mestre em Ciências Políticas, Jurídicas e Sociais (EUA)
• Deputado federal (1946)
• Inúmeras homenagens acadêmicas, políticas e culturais

GILBERTO Freyre (imagem). In: QUEM DISSE: mais de 200.000 frases, citações e provérbios atualizados diariamente para você. 2016. Disponível
em: <http://quemdisse.com.br/frase/o-brasil-e-a-mais-avancada-democracia-racial-do-mundo/59674/>. Acesso em: 02 out. 2016
Casa-Grande & Senzala
1933
Escrito após exaustivas pesquisas em arquivos
nacionais e estrangeiros

Traduzido para mais de uma dezena de línguas e


diversos países
Casa-Grande & Senzala - sumário
I Características gerais da colonização portuguesa
no Brasil: formação de uma sociedade agrária,
escravocrata e híbrida

II O indígena na formação da família brasileira

III O colonizador português: antecedentes e


predisposições

IV e V O escravo negro na vida sexual e de família do


brasileiro
O indígena
na formação da família brasileira

FAMÍLIA de índios piauienses avistando uma caça. In: ASPECTOS DE TERESINA. Presença do índio no Piauí. 2011. Disponível em:
<http://www.donodanoticia.com/aspectosdeteresina/presenca-do-indio-no-piaui>. Acesso em: 02 out. 2016.
O indígena e o colonizador
“Harmonização” (encontro e convivência)

Português encontra população indígena “sem o


desenvolvimento nem a resistência das
grandes semicivilizações americanas”, o que leva a
“estabelecerem mais a cômodo o seu sistema
colonial de exploração e de cristianização”

Incapacidade técnica ou política de reação que


excitasse no branco a política do extermínio
seguida pelos espanhóis no México e no Peru
O indígena e o colonizador

Invasor (colonizador) pouco numeroso


contemporizou com o elemento nativo, servindo-
se do homem para as necessidades de trabalho
e principalmente de guerra, de conquista dos
sertões e desbravamento do mato virgem; e da
mulher para as de geração e formação de
famílias
Influência cultural

Da cultura moral dos primitivos habitantes do


Brasil, interessa-nos principalmente, dentro dos
limites que nos impusemos neste ensaio:

as relações sexuais e de família;


a magia e a mítica

Traços que se comunicaram à cultura e à vida do


colonizador português
A indígena

EMPRESA BRASILEIRA DE COMUNICAÇÃO (EBC). Professora paulista aproxima crianças de culturas diferentes. 2015. Disponível em:
<http://www.ebc.com.br/infantil/para-educadores/2015/01/professora-paulista-aproxima-criancas-de-culturas-diferentes>. Acesso em: 05 out. 2016.
A indígena
sociedade cristã na superestrutura
mulher indígena
esposa e mãe de família
economia e vida doméstica
tradições, experiências
e utensílios

Escassez de mulher
Sem a gentia "mal se pudera remediar nem povoar tão
larga costa...", como em carta de 1612 mandava dizer a
el-Rei Diogo de Vasconcelos

Preferência sexual (cabocla/branca)?


Hibridismo (branco e índia)
E o certo é que sobre a mulher gentia fundou-se e
desenvolveu-se através dos séculos XVI e XVII o
grosso da sociedade colonial, em um largo e
profundo mestiçamento

Meados século XVII: 1ª geração de mamelucos


(branco com índio)

Escassez de colonizadores: poligamia?


A indígena

Influência em uma série de alimentos ainda hoje


em uso, de drogas e remédios caseiros, de
tradições ligadas ao desenvolvimento da
criança, de um conjunto de utensílios de
cozinha, de processos de higiene tropical -
inclusive o banho frequente (ou pelo menos
diário)

Trabalhadora do campo e doméstica


Indígenas

Características (visão colonizadora)

Sensuais
Caboclas priápicas
Gentias
Luxúria
Incesto (?) (parentesco paternal; totemismo)

Inocência de costumes
O índio

MUSEU DO ÍNDIO: seu museu virtual! Dia do índio: 19 de abril. 2016. Disponível em: <http://www.museudoindio.org.br/>. Acesso em: 02
out. 2016.
Índio

Formidável: mas só na obra de devastamento e


de conquista dos sertões, de que ele foi o guia, o
canoeiro, o guerreiro, o caçador e pescador

Muito auxiliou o índio ao bandeirante


mameluco

Caçadores, pescadores e guerreiros – rotina


Nômade – sedentário (!?)
Relações sexuais e de família
Poligamia (masculina)
Variação de parceiros (as) (marido/mulher)

Igreja: esforço para monogamia (além do indígena,


do colonizador também)
Português: influência moura para poligamia

Africano: o mais fracamente sexual;


e o mais libidinoso: o português
Relações sexuais e de família

Era natural aos europeus surpreendidos por uma


moral sexual tão diversa da sua concluírem pela
extrema luxúria dos indígenas; entretanto, dos
dois povos, o conquistador talvez fosse o mais
luxurioso

Desregramento sexual português


Formação social da família brasileira

Predomínio da moral europeia e católica

Colapso da moral católica: minoria colonizadora


intoxicada a princípio pelo ambiente amoral de
contato com a raça indígena
Índios e a natureza (animais)
Fraternidade entre o homem e o animal, certo
lirismo mesmo nas relações entre os dois

Numeroso grupo de animais, principalmente


pássaros, por ele amansados ou criados em
casa, sem nenhum propósito de servir-se de
sua carne ou dos seus ovos para alimento, nem
de sua energia para o trabalho doméstico ou
agrícola ou para a tração, nem do seu sangue para
sacrifício religioso
Índios e “civilização”
Ler, contar, escrever, soletrar, rezar em latim. Em tais
exercícios se revelariam os indígenas sem gosto
nenhum de aprender

Jesuítas – intelectuais
Franciscanos – naturalistas, simplistas

Jesuítas: quase todos puros acadêmicos ou


doutores da espécie que São Francisco de Assis tanto
temia, precisaram de improvisar-se em
carpinteiros ou sangradores

Menosprezo ao trabalho braçal atual?


Cultura indígena - depreciação
Sufocamento através da igreja
Aldeiamento (missões)

Catequese ou sistema moral, pedagógico e de


organização e divisão sexual do trabalho imposto pelos
jesuítas (agricultura para os homens)

Legislação penal europeia aplicada à fornicação

Abolição à poligamia

Aumento da mortalidade (principalmente infantil)


Mortalidade - influências

Influência letal ou deletéria da moralização, do ensino


e da técnica de exploração econômica empregada pelos
padres

O vestuário imposto aos indígenas pelos missionários


europeus vem afetar neles noções tradicionais de
moral e de higiene -> doenças e mortes

Asseio indígena superior ao europeu


Dos indígenas parece ter ficado no brasileiro rural ou
semi-rural o hábito de defecar longe de casa
BURDA, Janete. Missões Guarani. In: BEMPARANÁ. Exposições. Exposição retrata missões jesuíticas no Paraná. 2009. Disponível
em: <http://www.bemparana.com.br/noticia/119512/exposicao-retrata-missoes-jesuiticas-no-parana>. Acesso em: 03 out. 2016.
Mortalidade - influências

Colonos, e não os jesuítas, terão sido, em grande


número de casos, os principais agentes disgênicos
entre os indígenas: os que lhes alteraram o
sistema de alimentação e de trabalho,
perturbando-lhes o metabolismo; os que
introduziram entre eles doenças endêmicas e
epidêmicas; os que lhes comunicaram o uso da
aguardente de cana
Mortalidade - influências
Jesuítas

Várias missões só faltaram tornar-se armazéns


de exportação, negociando com açúcar e com
drogas. Isso em prejuízo da cultura moral e mesmo
religiosa dos indígenas, reduzidos agora a puro
instrumento do mercantilismo dos padres

Os padres teriam se deixado escorregar para as


delícias do escravagismo ao mesmo tempo que
para os prazeres do comércio
Mortalidade - influências
Dissolução de famílias indígenas – homens fugindo
devido condições “econômicas” (sobrevivência)

Aumento de abortos (intencionais ou não)

Diminuição da natalidade

Despovoamento: guerras de repressão ou de castigo

O trabalho sedentário e contínuo, as doenças adquiridas ao


contato dos brancos, ou pela adoção, forçada ou espontânea,
dos seus costumes a sífilis, a bexiga, a disenteria, os catarros
foram dando cabo dos índios: do seu sangue, da sua
vitalidade, da sua energia (-> escravismo negro)
Escravismo indígena
A enxada é que não se firmou nunca na mão do
índio nem na do mameluco (-> escravismo negro)

Por não terem as mulheres índias dado tão boas


escravas domésticas quanto as africanas, que mais
tarde as substituíram vantajosamente como
cozinheiras e amas de menino do mesmo modo
que os negros aos índios como trabalhadores de
campo
Escravo indígena
O número de índios possuídos pelo colono, quer
sob o nome de "peças", quer sob a dissimulação de
"administrados", tornou-se o índice do poder ou
da importância social de cada um; tornou-se o
capital de instalação do colono na terra

Trabalho servil

Desenraizamento viria com a colonização agrária,


isto é, a latifundiária: com a monocultura,
representada principalmente pelo açúcar. O açúcar
matou o índio (desalojamento e trabalho forçado)
Escravo indígena -> escravo negro

Demasiado e brusca a passagem do nomadismo à


sedentariedade para o indígena

Substituí-lo pela energia moça, tesa, vigorosa do


negro, sua extroversão e vivacidade
Escravidão colonial

O meio e as circunstâncias exigiriam o escravo. A


princípio o índio. Quando este, por incapaz e
molengo, mostrou não corresponder às
necessidades da agricultura colonial - o negro.
Sentiu o português com o seu grande senso
colonizador, que para completar-lhe o esforço de
fundar agricultura nos trópicos - só o negro. O
operário africano. Mas o operário africano
disciplinado na sua energia intermitente pelos
rigores da escravidão
Divisão sexual de trabalho

Ponto de vista da organização agrária maior foi a


utilidade social e econômica da mulher que a do
homem indígena; superioridade técnica daquela
entre os povos primitivos
Divisão sexual de trabalho

Machos é que "costumam a roçar os mattos, e os


queimam e limpam a terra delles"; que "vão buscar
lenha com que se aquentam e se servem porque
não dormem sem fogo ao longo das redes, que é a
sua cama"; que "costumam ir lavar as redes aos
rios quando estão sujas". Isto sem insistirmos nas
responsabilidades principais do homem de
abastecer a taba de carne e de peixe e de defendê-la
de inimigos e de animais bravios
Divisão sexual de trabalho

Para a mulher tupi a vida de casada era de


contínuo trabalho: com os filhos, com o marido,
com a cozinha, com os roçados. Isto sem
esquecermos as indústrias domésticas a seu cargo,
o suprimento de água e o transporte de fardos
Cultura indígena feminina

Utensílios domésticos
Mandioca (farinha em substituição ao pão de trigo)

Miscigenação culinária
Tapioca de coco: a mandioca indígena, o coco
asiático, o sal europeu, confraternizando-se em
um só e delicioso quitute sobre a mesma cama
africana de folha de bananeira
Cultura indígena – culinária

Milho Pimenta
Peixe
Tartaruga Batata
Cacau
Amendoim Caju
Mamão

Plantas e ervas medicinais


Curumim (culumim)

DICIONÁRIO Ilustrado Tupi Guarani. Dicionário. Curumim. 2016. Disponível em: <http://www.dicionariotupiguarani.com.br/
dicionario/curumim/>. Acesso em: 03 out. 2016.
Curumim
Superstição recém-nascido

Mortalidade infantil
(enfeitamento/embelezamento angelical)

Caboclinhos brincavam "com muito mais festa e


alegria que os meninos portugueses"
Culumim - mediador
Catequese jesuítica dos curumins

Eixo de transição da cultura indígena para cristã (europeia)

Conhecimentos dos padres ao invés do cacique ou pajé

Desmoralização cultural indígena

A poesia e a música brasileiras surgiram desse conluio de


culumins e padres

Verificara-se, porém, desde o primeiro século a


contemporização hábil do estilo religioso ou católico de
ladainha com as formas de canto indígena
Curumim - puberdade
Rituais de passagem e provas de resistência

Violência: expurgo dos maus espíritos

Tradições e iniciação

Casa secreta (baito)


Homossexualidade

Posições de mando
Pajé
Curandeiros

Couvade

Denominações coloniais
Gentio (sodomita para hebreus)
Bugre (crime nefando p/ cristão medieval)
Comunidade indígena
No tocante à propriedade para nos fixarmos nesse
ponto, entre o comunismo do ameríndio e a noção
de propriedade privada do europeu

"benignidade jurídica" já a interpretou Clóvis


Beviláqua como reflexo da influência africana.
Certa suavidade brasileira na punição do crime de
furto talvez reflita particular contemporização do
europeu com o ameríndio, quase insensível à
noção desse crime em virtude do regime comunista
ou meio comunista de sua vida e economia
Mítica e magia

SAMPALMIERI , Frei Arsênio. Índio Ticuna durante ritual. Belém do Solimões, Terra Indígena Évare I, Amazonas, 1979. In: POVOS
INDÍGENAS DO BRASIL. Rituais. 2016. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/rituais>.
Acesso em: 03 out. 2016.
Mítica e magia

Caipora (entidade folclórica) -> caiporismo (infeliz


ou azarado, feitiço, magia...)

Pajés -> entidades

Selvagem considera os grandes inimigos do corpo


não os insetos e bichos, mas os espíritos maus
HISTORIA DE BOA VIAGEM. Desenhos para colorir. Caipora. 2016. Disponível em: <http://www.historiadeboaviagem.com.br/serrote-
da-cabeca-de-pedra/desenhos-do-caipora-para-colorir-7/>. Acesso em : 03 out. 2016.
Mítica e magia
Cor vermelha (“encarnada”)

Pintura (urucu) – místico, profilático


e erótico

“proteção ou de profilaxia do
indivíduo contraespíritos ou influências más”

cor profilática (influências maléficas)


cor tonificante (saúde e resistência)
cor da felicidade (caça)
cor erótica (sedução ou atração)

Trajes e objetos (português <- mouros e negros)


ZEIGER, Sérgio. Pintura corporal indígena. In: PINTEREST. O catálogo de ideias do mundo todo. 2016. Disponível em: <https://br.
pinterest.com/pin/508625351643714495/>. Acesso em: 03 out. 2016.
Mítica e magia - Superstição

Bichos papões (crianças)


Jurupari (demônio - adultos)

= Controle social indígena

Desprestigiado pelo cristianismo

Bicho do mato: animismo indígena

Crianças: “batizadas” com nomes de animais, peixes,


árvores etc.

“Jogo do bicho” - animismo


JOGO DO BICHO. Jogo do bicho resultado. 2016. Disponível em: <http://jogodobicho.org/jogo-do-bicho-resultado>. Acesso em: 03 out. 2016.
Mítica e magia - religiosidade

Flagelação (profilaxia espiritual) / Penitência


católica

Dualidade: bem e mal


Animismo

Aliás a vida selvagem toda, através de suas diversas


fases, se achava impregnada de um animismo, de um
totemismo, de uma magia sexual que forçosamente
se comunicariam à cultura do invasor: esta só os fez
deformar. Não os destruiu.

É o folclore, são os contos populares, as superstições,


as tradições que o indicam.
Animismo
todo civilizado guarda em si, da ancestralidade
selvagem, a tendência para acreditar em fantasmas,
almas do outro mundo, duendes...

O brasileiro é por excelência o povo da crença no


sobrenatural: em tudo o que nos rodeia sentimos o
toque de influências estranhas; de vez em quando os
jornais revelam casos de aparições, mal-assombrados,
encantamentos

Também são frequentes, entre nós, os relapsos no


furor selvagem, ou primitivo, de destruição,
manifestando-se em assassinatos, saques, invasões de
fazendas por cangaceiro, “revoluções sociais”
O colonizador português:
antecedentes e predisposições

PEDRO Álvares Cabral Terra de Santa Cruz. In: LEPANTO. Frente Universitária & Estudantil. O descobrimento do Brasil. Objetivos da expedição. 2016.
Disponível em: <http://www.lepanto.com.br/historia/brasil-500-anos/o-descobrimento-do-brasil/>. Acesso em: 04 out. 2016.
Português
Colonizador europeu que melhor confraternizou com as
raças chamadas inferiores. O menos cruel nas relações com
os escravos

Impossibilidade de constituir-se em aristocracia europeia


nos trópicos

Tradição pegajenta de inépcia, de estupidez e de salacidade

Aristocrático, patriarcal e escravocrata (em Portugal)

É um povo que vive a fazer de conta que é poderoso e


importante
República de opereta onde todos os homens
fossem doutores e se tratassem por Vossa
Excelência. D. Pedro II preferia Doutor à
Imperador

Ódio ao espanhol, mouro e nórdicos


(conquistadores e conquistados); no Brasil aos
bugres e aos hereges (franceses, ingleses ou
holandeses) - antagonismos econômicos disfarçado
de religiosos
HIRONDINO. História de Portugal. Bandeiras de Portugal. 2012. Disponível em: <http://www.hirondino.com/historia-de-
portugal/bandeiras-de-portugal/>. Acesso em: 05 out. 2016.
Portugal

Localização estratégica e “cosmopolita”: local de


passagem de estrangeiros e saída de portugueses
para o mundo

Situação geográfica a ponto de contato, de trânsito,


de intercomunicação e de conflito

Aristocracia eclesiástica e territorial -> Burguesia


mercantil e marítima (novos descobrimentos) ->
Aristocracia territorial (Brasil)
TUDO É HISTÓRIA. 7º ano - Expansão marítima europeia séculos XV e XVI. Os portugueses contornam a África. 2013. Disponível
em: <https://sites.google.com/site/historia1958/7o-ano---expansao-maritima-europeia-seculos-xv-e-xvi>. Acesso em: 05 out. 2016.
Portugal - miscigenação
Sem origem exata de sua população
(africana/europeia)

Miscigenação (várias etnias): romanos, nórdicos,


mediterrâneos, mouros, negros, celtas, judeus...

E nunca - mais uma vez acentue-se - as classes


estratificaram-se em Portugal a ponto de
simplesmente pelo nome de pessoa ou família
poder identificar-se o nobre ou o plebeu, o
judeu ou o cristão, o hispano ou o mouro
Miscigenação portuguesa

Foi o vigor braço mouro que tornou possível em


Portugal o regime de autocolonização agrária pela
grande propriedade e pelo trabalho escravo.
Regime depois empregado tão vantajosamente no
Brasil

Influência escravagista que o predispõe como


nenhuma outra para a colonização agrária,
escravocrata e polígama - patriarcal, enfim - da
América tropical
Cultura agrária

Grandes propriedades rurais pertencentes ao


reino, igreja e particulares/”militares” (divisão do
poder) – cultura dividida em rendeiros e foreiros

Solar - avó da casa-grande brasileira

Eclesiásticos: melhor rendimento agrícola - >


melhor alimentação - > intelectualismo
Religião e poder
Igreja – ordens militares – reconquistas –
latifúndios

Tolerância religiosa com judeus (Santo Ofício) e


mouriscos (escravidão)

Invasões romanas e nórdicas: entre o direito


romano e a cultura nórdica surge o direito
canônico (nobreza episcopal com poder de decisão
civil)
“vá queixar-se ao bispo”
Religiosidade portuguesa
Mesticidade/sincretismo (maometismo)

Cristianismo lírico

Gosto pela carne, afrodisíaco, sensual, amoroso

Intimidade com santos

Enfeites (decoração)

Caráter militar das santidades


Religiosidade

Santos fecundos (amor e agricultura)


Santos guerreiros
Festas religiosas
Igrejas artísticas
Igrejas “amorosas”
RUGENDAS, Johann Moriz. Festa de Nossa Senhora do Rosário, Patrona dos Negros. In: SERRAVALE NA ÁFRICA DO SUL. História e memórias da
escravidão negra nas telas dos pintores Debret e Rugendas. O 13 de Maio de 1888. 2015. Disponível em: <https://serravallenaafricadosul.blogspot.
com.br/2015/05/historia-e-memorias-da-escravidao-negra.html>. Acesso em: 06 out. 2016.
Maleabilidade religiosa

Condições de desenvolvimento histórico


particularmente perturbadoras da moralidade
cristã: o constante estado de guerras causando na
Península o fluxo e o refluxo de populações; as
alternativas de hegemonia; a extrema mobilidade
social; a instabilidade econômica; os contatos
cosmopolitas por via marítima; a convivência com
os maometanos polígamos
C
Colônia - influências

Liberalidade da nação portuguesa

É o pecado, a heresia, a infidelidade que não se deixa entrar


na colônia, e não o estrangeiro

Brasil: requisito cristão católico; nacionalidade indiferente

Para o Brasil é provável que tenham vindo, entre os


primeiros povoadores, numerosos indivíduos de origem
moura e moçárabes, junto com cristãos-novos e
portugueses velhos
VILA DON PATTO. As influências dos portugueses na cultura brasileira. [Imagem Brasil/Portugal] 2015. Disponível em:
<http://www.viladonpatto.com.br/blog/as-influencias-dos-portugueses-na-cultura-brasileira-e735>. Acesso em: 06 out. 2016.
Influência moura/africana
Espessa camada de cultura e uma enérgica
infusão de sangue mouro e negro que
persistiriam até hoje no povo português e no seu
caráter. Sangue e cultura que viriam ao Brasil;
que explicam muito do que no brasileiro não é
europeu, nem indígena, nem resultado do
contato direto com a África negra através dos
escravos. Que explicam o muito de mouro que
persistiu na vida íntima do brasileiro através
dos tempos coloniais. Que ainda hoje persiste até
mesmo no tipo físico
Influência moura/africana
Agricultura: oliveira (Portugal) e cana-de-açucar (Brasil)

Tecnologia (roda d’água; azenha / engenho)

Escravismo mouro – latifúndio português

Significativo é o verbo mourejar ter-se tornado


sinônimo de trabalhar em língua portuguesa;
significativa a frase, tão comum em Portugal e no Brasil,
"trabalhar como mouro"

A escravidão que corrompeu o português não foi a colonial,


mas a doméstica (conquistados / reconquistadores)
Tendência escravista

"Se há povo algum dado à preguiça, sem ser o


português, então não sei eu onde ele exista... Esta
gente tudo prefere suportar a aprender uma
profissão qualquer." Tão grande indolência, à
custa da escravidão

Portugal, mesmo dono das índias e do Brasil, tornara-


se, com a sua
improdutividade de nação simplesmente
comercial, mero explorador ou transmissor de
riqueza
Influência moura/africana
Traços de cultura moral e material:

Doçura no tratamento dos escravos

Mulher gorda e bonita

Banhos de gamela ou de "canoa"

Hábito das mulheres irem à missa de mantilha,


o rosto quase tapado, como o das mulheres árabes

Dos tapetes e das esteiras (sentavam, de pernas cruzada à


mourisca, os pezinhos tapados pela saia)
TERRA BRASILEIRA. Brasil folclórico. Tipos regionais e trajes típicos. [Imagem do uso de mantilha]. 2016. Disponível em: <http://terrabrasileira.
com.br/folclore3/m00tipo.html>. Acesso em: 06 out. 2016.
Influência moura/africana
Gosto da água corrente cantando nos jardins

Arte do azulejo

Telha mourisca

Janela quadriculada ou em xadrez

Abalcoado

Paredes grossas

Comidas oleosas, gordas, ricas em açúcar


Judeus (cristãos-novos)

Poder econômico (plutocracia)

Usura monetária (sem trabalho braçal) - agiotagem


dualismo de ética comercial permitindo-lhes duas
atitudes: uma para com os correligionários; outra
para com os estranhos

Anti-semitismo: como os mouros, não foram


discriminados devido interesses econômicos
Judeus (cristãos-novos)

Superioridade de sua cultura intelectual e


científica impõe-se entre os povos peninsulares
como negociantes de escravos e credores de
dinheiro

Influência israelita do mercantilismo muito no


caráter e nas tendências do português: mas
também é justo que lhe atribuamos o
excesso oposto: o bacharelismo (“doutor”)
Artigos orientais
Portos brasileiros – localização estratégica
(descarga de “contrabando” oriental e carga de
açucar para a Europa)

O chapéu-de-sol, o palanquim, o leque, a bengala,


a colcha de seda, a telha à moda sinojaponesa, o
telhado das casas caído para os lados e recurvado
nas pontas em cornos de lua, a porcelana da China
e a louça da índia. Plantas, especiarias, animais,
quitutes. O coqueiro, a jaqueira, a mangueira, a
canela, a fruta-pão, o cuscuz. Móveis da índia e da
China
Sexualidade portuguesa
Erotismo/sensualidade

Assuntos eróticos

Cultura masculina

Palavrões

Sexualidade precoce

Nomes culinários
Sexualidade e culinária
A culinária portuguesa, recorda nos velhos
nomes de quitutes e gulodices e nas formas e
ornamentos, meio fálicos de bolos e doces

Na culinária colonial brasileira surpreendem-se


estímulos ao amor e à fecundidade; bolos e
caramelos. Estes adquiriam uma espécie de
simbolismo sexual

Íntima relação entre


a libido e os prazeres do paladar
Cultura agrária
Compreenderam os colonizadores, logo após as
primeiras explorações e notícias do Brasil, que
a colonização deste trecho da América tinha de
resolver-se em esforço agrário

E ao decidir povoar os ermos da América, seguiu


efetivamente D. João III o já esboçado nas ilhas do
Atlântico

critério agrário e escravocrata de colonização


Colonização portuguesa
Sistema econômico adotado foi o mesmo
inaugurado pelos nórdicos em Portugal após a
reconquista cristã, com a diferença do prestígio
eclesiástico não ter aqui absorvido o do particular, o
da família, o do senhor feudal.

Técnica industrial foi a dos mouros (engenho de


roda de água)

Poder religioso (padres em Portugal) ->


poder oligárquico (senhores de engenho no Brasil)

Sistema patriarcal colonial: padres moradores da


casa-grande e submissos ao senhor de engenho
Iniciativa privada – Estado mínimo?
Tudo deixou-se, porém, à iniciativa particular. Os
gastos de instalação. Os encargos de defesa militar
da colônia. Mas também os privilégios de mando
e de jurisdição sobre terras enormes. Da extensão
delas fez-se um chamariz, despertando-se nos
homens de pouco capital, mas de coragem, o
instinto de posse; e acrescentando-se ao domínio sobre
terras tão vastas, direitos de senhores feudais sobre
a gente que fosse aí mourejar

A atitude da Coroa vê-se claramente qual foi:


povoar sem ônus os ermos da América
KOSTER, Henry. A Sugar Mill, Brazil, 1816. ( Travels in Brazil, London, 1816). In: UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Setor de Ciências Humanas,
Letras e Artes. Departamento de História. Engenhos dos séculos XVI ao XIX. 2016. Disponível em: <https://docs.ufpr.br/~lgeraldo/imagensengenhos.
html>. Acesso em: 06 out. 2016.
Engenhos de açucar

Muitos dos engenhos, soberbos, de roda de


água, como o de Sebastião de Faria, à beira do
riacho Cotegipe: "grandes edifícios de casa de
purgar e de vivenda, e uma egreja de S.
Jeronymo, tudo de pedra, cal, no que gastou mais
de doze mil cruzados"; ou movidos a bois,
como o de Vasco Rodrigues Lobato, "todo cercado
de cannaviaes de assucar, de que se faz muitas
arrobas."
Senhores dos Engenhos
Poucas famílias – oligarquia agrária

Privilégio outorgado ao donatário, de só ele


fabricar e possuir moendas e engenho de
água, denota ser a lavoura do açúcar a que se
tinha especialmente em mira introduzir

Colonização aristocrática do Brasil: fundada em


açúcar e em negros
Engenhos de açucar
Prosperaram na colônia logo nos primeiros tempos, à custa
do açúcar e do negro.

Pernambuco com 23 engenhos movidos a bois ou a água


produzindo, em 1576, de 50 a 70 mil arrobas de açúcar [1 t];

Bahia com 18 engenhos. Cada engenho desses construído à


razão de 10.000 cruzados (aprox.); e com 50 peças de
escravos ao seu serviço e 15 ou 20 juntas de bois.

Produção anual - a dos melhores, pelo menos - de 6 a


10.000 arrobas de açúcar mascavo.
Engenhos de açucar
Na Bahia e em Pernambuco - os dois grandes
centros de opulência, econômica e social, os dois
grandes portos brasileiros de expressão internacional,
no século XVI - o índio ficou logo no segundo plano.
Achatado na sua inferioridade cultural. Inútil e
incapaz, dentro do sistema de colonização que ia criar
a economia brasileira. E "a lavoura de
mantimentos" abafada pelas bandeiras dos canaviais
– monocultura latifundiária

Sociedade patriarcal,
escravocrata e poligâmica
Referências
FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala: formação da família brasileira sob
o regime da economia patriarcal. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.

TV CULTURA DIGITAL. Leituras do Brasil: Casa-grande e senzala. 2011.


Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=bGmtS_ybTpg>. Acesso
em: 01 out. 2016.

Você também pode gostar