Você está na página 1de 7

https://doi.org/10.31533/pubvet.v16n04a1098.

1-7

Alterações hematológicas em cães naturalmente infectados por


Erlichia canis
Lívia Mendes Miranda1 , Beatriz Gabriele de Souza2, Julia Teresa Arandas Martins2
¹Doutoranda em Medicina e Bem-Estar Animal pela Universidade de Santo Amaro; coordenadora do Laboratório de Patologia
Clínica do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi, São Paulo – SP Brasil.
2Graduanda em Medicina Veterinária pela Universidade Anhembi Morumbi; projetista do Laboratório de Patologia Clínica

do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi, São Paulo – SP Brasil.


*Autor para correspondência, E-mail: livia.miranda@anhembi.br

Resumo. O hemoparasita Erlichia canis, uma bactéria Gram negativa da ordem


Rickettsiales e ao gênero Erlichia spp., é um parasita intracelular obrigatório com tropismo
por leucócitos mononucleados. Transmitida através da inoculação feita pelo carrapato
Rhipicephalus sanguineus. Ao adentrar os leucócitos aos quais tem tropismo a bactéria
forma agrupamentos chamados mórulas. A doença possui três fases, aguda, subclínica e
crônica. No estudo foram utilizadas amostras de sangue total ou soro sanguíneo de 127
cães, coletados por venopunção das veias radiais e jugular. Após a análise foi possível
observar que as alterações mais comumente encontradas foi a eosinopenia (48,41%),
trombocitopenia (75%) e anemia não regenerativa (50%) sendo classificada
morfologicamente em sua maioria como normocítica hipocrômica. Concluindo que os
achados hematológicos predominantes, mesmo que inespecíficos e individuais de cada
animal, foram os citados acima.
Palavras – chave: Cão, hematologia, hemoparasitose, Rhipicephalus sanguineus

Hematological alterations in dogs infected with Erlichia canis


Abstract. The hemoparasite Erlichia canis, a Gram-negative bacterium of the order
Rickettsiales and genus Erlichia spp., is an obligate intracellular parasite with tropism for
mononuclear leukocytes. Transmitted through inoculation by the tick Rhipicephalus
sanguineus. Upon entering the leukocytes to which it has tropism, the bacteria form clusters
called morulae. The disease has three phases, acute, subclinical and chronic. The study used
samples of blood or blood serum from 127 dogs, collected by venipuncture of the radial
and jugular veins. After the analysis, it was possible to observe that the most commonly
found alterations were eosinopenia (48.41%), thrombocytopenia (75%) and non-
regenerative anemia (50%) being morphologically classified mostly as hypochromic
normocytic. Concluding that the predominant hematological findings, even if unspecific
and individual for each animal, were those mentioned above.
Keywords: dog, Hematology, hemoparasitosis, Rhipicephalus sanguineus

Cambios hematológicos en perros infectados con Erlichia canis


Resumen. El hemoparásito Erlichia canis,una bactéria Gram negativa del orden Rickettsia
y del género Erlichia spp., es un parásito intracelular obligado con tropismo por los
leucocitos mononucleares. Transmitida por inoculación por la garrapata Rhipicephalus
sanguineus. Al entrar en los leucocitos a los que tiene tropismo, la bacteria forma grupo
llamados mórulas. La enfermedad tiene tres fases, aguda, subclínica y crónica. El estudio
utilizo muestras de sangre total o suero sanguíneo de 127 perros, recolectados por

PUBVET v.16, n.04, a1098, p.1-7, Abr., 2022


Miranda et al. 2

venopunción de las venas radial y yugular. Luego del análisis se pude observar que las
alteraciones más comúnmente encontradas fueron la eosinopenia (48,41%), la
trombocitopenia (75%) y la anemia no regenerativa (50%) siendo clasificadas
morfológicamente en su mayoría como normocítica hipocrómica. Concluyendo que los
hallazgos hematológicos predominantes, aunque inespecíficos e individuales para cada
animal, fueron los mencionados anteriormente.
Palabras clave: Hematología, hemoparasitosis, perros, Rhipicephalus sanguineus

Introdução
A Erlichia canis é uma bactéria de formato cocobacilos, Gram negativa, pertencente à ordem
Rickettsiales e ao gênero Erlichia spp. (Cordeiro et al., 2020). São parasitas intracelulares obrigatórios,
tendo tropismo por leucócitos mononucleados. Foi descrita pela primeira vez na Argélia em 1935 e no
Brasil em 1973 (Almosny, 1998). É inoculada pelo carrapato Rhipicephalus sanguineus (Benigno et al.,
2011), concernente a ordem Acarina e ao gênero Rhipicephalus. A E. canis infecta os leucócitos
formando agrupamentos chamados mórulas (Mendonça et al., 2005; Moraes-Filho et al., 2011). A
literatura pontua que a infecção pela E. canis possui três fases: aguda, subclínica e crônica, mas na
prática, dificilmente essas fases são delimitadas já que as manifestações dependem muito do estado geral
do animal (Jones et al., 2000; McGavin & Zachay, 2013). Os achados laboratoriais são de extrema
importância para o diagnóstico do animal, já que os sintomas e apresentação da doença são inespecíficos,
sendo o mais comum a trombocitopenia, presente principalmente na fase aguda, tendo como possíveis
causas a aplasia medular, diminuição da meia vida plaquetária circulante, diminuição da agregação das
plaquetas que ocorre pela ação de anticorpos com efeito antiplaquetários, aumento da demanda em casos
de vasculite, e, sequestro plaquetário pelo baço (Aguiar et al., 2007; Mendonça et al., 2005). No
eritrograma e leucograma podemos citar redução das hemácias e hemoglobina por formação de
anticorpos ou hemorragias, discreta leucopenia, neutrofilia com desvio a esquerda por migração e
destruição leucocitária (Aguiar et al., 2007; Ferreira et al., 2012; Pinto & Reis, 2017; Tresamol et al.,
1995).
Devido aos poucos estudos relacionados exclusivamente com o tema e a prevalência da E. canis
dentro das hemoparasitoses, visamos no trabalho em questão o levantamento de casos positivos no
exame sorológico de cães infectados por E. canis nos anos de 2020 e 2021, testados no Hospital
Veterinário da Universidade Anhembi Morumbi, em São Paulo, analisando as alterações hematológicas
dos animais infectados.

Material e métodos
Foram utilizadas as amostras de sangue total ou soro de 127 animais, sendo essas amostras de
conveniência de pacientes do Hospital Veterinário Anhembi Morumbi, que após a triagem e consulta
clínica se fez necessário a realização de hemograma e submissão desses animais ao teste sorológico
Immunocomb® para titulação de IgG de Erlichia canis. As amostras sanguíneas foram acondicionadas
em tubos de EDTA ou em tubo seco após a venopunção radial ou jugular, e enviadas diretamente ao
laboratório onde foram feitos os exames laboratoriais solicitados, incluindo hemograma e o teste
sorológico em questão.
O teste sorológico Immunocomb® é baseado no conceito de imunoensaio em fase sólida, o teste
consiste em um cartão em formato de pente embebido por antígenos purificados de E. canis, o pente
possui 12 dentes possibilitando a realização de até 12 exames de uma só vez ou separadamente. Para
realizar o exame foi necessário a utilização de 10 𝜇L de amostra de sangue total, ou 5 µL de soro
sanguíneo; após pipetar a quantidade correspondente da amostra selecionada devendo depositá-la no
primeiro poço da placa reveladora, após esse passo o pente foi inserido no poço para que os anticorpos
da amostra se ligaram ao antígeno do pente.
No segundo poço da placa reveladora ocorreu a lavagem dos anticorpos que não foram ligados aos
antígenos, já no terceiro poço continha anticorpos anti-IgG caninos que estão marcados por uma reação
enzimática. No quarto e quinto poço ocorreu a lavagem do pente, para que no sexto poço acontecesse
uma reação enzimática que causou a alteração de cor indicando a titulação de anticorpos presentes na

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n04a1098.1-7


Alterações hematológicas em cães infectados por Erlichia canis 3

amostra. Para a leitura dos resultados foi utilizado o CombScale®; alinhado ao ponto de referência do
pente com a sua cor correspondente presente na escala de cores, em seguida se desligou e posicionou a
régua até que a letra C+ chegou no espaço em que classificamos o ponto de referência do pente, após
essa etapa encontramos a cor correspondente ao ponto inferior que corresponde ao resultado do teste.
Para identificarmos a titulação de anticorpos do paciente foi visto em que classificação o ponto inferior
do pente se enquadrou, sendo as classificações de S1 a S6 de acordo com o espaço que se encontrou o
ponto do resultado da amostra e o ponto de controle.
O resultado da sorologia se dá pela conversão do resultado da CombScale® em títulos de
imunofluorescência, sendo que resultados 0 na escala correspondem a titulação 0, resultados entre S1 e
S2 correspondem a titulações de 1:20 a 1:40, respectivamente sendo reações fraco positivas, escalas em
S3 denominam titulação de 1:80 reações média positivas, resultados em S4 correspondem à titulações
de 1:160 reações média positivas, as escalas entre S5 e iguais ou superiores a S6 correspondem à
titulação 1:320 e 1:640, respectivamente, sendo reações forte positivas.
Os animais selecionados para este trabalho eram paciente que apresentaram reações fraco positivas,
titulações entre 1:20 e 1:40, e que possuíam alterações hematológicas consistentes com quadro de
infecção por E. canis, e animais apresentando reações média e forte positivas, independente das
alterações hematológicas apresentadas nos exames laboratoriais.
Já em relação aos parâmetros hematológicos analisados temos os seguintes índices relacionados ao
eritrograma, quantidade de hemácias, hemoglobina, hematócrito, VCM e CHCM, plaquetas, proteína
plasmática total. Nos índices relacionados ao leucograma, foram analisados os valores de leucócitos
totais, neutrófilos, linfócitos, eosinófilos e monócitos. Animais que apresentaram outras alterações não
sendo estas descritas nos índices citados, tiveram as alterações descritas de maneira individual após a
análise geral dos animais, sendo considerados casos isolados.
A escolha dos parâmetros avaliados foi feita de maneira a visualizar as principais alterações
hematológicas em cães com diagnóstico positivo para E. canis e se houve uma alteração no cenário da
doença.

Resultados e discussões
Os dados dos hemogramas e leucogramas coletados de 127 animais estão contidos nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1. Média, erro padrão da média, P > valor, amplitude de variação dos valores de leucogramas de 127 cães de diversas
raças, sexo e idade, apresentando sorologia positiva para infecção por E. canis
Normal Elevado Diminuído
Variáveis Média Mínimo Máximo Referência1 EPM2 P>Valor
N % N % N %
Leucócitos totais/µL 75 59,52 39 30,95 12 9,52 16585 2720 125630 6.000-17.000 16148 >3,725
Linfócitos /µL 89 70,63 9 7,14 27 21,42 13989 0 791100 1.000-4.800 92054 >1,316
Monócitos/µL 83 65,87 26 20,63 17 13,49 8805 0 782100 150-1.350 71918 <1,058
Eosinófilos /µL 60 47,62 5 3,97 61 48,41 2024 0 168600 1.000-1.250 15714 <1,318
Neutrófilos 3.000-
75 59,52 48 38,09 2 1,59 18950 979 720078 640638 1,708
segmentados /µL 11.500
1Weiss & Wardrop (2010). 2Erro padrão da média

Como observado na Tabela 1 os dados referentes ao leucogramas dos animais estudados apresentam
uma grande amplitude de valores devido a resposta de cada animal considerando o quadro clínico de
cada um e sua resposta imunológica mediante ao agente agressor.
Analisando a média do estudo no quesito Leucócitos Totais podemos observar que se mantem dentro
do intervalo de valores de referência estipulados por Weiss & Wardrop (2010). Sendo que 30,95% dos
animais apresentaram leucocitose e 9,52% apresentam leucopenia. Esses dados diferem dos estudos de
Kuehn & Gaunt (1985) e Hartmann & Baneth (2006) que observaram leucopenia em 25% e 31% dos
casos, respectivamente. A leucopenia pode ser explicada pela granulopoiese ineficiente nos animais que
apresentam infecções crônicas (Espindola et al., 2015; Mendonça et al., 2005; Oliveira et al., 2018;
Tresamol et al., 1995), portanto no presente trabalho a ausência de significante casos apresentando
leucopenia pode ser explicada pela provável maior incidência de animais na fase aguda da doença.
Referente aos linfócitos observamos que no estudo 104 animais apresentaram alterações morfológicas

PUBVET v.16, n.04, a1098, p.1-7, Abr., 2022


Miranda et al. 4

em série branca mediante a análise do esfregaço sanguíneo, e foi observado que a alteração morfológica
mais frequente acerca dos linfócitos foi uma discreta reatividade linfocitária em 14% dos animais. No
presente trabalho foi observada linfopenia em 21,42% dos casos, semelhantes ao valor de 22,02%
relatado em Mendonça et al. (2005).
Ao analisarmos os monócitos nos 104 animais que apresentaram alterações morfológicas em série
branca na leitura do esfregaço sanguíneo foi observado que a alteração mais encontrada foi a presença
de monócitos ativados em 9% dos animais.
Na análise dos eosinófilos analisamos que a maioria dos animais, 48,41%, apresentaram eosinopenia,
alteração comumente encontrada em quadros agudos da doença pela ação direta de mecanismo de
resposta imunológica que são induzidos ao sequestro de eosinófilos e pela ação de catecolaminas e
corticosteroides liberados pela adrenal no período de estresse da infecção aguda. (Albernaz et al., 2007;
Mendonça et al., 2005). A eosinopenia é relatada em uma série de estudos (Mendonça et al., 2005;
Tresamol et al., 1995; Waddle & Littman, 1988), que apontaram 63%,56%,58%,64,22%,
respectivamente, corroborando então com os achados presentes nesse estudo.
Ao observamos os neutrófilos segmentados obtivemos resultados mostrando que a maioria dos
animais se mantém dentro dos valores de referência, mas dos 127 animais estudados, 17 animais tiveram
presença de Neutrófilos Bastonetes, em 4 animais o número de Neutrófilos Bastonetes foi inferior a 300/
µL se mantendo dentro dos valores de referência (Bush, 2004) e nos outros 13 casos, o desvio à esquerda
se apresentou regenerativo, já que os animais apresentaram a quantidade de neutrófilos bastonetes
inferior ao valor de neutrófilos segmentados, indicando uma boa resposta imunológica dos animais
mostrando que a medula óssea está tendo tempo hábil para enviar células maduras (Ferreira Neto et al.,
1977; González & Silva, 2008; Núñez & Bouda, 2007). Mediante a análise do esfregaço sanguíneo de
104 animais com alteração morfológica em série branca foi observado que a alteração prevalente
referente aos neutrófilos foi a presença de discretos neutrófilos hipersegmentados em 9% dos casos. O
presente estudo apresenta que 13,4% dos animais apresentaram neutrófilos bastonetes, porcentagem
inferior ao descrito por Moreira et al. (2003) e Mendonça et al. (2005), 66,7% e 50,46%,
respectivamente, se aproximando mais dos valores relatados em Waddle & Littman (1988)
correspondente a 26% dos animais estudados.
Assim como nos valores apresentados referentes ao leucograma, podemos observar que na Tabela 2
os índices analisados no hemograma apresentam uma grande amplitude de valores, isso pode ser
explicado pela resposta imunológica e orgânica, estado geral e grau de infecção de cada animal.
Mediante a análise do esfregaço sanguíneos dos 104 animais estudados, 76 apresentaram alterações
referentes as hemácias, sendo que 20% dos animais apresentaram discreta anisocitose por policromasia
e macrocitose e 14% apresentaram discreta anisocitose por macrocitose, sendo então no geral a
macrocitose a alteração prevalente dentre os 76 casos.
Tabela 2. Média, erro padrão da média, P > valor, amplitude de variação dos valores de hemograma de 127 cães de diversas
raças, sexo e idade, apresentando sorologia positiva para infecção por E. canis
Normal Elevado Diminuído
Variáveis Média Mínimo Máximo Referência1 EPM2 P>Valor
N % N % N %
Hematócrito, % 26 20,63 36 28,57 64 50,79 36 24 58 37-55 13 >3,277
Hemácias, x 106 66 52,38 4 3,17 56 44,44 6 1,37 9,18 5,5-8,5 2 >3,275
Hemoglobina, g/dL 54 42,86 10 7,94 62 49,21 12 2,5 69,45 12-18 7 >2,787
VCM, /fL 99 78,57 4 3,17 23 18,25 65 5,47 81,23 60-77 9 >3,275
CHCM, % 49 38,89 12 9,52 65 51,59 32 26,88 41,94 30-36 3 >3,275
3 175.000-
Plaquetas,x 10 / µL 33 26,19 3 2,38 90 71,43 156193 40 850000 137892 >3,276
5000.000
Proteína total, g/dL 61 48,41 56 44,44 7 5,56 7 3,4 12 6-8 2 >3,277
1Weiss & Wardrop (2010). 2Erro padrão da média

Ao ser feita a análise das plaquetas foi observado que dos 95 animais apresentaram alterações
plaquetárias, sendo que em 24% dos casos apresentaram discreta trombocitopenia. Em relação ao
tamanho das plaquetas, 13% dos animais apresentaram macroplaquetas em discreta quantidade. Em 3%
dos casos foram observadas discretas agregações plaquetárias. A causa exata da ocorrencia da
trombocitopenia nesses casos ainda não está muito bem delimitadas, mas uma série de fatores como

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n04a1098.1-7


Alterações hematológicas em cães infectados por Erlichia canis 5

inflamação endotelial (Harrus et al., 1999), destruição imunomediada (Smith et al., 1976), consumo de
plaquetas e sequestro esplênico (Caxito et al., 2018; Waner et al., 2001) são citados para uma explicação
da ocorrência dessa alteração. No presente estudo 75% dos animais apresentaram alterações
plaquetárias, sendo que a trombocitopenia foi a predominante dentre todas, corroborando com Waddle
& Littman (1988), Waner et al. (1997) e Mendonça et al. (2005), que apontaram presença de
trombocitopenia em 84%, 86%, 89% e 87,15% respectivamente, resultados que diferem de Cirino et al.
(2021) que apontaram trombocitopenia em 19,68% dos casos estudados.
Neste estudo, 64 animais apresentaram valor de hematócrito inferior a 37%, sendo então classificados
com anemia. A classificação prevalente é a Anemia Normocítica Hipocrômica equivalente a 54,7% dos
casos, em 18,7% dos casos temos a classificação de Anemia Normocítica Normocrômica, 9,4% dos
animais apresentaram Anemia Microcítica Hipocrômica, 7,8% apresentaram Anemia Microcítica
Normocrômica, 4,7% foram classificados com Anemia Macrocítica Normocrômica. Três animais,
representando 4,7% dos casos, apresentaram anemia com hipercromasia consistente com casos de
hemólise intravascular (Silva et al., 2017). Assim, como Tresamol et al. (1995), que observaram 53%
de animais com anemia, o presente trabalho aponta que 50,4% dos animais apresentam quadros de
anemia, mas difere de outros trabalhos, Tresamol et al. (1995) e Mendonça et al. (2005) apontando
67,05% e 78% respectivamente, ao analisar que a classificação que prevalece no estudo é a de Anemia
Normocítica Hipocrômica em 54,7% dos casos, seguida pela Anemia Normocítica Normocrômica em
18,7%.
A contagem de reticulócitos foi feita em 18 animais que apresentaram hematócrito inferior a 37%,
classificados com anemia, em 50% dos casos os animais apresentaram na Contagem Corrigida de
Reticulócitos valores iguais ou inferiores a 0,5% sendo classificada como uma anemia não regenerativa.
Já 39% dos animais apresentaram na Contagem Corrigida de Reticulócitos valores iguais ou superiores
a 2% indicando uma resposta regenerativa da Medula Óssea. Em 2 casos, representando 11% dos
animais, os valores da Contagem Corrigida de Reticulócitos estava entre 0,5 – 2% indicando que há uma
resposta inicial ou prejudicada em relação a Medula Óssea (Silva et al., 2017). Assim como Waldemarin
et al. (2003), Bush (2004), Borin et al. (2009) o caráter não regenerativo da doença é predominante nos
casos estudados.
Na análise da coloração e aspecto do plasma, foi observada hemólise em discreta e moderada
quanridade em dois casos e ligeira hemólise em três casos; plasma lipêmico foi observado de forma
moderada em dois casos e uma ligeira ictéricia plasmática em um caso.

Conclusão
O trabalho aponta que os achados hematológicos mais comuns encontrados nos cães infectados por
E. canis, mesmo que inespecíficos e dependentes da resposta individual de cada animal em combater o
agente agressor, foram a trombocitopenia, eosinopenia, anemia não regenerativa, e, morfologicamente
se apresentaram como anemia normocítica hipocrômica. As alterações que diferiram dos estudos já
existentes sobre o tema podem se dar por uma possível mudança no caráter patogênico da E. canis,
resposta individual dos animais estudados ou alteração concomitantes a infecção podendo ou não
comprometer o estado geral dos cães estudados.

Referências bibliográficas
Aguiar, D. M, Cavalcante, G. T., Pinter, A., Gennari, S. M., Camargo, L. M. A., & Labruna, M. B.
(2007). Prevalence of Ehrlichia canis (Rickettsiales: Anaplasmataceae) in dogs and Rhipicephalus
sanguineus (Acari: Ixodidae) ticks from Brazil. Journal of Medical Entomology, 44(1), 126–132.
Aguiar, D. M., Saito, T. B., Hagiwara, M. K., Machado, R. Z., & Labruna, M. B. (2007). Diagnóstico
sorológico de erliquiose canina com antígeno brasileiro de Ehrlichia canis. Ciência Rural, 37, 796–
802. https://doi.org/10.1590/s0103-84782007000300030.
Albernaz, A. P., Miranda, F. J. B., Melo Júnior, O. A., Machado, J. A., & Fajardo, H. V. (2007).
Erliquiose canina em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Brasil. Ciência Animal Brasileira,
8(4), 799–806.
Almosny, N. R. P. (1998). Ehrlichia canis (Donatien & Lestoquard, 1935): Avaliação parasitológica,

PUBVET v.16, n.04, a1098, p.1-7, Abr., 2022


Miranda et al. 6

hematológica e bioquímica sérica da fase aguda de cães e gatos experimentalmente infectados. Rio
de Janeiro.
Benigno, R. N. M., Rodrigues, B. R. F., & Serra-Freire, N. M. (2011). Avaliação das infecções por
Babesia e Ehrlichia em cães e das infecções humanas por carrapatos oriundos desses cães no
município de Campinas, estado de São Paulo. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 33(4),
238–245.
Borin, S., Crivelenti, L. Z., & Ferreira, F. A. (2009). Aspectos epidemiológicos, clínicos e
hematológicos de 251 cães portadores de mórula de Ehrlichia spp. naturalmente infectados. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 61(3), 566–571.
Bush, B. M. (2004). Interpretação de resultados laboratoriais para clínicos de pequenos animais.
Editora Roca.
Caxito, M. S., Rodrigues, F. P., Taques, I. I. G. G., Aguiar, D. M., Takahira, R. K., & Paes, A. C. (2018).
Alterações da medula óssea e a importancia do mielograma no diagnóstico da ehrlichiose monocítica
canina. Veterinária e Zootecnia, 25(1), 61–66.
Cirino, R. N. V., Santos, N. J. P., Viana, M. K. R., Santos, E. A., Gomes, C. L. N., Chaves, D. P.,
Coimbra, V. C. S., & Fonseca, L. S. (2021). Perfil hematológico e parasitológico de cães suspeitos
ou não para Erliquiose canina atendidos no Hospital Veterinário Universitário Francisco Edilberto
Uchoa Lopes da Universidade Estadual do Maranhão entre os anos de 2019 a 2020 no município de
São Luís. Brazilian Journal of Development, 7(7), 69956–69974.
Cordeiro, J. M. A., Guedes, P. E. B., Munhoz, A. D., & Silva, F. L. (2020). Molecular diagnosis and
risk factors of canine ehrlichiosis in the municipality of Itabuna-Bahia, Brazil. Semina: Ciências
Agrárias, 41(3), 897–906. https://doi.org/10.5433/1679-0359.2020v41n3p897.
Espindola, P. P., Bellini, M. L., & Vicente, P. U. C. (2015). Correlação da trombocitopenia canina com
Ehrlichia canis durante a rotina laboratorial da clínica Veterinária Fullpet. Ensaios e Ciência, 19(4),
163–169.
Ferreira, M. R. A., Freitas Filho, E. G., Dias, M., & Moreira, C. N. (2012). Prevalência, fatores de risco
e associações laboratoriais para erliquiose monocítica canina. Enciclopédia Biosfera, 8(15), 1345–
1356.
Ferreira Neto, J. M., Viana, J. M. M. E. S., & Magalhães, L. M. (1977). Patologia clínica veterinária.
Rabelo e Brasil.
González, F. H. D., & Silva, S. C. (2008). Patologia clínica veterinária: texto introdutório.
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Harrus, S., Waner, T., Bark, H., Jongejan, F., & Cornelissen, A. W. C. A. (1999). Recent advances in
determining the pathogenesis of canine monocytic ehrlichiosis. Journal of Clinical Microbiology,
37(9), 2745–2749.
Hartmann, K., & Baneth, G. (2006). Infectious diseases of the dog and cat. In C. E. Greene (Ed.),
Hepatozzon canis Infection (3a ed., Vol. 1). Elsevier Health Sciences.
Jones, T. C., D., H. R., & King, N. W. (2000). Patologia veterinária. Editora Manole Ltda.
Kuehn, N. F., & Gaunt, S. D. (1985). Clinical and hematologic findings in canine ehrlichiosis. Journal
of the American Veterinary Medical Association, 186(4), 355–358.
McGavin, D., & Zachay, J. F. (2013). Bases da patologia em veterinária. Elsevier Brasil.
Mendonça, C. S., Mundim, A. V., Costa, A. S., & Moro, T. V. (2005). Erliquiose canina: Alterações
hematológicas em cães domésticos naturalmente infectados. Bioscience Journal, 21(1), 167–174.
Moraes-Filho, J., Marcili, A., Nieri-Bastos, F. A., Richtzenhain, L. J., & Labruna, M. B. (2011). Genetic
analysis of ticks belonging to the Rhipicephalus sanguineus group in Latin America. Acta Tropica,
117(1), 51–55. https://doi.org/10.1016/j.actatropica.2010.09.006.
Moreira, S. M., Bastos, C. V, Araújo, R. B., Santos, M., & Passos, L. M. F. (2003). Estudo retrospectivo
(1998 a 2001) da erliquiose canina em Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária
e Zootecnia, 55, 141–147.
Núñez, O. L., & Bouda, J. (2007). Patología Clínica Veterinaria: Vol. 1. ed.

PUBVET DOI: 10.31533/pubvet.v16n04a1098.1-7


Alterações hematológicas em cães infectados por Erlichia canis 7

Oliveira, B. C. M., Viol, M. A., Inácio, S. V, Ferrari, E. D., Nagata, W. B., André, M. R., & Bresciani,
K. D. S. (2018). Detecção de Ehrlichia canis em tecidos de cães e carrapatos Rhipicephalus
sanguineus em áreas endêmicas para Erliquiose monocítica canina no Brasil. Revista de Educação
Continuada Em Medicina Veterinária e Zootecnia Do CRMV-SP, 16(3), 85.
Pinto, L. C., & Reis, C. M. M. (2017). Erliquiose monocítica canina: Relato de caso. Revista Científica
de Medicina Veterinária-UNORP, 1(1), 1–11.
Silva, T. J., Porto, B. S. C., & Gerardi, B. (2017). Principais causas de anemia hemolítica nos animais
domésticos. Revista CientÍfica de Medicina VeterinÁria, 1679(7353), 353–364.
Smith, R. D., Sells, D. M., Stephenson, E. H., Ristic, M. R., & Huxsoll, D. L. (1976). Development of
Ehrlichia canis, causative agent of canine ehrlichiosis, in the tick Rhipicephalus sanguineus and its
differentiation from a symbiotic Rickettsia. American Journal of Veterinary Research, 37(2), 119–126.
Tresamol, P. V, Dhinakaran, M., & Saseendranath, M. R. (1995). Clinico-haematological and
biochemical studies on Ehrlichia canis infection in dogs. Journal of Veterinary and Animal Sciences,
26(2), 113–116.
Waddle, J. R., & Littman, M. P. (1988). A retrospective study of 27 cases of naturally occurring canine
ehrlichiosis. The Journal of the American Animal Hospital Association, 24, 615–620.
Waldemarin, K. C. A., Mundim, A. V, & Bastos, J. E. D. (2003). Alterações hematológicas em cães
(Canis familiaris) naturalmente infectados por Ehrlichia spp. Veterinária Noticias, 9, 23–29.
Waner, T., Harrus, S., Bark, H., Bogin, E., Avidar, Y., & Keysary, A. (1997). Characterization of the
subclinical phase of canine ehrlichiosis in experimentally infected beagle dogs. Veterinary
Parasitology, 69(3–4), 307–317.
Waner, T., Harrus, S., Jongejan, F., Bark, H., Keysary, A., & Cornelissen, A. W. C. A. (2001).
Significance of serological testing for ehrlichial diseases in dogs with special emphasis on the diagnosis
of canine monocytic ehrlichiosis caused by Ehrlichia canis. Veterinary Parasitology, 95(1), 1–15.
Weiss, D. J., & Wardrop, J. K. (2010). Schalm’s Veterinary Hematology.

Histórico do artigo:
Recebido: 20 de janeiro de 2022 Licenciamento: Este artigo é publicado na modalidade Acesso Aberto sob a licença Creative Commons
Aprovado: 16 de fevereiro de 2022 Atribuição 4.0 (CC-BY 4.0), a qual permite uso irrestrito, distribuição, reprodução em qualquer meio,
Artigo disponível online: 26 de abril de 2022 desde que o autor e a fonte sejam devidamente creditados.

PUBVET v.16, n.04, a1098, p.1-7, Abr., 2022

Você também pode gostar