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288 Revista ne Dinero 00 Consumivor 2019 * RDC 124 ‘A superacao do que chamamos ao longo do artigo de jurisprudéncia do mero aborrecimento se mostra importante porque, se para o consumidor o tempo per- dido “era” mero aborrecimento nao indenizavel; para o fornecedor a demora na solucao dos problemas causados representava uma economia em investimento. Ao consagrat a ideia de que o tempo perdido pelo consumidor pode gerar de- ver de indenizar, a Teoria do Desvio dos Recursos Produtivos do Consumidor representa uma guinada da responsabilidade civil em direcdo a um posiciona- mento que pode gerar mais eficiéncia econdmica, Preocupamo-nos, contudo, com 0 enquadramento dessa Teoria em nosso ordenamento juridico: € que, por mais que a maioria da doutrina e da jurisprudéncia patrias enxerguem a perda do tempo util ou como uma situagao de dano moral ou como extrapatrimonial, entendemos tratar-se de hipotese de incidéncia de dano auténomo. No nosso entendimento, havera semelhancas, mas o dano temporal nao é dano material, tampouco moral ou extrapatrimonial, muito menos estético. O dano cronolégi- co, por mais que, a depender do caso, possa se assemelhar a um dano patrimonial ow a.um dano extrapatrimonial, é dano especifico, independente e emancipado das demais espécies de dano. A compreensio do desvio dos recursos produtivos decorrente de ato ilicito de outrem como categoria singular de dano nos parece indispensavel para que o Poder Judiciario evite subestimar ou superestimaro va- lor das indenizacées. E preciso, todavia, atentar para o fato de que o pagamento de mais indenizacées pelos bancos podera repercutir no mercado. A adocao da Teoria do Desvio Produtivo reduz 0 dano liquido esperado para o consumidor e, com isso, a demanda tende a aumentar. Por outro lado, um maior ntimero de in- denizacoes — e, pois, 0 aumento do custo marginal dos bancos — pode impactar no preco cobrado pelos servi¢os, 0 que, por conseguinte, tendea reduzir a oferta. Caso o preco nao se reajustasse pelas indenizacoes, provavelmente teriamos es- cassez: a demanda teria aumentado, mas a oferta diminuiria, No entanto, uma analise também econémica do direito da responsabilidade civil recomendaria que a mensuracao do quantum das indenizacgoes por desvio produtivo se sustentasse em parametros mais objetivos. E, nesse sentido, propu- semos a economia dos custos de oportunidade como um possivel caminho: se optamos pelo que indevidamente nos fez esperar, é porque valorizavamos mais essa opcao do que nossa segunda melhor alternativa, o que deve ser considerado no valor da indenizacao pela perda do tempo util do consumidor, a fim de evitar, como ja dissemos, que esta seja subestimada ou superestimada. 4. REFERENCIAS ACCIARRI, Hugo A. 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