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By a Rhizomatic Music Education: Study of the Book Sound and Structure by John Paynter
Abstract: It is the study of the relationship between the processes of creation and structuring
musical presented by John Paynter in his book Sound and Structure (1992) and the principles
of the rhizome, coined by thinkers Deleuze and Felix Guattari in the book Mil platôs written in
1980. Seeks to address the thought still in analysis about a rhizomatic music education. While
in construction, the study allows to highlight traces of connection between the thoughts of
Paynter, Deleuze and Guattari, conjecturing a musical education applicable to Brazilian reality.
Keywords: Music Education; Rhizome; Sound and Structure; John Paynter.
Introdução
Nesse sentido, foi que conheci, por meio do curso oferecido pela Profa. Dra.
Marisa Trench de Oliveira Fonterrada, os pensamentos e práticas do educador musical inglês
John Paynter e, ao tomar contato com seus livros, enxerguei uma profunda relação do mesmo
com o conceito de rizoma de Deleuze e Guattari.
Dessa forma, o presente texto pretende abordar tal relação entre pensamentos,
buscando focá-la sobre o livro Sound and Structure escrito por John Paynter em 1992 e sobre
os princípios do rizoma, apresentados por Deleuze e Guattari em Mil platôs.
[...] a música – assim como a ciência e as demais áreas artísticas – é algo para todos,
não podendo ser apenas para alguns. O papel da música nas escolas não é de formar
instrumentistas, mas o de proporcionar o contato com a música através de
Paynter prioriza essas intenções em seus livros mais conhecidos, Sound and
Silence (1970), Hear and Now (1972) e Sound and Structure (1992). Todavia, é na distância
temporal entre o primeiro e o último que se amadurecem os pensamentos curriculares
didáticos sobre a educação musical.
Nesse sentido, Sound and Structure, de 1992, apresenta uma organização baseada
em elementos em rede para o ensino de música nas escolas, em contraposição ao conteúdo
linear presente nos métodos Suzuki, Kodaly e Willems, por exemplo.
Paynter divide o livro em quatro grandes partes, quais sejam Sound into music,
Musical ideias, Thinking & making e Models of time, cada uma composta de quatro projetos
montados em modelos de oficinas de criação. Para o educador todos os projetos do livro
devem relacionar-se com uma base comum de elementos – educação, técnica, significado,
ideias musicais, herança musical, estrutura, som, composição e performance – e para isso
elabora um esquema gráfico que demonstra tais relações recíprocas (PAYNTER, 1992, p. 23).
Juntos os dois autores produziram diversas obras, dentre elas Kafka: por uma
literatura menor (1975), O que é a filosofia? (1991) e Capitalismo e esquizofrenia, sendo
desta, o primeiro volume O anti-Édipo (1972) e o segundo volume Mil platôs (1980).
De acordo com Gallo (2003, p.21), os dois pensadores desenvolveram “um estilo
de produzir filosofia” e juntos criaram diversos conceitos. Dentre eles ater-se-á, neste texto,
ao termo rizoma e é com base nele que se pretende analisar algumas ideias do educador
musical John Paynter, principalmente as presentes em seu livro Sound and Structure.
A metáfora do rizoma é explicada por Sílvio Gallo (2003, p. 93), em seu livro
Deleuze e a Educação, como sendo aquele tipo de pequenas raízes emaranhadas de alguns
tubérculos e de outras plantas, como a grama, que se entrelaçam, formando um conjunto
complexo no qual os elementos estão ligados uns aos outros sem influência hierárquica.
É nesse sentido que os pensamentos de Paynter (1992, p. 23) com relação a ligar
assuntos como técnica, significado, ideias musicais, herança musical, estrutura, som e educação
se aproximam do princípio de conexão. Como não pensar na existência de conexões quando se
imagina uma maneira de interligar processos de criação que envolvam, desde assuntos musicais
explícitos, como as formas da música clássica (PAYNTER, 1992, p. 175-181), até elementos
extra-musicais, como pirâmides, vulcões e haikais (PAYNTER, 1992, p. 97-114)?
Paynter relaciona assuntos do cotidiano, como sons da natureza, sons das ruas e
canto de pássaros, com processos de criação; além disso, utiliza-se de instrumentos musicais
convencionais, sons gravados, técnica dodecafônica, formas de outras linguagens artísticas –
característica presente desde seu primeiro livro Sound and Silence (1970) –, e de manifestações
sonoras de outras culturas, entre outros exemplos. Para ele, todos esses assuntos podem sugerir
caminhos para a criação de composições musicais a serem feitas pelos alunos.
Como exemplo das conexões que o educador realiza, observe-se o que ele sugere
na Tarefa 4 do Projeto I, intitulado Sound out of silence:
A proposta não linear de Paynter (1992) expressa a mesma sensação de algo que
se espalha e mistura conteúdos e contextos, sejam musicais ou não, que levarão à construção
de uma estrutura musical.
Para Paynter (1992, p. 16), o homem, na busca por entender o tempo, permite se
abrir a relações com todos os acontecimentos, que levarão a criação de modelos e estruturas
em contraposição às aberturas. A compreensão de algo geraria uma estrutura criada pelo
próprio indivíduo e esse ciclo não se apresenta de forma homogenia nos processos de criação
que Paynter propõe.
Ainda, para Deleuze e Guattari (2011, p. 24), no rizoma existem apenas linhas
dentro de um plano e essa metáfora é vista também no trabalho de Paynter, principalmente
quando se observam os traços – assuntos chave – que atravessam o trabalho com oficinas de
criação. Independentemente do tema que esteja sendo desenvolvido em cada projeto, ele é
alinhavado por assuntos comuns como sons, técnica, ideias, estrutura, composição,
performance, herança musical e educação musical.
Qualquer questão levantada por um aluno pode ser tema para uma composição ou
discussão artística, que poderá gerar qualquer outra conexão, musical ou não. É possível sair
de um conteúdo para retomá-lo futuramente com uma visão diferenciada; uma fuga do traço
Paynter (1992, p. 25), define quatro partes essenciais pelas quais seus projetos devem
passar, quais sejam, som, técnica, ideias musicais e estruturas musicais. Todavia, para ele, assim
como no princípio de ruptura assignificante, é possível iniciar o processo de criação partindo de
qualquer um desses pontos. Não há caminho correto ou errado para começar; este pode ser um
som ouvido ou gravado, a forma de uma música existente, uma melodia, uma nota musical a ser
transformada, um padrão rítmico ouvido na rua, o título de um poema, um poema, etc.
Paynter faz com que o aluno desenhe seu próprio mapa de criação de uma
composição e diz que a primeira fase é muito livre – como uma improvisação – e que há
necessidade de pensar em como ouvi-la, compô-la e perceber sua estrutura (PAYNTER,
1992, p. 23). Entretanto, traçar um mapa não significa segui-lo até o final sem mudanças,
segundo ele as ideias iniciais não são, necessariamente, as mesmas que permanecerão ao final
(PAYNTER, 1992, p. 28).
Considerações
Princípio de decalcomania: “Religar os decalques ao mapa, relacionar as raízes
ou as árvores a um rizoma” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 32). Talvez este seja o
princípio que exija maior esforço para entendimento; entretanto, é dele que surgem também as
possibilidades para um “decalque” das ideias de Paynter e sua possível aplicação em
propostas de educação musical em escolas brasileiras.
Tal reflexão pode ser uma possibilidade com relação ao ensino de música nas
escolas brasileiras, em que a prática de arte vem sendo pouco considerada, valendo-se em
grande parte, de aulas teóricas a respeito de determinados aspectos pertencentes às linguagens
artísticas, sem, no entanto, chegar à prática dessas linguagens. Não é sugerido que se aplique
à realidade brasileira estruturas pensadas para um país europeu em época passada; todavia
refletir acerca da adequação de atitudes que funcionaram em outra realidade e decalcar
possibilidades brasileiras de educação musical a partir dessas propostas pode ser uma opção
viável e interessante. Afinal, assim como em Paynter, o primeiro passo é utilizar a matéria
bruta – a realidade da educação musical brasileira –, ter ideias – educação musical rizomática
–, utilizar-se de técnicas – conhecimento das práticas dos educadores musicais considerados –
e criar estruturas – ferramentas a serem construídas por cada educador, em cada situação.
Referências
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Introdução: rizoma. In: ______. Mil platôs:
capitalismo e esquizofrenia 2. Tradução de Ana Lúcia de Oliveira, Aurélio Guerra Neto e
Célia Pinto Costa. 1 v. São Paulo: Ed. 34, 1995. p. 17-50.
GALLO, Sílvio. Deleuze & a educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003. 118p.
MARTINS, Miriam Celeste; PICOSQUE, Gisa. Proposta curricular do Estado de São Paulo
para a disciplina de Artes: Ensino Fundamental – Ciclo II e Ensino Médio. In: FINI, M. I.
(Coord.) Proposta Curricular do Estado de São Paulo: Arte. São Paulo: SEE, 2008, p. 41-61.
MATEIRO, Teresa. John Paynter: a música criativa nas escolas. In: MATEIRO, Teresa;
ILARI, Beatriz (Org.). Pedagogias em educação musical. Curitiba: Ibpex, 2011. p. 243-274.
PAYNTER, John; ASTON, Peter. Sound and silence: classroom projects in creative music.
London: Cambridge University Press, 1970.
PAYNTER, John. Hear and now: an introduction of modern music in schools. London:
Universal Edition, 1972.
_______. Sound and structure. London: Cambridge University Press, 1992. 224p.