Você está na página 1de 15

Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas

Ângela Marjane Siripa 708204203

Licenciatura em Ensino de Língua Portuguesa


Sociolinguística
3º Ano

Nome do docente:
Msc. Paulino Francisco

Quelimane, Maio, 2022


Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação
do Subtotal
máxima
tutor
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
Estrutura
organizacionais  Discussão 0.5
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 2.0
problema)
 Descrição dos
Introdução 1.0
objectivos
 Metodologia
adequada ao 2.0
objecto do trabalho
 Articulação e
domínio do
discurso académico
3.0
Conteúdo (expressão escrita
cuidada, coerência /
coesão textual)
Análise e  Revisão
discussão bibliográfica
nacional e
2.0
internacional
relevante na área de
estudo
 Exploração dos
2.5
dados
 Contributos
Conclusão 2.0
teóricos práticos
 Paginação, tipo e
tamanho de letra,
Aspectos
Formatação parágrafo, 1.0
gerais
espaçamento entre
linhas
Normas APA  Rigor e coerência
Referências 6ª edição em das
2.0
Bibliográficas citações e citações/referências
bibliografia bibliográficas
Recomendações de melhoria:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Índice

1. Introdução ........................................................................................................................... 5

1.1. Objectivos ........................................................................................................................ 5

1.1.1. Objectivo geral .............................................................................................................. 5

1.1.2. Objectivos específicos .................................................................................................. 5

1.2. Metodologia ..................................................................................................................... 5

2. Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas ................................... 6

2.1. Linguagem ....................................................................................................................... 6

2.2. As Diferentes Variações .................................................................................................. 7

2.2.1. Cultura e as Variações .................................................................................................. 9

2.3. Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas .............................. 10

2.3.1. Língua e Sociedade ..................................................................................................... 11

2.3.2. Discriminação pela Linguagem: O Preconceito Linguístico ...................................... 12

3. Considerações finais ......................................................................................................... 13

4. Referências Bibliográficas ................................................................................................ 15


1. Introdução

Hoje em dia a relação entre língua e sociedade é aceita por muitos pesquisadores que se
dedicam ao estudo da língua e, apesar de algumas teorias da linguagem apresentarem
interpretações diversas dos fenómenos linguísticos, aproximando-os ou distanciando-os de
seu papel na vida social, os estudos sociolinguísticos comprovam ser inegável a relação entre
língua e sociedade, sendo, portanto, imprescindível o entendimento desse vínculo quando se
discute o fenómeno linguístico.

Para a Sociolinguística, toda língua falada apresenta variações decorrentes da heterogeneidade


presente nos fenómenos linguísticos, as quais são identificadas e analisadas por meio de
pesquisas de campo, em que o sociolinguista regista, descreve e analisa sistematicamente
diferentes falares, relacionando essas variações com factores sociais, numa tentativa de
identificar qual factor ou grupo de factores é o responsável por determinada variação.

1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo geral

 Compreender a relação entre a língua e a sociedade com as variações linguísticas

1.1.2. Objectivos específicos

 Explanar sobre linguagem, as diferentes variações e Cultura e as Variações;


 Contextualizar a Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas;
 Ilustrar sobre a Discriminação pela Linguagem: O Preconceito Linguístico.

1.2. Metodologia

Para a elaboração da presente pesquisa, foi possível pelo uso do método de pesquisas
bibliográficas. Que segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66) a pesquisa bibliográfica trata-se
do levantamento, selecção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto
que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses,
dissertações, material cartográfico, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto
directo com todo material já escrito sobre o mesmo.

5
2. Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas

2.1. Linguagem

Ao longo de muito tempo buscou-se identificar as funções do ser humano, quanto sendo um
ser possuidor de pensamento e linguagens, com carácter comunicativo, para Gomes (2011),
“ser humano tem poder de entrar na mente de outro ser humano”, isso dado a partir do uso da
apalavra. Na busca de explicações entre a linguagem, a mente e o cérebro Aristóteles
defendiam que o conhecimento estava no coração e que o cérebro era para esfriar o sangue.
Com visão contrária o médico Britânico William Harvey defendia que o coração era
responsável por bombear o sangue, logo o conhecimento estaria em outro lugar. Só que
contrapondo essa ideia René Descartes acreditava que o cérebro era responsável por bombear
um fluido animador, para René Descartes citado por Gomes (2011) esse fluido era distribuído
através de nervos que consequentemente movimentaria os músculos e que o cérebro seria
apenas uma máquina sem nenhuma realçam com o pensamento, mas acreditava que a mente o
pensamento e a linguagem estaria em um único conjunto. Contradizendo Rene, Nietzsche
defendia que a linguagem seria uma interpretação inspirada com uma “mentira”.

Outro autor que buscava explicações para linguagem era Bacon, filósofo de pensamento
empirista defendia umas tríades, que segundo Gomes (2011) seriam elas: “a alma, a mente e a
matéria”, já para Locke filósofo da mesma corrente de Bacon a mente humana seria como
uma “tabula rasa”, onde a partir da interacção com meio que se tornaram experiências,
criando a mente de cada um. Em desencontro as ideias aqui vistas dos filósofos pensadores
Chomsky foi um crítico as ideias empiristas para o filósofo a estrutura do cérebro é dada a
partir do código genético, portanto, segundo o autor citado por Gomes (2011) “o cérebro é
programado para analisara a experiência e construir saberes a partir dela”, ainda segundo
Gomes o ato de falar e compreender o quem está sendo dito é “habilidade especializada e
complexa”.

A aquisição da linguagem é um processo contínuo de variações determinantes no


reconhecimento da mesma, muitas vezes cultural, em uma abordagem teórica a aquisição da
linguagem pode esta dividida em: uma dotação genética, algo passado a parte de sua
estruturação específica de cada ser humano; ou com o contacto com o ambiente, os diferentes
pensadores que estudam o desenvolvimento da linguagem tendem escolher um ou outro
conceito. Para o Behaviorismo, a linguagem e dada a partir da interacção com o meio ao

6
contrário do inatíssimo que defende que essa aquisição aconteceria a partir de algo pré-
existente no individuo. Para o cognitivismo construtivista, a linguagem passa a existir a partir
do desenvolvimento do indivíduo, que seria feita por estágios (... pré-operatório, operatório.),
possibilitando assim a aquisição da linguagem.

Para a visão socioiteracionista, tudo acontece a partir da interacção social, as actividades


simbólicas possibilita o desenvolvimento da fala, a qual passa a ter função organizadora, para
que possa então controlar o ambiente em que vive para os defensores socioiteracionistas a
cultura e o desenvolvimento histórico-social são factores determinantes para a construção do
pensamento.

O estudo linguístico busca explicar as diversas formas de comunicação ou a maneira como


são usados os vocábulos, ligando as diversas palavras e seus significados com a interacção
que ocorre em diferentes ambientes com diferentes pessoas de culturas distintas, segundo
alguma definição Gomes (2011) nos situa das principais áreas que tem a incumbência de
desvendar os diferentes conceitos. O primeiro seria a fonética que para a autora “estuda os
sons da fala, preocupando-se com os mecanismos de produção e audição”, sendo a partir
desse estudo que se pode entender e identificar as diferentes formas, ou variedades
linguísticas existentes em diferentes agrupamentos sociais e geográficos.

O segundo seria a fonologia que busca identificar distinções nos sons da língua, para Gomes
(2011) essa área “preocupa-se também com os sons da língua, mas do ponto de vista da
função”. Existe ainda a morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, linguística textual, análise
do discurso, neolinguística, psicolinguística e o sociolinguismo que é uma área que visa
estudar as relações que existe entre a linguagem e a sociedade, segundo Gomes (2011), “a
sociolinguística trata da língua em suas variedades descrevendo os fatos linguísticos, sem
avaliação do que é certo ou errado”. Para a autora independente da variação linguística que se
é usada na comunicação ela é legítima.

2.2. As Diferentes Variações

A comunicação é uma das principais funções da língua, a partir dela o ser humano pergunta,
instrui, argumenta e se desenvolve. As línguas são heranças históricas passadas de geração
para geração, faz parte da identidade e da cultura de um povo presente no quotidiano. Para a
comunicação usamos a língua/idioma, que no Brasil é o português, no entanto esse código

7
linguístico sofreu várias interferências, causando assim as variedades linguísticas. Cada região
possui diferenças na comunicação, na fonética das palavras para os autores Mussolini &
Bentes, acredita-se que as variações estão situadas no contexto Geográfico (diatópico) e social
(diastrático) e define os mesmos como “a variação geográfica ou diatópica esta relacionada às
diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origem
geográficas distintas”.

A variação social ou diastrática, por sua vez relaciona-se a um conjunto de factores que tema
ver com a identidade dos falantes também com a organização sociocultural da comunidade de
fala. (MUSSOLIN & BENTES, 2006, p. 34). Há também outros factores responsáveis pelas
variações linguísticas sociais e ela pode este presente na idade do indivíduo. Termos
linguísticos usados por jovens de 16 anos não é utilizado por um adulto de 50 anos, existe
também as questões socioeconómicas, onde geralmente pessoas com estatuas económicos
baixas tem uma linguagem diferente daqueles que tem um estátuas mais elevado.

No contexto mais amplo o uso termos novos na linguagem conhecidos como gíria pode ser
determinado como neologismo, que é uma conceituação básica em relação às inovações
linguísticas que surge da necessidade comunicativa existente no ambiente. A gíria pode ser
um contribuinte fundamental identificando grupos, para Cunha (2005) a gíria é considerada
uma forma de comunicação que utiliza termos e vocábulos específicos a um determinado
grupo, caracterizando-os e distinguindo-os dos demais falantes de uma língua “ (p. 49) ”.

As influências indígenas, africana europeia e de épocas são factores, que resultaram na


variação linguística, e cada região às vezes do significado diferentes a uma mesma
expressão/palavra segundo Cereja (2006) segue alguns exemplos de dizeres como: “bater a
caçoleta” usado no nordeste e “levou farelo” usado na região Norte tem o mesmo significado
que é “morrer”, porem são expressões totalmente diferentes. “O autor dá um segundo
exemplo que são as expressões: (pia) usada na região Sul e (brugelo) usado na região nordeste
tem o mesmo significado (criança ou guri)”.

As variações linguísticas é um fenómeno natural que acontece com todas as línguas, não
existindo o conceito de certa ou errada, apenas de como é usada e em que momento, embora
as variações façam parte da identidade de um povo, o Brasil possui normas padrões que
determinam à escrita e a comunicação formal.

8
2.2.1. Cultura e as Variações

A cultura é responsável pelo tipo/modelo de comunicação e expressão de cada indivíduo ou


grupo social, responsável por reflectir valores e possibilitar nas descobertas e novos
conhecimentos. A cultura envolve movimentos artísticos, populares e comunicativos. A forma
que cada ser humano usa a linguagem pode ou não determinar os seus valores sociais, a
cultura envolve a todos sejam de um mesmo grupo ou de uma mesma comunidade. Desta
forma, ao depararmos com certas “diferenças” em sua maioria, julgamo-las como erros ou ate
como falhas, isso dado a partir da cultura como homogénea.

Na perspectiva do “erro”, a forma de comunicação oral e escrita elegeu uma variedade


linguística como a melhor devendo ser seguida de forma incontestada. No entanto, o Brasil é
formado a partir da miscigenação dessa forma o português brasileiro não tem forma estática o
que torna a gramática normativa apresentar regras que geralmente não são mais utilizadas em
nosso território não representa de forma efectiva a língua português-brasileira, O que é tratado
como “erro de português” quando foge de determinados termos arcaicos que não fazem parte
do processo de evolução da linguística.

No consistente a percepção de “erros” as pessoas que partilham de uma mesma cultura tem
grande tendência à igualdade de pronúncia vocabular, no modo de escrita, e ate mesmo no
vestir-se e alimentarem-se de um mesmo modo, esses indivíduos dividem principalmente o
conhecimento informal que este ligado a fala a escrita e a interpretação/compreensão, por
tanto o que estiver fora dessa “cultura”, de determinada sociedade (grupo/etnia) é considerado
“erro”.

A linguagem ela pode ser dividida em culta, que tem relações com a construção literária, a
coloquial, a qual é usada no dia-a-dia e a popular que tem seu vocabulário limitado
acompanhado de gírias. A partir da concepção de linguagem buscamos identificar o
preconceito linguístico, o qual é fruto da prescrição de uma gramática normativa para Gomes
(2011) o preconceito “é fruto de uma tradição de tratamento da língua como um sistema
rígido de leis a serem cumpridas e aquilo que não se cumpre é (julgado e condenado) ”.
Contudo a autora diz que é muito relativo à concepção de certo ou errado, pois para a mesma
“o que é certo hoje pode não sê-lo amanha”. Entre o que é certa ou errada esta a posição de
cada indivíduo ocupa socialmente para a autora “uma pessoa normalmente é julgada pela
forma como fala, mas, principalmente, pelo papel que representa na sociedade”.

9
Na visão da autora para que uma seja considerada certa, tem que ser usada por alguém de
prestígio caso contraria e tida como algo errado, dessa forma o preconceito está presente nas
diferentes formas de expressões, o que é certo na visão de alguém pode não ser na visão de
outra pessoa. O que existe na diferença tornando cada grupo especial, e as regras não existe,
mas sim uma sistematização linguística, ou seja, aquela variedade presente em sua
comunidade, para a autora o problema não está no factor linguístico, mas onde o individuo
compartilha essas variedades “nas convenções sociais e culturais da sociedade em que esta
inserida o falante”.

2.3. Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas

Saussure (2006),

considerando que a língua possuía uma estrutura fixa e imutável, elabora uma
teoria que separa língua e fala, e concentra sua atenção na análise da língua,
pois para esse linguista “[...] a Linguística tem por único e verdadeiro objecto
a língua considerada em si mesma e por si mesma” (SAUSSURE, 2006, p.
271).

Treze anos depois, em 1929, contrariando a teoria de Saussure, Michail Bakhtin (1990)
defendeu a ideia de que a língua possuía um carácter social, que se realizava através de actos
enunciativos em determinada circunstância de interacção verbal.

Também contrário à teoria do Criador da Linguística Moderna, Jakobson (1973) em 1960,


criticou a homogeneidade da língua defendida por Saussure por compreender que existem
inúmeras situações e comunidades linguísticas nas quais os sujeitos interagem de diversas
formas e, de acordo com a função e os objectivos de uma dada situação de interacção
comunicacional, esses indivíduos escolhem determinado código linguístico dentre uma
variedade de outros.

Por outro lado, em 1965, Chomsky (1965, 1997) defende a ideia da existência de um falante
ideal, inserido em uma comunidade linguisticamente homogénea, cuja competência
linguística - a capacidade de compreender e delimitar as regras combinatórias e articulatórias
de sua língua, seria o verdadeiro objecto de estudo do linguista e a heterogeneidade da língua
não seria considerada.

Para o autor, a língua é um conjunto infinito de frases, que se define não apenas pelas já
existentes, mas também pelas frases possíveis, aquelas passíveis de criação através da
10
interiorização das regras da língua, o que torna os falantes aptos a produzir frases mesmo que
nunca tenham sido ouvidas por ele.

Em 1968, a relação entre língua e sociedade foi novamente abordada, dessa vez por
Benveniste (1989) afirma a possibilidade de estudo, descrição e compreensão da sociedade
através da língua, que funcionaria como um instrumento de análise do meio social.

A partir de 1960, a Sociolinguística reivindicou sua posição de campo específico de estudo, e


acabou apresentando duas vertentes distintas para se referir a essa área que correlaciona
língua e sociedade. Uma delas denominou-se sociolinguística propriamente dita, na qual
linguistas e antropólogos teriam como objectivo a descrição e análise da língua na sua relação
directa com factores sociais, ou seja, a influência de elementos socioculturais no fenómeno
linguístico. A outra ramificação, a sociologia da linguagem, teria como foco estudar e
compreender a influência da linguagem no comportamento de uma sociedade, onde cientistas
sociais e alguns linguistas procurariam interpretar o efeito da língua na sociedade
(PAULSTON; TUCKER, 2003).

Para a Sociolinguística a língua é dotada de “heterogeneidade sistemática”, fato que permite a


identificação e demarcação de diferenças sociais na comunidade, constituindo-se como parte
da competência linguística dos indivíduos, o domínio de estruturas heterogéneas
(WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006, p.101).

2.3.1. Língua e Sociedade

Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Podemos até dizer que
o ser humano é constituído dessa ligação. A língua de um povo está intimamente ligada à
história desse povo. Para além disso é preciso observar que, somente se sabe de onde é um
homem, após ele ter falado. A sua língua o distingue dos outros falantes.

Cada região tem a sua língua, cada comunidade expõe de forma própria essa
língua e cada falante tem o seu jeito particular de realizar essa mesma língua.
Será que estamos falando de uma única língua ou existem várias Línguas
dentro de uma mesma língua? É um caso para se pensar e questionar.
(Sociolinguística, Ensino à Distância (CED) da Universidade Católica de
Moçambique-UCM.)

Delicadamente articulando, toda a região tem a sua língua oficial, aquela que é aprendida por
todos e em que se redigem os documentos e textos dessa região. No entanto, uma região
11
possui várias comunidades linguísticas com Línguas distintas. Não estamos falando aqui em
variantes linguísticas, mas em línguas distintas. Por exemplo, aqui em Moçambique têm
apenas uma língua oficial, o português, porem, temos outras línguas que são faladas aqui em
comunidades diversas: Ndau, Sena, Ronga etc. Nessa disciplina, o nosso objectivo não é
estudar as diversas línguas de um povo, mas as diversas variações linguísticas de uma mesma
língua.

Observa-se, com mais cuidado a língua falada, perceberemos que ela se apresenta como um
universo aparentemente caótico. Principalmente no contexto da realidade Moçambicana, reino
de diversidades, a impressão e de que não há sistematicidade alguma nesse meio de tantas
variedades de fala. Tal fenómeno deve-se ao facto de que duas ou mais maneiras de se dizer a
mesma coisa (denominadas variantes Linguísticas) coexistem, e são realizadas no mesmo
período de tempo pelos membros de uma comunidade.

No entanto, essa heterogeneidade, diversificação e o uso de uma ou outra variante podem ser
analisados e sistematizados, dando entendimento de como funciona e como muda a Língua a
partir da diversidade.

2.3.2. Discriminação pela Linguagem: O Preconceito Linguístico

A diferença de posições no tabuleiro social e a hierarquização dos grupos que compõem uma
sociedade permitem que as variedades linguísticas destaquem a posição social de seus
falantes, consideradas superiores ou inferiores, e proporcionem o surgimento de atitudes e
comportamentos preconceituosos em relação a variedades da língua que fogem à regra
padrão. Segundo Bagno (2004),

[…] [o] preconceito linguístico se baseia na crença de que só existe, uma


única língua portuguesa digna de ser aceita, ensinada nas escolas, explicada
nas gramáticas normativas e catalogadas nos dicionários e qualquer
manifestação linguística que escape desse triângulo escola-gramática-
dicionário é considerada, sob a óptica do preconceito linguístico, errada, feia,
estropiada, rudimentar, deficiente (BAGNO, 2004, p. 38).

Monteiro aponta o fato de que “um dos preconceitos mais fortes numa sociedade de classes é
o que se instaura nos usos da linguagem” (MONTEIRO, 2000, p. 65), e reforça que uma
variação linguística pressupõe valor social, ou seja, variantes empregadas por falantes de
estratos mais baixos da população em grande parte são estigmatizadas; todavia, à proporção

12
que essas variantes passam a ser usadas por outros grupos, o estigma vai diminuindo até
deixar de existir completamente, se aceita pela classe dominante.

Embora tenhamos a impressão de sermos totalmente livres para nos expressar, pois dizemos o
que queremos e, aparentemente, como queremos, a liberdade de uso da linguagem é
circunscrita, devido ao fato de ser a língua um fenómeno social.
Para Biderman (2001),
o condicionamento da fala e da estrutura da língua impõe ao indivíduo um
mecanismo de automação no exercício da linguagem. O ato de comunicação
tem essas duas faces paradoxais: as coerções impostas pelo sistema linguístico
e a liberdade relativa que tem o sujeitos de usar os elementos constitutivos da
língua.

Então, para tentar responder a pergunta formulada na introdução deste artigo, com base nos
conceitos da Teoria da Variação, primeiramente é necessário que a os cursos de graduação em
Letras tenham em sua grade curricular a disciplina de Sociolinguística, e que ela seja
ministrada com a mesma importância que se dá às demais disciplinas que compõem esses
cursos.

Isso permitirá que os professores em formação tenham familiaridade com os conceitos da


Teoria da Variação, permitindo a incorporação desses pressupostos teóricos e metodológicos
ao pensamento linguístico actual, e contribuindo para que esses conhecimentos sejam postos
em prática quando iniciarem sua carreira docente.

Em segundo lugar é preciso que a ideia de homogeneidade da língua seja posta de lado pelos
professores que se dedicam actualmente ao ensino da Língua Portuguesa, pois ao aceitar o
fenómeno da variação como característica inerente a todas as línguas, o próprio conceito de
certo e errado se torna relativo ao contexto comunicacional.

Essa interpretação heterogénea da língua vai possibilitarão professor entender que o uso das
variações não deve ser discriminado em sala de aula, pelo contrário, elas devem servir como
ponto de partida para o ensino das formas mais prestigiadas, pois provavelmente, essa
transição de uma forma desprestigiada para uma forma padrão irá facilitar o processo de
aprendizagem dos alunos e colaborar para a desconstrução de práticas pedagógicas
monolingues que favorecem o surgimento e ocorrência do preconceito linguístico.

3. Considerações finais

13
A variação linguística pode ser verificada em todas as sociedades, até mesmo em
comunidades primitivas, e conforme as sociedades vão se tornando mais complexas, seus
integrantes assumem mais papéis sociais, possibilitando que ocorram mais fenómenos de
variação linguística (LÓPEZ MORALES, 1993, p. 111).

Essa posição, que considera como característica de todas as línguas a capacidade de sofrerem
variações, é compartilhada por muitos linguistas brasileiros como Faraco (2008), Mussalin e
Bentes (2009) e Silva e Moura (2000) e outros.

Para a Sociolinguística, não existe um único código linguístico absoluto que deva nortear a
fala de todos porque a própria variedade linguística reflecte a variedade social, e dentro de
uma variação, uma sentença pode não estar de acordo com as normas gramaticais propostas
pela norma padrão, mas pode estar linguisticamente correcta, pois realiza uma comunicação
efectiva.

Nesse sentido, os estudos sociolinguísticos oferecem valiosa contribuição no sentido de


destruir preconceitos e de relativizar a noção de erro, ao buscar descrever o padrão real que a
escola, por exemplo, procura desqualificar e banir como expressão linguística natural e
legítima (MOLLICA, 2003).

Portanto, fica clara a necessidade de se desfazer os comportamentos preconceituosos e


discriminatórios com relação aos usos da língua, sendo as consequências destes, nocivas à
cultura brasileira e ao ensino de qualidade, pois tratar da norma culta e padrão, não significa
dizer que se deve escrever como se fala, e sim, escrever de acordo com os diversos contextos
sociais relacionados aos vários tipos de usos da língua, levando-se em conta a dinamicidade e
a evolução presente em todas as línguas que permitem inúmeras possibilidades aos falantes.

14
4. Referências Bibliográficas

BAGNO, M. (2004). Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 29ª ed. São Paulo: Loyola.

BENVENISTE, E. (1989). Estrutura da língua e estrutura da sociedade. In: Problemas de


linguística geral II. São Paulo: Cia. Editora Nacional/EDUSP.

BIDERMAN, M. T. C. (2001). Teoria linguística. São Paulo: Martins Fonte.

CHOMSKY, N. (1965). Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, Massachusetts, the MIT
Press.

FARACO, C. A. (2005). Linguística Histórica: uma introdução ao estudo da história das


línguas. São Paulo: Parábola Editorial.

JAKOBSON, R. (1973). Relações entre a ciência da linguagem e as outras ciências. Lisboa:


Bertrand.

LÓPEZ MORALES, H. (1993). Sociolinguística. 2 ed. Madrid: Gredos.

MARCONI, Mariana de Andrade e Lakatos, Eva Maria; (2009). Fundamentos de


Metodologia Científica, 6ª edição. São Paulo, Editora Atlas S.A.
MOLLICA, C. (2004). Fundamentação teórica: conceituação e delimitação. In: MOLLICA,
Cecília; BRAGA, Maria Luiza (orgs.). Introdução à Sociolinguística: o tratamento da
variação. São Paulo: Contexto, p. 9-14.

MONTEIRO, J.L. (2000). Para compreender Labov. 2. ed. Petrópolis: Vozes.

MUSSALIM, F.; BENTES, A. C. (2009). Introdução á linguística–domínios e fronteiras.


Editora Cortez.

PAULSTON, C.B.; TUCKER, G.R. (2003). History of sociolinguistics: introduction. In:


Sociolinguistics: the essential readings. Malden: Black well Publishing.

SAUSSURE, F. (20060. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix.

SILVA, F. D. e MOURA, H. M. D. M. (2000). O direito à fala: a questão do preconceito


linguístico. Florianópolis/SC: Insular.

15

Você também pode gostar