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Nome do docente:
Msc. Paulino Francisco
1. Introdução ........................................................................................................................... 5
Hoje em dia a relação entre língua e sociedade é aceita por muitos pesquisadores que se
dedicam ao estudo da língua e, apesar de algumas teorias da linguagem apresentarem
interpretações diversas dos fenómenos linguísticos, aproximando-os ou distanciando-os de
seu papel na vida social, os estudos sociolinguísticos comprovam ser inegável a relação entre
língua e sociedade, sendo, portanto, imprescindível o entendimento desse vínculo quando se
discute o fenómeno linguístico.
1.1. Objectivos
1.2. Metodologia
Para a elaboração da presente pesquisa, foi possível pelo uso do método de pesquisas
bibliográficas. Que segundo Lakatos e Marconi (1987, p. 66) a pesquisa bibliográfica trata-se
do levantamento, selecção e documentação de toda bibliografia já publicada sobre o assunto
que está sendo pesquisado, em livros, revistas, jornais, boletins, monografias, teses,
dissertações, material cartográfico, com o objectivo de colocar o pesquisador em contacto
directo com todo material já escrito sobre o mesmo.
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2. Relação entre a Língua, Sociedade com as Variações Linguísticas
2.1. Linguagem
Ao longo de muito tempo buscou-se identificar as funções do ser humano, quanto sendo um
ser possuidor de pensamento e linguagens, com carácter comunicativo, para Gomes (2011),
“ser humano tem poder de entrar na mente de outro ser humano”, isso dado a partir do uso da
apalavra. Na busca de explicações entre a linguagem, a mente e o cérebro Aristóteles
defendiam que o conhecimento estava no coração e que o cérebro era para esfriar o sangue.
Com visão contrária o médico Britânico William Harvey defendia que o coração era
responsável por bombear o sangue, logo o conhecimento estaria em outro lugar. Só que
contrapondo essa ideia René Descartes acreditava que o cérebro era responsável por bombear
um fluido animador, para René Descartes citado por Gomes (2011) esse fluido era distribuído
através de nervos que consequentemente movimentaria os músculos e que o cérebro seria
apenas uma máquina sem nenhuma realçam com o pensamento, mas acreditava que a mente o
pensamento e a linguagem estaria em um único conjunto. Contradizendo Rene, Nietzsche
defendia que a linguagem seria uma interpretação inspirada com uma “mentira”.
Outro autor que buscava explicações para linguagem era Bacon, filósofo de pensamento
empirista defendia umas tríades, que segundo Gomes (2011) seriam elas: “a alma, a mente e a
matéria”, já para Locke filósofo da mesma corrente de Bacon a mente humana seria como
uma “tabula rasa”, onde a partir da interacção com meio que se tornaram experiências,
criando a mente de cada um. Em desencontro as ideias aqui vistas dos filósofos pensadores
Chomsky foi um crítico as ideias empiristas para o filósofo a estrutura do cérebro é dada a
partir do código genético, portanto, segundo o autor citado por Gomes (2011) “o cérebro é
programado para analisara a experiência e construir saberes a partir dela”, ainda segundo
Gomes o ato de falar e compreender o quem está sendo dito é “habilidade especializada e
complexa”.
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contrário do inatíssimo que defende que essa aquisição aconteceria a partir de algo pré-
existente no individuo. Para o cognitivismo construtivista, a linguagem passa a existir a partir
do desenvolvimento do indivíduo, que seria feita por estágios (... pré-operatório, operatório.),
possibilitando assim a aquisição da linguagem.
O segundo seria a fonologia que busca identificar distinções nos sons da língua, para Gomes
(2011) essa área “preocupa-se também com os sons da língua, mas do ponto de vista da
função”. Existe ainda a morfologia, sintaxe, semântica, pragmática, linguística textual, análise
do discurso, neolinguística, psicolinguística e o sociolinguismo que é uma área que visa
estudar as relações que existe entre a linguagem e a sociedade, segundo Gomes (2011), “a
sociolinguística trata da língua em suas variedades descrevendo os fatos linguísticos, sem
avaliação do que é certo ou errado”. Para a autora independente da variação linguística que se
é usada na comunicação ela é legítima.
A comunicação é uma das principais funções da língua, a partir dela o ser humano pergunta,
instrui, argumenta e se desenvolve. As línguas são heranças históricas passadas de geração
para geração, faz parte da identidade e da cultura de um povo presente no quotidiano. Para a
comunicação usamos a língua/idioma, que no Brasil é o português, no entanto esse código
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linguístico sofreu várias interferências, causando assim as variedades linguísticas. Cada região
possui diferenças na comunicação, na fonética das palavras para os autores Mussolini &
Bentes, acredita-se que as variações estão situadas no contexto Geográfico (diatópico) e social
(diastrático) e define os mesmos como “a variação geográfica ou diatópica esta relacionada às
diferenças linguísticas distribuídas no espaço físico, observáveis entre falantes de origem
geográficas distintas”.
A variação social ou diastrática, por sua vez relaciona-se a um conjunto de factores que tema
ver com a identidade dos falantes também com a organização sociocultural da comunidade de
fala. (MUSSOLIN & BENTES, 2006, p. 34). Há também outros factores responsáveis pelas
variações linguísticas sociais e ela pode este presente na idade do indivíduo. Termos
linguísticos usados por jovens de 16 anos não é utilizado por um adulto de 50 anos, existe
também as questões socioeconómicas, onde geralmente pessoas com estatuas económicos
baixas tem uma linguagem diferente daqueles que tem um estátuas mais elevado.
No contexto mais amplo o uso termos novos na linguagem conhecidos como gíria pode ser
determinado como neologismo, que é uma conceituação básica em relação às inovações
linguísticas que surge da necessidade comunicativa existente no ambiente. A gíria pode ser
um contribuinte fundamental identificando grupos, para Cunha (2005) a gíria é considerada
uma forma de comunicação que utiliza termos e vocábulos específicos a um determinado
grupo, caracterizando-os e distinguindo-os dos demais falantes de uma língua “ (p. 49) ”.
As variações linguísticas é um fenómeno natural que acontece com todas as línguas, não
existindo o conceito de certa ou errada, apenas de como é usada e em que momento, embora
as variações façam parte da identidade de um povo, o Brasil possui normas padrões que
determinam à escrita e a comunicação formal.
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2.2.1. Cultura e as Variações
No consistente a percepção de “erros” as pessoas que partilham de uma mesma cultura tem
grande tendência à igualdade de pronúncia vocabular, no modo de escrita, e ate mesmo no
vestir-se e alimentarem-se de um mesmo modo, esses indivíduos dividem principalmente o
conhecimento informal que este ligado a fala a escrita e a interpretação/compreensão, por
tanto o que estiver fora dessa “cultura”, de determinada sociedade (grupo/etnia) é considerado
“erro”.
A linguagem ela pode ser dividida em culta, que tem relações com a construção literária, a
coloquial, a qual é usada no dia-a-dia e a popular que tem seu vocabulário limitado
acompanhado de gírias. A partir da concepção de linguagem buscamos identificar o
preconceito linguístico, o qual é fruto da prescrição de uma gramática normativa para Gomes
(2011) o preconceito “é fruto de uma tradição de tratamento da língua como um sistema
rígido de leis a serem cumpridas e aquilo que não se cumpre é (julgado e condenado) ”.
Contudo a autora diz que é muito relativo à concepção de certo ou errado, pois para a mesma
“o que é certo hoje pode não sê-lo amanha”. Entre o que é certa ou errada esta a posição de
cada indivíduo ocupa socialmente para a autora “uma pessoa normalmente é julgada pela
forma como fala, mas, principalmente, pelo papel que representa na sociedade”.
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Na visão da autora para que uma seja considerada certa, tem que ser usada por alguém de
prestígio caso contraria e tida como algo errado, dessa forma o preconceito está presente nas
diferentes formas de expressões, o que é certo na visão de alguém pode não ser na visão de
outra pessoa. O que existe na diferença tornando cada grupo especial, e as regras não existe,
mas sim uma sistematização linguística, ou seja, aquela variedade presente em sua
comunidade, para a autora o problema não está no factor linguístico, mas onde o individuo
compartilha essas variedades “nas convenções sociais e culturais da sociedade em que esta
inserida o falante”.
Saussure (2006),
considerando que a língua possuía uma estrutura fixa e imutável, elabora uma
teoria que separa língua e fala, e concentra sua atenção na análise da língua,
pois para esse linguista “[...] a Linguística tem por único e verdadeiro objecto
a língua considerada em si mesma e por si mesma” (SAUSSURE, 2006, p.
271).
Treze anos depois, em 1929, contrariando a teoria de Saussure, Michail Bakhtin (1990)
defendeu a ideia de que a língua possuía um carácter social, que se realizava através de actos
enunciativos em determinada circunstância de interacção verbal.
Por outro lado, em 1965, Chomsky (1965, 1997) defende a ideia da existência de um falante
ideal, inserido em uma comunidade linguisticamente homogénea, cuja competência
linguística - a capacidade de compreender e delimitar as regras combinatórias e articulatórias
de sua língua, seria o verdadeiro objecto de estudo do linguista e a heterogeneidade da língua
não seria considerada.
Para o autor, a língua é um conjunto infinito de frases, que se define não apenas pelas já
existentes, mas também pelas frases possíveis, aquelas passíveis de criação através da
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interiorização das regras da língua, o que torna os falantes aptos a produzir frases mesmo que
nunca tenham sido ouvidas por ele.
Em 1968, a relação entre língua e sociedade foi novamente abordada, dessa vez por
Benveniste (1989) afirma a possibilidade de estudo, descrição e compreensão da sociedade
através da língua, que funcionaria como um instrumento de análise do meio social.
Linguagem e sociedade estão ligadas entre si de modo inquestionável. Podemos até dizer que
o ser humano é constituído dessa ligação. A língua de um povo está intimamente ligada à
história desse povo. Para além disso é preciso observar que, somente se sabe de onde é um
homem, após ele ter falado. A sua língua o distingue dos outros falantes.
Cada região tem a sua língua, cada comunidade expõe de forma própria essa
língua e cada falante tem o seu jeito particular de realizar essa mesma língua.
Será que estamos falando de uma única língua ou existem várias Línguas
dentro de uma mesma língua? É um caso para se pensar e questionar.
(Sociolinguística, Ensino à Distância (CED) da Universidade Católica de
Moçambique-UCM.)
Delicadamente articulando, toda a região tem a sua língua oficial, aquela que é aprendida por
todos e em que se redigem os documentos e textos dessa região. No entanto, uma região
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possui várias comunidades linguísticas com Línguas distintas. Não estamos falando aqui em
variantes linguísticas, mas em línguas distintas. Por exemplo, aqui em Moçambique têm
apenas uma língua oficial, o português, porem, temos outras línguas que são faladas aqui em
comunidades diversas: Ndau, Sena, Ronga etc. Nessa disciplina, o nosso objectivo não é
estudar as diversas línguas de um povo, mas as diversas variações linguísticas de uma mesma
língua.
Observa-se, com mais cuidado a língua falada, perceberemos que ela se apresenta como um
universo aparentemente caótico. Principalmente no contexto da realidade Moçambicana, reino
de diversidades, a impressão e de que não há sistematicidade alguma nesse meio de tantas
variedades de fala. Tal fenómeno deve-se ao facto de que duas ou mais maneiras de se dizer a
mesma coisa (denominadas variantes Linguísticas) coexistem, e são realizadas no mesmo
período de tempo pelos membros de uma comunidade.
No entanto, essa heterogeneidade, diversificação e o uso de uma ou outra variante podem ser
analisados e sistematizados, dando entendimento de como funciona e como muda a Língua a
partir da diversidade.
A diferença de posições no tabuleiro social e a hierarquização dos grupos que compõem uma
sociedade permitem que as variedades linguísticas destaquem a posição social de seus
falantes, consideradas superiores ou inferiores, e proporcionem o surgimento de atitudes e
comportamentos preconceituosos em relação a variedades da língua que fogem à regra
padrão. Segundo Bagno (2004),
Monteiro aponta o fato de que “um dos preconceitos mais fortes numa sociedade de classes é
o que se instaura nos usos da linguagem” (MONTEIRO, 2000, p. 65), e reforça que uma
variação linguística pressupõe valor social, ou seja, variantes empregadas por falantes de
estratos mais baixos da população em grande parte são estigmatizadas; todavia, à proporção
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que essas variantes passam a ser usadas por outros grupos, o estigma vai diminuindo até
deixar de existir completamente, se aceita pela classe dominante.
Embora tenhamos a impressão de sermos totalmente livres para nos expressar, pois dizemos o
que queremos e, aparentemente, como queremos, a liberdade de uso da linguagem é
circunscrita, devido ao fato de ser a língua um fenómeno social.
Para Biderman (2001),
o condicionamento da fala e da estrutura da língua impõe ao indivíduo um
mecanismo de automação no exercício da linguagem. O ato de comunicação
tem essas duas faces paradoxais: as coerções impostas pelo sistema linguístico
e a liberdade relativa que tem o sujeitos de usar os elementos constitutivos da
língua.
Então, para tentar responder a pergunta formulada na introdução deste artigo, com base nos
conceitos da Teoria da Variação, primeiramente é necessário que a os cursos de graduação em
Letras tenham em sua grade curricular a disciplina de Sociolinguística, e que ela seja
ministrada com a mesma importância que se dá às demais disciplinas que compõem esses
cursos.
Em segundo lugar é preciso que a ideia de homogeneidade da língua seja posta de lado pelos
professores que se dedicam actualmente ao ensino da Língua Portuguesa, pois ao aceitar o
fenómeno da variação como característica inerente a todas as línguas, o próprio conceito de
certo e errado se torna relativo ao contexto comunicacional.
Essa interpretação heterogénea da língua vai possibilitarão professor entender que o uso das
variações não deve ser discriminado em sala de aula, pelo contrário, elas devem servir como
ponto de partida para o ensino das formas mais prestigiadas, pois provavelmente, essa
transição de uma forma desprestigiada para uma forma padrão irá facilitar o processo de
aprendizagem dos alunos e colaborar para a desconstrução de práticas pedagógicas
monolingues que favorecem o surgimento e ocorrência do preconceito linguístico.
3. Considerações finais
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A variação linguística pode ser verificada em todas as sociedades, até mesmo em
comunidades primitivas, e conforme as sociedades vão se tornando mais complexas, seus
integrantes assumem mais papéis sociais, possibilitando que ocorram mais fenómenos de
variação linguística (LÓPEZ MORALES, 1993, p. 111).
Essa posição, que considera como característica de todas as línguas a capacidade de sofrerem
variações, é compartilhada por muitos linguistas brasileiros como Faraco (2008), Mussalin e
Bentes (2009) e Silva e Moura (2000) e outros.
Para a Sociolinguística, não existe um único código linguístico absoluto que deva nortear a
fala de todos porque a própria variedade linguística reflecte a variedade social, e dentro de
uma variação, uma sentença pode não estar de acordo com as normas gramaticais propostas
pela norma padrão, mas pode estar linguisticamente correcta, pois realiza uma comunicação
efectiva.
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4. Referências Bibliográficas
BAGNO, M. (2004). Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 29ª ed. São Paulo: Loyola.
CHOMSKY, N. (1965). Aspects of the Theory of Syntax. Cambridge, Massachusetts, the MIT
Press.
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