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CAP 1

Nos parágrafos introdutórios, Freud lida com o que um colega chama de “sentimento
oceânico” – A sensação de infinitude e unidade sentida entre o ego e o mundo exterior.
Ele afirma que este sentimento é “um fato puramente subjetivo, e não um artigo de fé.”
Ele não indica uma lealdade a uma religião específica, mas em vez disso aponta para a
origem do sentimento religioso dos seres humanos. Igrejas e instituições religiosas
são hábeis em canalizar esse sentimento em sistemas de crenças, mas não podem
criá-lo.

Freud não pode atestar ter experimentado este sentimento “oceânico”, e ainda a sua
falta de identificação não levá-o a negar a sua existência para os outros seres humanos.
Pelo contrário, ele tenta compreender o fenômeno cientificamente: se o sentimento
não tem nenhum sinal externo fisiológico, tem de haver uma explicação
psicanalítica para ele. Freud passa a resumir suas descobertas anteriores.

Em geral, o ego percebe “linhas nítidas e claras de demarcação” com o mundo exterior.
Somente no auge do amor o ego conscientemente permite que essa fronteira se
torne mais fluida e permeável sem se sentir ameaçado. Esta distinção entre
interior e exterior é uma parte crucial do processo de desenvolvimento psicológico,
permitindo ao ego reconhecer uma “realidade” separada de si mesmo. Numa fase
inicial de desenvolvimento, o ego tinha um sentimento abrangente, quase sem
limites do mundo ao seu redor; com a maturidade vem um senso da realidade,
porque o ego delimita-se do mundo exterior.

Freud, então, pergunta: tal inferência sobre os primeiros estágios de desenvolvimento


psicológico é sólida? Em outras palavras, podemos descrever estados de espírito
que já não nos habitam?

Sim, explica Freud, porque a ciência faz precisamente tais afirmações o tempo
todo, por exemplo, sobre a evolução das espécies mais elevadas das menores formas
de vida, mesmo que as ligações intermediárias estejam materialmente ausentes. A
mente é excepcional porque os sentimentos infantis e adultos continuam a coexistir ao
longo da vida de uma pessoa: uma vez que uma memória foi gravada, nunca é
apagada, e pode ser chamada para a superfície sob as circunstâncias corretas.
Freud usa outra analogia no campo da arqueologia, descrevendo a escavação de
ruínas sob edifícios atuais. Ele toma Roma, a “Cidade Eterna”, como um exemplo,
apenas para concluir que a analogia é insuficiente porque a mente não pode
finalmente ser representada em termos visuais ou pictóricos.

Freud revisa sua declaração anterior sobre a memória: “O que é passado na vida
mental pode ser preservado e não está necessariamente apagado.” Ele volta para a
questão do sentimento “oceânico” com que o capítulo começa, descartando-o como
uma explicação sobre a origem do sentimento religioso de seres humanos. Em vez
disso, de acordo com Freud, é um desejo de proteção paterna na infância que
continua sustentando na vida adulta um “medo do poder superior do Destino''.
Freud reitera sua frustração com o fato de que este “sentimento de unidade com o
universo” é intangível à análise científica tradicional, porque não tem base
fisiológica.
CAP 2
Em O Futuro de uma Ilusão, Freud lamenta a preocupação do homem comum com o
“pai extremamente exaltado” encarnado por Deus. Toda a ideia de “subornar” um
suposto ser superior pela recompensa do futuro é infantil, para Freud. A realidade é, no
entanto, que as massas de homens persistem nesta ilusão por toda sua vida.

De acordo com Freud, os homens apresentam três principais mecanismos de


enfrentamento para contrariar a sua experiência de sofrimento no mundo:

1. a deflexão de dor e decepção (através de distrações previstas);


2. satisfações substitutivas (principalmente através da substituição da realidade por
arte);
3. substâncias entorpecentes.

Freud conclui que a religião não pode ser claramente categorizada dentro deste
esquema.

Reconsiderando o assunto, Freud afirma que a crença religiosa pode responder à


pergunta do propósito final da vida. No imediato, os homens se esforçam para serem
felizes, e seu comportamento no mundo exterior é determinado pelo princípio do
prazer. Mas as possibilidades de felicidade e prazer são limitadas, e mais
frequentemente experimentamos infelicidade das três fontes seguintes:

1. o nosso corpo;
2. o mundo exterior;
3. as nossas relações com outros homens.

Nós empregamos várias estratégias para evitar desagrado: isolando-nos


voluntariamente, tornando-se membros da comunidade humana (ou seja, contribuir para
um esforço comum), ou influenciar nossos próprios corpos.

A intoxicação é um método particularmente prevalente de influência. Às vezes, o nosso


objetivo é controlar nossos instintos através de práticas de meditação espiritual. A
sublimação dos instintos é um outro método de influência, envolvendo o
“deslocamento da libido” ou recanalização de energias para outras atividades.

A disciplina necessária para influenciar nossa psique faz esta estratégia disponível para
muito poucos; mais comumente, obtemos a satisfação das ilusões, como o gozo
fornecido por obras de arte, que fornece alívio temporário da miséria do mundo exterior.
Outra estratégia, como mencionada anteriormente, é o isolamento, mas a realidade se
intromete muito vigorosamente para uma ilusão solitária persistir. Finalmente, Freud
aponta para o amor como uma fonte de felicidade potencialmente intensa, mas tem
como inconveniente a vulnerabilidade e desproteção do ego que acompanham o amor
por outra pessoa.

Freud reflete sobre o papel da beleza em alcançar a felicidade: enquanto, sem


dúvida, é uma fonte de prazer, a beleza não tem natureza ou origem discernível,
mesmo que estudos filosóficos na estética tenham conseguido descrever as condições
sob as quais ela é experimentada. Por seu lado, a psicanálise parece localizar a beleza
na sensação sexual, uma vez que a beleza é muitas vezes um atributo do objeto sexual
desejado.

É impossível chegar a um estado de felicidade plena. Nenhuma das estratégias


acima irá funcionar completamente. “A felicidade é um problema da economia da
libido do indivíduo”, afirma Freud. Cada indivíduo deve identificar o tipo de felicidade
mais importante para ele, bem como a capacidade de sua própria constituição mental
para experimentar a felicidade.

Adaptação ao ambiente externo também é a chave para um rendimento máximo de


prazer. Religião reduz essas variáveis por ditar um caminho simples para a felicidade.
Assim, poupa as massas de suas neuroses individuais, mas Freud vê pouca coisa de
valor na religião além disso. Se o crente percebe que a religião coloca tal restrição
sobre as possibilidades de sua felicidade, sua única opção torna-se a encontrar prazer
na “submissão incondicional” a sua fé. Mas Freud observa que tal indivíduo
autoconsciente poderia provavelmente encontrar outros caminhos, menos árduos, para
a felicidade.

ANÁLISE CAP 1 E CAP 2


Um aspecto intrigante do capítulo introdutório consiste na tentativa de Freud em
comparar o empreendimento da psicanálise a – e, simultaneamente, diferenciando-as –
outras disciplinas científicas aceitas.

As analogias com a ciência evolutiva e arqueologia, longe de serem digressões


autoindulgentes, realmente iluminam a concepção de Freud sobre o indivíduo e a
civilização. Primeiro de tudo, Freud se inscreve implicitamente nos preceitos da teoria
de Darwin, e, portanto, acredita fundamentalmente na natureza progressiva da espécie
humana, mesmo que ela esteja propensa a regressão periódica e espasmos de
violência.

Para Freud, a evolução da civilização humana chegou a um impasse, porque


conquistou a natureza cada vez com maior força tecnológica e mecânica, mas pelas
condições que tem feito está paradoxalmente menos, e não mais, habitável para o
indivíduo.

Freud também acredita na necessidade de se “adaptar” ao seu meio ambiente, um


conceito derivado do quadro mais amplo da teoria darwiniana e aplicado a sua própria
teoria do desenvolvimento psicológico. Simplificando, Freud sente que os seres
humanos não são biologicamente preparados para as condições alteradas da vida
civilizada, já que se desenvolveram para lidar com um ambiente primitivo, em vez de
um ambiente civil.

A analogia de Freud à arqueologia ilustra sua experiência na literatura clássica e


história, mas também mostra a primazia da civilização ocidental ao seu pensamento, já
que Freud considera a Roma antiga como a origem histórica da cultura e da sociedade.

O “superego“, como Freud vai conjecturar ao fim de seu ensaio, é ao mesmo tempo
individual e coletivo. Nós herdamos nossa noção de autoridade e padrões de grandeza
dos líderes passados ou figuras de personalidade imponente, como os imperadores
romanos Nero, Adriano, e Agripa a quem Freud faz referência em sua descrição da
arquitetura romana. Ao mesmo tempo, Freud faz um aceno para a influência da cultura
oriental na civilização ao discutir as “práticas de Yoga” e “a sabedoria mundana do
Oriente” como métodos “peculiares” e “incomuns” de alcançar o autoconhecimento e
controle sobre os impulsos do ego.

No capítulo dois, Freud expressa seu antagonismo à religião organizada em


termos diretos e mal diplomáticos, chamando-a de delirante e infantil. Agressivamente
secular em sua orientação, Freud leva a visão de Goethe que a ciência e a arte podem
proporcionar – e até mesmo superar – os benefícios da religião. Freud encena sua
própria crença na importância das artes através da inserção de citações generosas de
poesia e outros insights de fontes literárias por toda parte.

De acordo com Freud, o propósito da vida humana não é a redenção em vida após
a morte, mas a conquista da felicidade. Sua teoria confronta diretamente o princípio
do prazer com a bíblica “a intenção do homem deve ser feliz”. Freud observa com ironia
que isso “não está incluído no plano da Criação”.

É surpreendente a ênfase de Freud sobre o valor compensatório de beleza – A ideia de


que esteticamente agradáveis “formas humanas e gestos, objetos naturais e paisagens,
e criações artísticas, mesmo científicas” podem evitar sofrimento e proporcionar prazer
temporário.

A conexão lógica entre a psicanálise e a beleza é, no final, bastante tênue e


insuficientemente explorada. Freud integra nunca mais adequadamente o seu interesse
na beleza ao regime mais amplo do princípio do prazer. Ao discutir o tema da beleza e
estética, ele pega emprestado muito da teoria de Immanuel Kant, proeminente filósofo
alemão do século XVIII cujo trabalho seminal, A Crítica do Julgamento, ou Crítica do
Juízo (1790), continua a definir os termos do debate contemporâneo sobre a definição,
valor e função da beleza. Kant acreditava, como Freud faz, que a beleza não é inerente
nas qualidades materiais do objeto, mas é uma função da receptividade do espectador
a ela.

CAP 3
Freud começa por defender sua que a civilização é responsável por nossa
miséria: nos organizamos em sociedade civilizada para escapar do sofrimento, só para
infligi-lo de volta sobre nós mesmos.

Freud identifica três eventos históricos importantes que produziram essa desilusão com
a civilização humana:

1. a vitória da cristandade sobre religiões pagãs (e consequentemente o baixo valor


colocado sobre a vida terrena na doutrina cristã);
2. a descoberta e conquista de tribos e povos primitivos, que pareciam aos
europeus estarem vivendo mais felizes em um estado de natureza;
3. Identificação científica do mecanismo de neuroses, que são causados pelas
exigências frustrantes colocadas sobre o indivíduo na sociedade moderna.

Antagonismo em relação a civilização se desenvolveu quando as pessoas


concluíram que apenas uma redução dessas exigências – em outras palavras, a
retirada das imposições da sociedade – levaria a uma maior felicidade.
A tecnologia também traz a promessa de uma vida melhor e maior felicidade, mas
Freud contesta a noção de que os avanços na tecnologia automaticamente melhoram a
nossa qualidade de vida. Por outro lado, é difícil medir a felicidade do homem em uma
época anterior porque “felicidade” é um sentimento essencialmente subjetivo. As
pessoas em situações extremas de infelicidade também podem ser insensíveis ao seu
próprio sofrimento.

A civilização pode ser definida como a soma total das realizações humanas e
regulamentos destinados a proteger homens contra a natureza e “ajustar suas
relações mútuas.” Os avanços tecnológicos têm melhorado o nosso poder contra a
natureza, mas também as nossas capacidades de percepção sensorial através de
invenções como o telefone e fotografia. Estas invenções tem dado ao homem uma
sensação de onipotência e onisciência anteriormente atribuída apenas aos deuses.
Freud vai tão longe a ponto de chamar o homem de “Deus protético.”

Além da proteção contra a natureza, outras expectativas de viver em uma sociedade


civilizada incluem beleza (a experiência estética de várias formas de arte e expressão
artística), limpeza (em termos de higiene pessoal e saneamento público), ordem (um
princípio introduzido pelas ciências e que aprendemos com a nossa observação da
natureza). Freud defende a sua inclusão de beleza dentro de sua lista de expectativas.
De acordo com ele, a civilização não está focada exclusivamente no que é útil. O cultivo
de atividades mentais superiores do homem é um dos objetivos centrais da civilização,
e alcança este objetivo, em parte, através da produção de arte.

Quanto à regulamentação de nossas “relações mútuas”, um “passo decisivo” em


direção à civilização reside na substituição do poder do indivíduo, pelo da
comunidade. Mas esta substituição, doravante, restringe as possibilidades de
satisfação individual no interesse da lei, da ordem e da justiça. Sociedades civilizadas
colocam o Estado de direito sobre os instintos individuais. Aqui Freud faz uma analogia
entre a evolução da civilização e o desenvolvimento libidinal do indivíduo, identificando
três fases paralelas, em que cada uma ocorre:

1. carácter de formação (aquisição de uma identidade);


2. sublimação (canalização da energia primal para outras atividades físicas ou
psicológicas);
3. não-satisfação / renúncia dos instintos (enterro de impulsos agressivos no
indivíduo; imposição do Estado de direito na sociedade).

Paralelo entre a constituição da cultura e a constituição do sujeito

- origem da cultura *Totem e Tabu

CAP 4
A vida comunitária dos seres humanos tem as suas raízes na compulsão para
trabalhar (criada por necessidade externa) e o poder do amor (ou falta de vontade
de ser privado de um objeto sexual). Freud conjectura que “erotismo genital”
estimulou a formação de relações humanas duráveis, tornando a satisfação do
prazer sexual o protótipo de outras formas de felicidade que poderiam ser
alcançadas com e através de companheirismo. Tendo em conta os riscos do amor,
algumas pessoas fazem-se independentes dos objetos de amor individuais e em
vez disso dedicam-se a um amor universal por toda a humanidade, tipificado pelos
santos cristãos. Freud chama esse fenômeno de “amor com o objetivo inibido.”
Mesmo que uma das principais finalidades da cultura humana seja a de vincular os
homens “libidinalmente” uns aos outros, amor e civilização, eventualmente,
entram em conflito. Freud identifica várias razões diferentes para este antagonismo
mais tarde. Por um lado, unidades familiares tendem a isolar-se e impedir que os
indivíduos se desprendam e amadureçam por conta própria. As mulheres em
particular têm, de acordo com Freud, uma influência moderadora sobre as crianças e
entram em oposição com a civilização por ressentimento sobre a intimidade e
amor que as exigências do trabalho, necessariamente, levam para longe de suas
relações conjugais.

A civilização esgota a energia sexual, desviando-a em empreendimentos


culturais. Ela também restringe escolhas objeto de amor e mutila nossas vidas
eróticas. Tabus (contra o incesto, em primeiro lugar), leis e costumes impõe mais
restrições. Medo da revolta sexual leva a medidas de precaução que começam na
infância.

Para Freud, a civilização da Europa Ocidental representa uma grande marca de


água na regulação da sexualidade. Mesmo heterossexualidade, praticada
livremente e endossada pela sociedade, é forçosamente canalizada para a
monogamia e casamento. Mesmo onde a sociedade deixa de regular e colocar um fim
a um comportamento que considere transgressivo, ela ainda tem um efeito
prejudicando sensivelmente a vida sexual das pessoas.

Paralelo entre a constituição da cultura e a constituição do sujeito: origem da cultura


- trabalho e amor
- Trabalho - a favor ou contra. relações mediadas pelo trabalho
- colaboração
- começo na família
- Amor/Eros
- um dos fundamentos da cultura. aparece de duas formas:
- amor genital - proporciona as mais fortes experiências de satisfação
(paixão, sexualidade…), mas não é só felicidade:
- Dependência do objeto e do mundo externo
- Rejeição
- Perda por morte ou infidelidade - exposição a grande sofrimento

- Esse amor não renuncia a satisfação direta


- modificação/deslocamento do amor romântico para o próprio amor
(seres humanos/mundo em geral) e não voltado para um objeto,
sentimento de equilíbrio/ternura/ felicidade interior - “amor por todos” -
religiosidade
- proteção contra os riscos do amor, especialmente a perda
- derivado do amor genital sexual
- moção pulsional que é inibida quanto à meta, similar à
sublimação - retira a satisfação direta
- objeções a essa escolha:
- nem todos merecem ser amados
- amor que não escolhe perde parte de seu valor (não
parece grande coisa pra Freud ser amado por quem ama
a todos)
- Conflitos entre a família e a comunidade
- ritos com adolescentes - apresentar filhos pra sociedade
- famílias unidas demais - dificultam a saída dos filhos da família
para a sociedade

- Cultura considera perversão toda relação sexual que não tem como
fim a reprodução
- mesmo heterossexuais são restringidos pela cultura em sua
vida sexual - monogamia, casamento

- leitura especulativa sobre a origem da cultura - família primitiva *totem e tabu


- mito assassinato do pai - Édipo e Superego - restrição/lei e culpa

- primeira fase da cultura: totêmica - restrições impostas para se viver em


conjunto são a base da cultura

CAP 5

Freud observa que o antagonismo da civilização em relação à sexualidade surge a


partir do trabalho e da necessidade de construir laços comunitários com base na
amizade. Se a atividade da libido fosse autorizada a correr desenfreada, é provável
que destruiria o relacionamento amoroso monogâmico do casal que a sociedade tem
endossado como o mais estável.

Freud tem como próximo alvo o mandamento “Ama o teu próximo como a ti mesmo”,
porque, ao contrário do ensino bíblico, ele tem uma visão pessimista do homem, cujo
instinto primitivo Freud considera ser agressivo, não amoroso. O mandamento bíblico
“ama ao próximo como a ti mesmo” vai contra a natureza original do homem, e a
história é a prova: O homem provou mais de uma vez que vai explorar, abusar,
humilhar, causar dor, torturar e matar outros homens, desde a invasão dos hunos à
Primeira Guerra Mundial.

Civilização é continuamente ameaçada de desintegração por causa desta inclinação


para a agressão, mas investe grande energia em restringir esses instintos. A lei tem
tentado refinar-se ao ponto de regular a maioria das formas de agressão, mas ainda
não consegue impedi-la.

Freud, em seguida, volta-se para o pensamento socialista. Comunistas afirmam


encontrar o caminho para a libertação através da abolição da propriedade privada,
assim, eliminando um sistema econômico que permite a determinados indivíduos
acumular riqueza desproporcional e abusar de seus semelhantes.

Para Freud, o comunismo é baseado em uma suposição falsa, uma vez que não
altera em nada a natureza humana, apenas uma das motivações por onde atua (ou
seja, a ganância). A agressão é anterior à posse da propriedade. Ela também tem
servido ao longo da história para ligar comunidades contra aqueles que estão fora
delas. Os judeus na Idade Média eram, por exemplo, as vítimas de intolerância dos
cristãos; e na Rússia, a difamação do burguês tem servido como um grito de guerra
para o governo comunista.

Anotações:

civilização - exigência de sacrifícios na vida sexual - frustração

frustrações da vida sexual - neuroses - criação de satisfações substitutivas -


consequentemente, cria sofrimentos pra si ou dificuldades de relacionamentos com o
meio ou a sociedade

- dificuldade do desenvolvimento cultural como dificuldade de desenvolvimento -


origem remonta à inércia da libido (falta de inclinação dela em abandonar uma
posição antiga e partir pra outra)
- vínculos e relacionamentos entre vários indivíduos - civilização X sexualidade -
relacionamento a dois onde a inclusão de um terceiro se torna conflituosa
- auge do amor: diminui o interesse por algo q não o parceiro. Eros - função
de fazer dois serem [como] um
- casais como um só se relacionariam com outros casais nesse estado, de
forma que a civilização não precise extrair energia da sexualidade?
- não - essas ligações não bastam - civilização tem o objetivo de
unir indivíduos também a nível libidinal e tenta isso a todo custo
- civilização favorece identificações fortes entre os membros e
convoca a libido inibida em sua finalidade (amor a todos) -
fortalece vínculos de amizade -> Restrições à vida sexual
- não sabemos qual a necessidade de ligar os indivíduos também a
nível libidinal e rivalizar com a sexualidade

civilização - outros sacrifícios

- sacrifício da natureza agressiva - “amarás ao próximo como a ti mesmo” - excluir


a necessidade de merecimento prévio do amor - “creio porque é absurdo”
- merecimento do amor
- semelhança comigo pra eu me amar nela de alguma forma
- mais perfeita que eu, para, nela, eu amar o meu ideal de mim
- amada por alguém que eu amo ao ponto de que seu sofrimento
seja o sofrimento de quem eu amo e, portanto, o meu sofrimento
- amor imerecido
- amor é compreendido como sinal de preferência, e se um estranho
tem o mesmo lugar de um conhecido querido, o amor perde seu
valor e a atitude é injusta
- amar alguém pelo simples fato de ele ser humano também não o
coloca, necessariamente, no mesmo lugar que eu
- amor aos inimigos
- outro tem mais vantagem de ser hostil comigo se não me conhece
e, portanto, tenho mais vantagem de ser hostil com ele se não o
conheço
- quanto mais seguro ele se sentir e mais desamparado eu for, mais
provável é que ele me prejudique e continue agindo assim
- obediência a esses preceitos nobres prejudica a civilização, pois prejudica
quem obedece e incentiva o comportamento reprovável
- homem tem em si grande agressividade - o homem é lobo do homem
- manifesta diante de provocação
- em outra situação que poderia ser resolvida na diplomacia
- ou mesmo espontaneamente, quando as forças inibidoras dessa
agressão se encontram inativas

- linclinação pra agressão - perturbação dos relacionamentos humanos -


ameaça constante de desintegração da civilização, pq as paixões
pulsionais (agressividade) são mais fortes que os interesses razoáveis
(interesse pelo trabalho em comum) - necessidade de esforços que
gastam muita energia pra limitar essas pulsões agressivas (daí o pq de
incentivar identificações e relações amorosas inibidas em sua finalidade,
restringindo a vida sexual e daí o mandamento tão oposto à natureza
humana
- luta/competição - oposição é indispensável. mas mal utilizada ela inicia
inimizades
- comunistas - não critica sua visão econômica e sim nas premissas
psicológicas ilusórias de que a propriedade privada é o que inicia a
hostilidade entre os homens (tornando-os corrompidos) e não um
instrumento - Freud acredita que a agressividade é uma característica
indestrutível da natureza humana, que seguirá a civilização com ou sem
propriedade privada
- é desconfortável para os homens abrir mão de satisfazer sua inclinação
para a agressividade - por isso, é vantajoso ter um grupo cultural
relativamente pequeno que rivalize com outro pra direcionar essa
agressividade aos intrusos e unir os membros pertencentes em amor
- preconceitos: machismo, anti semitismo, etnocentrismo, xenofobia,
intolerância religiosa
- narcisismo das pequenas diferenças: satisfação conveniente e não
tão nociva da inclinação pra agressão, que facilita a coesão entre
membros de determinada comunidade

Sacrifícios impostos pela civilização - dificuldade de ser feliz na civilização

- homem primitivo não tinha essas restrições de instinto. No entanto, tinha tão
pouca segurança que não conseguia usufruir da felicidade da liberdade
- troca de parte das suas possibilidades de felicidade por segurança
(parece muito com Hobbes mesmo, e é uma visão de mundo pessimista
que lembra a da Marie Curie do filme)
- na Família primeva era apenas o chefe que desfrutava da liberdade
enquanto oprimia outros membros - liberdade distribuída desigualmente
- vida instintiva de povos ditos primitivos não é invejável, restrita por outros
fatores que os usados pela civilização - podendo ser até mais severa
- permissão de sofrimentos possivelmente evitáveis - civilização é considerada
inadequada a atender nossas exigências por felicidade e criticá-la por isso não
consiste em ser inimigo da civilização - quem sabe isso leve a mudanças
graduais - o que parece perigoso demais para se reformular:
- tarefas de restringir os instintos
- estado de “pobreza psicológica dos grupos” - vínculos sociais são
principalmente construídos pelas identificações mútuas entre os membros
enquanto os líderes são menos importantes que deviam ser na formação
do grupo - exemplo dos EUA - possível referência à crise de 1929 -
Herbert Hoover (republicano) acreditava na intervenção do Estado na
economia, mesmo naquele puta caos da desgraça

CAP 6

Freud conclui que o homem civilizado trocou a possibilidade de felicidade pela


segurança. Mas a sociedade primitiva não é para ser invejada, uma vez que, nesse
contexto, apenas o chefe da família gozava de liberdade instintiva à custa de todos os
outros.

Algumas dessas limitações da sociedade moderna são superáveis, enquanto outros são
intrínsecas à civilização. Freud não especifica quais limitações à nossa liberdade
instintiva caem em que categoria. A sociedade mais perigosa, segundo ele, é aquela em
que o líder é exaltado e os indivíduos não adquirem um senso adequado de identidade.
Freud aponta para a sociedade americana como um exemplo deste perigo, mas
abstém-se de persistir em sua crítica.

Freud cita Schiller: “a fome e o amor são o que move o mundo.” À primeira vista, os dois
parecem ser conduzidos por instintos opostos. Fome pode ser caracterizada como uma
satisfação do ego-instinto ou das necessidades internas, enquanto que o amor é
direcionado para objetos externos ao ego. “Libido” é outro termo para esse instinto.

Freud se vê forçado a abandonar essa antítese quando ele considera o fenômeno do


sadismo, que é tecnicamente um objeto-instinto, mas também ligado ao ego e um
desejo de domínio. O conceito de narcisismo elaborado em escritos anteriores por
Freud também apresenta uma complicação para esta simples oposição entre os
instintos do ego e instintos de objeto, no esquema de Freud amor-próprio
psicologicamente precede – e é uma condição necessária para – o amor voltado para
os outros.
Em Além do Princípio do Prazer, Freud pela primeira vez elabora o conceito de pulsão
de morte, oposto a Eros (o instinto de vida). A comunidade psicanalítica acha esta tese
altamente duvidosa; no entanto, diz Freud, sua existência agora parece inegável.

Agressão é “uma disposição instintiva original, autossubsistente no homem” que


“constitui o maior entrave para a civilização.” O objetivo da civilização é vincular os
homens libidinalmente uns aos outros em comunidades; a pulsão de morte complica
muito este processo. Para Freud, toda a evolução da civilização pode ser resumida
como uma luta entre Eros e pulsão de morte.

Anotações

Conta de se sentir enrolando, falando o óbvio. Mas diz que, na verdade, precisa dessa
volta toda pra tornar mais nítida uma mudança de pensamento já introduzida antes. Pra
isso ele dá outra volto na ainda pra revisar sua teoria analítica na parte dos instintos
(que de fato foi um parto e tanto de conceitos bem importantes pra psicanálise)

- partiu de uma expressão do poeta-filósofo Schiller: “são a fome e o amor que


movem o mundo” - e como ele adoooora uma antítese, ficou essa oposição:
- fome - pulsões cujo objetivo é preservar o indivíduo
- pulsões do ego/ de autopreservação
- amor - pulsões cujo objetivo é preservar a espécie
- pulsões sexuais/ objetais - cuja energia é chamada de libido
- pulsão sexual sádica recebeu destaque pq seu objetivo estava
longe do amor e porque estava claramente ligada aos instintos do
ego (sem propósito libidinal)
- mas definitivamente faz parte da vida sexual, nas atividades
em que a afeição é substituída pela crueldade
- neuroses foram encaradas como o resultado da luta pulsões do egoXobjetais, na
qual o ego ganha com o prejuízo de renúncias e sofrimentos
- precisou alterar isso quando a investigação foi das forças reprimidas pras
repressoras, dos instintos objetais para o ego
- 1914: introdução ao conceito de narcisismo (próprio ego sendo
catexizado pela libido; ego sendo a fortaleza original da libido, que se
volta a objetos e vira libido objetal ou volta pro ego como libido narcísica)
- melhor compreensão das neuroses traumáticas, de aflições que
beiram as psicoses e das próprias psicoses
- interpretação das neuroses de transferência como tantativas do
ego de se defender da sexualidade permaneceu, mas o conceito
de libido foi abalado, visto que, aparentemente, as pulsões do ego
também eram libidinais e agora parecia que o que Freud chamou
de libido era na verdade toda uma energia pulsional geral (Jung, é
você, meu filho?) - mas é claro q o pai da psicanálise não iria
admitir que as pulsões tinham todas a mesma natureza
- Mais Além do Princípio do Prazer (1920) - compulsão à repetição e caráter
conservador da vida instintiva
- inicia com especulações sobre o começo da vida e paralelos biológicos
- conclusão: ao lado das pulsões para preservar a vida e reuni-la em partes
maiores existiria uma pulsão oposta, com o intuito de dissolver essas
unidades e conduzir a vida de volta a um estado anterior ao orgânico
(basicamente outra dualidade pra explicar os fenômenos da vida e tal:
pulsões de vida X pulsões de morte)
- busca de uma prova
- pulsão de morte de morte atuava silenciosamente no organismo,
trabalhando pela sua destruição (nah, não era o bastante não)
- parte da pulsão de morte é desviada pro mundo externo na forma
de agressividade e destrutividade (é, mais promissor)
- pulsão de morte poderia ser conveniente pras pulsões de
vida ao destruir outras coisas em vez de se destruir
- inversamente, restrições dessa agressividade dirigida pra
fora jogariam ela pra dentro como autodestruição
- essa hipótese foi a que Freud achou mais útil teoricamente e que
leva a psicanálise pra simplificação das explicações
- atribui parte da resistência a essa hipótese à resistência para
aceitar como inato no homem o que é considerado mau (em
especial ao se adicionar a crença do comem como imagem e
semelhança de Deus e toda a crise moral/ religiosa em admitir
uma natureza ruim no que se considera semelhante ao divino)
- o nome libido, então, se refere às manifestações das pulsões de
vida e não das pulsões de morte

- tipos de pulsões estão mescladas em proporções variadas e


raramente aparecem isolados
- no sadismo o vínculo entre amor e destruição se volta pra
fora e no masoquismo, pra dentro e essa ligação é bem
óbvia - pulsão de morte deforma o objetivo erótico enquanto
o satisfaz integralmente
- desejo de agressão dirigido pra dentro e não revestido de
erotismo pode fugir à percepção
- maaaas, em momentos sem erotismo de puro ódio cego
destrutivo, a satisfação da pulsão de agressividade realiza
desejos antigos de onipotência do ego, sendo a agressão
aproveitada para satisfação narcísica
- pulsão de destruição inibida em sua finalidade (domada) dirigido
pra objetos (pra fora) busca a satisfação das necessidades vitais e
o controle da natureza (meio entropia causando a ordem pra
causar um caos eficiente depois)
- agressividade humana é uma disposição pulsional original e auto-
subsistente, que constitui o maior impedimento à civilização
- civilização consiste num processo especial que a humanidade
experimenta, a serviço das pulsões de vida, cujo propósito é combinar
libidinalmente indivíduos isolados , depois famílias, raças, povos, nações
até a unidade da humanidade - pq? não sabemos - mas esse é
precisamente o objetivo das pulsões de vida
- necessidade, vantagens do trabalho coletivo sozinhos não
manterão essa unidade
- agressividade humana se opõe a essa unidade e derivada e a
principal representante da pulsão de morte
- evolução da civilização agora representa a luta entre pulsões de
vida e pulsões de morte (basicamente na luta da espécie humana
pela vida)

ANÁLISE CAP 5 E CAP 6


Considerando que, no Capítulo 3 Freud comparou o homem a um “Deus protético” por
causa de suas inovações tecnológicas, no capítulo 5 ele se concentra sobre o
fenômeno oposto: a regressão do homem em um estado de barbárie e animismo. Com
a expressão latina “Homo homini lupus” ( “O homem é o lobo do homem”), Freud
metaforicamente ressalta o tom darwiniano de seu argumento sobre a civilização
humana, vendo a evolução do homem no contexto da sua descendência de espécies
“inferiores”.

A crítica de Freud ao comunismo a partir de uma perspectiva psicanalítica é um tour


de force. Sem envolver o debate habitual sobre os méritos ou desvantagens
econômicas de um governo estatal, ele aponta a falsa verdade por trás da abolição da
propriedade privada, ou seja, a incapacidade de reformar a natureza humana de tal
maneira a eliminar toda a motivação para a exploração associada com o capitalismo.

A linguagem da economia já entra na concepção de indivíduo de Freud em um grande


grau. (Em sua discussão sobre o princípio do prazer, Freud refere-se regularmente a
“economia da libido”). Considerando que um comunista pensa na economia em termos
de distribuição de recursos, Freud considera a economia fundamental para a
distribuição de energia libidinal. Pode-se abolir a desigualdade na esfera das finanças,
mas não se pode prever ou alterar a economia libidinal fundamental, que
inevitavelmente se inclina para o desejo erótico e destruição.

Curiosamente, Freud sugere que a inclinação para a agressão de forma tão destrutiva
para a civilização também serviu para construir e reforçar um sentimento de
nacionalismo entre os povos que então definem-se em oposição a outros povos
“estrangeiros”. Essa percepção pode ser logicamente ligada de volta para a crítica
freudiana estendida ao mandamento bíblico “Ama o teu próximo” no início deste
capítulo, uma vez que aponta para o papel da agressão (assim como o amor mútuo) no
processo de formação de identidade comunitária.

Freud começa com uma oposição entre instintos do ego e instintos de objeto. No
curso de sua análise, põe em causa a validade dessa oposição ao notar que ambos os
instintos fluem a partir do ego, ou mais especificamente, que os nossos impulsos em
direção a objetos externos são em última análise uma função de nossos próprios
desejos (ou seja, para o domínio, controle , prazer). Este tipo de auto-revisão comum
nos escritos de Freud é um ato protótipo do pensamento desconstrutivista, que consiste
em demonstrar como cada termo de uma oposição aparente contém a diferença do
outro termo dentro dele. Por exemplo, Freud percebe que os desejos voltados para o
lado de fora (chamados instintos de objetos) de fato, tem desejos vindos de dentro do
sujeito. Da mesma forma, no capítulo seguinte, ele vai falar de um contraste entre o
medo da autoridade (externo) e medo do superego (interno), apenas para revelar que o
último flui do primeiro.
Freud também não se opõe ao reconhecimento da natureza errônea de seus próprios
pressupostos clínicos anteriores. Um exemplo típico ocorre neste capítulo: “Lembro-me
de minha própria atitude defensiva quando a ideia de um instinto de destruição surgiu
pela primeira vez na literatura psicanalítica”. Este também é um tipo de autorrevisão,
mas longe de sublinhar uma aparente abertura de espírito de Freud a novas ideias, ela
também serve retoricamente para antecipar e superar antecipadamente a resistência do
leitor ao conceito (neste caso, da pulsão de morte) que Freud está a apresentar. O
estilo de argumentação de Freud é, por outras palavras, muito semelhante à estrutura
psicanalítica ele está elaborando que já tem o conceito de resistência incorporada.

No Capítulo 6, o uso que Freud faz da literatura e poesia como evidência empírica dos
instintos é particularmente impressionante. Freud parece integrar sua experiência
clínica com alusões a Goethe e Schiller. Numa nota de rodapé, ele cita uma passagem
do Fausto em que a descrição do mal coincide com o “instinto destrutivo” que Freud
rotula de pulsão de morte em Além do Princípio do Prazer.

É interessante observar que aí há uma abertura à críticas, que pode dizer que Freud
trata a literatura como uma fonte autorizada de conhecimento sobre a natureza humana,
sem ver um conflito no seu estatuto epistemológico como ficção.

CAP 7

Uma das principais funções da sociedade é conter nossos impulsos agressivos.


Ela atinge esse objetivo através da instalação dentro do indivíduo de uma espécie de
cão de guarda, o que Freud chama de “superego“, para dominar o nosso desejo de
agressão.

→ Leitura complementar: O Inconsciente na teoria freudiana

Freud especula que o indivíduo, uma vez proibido de expressar esse desejo
externamente, reduz o excesso de agressão por redirecioná-la para seu próprio ego. O
superego regula as ações do ego na forma de uma “consciência” e,
consequentemente, impõe um sentimento de culpa e necessidade de autopunição
ao indivíduo.

Freud tenta explicar a raiz da culpa, concluindo que ela surge de fazer alguma coisa ou
com a intenção de fazer algo “ruim”. Sejam ou não a ação ou intenção ruins em termos
absolutos morais é irrelevante; é suficiente para o ego considerar como tal.

Freud vai mais longe, no entanto, ao rejeitar a existência de uma capacidade


“natural” para distinguir entre o bem e o mal. O que é considerado ruim, muitas
vezes faz bem é desejável para o ego. Para Freud, a única coisa “ruim” neste sentido é
a ameaça da perda do amor. Em crianças, esse medo é agudo e envolve perder os
pais; Em adultos, a comunidade toma o lugar da figura paterna.

Com a criação do superego vem um sentimento de consciência pesada. Já que ele


é internalizado, o superego regula omniscientemente os nossos pensamentos e ações,
enquanto que antes da sua instalação, os indivíduos só tinham que submeter-se a uma
autoridade superior por causa da punição (como pais), no caso de atos plenamente
realizados.

Aqueles que têm realizado a santidade a um extremo estão, paradoxalmente, mais


próximos de se sentirem pecadores. A frustração externa também aumenta o poder da
consciência para afrontar e impor punição ao ego. Povos inteiros têm se comportado
desta maneira: os judeus interpretaram sua infelicidade como consequência de sua
própria pecaminosidade e criaram um conjunto de mandamentos excessivamente
rígidos.

Há duas fontes de culpa:

1. medo da autoridade
2. medo do superego.

Neste último caso, a renúncia do instinto não liberta o indivíduo da sensação de


culpa interna que o superego continua a perpetuar. Por extensão, a fim de manter a
sua própria ordem e estabilidade, a civilização reforça o sentimento de culpa para
regular e acomodar os números crescentes de relações entre os homens. Conforme o
tempo passa, torna-se uma força mais repressiva que indivíduos acham cada vez mais
difícil de tolerar.

Anotações

o que a civilização usa pra inibir, diminuir ou extinguir a agressividade que a ameaça?

- agressividade externalizada pode ser inibida em sua finalidade e se voltar para o


controle do mundo e para a satisfação de necessidades vitais

mas, o PRINCIPAL:

- agressividade é introjetada e assumida por uma parte do ego, que se coloca


contra o resto do ego como superego e se prontifica a ser agressivo com o ego
da forma que gostaria de ser agressivo com outros indivíduos
- sentimento de culpa é como se chama a tensão entre o ego e o superego
- se expressa como uma necessidade de punição
- se origina na ação ou intenção considerada moralmente reprovável
- ação e intenção se igualam aqui porque o superego tem acesso ao
que se deseja e julga desejos também, pois basta ser descoberto
- o que influencia o julgamento em aceitável ou reprovável?
- medo da perda do amor de uma autoridade de quem se depende - medo,
porque o amor da autoridade a protege de perigos gerais e da punição
- mau, então, é o que nos ameaça de perder o amor dos outros
- culpa é medo de perder amor, uma ansiedade social
- sem superego e sem culpa, a pessoa poderia se permitir ser agressiva, se não
for descoberta pela autoridade externa. Com a criação do superego o medo de
ser pego desaparece, pq nada escapa do superego
- quanto mais virtuoso é um homem, mais desconfiado e severo o seu
comportamento e isso piora considerando que a frustração constante só
aumenta a tentação - má sorte também acentua a severidade do superego
- *estado infantil original da consciência, que não é abandonado depois da
introjeção no superego
- destino substitui o agente parental - infortúnio faz parecer que se
perdeu o amor desse agente supremo e leva a busca do
representante paterno no superego
- sentimento de culpa tem duas origens:
- medo da autoridade externa
- originalmente, renúncia à pulsão resultava do medo da
perda do amor da autoridade externa e bastava pra cessar
o sentimento de culpa
- medo do superego, que continua e em parte substitui a severidade
da autoridade externa
- renúncia à pulsão aqui não basta, pois o desejo persiste e
não pode ser escondido. a culpa persiste apesar da
renúncia
- continência virtuosa já não é mais compensada com a
certeza do amor - a ameaça de infelicidade externa com a
perda do amor é trocada por uma permanente infelicidade
interna, pela constante tensão do sentimento de culpa
- Autoridade externa impõe renúncia, que cria o superego, que exige mais
renúncias, sendo a consciência (superego) resultado das primeiras
renúncias
- cada agressão renunciada é assumida pelo superego, que fica mais
agressivo contra o ego
- e o ponto de vista no qual o superego é uma continuidade da
autoridade externa e n tem nada a ver com renúncia?
- derivação diferente pra essa primeira instalação da agressividade
do superego: agressividade vingativa da criança contra sua
autoridade tendo q ser renunciada pela incorporação da autoridade
inatacável - criação do superego a partir de toda a agressividade
que se desejava ter contra a autoridade
- relacionamento superego X ego é um retorno, deformado
por um desejo, do relacionamento entre o ego ainda
individido e um objeto externo
- severidade do superego é mais baseada na nossa
agressividade reprimida que na agressividade que se atribui
à autoridade
- de início, a consciência surge pela repressão de uma
pulsão de agressividade, sendo reforçada por novas
repressões
- Os dois pontos de vista se justificam, não se contradizem e até
coincidem (agressividade vingativa da criança será em parte
determinada pela quantidade de agressão punitiva que espera do
pai)
- severidade do superego é determinada pela combinação de
fatores ambientais e inatos
- remorso - sofrimento com sentimento de culpa quando de fato se pratica algo
errado
- origem filogenética do sentimento de culpa - assassinato do pai primevo - origem
da consciência no conflito edipiano familiar - seria um caso de remorso? de onde
viria o remorso, se a consciência vem depois da civilização?
- remorso primordial veio da ambivalência de sentimentos (agressividade e
amor) para com o pai.
- ódio foi satisfeito pela agressão fatal
- amor se manifesta pelo remorso dos filhos pelo ato
- identificação com o pai cria o superego com o poder paterno para
punir a agressão feita contra ele e cria restrições a fim de impedir
que isso se repita
- uma vez que a agressividade contra a autoridade se repetiu nas gerações
seguintes, o sentimento de culpa persistiu, fortalecido a cada parcela de
agressividade reprimida
- duas coisas ficam claras com isso:
- papel do amor na criação da consciência
- fatal inevitabilidade do sentimento de culpa
- matar o pai ou não não é o que importa, porque o
sentimento de culpa expressa tanto o conflito devido à
ambivalência, quanto o conflito entre pulsões de vida e de
morte, que existe desde que os homens tentem conviver
- na tentativa de aumentar a comunidade partindo da família,
o conflito continua edipiano, dependendo do passado e
resulta numa intensificação do sentimento de culpa - o que
começa com o pai se completa no grupo
- essa intensificação da culpa pode atingir níveis difíceis de
tolerar

CAP 8

Freud pede desculpas pelos “desvios” a que seu ensaio tem sido propenso. Ele eleva
sua discussão sobre o crescente sentimento de culpa retomado no último capítulo o
“problema mais importante no desenvolvimento da civilização.” Em sua opinião, a
civilização coloca um fardo muito pesado sobre a felicidade dos indivíduos. No caso dos
neuróticos obsessivos, a culpa se faz ouvir ruidosamente dentro da consciência, mas
muitas vezes opera de forma mais oculta.

Freud classifica a culpa como uma forma particular de ansiedade. Em sua opinião
clínica, a ansiedade está por trás de cada sintoma, consciente ou inconscientemente
expresso. Enquanto o nível coletivo da ansiedade dentro da civilização tem
aumentado, permanece em grande parte não diagnosticado, e se manifesta como
um mal-estar generalizado e vago a que as pessoas atribuem outras causas.
Religiões afirmam redimir a humanidade da culpa, através de rituais de morte ou
martírio sacrificial (ou seja, a assunção de culpa colectiva por um indivíduo).

Freud dedica algumas páginas para introduzir com clareza das definições em uso:

● “Superego” é uma instância interna cuja existência foi inferida;


● “Consciência” é uma das funções atribuídas ao superego, para vigiar as
intenções e ações do ego;
● “Sentimento de culpa” designa a percepção de que o ego tem de ser vistoriado e
surge da tensão entre os seus próprios esforços e as demandas (muitas vezes
excessivamente severas) do superego. Isso pode ser sentido antes da execução
do ato culpado, enquanto que
● “remorso” refere-se exclusivamente a reação após a agressão ter sido levada a
cabo.
Anteriormente, Freud havia afirmado que instintos frustrados no geral levam a um
aumento da sensação de culpa. Aqui, ele especifica que somente os instintos
agressivos são transformados em um sentimento de culpa por meio da ação
reguladora do superego.

Freud aplica a mesma revisão de sua compreensão dos sintomas, que são “em sua
essência satisfações substitutivas para desejos sexuais não realizados.” Nem
todos os instintos reprimidos, no entanto, se manifestam como sintomas. Alguns se
traduzem mais especificamente em um sentimento de culpa.

A analogia anterior de Freud entre o desenvolvimento da civilização e a maturação


libidinal do indivíduo também passa por uma revisão final. O programa do princípio do
prazer, que consiste em encontrar e alcançar a felicidade, é mantido como o objetivo
central do desenvolvimento psicológico individual; no entanto, no contexto da
civilização, a felicidade pessoal é dispensada em favor da unidade e da coesão
social.

Ao aderir a uma comunidade maior, o indivíduo oscila entre os pólos de egoísmo e


altruísmo, entre o impulso para a felicidade pessoal e o impulso para a união. Esta luta
é completamente interna, em função do fluxo e refluxo da libido, mas não deve ser
confundida com a luta entre Eros e pulsão de morte delineada em outros lugares no
ensaio de Freud.

Freud estende essa analogia com o conceito do superego, postulando a existência de


um superego cultural formado por personalidades dos grandes líderes ou por figuras
martirizadas que representam a humanidade oprimida, como Jesus Cristo. Na
sociedade, o superego cultural opera sob o título de “ética”, cujo principal objetivo na
visão de Freud é a reinar no “impulso constitucional” de homens a agir agressivamente
em direção ao outro. O superego individual faz exigências que não podem ser
realisticamente satisfeitas. Freud observa que o imperativo cultural para conter o
comportamento agressivo pode, no final, causar maior infelicidade psicológica do
que a agressão que foi evitada.

Empurrando a analogia entre o indivíduo e a civilização ainda mais, Freud se pergunta


se seria possível caracterizar algumas épocas da civilização como “neuróticas”. O
problema é que os diagnósticos de neurose são baseados em uma definição relativa da
normalidade psicológica individual, e seria difícil de aplicar a grupos inteiros, muito
menos segmentos da civilização.

Finalmente, Freud enfatiza o instinto de agressão e autodestruição como o único


grande problema que enfrenta a civilização, tal como se manifesta no “tempo
presente”. Ele pergunta: qual a força – O “eterno Eros”, ou o seu potente adversário – a
pulsão de morte – vai provar ser mais forte?

Anotações

Guarda o final para esclarecer algumas coisas

- sentimento de culpa toma grande parte do trabalho sem parecer sempre


vinculado a ele
- Freud só escolhe essa apresentação das ideias para reafirmar sua
intenção de representar o sentimento de culpa como o principal problema
da civilização e demonstrar que o preço pago pelo avanço da
humanidade em termos de civilização foi uma perda de felicidade pela
intensificação do sentimento de culpa (conclusão final da investigação)
- ocorreram dificuldades pela relação peculiar do sentimento de culpa com
a consciência - contradições no estudo das neuroses
- neurose obsessiva - sentimento de culpa consciente e dominante
no quadro clínico, bem como na vida do paciente - ainda assim,
alguns pacientes não se dão conta de sua presença e o
descrevem como um mal-estar ou ansiedade
- maioria de outras neuroses - culpa é inconsciente (necessidade
inconsciente de punição), mas ainda assim causa efeitos
significativos
- sentimento de culpa nada mais parece que uma variedade
topográfica da ansiedade - coincide posteriormente com o medo
do superego
- todo sintoma de alguma forma tem a ansiedade por trás dele
- ás vezes a ansiedade se mostra consciente, ás vezes
inconsciente
- sentimento de culpa causado pela civilização da mesma forma
pode não ser percebido como tal e aparecer como mal-estar ou
insatisfação (tendo outras motivações erroneamente atribuídas a
ele)
- religião alega redimir a humanidade do sentimento de culpa,
geralmente através de uma morte sacrificial ou através de ritos
- elucidar o significado de algumas palavras, que denotam aspectos
diferentes de um mesmo estado de coisas
- superego - agente inferido por Freud
- consciência - função atribuída por Freud ao superego, que
consiste em vigiar ações e intenções do ego e julgá-las ou
censurá-las. Para essa função estar presente o superego deve
estar presente.
- sentimento de culpa - severidade do superego e, portanto, da
consciência. percepção de que o ego está sendo vigiado e
avaliação da tensão entre seus próprios esforços e as exigências
do superego. Pode existir antes da consciência e do superego,
sendo expresso pelo medo imediato de uma autoridade externa,
reconhecimento da tensão entre o ego e essa autoridade. É
derivado direto da tensão entre a necessidade do amor da
autoridade e o impulso no sentido da satisfação pulsional, cuja
inibição produz a inclinação para a agressão
- remorso - reação do ego no caso específico do sentimento de
culpa que ocorre quando se faz algo considerado reprovável.
contém em forma pouco alterada o material sensorial da
ansiedade por trás do sentimento de culpa. Ele próprio é uma
punição, ou pode incluir a necessidade de punição, sendo mais
antigo que o superego e a consciência
- necessidade de punição - medo do superego que está no fundo de
todo relacionamento. manifestação pulsional por parte do ego, que
se tornou masoquista sob a influência de um superego sádico.
Parcela da pulsão de destruição interna presente no ego,
empregado pra se ligar eroticamente ao superego
- revisita algumas contradições
- a princípio, culpa era a consequência dos atos de agressão de que
alguém se abstivera. Mas no começo histórico (morte do pai
primevo), foi consequência de um ato de agressão executado.
- a instituição do superego como autoridade interna (e, por
isso, onisciente) mudou essa situação e diferenciou o
sentimento de culpa (vem de ações e intenções “erradas”)
do remorso (vem somente de ações “erradas”)
- conflito que surge da ambivalência (conflito entre pulsões
primitivas, de vida e de morte) leva ao mesmo resultado
- relação variável entre sentimento de culpa e consciência
- neurose obssessiva mostra que o sentimento de
culpa vindo de ações ou intenções pode ser
consciente ou não
- superego dotado de energia agressiva
- ponto de vista 1 - energia agressiva do superego continua a
energia punitiva da autoridade externa e a mantém viva na
mente
- se ajusta melhor à história
- ponto de vista 2 - energia agressiva do superego é a
própria energia agressiva que não foi usada e agora se
dirige contra a autoridade inibidora
- se ajusta melhor à teoria do sentimento de culpa
- resolução - os dois casos se tratam de agressividade
deslocada pra dentro - a observação clínica demonstra que
essas duas fontes pra agressividade atribuída ao superego
geralmente operam em harmonia, possivelmente uma tem
mais efeito que a outra em determinado caso
- opinião para aceitação provisória
- predileção da teoria analítica recente pela ideia que todo tipo de
frustração de satisfação pulsional pode aumentar o sentimento de
culpa
- Freud considera que isso deveria ser reduzido apenas para as
pulsões agressivas para simplificação teórica
- explicar (dinamicamente e economicamente) o aumento no
sentimento de culpa aparecendo no lugar de uma exigência erótica
não satisfeita só parece possível indiretamente ao supor que
prevenir uma satisfação erótica exige agressividade contra a
pessoa que interferiu nessa satisfação e que essa própria
agressividade tb tem que ser recalcada
- assim, seria apenas a agressividade que é transformada
em culpa, por ter sido recalcada e passada pro superego

- aplicando ao processo de repressão


- sintomas neuróticos são essencialmente satisfações
substitutivas para desejos sexuais frustrados
- investigação sugere que toda neurose esconde uma
quantia de sentimento de culpa, que fortifica os sintoma,
usando eles como punição.
- proposição: quando tendências pulsionais são reprimidas,
seus elementos libidinais se transformam em sintomas e
seus elementos agressivos, em sentimento de culpa

- conflito: Pulsões de Vida (Eros) X Pulsões de Morte (Tânatos)


- processo civilizatório coletivo e desenvolvimento individual têm objetivos
semelhantes - quando o desenvolvimento humano tem a união com a
comunidade como objetivo, os dois processos podem coincidir
- civilização: tarefa de unir pessoas em comunidade por vínculos
libidinais - tarefa é dada pelas pulsões de vida e é incentivada
pelas exigÊncias da realidade; abstração mais difícil de apreender
em termos concretos q o desenvolvimento individual
- imposição de restrições
- o que mais importa é estabelecer relações - prevalece o
altruísmo
- desenvolvimento individual: integrar um indivíduo isolado numa
comunidade humana
- princípio do prazer/ busca pela felicidade prevalece -
egoísmo
- *integração/adaptação numa comunidade - altruísmo -
condição quase que inevitável que acontece antes que a
felicidade seja alcançada
- altruísmo e egoísmo estão em conflito em todos e isso não deriva
de Eros X Tânatos e sim de um conflito na economia da libido

- comunidade também desenvolve um superego, desenvolvido em cada época


com origem semelhante à do superego individual - baseado na impressão da
personalidade de grandes líderes (fortes, puros, unilaterais)
- estabelece também exigências rígidas e ideais, que são punidas quando
desobedecidas
- superego individual tem exigências semelhantes às do cultural
predominante
- exigências éticas especialmente voltadas para o relacionamento
interpessoal - ética - tentativa terapêutica de neutralizar a inclinação
humana para a agressão mútua por ordens do superego
- terapia para neuroses - realização de críticas ao superego e tentativa de
diminuir suas exigências
- sua severidade com as regras pouco considera a felicidade e as
resistências a essas normas
- força pulsional do ID
- dificuldades apresentadas pelo meio externo real
- também o superego cultural pouco considera a felicidade e a constituição
mental humana
- exigência intolerável leva os seres humanos à revolta, neurose ou
infelicidade. Ainda assim, a civilização considera apenas mais
meritória a obediência de regras quase impossíveis
- a defesa mais forte da sociedade contra a agressão (ama o
próximo como a ti mesmo) coloca quem obedece em desvantagem
em relação a quem desobedece.
- a agressividade se torna um obstáculo mais ameaçador à
civilização se a defesa contra ela causa tanta infelicidade
quanto a própria agressividade
- obediência à ética só pode oferecer a satisfação narcísica
de pensar ser melhor que o desobediente
- religião e vida após a morte - sem recompensa em
vida, a virtude não tem incentivo real
- acabar com a propr priv - mais interessante que a
religião e a ética, mas o socialismo inutiliza os fins
práticos dessa mudança pela sua ingenuidade para
com a natureza humana
- A semelhança do desenvolvimento da civilização com o do indivíduo permitiria
uma aplicação até terapêutica da psicanálise para a comunidade cultural?
- interessante, mas requer cautela
- uso de analogias tem seu risco
- diagnóstico de neurose individual tem como ponto de partida o
contraste entre o paciente e seu meio, tido como normal
- quando o assunto é todo um grupo de pessoas, esse
diagnóstico deveria partir de outro lugar
- caso a psicanálise seja aplicada a nível terapêutico num grupo,
qual seria sua utilidade se não tivesse autoridade para submeter
todo grupo à terapia?
- julgamento do valor da civilização? - tentativa de não ceder pra um dos lados
- os meios que a civilização emprega para cumprir seu objetivo, levam a
um estado de coisas intolerável pro indivíduo
- por outro lado, a civilização humana pode ter seguido um curso
obrigatório e o estabelecimento de duras restrições da sexualidade ou de
um ideal humanitário era o que precisava ser feito e nos submetemos a
eles como se fossem necessidades naturais
- por outro lado ainda, quando tendências humanidade foram consideradas
intoleráveis elas foram substituídas
- até que ponto o desenvolvimento cultural domina a perturbação causada pela
pulsão de agressão e autodestruição
- época atual - controle sobre a natureza suficiente para levar ao extermínio
mútuo - origem de algumas inquietações, ansiedades e infelicidades
- resta esperar que a Vida prevaleça sobre a Morte, mas com que sucesso
e que resultado?

ANÁLISE CAP 7 E CAP 8 (FINAL)

A formação religiosa de Freud permeia seu discurso. Os estudiosos estão em


desacordo sobre a extensão em que o judaísmo influencia a concepção da psicanálise
de Freud. Certamente, suas interpretações da religião e suas crenças centrais têm
estado muitas vezes em desacordo com a tradição judaica mainstream. As frequentes
referências à história e cultura judaica durante todo o ensaio apontam paradoxalmente a
importância da religião no pensamento de Freud, ao mesmo tempo que Freud rejeita
categoricamente a prática e a instituição da religião organizada como infantil e
delirante.

O fenômeno da culpa, por exemplo, é essencial para a compreensão de Freud


sobre a formação do superego, e remonta à experiência histórica dos judeus. Da
mesma forma, Freud cita a perseguição dos judeus como uma manifestação da
“inclinação para a agressão” que às vezes serve como uma força coesa por trás da
formação de identidade.

A estrutura da discussão de Freud chama a atenção para o significado etimológico de


“ensaio”, que na sua origem designa um experimento, um processo de tentativa e
muitas vezes especulativo que enfatiza o processo e não o resultado, e,
consequentemente, envolve muitos “desvios” do tópico de discussão declarado. Em
termos de gênero, o ensaio foi derivado do princípio científico de um experimento, mas
a sua estrutura foi elástica o suficiente para acomodar tanto a evidência empírica e
teórica, ambas considerações relevantes de carácter degressivo. Freud, através da
integração de referências à literatura e outras disciplinas (política e economia, por
exemplo), mantém-se fiel às origens interdisciplinares do ensaio, bem como a sua
natureza experimental.

Se examinarmos a estratégia retórica no Capítulo 8, o ponto de partida de Freud é a


análise do indivíduo e seus sintomas. Ele passa a construir uma analogia mais
prolongada entre o desenvolvimento do indivíduo e da evolução da civilização, até que
a analogia não parece mais sustentável por duas razões principais. Em primeiro lugar,
ao contrário das manifestações clínicas do superego individual que permite a Freud
inferir a sua existência (ou seja, sintomas de ansiedade, medo e culpa), não pode haver
nenhuma evidência empírica de um superego “cultural” mesmo que tal conceito possa
ser logicamente deduzido a partir do valor que uma cultura coloca em certos líderes ou
indivíduos. Em segundo lugar, para caracterizar uma época inteira da civilização como
“neurótica,” uma vez que é possível diagnosticar um indivíduo, a existência de uma
patologia coletiva teria que ser referenciada a um estado psicológico normativo de ser.
Freud nos adverte que “estamos apenas lidando com analogias e que é perigoso”, uma
vez que, finalmente, pode ter validade lógica, mas não necessariamente clínica ou
empírica.

É significativo que a última linha do ensaio, adicionada mais tarde na edição de 1931 de
O Mal-Estar na Civilização, toma a forma de uma pergunta. Em vez de concluir com
uma declaração definitiva sobre a força que prevalece dentro da civilização
humana, Freud deixa deliberadamente seu questionamento aberto e passível de
especulação. Seu interesse não reside em lançar um julgamento ou fazer uma
previsão (que o curso da história iria provar ou refutar), mas na identificação dos
impulsos e tendências subjacentes dentro da cultura mais ampla e da civilização.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

1. Considere a crítica de Freud ao pensamento comunista. Onde é que


Freud concorda com ideias comunistas? Onde é que ele discorda?
A principal crítica de Freud do comunismo não diz respeito a seu interesse em abolir
a propriedade privada. Em vez disso, Freud contesta a teoria da humanidade implícita
no pensamento comunista.

Comunismo argumenta que a agressão humana e opressão são o resultado da


propriedade privada; Freud, ao contrário, argumenta que os impulsos agressivos
humanos estão mais profundamente enraizados do que isso. O comportamento violento
antecede a propriedade, ele diz, e provavelmente será uma parte da humanidade
sempre.

2. Como é que Freud explica, em termos psicanalíticos, o sentimento


“oceânico”, que se destaca tanto na religião organizada? Será que ele
considera esse sentimento como um resultado da religião, ou alguma
experiência anterior?
Freud considera o sentimento oceânico da eternidade sendo um vestígio da experiência
de uma criança de totalidade e unidade com o mundo. Originalmente, Freud propõe,
uma criança não entende a diferença entre seu próprio corpo – seu ego – e o mundo
exterior. Com o tempo, ela desenvolve um sentimento de ego, ou seja, de “eu”. No
entanto, a memória primal dessa unidade com o mundo permanece. Religião aproveita
desse sentimento de significado eterno, dando-lhe um vocabulário específico, mas do
ponto de vista de Freud o sentimento oceânico na verdade não vem da religião.

3. Discuta a noção de felicidade de Freud. O que Freud considera ser a


principal via de felicidade humana? Quais são algumas rotas alternativas que
a felicidade pode tomar?
Freud escreve: “O que é chamado de felicidade no seu sentido mais restrito vem da
satisfação – na maioria das vezes instantânea – das necessidades reprimidas que
atingiram grande intensidade, e que por sua própria natureza só pode ser uma
experiência transitória.” Assim, ele concebe a felicidade como um alívio momentâneo ou
indulgência dos desejos instintivos e necessidades contidas. A forma de liberação é
primariamente sexual. Para Freud, toda a felicidade toma sua forma de êxtase intenso
experimentado em orgasmo. Em manifestações de derivativos, a felicidade também
pode ser encontrada através da busca de artes e ciências e através da contemplação
da beleza.

4. Freud abre sua obra com uma longa comparação do desenvolvimento


psicológico com outras formas de desenvolvimento – em particular, o
crescimento das cidades. O que ele realiza com essa comparação? O
que ele diz especificamente sobre isso?
A comparação de Freud é realmente uma busca por uma representação metafórica do
desenvolvimento da mente como ele a vê. Freud pensa que embora os seres humanos
se desenvolvam e mudem, eles sempre mantem seus estados anteriores de existência.
Assim, a vida mental infantil existe em algum lugar no fundo da forma adulta, e todas as
formas intermediárias também continuam a viver. Freud utiliza a cidade de Roma, em
especial, para ilustrar este fenômeno; Roma existe em camadas, com estruturas
milenares permanecendo ao lado de arranha-céus modernos. O uso de uma cidade,
especialmente em uma civilização tão proeminente quanto Roma, também introduz o
tema de comparar a psique individual com a psique coletiva de uma civilização.

5. Freud propõe que, em uma cultura “civilizada”, quanto mais santo se


é, mais pecaminoso se pensa ser. Como ele explica esse paradoxo?
Freud observa que o comportamento ‘santo’ é o resultado de um forte superego. Como
prova, ele cita observações clínicas de Franz Alexander de uma correlação entre o rigor
da paternidade e a força desse desenvolvimento do superego. Onde a paternidade é
negligente, a criança é capaz de transformar suas censuras sem seus pais; onde a
parentalidade é atenciosa e irrepreensível, a criança transforma essa energia de volta
em forma de crítica sobre si mesma. Assim, ela constrói uma superego implacável que
a enche de culpa não importa quão bem comportada ela possa ser.

6. Freud mistura evidências científicas com citação poética ao longo de


sua redação. Qual é o efeito desse método retórico?
A mistura que Freud faz de ciência com a literatura sempre foi uma faca de dois gumes
– por um lado, tem ajudado a fazer a sua escrita amplamente acessível para além dos
limites da psicanálise, por outro, tem fornecido alimento para os críticos que procuram
desacreditar as pretensões científicas de Freud.

O efeito geral, pode-se dizer, é uma tentativa de colocar as suas observações sobre o
nível universal de realização estética. Freud tem um grande respeito pela obra literária,
como é imediatamente evidente em sua história sobre o sentimento “oceânico”; ao
mesmo tempo, ele deseja entender esta realização em termos de psicanálise. Sua
capacidade de explicar fenômeno estético em termos psicanalíticos liga as estruturas
mais profundas da psique com as produções mais duradouras da arte humana. Assim,
Freud mostra a importância de suas ideias – o complexo de Édipo, por exemplo – se
une indiscutivelmente a significativa obras de arte Édipo Rei, de Sófocles.

7. O que Freud diz sobre o mandamento bíblico de “amar o teu próximo


como a ti mesmo”?
Freud considera esta máxima sendo mais velha do que o cristianismo, mas não
particularmente velha em termos da história da humanidade. Ele também considera que
é absurda e desvantajosa. O impulso natural do homem é amar a si mesmo e aqueles
caros a ele – amar, em outras palavras, as pessoas que o amam. A noção cristã de
amar os inimigos, neste contexto, é ridícula para Freud e difícil de seguir na prática.

Na verdade, além do santo ocasional, os cristãos têm tido dificuldades para seguir esse
mandamento, como pode-se perceber por atos que demonstram ódio a seus inimigos
ao longo da sua história, como a sua longa história de perseguir judeus e hereges. Essa
questão de amar os pertencentes ao grupo e odiar os que estão fora é bem trabalhada
por Freud em Psicologia de grupo e a análise do ego.
8. O que Freud quer dizer com os seguintes termos e como ele liga-os?:
superego, consciência, sentimento de culpa, necessidade de punição,
remorso.
● O superego é uma instância psicológica, o “eu superior”.
● “Consciência” é uma das funções do superego, que atua como um censor e
supervisor das intenções do ego.
● O “sentimento de culpa” é o grau em que o superego sente culpa; assim também
corresponde à força da própria consciência.
● A “necessidade de punição” é um sentimento masoquista dentro do ego, que
está sendo atormentado por um superego sádico.
● “Remorso” é uma experiência de culpa que ocorre após a ação indutora de culpa
ter ocorrido.

9. Freud se preocupa com os impulsos masoquistas e sádicos na vida


humana. Como ele explica a origem desses impulsos? Quais são algumas
das consequências sociais e culturais desses fenômenos?
Freud propõe que os dois instintos que ele identifica pela primeira vez em Além do
Princípio do Prazer – os instintos de vida e morte – sempre coexistem. Quando
destrutividade (Tânatos / pulsão de morte) e Eros (o instinto de vida) se misturam e são
dirigidas para dentro, o resultado é o masoquismo – uma excitação sexual através de
ações autodestrutivas. Quando eles se misturam e são dirigidos para fora, o resultado é
o sadismo – uma excitação sexual através da dor dos outros.

Freud vê a prevalência de sadismo e masoquismo na sociedade civilizada como prova


do fortalecimento do superego sobre o qual a sociedade depende. O superego assume
enorme importância e, em alguns casos, atua como sadista em relação ao ego
masoquista.

10. Em uma longa nota de rodapé no início do capítulo 4, Freud especula


sobre a transição da sexualidade principalmente olfativa dos animais, à
sexualidade principalmente visual da humanidade. Descreva este modelo
evolutivo especulativo.
Freud argumenta que a mudança da sexualidade olfativa à sexualidade visual ocorreu
quando, em seu curso evolutivo, o homem passou de rastreamento para caminhar na
posição vertical. Neste ponto, os órgãos genitais foram expostos e exigiram proteção,
que inspirou os sentimentos de vergonha. Com a mudança para a excitação visual, a
excitação olfativa anterior (o que corresponderia com o ciclo menstrual) tornou-se um
tabu – daí a presença de tabus menstruais periódicos na maioria das culturas nativas.

Em última análise, Freud sugere que a mudança para a sexualidade visual alterou a
periodicidade da excitação; Considerando que os seres humanos foram uma vez
ligados ao ciclo menstrual para a fertilidade, tornaram-se permanentemente capazes de
excitação com a mudança para andar na posição vertical.
GLOSSÁRIO
Catexia
O investimento da libido em objetos.

Deslocamento
Originalmente, o deslocamento que se refere ao fenômeno em sonhos em que a
informação emocionalmente perigosa é expressa em imagens e sentimentos menos
perigosos. Refere-se também a um redirecionamento da energia libidinal de um objeto
para outro.

Economia
Freud usa este termo para designar amplamente a maneira pela qual a energia da libido
é distribuída numa dada instância.

Ego (Eu)
O eu consciente. Mais amplamente, os pensamentos e comportamentos do eu que
podem, potencialmente, ser conscientes

Eros
A pulsão de vida. Liga os seres humanos em grupos e é vista mais potente em casos de
amor.

Deus
Freud vê o Deus judaico-cristão como uma figura paterna derivada doa ambivalente “pai
primevo.” Este todo-poderoso, todo-doação, todo-punição é uma entidade que infantiliza
os crentes, na visão de Freud, quando ele incentiva uma atitude de obediência
impotente diante do destino.

Id
O eu inconsciente e a fonte de nossa unidade libidinal. O ID é uma agência amoral que
se expressa em Eros e Tânatos, as pulsões de vida e morte.

Libido
A energia latente no id. Ela obedece as leis da economia – há uma quantidade limitada
de libido: se investida em uma área, é tirada de outra. A libido é geralmente associada
com objetos sexuais, mas, em casos de sublimação ou de deslocamento, pode ser
dirigida para qualquer atividade.

Narcisismo
Derivado da figura mitológica grega, Narciso, que se apaixonou por seu próprio reflexo.
Narcisismo tem relação com a energia libidinal que investimos em nós mesmos.

Neurose
Um conflito psicológico entre os eus consciente e inconsciente. Resulta em desconforto
psicológico e muitas vezes nos sintomas neuróticos específicos que estão relacionados
com o problema subjacente.

Complexo de Édipo
O drama psicológico primário do qual deriva a nossa personalidade.A natureza exata
das alterações complexas, dependem do ensaio em questão. Em geral, Complexo de
Édipo refere-se a um desejo do menino pela mãe e um desejo de substituir o pai em
sua estima. Quando reprimido com sucesso, o complexo de Édipo dá lugar ao
superego.

Profilaxia
Uma medida tomada para a prevenção de uma doença ou condição.

Repressão
O processo pelo qual o ego se livra dos desejos inaceitáveis jogando-os ao
inconsciente. Estes desejos reprimidos, por vezes, retornam, causando neuroses.

Sublimação
Um processo psicológico que ocorre quando a energia sexual é redirecionada para um
objetivo diferente, frequentemente “superior”, como a pintura ou a escrita.

SuperEgo
O “eu superior”, uma agência que supervisiona e censura as ações e pensamentos do
ego. Este é um representante dos pais internalizado, o resultado de um drama edipiano
resolvido com sucesso.

Tânatos
A pulsão de morte (identificada neste texto na maioria das vezes por esse nome). Esta
pulsão visa a destruição e violência. Ele está em permanente tensão com a pulsão de
vida, Eros.

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