Você está na página 1de 19

1

INSATISFAÇÃO CORPORAL: A INFLUÊNCIA DAS MÍDIAS SOCIAIS NA


DISTORÇÃO DA IMAGEM CORPORAL DE ADOLESCENTES DO GÊNERO
FEMININO

Renata Soares de Sousa1


Elisangela de Castro Freitas Oliveira2

RESUMO: Esta pesquisa busca trazer à tona reflexões acerca da insatisfação


corporal relacionada à influência das mídias sociais na distorção da imagem corporal
de adolescentes do gênero feminino. Tem-se como objetivo geral para este estudo
refletir sobre das pressões sociais exercidas através das mídias sociais e sua
influência no desencadeamento da insatisfação da imagem corporal em adolescentes
do gênero feminino. E, como objetivos específicos, analisar a construção da imagem
corporal em adolescentes do gênero feminino e as consequências da influência
midiática na insatisfação corporal; Identificar a atuação do psicólogo frente a distorção
da imagem corporal de adolescentes do gênero feminino. A metodologia utilizada foi
a abordagem qualitativa, por meio de revisão narrativa da literatura. Como resultados
alcançados neste estudo, temos o entendimento de que a mídia tem uma parcela
significativa quanto à apresentação da construção fantasiosa dos jovens, sobre como
seus corpos devem ser ou parecer. A exposição desse padrão através da mídia pode
gerar sentimento de frustração, culpa e vergonha por parte das meninas que não
alcançam a imagem desejada. A busca incessante por um corpo ideal faz com que as
meninas estejam mais predispostas a suportarem dor e correrem riscos na busca pelo
padrão estético atual. Assim como a mídia, profissionais da saúde, cuidadores,
colegas, pais e professores, são também influenciadores, bons ou ruins, para jovens
adolescentes.

Palavras-chave: Imagem corporal de adolescentes. Insatisfação corporal. Mídias


sociais.

1 INTRODUÇÃO

A hipervalorização da busca por um corpo ideal e a busca pela magreza


excessiva trazem um padrão de beleza que dificilmente poderá ser atingido, sendo
estimulado e retroalimentado pela mídia. Tudo isso, também, contribui para o aumento
da insatisfação corporal e atinge de forma negativa a vida dessas pessoas,

1Graduanda de Psicologia pela UNINASSAU. renatasoares@live.com


2 Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Especialização MBA em Gestão de
Pessoas. Mestrado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). elisangela
castro.psicologia@hotmail.com
2

principalmente no que tange ao desenvolvimento biopsicossocial e ao comportamento


alimentar, que influencia no cognitivo e autoestima (PETROVSKI, PELEGRINI;
GLANER, 2010).
A Grécia Antiga foi considerada por Sena, et al. (2019) o precursor do
individualismo, tornando a população cada vez mais devotada a si, do que aos outros.
O corpo nu representava a beleza e a expressão de beleza de um corpo saudável. O
corpo materializava a expressão artística dos deuses. Na idade média, o corpo tornou-
se revestido por pecado e representava a renúncia dos prazeres materiais, o que
culminou na demonização da mulher (SENA; et al., 2019, apud SIQUEIRA, 2011).
Foi só a partir do século XVIII, com o Iluminismo, que o homem passa a ser
considerado um ser moldável. O corpo se torna um objeto a ser manipulado e, só a
partir do século XX, a concepção do corpo é um guia de vida e consciência atestado
pelo controle das enfermidades (SENA; et al., 2019).
A imagem corporal pode ser explicada como uma representação mental do
próprio corpo, como ele é percebido e se apresenta ao indivíduo, enquanto estrutura
corporal. Seu surgimento é associado às fases de desenvolvimento do ser humano e
sofre variações de acordo com as diferentes faixas etárias. A forma como os
indivíduos percebem e avaliam seus corpos sofrem diversas influências e pressões
sociais para atingir tal padrão de beleza ideal (MARTINS; PETROSKI, 2015, apud
JANKAUSKIENE; KARDELIS, 2005).
Considerada uma construção social, a adolescência possui, além das
mudanças físicas e cognitivas, alterações emocionais e assume diferentes contextos
sociais, culturais e econômicos (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Os processos biológicos do corpo seguem seu ritmo de amadurecimento e a
puberdade permite a maturação dos órgãos sexuais. Para que haja a identificação
como adulto, é necessário um amadurecimento além da puberdade, com intenso
período de aprendizagem, não somente em nível cognitivo, mas social, pois é a partir
dele que o adolescente torna-se um adulto funcional (CAMPAGNA; SOUZA, 2006).
Tradicionalmente, acreditava-se que a adolescência e a puberdade
começassem ao mesmo tempo, em torno dos 13 anos de idade [...] agora
alterações puberais bem antes da idade de 10 anos. [...] definimos
adolescência aproximadamente como o período que compreende as idades
entre 11 e 19 ou 20 anos (PAPALIA; FELDMAN, 2013, p. 386).

Nas garotas, a puberdade chega 2 anos antes que nos meninos, a partir dos 8
ou 9 anos. Logo, tendem a ser mais altas, mais pesadas e mais fortes que os meninos
3

da mesma idade. A produção hormonal gera mudanças corporais significativas: até


os 16 anos, em média, ganham 17 quilos (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
É reconhecida a insatisfação dos adolescentes com sua aparência física. A
percepção das constantes mudanças ocorridas no corpo é a responsável pela
frequência com que ocorrem os sentimentos de estranheza do próprio self na
adolescência. (FROIS; MOREIRA; STENGE, 2011, apud OSÓRIO 1989, p.
16).

Um fator bastante relevante prova o quanto a visão pode influenciar na


percepção de si mesmo. Ela está no distúrbio de sensibilidade, identificado como
hipotonia, causado por uma lesão cortical, a imagem visual permanece preservada,
no entanto a sensibilidade é prejudicada, e ainda assim o sujeito consegue dizer onde
foi tocado, o que acarreta na mudança da imagem corporal. A imagem visual do corpo
permanece, mesmo que haja dificuldades na sensibilidade (BARROS, 2005 apud
SCHILDER,1999).
Segundo Scherer, et al. (2010), o modelo de beleza difundido e exaltado já foi
o do corpo feminino gordo, mas, nas últimas décadas, o corpo ideal passou a ser o de
um corpo magro, esguio e atlético, proporcional, o que torna comum a sociedade
discriminar os indivíduos que não são considerados atraentes. Logo, sujeito às
influências de familiares, grupo de pares, amigos e mídia, tendem a repetir
comportamentos que influenciarão a composição da sua identidade corporal (DEL
CIAMPO; DEL CIAMPO, 2010).
De acordo com Campagna e Souza (2006), a preocupação com o peso é
entendida como resultado da internalização de padrões irreais de beleza, e, muitas
vezes, predispõe as jovens à depressão.

Às vezes a determinação de não ter excesso de peso pode resultar em


problemas mais graves do que o próprio excesso de peso. A preocupação
com a imagem corporal pode resultar em esforços obsessivos para controlar
o peso. (PAPALIA; FELDMAN, 2006, apud DAVISON; BIRCH, 2001;
SCHREIBER; et al., 1996; VEREECKEN; MAES, 2000, p. 396).

Alguns dos motivos para que os adolescentes desejem reduzir o tamanho da


silhueta são a autoestima (88,7%), saúde (86,4%), estética (64,9%) e outros (55,2%)
(PETROSKI; et. al., 2010, p. 1075).
A pressão social para atingir o padrão de beleza atual exerce forte influência
na forma como os indivíduos percebem e avaliam o seu corpo (MARTINS; PETROSKI,
2015, apud JANKAUSKIENE; KARDELIS, 2005). As mídias demarcam e refletem
definições que influenciam os indivíduos, apontando para a formação de imagens nem
4

sempre condizentes com uma imagem corporal já por eles construída (FROIS; et al.,
2011).
Enquanto multiplicador e reprodutor de informações, as mídias possuem ativa
participação na divulgação desse padrão de beleza, sendo ele, segundo Silva, et al.
(2004), um potente gerador de uma imagem corporal distorcida. Vale lembrar que toda
essa influência midiática e a cobrança pelo tipo físico ideal, podem gerar sentimento
de frustração, culpa, vergonha e de insatisfação (SILVA; et al., 2018), que pode
significar uma redução na qualidade de vida desses jovens, inclusive levando a
desordens de natureza psíquica, como depressão e até suicídio.
Nas redes sociais, programas de televisão ou em revistas e jornais é comum
que sejam apresentadas pessoas atléticas, que vendem saúde e boa forma, portando
objetos caros, realizando procedimentos estéticos da moda ou vendendo algum
produto que auxilie na dieta, ou outros que visem suprir os padrões estéticos
estabelecidos (LIRA; et al., 2017).
A mídia reflete os valores sociais atuais, onde a magreza é sinônimo de
sucesso e deve ser alcançada. Os adolescentes, então, buscam ideais que se
contrapõem aos antigos parâmetros já conhecidos, passando a internalizar os
modelos que o mundo apresenta. Desejam novos espaços, acessórios, modas e
novos corpos. Diante do exposto, novas experiências geram novas crenças e, por
consequência, constroem uma nova identidade corpórea. No entanto, é comum nesse
processo a preferência pelo que já se conhece e pelo que é apresentado pela
sociedade, o que acaba por contribuir para o aumento das angústias e crises dos
adolescentes (FROIS; MOREIRA; STENGE, 2011).
Os meios de comunicação são responsáveis por expor os modelos de beleza,
valorizando determinados atributos em detrimento de outros (CAMPAGNA; SOUZA,
2006). Neste contexto, tais referenciais, em meninas que estão passando por uma
mudança corporal, aumentam o nível de insegurança com seu próprio corpo, assim
como a frustração e, frequentemente, para tentar se encaixar nesse padrão, adotam
comportamentos inadequados de perda de peso (MARTINS; PETROSKI, 2015 apud
ESPINOZA; PENELO; RAICH, 2010).
Essa avaliação subjetiva e negativa da imagem corporal, internalização do
padrão do corpo “ideal”, modifica as atitudes e comportamentos pessoais, sendo um
importante mediador da insatisfação corporal (LIRA; et al., 2017 apud LAUS; et al.,
2013).
5

A fim de combater as diversas formas de alienação da mídia, torna-se


necessário recuperar formas históricas que valorizam o corpo como elemento de
formação de cultura e organizar uma nova forma, para além desta que domina e aliena
ou para além do capital (JUNIOR, 2014). E, assim como afirma Silva, et al. (2018), é
essencial que os profissionais de saúde abordem as questões corporais sob uma
perspectiva global de saúde, que seja física e mental.
Diante disso, tem-se como pergunta de partida para esta pesquisa: Como as
pressões sociais exercidas através das mídias sociais podem influenciar no
desencadeamento da insatisfação da imagem corporal em adolescentes do gênero
feminino?
Este estudo tem como objetivo geral refletir acerca das pressões sociais
exercidas através das mídias sociais e sobre sua influência no desencadeamento da
insatisfação da imagem corporal em adolescentes do gênero feminino. Como
objetivos específicos: Analisar a construção da imagem corporal em adolescentes do
gênero feminino e as consequências da influência midiática na insatisfação corporal;
Identificar a atuação do psicólogo frente a distorção da imagem corporal de
adolescentes do gênero feminino.

2 METODOLOGIA

Neste estudo, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa através da


revisão narrativa da literatura.
Segundo Minayo (2001), a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a
um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.
Para o alcance dos objetivos propostos por este estudo, foi utilizada uma
revisão narrativa da literatura que, segundo Lakatos e Marconi (2007), refere-se a uma
publicação ampla, constituída, basicamente, de análise da literatura publicada em
livros, artigos de revista impressas e/ou eletrônicas etc.
Assim, mediante coleta de dados adquirida por materiais já publicados, sendo
escolhidos dois livros com a temática específica sobre adolescência e as fases do
desenvolvimento humano: Desenvolvimento Humano, 12ª ed. de Diane E. Papalia e
colaboração de Ruth Duskin Feldman, e a obra A Adolescência, de Contardo
6

Calligaris. Também foram encontrados quatorze artigos nas bases de dados, com os
totais de três artigos do Periódicos Eletrônicos em Psicologia (PEPSIC), oito da
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e três de periódicos do Repositório da
USP.
Como descritores, foram utilizados: Imagem corporal de adolescentes.
Insatisfação corporal. Mídias sociais. imagem corporal no gênero feminino,
insatisfação corporal no gênero feminino.
Foram utilizados, como critérios de inclusão, artigos com foco nos descritores,
idioma português, período entre 2011 à 2021. Como critérios de exclusão foram
descartados aqueles que possuíam outros idiomas, faixa etária, gêneros e com
especificações étnicas e/ou relacionados a alguma patologia específica.
Foram utilizados quatorze artigos no total na realização deste artigo. E, com a
utilização dos critérios de inclusão e exclusão, aplicado para esta pesquisa seis
artigos: três na Scielo, um na Pepsic e dois no Repositório da USP, conforme descritos
no quadro a seguir:

QUADRO 01 – Síntese dos artigos pesquisados


TÍTULO/AUTORES BASE DE RESUMO DOS OBJETIVOS RESUMO DOS
DADOS/A DO ESTUDO RESULTADOS DO
NO ESTUDO
O insustentável peso Scielo - Este estudo teve por objetivo Os relatos demonstram a forte
da auto imagem: 2021 identificar a auto imagem influência das tecnologias na
(re)apresentações na apresentada pelos formação de suas identidades
sociedade do adolescentes, frente à uma e possíveis consequências
espetáculo; sociedade tecida pela que a busca de uma imagem
OLIVEIRA, Michelle exigência de imagem e espetacular para atender aos
Rodrigues padrões corporais padrões estéticos do mundo
de; e MACHADO, considerados perfeitos, virtual ou real podem trazer
Jacqueline Simone de compreendendo a influência aos adolescentes
Almeida das relações sociais e da
mídia na construção de suas
identidades.

A construção social Pepsic - Resgatar a construção Percebe-se que embora a


do corpo: como a 2019 histórica do corpo, beleza tenha sido uma das
perseguição do ideal evidenciando nesse processo grandes ocupações e
do belo influenciou as o ideal de beleza, perseguido preocupações do homem,
concepções de saúde ao longo dos anos por não se constata esforços no
na sociedade diversas culturas, e suas intento de defini-la,
brasileira repercussões sobre a aparecendo como um aspecto
contemporânea - concepção de saúde da imagem corporal, com
NASCIMENTO, E. G. produzida na sociedade relativos atributos divinais, já
C. et al. brasileira contemporânea. que os homens são
incentivados a persegui-la e
atingi-la.
7

A magreza como Repositório O objetivo deste artigo é Os ideais de beleza


normal, o normal . USP/2018 suscitar reflexões sobre o construídos pela sociedade
como gordo: reflexões corpo e os padrões de beleza frente a realidade corporal da
sobre corpo e padrões na atualidade, que estão maioria das pessoas, gera,
de beleza interpenetrados pela além de insatisfação corporal,
contemporâneos; influência da mídia. importantes distorções nas
SILVA, Ana Flávia de quais corpos que até pouco
Sousa; LIMA, Taiane tempo eram considerados
Freitas; JAPUR, excessivamente magros
Camila Cremonezi; sejam agora vistos como
GRACIA-ARNAIZ, “normais”; e aqueles tido
Mabel; PENAFORTE, como “normais” passam a ser
Fernanda Rodrigues vistos como “grandes” e “com
de Oliveira. excesso de volume”

Uso de redes sociais, Repositório. Avaliar relações entre a O acesso diário maior de 10
influência da mídia e USP - 2017 influência da mídia e o uso de vezes ao dia ao Facebook e
insatisfação com a redes sociais na imagem Instagram aumentou a
imagem corporal de corporal (IC) de adolescentes chance de insatisfação em
adolescentes do sexo feminino. 6,57 e 4,47 vezes,
brasileiras; LIRA, respectivamente.
Ariana Galhardi;
ALVARENGA, Marle
dos Santos; GANEN,
Aline de Piano.
Motivos e prevalência Scielo - Verificar os motivos e a A estética, a autoestima e a
de insatisfação com a 2012 prevalência de insatisfação saúde são os motivos que
imagem corporal em com a imagem corporal (IC) mais influenciam a
adolescentes; em adolescentes. insatisfação com a IC. Mais
PETROSKI, Edio Luiz, da metade dos adolescentes
PELEGRINI, Andreia está insatisfeita com sua
e GLANER, Maria silhueta corporal. Neste
Fátima. sentido, intervenções por
profissionais e serviços de
saúde são necessárias nessa
fase da vida, para prevenir
possíveis problemas futuros
de distúrbios alimentares
(anorexia, bulimia e
vigorexia).

Mídias e a imagem Scielo - O presente artigo busca A partir dessa discussão,


corporal na 2011 discutir a influência da mídia pretende-se propor análises
adolescência: o corpo sobre as imagens advindas do jovem na
em discussão; FROIS, dos modelos contemporaneidade e de seus
Erica, MOREIRA, contemporâneos de modos possíveis de construir
Jacqueline e valorização da uma imagem corporal que
STENGEL, Márcia adolescentização das idades favoreça seu bem-estar na
e a organização da imagem relação com os outros.
corporal do jovem.
Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados da pesquisa.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante dos artigos pesquisados e de acordo com os objetivos traçados para


esse estudo, temos como principais resultados e discussões:
8

3.1. Identidade corpórea: construção da Imagem corporal e as consequências


da insatisfação corporal em adolescentes do gênero feminino

A construção social do corpo, de acordo com Nascimento (2019) e Silva, et al.


(2018), é a própria história da civilização. A percepção que o sujeito tem do próprio
corpo é, ao mesmo tempo, individual e coletiva.
Del Ciampo e Del Ciampo (2010) nos trás que, foi a partir da década de 1960,
que o corpo tornou-se objeto de consumo. O corpo magro e atlético passou a ser o
referencial, enquanto que, indivíduos com mais peso, com a depreciação da imagem
física, houve o agravamento da interação social e discriminação social e afetiva. O
que tornou a autopercepção e a satisfação corporal fatores importantes na
socialização esperada. O que pode acarretar em sentimentos e pensamentos
negativos, que, por sua vez, influenciam no bem estar emocional e na qualidade de
vida.
Conforme Cecconi et.al. (2017) apud Soifer (1987), entre oito e doze anos, a
imaginação do jovem, gradualmente, desvincula-se dos pais e começa a ter outras
referências. Além de familiares, a verdade a respeito dela própria, costuma ser
expressa por adultos significativos em sua vida (CECCONI; et al., 2017, apud
GODOY, 1996). O fator emocional é o que permite estabelecer uma relação íntima,
que gera admiração e introjeção e, assim, existe a troca de imagens corporais.
Quando o jovem percebe o próprio corpo, projeta essa imagem para outros corpos e
passa a ter curiosidade sobre outras partes que antes não eram notadas (BARROS,
2005).
Vale ressaltar que o contexto histórico é o que traça o modelo de corpo e
padrões de beleza ideais (OLIVEIRA; MACHADO, 2021) e, tais padrões, ao
desconsiderar os aspectos de saúde e as diferentes constituições físicas da
população, acarreta altos níveis de insatisfação corporal (SCHERER; et al., 2010). De
acordo com Papalia e Feldman (2013), a maioria dos adolescentes está mais
preocupada com a aparência do que com qualquer outro aspecto de si próprio e
alguns não gostam do que veem no espelho.
Devido à não adequação a esse padrão estético exigido, jovens obesos são
mais vulneráveis à discriminação social. A gordura corporal é um forte indicador de
insatisfação corporal, podendo influenciar no nível de autoestima e até no
9

desenvolvimento de distúrbios comportamentais. As meninas são mais preocupadas


com a gordura e mais propensas a se julgarem gordas que os meninos (DEL CIAMPO;
DEL CIAMPO, 2010).
Oliveira e Machado (2021), Sena, et al. (2019), Silva, et al. (2018), Lira, et al.
(2017), Petroski, et al. (2012) e Frois, et al (2011), concordam a respeito do período
da adolescência ser uma fase de intensa mudança, não somente física, mas psíquica,
e que as influências socioculturais das mídias, como explica Nascimento (2019), estão
ligadas à indústria do corpo e estas definem o padrão de beleza imposto se tornando
um importante fator de risco para insatisfação corporal. Como afirma Sena, et al.
(2019), é a fase onde ocorre um maior foco em alcançar os padrões estéticos por se
tratar de uma fase em que o indivíduo está muito suscetível às influências do meio.
Aqueles com esse transtorno possuem uma imagem corporal distorcida e que,
por mais que estejam magras, acreditam estar gordas. Elas têm um medo extremo de
perder o controle e ficar acima do peso (PAPALIA; FELDMAN, 2013 apud AAP
COMMITTEE ON ADOLESCENCE, 2003; MARTINEZ-GONZÁLEZ; et al., 2003;
WILSON; et. al., 2007). Já as pessoas com bulimia são obcecadas com seu peso e
forma, apesar de, geralmente, não estarem acima do peso. É comum terem baixa
autoestima episódios de depressão e autocrítica e desprezo exacerbados (PAPALIA;
FELDMAN, 2013, apud WILSON; et al., 2007).
Para Oliveira e Machado (2021), a perda do corpo infantil e a reestruturação
corporal acarretam em sofrimento pela busca por aceitação social. Frois, et al. (2011)
compreende que o processo de construção da imagem corporal é cíclico e por isso,
perdura ao longo de toda a vida. Nascimento (2019), nos diz que a sedução criada
gera a perseguição da satisfação pela a aparência. Sendo assim, a questão se torna
cíclica: quanto maior a necessidade de permanecer com a aparência jovial, mais se
configuram jovens desestruturados. Então, iniciam novamente a busca por
procedimentos e métodos para tentar alcançar essa meta. Mas, de acordo com Frois,
et al. (2011), o caminho da mudança consiste em questionar os padrões da ordem do
imediatismo e rever os novos paradigmas familiares, partindo de investigações
situadas nas referências parentais.
Sena, et al. (2019) expõe as facilidades tecnológicas e usa o conceito de
identidade fluida de Bauman (2001) para afirmar a fragilidade e insegurança dos
jovens modernos e, devido a sua superficialidade, a utilização das tecnologias
modernas são meios para construção de sua identidade e geram uma maior
10

satisfação. Enquanto que Oliveira e Machado (2021), em pesquisa mais recente,


apontam que, para ser inserido em um determinado espaço, o adolescente deve
atingir o padrão imposto e, caso não atinja tal padrão, pode gerar a insatisfação
corporal.
A beleza, mesmo com um conceito abstrato, como afirma Nascimento (2019),
nos mostra o quanto a sociedade se prende a estereótipos a serem copiados. Os
modelos de vida, consumo e comportamento difundidos pela mídia torna a
autoimagem corporal um dos mais importantes fatores envolvidos na construção da
identidade dos adolescentes, pois é através dela que há divulgação do conhecimento
e debate de temas que influenciam a vida da população (DEL CIAMPO; DEL CIAMPO,
2010).
Sena, et al. (2019) apud Matias, Rolim, Kretzer, Schmoelz e Andrade (2010)
demonstraram que as meninas são significativamente mais insatisfeitas com os seus
corpos do que os meninos e que as mulheres estão mais predispostas a suportarem
dor e correrem os riscos decorrentes das cirurgias plásticas em comparação aos
homens. Petroski, et al. (2012) observou uma prevalência de insatisfação corporal nas
moças, cerca de 65,7%, quando comparada ao outro gênero (54,5%) e que tal
insatisfação está relacionada ao desenvolvimento de distúrbios alimentares. Enquanto
que Lira, et al. (2017), em sua pesquisa, constatou insatisfação corporal em mais de
80%, com maior frequência entre aquelas com sobrepeso e obesidade.
Conforme Silva, et al. (2018), a exposição de corpos excessivamente
magros torna os corpos “normais” em “grandes” e tais distorções em relação ao
próprio corpo e ao corpo alheio se apresentam no limite entre saúde e doença e geram
sentimento de frustração, culpa, vergonha e acarreta no desencadeamento de
doenças, como transtornos alimentares, depressão e até suicídio. Tal introjeção leva
à associação do corpo magro ao saudável, por consequência, uma ligação contrária
do corpo gordo. O termo “gordofobia”, citado pelos autores, é utilizado para
exemplificar e rebater a justificativa do discurso da saúde, pois tal crítica pode levar a
repercussões negativas para a saúde física e mental do indivíduo e que ter um corpo
magro e esbelto simboliza controle/disciplina.
O fator emocional é o que permite estabelecer uma relação íntima, que gera
admiração e introjeção e, assim, existe a troca de imagens corporais. Quando o jovem
percebe o próprio corpo, projeta essa imagem para outros corpos e passa a ter
curiosidade sobre outras partes que antes não eram notadas (BARROS, 2005).
11

Vale ressaltar que o contexto histórico é o que traça o modelo de corpo e


padrões de beleza ideais (OLIVEIRA; MACHADO, 2021) e, tais padrões, ao
desconsiderar os aspectos de saúde e as diferentes constituições físicas da
população, acarreta altos níveis de insatisfação corporal (SCHERER; et al., 2010). De
acordo com Papalia e Feldman (2013), a maioria dos adolescentes está mais
preocupada com a aparência do que com qualquer outro aspecto de si próprio e
alguns não gostam do que veem no espelho.
O adolescente busca construir sua subjetividade, coletando informações com a
sociedade e, de acordo com Oliveira e Machado (2021), Sena, et al. (2019), Silva, et
al. (2018), Lira, et al. (2017), Petroski, et al. (2012) e Frois, et al (2011) a mídia está
intimamente ligada em tal construção, uma vez que é a partir dele que os jovens
passam a ter maior contato com o mundo. Assim, o jovem poderá construir uma
identidade corporal só sua, uma imagem corporal advinda de suas vivências,
percepções e subjetividades, pois a tentativa de obter um corpo-imagem perfeito é
ilusório e a valorização desse ideal, com as seduções criadas pelas mídias, fazem
com que o indivíduo esteja sempre disposto a buscar o êxito. Porém, com resultados
pouco promissores, conseguem frustrações, afastamento social, imperfeição,
depressão e até morte (FROIS; et al., 2011).

3.2. A influência das mídias na insatisfação corporal de adolescentes do gênero


feminino

Assim como Calligaris (2000), que considera a adolescência um poderoso


argumento de marketing por provocar admiração, Sena, et al. (2019) nos traz a mídia
como um agente do capitalismo, que mercantiliza a beleza e alimenta o consumismo
dos procedimentos estéticos, oferecendo uma padronização dos corpos que deve ser
alcançada por todos. É através dos meios de comunicação que o mercado cria
desejos e reforça imagens de corpos padronizados. Os que não se enquadram nesse
perfil sentem-se cobrados e insatisfeitos. Assim como Oliveira e Machado (2021) nos
explicam que os ideais estéticos expressados através das mídias criam no
inconsciente do sujeito um modelo corporal específico, que se torna validada ao ser
introjetada, Silva, et al. (2018) afirmam que é necessário um aprofundamento das
reflexões sobre essa concepção de corpo ideal.
12

As jovens deparam-se com os modelos de beleza e, com a extrema e


valorização da aparência veiculada pelos meios de comunicação e, frequentemente,
a fim de acompanhar o referencial de beleza, adotam práticas inadequadas para perda
de peso que podem acarretar no desenvolvimento de transtornos alimentares, como
a anorexia e a bulimia (MARTINS; PETROSKI, 2015 apud ESPINOZA; PENELO;
RAICH, 2010).
Como explicam Del Ciampo e Del Ciampo (2010), as normas sociais valorizam
a associação entre magreza e sucesso. Diante disso, mulheres são estimuladas
desde muito cedo a mudar o tamanho e a forma de seu corpo e, como afirma Oliveira
e Machado (2021), o adolescente busca atender às expectativas do grupo ao qual
pertence, incluindo os padrões de beleza e, quando não há satisfação com a própria
imagem, tende a recorrer à procedimentos estéticos “milagrosos”.
Estudos realizados com adolescentes brasileiras têm identificado prevalências
de insatisfação pelo excesso de peso em torno de 18% em grandes centros urbanos
como São Paulo/SP (MARTINS; PETROSKI, 2015 apud BRANCO et al., 2006). Em
cidades de pequeno porte, as prevalências relatadas são, geralmente, maiores,
variando de 11,5% a 71,7%, indicando que a insatisfação com a imagem corporal
também está presente em adolescentes que residem em cidades pequenas
(MARTINS; PETROSKI, 2015 apud MIRANDA et al., 2011, CORSEUIL, et al.,2009,
PETROSKI et al., 2012).
De acordo com Petroski, et al. (2010), em uma pesquisa realizada com 708
adolescentes de uma escola pública de Santa Catarina, apresentou que 44,7% dos
adolescentes que vivem em áreas urbanas desejam reduzir sua silhueta, em
comparação com os 35,9% dos jovens que apresentam o mesmo desejo, porém
residem no meio rural. Sendo para as adolescentes o motivo que mais influencia na
distorção da imagem a estética, com 52,4%, e a autoestima, com 39,9%. Em níveis
de insatisfação corporal, os principais motivos são estética, com 96,8%, saúde, com
95,5%. E, portanto, os principais motivos para aumentar ou reduzir a silhueta
demonstram que a autoestima é o principal motivo para a perda de peso.
Outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais, concluem que a influência da mídia na disseminação do padrão de beleza
afeta adolescentes tanto na zona urbana quanto rural. E, mesmo nas cidades
pequenas, a televisão, sendo a principal fonte de lazer, representa um importante
meio de divulgação dos padrões impostos pela sociedade atual que influencia
13

negativamente a imagem corporal desses jovens, pois também estão expostos às


mesmas influências socioculturais em relação aos padrões de beleza que aqueles que
residem em cidades grandes (MARTINS; PETROSKI, 2015, apud AL SABBAH et al.,
2009).
Através dos meios de comunicação, o mercado cria desejos e reforça imagens
de corpos padronizados e, aqueles que não se enquadram nesse perfil, sentem-se
cobrados e insatisfeitos.

Rizzini et al. (2005), em pesquisa sobre a influência das mídias televisão,


vídeo game, jogos para computador, internet e telefone celular na vida dos
adolescentes, concluíram que a televisão é o meio de comunicação de massa
mais difundido, seguida do computador e da internet. Já Levy (1999) afirma
que as novas tecnologias de comunicação estão difundidas na
contemporaneidade por meio da internet e da televisão, mas também das
agências bancárias, lojas e outros serviços presentes nas cidades. Desse
modo percebe-se que a influência midiática é um importante veículo
formacional e constituinte do indivíduo (FROIS; et al., 2011, p. 73).

Na pesquisa de campo, realizada na cidade de Três de Maio – RS, constatou


que a maioria das jovens que já tiveram a menarca desejam reduzir o peso corporal.
Dessa forma, observa-se, em adolescentes do gênero feminino, uma preocupação
com as formas corporais e o desejo de atender aos ideais de magreza preconizados
pelos meios de comunicação (SCHERER; et al., 2010).
No estudo realizado nas ilhas Fiji, Saikali; et al. (2004) apud Becker; et al.
(2002) avaliaram o impacto da exposição das adolescentes à televisão e
consequentes atitudes e comportamentos alimentares desses indivíduos. A pesquisa
demonstrou maior interesse em perda de peso, sugerindo um impacto negativo da
mídia.
Lira, et al. (2017) observaram que as redes sociais Facebook, Instagram e
Snapchat, acessadas de 1 a 10 vezes por dia, aumentam as chances do
desenvolvimento de insatisfação corporal, comparadas àquelas adolescentes que
acessavam mensalmente. E, pensando em nível de acesso, novas tecnologias,
tablets, smartphones e notebooks permitem, com facilidade, tal contato.
Os relatos observados na pesquisa de Oliveira e Machado (2021) atestam que
aqueles adolescentes extremamente ligados à tecnologia têm dificuldade em separar
características pessoais de hábitos ou interesses. De acordo com Silva, et al. (2018),
podemos concluir que, se não houvesse exposição de como deve ser o corpo e a
beleza, a percepção individual corporal seria formada através do que é visto nas ruas
14

e constatado pelas estatísticas. Assim como os autores citados, Lira, et al. (2017)
também compartilham da ideia de que a imagem da propagada influencia mais do que
a realidade vivida e observada no dia a dia, e, que o reforço produzido pela mídia
aliado à falta de diversidade de corpos como referencial de beleza, cria a dificuldade
em lidar com o diferente.
Conforme Petroski, et al. (2012), a globalização nos trouxe inúmeras vantagens
e acesso às informações, nos possibilitando conhecer a cultura de outros países.
Todavia, a banalização também acarreta em comparações injustas. Desse modo, Lira,
et al. (2017) ressaltam que a maneira como as pessoas se comunicam ou buscam tais
informações está em constante mudança. Nesse estudo, o Facebook foi a rede social
mais acessada (97,2%), seguido pelo Instagram. Dentre os adolescentes, as
novidades tecnológicas são maiores e ocorrem de forma mais rápida. Meninas que
utilizam as redes sociais por mais de 20h por semana são as mesmas que ficam mais
expostas à insatisfação corporal. Isso acontece, pois, as imagens de corpos “perfeitos”
que são veiculadas e vistas repetidamente são encaradas como uma versão da
realidade e, não alcançar tal ideal, é motivo de frustração e insatisfação.
A respeito do pensamento de Bauman (2001) sobre a liquidez na formação da
identidade dos jovens da modernidade, citado por Sena, et al. (2019), na perspectiva
de Frois, et al (2011), o efémero e imediatismo, gerado pela idealização do corpo
perfeito, está localizado na dimensão do sonho do adolescente. Tal construção
fantasiosa vai, aos poucos, se moldando em uma realidade mais aceitável, porém,
construída a partir de vivências desenvolvidas ao longo da vida.

3.3. A atuação do Psicólogo frente à distorção da imagem corporal de


adolescentes do gênero feminino

Frois, et al. (2011), usam o termo “adolescentização” da sociedade


contemporânea para se referir à valorização dos atributos dos jovens a serem
estendidos às demais idades da vida. Apresentam, a partir da idealização do corpo
jovem, complicadores da identidade adulta, além de uma busca constante por
características joviais. Quanto mais se valoriza a “adolescentização”, mais se
configuram jovens desestruturados, que seguem tentando obter o corpo perfeito.
Assim, o autor passa a questionar os padrões da ordem do imediatismo e da busca
pela “adolescentização” social e por rever as referências parentais, portanto, “a
15

autoridade organizadora dos pais e cuidadores tem papel primordial, pois contribui, a
partir de vínculos estáveis e saudáveis, para um processo harmônico de construção
de uma nova imagem corporal” (FROIS; et al. 2011, p. 77).
Para Petrovski, Pelegrini e Glaner (2010) a maior prevalência de insatisfação
com a imagem corporal foi verificada nos adolescentes urbanos quando comparados
aos rurais e, de acordo com Campagna e Souza (2006) apud De Lucia (2001), em
uma pesquisa realizada com 580 adolescentes, comprovou que a maior motivação
para a mudança de hábitos não eram relacionadas a melhora da saúde, mas a
melhora da aparência física, a busca por um corpo ideal.
Não somente os meios de divulgação de conteúdo educacional, mas a mídia
também divulga e estimula o consumo de um padrão estético ideal. Diante disso, a
mídia pode também influenciar negativamente a vida das pessoas.
As novas mídias reforçam o narcisismo e os padrões de beleza vigentes. É o
sinônimo de “meios de comunicação social”, é a mais perversa das influências (LIRA;
et al., 2017, apud GOMES, 2001).
De acordo com o artigo segundo do Código de Ética do Psicólogo, resolução
n.º 10/05, 2005, o profissional possui o dever ético de, não somente promover saúde
e qualidade de vida das pessoas e das coletividades, mas, também, prestar
assistência quanto à forma que estão sendo expostas e absorvidas essas informações
que são divulgadas ao contribuir com a eliminação de qualquer forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Ao ridicularizar ou discriminar o corpo que se apresenta diferente do padrão
aceito atual, não motiva mudança visando saúde. Já o processo de (auto)aceitação
corporal é uma ferramenta essencial para que o processo de autocuidado possa
realmente acontecer de forma efetiva e transformadora (SILVA; et al., 2018).
Nesta perspectiva, a psicologia visa contribuir para o desenvolvimento saudável
de uma imagem e esquema corporal e deve permitir a preservação e estimulação da
livre manifestação dessa identidade, não somente no âmbito e exercício da práxis
profissional, mas como agente de mudança que compreende a dimensão e maturação
do corpo, estimulando a educação integral dos indivíduos para relações sociais
saudáveis, o que significa a necessidade de instaurar uma nova forma de vida social.
Desta forma, visando uma maior aceitação do corpo feminino durante a
adolescência, destaca-se a importância do planejamento e implementação de
estratégias nas escolas que visem uma conscientização sobre pressões sociais e a
16

supervalorização da magreza a fim de prevenir transtornos alimentares nesta


população (MARTINS; PETROSKI, 2015).
Pensando na busca incessante pelo corpo do jovem perfeito, Petroski; et al.
(2012) nos apresentam a estética, autoestima e a saúde como os motivos que mais
influenciam a insatisfação em adolescentes. Neste sentido, o autor tenta expor que as
intervenções dos profissionais de saúde também se fazem necessárias nessa fase do
desenvolvimento, principalmente para evitar possíveis distúrbios alimentares. E, não
somente pensando na atuação do profissional que irá atuar na prevenção ou
tratamento, Lira, et al. (2017) acreditam ser igualmente importante pensar sobre o
contato do jovem com pais, cuidadores, colegas, escola e outras experiências durante
seu desenvolvimento, incluindo aquelas proporcionada através das mídias.
Assim como Lira, et al. (2017) acreditam ser necessário pensar além da esfera
subjetiva do jovem, Silva, et al. (2018) consideram que debates acerca do corpo,
corporeidade, estigmas em volta do corpo e obesidade devem, também, haver a
agregação da temática da aceitação corporal, pois a ridicularização ou descriminação
do corpo gordo não é um reforço positivo que gera mudança. Na verdade, tais atitudes
podem desencadear sérios e profundos efeitos negativos na saúde do indivíduo, tendo
em vista que a sociedade liga o corpo gordo ao fracasso e o corpo magro ao sucesso.
O processo de (auto)aceitação corporal não deve ser confundido com acomodação
ou desleixo, visto que é uma ferramenta essencial para que o processo de
autocuidado possa realmente acontecer de forma efetiva e transformadora.
Nos últimos anos, começou-se a questionar o real poder das instituições
influenciadoras desse pensamento social, mas Sena, et al. (2019) verificaram que a
conveniência ofertada pela grande quantidade de informações direciona a sociedade
para seguir a corrente da maioria.
E, como visto na pesquisa de Oliveira e Machado (2021), pensando na
perspectiva biopsicossocial e no cuidado com a saúde do adolescente, este trabalho
visa a compreensão das pressões sociais exercidas pelas mídias, não sendo as
únicas influenciadoras, mas sendo um dos principais meios de disseminação de
insatisfação corporal, principalmente em adolescentes do gênero feminino.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
17

O conteúdo repassado através da grande mídia, tais como simetria exigida,


magreza excessiva e padrões ideais, se torna um catalizador essencial no
desenvolvimento de transtornos alimentares, sendo meninas as mais afetadas.
A mídia tem uma parcela significativa a respeito da construção fantasiosa dos
jovens sobre como seus corpos devem ser ou parecer. A exposição desse padrão
através da mídia pode gerar sentimento de frustração, culpa e, até mesmo, vergonha
por parte das meninas que não alcançam a imagem desejada. A busca incessante por
um corpo ideal faz com que as meninas estejam mais predispostas a suportarem dor
e correrem riscos na busca pelo padrão estético. E, assim como a mídia, profissionais
da saúde, cuidadores, colegas, pais e professores, são também influenciadores, bons
ou ruins, para jovens adolescentes.
A relevância social desse projeto é focada na reflexão e compreensão sobre a
influência das mídias na formação de uma identidade corpórea e o desenvolvimento
da insatisfação corporal, independente do sexo, como consequência de padrões
distorcidos advindos de crenças herdadas e evidenciados por tais mídias. A fim de
provocar um olhar mais atencioso para os jovens em desenvolvimento e uma maior
cautela por parte da sociedade na escolha e apresentação de conteúdos midiáticos
consumidos.
Diante do exposto, o conhecimento teórico e prático a respeito da referente
temática proporciona, tanto academicamente, quanto na execução da práxis do
psicólogo, uma maior compreensão acerca da construção da identidade corporal dos
jovens em desenvolvimento, o que nos permite, enquanto sociedade, a contribuição
adequada da construção saudável da imagem corporal, evitando danos imediatos e
futuros.
É importante ressaltar o caráter preventivo desse trabalho ao visar uma
intervenção mais assertiva, empática e adequada por parte dos responsáveis, mídia
e profissionais em diversos campos de atuação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, D. D. Imagem corporal: a descoberta de si mesmo. História, Ciências,


Saúde – Manguinhos [online]. 2005, v. 12, n. 2, pp. 547-554. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0104-59702005000200020>. Acesso em: 10 set. 2021.

CALLIGARIS, C. A Adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.


18

CAMPAGNA, V.; SOUZA, A. Corpo e Imagem Corporal No Início Da Adolescência


Feminina. Boletim De Psicologia, Vol. LVI, Nº 124, p: 09-35. São Paulo - SP, 2006.
Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-
59432006000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 06 jun. 2021.

CARVALHO, R. S., et al. Transtornos alimentares e imagem corporal na adolescência:


uma análise da produção científica em psicologia. Psicol. teor. prat. [Online]. 2009,
vol.11, n.3, pp. 200-223. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-
36872009000300015&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 26 mai. 2021.

CECCONI, B. R., et.al. As Influências Sociais na Construção da Imagem Corporal de


Meninas Negras. I Simpósio Nacional Saúde mental, crianças e infâncias:
abordagens socioculturais; Cap 3, 2017, Santos – SP. Anais, Santos – SP, 2017.
Disponível em: <https://www.metodista.br/congressos-
cientificos/index.php/CM2017/ECMS/paper/view/8838>. Acesso em: 26 mai. 2021.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Referências Técnicas para Atuação de


Psicólogas(os) na Atenção Básica à Saúde. Disponível em
https://site.cfp.org.br/publicacao/referencias-tecnicas-para-atuacao-de-psicologasos-
na-atencao-basica-a-saude>. Acesso em: 05 jun. 2021.

DEL CIAMPO, L. A., DEL CIAMPO, I. R. L. Adolescência e imagem corporal.


Adolescência & Saúde, Rio de Janeiro, v. 7, n. 4 p. 55-59, 2010. ISSN: 2177-5281

FROIS, E., et al. Mídias e a imagem corporal na adolescência: o corpo em discussão.


Psicol. Estud. V. 16, n. 1, pág. 71-77. Maringá, 2011. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/pe/a/7yndSDgPJX4jXXYJymhcWkM/abstract/?lang=pt#>.
Acesso em: 10 jun. 2021.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2002.

JUNIOR, A. B. Corpo e Trabalho na educação emancipatória da sexualidade. Revista


Espaço Acadêmico, v. 13, n. 154, p. 31-42, 4 fev. 2014. Disponível em:
<https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/22855>.
Acesso em: 10 jun. 2021.

LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. 6


ed. São Paulo: Atlas, 2007.

LIRA, A. G, et al. Uso de redes sociais, influência da mídia e insatisfação com a


imagem corporal de adolescentes brasileiras. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio
de Janeiro, v. 66, n. 3, p. 164-71, 2017. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v66n3/0047-2085-jbpsiq-66-3-0164.pdf> DOI:
10.1590/0047-2085000000166. Acesso em: 10 jun. 2021.

MARTINS, C.; PETROSKI, E. Insatisfação com a imagem corporal em adolescentes


do sexo feminino de uma cidade de pequeno porte: prevalência e correlações.
Edições Desafio Singular. Vol. 11, n. 2, pp. 94-106. Florianópolis – SC, 2015.
Disponível em <http://scielo.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1646-
107X2015000200010&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 jun. 2021.
19

MINAYO, M. C. de S. (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 18ª


ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

MIRANDA, V. P. N. et al. Imagem corporal em diferentes períodos da adolescência.


Revista Paulista de Pediatria [online]. 2014, v. 32, n. 01, pp. 63-69. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0103-05822014000100011>. Acesso em: 06 jun. 2021.

NASCIMENTO, E. G. C., et al. A construção social do corpo: como a perseguição do


ideal do belo influenciou as concepções de saúde na sociedade brasileira
contemporânea. Mudanças, São Paulo, v. 27, n. 1, p. 53-61, jun. 2019 . Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
32692019000100007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 07 set. 2021.

OLIVEIRA, M. R, MACHADO, J. S. A. O. insustentável peso da autoimagem:


(re)apresentações na sociedade do espetáculo. Ciência & Saúde Coletiva [online].
2021, v. 26, n. 07, pp. 2663-2672. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1413-
81232021267.08782021>. Acesso em: 19 set. 2021.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. (Colab.). Desenvolvimento Humano. 12ª ed. Porto


Alegre: AMGH Editora, 2013.

PETROSKI, E. L., et al. Motivos e prevalência de insatisfação com a imagem corporal


em adolescentes. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2012, v. 17, n. 4, pp. 1071-
1077. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1413-81232012000400028>. Acesso
em: 21 jun. 2021.

PRODANOV, C. C.; FREITAS, E. C. Metodologia do trabalho científico: métodos


e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. – Novo Hamburgo:
Feevale, 2013.

SAIKALI, C. J., et al. Imagem corporal nos transtornos alimentares. Archives of


Clinical Psychiatry (São Paulo) [online]. 2004, v. 31, n. 4, pp. 164-166. Disponível
em: <https://doi.org/10.1590/S0101-60832004000400006>. Acesso em: 19 set. 2021.

SCHERER, F. C., et al. Imagem corporal em adolescentes: associação com a


maturação sexual e sintomas de transtornos alimentares. Jornal Brasileiro de
Psiquiatria [online]. 2010, v. 59, n. 3, pp. 198-202. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/S0047-20852010000300005>. Acesso em: 05 jun. 2021.

SILVA, A. F. de S.; et al. A magreza como normal, o normal como gordo: reflexões
sobre corpo e padrões de beleza contemporâneos. Revista Família, Ciclos de Vida
e Saúde no Contexto Social, Uberaba, v. 6, n. 4, p. 808-813, 2018. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.18554/refacs.v6i4.3296>. Acesso em: 19 set. 2021.

Você também pode gostar