Você está na página 1de 21

Psicologia Social

Apontamentos de: Célia Silva


E-mail: celiamrgsilva@gmail.com
Data: 2011/2012

Bibliografia: Neto, Félix (1998). Psicologia Social I. Lisboa: Universidade Aberta.

Nota:

Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende
substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.

A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo
possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades.

Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da
Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.
36,&2/2*,$62&,$/Ö321726)8/&5$,6
I - O DOMÍNIO DA PSICOLOGIA SOCIAL

Objectivo do questionamento científico


Escolher as vias alternativas para explicar o comportamento.

2 - O QUE É A PSICOLOGIA SOCIAL? Ö Estuda as pessoas enquanto animais sociais

• Allport
Entradas Ö presenças atuais, imaginadas e implicadas
Saídas Ö pensamentos, sentimentos e comportamentos

Tópicos da Psicologia Social Ö Psicólogos Sociais ocupam-se das atitudes das pessoas, das opiniões, das
crenças, dos valores, dos sentimentos, das representações sociais.
• O psicólogos sociais abordam uma ampla gama de comportamentos humanos, mas os seus focos de
interesse na investigação limitam-se a pontos restritos, que são divididos em três grupos:
Fisiológico Ö pressão arterial, tensão, adrenalina
Cognitivo-atitudinal Ö impacto valores dos pais nos filhos, intenções de voto, etc
Realização Ö resolução de problemas em grupo, etc

Relações com outros campos


• Moscovici (1984)
Sociologia/Psicologia
9 Sujeito
9 Objecto
Psicologia Social
9 Sujeito individual
9 Sujeito social
9 Objectivo
• Psicologia Social diferente Psicologia Î ênfase no SOCIAL
• Psicologia diferente Sociologia Î ênfase no INDIVIDUAL
• A Psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual, mas o
comportamento embora possa ser social, não o é necessariamente.
Os psicólogos abordam o indivíduo fora do contexto social ocupando-se de vários
processos internos como seja percepção, aprendizagem, memória, inteligência, motivação
e emoção.
• A Sociologia é o estudo científico da sociedade humana.
Os sociólogos analisam o comportamento humano num contexto mais amplo.
• A Psicologia Social estabelece a ponte entre a Psicologia e a Sociologia.

Níveis de analise
• Encontram-se duas variantes principais em psicologia Social, onde ambas têm áreas comuns,
mas diferem na focalização central e nos métodos de investigação::
Psicologia Social Sociológica (PSS)
9 focalização central é no grupo ou na sociedade
9 Analisa as variáveis societais
9 O objectivo principal é a descrição do comportamento
9 Principais métodos de investigação: Inquéritos e observação participante
9 Principais investigadores: Lewin, Festinger, Schachter, Asch, Campbell e Allport
Psicologia Social Psicológica (PSP)
9 focalização central é no indivíduo
9 Analisa os estímulos imediatos
9 O objectivo principal é a predição do comportamento
9 Principais métodos de investigação: Experimentação
9 Principais investigadores: Mead, Goffman, French, Homans e Bales

1
• Existem várias razões para se proceder ao estudo das 2 psicologias sociais:
As duas psicologias complementam-se:
Em ultima instancia, as duas abordagens convergem:
9 Cada vez há uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas psicologias
sociais.
A atenção ao mundo subjectivo do individuo é a única contribuição da psicologia
social que é partilhada pela PSS e pela PSP (CartWight 1979)
9 Ambas as perspectivas acentuam o meio percepcionado pelo individuo e não tanto
o meio actual.
9 Ambas as psicologias sociais se focalizam nas interpretações cognitivas da
realidade e nos comportamentos subsequentes com base nestas interpretações.
• Sendo o comportamento variado e as suas causas diversas, não é de admirar que em psicologia
social se recorra a diferentes níveis de análises:
Doise (1982) - sintetizou essas explicações distinguindo quatro níveis:
1º Estudo dos processos "psicológicos" ou intra-individuais"
2º Estudo da dinâmica de processos "inter-individuais" e "intra-individuais que
ocorrem entre indivíduos (ex: o estudo da atribuição de intenções a outrem)
3º Valorização do estatuto social
4º Influência de certas crenças individuais na criação de representações sociais e
discriminação

O longo passado do pensamento sócio-psicológico


• Platão (427-347 a.c.) Ö Os homens formam grupos porque não são auto-suficientes
O equilíbrio para uma sociedade depende do lugar que ela saiba dar a três actividades:
9 Artesanal
9 Guerreira
9 Magistratura
Considera que o espírito humano tem três componentes:
9 Comportamental Ö Abdómen
9 Afectiva Ö Tórax
9 Cognitivo Ö Cabeça
• Aristóteles (384-322 a.c.) Ö A interacção social é necessária para ao desenvolvimento
humano
• Quer Aristóteles quer Platão acreditam que os indivíduos podem ser líderes ou seguidores

COMPORTAMENTO HUMANO

• Hobbes (1588-1679) Ö Homens têm tendência a amar-se mas o estado natural é a guerra
• Rousseau (1712-1778) Ö Acha que as ciências e as artes corromperam o Homem
• Bentham (1748-1832) Ö Comportamento é motivado pela procura do prazer
• Fourier (1792-1837) Ö A sociedade ideal (falanstério) assentava nas paixões humanas
• Karl Marx (1818-1883) Ö Condições económicas é que determinam o comportamento
• Lazarus (1824-1903) e Steinthal (1823-1899) Ö O povo é uma realidade espiritual e colectiva

As origens da Psicologia Social


Francesa
9 Comte (1798-1857)
Ô Inventou o termo "sociologia" e fez muito para situar as ciências sociais na
família das ciências, foi o 1º autor a ter concebido a ideia de uma Psicologia
Social.
Ô Duas das suas contribuições são geralmente conhecidas:
1º "Lei dos três estádios"
ƒ Estádio teológico - Acontecimentos = Deuses
ƒ Estádio metafísico - Acontecimentos = Ciência
ƒ Estádio positivo - Acontecimentos = Invariabilidade e constância.
Ô Inventou a "Moral Positiva" Ö Forma como os indivíduos combinam
influências biológicas e societais.
9 Gabriel Tarde (1843-1904) e a Gustave de Bon (1841-1931)
2
Ô Deve-se um real desenvolvimento da Psicologia Social
 Dois fenómenos psicológicos:
ƒ Invenção - é fruto de individualidades poderosas que asseguram o
progresso
ƒ Imitação - assegura a unidade e a estabilidade sociais.
9 Émile Durkheim (1855-1917) ÖSocial irredutível ao individual
Ô Esta posição entra em choque com a de Tarde que alicerça em
• Uma sociedade pode definir-se como "um grupo de homens que se imitam"
9 Tarde Ö valoriza papel dos meios de comunicação de massa na formação da
opinião pública
9 LeBon Ö Acredita que a multidão modifica o indivíduo Î Alma colectiva
9 Rengelman Ö Preguiça Social Î A realização individual diminui quando o
individuo trabalha em conjunto

Anglo-saxónica
9 Triplett (1898) Ö Efeitos da competição sobre o desempenho humano
9 Edward Ross (1866-1951) Ö Controlo Social Î estudo das inter relações
psíquicas entre o homem e o meio que o rodeia
9 William McDougall (1908) Ö o comportamento social resulta de um pequeno
número de tendências inatas ou instintos
9 Allport Ö o comportamento social é influenciado por muitos factores em que
se incluem a presença dos outros e as suas acções

Evolução da Psicologia Social


• Nos anos 30 surge a publicação de trabalhos de três figuras de 1ª fila, na história da Psicologia
social.
Kurt Lewin (1890-1947)
9 Formulou a "Teoria do campo" Ö O comportamento deriva das características
do individuo + interacção com o meio
• Na resposta à questão sobre o que é que determina o comportamento humano:
Freud Ö processos psicológicos internos ao indivíduo
Marx Ö Forças externas
Lewin Ö Optou por ambos: internos e externos
• Em cada década do sec. XX os interesses da investigação foram-se modificando e ampliando:
Até aos anos 30 Ö Medida das atitudes
Anos 40 a 50 Ö Dissonância Cognitiva / Psicologia Ingénua
9 Festinger propõe a Teoria da Dissonância Cognitiva (tentativa de alterar
pensamentos/comportamentos, quando os mesmos são insatisfatórios)
9 Fritz Heiner Ö Psicologia “ingénua” (atribuir sentido à vida tentando controlar o
meio)
Anos 60 Ö Estudo das relações interpessoais, investigação de tópicos, crises de confiança
Anos 70 Ö Estudo dos papéis sexuais, discriminação sexual, psicologia ambiental
9 Foram postos em cena novos tópicos (ex: papeis sexuais e descriminação sexual,
psicologia ambiental)
Anos 70 e 80 - duas tendências:
9 Influência crescente da perspectiva cognitiva
9 A ênfase na vertente aplicada.
Anos 90 Ö Perspectiva cognitiva e vertente aplicada

4 - A PSICOLOGIA SOCIAL COMO CIÊNCIA

• Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar problemas


humanos.
• Os psicólogos sociais diferenciam-se na medida em que enveredam por uma abordagem
cientifica para os seus assuntos.
• Psicologia Social
Investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro de grupos, sendo assim uma
ciência comportamental e social.
• "Teoria"
3
É uma descrição de relações entre símbolos que representam a realidade
Uma teoria deve ser capaz de fazer predições acerca de fenómenos com recurso à lógica
dedutiva Ö gera hipóteses susceptíveis de serem testadas
São precisamente as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa
• Atitude
É um símbolo abstracto utilizado para representar a realidade de que indivíduos têm
preferência por certos objectos específicos:
9 Não é real
9 Apenas representa coisas reais.
• Construto
Quando um símbolo abstracto numa teoria é definido em termos de acontecimentos
observáveis.

Investigação cientifica
• A Psicologia Social utiliza o método científico para estudar o comportamento social.
• Método científico
Implica observação sistemática, desenvolvimento de teorias que explicam essas
observações, uso de teorias que engendram predições acerca de observações futuras e
revisão de teorias quando as predições não estão certas.
• Indução lógica
É a passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias.
• Karl Popper
Mostrou que uma teoria cientifica não pode logicamente ser provada como verdadeira,
mas pode ser refutada (contradizer com argumentos).
Qualidades que uma TEORIA deve ter:
9 Concordância com dados conhecidos
9 Compreensiva
9 Parcimoniosa
9 Deve-se poder
9 Possuir valor heurístico (descobrir a verdade por si próprio).
9 Deve ter valor aplicado
Teoria GENERATIVA (Gergen 1978)
Ô Dá à pessoa a possibilidade de se interrogarem sobre o que acreditavam antes
e permite optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas
(aceites como incontestáveis).

Objectivos científicos da Psicologia Social


• Os objectivos centrais da investigação em Psicologia Social, são quatro:
Descrição
Explicação
Predição
Controlo
• A investigação pode fornecer informação fidedigna sobre a sociedade, explicá-la, permitir
predições e controlar a ocorrência de fenómenos comportamentais.

O processo de investigação em Psicologia Social


• Este processo cientifico pode sintetizar-se em sete etapas:
1. Tópico de investigação
2. Busca da documentação de investigação
3. Formulação de hipóteses
4. Escolha de um método de investigação
5. Recolha de dados - existem três técnicas básicas:
6. Análise de dados
7. Relatório de resultados
Meta-análise Ö Avalia a fidelidade dos resultados
São particularmente úteis no estudo das diferenças sexuais no comportamento social

4
5– TEORIAS EM PSICOLOGIA SOCIAL

• Entre as principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias:


APRENDIZAGEM Ö Comportamento determinado pela aprendizagem anterior
9 Há três mecanismos gerais mediante ao quais as pessoas aprendem coisas novas:
Ô Associação ou condicionamento clássico Ö aprendizagem reflexiva
Ô Reforço Ö recompensa/castigo
Ô Aprendizagem observacional ou imitação Ö rápida assimilação/ausência de
reforço
COGNITIVAS Ö Comportamento depende do modo como se percepciona a
situação social
9 Os elementos do interior - emoções e cognições - são a principal preocupação das
teorias cognitivas.
9 Kohler e Koffka
Ô Percepcionam as situações como “todos dinâmicos”
9 Princípios básicos
Ô Os princípios cognitivos estudam como é que as pessoas processam a
informação.
Ô A investigação sobre a cognição social tem sido efectuada em três áreas:
ƒ Percepção social Ö como captamos a informação acerca das outras
pessoas
ƒ Memória social Ö como armazenam informação em relação às outras
pessoas
ƒ Julgamentos sociais Ö como juntam informação para chegarem a
conclusões acerca do mundo social
9 Esquemas Ö representações que as pessoas têm nas suas cabeças acerca de
pessoas e de acontecimentos.
9 Atribuições causais Ö modos como as pessoas usam a informação para
determinar as causas do comportamento social (porquê o término de um
relacionamento, por exemplo)
9 Contribuições
Ô As teorias cognitivas permitem explicar situações que parecem numa
primeira abordagem incompreensíveis.
REGRAS E PAPEIS Ö Comportamentos resultam da interacção com os outros
indivíduos
9 Foi George Herbert Mead que tomou o conceito de papel popular na sua análise do
self em relação com as pessoas que nos rodeiam.
9 Princípios básicos
Ô Teoria do Papel:
ƒ Posição que o individuo ocupa na sociedade
ƒ Conflito de papeis:
™ Conflito interpapel Ö Exigências incompatíveis – vários papéis
(mulher quer estudar/namorado quer sair)
™ Conflito intrapapel Ö Exigências incompatíveis – um só papel
(estudar para 1 exame ou fazer 1 trabalho)
9 Contribuições
Ô Modelos de auto consciência
™ Referem em que condições nos tornam mais conscientes de nós próprios.
Ô Conceito auto vigilância
™ Dá conta da tendência de algumas pessoas observarem o modo como são
percepcionadas pelas outras.
Ô Área da gestão da impressão
™ Aborda o modo como as pessoas tentam criar impressões específicas e
positivas acerca delas próprias

No seio destas três orientações teóricas gerais é possível desenvolverem-se mini-teorias, que tentam
explicar um leque mais restrito do comportamento humano (fenómenos como o amor, solidão, etc)

5
Uma comparação de teorias
• As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas questões que ignoram.
• Conceitos diferentes
Teoria da aprendizagem Ö Relação estímulo resposta + aplicação de reforço
Teoria cognitiva Ö Importância das cognições na determinação do comportamento
Teoria do papel Ö Importância dos papéis e normas num grupo
• Diferem de comportamentos explicados
Teoria da aprendizagem Ö Impacto recompensas e castigos na interacção social
Teoria cognitiva Ö Mudanças nas crenças/atitudes e efeitos das respostas e estímulos
Teoria do papel Ö Comportamento e mudança atitude face ao papel que se tem
• Diferem nas suposições acerca da natureza humana
• Teoria da aprendizagem Ö Actos determinados pelos padrões de reforço
• Teoria cognitiva Ö Percepção, interpretação e decisões acerca do mundo
• Teoria do papel Ö Pessoas são conformistas
• Diferem nas concepções do que provoca a mudança no comportamento
• Teoria da aprendizagem Ö Depende do reforço recebido
• Teoria cognitiva Ö Alterações nas crenças e atitudes
• Teoria do papel Ö Alteração no papel que a pessoa ocupa

6 - A PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA

Uma ciência em ebulição


• A psicologia social constitui um dos domínios mais importantes na investigação em psicologia em
particular, e nas ciências sociais, em geral

7 – PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS

Estudo da caverna dos ladrões Ö Redução das hostilidades e pensamentos positivos quando trabalham
em grupo
• Muzafer Sherif e Carolyn Sherif exploram a formação de grupos, o conflito/competição
intergrupal e as técnicas para reduzir o conflito (objectivos supraordenados Ù objectivos que cada
grupo desejava realizar, mas que não o podia fazer sem a ajuda do outro grupo)
• Foram utilizadas técnicas de observação e entrevistas em profundidade, combinando-as com a
técnica dos questionários estandardizada
• Este estudo ilustra o interesse partilhado por todos os psicólogos sociais pelos pontos de vista
subjectivos das pessoas
• Chama a atenção para as mudanças ocorridas, ao longo do tempo, da perspectiva de um
grupo sobre o outro grupo, combinando nívei de análise psicólogico e sociológico
• Combinam níveis de análise psicológico e sociológico

6
IV - ATITUDES

3 – O QUE SÃO AS ATITUDES

• Envolvem crenças, sentimentos e disposições a agir


• Formam-se através da aprendizagem e são influenciadas pelas pessoas (ou grupos)
significativas da vida de uma pessoa

Modelos de atitudes
• Modelo tripartido clássico, a atitude resulta de três componentes (Rosenberg e Hovland, 1960) :
Afectivo Ö Sentimentos
9 (Ex: Sentirmo-nos tensos face a estudantes universitários)
Cognitivo Ö Crenças e opiniões
9 (Ex: Acharmos que os estudantes universitários são arrogantes)
Comportamental Ö Processo mental e físico
9 (Ex: recusarmo-nos a interagir com estudantes universitarios)
• Há quem considere a atitude como sendo unidimensional Ö Resposta avaliativa (afecto),
favorável ou desfavorável, em relação ao objecto de atitude.
• Modelo unidimensional clássico Ö Atitude é a resposta que situa o objecto numa posição do
continuum de avaliação
• Zanna e Rempel (1988)
Modelo tripartido revisto Ö integra todas estas concepções Ö define a atitude como
uma categorização de um objecto (por ex.: aborto-favoravel…desfavoravel) Ö a
atitude é um julgamento
Pressupõe que esta avaliação pode basear-se em três espécies de informação:
9 Informação cognitiva
Ô Julgamento a "frio" de que se gosta ou detesta
9 Informação afectiva
Ô Emoção sentida
9 Informação baseada no comportamento passado
Ô Antecipação da acção

Uma atitude pode só derivar de cognições, ou de cognições


e afecto, ou de cognições, afecto e comportamento passado

Características
• Pode-se encarar como um continuum psíquico
• Ressaltam quatro características:
Direcção da atitude Ö Concordância ou discordância/positivo ou negativo do
objectoda atitude
Intensidade da atitude Ö Força da atração ou repulsa Ö extremidade (ligeiramente a
totalmente positiva)
Dimensão da atitude Ö Unidimensional (1 só domínio da acitvidade
comportamental) e multidimensional (vários domínios)
Acessibilidade da atitude Ö Objecto de atitude + avaliação afectiva
• Para além das características referidas, as atitudes têm outras características básicas:
As atitudes são inferidas (ex.: preencher um questionário)
As atitudes são dirigidas em relação a um, objecto psicológico ou categoria (ex.:
objectos tangéveis, grupos, ideias abstractas, etc)
As atitudes provêm da experiência.
As atitudes influenciam o comportamento

Funções Psicológicas das atitudes


• As atitudes são úteis para a pessoa que tem uma atitude
• Katz (1960) –
Menciona quatro funções:
9 Conhecimento
Ô Perspectiva cognitiva
7
9 Instrumentalidade (meios atingir)
Ô Perspectiva behaviourista
9 Defesa do eu (protecção da nossa auto-estima)
Ô Perspectiva psicanalítica
9 Expressão de valores (permitindo às pessoas mostrar os valores com que se
identificam e as definem)
Ô Perspectiva humanística
• As atitudes podem ter três funções: (Schlenker, 1982; Pratkanis e Greenwald, 1989)
Ajudam a definir grupos sociais,
Ajudam a estabelecer as nossas identidades
Ajudam o nosso pensamento e comportamento
• As atitudes constituem, também, elementos importantes da vida cognitiva das pessoas. Guiam o
modo como se pensa, sente e age.

4 – ATITUDES E NOÇÕES CONEXAS

CRENÇAS
• Modelo Tripartido das atitudes Ö Crenças podem ser consideradas como o componente
cognitivo das atitudes
• Atitude é unitária Ö Definem as crenças como julgamentos que indicam a probabilidade
subjectiva de uma pessoa ou um objecto tenha uma característica particular.
Nesta perspectiva, crenças e atitudes são claramente distintas:
9 As crenças são cognitivas Ö pensamentos e ideias
9 As atitudes são afectivas Ö sentimentos e emoções
OPINIÕES Ö envolvem julgamentos de uma pessoa sobre a probabilidade de acontecimentos ou
relações
• Eysenck (1954)
Distingue quatro níveis:
9 Opinião acidental
9 Opinião habitual
9 Atitude
9 Ideologia
• Oskamp (1991)
Defende a perspectiva de que as opiniões são equivalentes a crenças e não tanto a
atitudes.
VALORES Ö Estão intimamente associados às atitudes Ö São crenças duradouras
• "Paz", "felicidade", "igualdade", são alguns exemplos de valores
Morris (1956)
9 Apresentou cinco dimensões gerais de valores:
Ô Constrangimento social e autocontrolo
Ô Prazer e progresso na acção
Ô Retraimento e autosuficiência
Ô Receptividade e simpatia
Ô Autocomplacência e prazer sensual.
Rokeach (1973) - fez a distinção entre:
9 Valores finais
Ô Que dizem respeito aos objectivos últimos da vida Ö Valores pessoais Ö
Centrados nas pessoas
9 Valores instrumentais
Ô Que dizem respeito a modo de conduta Ö Valores sociais Ö Mais orientados
para a moralidade ou auto-realização
Feather (1994)
9 Os valores têm as seguintes propriedades:
Ô São crenças gerais acerca de objectivos e comportamentos desejáveis
Ô Envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de "dever" acerca deles,
Ô Transcendem atitudes e influenciam a norma que as atitudes podem assumir,
Ô Fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e comportamentos,
planificar comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e apresentar-se
aos outros,
8
Ô Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e sua
importância relativa pode variar ao longo da vida,
Ô Os sistemas de valores variam segundo indivíduos, grupos e culturas.

Ideologia Ö Sistema integrado de crenças com 1 referência social ou política


• Rouquete (1996)
A ideologia é o que torna um conjunto de crenças, atitudes e de representações
simultaneamente possíveis e compatíveis no seio de uma população
• Tetlock (1989)
As ideologias podem variar segundo duas características:
9 Podem atribuir diferentes prioridades a valores particulares,
9 Há ideologias que são pluralistas e há outras que são monistas

5 – MEDIDAS DE ATITUDES Ö Podem ser medidas directa ou indirectamente

Análise de conteúdo das comunicações Ö Mede a força das palavras como despoletar de atitudes
• Thomas e Znaniecki (1918)
• Eiser (1983)
Propôs que um exame cuidadoso das palavras revestidas de emoções que as pessoas
utilizam em entrevista, pode fornecer uma indicação de valor sobre as atitudes
subjacentes, mesmo que não estejam a fazer afirmações atitudinais directas.

ESCALA DE AVALIAÇÃO COM UM ITEM Ö Mede atitudes com caráter representativo (totalmente
em desacordo (=1) a Totalmente em acordo (=7))
• Este método defronta-se com um problema Ö a potencial falta de fidelidade

ESCALA DE DISTÂNCIA SOCIAL Ö Mede atitudes étnicas (grau de distância que alguém quer manter
de pessoas de outros grupos)
• Emory Bogardus (1925)
Esta escala tem sido amplamente criticada

ESCALA DE THURSTONE Ö Continuum psicológico de afecto ao longo do qual se podem situar as


pessoas Ö Escala de intervalos aparentemente iguais (mais famosa)
• Este tipo de escala defronta-se com algumas dificuldades:
A preparação da escala é complicada e morosa
Pode haver um fosso relativamente grande entre o juri e a população a quem se administra a
escala.
Thurstone partiu da ideia de que os juízes ordenam as proposições independentemente das
suas atitudes, mas o contrário pode ser provado.

ESCALA DE LIKERT Ö Atitude = soma das respostas com correlação satisfatória com toda a escala
• Rensis Likert (1932)
Concebeu um dos métodos que mais influência tem tido na medida das atitudes.
A principal vantagem desta escala é que ela se constrói mais depressa e com menos gastos
do que uma escala de Thurstone

ESCALA DE GUTTMAN Ö opiniões ordenadas segundo a sua “favoralidade” (concorda-se com 1 item
favorável, terá de ser concordar com todos os outros mais favoráveis ainda) Ö Escala unidimensional
• A reprodutividade é a base da escala de Guttman e é geralmente aceite que um conjunto de itens
deve ter um coeficiente de reprodutividade de cerca de 90 (10% ou menos de erro)

DIFERENCIADOR SEMÂNTICO Ö Mede diferentes atitudes com a mesma escala Ö Estudo das
diferenças sócio-culturais nas atitudes
• Osgood, Suci e Tannenbaum (1957)
Desenvolveram o diferenciador semântico
9 É uma técnica de medida da significação psicológica que têm os objectos ou os
conceitos para o indivíduo.
• Usos do diferenciador semântico:
9
Estudar as diferenças sócio-culturais nas atitudes.
Estudar as diferenças sexuais.
Avaliar o auto-conceito.
• O diferenciador semântico tem a vantagem de ser fácil de construir.

MEDIDAS INDIRECTAS Ö Questionários são os mais amplamente utilizados Ö Esta técnica é utilizada
quando o investigador trabalha sobre aqssuntos sociais muito sensíveis
• As medidas indirectas mais comuns, em que não se pergunta à pessoa a sua atitude directamente,
são:
Técnicas fisiológicas Ö comportamento afectivo das atitudes, produz reacção fisiológica
que pode ser medida
Técnicas comportamentais Ö Comportamento consistente com as atitudes
Técnicas projectivas Ö Pessoas podem projectar as suas atitudes nos outros
Vantagens
9 A pessoa não conhece que atitude está a ser medida. Técnica socialmente aceite.
Desvantagens
9 Dificuldades em medir a intensidade da atitude e a sua fidelidade
9 Também podem suscitar problemas éticos.

6 – ATITUDES E COMPORTAMENTOS

• Os psicólogos sociais também estavam interessados em mudar o comportamento através da


influência exercida sobre as atitudes das pessoas.

O dilema da consistência atitude-comportamento


• Kutner, Wilkins e Yarrow (1952)
Nos E.U, muito embora as pessoas negras fossem servidas de modo satisfatório num certo
número de restaurantes, os mesmos restaurantes recusariam posteriormente efectuar
reservas para um acontecimento social que incluía pessoas negras.
Nestes estudos verifica-se uma discrepância entre atitude e comportamento.

Condições metodológicas da predição atitude-comportamento


• Possíveis problemas de medida:
O princípio de correspondência Ö Marcadores das medidas das atitudes devem ser
semelhantes aos do comportamento
9 Para se aplicar este princípio é necessário precisar os níveis de correspondência
atitude-comportamento por meio de quatro marcadores:
Ô Uma acção Ö fumar
Ô Um alvo Ö fumar cigarros
Ô Uma situação Ö em locais públicos
Ô E o tempo Ö nos próximos três meses.
9 Quanto mais os quatro marcadores da medida de atitude são parecidos com os
marcadores do comportamento, tanto mais a relação atitude-comportamento será
importante
O princípio de agregação dos comportamentos Ö Múltiplos comportamentos aumentam
a correlação atitude-comportamento
9 Uma das razões para a inclusão de um leque amplo de comportamentos é que o
comportamento é complexo e multideterminado.
9 Os factores situacionais também podem influenciar o comportamento.
O princípio do comportamento prototípico Ö Reacção atitudinal desencadeada mais
rapidamente por determinado tipo de objectos (comportamento dos homossexuais é
avaliado se os mesmos se encaixarem no modelo típico)
Ô Quando um homossexual era diferente do protótipo, a relação atitude-
comportamento já não era consistente.

Modelos teóricos de predicção do comportamento


• Um factor que contribui para aumentar a consistência atitude-comportamento é a experiência
directa da pessoa com o objecto da atitude.
• Outro factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a pertinência pessoal.
10
Se uma pessoa tem um direito adquirido numa questão aumenta a relação entre atitude-
comportamento.
• A relação entre atitude e comportamento também depende do modo como se espera que nos
comportemos em determinadas situações.
Kiesler
Assinala que se espera que uma pessoa não expresse sentimentos negativos acerca
• Uma variável que tem sido muito estudada em psicologia é o locus de controlo
No campo da relação atitude-comportamento, Saltzer 1981, mostrou claramente a
importância desta variável para obter boas predições.
• Outro factor de personalidade que pode afectar a consistência atitude-comportamento é a auto
vigilância:
Capacidade de auto-observação e de auto controlo dos comportamentos verbais e não
verbais em função de índices situacionais
• Teoria da acção reflectida Ö o determinante mais imediato do comportamento é a intenção
ou o desejo de agir.
A atitude de uma pessoa em relação a um comportamento é determinada pelas crenças de
que realizando, o comportamento, isso leva a resultados desejáveis ou indesejáveis.
A intenção é determinada pela atitude e pelas normas subjectivas
A atitude tem de se traduzir em intenção para exercer um comportamento.
Esta aptidão dos factores preditores endógenos do modelo em mediatizar os efeitos de
variáveis externas constitui o postulado de suficiência.
• Teoria do comportamento planificado (Ajzen) Ö Consistência entre atitude e comportamento,
quando este último não é totalmente voluntário Ö Acrescenta um variável preditora ao modelo da
acção refletida
Este factor denominado de controlo comportamental percepcionado é determinado
pelas experiências passadas de uma pessoa e pelas crenças sobre como é susceptível de
ser fácil ou difícil a realização do comportamento.
Mostra que a teoria da acção planificada prevê intenções comportamentais melhor
que a teoria da acção reflectida
• As atitudes originam e emergem da vida social mediante as interacções quotidianas e as
comunicações com as outras pessoas.
• As atitudes são amplamente partilhadas fornecendo significação cultural para a vida quotidiana.

11
V – REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
• Elaboração de um objecto social por uma comunidade ou indivíduo (Moscovici)
• Actividade reprodutora das características de um objecto
• Desempenha um importante papel na formação de condutas sociais e comportamentos
• É através dela que o grupo apreende o seu meio
• É um conhecimento do senso comum em oposição ao científico
• Implica a reprodução das características de um objecto

1 – INTRODUÇÃO
• Tarde
Apreendeu a importância da comunicação para reproduzir e transformar as sociedades
humanas, tendo então proposto que a Psicologia Social se ocupasse antes de mais do
estudo comparativo das conversações.
O material base foram conversas gravadas.
• Serge Moscovici
Caracterizou a nossa época como sendo a era por excelência das representações sociais
No pensamento infantil e no pensamento adulto, há intervenção de dois sistemas
cognitivos que originam as suas características partilhadas:
9 "…vemos em acção dois sistemas cognitivos, um que procede por associações, inclusões,
discriminações, deduções, isto é, o sistema operatório, e o outro que controla,
verifica, selecciona com ajuda de regras, sejam ela lógicas ou não; trata-se de uma
espécie de meta-sistema que trabalha de novo a matéria produzida pelo primeiro "

2 – ORIGENS

• Durkheim Ö Distingue RS colectivas de RS individuais


Defende que as RS colectivas têm características de fatos sociais e abarcam um
grupo de pessoas, agindo directamente sobre a forma como eles pensam e reagem
aos objectos que os afectam.
Possuem uma ligação com o passado e com gerações anteriores, exercendo uma
coerção sobre o indivíduo
• Moscovici Ö São um conjunto de conceitos, proposições e explicações criado na vida
quotidiana, no decurso da comunicação interindividual Ö Voltado para a sociedade moderna
Diz não existir uma separação entre o universo interior e exterior do indivíduo, não
havendo distinção entre o sujeito e o objecto
• O conceito de representação social aparece em sociologia onde sofre um longo eclipse.
• Todavia, a sua teoria vai esboçar-se em psicologia social, tendo efectuado uma incursão pela
psicologia da criança (Piaget 1926) e na psicanálise.

3 – NOÇÃO
• Moscovici
"Sociedade pensante" Ö trabalho de construção, mediante trocas e interacções, de
ponto de vista e de saberes, partilhados e distribuídos segundo as fronteiras incertas dos
grupos sociais.
• Jodelet (1989)
Para acolher a “sociedade pensante” foram construídas 2 representações: uma moral e
outra biológica
• Os principais aspectos a ter em conta na noção de representação social são os seguintes:
Referência a um objecto.
Actividade construtora da realidade e de uma actividade expressiva.
Adquirem a forma de modelos que e implicam elementos linguísticos, comportamentais ou
materiais.
São uma forma de conhecimento prático
• Trata-se do conhecimento do senso comum em oposição ao conhecimento científico
• Esta representação não é, porém, o reflexo puro e fiel do objecto, mas uma verdadeira
construção mental

12
• Moscovici
As imagens são:
9 Sensações mentais
9 Impressoes que as pessoas e os objectos deixam no cérebro Ö reprodução,
reflexo, fenómeno passivo
As representações sociais são:
9 Um fenómeno activo
9 Fazem referência a um objecto
9 São um conhecimento prático
• Opinião Ö Resposta manifesta, sendo o único elemento observável do sistema
• A atitude Ö Resposta antecipada (preparação para a acção)
• Representação social Ö Na medida em que é um processo de construção do real, age
simultaneamente sobre o estímulo e a resposta.
• O preconceito está intimamente ligado à atitude tendendo mesmo a confundir-se com ela.

4 – REPRESENTAÇÕES E COMUNICAÇÃO SOCIAL

• A comunicação social desempenha um papel fundamental nas trocas e interacções


quotidianas.
• Moscovici
Examinou a incidência da comunicação a três níveis:
9 1ª Ö Ao nível das DIMENSÕES DAS REPRESENTAÇÕES (opinião, atitude
e estereótipos em que há intervenção dos sistemas de comunicação social)
Ô Distingue três grandes sistemas de comunicação cuja importância
relativa varia segundo o momento histórico e os grupos sociais:
ƒ Difusão Ö A difusão produziria sobretudo OPINIÕES sobre a
psicanálise
ƒ Propagação Ö A propagação trabalha ao nível das
ATITUDES
ƒ Propaganda Ö A propaganda contribui para a afirmação e
reforço da identidade do grupo. Tem uma função reguladora e
organizadora. A propaganda trabalha ao nível dos
ESTEREÓTIPOS
9 2ª Ö Ao nível da EMERGÊNCIA DAS REPRESENTAÇÕES (cujas
condições afectam os aspectos cognitivos)
Ô Há três condições que afectam a formação das representações sociais,
as duas primeiras referindo-se à acessibilidade do objecto:
ƒ Dispersão da informação sobre o objecto da representação.
ƒ A posição específica do grupo social em relação ao objecto da
representação.
ƒ Necessidade que sentem os indivíduos de desenvolver
comportamentos e discursos coerentes a propósito de um objecto
que conhecem mal Î Pressão à inferência Ö Adesão dos
indivíduos às opiniões dominantes do grupo
9 3ª Ö Ao nível dos PROCESSOS DE FORMAÇÃO DAS
REPRESENTAÇÕES:
9 Objectivação Ö É o mecanismo que permite concretizar o abstracto
ƒ Ancoragem

Estes processos dão conta da interdependência entre actividade cognitiva e


condições sociais.

5 – ANÁLISE PSICOSSOCIOLÓGICA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL

As condições sociais em que nos locomovemos determinam não só o que pensamos, mas também, como
pensamos

13
A REPRESENTAÇÃO-PRODUTO
• Moscovici
Considera cada universo de representações sobre três aspectos:
9 Informação
Ô Diz respeito à soma e organização dos conhecimentos sobre o objecto de
representação.
9 Atitude
Ô Exprime a orientação global, positiva ou negativa, em relação ao objecto da
representação.
Ô É reguladora e energética, supondo uma estruturação dos estímulos e das
respostas.
9 Campo de representações
Ô Designa o "conteúdo concreto e limitado das proposições sobre um
aspecto preciso do objecto de representação"

A REPRESENTAÇÃO-PROCESSO Ö Objectivação e ancoragem Ö Mostram a interdependência


entre a actividade psicológica e as condições sociais
• Moscovici
Põe em evidência dois processos fundamentais que deixam transparecer o modo
como o social transforma um conhecimento em representação e como esta
representação transforma o social, a propósito do estudo de uma teoria científica, a
Psicanálise.
OBJECTIVAÇÃO Ö É o mecanismo que permite concretizar o abstrato
9 Reduz a incerteza perante objectos por meio do recurso a uma transformação
simbólica e imagética
9 Este processo pode subdividir-se em três fases no caso de um objecto complexo
como uma teoria:
Ô A selecção e descontextualização Ö Dá um carácter concreto e
imagético ao abstrato
ƒ O fenómeno de descontextualização aparece sobretudo na
transformação das ideias científicas em conhecimento quotidiano.
Ô Esquematização Ö Forja uma imagem visual do abstrato por forma a
dar-lhe sentido
ƒ É o núcleo organizador da representação.
Ô A naturalização Ö A representação da realidade torna-se realidade
da representação
ANCORAGEM Ö Transforma o que é estranho em algo familiar Ö Intervenção da
representação no social
9 Engloba as actividades cognitivas de reconstrução e de remodelação, em três
direcções:
Ô Utilidade
Ô Significação
Ô Integração cognitiva
9 Articula as 3 funções base da representação:
Ô Função de orientação das condutas e das relações sociais
Ô Função de interpretação da realidade
Ô Função cognitiva de integração da novidade

6 – ÁREAS DE INVESTIGAÇÃO
• Jodelet
Esta autora, distingue três áreas de investigação sobre as representações sociais:
9 Difusão dos conhecimentos e com a vulgarização cientifica no campo social, ou
no campo educativo.
9 Representação social como variável intermediária ou independente no
tratamento, de questões clássicas de psicologia social.
9 Representações sociais são apreendidas em contexto sociais reais ou grupos
circunscritos na estrutura social

14
7 – VARIAÇÕES SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Representações sociais e educação


• Gilly (1989)
A investigação nesta área contribui para o estudo da construção e da função das
representações sociais
• Existem dois tipos de trabalhos sobre representações sociais e educação:
Estudos focalizados em instituições, na escola, nos seus agentes
Estudos que abordam representações recíprocas professor-aluno.

Estudo experimental das representações sociais: a teoria do núcleo central


• Teoria do núcleo central (Abric, 1987) Ö Toda a RS está organizada à volta de um núcleo
central
O núcleo central de uma organização tem duas funções principais:
9 Função geradora
9 Função organizadora
O núcleo central mais estável da representação, é o que resiste mais à mudança.

Representações sociais da emigração


• A realidade do fenómeno migratório assume por essência contornos muito movediços.
• Parece haver uma maior valorização do fenómeno migratório nas representações sociais da migração
em 1987 que em 1982
Existem 3 aspectos que ilustram isto:
9 Atitude
9 Processo adaptativo
9 Projecto migratório

15
VI – PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas, objectos e
questões do meio circundante.

2 – DEFINIÇÕES: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E GRUPOS MINORITÁRIOS

• PRECONCEITO Ö Atitude favorável/desfavorável em relação a membros de algum grupo


Ö Sentimentos e crenças
Os termos endogrupo e exogrupo são úteis para se tratar do preconceito
9 Endogrupo Ö Membros do próprio grupo com quem nos identificamos
9 Exogrupo Ö Membros de outro grupo com quem nos identificamos
Categorização Î Ordenação e classificação do nosso meio físico e social
O facto de se definir preconceito como um tipo especial de atitude tem pelo menos
duas implicações:
9 1ª - Pode ser negativo ou positivo
9 2ª - Podemos vê-lo como tendo três componentes principais:
Ô Afectivo Ö sentimentos preconceituados experienciadas
Ô Cognitivo Ö crenças e expectativas acerca dos membros desses grupos
Ô Comportamental Ö tendência a agir em relação a esses grupos

Caso essas intenções se concretizem em acções, estamos então perante a discriminação

• DISCRIMINAÇÃO Ö Acções do preconceito


O comportamento discriminatório pode assumir diferentes formas:
9 Nível moderado Ö pode implicar evitamento,
9 Nível acentuado Ö pode levar a excluir de empregos, de escolas, de alojamentos.
9 Nível extremo Ö revestir-se de agressão contra os alvos do preconceito.
• Allport (1954)
Apresentou um modelo das expressões da passagem ao acto do preconceito com
cinco fases:
9 1ª - Anti locução Ö Conversa hostil e difamação verbal, propaganda racista
9 2ª - Evitamento Ö Manter o grupo étnico separado do grupo dominante
9 3ª - Discriminação Ö Excluído de direitos civis
9 4ª - Ataque físico Ö Violência contra pessoas e propriedades,
9 5ª - Extermínio Ö Violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas (nazis)
• Grupo minoritário Ö Envolve um estado de espírito e não um grupo de pessoas
O que distinguem um grupo minoritário de um maioritário é precisamente o poder
relativo exercido pelos dois grupos

3 - ALGUMAS CATEGORIAS DE PRECONCEITOS E DE DISCRIMINAÇÃO

• Existem quatro formas de intolerância:


Racismo Ö Intolerância com base na cor da pele
Sexismo Ö Intolerância com base no sexo,
Heterossexismo Ö Intolerância com base na orientação sexual
Idadismo Ö Intolerância com base na idade.

RACISMO Ö Qualquer atitude, acção ou estrutura institucional que subordina 1 pessoa por causa
da sua cor
• É a forma de preconceito mais estudada.
• Muitas vezes estas distinções têm mais a ver com distinções étnicas que sociais.
Grupo étnico Ö Grupo de pessoas que têm a mesma cultura e pertencem a um grupo distinto
Etnocentrismo Ö Quando as pessoas acreditam que o seu grupo étnico é superior aos outros
• O único tipo de preconceito que rivaliza com o racismo, é o sexismo

SEXISMO Ö Preconceito e discriminação com base no género


• A investigação sobre sexismo é importante pelo menos por dois motivos:
16
Ensina-nos algo sobre os mecanismos psicossociais associados ao preconceito geral
Trata-se de uma forma de preconceito que pode afectar um em cada dois seres humanos
Face-ismo Ö Diferença de ênfase que a nossa cultura coloca na vida mental (homens) / aparência
física (mulheres)

HETEROSSEXISMO Ö Preconceito e discriminação contra os homossexuais


IDADISMO Ö Preconceito e discriminação contra as pessoas idosas

4 - A FACE MUTANTE DO PRECONCEITO

• Os actos abertamente racistas são relativamente raros.


• Nas sociedades actuais, o racismo é camuflado, sendo mais subtilmente expressado
• Teoria da ambivalência-amplificação Ö Sentimentos positivos, misturados com negativos,
alterando-se constantemente de acordo com as circunstâncias
• Racismo regressivo Ö atitude positiva com tendência a negativa em situações de stress
• Racismo aversivo Ö Esconder o racismo a eles próprios e aos outros
• Existem várias formas de detectar o racismo numa investigação:
Bogus pipelineÖ Diz que lê os sentimentos por forma a captar os sentimentos
realistas e verdadeiros (sem que os individuos se apercebam)
Tempo de reacçãoÖ Mecanismo de pronta-resposta

5 - GÉNESE DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO

• A compreensão da génese do preconceito e da discriminação é necessária para se poderem


utilizar técnicas que permitam erradicá-los.

ABORDAGENS HISTÓRICAS Ö Analisar o contexto histórico dos conflitos


E.U.A. Ö escravatura
África do Sul Ö Apartheid
Irlanda do Norte Ö Sectarismo religioso
Profissões de homens e não de mulheres (camionista)
• Factores económicos.
O preconceito da raça pode ser uma máscara para intenções de exploração

ABORDAGENS SÓCIO-CULTURAIS
• Aumento de urbanização
• Aumento da densidade populacional
• Mobilidade de certos grupos
• Competição para empregos entre membros de diversos grupos
• Mudanças no papel e função da família.

ABORDAGENS SITUACIONAIS
• Conformismo
• O preconceito nas crianças forma-se através da modelagem e do reforço directo
• Depende da região demográfica

ABORDAGENS PSICODINÂMICAS Ö Preconceito resulta dos próprios conflitos e desadaptações


da pessoa.
• Segundo estas teorias, para se modificar o preconceito e a discriminação devemos focalizar-nos
na pessoa com preconceito.
• Existem dois tipos de explicação:
O preconceito é visto como enraizado na condição humana (semelhanças)
Resulta de um tipo de personalidade (diferenças)
Ambas as explicações partilham todavia uma característica comum: externalização:
9 Um indivíduo trata com os seus problemas e conflitos pela descarga ou
projecção noutros indivíduos ou grupos de pessoas Ö as pessoas acreditam
que a causa lhes é externa
• Frustração e agressão
John Dollard, Leonard Dood e seus colaboradores
17
9 O preconceito é uma forma de agressão, e que resulta da frustração:
ƒ Hipótese do bode expiatório (Ex.: imigrantes serem a causa de desemprego
e insegurança no país)
Ao avaliarem as teorias de frustração, Feshbach e Singer (1957) distinguem:
9 Ameaças partilhadas Ö Possibilidade de haver um ciclone tem como efeito
juntar as pessoas (diminui o preconceito contra os negros)
9 Ameaças pessoais Ö A perca de um emprego, tem um efeito de escalada no
preconceito
• Diferenças de personalidade
Adorno e seus colaboradores:
9 Escala Anti-semitismo Ö Medir as atitudes em relação aos judeus Ö
Etnocentrismo
9 Escala F ("F" como facista) Ö Mede as tendências anti-democráticas dos
sujeitos Ö Autoritarismo
Ô Em função dos dados recolhidos, os sujeitos foram repartidos em duas
categorias correspondentes a dois tipos de personalidade:
ƒ A autoridade autoritária Ö Indivíduo que recalcou as suas
tendências individuais
™ Mostra uma intolerância rígida em relação aos outros
™ Admira o poder e faz prova de uma dominação excessiva
sobre os fracos e de uma submissão exagerada aos fortes
™ Rokeach chamou a atenção para a sub estimação do
autoritarismo. São pessoas com "mentes fechadas". Elaborou
uma escala de dogmatismo - medir o autoritarismo em si.
™ Hyman e Sheatsley Ö A personalidade autoritária é mais
susceptivel de existir entre as pessoas com menor nível de
instrução e com estatuto socio-económico mais baixo
ƒ A anti-autoritária

ABORDAGENS COGNITIVAS Ö Categorização Social / Poder dos estereótipos / Atribuição /


Crenças Sociais
• Aspectos de como processamos informação podem estar na origem de preconceitos.
• Quatro espécies de informação podem ser utilizadas para desenvolver o preconceito:
Categorização social (CS) Ö Divisão do grupo em 2 categorias: “nós” (endo) e “eles”
(Exo)
9 A categorização social acentua diferenças entre grupos e semelhanças dentro de
grupos.
9 A CS desempenha um papel na génese do preconceito
9 O paradigma do "grupo mínimo" mostra que a categorização social é só por si
suficiente para suscitar discriminação social.
O poder dos estereótipos Ö Conj, de crenças que se associam a grupos sociais
9 Estereótipo
Ô "imagens na cabeça" que temos acerca de membros de um grupo.
9 Um dos objectivos fundamentais da Psicologia Social é a descoberta do modo
como as pessoas compreendem e reagem às outras no seu meio.
9 Entre as explicações avançadas para o desenvolvimento dos estereótipos refira-se a
Homogeneidade do exogrupo:
ƒ Tendência para assumir que há maior semelhança entre membros
dentro de Exogrupo que dentro do endogrupo
9 Tem sido sugerido que muitos casos os estereótipos surgem e mantêm-se
mediante a operação de Correlação ilusória:
ƒ Percepcionar uma relação que não existe realmente, entre pertença a
um grupo e o facto de possuir certos traços inusitados.
9 Outro fenómeno que favorece a estabilidade cognitiva dos estereótipos consiste
na Profecia de auto- realização:
ƒ Somos simpáticos porque acreditamos que determinada pessoa é simpática, o
que faz com que essa pessoa aja, efectivamente, de forma simpática Ö Crer é
ver
Atribuição Ö Processo de explicar o comportamento
18
9 Tentativas de explicação de acontecimentos surpreendentes ou negativos
podem ser distorcidos pelo pensamento estereotipado.
9 Duas consequências importantes são:
Ô Rotulagem enviesada Ö O mesmo comportamento é favorável para o
endogrupo, e desfavorável para o exogrupo.
Ô Erro irrevogável da atribuição Ö Acção negativa é natural, mas a
positiva não o é (“Lá nasceram assim”)
ƒ Todavia quando vêem a executar uma acção positiva, ela não é
atribuída a disposições internas
Crenças sociais Ö São uma fonte importante de atitudes preconceituosas.
9 Lerner (1980)
Ô Notou que muitas pessoas acreditam no mundo justo e denominou este
fenómeno de crença num mundo justo Ö Quem sofre merece o seu
sofrimento

Quadro integrador de teorias


• Duckitt (1992) Ö quatro causas de preconceito:
Processos psicológicos universais (propensão humana para o preconceito)
Dinâmicas sociais e intergrupais
Os mecanismos de transmissão
Dimensões de diferenças individuais

6 - CONSEQUÊNCIAS DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO

Reacções das vítimas de preconceito


• Allport
Identificou mais de 15 consequências possíveis do facto de ser vítima de preconceito.
Dentre delas:
9 Afastamento e passividade
9 Militância
9 Agressão contra o exogrupo e auto-aversão
Sugeriu que as reacções podem ser circunscritas a duas categorias:
9 Defesas intra punitivas Ö Membros hostis ao seu próprio grupo
9 Defesas extra punitivas Ö Membros manifestarão lealdade em relação ao seu
próprio grupo e agressividade em relação a outros grupos
• Taylor e McKirnon (1984)
Traçam modelo de 5 estádios, por forma a mostrar como os grupos tratam com o
preconceito e uma posição desvantajosa na sociedade:
9 Relações grupais claramente estratificadas
9 Emergência de uma ideologia individualista
9 Mobilidade social individual
9 Tomadas de consciência
9 Relações intergrupais competitivas
• Auto complacência
Os indivíduos atribuem o seu sucesso a eles próprios e os seus fracassos a factores
externos.
• A discriminação aumenta o sentimento de pertença ao grupo, podendo, dessa forma, existir
uma superioridade da minoria
• A discriminação é pois percepcionada como ameaçadora e em certas circunstâncias as
pessoas discriminadas podem agir contra o grupo dominante (Negros participantes em motins)

Consequências de racismo sobre racista


• O racismo tem efeitos sobre todas as pessoas, sejam elas as vítimas, as perpetradoras ou muito
simplesmente os seus observadores.
• Karp (1981)
Vê o racismo como um mecanismo de defesa para lidar com feridas do passado (perspectiva
psicodinâmica)

19
7 - REDUÇÃO DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO

Tomada de consciência

Tomada de consciência da pertença a um grupo minoritário


• Técnicas de tomadas de consciência são cada vez mais utilizadas por grupos de mulheres,
negros, idosos e migrantes.
• Mednick (1975)
Descreve o processo de tomada de consciência pela insatisfação que os indivíduos sentem
da sua condição (Ex.: tarefas domésticas podem tornar as mulheres infelizes por serem
alienantes)
A mulher apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro de um grupo e este
pode então dirigir uma acção contra o sistema

Tomada de consciência de distinções


• A maior parte das vezes processamos a informação de forma automática e passiva, sem que
façamos as nossas próprias formulações em relação a algo ou alguém

O assimilador cultural
• É uma técnica de sensibilização aos julgamentos correctos a respeito das expectativas de um
grupo ou cultura.
• Permite considerar o mundo social em consonância com o ponto de vista de uma outra pessoa.
• Este tipo de treino cognitivo pode reduzir o preconceito e o pensamento estereotipado

Hipótese de contacto
• Há razões para se pensar que o tipo de contacto intergrupal desempenha um papel
importante para que se efectue com sucesso.
• Vários factores devem ser tomados em consideração:
Igualdade de estatuto social (Ex.: entre homens e mulheres)
Contacto intimo (Ex.: autóctone a trabalhar com imigrante)
Objectivos comuns
Normas sociais que favoreçam a igualdade

Contacto vicariante através dos meios de comunicação social


• Os meios de comunicação de massa têm, por um lado, intencionalmente, outras vezes de modo
inadvertido, mantido estereótipos e preconceitos.
• Como é que se podem mudar atitudes negativas em relação a minorias que são alvo de estereótipos?
Allport (1954)
9 "O preconceito pode ser reduzido pelo contacto com estatuto igual entre grupos
da maioria e da minoria na prossecução de objectivos comuns".
DesForges
9 Ele a sua equipa sugerem que fornecer uma estrutura na situação de contacto
ajuda a reduzir o efeito de expectativas cognitivas e de esquemas cognitivos
preexistentes
Ô Estádio 1 Ö Expectativa
ƒ As pessoas que sabem que estão para interagir com um membros de
um grupo estereotipado, esperam interagir com alguém semelhante
ao membro típico
Ô Estádio 2 Ö Adaptação
ƒ Contacto cooperativo com estatuto igual com um membro de um
grupo estereotipado negativamente, suscita uma impressão mais
positiva dessa pessoa que a esperada
Ô Estádio 3 Ö Generalização
ƒ A impressão positiva de modo inesperado desse membro do grupo
específico, generaliza-se na um retrato mais npositivo do membro
típico e a uma atitude mais positiva.

20

Você também pode gostar