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Psicologia Social

Apontamentos de: Célia Silva


E-mail: celiamrgsilva@gmail.com
Data: 2010/2011

Bibliografia: Neto, Félix (1998). Psicologia Social I. Lisboa: Universidade Aberta.

Nota:

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I - O DOMÍNIO DA PSICOLOGIA SOCIAL

• Objectivo do questionamento científico


Escolher as vias alternativas para explicar o comportamento.

2 - O QUE É A PSICOLOGIA SOCIAL?

• Estuda as pessoas enquanto animais sociais


• Dificuldades na definição:
• Diversidade do domínio
• Rápida taxa de mudança
• Allport
• "compreender e explicar como os pensamentos, sentimentos e comportamentos dos
indivíduos são influenciados pela presença actual, imaginada ou implicada de outros "
• Entradas
São as presenças actuais (Joaquim e Carla encontram-se e ela entorna a bebida),
imaginadas (Carla imagina, mais tarde, a presença de Joaquim) ou implicadas (Joaquim,
não presente, deixa ficar na sala o caderno de apontamentos) de outras pessoas
• Saídas
São os pensamentos (“Ele pensa que eu sou burra”), sentimentos (embaraço, tristeza) e
comportamentos (pedir desculpa) do individuo.
• A abordagem cientifica procura descobrir relações causa-efeito, indeferindo-as da observação
objectiva e da experimentação.

Tópicos da Psicologia Social


• A Psicologia Social cobre um vasto domínio existindo muitos tópicos que são abarcados por ela.
• O psicólogos sociais abordam uma ampla gama de comportamentos humanos, mas os seus focos de
interesse na investigação limitam-se a pontos restritos, que são divididos em três grupos:
Fisiológico Ö pressão arterial, tensão, adrenalina
Cognitivo-atitudinal Ö impacto valores dos pais nos filhos, intenções de voto, etc
Realização Ö resolução de problemas em grupo, etc
• Os psicólogos sociais têm-se ocupado tradicionalmente das atitudes das pessoas, das opiniões, das
crenças, dos valores, dos sentimentos, das representações sociais.

Relações com outros campos


• Mantém uma relação próxima com vários campos, em especial com a Sociologia e a Psicologia.
• Moscovici (1984)
Diz que a Psicologia Social distingue-se da Sociologia e da Psicologia pela mesma
característica:
9 A Sociologia e a Psicologia põem em relação um sujeito (individual ou colectivo,
segundo o caso) e um objecto (meio, estimulo)
9 Na Psicologia Social a relação dual (sujeito-objecto) é substituida por uma relação
ternária:
™ Sujeito individual (ego)
™ Sujeito social (alter)
™ Objectivo (físico, social, imaginário ou real)
É introduzida uma mediação constante entre o sujeito e o objecto que se traduz em
modificações do pensamento e do comportamento de cada um.
A ênfase no social distingue a psicologia Social da Psicologia e a ênfase no individual
distingue-a da Sociologia.
• A Psicologia é o estudo científico do indivíduo e do comportamento individual, mas o
comportamento embora possa ser social, não o é necessariamente.
Os psicólogos abordam o indivíduo fora do contexto social ocupando-se de vários
processos internos como seja percepção, aprendizagem, memória, inteligência, motivação
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e emoção.
• A Sociologia é o estudo científico da sociedade humana.
Os sociólogos analisam o comportamento humano num contexto mais amplo.
Abordam tópicos tais como instituições sociais (família, religião, politica), estratificação
dentro da sociedade (classes sociais, raça, e etnicidade, papeis sexuais), processos sociais
básicos (socialização, desvio, controlo social) e a estrutura de unidades sociais (grupos,
redes, organizações formais, burocracias).
Dão mais importância às normas que gerem o comportamento, resultado de pressões
externas.
• A Psicologia Social estabelece a ponte entre a Psicologia e a Sociologia.
Os psicólogos sociais para explicar o comportamento recorrem a factores individuais e
sociológicos.
Para eles, se os processos intrapsiquicos desempenham um papel determinante no
comportamento de uma pessoa, o contexto social desse comportamento fornece-lhes os
estímulos sociais, motivos e objectivos.
O comportamento social resulta de diferentes causas:
9 Comportamento é característico das outras pessoas
9 A cognição social (atitudes e pensamentos perante as pessoas que nos rodeiam)
9 Variáveis ecológicas
9 Contexto sócio-cultural em que ocorre o comportamento social
9 Aspectos da nossa natureza biológica relevantes para o comportamento social

Níveis de analise
• Podemos encontrar várias psicologias sociais diferentes e múltiplas explicações para as
experiências humanas e as acções. Encontram-se duas variantes principais em psicologia Social,
onde ambas têm áreas comuns, mas diferem na focalização central e nos métodos de
investigação::
Psicologia Social Sociológica (PSS) Ö a focalização central é no grupo ou na sociedade
9 Os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a
análise de variáveis societais, tais como estatuto social, papéis sociais e normas
sociais
9 O objectivo principal da investigação é a descrição do comportamento
9 Inquéritos e observação participante são os principais métodos de investigação
9 Principais investigadores: Lewin, Festinger, Schachter, Asch, Campbell e Allport
Psicologia Social Psicológica (PSP) Ö a focalização central é no indivíduo
9 Os investigadores tentam compreender o comportamento social mediante a análise
de estímulos imediatos, estados psicológicos e traços de personalidade.
9 O objectivo principal da investigação é a predição do comportamento
9 A experimentação é o principal método de investigação
9 Principais investigadores: Mead, Goffman, French, Homans e Bales
• Existem várias razões para se proceder ao estudo das 2 psicologias sociais:
As duas psicologias complementam-se:
9 Visscher " Tenha-se cuidado em que estas duas abordagens, a do psicólogo e a
do sociólogo desenvolvam investigações complementares num plano estritamente
positivo". Cada uma tem os seus pontos fortes e fracos.
Em ultima instancia, as duas abordagens convergem:
9 Todas as teorias da psicologia social tentam compreender os indivíduos no seu
contexto social. Todas reconhecem implícita ou explicitamente, a influência
recíproca do indivíduo e da sociedade na construção social da realidade
9 Cada vez há uma maior interacção dos assuntos e dos métodos das duas psicologias
sociais.
A atenção ao mundo subjectivo do individuo é a única contribuição da psicologia social
que é partilhada pela PSS e pela PSP (CartWight 1979)
9 Ambas as perspectivas acentuam o meio percepcionado pelo individuo e não tanto
o meio actual.
9 Ambas as psicologias sociais se focalizam nas interpretações cognitivas da
realidade e nos comportamentos subsequentes com base nestas interpretações.
• Sendo o comportamento variado e as suas causas diversas, não é de admirar que em psicologia
social se recorra a diferentes níveis de análises:
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Doise (1982) - sintetizou essas explicações distinguindo quatro níveis:
1º É abordado o estudo dos processos "psicológicos" ou intra-individuais"que
deveriam dar conta do modo como o individuo organiza a sua experiência do
mundo social (ex. Um individuo ter uma opinião global sobre alguém, a partir da
integração de diferentes traços de personalidade que lhe são apresentados)
2º Tem em conta a dinâmica de processos "inter-individuais" e "intra-individuais que
ocorrem entre indivíduos (ex: o estudo da atribuição de intenções a outrem)
3º Faz intervir diferenças de "posições" ou "de estatutos sociais" para dar conta de
modulações de interacções situacionais (ex: quando uma argumentação convence
mais facilmente um individuo porque quem apresenta tem um estatuto social mais
elevado)
4º Mostra como determinadas "crenças ideológicas universalistas" induzem
representações e condutas diferenciadoras, ou até mesmo discriminatórias.
Lerner (1980) - os seus trabalhos permitem ilustrar o 4º nível
9 Segundo ele as pessoas têm uma profunda convicção de que o "mundo é justo" e o
que acontece às pessoas que sofrem é merecido.
• Se os níveis de análise podem ser diversos, os psicólogos sociais estão, no entanto, unidos na
crença de que os aspectos sociais do comportamento humano podem ser compreendidos através
do estudo sistemático.
• Este conhecimento pode permitir predizer o comportamento social e, talvez melhorá-lo,
contribuindo para uma qualidade de vida mais satisfatória dos seus semelhantes.

3 – ESBOÇO HISTÓRICO DA PSICOLOGIA SOCIAL

• Ebbinghaus (1908)
Escreve que a "Psicologia tem um longo passado mas só tem uma breve história".
• Platão
aproximava o indivíduo e a sociedade
• Rosseau
Analisou a influência das instituições sociais sobre a psicologia dos indivíduos, não pode
ainda dizer-se que estes autores sejam psicólogos sociais.

O longo passado do pensamento sócio-psicológico


• A psicologia social começou a esboçar-se enquanto centro de interesse científico em finais do
sec.XIX e nos alvores do sec. XX
• Allport (1985)
A história da filosofia não pode ser esquecida na medida em que há um século todos os
psicólogos sociais eram filósofos e muitos filósofos eram psicólogos sociais.
• Os filósofos gregos foram provavelmente os primeiros teóricos em Psicologia Social (Platão e
Aristóteles), em particular, focalizaram a atenção do homem ocidental na sua natureza social.
• Platão (427-347 a.c.)
Expõe na Republica que os Estados se formam porque o individuo não é auto- suficiente
e necessita da ajuda de muitos outros. Se os homens formam grupos sociais é porque
precisam deles.
O equilíbrio para uma sociedade depende do lugar que ela saiba dar a três actividades:
9 Artesanal
9 Guerreira
9 Magistratura
Considera que o espírito humano tem três componentes:
9 Comportamental Ö Abdómen
9 Afectiva Ö Tórax
9 Cognitivo Ö Cabeça
• Aristóteles (384-322 a.c.)
Na Politica, vê as pessoas como "animais políticos", gregários por instinto.
Pensa que a interacção social é necessário para o desenvolvimento normal dos seres
humanos.
• Quer Aristóteles quer Platão acreditam que os indivíduos diferem nas suas habilidades, uns têm
disposições inatas para a liderança e outros para serem seguidores.
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• Hobbes (1588-1679)
Os homens não têm tendência a amar-se, mas o seu estado natural é a guerra contra todos.
A tão célebre frase "homo homini lupus" (“o Homem é o lobo do Homem”) condensa
bem esta premissa.
Desenvolveu uma análise dos processos interpsicológicos que levam o homem à
socialização: paixão de ambição, paixão de denominação, sentimento de insegurança.
Ele procura nas bases do comportamento, as bases da sociedade.
• Rousseau (1712-1778)
As condições sociais transformam verdadeiramente o homem.
Stoetzel (1963) diz que Rousseau procurou analisar a influência das instituições sobre
psicologia dos indivíduos.
No "discurso sobre as ciências e as artes" (1750), defendia que as ciências e as artes
corromperam o homem, como toda a civilização.
• Bentham (1748-1832)
Defendeu que todo o comportamento humano é motivado pela procura de prazer,
principio conhecido como hedonismo (prazer com bem supremo, evita o que é
desagradável e procura apenas o que é agradável).
• Fourier (1792-1837)
Socialista utópico, a sociedade ideal, o falanstério assentava na "paixões humanas".
Essa sociedade ideal constrói-se a partir de uma boa utilização das paixões humanas e
não da sua correcção ou repressão.
" É necessário, pois, reestruturar a sociedade, a partir de m conhecimento que
chamaríamos hoje psico-social, e de que Fourier teve claramente a ideia, para trazer a
harmonia psicológica" (Stoetzel, 1963).
• Karl Marx (1818-1883)
O comportamento social é determinado pelas condições económicas.
Segundo esta perspectiva, para mudar o modo das pessoas pensarem, sentirem e agirem é
fundamental mudar antes as instituições económicas.
• Lazarus (1824-1903) e Steinthal (1823-1899)
Fundadores em 1860 de uma Revista de Psicologia dos Povos.
Para eles, o "povo" era uma realidade espiritual, mas colectiva, cujo espírito não é um mero
produto, pensando descobrir os processos mentais dos chamados povos primitivos através
do estudo dos mitos, línguas, religião e artes.

As origens da Psicologia Social


• É difícil situar o nascimento da Psicologia Social, pois esta disciplina vai aparecer como resultado
de uma evolução progressiva.
• O húmus propício à eclosão de uma abordagem específica da Psicologia Social, encontramo-lo na
confluência de duas correntes:
Francesa
9 Comte (1798-1857)
Ô Inventou o termo "sociologia" e fez muito para situar as ciências sociais na
família das ciências, foi o 1º autor a ter concebido a ideia de uma Psicologia
Social.
Ô Duas das suas contribuições são geralmente conhecidas:
1º "Lei dos três estádios"
ƒ Estádio teológico - Acontecimentos são explicados e personificados
pelos Deuses.
ƒ Estádio metafísico - Acontecimentos são explicados por poderes
impessoais e pelas leis da ciência.
ƒ Estádio positivo - Acontecimentos são explicados pela sua
invariabilidade e constância.
2º É a classificação das ciências fundamentais abstractas.
Ô Faz a distinção entre ciências abstractas que tratam de fenómenos irredutíveis,
de acontecimentos fundamentais e primários, e ciências concretas que tratam
de fenómenos compósitos, de "seres" concretos e das aplicações abstractas.
Ô Inventou a "Moral Positiva", pois necessitava de uma ciência que tratasse dos
indivíduos e do modo como os indivíduos combinam influências biológicas e
societais.
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Ô Esta "Moral Positiva" considera, por um lado, os fundamentos biológicos
do indivíduo segundo o enfoque da moderna psicofisiologia e, por outro
lado, aborda, o indivíduo num contexto cultural social, o que constitui a
perspectiva da psicologia social actual (Allport 1985).
9 Gabriel Tarde (1843-1904) e a Gustave de Bon (1841-1931)
Ô Deve-se um real desenvolvimento da Psicologia Social
9 Émile Durkheim (1855-1917)
Ô Discípulo de Comte, defende a posição deste último, segundo a qual o social
é rigorosamente irredutível ao individual.
9 Esta posição entra em choque com a de Tarde que alicerça em dois fenómenos
psicológicos:
Ô Invenção - é fruto de individualidades poderosas que asseguram o progresso
Ô Imitação - assegura a unidade e a estabilidade sociais.
• Uma sociedade pode definir-se como "um grupo de homens que se imitam"
9 Tarde
Ô O papel dos meios de comunicação de massa na formação da opinião pública
nos processos de influência da comunicação.
9 LeBon
Ô É autor de numerosas obras de psicologia e de filosofia sociais.
Ô Segundo este autor a multidão modifica o indivíduo, pois dota-o de uma
"alma colectiva", em que o indivíduo reage de maneira diferente quando
está numa situação de multidão.
Ô Os indivíduos, em multidão, adoptam um raciocínio rudimentar
qualitativamente inferior aos indivíduos que a compõem.
Ô Estes comportamentos são explicados por LeBon por uma causa interna,
o contágio mental, e uma externa, a existência de líderes.
Ô A obra deste autor é julgada de um modo ambivalente: brilhante e
superficial.
9 Rengelman
Ô Levantou a seguinte questão:
ƒ " Como é que a presença de outras pessoas influencia a realização de
um individuo?"
ƒ Descobriu que, em comparação com o que as outras pessoas faziam
por elas mesmas, a realização individual diminuía quando
trabalhavam conjuntamente em tarefas simples como o puxar uma
corda ou empurrar uma carroça.
ƒ A investigação de Rengelman está na origem dos modernos estudos
de Psicologia Social sobre preguiça social.
Anglo-saxónica
9 Triplett (1898)
Ô Publicou a experiência sobre os efeitos da competição sobre o
desempenho humano. (ex: observou que um ciclista pedala mais depressa
quando em conjunto, do que sozinho)
9 Edward Ross (1866-1951)
Ô Publicou em 1901 uma obra sobre "controlo social" em que considera a
Psicologia Social como o estudo das inter relações psíquicas entre o
homem e o meio que o rodeia.
9 William McDougall (1908)
Ô Em Inglaterra, publica uma obra "Introdução à Psicologia Social".
Ô Baseou-se amplamente no ponto de vista que o comportamento social
resulta de um pequeno número de tendências inatas ou instintos.
9 Allport
Ô Considera que o comportamento social é influenciado por muitos factores
em que se incluem a presença dos outros e as suas acções.
Ô Faz a distinção entre “facilitação social” (influências dos grupos no
indivíduo) e “rivalidade” (desejo de ganhar)

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Evolução da Psicologia Social
• Os anos que se seguiram à publicação do Texto de F. Allport foram um período de crescimento
rápido para a Psicologia Social.
• O ideal de transformar a Psicologia Social numa disciplina empírica (todo o conhecimento
humano deriva, directa ou indirectamente, da experiência) já tinha sido aceite.
• Em finais dos anos 20, começo dos anos 30, desenvolveram-se técnicas de investigação e
expande-se o trabalho efectuado.
• Nos anos 30 surge a publicação de trabalhos de três figuras de 1ª fila, na história da Psicologia
social.
Levy Moreno (1892-1974)
9 Desenvolveu o sistema sociométrico para analisar as interacções individuo-grupo.
Muzafer Sherif (1906-1990)
9 O 1º programa de investigação com cariz experimental
Kurt Lewin (1890-1947)
9 Formulou a "Teoria do campo":
ƒ O comportamento humano deve ser considerado como uma função das
características do individuo em interacção com o seu meio.
• Na resposta à questão sobre o que é que determina o comportamento humano:
Freud
9 Acentuou os processos psicológicos internos ao indivíduo.
Marx
9 Sublinhou as forças externas.
Lewin
9 Optou por ambos os factores: internos e externos, que influenciam o comportamento
humano.
9 Esta abordagem combina a psicologia da personalidade com a psicologia social,
que tradicionalmente têm sublinhado respectivamente diferenças entre indivíduos e
diferenças entre situações.
• Em cada década do sec. XX os interesses da investigação foram-se modificando e ampliando:
Até aos anos 30
9 o interesse dos investigadores está centrado, na medida das atitudes.
Anos 40 a 50
9 Presta-se atenção à influência dos grupos e da pertença aos grupos sobre o
comportamento individual e abordam-se as relações entre vários traços da
personalidade e comportamento social.
9 Festinger propõe a Teoria da Dissonância Cognitiva (tentativa de alterar
pensamentos/comportamentos, quando os mesmos são insatisfatórios)
9 Fritz Heiner Ö Psicologia “ingénua” (atribuir sentido à vida tentando controlar o
meio)
Anos 60
9 Os psicólogos sociais fizeram incidir a sua atenção em áreas de investigação. (ex:
porque é que obedecemos à autoridade, como nos atraímos e fazemos amigos....)
9 No Canadá dedicaram-se ao estudo de aspectos psico-sociais do bilinguismo (uso de
duas línguas).
9 Continuou a investigação em áreas de interesse social (ex: preconceitos e mudanças
de atitude).
9 A Psicologia Social europeia colocou uma maior ênfase que a norte-americana - no
estudo das relações interpessoais e na investigação de tópicos.
9 Surge a crise de confiança levando psicólogos sociais a enveredarem por debates de
extrema vivacidade.
Anos 70
9 Foram postos em cena novos tópicos (ex: papeis sexuais e descriminação sexual,
psicologia ambiental)
Anos 70 e 80 - duas tendências:
9 Influência crescente da perspectiva cognitiva
9 A ênfase na vertente aplicada.
Anos 90
9 Tem-se também verificado um crescente interesse pela investigação aplicada.
9 Para além da influência da perspectiva cognitiva e da vertente aplicada, duas outras
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perspectivas vão ocupar mais os psicólogos sociais:
Ô O estudo do papel do afecto,
Ô E uma maior sensibilização à variação cultural.
Ô Os psicólogos sociais estão a tornar-se mais sensíveis ao impacto da cultura no
comportamento social

4 - A PSICOLOGIA SOCIAL COMO CIÊNCIA

• Os psicólogos sociais querem compreender as pessoas e ajudá-las a remediar problemas humanos.


• Os psicólogos sociais diferenciam-se na medida em que enveredam por uma abordagem cientifica
para os seus assuntos.
• Ciência
Um corpo organizado de conhecimentos que advêm da observação objectiva e de testagem
sistemática.
Refere-se a todas as áreas que podem ser estudadas (sistemática e objectivamente) e não a
um assunto particular.
• Ciências naturais
Tentam explicar observações acerca da natureza e do mundo físico (Biologia, botânica,
física, química e a zoologia )
• Ciências comportamentais
Abordam observações acerca de actividades, como sejam operações mentais e respostas
motoras de animais e de seres humanos (antropologia, etologia, psicologia e a sociologia)
• Ciências sociais (expressão)
Refere-se às ciências comportamentais e disciplinas afins (economia, ciência politica) que
abordam actividades das pessoas inseridas em comunidades humanas.
• Psicologia Social
Investiga as acções de indivíduos e de indivíduos dentro de grupos, sendo assim uma
ciência comportamental e social.
• "Teoria"
É uma descrição de relações entre símbolos que representam a realidade
• Atitude
É um símbolo abstracto utilizado para representar a realidade de que indivíduos têm
preferência por certos objectos específicos:
9 Não é real
9 Apenas representa coisas reais.
• Construto
Quando um símbolo abstracto numa teoria é definido em termos de acontecimentos
observáveis.

Investigação cientifica
• A Psicologia Social utiliza o método científico para estudar o comportamento social.
• Método científico
Implica observação sistemática, desenvolvimento de teorias que explicam essas
observações, uso de teorias que engendram predições acerca de observações futuras e
revisão de teorias quando as predições não estão certas.
A ciência exige explicações.
São precisamente as teorias que nos ajudam a explicar o que se observa.
Uma teoria consiste na formação de regras gerais tendo por alicerce observações
específicas efectuadas.
Uma teoria deve ser capaz de fazer predições acerca de fenómenos com recurso à lógica
dedutiva Ö gera hipóteses susceptíveis de serem testadas
• Indução lógica
É a passagem de observações específicas a regras gerais ou teorias.
• Karl Popper
Mostrou que uma teoria cientifica não pode logicamente ser provada como verdadeira,
mas pode ser refutada (contradizer com argumentos).
Defende que para uma teoria ser científica deve, em princípio, ser capaz de refutação
empírica
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O valor de uma teoria depende de um certo número de qualidades:
9 Deverá estar em concordância com dados conhecidos, incorporando o que se
encontrou acerca do comportamento humano
9 Compreensiva, tentando compreender e explicar um amplo leque de comportamentos.
9 É parcimoniosa, não contendo mais que os elementos necessários para explicar o
assunto em questão.
9 É de se testar, fornecendo meios mediante os quais hipóteses especificas e predições
podem ser suscitadas e subsequentemente testadas por investigação.
9 É o seu valor heurístico (descobrir a verdade por si próprio). Estimula o pensamento e
a investigação e desafia outras pessoas a desenvolverem e testarem teorias opostas.
9 A utilidade ou valor aplicado de uma teoria é um atributo importante.
9 As teorias podem também servir para sensibilizar/identificar os factores susceptíveis
de influenciar a vida quotidiana e para prestar atenção às consequências das suas
acções.
9 Os PS tentam elaborar teorias que aumentem na pessoa a tomada de consciência de
deficiências na vida quotidiana e permitam guiá-las para opções mais satisfatórias.
9 Teoria GENERATIVA (Gergen 1978)
Ô Dá à pessoa a possibilidade de se interrogarem sobre o que acreditavam antes
e permite optar por novas relações em vez de conservarem crenças dogmáticas
(aceites como incontestáveis).

Objectivos científicos da Psicologia Social


• Psicólogos sociais tentam associar as teorias com trabalhos empíricos
• Os objectivos centrais da investigação em Psicologia Social, são quatro:
Descrição
9 Emana naturalmente da colecção sistemática de factos e de observações acerca de
qualquer fenómeno.
Explicação
9 Pressupõe a identificação das relações causais que produzem comportamentos
particulares.
Predição
9 Capacidade de fazer predições certas
Controlo
9 Quando ou se ocorrem fenómenos comportamentais
• A investigação pode fornecer informação fidedigna sobre a sociedade, explicá-la, permitir
predições e controlar a ocorrência de fenómenos comportamentais.

O processo de investigação em Psicologia Social


• Os psicólogos sociais para estudarem de modo eficaz o comportamento social, devem planear
meticulosamente e executar os seus projectos de investigação.
• Este processo cientifico pode sintetizar-se em sete etapas:
1. Seleccionar um tópico de investigação
9 Necessário desenvolver uma ideia acerca do comportamento que valha a pena
explorar.
2. Busca da documentação de investigação
9 Que permite delimitar os estudos anteriores efectuados sobre o tópico.
3. Formulação de hipóteses
9 São expectativas específicas sobre a natureza das coisas decorrentes de uma teoria Ù
implicações lógicas d teoria
4. Escolha de um método de investigação
9 Que permitirá testar as hipóteses Ö método correlacional (natural) e o experimental
(controlado)
5. Recolha de dados - existem três técnicas básicas:
9 Auto-avaliações Ö permite medir emoções, percepções (estado subjectivo)
9 Observações directas
9 Informação de arquivo.
6. Efectuar análise de dados
9 As 2 espécies básicas de estatísticas utilizadas pelos psicólogos sociais são as
descritivas e inferenciais.
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7. Apresentar o relatório de resultados
9 Efectua-se publicando artigos em revistas cientificas, fazendo apresentações em
congressos, ou informando pessoalmente outros investigadores na disciplina.

Meta-análise
• Um dos problemas com que se defrontam muitas vezes os investigadores é que o processo de
investigação conduz frequentemente a resultados contraditórios de um estudo para o outro.
• Meta-análise
É uma técnica estatística que permite aos investigadores combinar informação de muitos
estudos empíricos sobre um tópico e avaliar objectivamente a fidelidade e o tamanho
global do efeito (Rosenthal -1984)
São particularmente úteis no estudo das diferenças sexuais no comportamento social

5– TEORIAS EM PSICOLOGIA SOCIAL

• Os psicólogos sociais desenvolveram muitas ideias diferentes sobre a vida social.


• Nenhuma teoria permite explicar de modo adequado todos os fenómenos sociais.
• Entre as principais posições teóricas amplas em Psicologia Social figuram as teorias:
Aprendizagem
9 Têm as suas origens nos princípios básicos do behaviorismo que salientou o
condicionamento clássico e a aprendizagem através de reforço ou recompensa
9 Durante muitos anos, as teorias da aprendizagem foram a orientação dominante em
Psicologia
9 O seu núcleo é a ideia de que o comportamento de uma pessoa é determinado pela
aprendizagem anterior
9 Há três mecanismos gerais mediante ao quais as pessoas aprendem coisas novas:
Ô Associação ou condicionamento clássico Ö aprendizagem reflexiva
Ô Reforço Ö recompensa/castigo
Ô Aprendizagem observacional ou imitação Ö rápida assimilação/ausência de
reforço
9 Contribuições
Ô As teorias da aprendizagem têm-se utilizado para explicar muitos fenómenos
sócio-psicológicos, como a atracção interpessoal, a agressão, o altruísmo, o
preconceito, a formação de atitudes, a conformidade e a obediência.
Cognitivas
9 Têm as suas origens na psicologia de Gestalt.
9 Focalizam-se nos processos cognitivos que estão subjacentes às nossas percepções
e julgamentos acerca de nós próprios e dos outros em situações sociais
9 A teoria da aprendizagem é criticada por existir uma "caixa negra" Ö é salientando
o que entra na caixa (estimulo) e o que sai (resposta), mas presta pouca atenção ao
que se passa dentro da caixa.
9 Os elementos do interior - emoções e cognições - são a principal preocupação das
teorias cognitivas.
9 A ideia principal das teorias cognitivas para a Psicologia social é que o
comportamento de uma pessoa depende do modo como percepciona a situação
social.
9 Kohler e Koffka
Ô Interessaram-se em saber como é que os processos interiores do indivíduo
impõem uma forma ao mundo exterior Ù percepcionam as situações como
“todos dinâmicos”
9 Princípios básicos
Ô Uma ideia central para esta orientação é que as pessoas tendem
espontaneamente a agrupar ou a categorizar objectos.
Ô Uma segunda ideia central é que percepcionamos imediatamente algumas
coisas como sendo salientes (figuras) e outras como estando atrás (fundo)
Ô Estes princípios cognitivos (agrupamos e categorizamos) são importantes
para o modo como interpretamos o que as pessoas sentem, querem e que tipo de
pessoas são
9
Ô Os princípios cognitivos estudam como é que as pessoas processam a
informação.
Ô No domínio da psicologia social a investigação sobre cognição social, aborda o
modo como processamos informação social acerca de pessoas, de situações
sociais e de grupos.
Ô A investigação sobre a cognição social tem sido efectuada em três áreas:
ƒ Percepção social Ö como captamos a informação acerca das outras
pessoas
ƒ Memória social Ö como armazenam informação em relação às outras
pessoas
ƒ Julgamentos sociais Ö como juntam informação para chegarem a
conclusões acerca do mundo social
9 A nível perceptivo os PS interessam-se em como certas estruturas cognitivas nos
ajudam a prestar atenção a vastas quantidades de informação acerca das outras
pessoas e das situações sociais.
9 Esquemas
Ô São representações que as pessoas têm nas suas cabeças acerca de pessoas e de
acontecimentos.
Ô Representam o conhecimento integrado que temos a respeito do nosso meio
social.
9 Uma outra direcção de investigação cognitiva em que a Psicologia Social tem sido
fértil é o estudo de atribuições causais, isto é, os modos como as pessoas usam a
informação para determinar as causas do comportamento social (porquê o término de
um relacionamento, por exemplo)
9 Contribuições
Ô As teorias cognitivas permitem explicar situações que parecem numa
primeira abordagem incompreensíveis.
Ô Os psicólogos sociais seguindo a tradição de Gestalt, examinaram como é que o
nosso conhecimento dos traços individuais é combinado para formar impressões
globais das pessoas
Ô As teorias de consistência cognitiva postulam que estamos motivados para
conservar cognições de acordo com um comportamento consistente.
Regras e papeis.
9 Põem em evidência a ideia de que os pensamentos e os comportamentos dos
indivíduos são o resultado de interacções que têm com outras pessoas e do
significado que elas dão às interacções e papéis
9 Foi George Herbert Mead que tomou o conceito de papel popular na sua análise do
self em relação com as pessoas que nos rodeiam.
9 Princípios básicos
Ô Teoria do Papel:
ƒ Trata-se de uma rede ligada a hipóteses e de um conjunto bastante amplo
de construtos
ƒ Presta pouca atenção aos determinantes individuais do comportamento
ƒ O indivíduo é visto como um produto da sociedade em que vive e como
um indivíduo que contribui para essa sociedade
ƒ O termo "papel", define-se como a posição ou função que uma pessoa
ocupa no seio de um determinado contexto social. Uma pessoa
desempenha simultaneamente muitos papéis: de estudante universitário, de
irmã, de namorada, de jogadora….
ƒ Os papéis muitas vezes entram em conflito uns com os outros.
ƒ Conflito de papeis:
™ Conflito interpapel
¾ Quando uma pessoa ocupa diversas posições com exigências
incompatíveis (mulher quer estudar/namorado quer sair Ù
conflito de papéis)
™ Conflito intrapapel
¾ Quando um só papel tem expectativas que são incompatíveis
(estudar para 1 exame ou concluir um trabalho de grupo, ambos
para o dia seguinte)
10
9 Contribuições
Ô O conceito de papel tem sido amplamente utilizado em Psicologia social.
Ô Este domínio frequentemente se recorre a termos como modelo de papel, jogo
de papel, tomada de papel.
Ô Este conceito dá conta da possível mudança de comportamentos das pessoas
quando a sua posição na sociedade muda.
Ô O doente mental é o produto de uma personalidade perturbada que tem
problemas profundos e duradoiros, nada tendo a ver com a situação.
Ô Segundo a teoria dos papéis, a doença mental é muitas vezes aprendida quase
como alguém aprende um papel numa peça de teatro.
Ô Mais recentemente as ideias da teoria dos papeis têm contribuído para o
incremento do estudo do auto- conceito.
Ô Modelos de auto consciência
™ Referem em que condições nos tornam mais conscientes de nós próprios.
Ô Conceito auto vigilância
™ Dá conta da tendência de algumas pessoas observarem o modo como são
percepcionadas pelas outras.
Ô Área da gestão da impressão
™ Aborda o modo como as pessoas tentam criar impressões específicas e
positivas acerca delas próprias

No seio destas três orientações teóricas gerais é possível desenvolverem-se mini-teorias, que tentam
explicar um leque mais restrito do comportamento humano (fenómenos como o amor, solidão, etc)

Uma comparação de teorias


• As três teorias acabadas de apresentar diferem nas questões que tratam e nas questões que ignoram.
• Conceitos diferentes
Teoria da aprendizagem
9 O comportamento social observável é explicado pelas relações entre estímulo e
resposta e a aplicação do reforço
Teoria cognitiva
9 Acentuam a importância das cognições e, de uma maneira geral, da estrutura
cognitiva como determinante do comportamento.
Teoria do papel
9 Enfatiza papéis e normas, definidos pelas expectativas dos membros do grupo em
relação à realização.
• Diferem de comportamentos explicados
Teoria da aprendizagem
9 Focalizam-se na aquisição de novos padrões de resposta e no impacto das
recompensas e dos castigos na interacção social.
Teoria cognitiva
9 Abordam os efeitos das cognições sobre a resposta da pessoa a estímulos sociais, e
tratam também das mudanças nas crenças e nas atitudes.
Teoria do papel
9 Sublinha o papel do comportamento e a mudança de atitude que resulta dos papéis
que se tem
• Diferem nas suposições acerca da natureza humana
Teoria da aprendizagem
9 Vêem os actos das pessoas, o que aprendem e como o fazem, como determinados
fundamentalmente pelos padrões de reforço.
Teoria cognitiva
9 Acentuam que as pessoas percepcionam, interpretam e tomam decisões acerca do
mundo.
Teoria do papel
9 Supõem que as pessoas são enormemente conformistas. Vêem as pessoas como
agindo de acordo com as expectativas de papéis que têm os membros do grupo.
• Diferem nas concepções do que provoca a mudança no comportamento
Teoria da aprendizagem
9 Defendem que a mudança no comportamento resulta de mudança no tipo,
11
quantidade e frequência de reforço recebido.
Teoria cognitiva
9 Sustentam que a mudança no comportamento resulta de mudanças nas crenças e
atitudes, para além de postular que mudanças nas crenças e atitudes são muitas
vezes o resultado de esforços para resolver inconsistências entre cognições.
Teoria do papel
9 Defende que para mudar o comportamento de alguém, é necessário mudar o papel
que a pessoa ocupa. Diferente comportamento resultará quando a pessoa muda de
papéis, porque o novo papel acarretará diferentes pedidos de expectativas.

6 - A PSICOLOGIA SOCIAL CONTEMPORÂNEA

Uma ciência em ebulição


• A psicologia social constitui um dos domínios mais importantes na investigação em psicologia em
particular, e nas ciências sociais, em geral

Uma pleide de investigadores


• Hoje em dia são cada vez mais numerosos os investigadores que apresentam contribuições de valor
para esta ciência:
Jones, Kelley, Festinger, etc

Empregos em Psicologia Social


• A maioria dos empregos em PS é obtida ao nível do ensino e investigação, em postos de professores ou
de cientistas em meio universitário ou secundário
• É a percentagem mais elevada em todos os sectores de estudo em psicologia

7 – PERSPECTIVAS INTERNACIONAIS

• E.U.A. é o principal produtor do conhecimento psicológico Î 1º mundo


• O 2º mundo é tão produtivo quanto o 1º, mas a sua influência é restringida a esse mundo e ao 3º
• O 3º mundo (paises em desenvolvimento) é importador de conhecimento.
• A psicologia social europeia começa a desenvolver áreas próprias de interesse
Tajfel e seus colegas (Europa)
9 O trabalho consiste na identidade social, categorização social e relações intergrupais.
Moscovici e seus colegas
9 O trabalho consiste na polarização de grupos, influência minoritária e representações
sociais.

Estudo da caverna dos ladrões


• Muzafer Sherif e Carolyn Sherif exploram a formação de grupos, o conflito/competição
intergrupal e as técnicas para reduzir o conflito (objectivos supraordenados Ù objectivos que cada
grupo desejava realizar, mas que não o podia fazer sem a ajuda do outro grupo)
• Os objectivos supreordenados ajudaram a reduzir a hostilidade entre os 2 grupos, bem como a
criação de sentimentos positivos (exemplo: restabelecimento de água para o campo)
• Foram utilizadas técnicas quer da PSS, quer da PSP
• Foram utilizadas técnicas de observação e entrevistas em profundidade, combinando-as com a
técnica dos questionários estandardizada
• Este estudo ilustra o interesse partilhado por todos os psicólogos sociais pelos pontos de vista
subjectivos das pessoas
• Chama a atenção para as mudanças ocorridas, ao longo do tempo, da perspectiva de um grupo
sobre o outro grupo, combinando nívei de análise psicólogico e sociológico
• Ilustra, também, como se podem combinar as vantagens das duas psicologias sociais

12
IV - ATITUDES

3 – O QUE SÃO AS ATITUDES

• Segundo Gordon Allport, as atitudes são medidas com maior sucesso do que são definidas

Modelos de atitudes
• Uma abordagem tradicional tem considerado as atitudes como sendo multidimensionais com
uma organização relativamente duradoira.
• Para o Modelo tripartido clássico, a atitude resulta de três componentes (Rosenberg e Hovland,
1960) :
Afectivo
9 Refere-se aos sentimentos subjectivos e às respostas fisiológicas que acompanham
uma atitude (Ex: sentirmo-nos tensos face a estudantes universitarios)
Cognitivo
9 Diz respeito a crenças e opiniões das quais a atitude é expressa, muito embora nem
sempre sejam conscientes (Ex: acharmos que os estudantes universitarios são arrogantes)
Comportamental
9 Diz respeito ao processo mental e físico que prepara o indivíduo a agir de
determinada maneira (Ex: recusarmo-nos a interagir com estudantes universitarios)
• Bagozzi (1978)
Não é claro o modo como se interrelacionam cada um destes componentes.
Em muitas situações a presença de um componente implica a presença de outros. (ex: caça).
• Breckler (1984)
Efectuou um estudo para testar as contribuições independentes dos componentes
afectivo, cognitivo e comportamental em relação às cobras
9 Mediu o ritmo cardíaco e os humores das pessoas na presença da cobra Î
Componente Afectivo
9 Mediu as crenças favoráveis/desfavoráveis em relação às cobras Î Componente
Cognitivo
9 Perguntou como reagiriam à presença de uma cobra Î Componente
Comportamental
As 3 dimensões convergem para assegurar uma significação comum, mas também existe
uma validade discriminante entre cada uma delas
Críticas a este modelo:
9 Apresenta obstáculos para se verificar empiricamente
9 As correlações não são suficientes para determinar a validade de construto do modelo
(Dawes e Smith)
• Há quem considere a atitude como sendo unidimensional, isto é, uma atitude representa a
resposta avaliativa (afecto), favorável ou desfavorável, em relação ao objecto de atitude.
• A atitude constitui, pois, a respostas que situa o objecto numa posição do continuum de
avaliação Î Modelo unidimensional clássico
• Fishbein e Azjen (1975)
Definem a atitude como sendo "uma predisposição aprendida para responder de modo
consistente favorável ou desfavorável em relação a dado objecto."
• Thurstone (1928)
Definiu a atitude como a intensidade de afecto a favor ou contra um objecto psicológico
• Zanna e Rempel (1988)
Delinearam o modelo tripartido revisto que integra todas estas concepções
Começam por definir a atitude como uma categorização de um objecto - estimulo ao
longo de uma dimensão avaliativa (por ex.: aborto-favoravel…desfavoravel)
Neste modelo a atitude é, por conseguinte, um julgamento (isto é, uma opinião) que
exprime um grau de aversão ou de atracção num eixo bipolar.
Pressupõe que esta avaliação pode basear-se em três espécies de informação:
9 Informação cognitiva
Ô Julgamento a "frio" de que se gosta ou detesta
9 Informação afectiva
Ô Emoção sentida
13
9 Informação baseada no comportamento passado
Ô Antecipação da acção

Uma atitude pode só derivar de cognições, ou de cognições


e afecto, ou de cognições, afecto e comportamento passado

Características
• A atitude enquanto realidade psicológica possui determinadas características oriundas das
realidades físicas.
• Pode-se encarar como um continuum psíquico, ou seja, uma entidade que tem um começo e um
termo de modo que se possa passar de um ao outro por variações de grau, ressaltam quatro
características:
Direcção da atitude
9 Designa o nível positivo ou negativo do objecto da atitude
9 Em relação a este objecto, o sujeito pode sentir atracção ou repulsa
Intensidade da atitude
9 Exprime-se pela força da atracção ou da repulsa em relação ao objecto
9 A intensidade foi e continua a ser a propriedade que mais tem atraído a atenção
dos investigadores.
9 Foi objecto das teorias das escalas clássicas de medida e recorre-se a ela para
determinar o grau de mudança de atitude.
9 Uma subpropriedade associada à intensidade é a extremidade (ex: um sentimento
positivo, pode ser exprimido por meio de uma atitude positiva desde "ligeiramente" a
"totalmente positiva".)
Dimensão da atitude
9 Permite-nos aprender se se trata de um objecto complexo e que não está bem definido.
9 Pode ser unidimensional (se abarcar apenas um domínio da axtividade
comportamental) ou multidimensional (vários domínios)
Acessibilidade da atitude
9 Solidez da associação entre o objecto de atitude e a sua avaliação afectiva
9 Um continuum "não atitude-atitude" foi proposto por Fazio, Sanbonmatsu, Powell
e Kardes (1986).
Ô Num dos extremos do continuum encontra-se a "não-atitude", isto é, não
existe na memória nenhuma avaliação à priori do objecto de atitude.
Ô À medida que nos deslocamos ao longo do continuum, a avaliação afectiva
aumenta e a sua acessibilidade torna-se mais provável
Ô No outro extremo do continuum, aparece uma atitude bem definida, positiva
ou negativa, mas espontânea e automática
Ô Quanto mais automática é a resposta mais provável é a predição do
comportamento
• Para além das características referidas, as atitudes têm outras características básicas:
As atitudes são inferidas do modo como os indivíduos se comportam (ex.: preencher um
questionário)
As atitudes são dirigidas em relação a um, objecto psicológico ou categoria (ex.: objectos
tangéveis, grupos, ideias abstractas, etc)
As atitudes são aprendidas, isto é, provêm da experiência. Dado que as atitudes são
aprendidas, podem ser mudadas
As atitudes influenciam o comportamento

Funções Psicológicas das atitudes


• As atitudes são úteis para a pessoa que tem uma atitude
• Smith et al. (1956) –
Atribuem três funções às atitudes:
9 Adaptação socializado
9 Exteriorização
9 Avaliação do objecto de atitude
• Katz (1960) –
Menciona quatro funções:
9 Conhecimento
14
Ô Perspectiva cognitiva
9 Instrumentalidade (meios atingir)
Ô Perspectiva behaviourista
9 Defesa do eu (protecção da nossa auto-estima)
Ô Perspectiva psicanalítica
9 Expressão de valores (permitindo às pessoas mostrar os valores com que se
identificam e as definem)
Ô Perspectiva humanística
• As atitudes podem ter três funções: (Schlenker, 1982; Pratkanis e Greenwald, 1989)
Ajudam a definir grupos sociais,
Ajudam a estabelecer as nossas identidades
Ajudam o nosso pensamento e comportamento
• As atitudes são elementos fulcrais para manter os grupos (ex.: associações anti-racistas)
• As atitudes contribuem para a auto-representação Î são elementos fulcrais nas representações
que as pessoas têm delas próprias
• As atitudes constituem, também, elementos importantes da vida cognitiva das pessoas. Guiam o
modo como se pensa, sente e age.

4 – ATITUDES E NOÇÕES CONEXAS

Crenças
• O modo de relacionamento de crenças com atitudes tem muito a ver com a conceptualização que é
feita das atitudes
• Krech, Cruchfield e Ballachey (1962) Î Situam-se no Modelo Tripartido das atitudes
As crenças podem ser consideradas como o componente cognitivo das atitudes
• Fishbein e Ajzen, (1975) Î Consideram a atitude como sendo unitária
Definem as crenças como julgamentos que indicam a probabilidade subjectiva de uma
pessoa ou um objecto tenha uma característica particular.
Nesta perspectiva, crenças e atitudes são claramente distintas:
9 As crenças são cognitivas Ö pensamentos e ideias
9 As atitudes são afectivas Ö sentimentos e emoções

Opiniões
• Por vezes os termos opinião e atitude têm sido utilizados como sinónimos
• Mcguire (1962)
Sugeriu tratar-se de "normas à procura de uma distinção e não tanto de uma distinção à
procura de uma terminologia."
O termo opinião continua a ser amplamente utilizado, em particular no âmbito da
investigação de inquérito e de sondagens de opinião pública que se focalizam em atitudes
partilhadas e crenças de vastos grupos de pessoas
• Allport (1935)
Situa os quatro conceitos - opinião, atitudes, interesse e valor - ao longo de mesmo
continuum indo do mais específico ao mais geral
• Eysenck (1954)
Distingue quatro níveis:
9 Opinião acidental
Ô Não é característica do indivíduo
9 Opinião habitual
Ô É característica do indivíduo
9 Atitude
Ô Conjunto de opiniões estáveis interligadas, corresponde a um componente
importante da personalidade
9 Ideologia
Ô Traduz a interdependência das atitudes Ö atitude etnocêntrica, personalidade
de tipo conservador.
• Oskamp (1991)
Defende a perspectiva de que as opiniões são equivalentes a crenças e não tanto a
atitudes.
15
As opiniões envolvem julgamentos de uma pessoa sobre a probabilidade de
acontecimentos ou relações, ao passo que as atitudes envolvem sentimentos ou emoções de
uma pessoa sobre objectos ou acontecimentos.

Valores
• Os valores constituem uma variável psicológica intimamente associada às atitudes.
• Muito embora as atitudes se refiram a avaliações de objectos específicos, os valores são crenças
duradoiras acerca de objectos importantes da vida que transcendem situações específicas
• "Paz", "felicidade", "igualdade", são alguns exemplos de valores
• Os valores constituem um aspecto importante do autoconceito e servem de princípios directores
para uma pessoa (Rokeach, 1972)
• Alguns psicólogos sociais tentaram catalogar um conjunto de valores básicos em que as pessoas
diferem:
Allport e Vernon (1931):
9 Teórico, económico, social, estético, politico e religioso
Morris (1956)
9 Apresentou cinco dimensões gerais de valores:
Ô Constrangimento social e autocontrolo
Ô Prazer e progresso na acção
Ô Retraimento e autosuficiência
Ô Receptividade e simpatia
Ô Autocomplacência e prazer sensual.
Rokeach (1973) - fez a distinção entre:
9 Valores finais
Ô Que dizem respeito aos objectivos últimos da vida Ö Valores pessoais Ö
Centrados nas pessoas
9 Valores instrumentais
Ô Que dizem respeito a modo de conduta Ö Valores sociais Ö Mais orientados
para a moralidade ou auto-realização
9 Elaborou 2 escalas para se avaliarem os valores, cada uma contendo 18 valores finais
e 18 valores instrumentais
Ô Aos sujeitos a quem se administram estas escalas, é-lhes pedido para ordenar
os valores finais e os valores instrumentais, tendo em conta a sua importância,
os seus princípios orientadores na vida
Figueiredo (1988)
9 Utilizou de modo assaz original estas escalas para verificar se existia consenso entre
pais e jovens ao nível dos valores finais e instrumentais.
9 O autor encontrou um marcado consenso entre as duas gerações na importância da
"dignidade" e "felicidade" como valores finais e "honesto", "afectuoso",
"responsável", "capaz" como valores instrumentais.
Feather (1994)
9 Os valores têm as seguintes propriedades:
Ô São crenças gerais acerca de objectivos e comportamentos desejáveis
Ô Envolvem bondade e maldade e têm uma qualidade de "dever" acerca deles,
Ô Transcendem atitudes e influenciam a norma que as atitudes podem assumir,
Ô Fornecem padrões para avaliar acções, justificar opiniões e comportamentos,
planificar comportamentos, decidir entre diferentes alternativas e apresentar-se
aos outros,
Ô Estão organizados em hierarquias para uma determinada pessoa e sua
importância relativa pode variar ao longo da vida,
Ô Os sistemas de valores variam segundo indivíduos, grupos e culturas.

Ideologia
• A ideologia representa um sistema integrado de crenças, em geral, com uma referência social ou
política
• Rouquete (1996)
A ideologia é o que torna um conjunto de crenças, atitudes e de representações
simultaneamente possíveis e compatíveis no seio de uma população
• Tetlock (1989)
16
Propôs que os valores terminais, estão na base de toda a ideologia politica.
As ideologias podem variar segundo duas características:
9 Podem atribuir diferentes prioridades a valores particulares,
9 Há ideologias que são pluralistas e há outras que são monistas

5 – MEDIDAS DE ATITUDES

• Os psicólogos sociais não procuram somente saber o que são as atitudes e como são formadas.
• Tentam também medi-las, avaliar a sua direcção e intensidade, o que permite efectuar
comparações entre os indivíduos e os grupos.
• As atitudes podem ser medidas directa ou indirectamente.

Análise de conteúdo das comunicações


• Thomas e Znaniecki (1918)
Fizeram uma das primeiras tentativas para avaliar as atitudes.
O método que utilizaram consistiu fundamentalmente em inferir as atitudes de diferentes
tipos de documentos escritos.
Eles esperavam a partir deste material identificar atitudes ou temas comuns que
permitissem compreender o comportamento dos imigrantes polacos.
• Eiser (1983)
Propôs que um exame cuidadoso das palavras revestidas de emoções que as pessoas
utilizam em entrevista, pode fornecer uma indicação de valor sobre as atitudes
subjacentes, mesmo que não estejam a fazer afirmações atitudinais directas.

Escala de avaliação com um item


• Trata-se de um método económico de medir uma atitude em muitos estudos com carácter
representativo. Exemplo, em sondagens de opinião (totalmente em desacordo (=1) a Totalmente
em acordo (=7)).
• Este método defronta-se com um problema Ö a potencial falta de fidelidade

Escala de distância social


• Emory Bogardus (1925)
Propôs esta escala com o objectivo de medir as atitudes étnicas.
Esta técnica mede o grau de distância que uma pessoa deseja manter nas relações com
pessoas de outros grupos.
A escala apresenta-se sob a forma de um quadro de dupla entrada que tem como abcissa o
nome de diferentes grupos humanos
Esta escala tem sido amplamente criticada

Escala de Thurstone
• Thurstone (1928)
Defendeu que há um continuum psicológico de afecto ao longo do qual se podem situar os
indivíduos.
Das diversas técnicas de escalas desenvolvidas por Thurstone a que foi mais amplamente
utilizada foi a escala de intervalos aparentemente iguais.
A elaboração desta escala pode ser sintetizada em oito passos:
9 Obtém-se um determinado nrº de itens em relação com o objecto da atitude
9 Esses itens são avaliados por um conjunto de juízes com características semelhantes
às das pessoas que serviram de sujeitos
9 Pede-se aos juízes para ordenarem os itens em 11 categorias (+ favoravel, neutro, +
desfavoravel)
9 Os itens que são ordenados pelos juizes nas mesmas categorias são retidos. Os que
estão em desacordo são afastados
9 A cada um dos itens atribui-se um valor da escala
9 Retém-se um certo nrº de proposições, de modo que representem a extensão dos
valores da escala ao longo da dimensão favoravel a desfavoravel
9 Apresentam-se os itens selecionados numa ordem aleatória a uma população,
pedindo-lhes para escolherem aqueles com que concordam
17
Este tipo de escala defronta-se com algumas dificuldades:
9 A preparação da escala é complicada e morosa, tendo-se encontrado resultados muito
semelhantes quando se utilizam técnicas menos complicadas que esta escala.
9 Pode haver um fosso relativamente grande entre o juri e a população a quem se
administra a escala.
9 Thurstone partiu da ideia de que os juízes ordenam as proposições
independentemente das suas atitudes, mas o contrário pode ser provado.

Escala de Likert
• Rensis Likert (1932)
Concebeu um dos métodos que mais influência tem tido na medida das atitudes.
Examinou cinco grandes áreas das atitudes:
9 Relações internacionais
9 Relações raciais
9 Conflitos económicos
9 Conflitos políticos
9 Conflitos religião.
Pode-se sintetizar a construção das escalas de Likert em três etapas:
9 Um conjunto de itens são selecionados pelo investigador, com base na experiência,
intuição e pré-teste
9 Esses itens são submetidos aos sujeitos que devem dar as suas opinioes, fazendo um
circulo à volta de um ponto numa escala de 1 a 5, cujos extremos são concordo
fortemente (5) e discordo fortemente (1)
9 A atitude é determinada pela soma das respostas a todos os itens que têm uma
correlação satisfatória com toda a escala
A principal vantagem desta escala é que ela se constrói mais depressa e com menos gastos
do que uma escala de Thurstone

Escala de Guttman
• Baseia-se no pressuposto de que as opiniões podem ser ordenadas segundo a sua "favoralidade"
de modo que a concordância com uma dada afirmação implica concordância com todos os itens
que exprimem opiniões mais favoráveis - para ele é uma escala unidimensional.
• A elaboração de uma escala deste tipo pode ser sintetizada em três etapas:
Reune-se um grande número de opiniões sobre a atitude que se deseja medir
Administra-se o questionário de opiniões a uma população de sujeitos
Efectua-se uma análise das respostas para se determinar se correspondem ao modelo ideal
• A reprodutividade é a base da escala de Guttman e é geralmente aceite que um conjunto de itens
deve ter um coeficiente de reprodutividade de cerca de 90 (10% ou menos de erro)

Diferenciador semântico
• O problema com escalas como as do tipo Thurstone, Likert ou Guttman é de que para cada novo
objecto de atitude tem de se construir uma nova escala.
• O diferenciador semântico propicia a possibilidade de se medirem diferentes atitudes com a mesma
escala.
• Osgood, Suci e Tannenbaum (1957)
Desenvolveram o diferenciador semântico
9 É uma técnica de medida da significação psicológica que têm os objectos ou os
conceitos para o indivíduo.
9 É a combinação de um método de associações forçadas, mas controladas e de um
procedimento de escalas permitindo obter a direcção e a intensidade do
significado do conceito.
Por meio do recurso à análise factorial, Osgood e seus colegas identificaram três
dimensões básicas mediante as quais os conceitos podem ser descritos.
Estes factores foram interpretadas como sendo:
9 A avaliação
9 A potência
9 A actividade.
• Usos do diferenciador semântico:
Estudar as diferenças sócio-culturais nas atitudes.
18
Estudar as diferenças sexuais.
Avaliar o auto-conceito.
• O diferenciador semântico tem a vantagem de ser fácil de construir.

Medidas indirectas
• Os questionários são de longe as técnicas de avaliação das atitudes mais amplamente utilizadas.
• As medidas indirectas mais comuns, em que não se pergunta à pessoa a sua atitude directamente,
são:
Técnicas fisiológicas
9 Assentam no pressuposto de que o comportamento afectivo das atitudes produz uma
reacção fisiológica que pode potencialmente ser medida (resposta galvânica da pele e a
resposta pupilar)
Técnicas comportamentais
9 Assentam na suposição que o comportamento é consistente com atitudes.
Técnicas projectivas.
9 Pede-se aos sujeitos para descreverem uma figura, contarem uma história,
completarem uma frase, ou indicarem como é que alguém reagiria a essa situação.
9 Têm a vantagem de que muitas vezes as pessoas projectam as suas próprias atitudes
nos outros.
• A utilização de técnicas indirectas para medir as atitudes reveste-se quer de vantagens, quer de
desvantagens:
Vantagens
9 Assinale-se que essas técnicas são menos susceptíveis de suscitarem respostas
socialmente aceites.
9 A pessoa não conhece que atitude está a ser medida.
Desvantagens
9 Refira-se a dificuldades em medir a intensidade da atitude e sendo as atitudes
inferidas estas técnicas podem deixar a desejar quanto à fidelidade.
9 Também podem suscitar problemas éticos.
• Apesar disso as medidas indirectas são a única avenida a seguir quando o investigador trabalha
sobre assuntos sociais muito sensíveis.

6 – ATITUDES E COMPORTAMENTOS

• Os psicólogos sociais também estavam interessados em mudar o comportamento através da


influência exercida sobre as atitudes das pessoas.
• Muitas das definições tradicionais da atitude consideram-na como uma predisposição para agir de
determinado modo.

O dilema da consistência atitude-comportamento


• LaPiere (1934)
Defende que as atitudes e os comportamentos poderiam não estar tão estreitamente
ligados como os psicólogos sociais da época pareciam pensar.
• Kutner, Wilkins e Yarrow (1952)
Nos E.U, muito embora as pessoas negras fossem servidas de modo satisfatório num certo
número de restaurantes, os mesmos restaurantes recusariam posteriormente efectuar
reservas para um acontecimento social que incluía pessoas negras.
Nestes estudos verifica-se uma discrepância entre atitude e comportamento.
• Wicker (1969)
Efectuou uma revisão de estudos empíricos sobre as relações entre atitude e
comportamentos.
Estes estudos raramente apresentam uma correlação superior a .30 e muitas vezes a
correlação está próxima de zero.

Condições metodológicas da predição atitude-comportamento


• Uma primeira tentativa de revalidação da consistência da atitude e do comportamento debruçou-
se sobre os aspectos metodológicos das investigações.
• Referiremos, para além de possíveis problemas de medida:
19
O princípio de correspondência
9 As componentes preditivas do comportamento (atitude ou crença, ou intenção...) e o
comportamento previsto deveriam medir-se a níveis correspondentes de
especificidade.
9 Para se aplicar este princípio é necessário precisar os níveis de correspondência
atitude-comportamento por meio de quatro marcadores:
Ô Uma acção Ö fumar
Ô Um alvo Ö fumar cigarros
Ô Uma situação Ö em locais públicos
Ô E o tempo Ö nos próximos três meses.
9 Quanto mais os quatro marcadores da medida de atitude são parecidos com os
marcadores do comportamento, tanto mais a relação atitude-comportamento será
importante
O princípio de agregação dos comportamentos
9 O estudo de LaPiere testou um acto em relação com uma atitude.
9 Fishbein e Ajzen
Ô Efectuaram um estudo relacionando atitudes religiosas com os comportamentos,
para demonstrar que a construção de um índice comportamental compósito pode
aumentar a correlação atitude-comportamento
9 Uma das razões para a inclusão de um leque amplo de comportamentos é que o
comportamento é complexo e multideterminado.
9 Os factores situacionais também podem influenciar o comportamento.
O princípio do comportamento prototípico
9 Há objectos que desencadeiam mais facilmente uma reacção atitudinal que outros.
9 Isso observa-se particularmente quando se está perante objectos representativos de uma
classe de objectos.
9 Lord, Lepper e Mackie
Ô Puseram em evidência que as atitudes de estudantes em relação a pessoas
descritas como sendo homossexuais, só prediziam o seu comportamento em
relação aos homossexuais se eles se enquadravam no protótipo que o sujeito
tinha do homossexual típico.
Ô Quando um homossexual era diferente do protótipo, a relação atitude-
comportamento já não era consistente.
9 Quando estamos perante a atitude a respeito de grupos, pode revestir-se de interesse
examinar- se preliminarmente a representação que a amostra tem do alvo.

Modelos teóricos de predicção do comportamento


• É possível que hajam factores que se possam opor ao comportamento implicado por uma atitude
(não dar dinheiro a uma instituição, pode ser pelas necessidades prioritárias não permitirem e nada
tem a ver com a instituição)
• Abordagem das variáveis moderadoras
Representa uma variável que influencia a direcção ou a intensidade da relação entre uma
variável preditora, ou independente, e uma variável critério, ou dependente,
Trata-se pois de uma técnica variável que age sobre a correlação simples entre outras duas
variáveis.
• Um factor que contribui para aumentar a consistência atitude-comportamento é a experiência
directa da pessoa com o objecto da atitude.
• Tem sido sugerido que a ligação entre comportamentos e atitudes formada mediante experiência
directa é mais forte porque tais atitudes são mantidas com mais clareza, confiança e certeza
• Outro factor que afecta a consistência atitude-comportamento é a pertinência pessoal.
Se uma pessoa tem um direito adquirido numa questão aumenta a relação entre atitude-
comportamento.
Um direito adquirido significa que os acontecimentos em questão terão um forte efeito na
própria vida da pessoa.
• A relação entre atitude e comportamento também depende do modo como se espera que nos
comportemos em determinadas situações.
Kiesler
9 Assinala que se espera que uma pessoa não expresse sentimentos negativos acerca
20
das outras directamente
9 É difícil que os sujeitos admitam que têm atitudes negativas em relação a outros
sujeitos nas experiências.
• As diferenças individuais também podem ser importantes, pois:
Algumas pessoas estão naturalmente mais dispostas que outras a expressar consistência
entre as suas atitudes e comportamentos.
Norman
9 Verificou que os sujeitos com alta "consistência afectivo - "cognitiva", isto é, o
acordo entre os seus sentimentos e as suas atitudes expressas, eram mais susceptíveis
de agir de acordo com as suas atitudes que os sujeitos cujos sentimentos e crenças
estavam em conflito.
• Uma variável que tem sido muito estudada em psicologia é o locus de controlo
No campo da relação atitude-comportamento, Saltzer 1981, mostrou claramente a
importância desta variável para obter boas predições.
• Outro factor de personalidade que pode afectar a consistência atitude-comportamento é a auto
vigilância:
Capacidade de auto-observação e de auto controlo dos comportamentos verbais e não
verbais em função de índices situacionais
Dado que os sujeitos com auto vigilância elevada são pragmáticos, indo de uma situação
para outra como um camaleão, e que os sujeitos com auto vigilância baixa guiam o seu
comportamento a partir dos seus valores, atitudes e convicções pessoais, resulta que a
consistência atitude-comportamento é maior nos sujeitos com auto vigilância baixa.
• A auto consciência contribui para o processo de regulação do comportamento na medida em que
a pessoa centra a sua atenção em certos aspectos salientes de si próprias.
• Teoria da acção reflectida e do comportamento planificado.
Fishbein e Ajzen
9 Desenvolveram uma teoria da acção reflectida que mais tarde foi denominada de teoria
do comportamento planificado por Ajzen (1985).
9 A teoria da acção reflectida descreve as relações entre crenças, atitudes e
comportamento
9 As crenças influenciam:
Ô Atitudes em relação a um comportamento particular,
Ô Normas subjectivas
9 Estes componentes influenciam as intenções comportamentais que, por sua vez,
influenciam o comportamento.
9 A atitude de uma pessoa em relação a um comportamento é determinada pelas crenças
de que realizando, o comportamento, isso leva a resultados desejáveis ou indesejáveis.
9 As normas subjectivas envolvem:
Ô Crenças acerca de comportamentos normativos (isto é, que são esperadas pelos
outros)
Ô Motivação de uma pessoa para condescender com expectativas normativas.
A atitude tem de se traduzir em intenção para exercer um comportamento.
Certas variáveis exteriores ao modelo podem também influenciar a intenção
comportamental, mas de modo indirecto, por meio de outras componentes do modelo.
Esta aptidão dos factores preditores endógenos do modelo em mediatizar os efeitos de
variáveis externas constitui o postulado de suficiência.
Entre estas variáveis externas encontram-se traços de personalidade, dados sócio-
demográfico, etc
Diversos estudos têm vindo em apoio da teoria da acção reflectida em que a intenção
comportamental era determinada só pela atitude e pela norma subjectiva.
Apesar de certas dificuldades deste modelo, tem havido um consenso quanto à robustez
da teoria da acção reflectida para predizer o comportamento voluntário.
Ajzen (1985)
9 Propôs a teoria do comportamento planificado que acrescenta uma variável preditora
ao modelo da acção reflectida.
9 Este factor denominado de controlo comportamental percepcionado é
determinado pelas experiências passadas de uma pessoa e pelas crenças sobre como é
susceptível de ser fácil ou difícil a realização do comportamento.
9 Mostra que a teoria da acção planificada prevê intenções comportamentais melhor
21
que a teoria da acção reflectida, isto é, o controlo comportamental percepcionado
acrescenta à predição das intenções comportamentais além dos efeitos de atitudes e
das normas subjectivas.
• A psicologia social contemporânea aborda o construto atitude como um fenómeno individual.
• As atitudes têm sido sobretudo conceptualizadas como estados internos cognitivos e afectivos, ou
como intenções comportamentais e predisposições.
• As atitudes originam e emergem da vida social mediante as interacções quotidianas e as
comunicações com as outras pessoas.
• As atitudes são amplamente partilhadas fornecendo significação cultural para a vida quotidiana.

Aplicação: atitudes politicas e comportamento


• Um grupo de referência é um grupo para onde as pessoas se orientam, recorrendo aos seus padrões
para efectuarem julgamentos sobre elas próprias e sobre o mundo.
• Theodore Newcomb
Ilustra a mudança de atitudes políticas de estudantes universitários de conservadorismo,
aquando da entrada na faculdade, para o liberalismo quando concluíram a licenciatura.

Resumo
• Tradicionalmente, as atitudes têm sido definidas como envolvendo crenças, sentimentos e
disposições a agir.
• Mais recentemente, os teóricos parecem estar a mover-se para uma concepção das atitudes como
avaliações, avaliações estas que se relacionam de modo complexo com crenças, sentimentos e
acções.
• As atitudes ajudam-nos a definir grupos sociais, a estabelecer as nossas identidades e a guiar o
nosso pensamento e comportamento.
As atitudes formam-se através da aprendizagem e são influenciadas pelas pessoas (ou
grupos) significativas da vida de uma pessoa.
• Para dar conta das numerosas variáveis, para além da atitude, que podem influenciar, o
comportamento foram propostos modelos teóricos.
O modelo mais influente da relação atitude-comportamento é o da teoria da acção
reflectida, posteriormente denominado de teoria do comportamento planificado.
9 Para o modelo da acção reflectida, o determinante mais imediato do comportamento
é a intenção ou o desejo de agir.
9 Por seu lado, a intenção é determinada pela atitude e pelas normas subjectivas.
Para o modelo do comportamento planificado o factor de controlo comportamental
percepcionado é acrescentado a atitude e à norma subjectiva.
9 Pressupõe-se que este modelo tem uma eficácia de predição superior em situações em
que o comportamento só esteja tenuemente sob controlo voluntário.

V – REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

1 – INTRODUÇÃO

• Uma das mudanças com maior impacto na vida quotidiana foi o papel cada vez mais importante
assumido pelos meios de comunicação de massa na criação e difusão de informações e de modos de
pensar, de sentir e de agir
• Tarde
Apreendeu a importância da comunicação para reproduzir e transformar as sociedades
humanas, tendo então proposto que a Psicologia Social se ocupasse antes de mais do
estudo comparativo das conversações.
O material base foram conversas gravadas.
• Após esta proposta de Tarde, as sociedades humanas evoluíram
• Uma das mudanças com maior impacto na vida quotidiana foi o papel cada vez mais importante
assumido pelos meios de comunicação de massa na criação e difusão de informação e de modos de
pensar, de sentir e de agir.

22
• Serge Moscovici
Caracterizou a nossa época como sendo a era por excelência das representações sociais
Mostrou várias semelhanças entre as características do pensamento adulto e do
pensamento infantil.
Efectivamente, quer no pensamento infantil quer no pensamento adulto, há intervenção de
dois sistemas cognitivos que originam as suas características partilhadas:
9 "…vemos em acção dois sistemas cognitivos, um que procede por associações, inclusões,
discriminações, deduções, isto é, o sistema operatório, e o outro que controla, verifica,
selecciona com ajuda de regras, sejam ela lógicas ou não; trata-se de uma espécie de
meta-sistema que trabalha de novo a matéria produzida pelo primeiro " - Moscovici
(1976).

2 – ORIGENS

• O conceito de representação social resulta do empréstimo pelo vocabulário filosófico do termo


representação.
• O conceito de representação social inscreve-se numa tradição europeia e sociológica, ao invés da
grande maioria dos conceitos de psicologia social que são de origem anglo-saxónica e procedem
da psicologia geral.
• Durkheim
Falara de "representações colectivas" e, em 1898, de "representações sociais",
esforçando-se por distingui-las das"representações individuais
As representações emanam das relações que se estabelecem entre os indivíduos assim
combinados ou entre grupos secundários, que se intercalam entre o indivíduo e a
sociedade total
• Davy
Condensava bem a óptica durkheimiana quando escrevia:"…não nos podemos contentar de
postular…uma natureza humana formada de um certo número de sentimentos imutáveis e
fundamentais, é necessário explicá-la, ela própria, e explicá-la em função do meio social a
que se adapta constituir, do ponto de vista sociológico, uma psicologia dos sentimentos e
uma psicologia do conhecimento…"
• Moscovici
Consagrou um estudo fecundíssimo às representações sociais da psicanálise, e aplicou em
cernar o conceito de representação social.
Foi a partir desta investigação que se afirmou em França uma corrente de estudo sobre as
representações sociais.
• Herzlich
"a psicologia, sabe-se, foi durante muito tempo dominada pela corrente behaviourista. Na
tradição watsoniana da ligação estimulo-resposta, só os comportamentos manifestos,
directamente observáveis, tais como as respostas motoras ou verbais, podiam ser objecto
de estudo. As respostas latentes ou implícitas, tais como as actividades cognitivas, eram
negligenciadas. Em psicologia social, a adjunção do termo social, quer à classe dos
estímulos, quer à classe das respostas, pouco modificava a problemática".
• O interaccionismo simbólico, tendo por origem os trabalhos de Mead - corrente teórica que se
desenvolveu em psicologia social em concorrência com a tradição behaviourista - poderia ter
constituído um terreno mais favorável aos estudos da representação social.
• O conceito de representação social aparece em sociologia onde sofre um longo eclipse.
• Todavia, a sua teoria vai esboçar-se em psicologia social, tendo efectuado uma incursão pela
psicologia da criança (Piaget 1926) e na psicanálise.

3 – NOÇÃO

• A noçao de representação social situa-se efectivamente numa encruzilhada com múltiplos acessos
e com 2 consequências principais:
Pode acontecer que autores que se inscrevem em campos disciplinares diferentes se
encontrem na mesma encruzilhada
Designa um vasto número de fenómenos e de processos

23
• Moscovici
"Sociedade pensante" Ö trabalho de construção, mediante trocas e interacções, de ponto
de vista e de saberes, partilhados e distribuídos segundo as fronteiras incertas dos grupos
sociais.
Uma representação social define-se como “a elaboração de um objecto social por uma
comunidade”
• Jodelet (1989)
O conceito de representação social designa "uma forma de conhecimento socialmente
elaborado e partilhado, com uma orientação prática e concorrendo para a construção de
uma realidade comum a um conjunto social".
Para acolher a “sociedade pensante” foram construídas 2 representações: uma moral e
outra biológica
• Como fenómenos, as representações sociais apresentam-se em formas variadas, mais ou menos
complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias.
• Os principais aspectos a ter em conta na noção de representação social são os seguintes:
Referência a um objecto. A representação para ser social, é sempre uma representação de
algo.
Resultam de uma actividade construtora da realidade e de uma actividade expressiva.
Adquirem a forma de modelos que se sobrepõem aos objectos, tornando-os visíveis, e
implicam elementos linguísticos, comportamentais ou materiais.
São uma forma de conhecimento prático que nos levam a interrogar-nos sobre os
determinantes sociais da sua génese e da sua função social na interacção social da vida
quotidiana.
• Esta forma de conhecimento permite a apreensão pelos sujeitos sociais dos acontecimentos da
vida corrente, das informações veiculadas, das pessoas do nosso meio próximo ou longínquo Î
Trata-se do conhecimento do senso comum em oposição ao conhecimento científico
• Como forma de conhecimento, a representação social implica a actividade de reprodução das
características de um objecto.
• Esta representação não é, porém, o reflexo puro e fiel do objecto, mas uma verdadeira construção
mental
• Moscovici
As imagens são sensações mentais, impressoes que as pessoas e os objectos deixam no
cérebro Ö reprodução, reflexo, fenómeno passivo
As representações sociais são um fenómeno activo, fazem referência a um objecto, são
um conhecimento prático
• Opinião Ö Resposta manifesta, sendo o único elemento observável do sistema
• A atitude Ö Resposta antecipada (preparação para a acção)
• Representação social Ö Na medida em que é um processo de construção do real, age
simultaneamente sobre o estímulo e a resposta.
• O preconceito está intimamente ligado à atitude tendendo mesmo a confundir-se com ela.
• As noções de estereótipos e de preconceito, na medida em que se aproximam das noções de opinião
e de atitude, respectivamente, são por conseguinte, também diferentes da representação social.

Resumindo:
• Se todos estes "objectos parciais" estão integrados nas representações sociais, estas não são
consideradas "como opiniões sobre" ou "imagens de", mas "teorias", "ciências colectivas"
sui generis, destinadas à interpretação e à leitura do real (Moscovici).
• Contudo, para o psicólogo social, a representação actualiza-se "numa organização psicológica
particular e preenche uma função específica" (Herzlich)
• A representação social desempenha um papel na formação das condutas sociais e das
comunicações, na medida, em que é através dela que o grupo apreende o seu meio.

4 – REPRESENTAÇÕES E COMUNICAÇÃO SOCIAL

• A comunicação social desempenha um papel fundamental nas trocas e interacções quotidianas.


• Moscovici
Examinou a incidência da comunicação a três níveis:
9 1ª Ö Ao nível das dimensões das representações que se referem à construção do
24
comportamento: opinião, atitude e estereótipos em que há intervenção dos sistemas
de comunicação social
Ô Distingue três grandes sistemas de comunicação cuja importância
relativa varia segundo o momento histórico e os grupos sociais:
ƒ Difusão Ö é o sistema de comunicação de massas mais espalhada
na nossa sociedade, não tem a finalidade deliberada reforçar ou
convencer. A difusão produziria sobretudo opiniões sobre a
psicanálise
ƒ Propagação Ö recorre a mensagens que visam um grupo
particular, com objectos e valores específicos, com uma visão do
mundo bem organizada. A finalidade é a integração de uma
informação nova num sistema de raciocínio e de julgamento já
existente. A propagação trabalha ao nível das atitudes
ƒ Propaganda Ö desenvolve-se num clima social conflituoso,
podendo oscilar entre o simples proselitismo e a conquista
violenta. A propaganda contribui para a afirmação e reforço da
identidade do grupo. Tem uma função reguladora e organizadora.
Incita igualmente os seus receptores a um determinado
comportamento. A propaganda ao nível dos estereótipos
9 2ª Ö Ao nível da emergência das representações cujas condições afectam os
aspectos cognitivos.
Ô Há três condições que afectam a formação das representações sociais, as
duas primeiras referindo-se à acessibilidade do objecto:
ƒ Dispersão da informação sobre o objecto da representação. A
dificuldade de acesso à informação vai favorecer a transmissão
indirecta dos saberes e por conseguinte numerosas distorções.
ƒ A posição específica do grupo social em relação ao objecto da
representação. Esta posição vai determinar um interesse
particular por certos aspectos do objecto e um desinteresse
relativo por outros aspectos. Este fenómeno de focalização vai
impedir que os indivíduos tenham uma visão global do objecto.
ƒ Necessidade que sentem os indivíduos de desenvolver
comportamentos e discursos coerentes a propósito de um objecto
que conhecem mal. É o fenómeno da pressão à inferência que
favorecia a adesão dos indivíduos às opiniões dominantes do
grupo.
Ô Estas três condições seriam necessárias para a emergência de uma
representação social. Trata-se de elementos que vão diferenciar o
pensamento natural nas operações, na lógica e no estilo.
9 3ª Ö Ao nível dos processos de formação das representações, a objectivação e a
ancoragem. Estes processos dão conta da interdependência entre actividade
cognitiva e condições sociais.

5 – ANÁLISE PSICOSSOCIOLÓGICA DA REPRESENTAÇÃO SOCIAL

• As condições sociais em que nos locomovemos determinam não só o que pensamos, mas também,
como pensamos
• Há um acordo em abordar a representação social como o produto e o processo de uma elaboração
psicológica e social do real
• Jodelet
"processos e produtos são indissociáveis, só se pode descobrir a obra nos seus efeitos,
estudar os mecanismos na base da sua produção".

A representação-produto
• Moscovici
Considera cada universo de representações sobre três aspectos:
9 Informação
Ô Diz respeito à soma e organização dos conhecimentos sobre o objecto de
25
representação.
Ô A sua apreciação supõe que se relacione o discurso do sujeito com os
caracteres objectivos do objecto
9 Atitude
Ô Exprime a orientação global, positiva ou negativa, em relação ao objecto da
representação.
Ô A função reguladora é sem dúvida mais importante que a energética.
Ô Aparece como uma espécie de reacção secundária tendo por função orientar
(por antecipação ou comparação) o comportamento através das estimulações
no meio físico e social.
Ô Não só orienta o comportamento como regula as trocas com o meio.
Ô Pode-se considerar o estímulo e a resposta de um sujeito como uma troca,
sendo a atitude o sistema que regula esta troca.
Ô É reguladora e energética, supondo uma estruturação dos estímulos e das
respostas.
9 Campo de representações
Ô Designa o "conteúdo concreto e limitado das proposições sobre um
aspecto preciso do objecto de representação"
Ô Remete-nos para a construção significante que é feita do objecto
integrando e interpretando as informações de que o sujeito dispõe - com a
ideia de uma organização ou de uma hierarquia de elementos.
Ô Gilly
ƒ Relembra que é a propósito do campo de representação que
operacionalmente se encontram maiores dificuldades.
ƒ Se é relativamente fácil apreciar a atitude e a informação "é, pelo
contrário, sempre difícil chegar a um bom conhecimento do
campo. Este último só pode ser apreendido de modo parcial
através dos instrumentos propostos pelo psicólogo destinatário das
respostas construídas".
• Estes três elementos constitutivos da representação social denotam a seu conteúdo e sentido.
• A sua análise torna possível um estudo comparativo dos grupos segundo a homogeneidade ou
heterogeneidade do conteúdo e da estruturação da representação.

A representação-processo
• Moscovici
Põe em evidência dois processos fundamentais que deixam transparecer o modo como o
social transforma um conhecimento em representação e como esta representação
transforma o social, a propósito do estudo de uma teoria científica, a Psicanálise.
Estes dois processos, a objectivação e a ancoragem, mostram a interdependência entre a
actividade psicológica e as condições sociais.
Objectivação
9 É o mecanismo que permite concretizar o abstracto
9 A objectivação reduz a incerteza perante objectos por meio do recurso a uma
transformação simbólica e imagética
9 Jodelet (1983)
Ô A objectivação pode assim definir-se como uma operação imagética e
estruturante."
9 Este processo pode subdividir-se em três fases no caso de um objecto complexo
como uma teoria:
Ô A selecção e descontextualização
ƒ Dos elementos da teoria constitui a primeira fase que vai da
"teoria à sua imagem".
ƒ Procura-se dar um carácter concreto, imagético, mais facilmente
acessível, a noções mais abstractas.
ƒ A selecção é necessária, pois para o produto da representação se
tornar funcional deve limitar-se a alguns elementos acessíveis.
ƒ O fenómeno de descontextualização aparece sobretudo na
transformação das ideias científicas em conhecimento quotidiano.

26
Ô "Esquema figurativo"
ƒ É o núcleo organizador da representação.
ƒ O esquema figurativo forja uma imagem visual de uma
organização abstracta, captando a essência do conceito, da
teoria, ou da ideia que se trata de objectivar.
Ô A naturalização
ƒ É a operação pela qual os conceitos se movem "em verdadeiras
categorias de linguagem e entendimento - categorias sociais
certamente - próprias para ordenar os acontecimentos concretos e
serem abafados por eles" (Moscovici)
ƒ A representação da realidade torna-se realidade da representação
9 A tendência à objectivação posta em evidência a propósito de uma teoria
científica, é caracterizada pela selecção, esquematização e naturalização, e é
susceptível de generalização a toda a representação.
9 Foram recentemente avançadas três propostas mais precisas e menos
descritivas para a análise mais minuciosa do processo de objectivação:
Ô 1º Ö Sugere que o estudo das representações sociais se interesse pela
análise dos discursos sem relação com atitudes socialmente partilhadas.
Ô 2º Ö Põe a ênfase na metaforização, dispositivo específico de
objectivação de objectos estranhos.
Ô 3º Ö Diz respeito à possível generalidade de um efeito específico de
objectivação, a personificação.
Ancoragem
9 Traduz a intervenção da representação no social.
9 Permite transformar o que é estranho em algo familiar.
9 Incorpora o que é estranho mediante a inserção numa rede de categorias e de
redes pré-existentes.
9 O processo de ancoragem não se limita ao conteúdo, mas engloba as actividades
cognitivas de reconstrução e de remodelação, em três direcções:
Ô Utilidade
Ô Significação
Ô Integração cognitiva
9 Articula as 3 funções base da representação:
Ô Função de orientação das condutas e das relações sociais
ƒ A ancoragem como instrumentalização, permite pois
compreender como os elementos da representação não só
exprimem relações sociais, como contribuem para as constituir.
Ô Função de interpretação da realidade
ƒ Constitui-se assim uma "rede de significações" a partir dos
valores salientes na sociedade e nos seus diversos grupos.
Ô Função cognitiva de integração da novidade
ƒ A ancoragem refere-se também à integração cognitivas do objecto
representado no sistema de pensamento pré-existente e às
transformações que daí resultam.
9 Jodelet
Ô A ancoragem e a objectivação que são processos básicos no
engendramento e funcionamento das representações sociais têm uma
relação "dialéctica"
Ô Combinam-se para tornar inteligível a realidade.
9 Moscovici
Ô Emite a hipótese de que modalidades distintas de conhecimento
coexistem num mesmo indivíduo ou num mesmo grupo, correspondendo
a relações definidas do homem ou do grupo com o seu meio.
Ô Esta coexistência dinâmica determina um estado de "polifasia cognitiva".
Ô Este fenómeno relaciona-se com o contacto entre o carácter criador,
autónomo da representação social e os quadros de pensamentos antigos.

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6 – ÁREAS DE INVESTIGAÇÃO

• Quando o investigador se debruça sobre o conjunto dos trabalhos efectuados no campo da teoria
das representações sociais, verifica-se uma grande diversidade dos objectos estudados.
• Jodelet
Esta autora, distingue três áreas de investigação sobre as representações sociais:
9 Uma área que se relaciona especificamente com a difusão dos conhecimentos e
com a vulgarização cientifica no campo social, ou no campo educativo. Esta área
tende para a autonomia nos problemas e métodos.
9 Uma área que integra a noção de representação social como variável
intermediária ou independente no tratamento, a maior parte das vezes
experimental em laboratório, de questões clássicas de psicologia social.
9 Uma área mais ampla, em que as representações sociais são apreendidas em
contexto sociais reais ou grupos circunscritos na estrutura social, mediante
formação discursivas diversas.
9 Entre estas três áreas há pontos de convergência e de divergência:
Ô Jodelet
ƒ pertinência,
ƒ estrutura
ƒ processos de constituição Convergência
ƒ funções.

7 – VARIAÇÕES SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Representações sociais e educação


• Gilly (1989)
O interesse fulcral desta noção no processo educativo é o de nos chamar a atenção para o
papel de “conjuntos organizados de significações sociais”
A investigação nesta área contribui para o estudo da construção e da função das
representações sociais
• Existem dois tipos de trabalhos sobre representações sociais e educação:
Estudos focalizados em instituições, na escola, nos seus agentes
Estudos que abordam representações recíprocas professor-aluno.
• O contexto teórico da representação social aplicado à escola não pode ser evocado de modo
independente de outras constelações de representações sociais, muito em particular as relativas
ao mundo do trabalho.
• Todavia, as representações sociais podem contribuir para a compreensão dos fenómenos
estudados num horizonte mais vasto de significações sociais com que estão em
interdependência.

Estudo experimental das representações sociais: a teoria do núcleo central


• Teoria do núcleo central (Abric, 1987)
Esta teoria articula-se à volta da hipótese geral de que toda a representação está
organizada à volta de um núcleo central.
Este núcleo é o elemento que determina a significação e a organização da representação.
O núcleo central de uma organização tem duas funções principais:
9 Função geradora
Ô Cria ou transforma a significação dos outros elementos da
representação,
9 Função organizadora
Ô Na medida em que depende deste núcleo a natureza dos laços que unem
os elementos da representação.
O núcleo central mais estável da representação, é o que resiste mais à mudança.
Uma representação transforma-se de modo radical quando o núcleo central é posto em
causa e de modo superficial quando há uma mudança do sentido ou da natureza dos
elementos periféricos.
O núcleo central de uma representação social é constituído por dois tipos de elementos,
normativos e funcionais, e os elementos do núcleo central estão hierarquizados.
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Representações sociais da emigração
• A realidade do fenómeno migratório assume por essência contornos muito movediços.
• Uma análise deste real efectuado hoje pode já não ser verdadeira no dia seguinte.
• Qualquer que seja o elemento constitutivo da representação da emigração que se considere,
encontramos no seu seio dimensões em que se encontra uma certa estabilidade temporal e outras
que mudaram, embora em graus diversos
• Parece haver uma maior valorização do fenómeno migratório nas representações sociais da migração
em 1987 que em 1982
Existem 3 aspectos que ilustram isto:
9 Atitude
9 Processo adaptativo
9 Projecto migratório

VI – PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO
• As atitudes indicam-nos o modo como pensamos e sentimos em relação a pessoas, objectos e
questões do meio circundante.
• Podem, também, permitir prever como agiremos em contacto com os alvos das nossas crenças.
• O conceito de atitude está relacionada com graves questões sociais como são os problemas de
preconceito e de discriminação.

2 – DEFINIÇÕES: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO E GRUPOS MINORITÁRIOS

• Preconceito
Pode ser definido como uma atitude favorável ou desfavorável em relação a membros de
algum grupo
Baseada, sobretudo, no facto da pertença a esse grupo e não necessariamente em
características particulares de membros individuais.
Os termos endogrupo e exogrupo são úteis para se tratar do preconceito
9 Endogrupo
Ô Composto pelos sujeitos que uma pessoa categorizou como membros do
seu próprio grupo de pertença e com quem tem tendência a identificar-se.
9 Exogrupo
Ô É composto por todos os sujeitos que uma pessoa categorizou como
membros de um grupo de pertença diferente do seu e com quem tem
tendência a identificar-se.
Estes grupos psicológicos definidos em função dos termos "nós" e "eles" são o produto
de um dos processos mais fundamentais do ser humano, a categorização Î permite-nos
classificar e ordenar o nosso meio físico e social
Origina comportamentos e acções que podem ter sérias implicações não só na vida
quotidiana como no bem-estar da sociedade.
O facto de se definir preconceito como um tipo especial de atitude tem pelo menos duas
implicações:
9 1ª - Pode ser negativo ou positivo
9 2ª - Podemos vê-lo como tendo três componentes principais:
Ô Afectivo Ö sentimentos preconceituados experienciadas
Ô Cognitivo Ö crenças e expectativas acerca dos membros desses grupos
Ô Comportamental Ö tendência a agir em relação a esses grupos

Caso essas intenções se concretizem em acções, estamos então perante a discriminação

• Discriminação
É a manifestação comportamental do preconceito
O preconceito nem sempre leva à discriminação, a discriminação nem sempre leva ao
preconceito (podemos não dar guarida a um estrangeiro devido a pressões sociais, mas nada
termos contra ele, pessoalmente)
O comportamento discriminatório pode assumir diferentes formas:
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9 Nível moderado Ö pode implicar evitamento,
9 Nível acentuado Ö pode levar a excluir de empregos, de escolas, de alojamentos.
9 Nível extremo Ö revestir-se de agressão contra os alvos do preconceito.
• Allport (1954)
Apresentou um modelo das expressões da passagem ao acto do preconceito com cinco
fases:
9 1ª - Anti locução
Ô Conversa hostil e difamação verbal, propaganda racista
9 2ª - Evitamento
Ô Manter o grupo étnico separado do grupo dominante na sociedade
9 3ª - Discriminação
Ô Excluído de direitos civis
9 4ª - Ataque físico
Ô Violência contra pessoas e propriedades,
9 5ª - Extermínio
Ô Violência indiscriminada contra todo um grupo de pessoas (nazis)
• Grupo minoritário
A pertença a um grupo minoritário envolve mais um estado de espírito do que
características numéricas
O que distinguem um grupo minoritário de um maioritário é precisamente o poder relativo
exercido pelos dois grupos
Wagley e Harris - para eles as minorias:
9 São sectores subordinados de uma sociedade,
9 Possuem traços físicos e culturais que são pouco apreciados pelos grupos
dominantes,
9 Estão conscientes do seu estatuto minoritário,
9 Tendem a transmitir normas que encorajam a afiliação
9 Casamento com membros do mesmo grupo.

3 - ALGUMAS CATEGORIAS DE PRECONCEITOS E DE DISCRIMINAÇÃO

• Existem quatro formas de intolerância:


Racismo
9 Intolerância com base na cor da pele ou na herança étnica,
Sexismo
9 Intolerância com base no sexo,
Heterossexismo
9 Intolerância com base na orientação sexual
Idadismo
9 Intolerância com base na idade.

Racismo
• O racismo é "qualquer atitude, acção ou estrutura institucional que subordina uma pessoa
por causa da sua cor ".
• É a forma de preconceito mais estudada.
• A noção de raça tem a sua origem na biologia e designa uma espécie geneticamente distinta de
outras (Osborne, 1971).
• A discriminação com base na cor da pele torna-se pois uma distinção arbitária e confusa (negros +
claros, tendem a discriminar negros + escuros)
• Muitas vezes estas distinções têm mais a ver com distinções étnicas que sociais.

• Grupo étnico
Conjunto de pessoas que têm antepassados comuns pertencentes a uma mesma cultura e
sentimentos comuns de identificação a um grupo distinto.
• O preconceito com base em distinções étnicas denomina-se etnocentrismo:
Quando as pessoas acreditam que o seu grupo étnico é superior aos outros grupos
• O único tipo de preconceito que rivaliza com o racismo, é o sexismo

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Sexismo
• Preconceito e discriminação com base no género
• A investigação sobre sexismo é importante pelo menos por dois motivos:
Ensina-nos algo sobre os mecanismos psicossociais associados ao preconceito geral
Trata-se de uma forma de preconceito que pode afectar um em cada dois seres humanos
• Exemplos de sexismo: oportunidades desiguais na educação, salários diferentes para a mesma
função, etc
• Face-ismo
Diferença da ênfase que a nossa cultura coloca na vida mental para os homens e na
aparência física para as mulheres. (Archer e outros (1983)

Heterossexismo
• É um sistema de crenças culturais, de valores e de hábitos que exalta a heterossexualidade e
critica e estigmatiza qualquer forma não heterossexual de comportamento ou identidade (Bem
1993; Herek 1991).
Idadismo
• Uma maior proporção de pessoas idosas numa sociedade pode suscitar vários problemas
relacionados com o apoio económico, com a saúde, bem como com os papéis na família e na
sociedade.
• Poderá acontecer que as pessoas idosas constituam um peso desproporcionado em relação à força
de trabalho dos mais jovens o que poderá ter como consequência uma competição pelos recursos
entre as necessidades dos idosos e dos jovens.
• Contudo, a forma como os jovens veêm os idosos (eles próprios o serão um dia), varia de sociedade
em sociedade

4 - A FACE MUTANTE DO PRECONCEITO


• Os actos abertamente racistas são relativamente raros.
• Todavia novas formas subtis de racismo, sexismo, heterossexismo e idadismo continuam a surgir e,
porventura, a aumentar.
• Nas sociedades actuais, o racismo é camuflado, sendo mais subtilmente expressado
• Teoria da ambivalência-amplificação
Brancos possuem sentimentos positivos em relação aos negros, mas misturados com
sentimentos negativos. Eles alteram-se consoante as circunstâncias
• Racismo regressivo
Os brancos partilham actualmente uma forma mais igualitária com os negros, que tem
tendência a regredir em situações de stress (voltando a ser discriminatória)
• Racismo aversivo
Brancos escondem o racismo a eles próprios e a pessoas com boas intenções. Os
verdadeiros sentimentos apenas se exprimem quando não podem ser imputados a racismo
(recusar um emprego a um negro, invocando falta de experiência)
• Existem várias formas de detectar o racismo numa investigação:
Bogus pipeline
9 É uma máquina que, através da indução de registar os verdadeiros sentimentos,
capta as reais intenções dos investigados
Tempo de reacção
9 Pode ser utilizado para evidenciar preconceitos escondidos, devido à pronta-
resposta

5 - GÉNESE DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO


• A compreensão da génese do preconceito e da discriminação é necessária para se poderem
utilizar técnicas que permitam erradicá-los.

Abordagens históricas
• Analisar o contexto histórico dos conflitos
E.U.A. Ö escravatura
África do Sul Ö Apartheid
Irlanda do Norte Ö Sectarismo religioso
Profissões de homens e não de mulheres (camionista)
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• Factores económicos.
O preconceito da raça pode ser uma máscara para intenções de exploração

Abordagens sócio-culturais
• Aumento de urbanização (estrangeiros podem ser responsabilizados pela propagação de
determinadas doenças)
• Aumento da densidade populacional
• Mobilidade de certos grupos
• Competição para empregos entre membros de diversos grupos
• Mudanças no papel e função da família.

Abordagens situacionais
• As abordagens da situação examinam os factores do meio imediato da pessoa que causam o
preconceito
• O conformismo tem uma forte influência no preconceito (as pessoas fazem-no para obterem
aceitação social)
• O preconceito nas crianças forma-se através da modelagem e do reforço directo
• Em relação ao preconceitos com os negros, a região demográfica (Sul = + preconceituoso que o
Norte), a idade (velhos = + preconceituosos) e o nível de instrução (menor nível de instrução = +
preconceituosos) têm bastante influência.

Abordagens psicodinâmicas
• Acentuam que o preconceito resulta dos próprios conflitos e desadaptações da pessoa. Trata-
se de teorias fundamentalmente psicológicas, que contrastam com as abordagens anteriores
• Segundo estas teorias, para se modificar o preconceito e a discriminação devemos focalizar-nos
na pessoa com preconceito.
• Existem dois tipos de explicação:
O preconceito é visto como enraizado na condição humana (semelhanças)
Resulta de um tipo de personalidade (diferenças)
Ambas as explicações partilham todavia uma característica comum: são exemplos do que
Pettigrew (1959) chama de externalização:
9 Um indivíduo trata com os seus problemas e conflitos pela descarga ou
projecção noutros indivíduos ou grupos de pessoas Ö as pessoas acreditam que a
causa lhes é externa
• Frustração e agressão
John Dollard, Leonard Dood e seus colaboradores
9 Sustentaram que o preconceito é uma forma de agressão, e que resulta da
frustração
9 Esta interpretação é conhecida como a hipótese do bode expiatório do
preconceito em que membros de grupos minoritários são vítimas inocentes de
agressão deslocada de grupos maioritários (Ex.: imigrantes serem a causa de
desemprego e insegurança no país)
Ao avaliarem as teorias de frustração, Feshbach e Singer (1957) distinguem:
9 Ameaças partilhadas
Ô Possibilidade de haver um ciclone tem como efeito juntar as pessoas
(diminui o preconceito contra os negros)
9 Ameaças pessoais
Ô A perca de um emprego, tem um efeito de escalada no preconceito, tal
como a teoria da frustração prediria.
• Diferenças de personalidade
Adorno e seus colaboradores:
9 Escala Anti-semitismo
Ô Medir as atitudes em relação aos judeus.
Ô O anti-semitismo não é então mais do que uma manifestação de
etnocentrismo
9 Escala F ("F" como facista)
Ô Mede as tendências anti-democráticas dos sujeitos (autoritarismo)
Ô Comporta nove componentes:
ƒ Convencionalismo,
32
ƒ Submissão autoritária,
ƒ Agressão autoritária,
ƒ Anti-intracepção,
ƒ Superstição e estereotipia,
ƒ Poder e dureza,
ƒ Destrutividade e cinismo,
ƒ Projecção,
ƒ Atitudes sexuais puritanas.
Ô Em função dos dados recolhidos, os sujeitos foram repartidos em duas
categorias correspondentes a dois tipos de personalidade:
ƒ A autoridade autoritária
™ Indivíduo que recalcou as suas tendências individuais
™ Tende a projectar sobre os outros as tendências que não
aceita para ele
™ Está muito preocupado pela pureza da sua consciência
™ Mostra uma intolerância rígida em relação aos outros
™ Admira o poder e faz prova de uma dominação excessiva
sobre os fracos e de uma submissão exagerada aos fortes
™ Rokeach chamou a atenção para a sub estimação do
autoritarismo. Defendeu que o autoritarismo pode estar
associado não só à extrema direita como à extrema esquerda.
São pessoas com "mentes fechadas". Elaborou uma escala de
dogmatismo - medir o autoritarismo em si.
™ Hyman e Sheatsley Ö A personalidade autoritária é mais
suscep´tivel de existir entre as pessoas com menor nível de
instrução e com estatuto socio-económico mais baixo
™ Pettigrew Ö valoriza o contexto cultural
ƒ A anti-autoritária

Abordagens cognitivas
• Aspectos de como processamos informação podem estar na origem de preconceitos.
• Quatro espécies de informação podem ser utilizadas para desenvolver o preconceito:
Categorização social (CS)
9 Os indivíduos dividem o mundo em duas categorias: "nós" (endogrupo) e "eles"
(exogrupo)
9 A categorização social, para além de produzir o favoritismo do endogrupo, afecta
as nossas percepções e memória
9 Park e Tothbart (1982)
Ô Os membros do endogrupo tendem a ver os membros do exogrupo como
sendo mais homogéneos e menos diferenciados que os membros do seu
próprio grupo.
9 A categorização social acentua diferenças entre grupos e semelhanças dentro de
grupos.
9 Para certos autores, o viés do endogrupo apoiam indirectamente a auto-estima do
indivíduo criando uma identidade social positiva.
9 A CS cdesempenha um papel na génese do preconceito
9 O paradigma do "grupo mínimo" mostra que a categorização social é só por si
suficiente para suscitar discriminação social.
O poder dos estereótipos
9 Estereótipo
Ô "imagens na cabeça" que temos acerca de membros de um grupo.
9 Um dos objectivos fundamentais da Psicologia Social é a descoberta do modo
como as pessoas compreendem e reagem às outras no seu meio.
9 Os estereótipos acerca de grupos sociais constituem um conjunto importante e
usual de expectativas acerca de outros.
9 São um conjunto de crenças que se associam a grupos sociais (grupos étnicos,
sexuais e etários)
9 Os estereótipos estão armazenados na memória a longo termo. (Stangor e Lange
1994)
33
9 Entre as explicações avançadas para o desenvolvimento dos estereótipos refira-se a
homogeneidade do exogrupo Ö tendência para assumir que há maior semelhança
entre membros dentro de Exogrupo que dentro do endogrupo
9 Tem sido sugerido que muitos casos os estereótipos surgem e mantêm-se
mediante a operação de correlação ilusória Ö consiste em percepcionar uma
relação que não existe realmente entre pertença a um grupo e o facto de possuir
certos traços inusitados.
9 Os estereótipos são fundamentalmente esquema, e interpretamos e relembramos a
informação que confirma os nossos esquemas
9 Outro fenómeno que favorece a estabilidade cognitiva dos estereótipos consiste
na profecia de auto- realização (somos simpáticos porque acreditamos que
determinada pessoa é simpática, o que faz com que essa pessoa aja, efectivamente, de
forma simpática) Ö Crer é ver
Atribuição
9 Atribuição
Ô É o processo de explicar o comportamento
9 Tentativas de explicação de acontecimentos surpreendentes ou negativos podem
ser distorcidos pelo pensamento estereotipado. Duas consequências importantes
são:
Ô Rotulagem enviesada
ƒ Rótulo enviesado descreve o mesmo comportamento de modo
favorável para o endogrupo, e desfavorável para o exogrupo.
Ô Erro irrevogável da atribuição
ƒ As pessoas com preconceitos têm tendência a cometerem este
erro, que é uma extensão do erro fundamental da atribuição.
ƒ Quando as pessoas com preconceito vêem o alvo do preconceito a
executar uma acção negativa, tendem a atribui-la a traços estáveis
dos membros dos grupos minoritários:"lá nasceram assim".
ƒ Todavia quando vêem a executar uma acção positiva, ela não é
atribuída a disposições internas
ƒ Pettigrew
™ Pessoas com preconceitos tratam das acções positivas do
exogrupo, de 4 formas:
¾ O caso excepcional Ö diferenciando-se o actor dos
outros membros dos grupos minoritários
¾ Vantagem especial ou sorte
¾ Os factores situacionais que estão fora de controlo
¾ Alta motivação para o sucesso e esforço
extraordinário
Crenças sociais
9 As crenças são uma fonte importante de atitudes preconceituosas.
9 Alguns preconceitos estão baseados em ideologias religiosas ou politicas.
9 O preconceito pode também apoiar-se em crenças de que o mundo é um lugar justo
9 Lerner (1980)
Ô Notou que muitas pessoas acreditam nesse mundo justo e denominou este
fenómeno de crença num mundo justo Ö Quem sofre merece o seu
sofrimento
9 As pessoas nos países mais pobres tendem a acreditar que o mundo não é um lugar
justo

Alvo de preconceito
• Preconceito e hostilidades intergrupais podem por vezes basear-se em características reais de grupo
Ö Reputação ganha

Quadro integrador de teorias


• Duckitt (1992) Ö quatro causas de preconceito:
São referidos processos psicológicos universais assentes na propensão inerentemente
humana para o preconceito.
Dinâmicas sociais e intergrupais descrevem as condições de contacto intergrupal que
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elaboram esta propensão para padrões normativos de preconceito.
Os mecanismos de transmissão explicam como estas dinâmicas intergrupais e padrões
partilhados de preconceito são transmitidos socialmente a membros individuais destes
grupos.
Dimensões de diferenças individuais determinam susceptibilidade dos indivíduos ao
preconceito e por isso modulam o impacto dos mecanismos de transmissão social sobre os
indivíduos.

6 - CONSEQUÊNCIAS DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO

Reacções das vítimas de preconceito


• Allport
Identificou mais de 15 consequências possíveis do facto de ser vítima de preconceito.
Dentre delas:
9 Afastamento e passividade
9 Militância
9 Agressão contra o exogrupo e auto-aversão
Sugeriu que as reacções podem ser circunscritas a duas categorias:
9 Defesas intra punitivas
Ô São as que implicam auto-culpabilidade Ö membros serão hostis ao seu
próprio grupo
9 Defesas extra punitivas
Ô Colocam a culpa nos outros Ö membros manifestarão lealdade em relação ao
seu próprio grupo e agressividade em relação a outros grupos
• Tajfel e Turner (1979)
Avançam três tipos de respostas:
9 As pessoas podem aceitar com passividade e resignação, muito embora com
ressentimento
9 Podem tentar libertar-se e fazê-lo em sociedade
9 Podem tentar acção colectiva e melhorar o estatuto do próprio grupo
• Taylor e McKirnon (1984)
Traçam modelo de 5 estádios, por forma a mostrar como os grupos tratam com o
preconceito e uma posição desvantajosa na sociedade:
9 Relações grupais claramente estratificadas
9 Emergência de uma ideologia individualista
9 Mobilidade social individual
9 Tomadas de consciência
9 Relações intergrupais competitivas
• Auto complacência
Os indivíduos atribuem o seu sucesso a eles próprios e os seus fracassos a factores
externos.
Contudo, também existe a situação em que membros do grupo preferem censurar-se a eles
próprios pelo fracasso, para evitar censurar outros membros do grupo
• A experiência de preconceito pode ter como resultado um aumento de auto- estima para os
membros dos grupos Ö A discriminação aumenta o sentimento de pertença ao grupo, podendo,
dessa forma, existir uma superioridade da minoria
• A discriminação é pois percepcionada como ameaçadora e em certas circunstâncias as pessoas
discriminadas podem agir contra o grupo dominante (Ex.: negros participantes em motins)

Consequências de racismo sobre racista


• As consequências do racismo não têm unicamente efeitos traumáticos sobre as vítimas do
preconceito e do comportamento racista.
• O racismo tem efeitos sobre todas as pessoas, sejam elas as vítimas, as perpetradoras ou muito
simplesmente os seus observadores.
• Dennis (1981)
Demonstra que a imersão de pessoas numa rede social racista torna difícil para qualquer
pessoa branca evitar a sua influência
• Terry (1981)
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Defende que o racismo mina e distorce a autenticidade das pessoas brancas.
• Karp (1981)
Apoia-se numa perspectiva psicodinâmica, vendo o racismo como um mecanismo de defesa
para lidar com feridas do passado
Karp vê o racismo como um mecanismo de defesa para lidar com feridas do passado
(perspectiva psicodinâmica)
As consequências emocionais do racismo são pesadas: culpa, vergonha, bem como sentir-
se mal em ser branco.

7 - REDUÇÃO DO PRECONCEITO E DA DISCRIMINAÇÃO

Tomada de consciência

Tomada de consciência da pertença a um grupo minoritário


• Técnicas de tomadas de consciência são cada vez mais utilizadas por grupos de mulheres,
negros, idosos e migrantes.
• Este processo tem como objectivo tornar os membros desses grupos sensíveis às influências
opressivas que pesam sobre a sua vida, assegurando-lhes um meio de defesa colectiva.
• Mednick (1975)
Descreve o processo de tomada de consciência pela insatisfação que os indivíduos sentem
da sua condição (Ex.: tarefas domésticas podem tornar as mulheres infelizes por serem
alienantes)
O agente de tomada de consciência tenta propor uma ideologia que permite congregar as
mulheres.
Mostra-se que o sistema social controla o indivíduo sendo responsável pela sua situação
insatisfatória.
A mulher apercebe-se que pode exercer mais controlo como membro de um grupo e este
pode então dirigir uma acção contra o sistema
Há investigação que tem mostrado que os participantes valorizam o seu auto conceito,
adquirem um sentimento de competência e de igualdade (Eastman, 1973).

Tomada de consciência de distinções


• A maior parte das vezes processamos a informação de forma automática e passiva, sem que
façamos as nossas próprias formulações em relação a algo ou alguém
• Langer, Bashner e Chanowitz (1985)
Efectuaram uma experiência que mostra a possibilidade de contrariar essa tendência
através da indução nas pessoas para estarem mais atentas aos outros.
Pôs-se a hipótese de que as pessoas que fossem treinadas a adoptar um estado atento
demonstrariam menor preconceito em relação aos deficientes.
• É possivel que as pessoas tomem consciência dos outros de forma mais activa, em vez de se
contentarem com as distinções pré-estabelecidas

O assimilador cultural
• É uma técnica de sensibilização aos julgamentos correctos a respeito das expectativas de um
grupo ou cultura.
• Permite considerar o mundo social em consonância com o ponto de vista de uma outra pessoa.
• São ensinadas as normas e os modos de vida de outro grupo com o intuito de permitir efectuar
atribuições certas a propósito do comportamento dos membros do outro grupo
• Este tipo de treino cognitivo pode reduzir o preconceito e o pensamento estereotipado

Hipótese de contacto
• Há razões para se pensar que o tipo de contacto intergrupal desempenha um papel importante para
que se efectue com sucesso.
• Vários factores devem ser tomados em consideração:
Igualdade de estatuto social (Ex.: entre homens e mulheres)
Contacto intimo (Ex.: autóctone a trabalhar com imigrante)
Objectivos comuns
Normas sociais que favoreçam a igualdade
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Para além da hipótese de contacto
• Uma das críticas da hipótese do contacto é o ênfase colocado na mudança de atitudes
preconceituosas do grupo dominante, e a ignorância das atitudes dos membros de grupos
minoritários
• Para uma promoção mais eficaz da harmonia intergrupal, os cientistas sociais devem considerar:
As atitudes e crenças dos membros dos grupos minoritários
As crenças e ansiedades de todas as pessoas envolvidas no contacto intergrupal

Contacto vicariante através dos meios de comunicação social


• Os meios de comunicação de massa têm, por um lado, intencionalmente, outras vezes de modo
inadvertido, mantido estereótipos e preconceitos.
• Embora, hoje em dia, não sejam tão extremistas, continuam a evidenciar retratos negativos de várias
minorias e mulheres
• Como é que se podem mudar atitudes negativas em relação a minorias que são alvo de estereótipos?
Allport (1954)
9 "O preconceito pode ser reduzido pelo contacto com estatuto igual entre grupos
da maioria e da minoria na prossecução de objectivos comuns".
Aronson
9 Ele a sua equipa desenvolveram uma técnica de aprendizagem que foi
denominada de "técnica do quebra-cabeças".
9 A técnica foi assim chamada porque os estudantes tinham de cooperar par "juntar"
as suas lições diárias.

DesForges
9 Ele a sua equipa sugerem que fornecer uma estrutura na situação de contacto
ajuda a reduzir o efeito de expectativas cognitivas e de esquemas cognitivos
preexistentes
Ô Estádio 1 Ö Expectativa
ƒ As pessoas que sabem que estão para interagir com um membros de
um grupo estereotipado, esperam interagir com alguém semelhante
ao membro típico
Ô Estádio 2 Ö Adaptação
ƒ Contacto cooperativo com estatuto igual com um membro de um
grupo estereotipado negativamente, suscita uma impressão mais
positiva dessa pessoa que a esperada
Ô Estádio 3 Ö Generalização
ƒ A impressão positiva de modo inesperado desse membro do grupo
específico, generaliza-se na um retrato mais npositivo do membro
típico e a uma atitude mais positiva.

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