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Contemporânea
Nota:
Este documento é um texto de apoio gentilmente disponibilizado pelo seu autor, para que possa auxiliar ao estudo dos colegas. O
autor não pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento não pretende
substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questão.
A Universidade Aberta não tem quaisquer responsabilidades no conteúdo, criação e distribuição deste documento, não sendo
possível imputar-lhe quaisquer responsabilidades.
Copyright: O conteúdo deste documento é propriedade do seu autor, não podendo ser publicado e distribuído fora do site da
Associação Académica da Universidade Aberta sem o seu consentimento prévio, expresso por escrito.
Sociedade Portuguesa Contemporânea
Introdução
· A abordagem da sociedade portuguesa, desenvolve-se sequencialmente em torno de 3 grandes
perspetivas temáticas
Tendências demográficas e organização social do território
ª Desenha-se uma perspetiva global da população portuguesa, projetada a partir das
variáveis mais relevantes da observação demográfica e da geografia humana
Desenvolvimento económico e social
ª Concentra-se nos modelos, nas opções e nos constrangimentos que, em matéria de
afetação e distribuição social daqueles recursos, contribuem para determinar o nível e
a qualidade de vida atuais dos portugueses
Morfologia e dinâmicas da estrutura social
ª Visa proporcionar um panorama das principais diversidades que moldam a
composição e as dinâmicas sociais da população portuguesa
· Há o recurso frequente ao longo da exposição, a séries estatísticas que recobrem a evolução dos
indicadores selecionados ao longo de períodos temporais, mais ou menos alargados. Existem 3
ordens de razões:
Perspetivas escalares
ª Comparação de dados recolhidos em momentos diferentes da sequência histórica
(“melhor” ou”pior” do estado presente)
Captação de regularidades
ª Sequências temporais de informação sobre um campo ou processos sociais,
identificando tendências, traduzindo opções históricas e projetando probabilidades
futuras.
Ritmos de evolução
ª Análise sequencial de indicadores que exprimem os graus de continuidade ou de
aceleração, de inércia ou de rutura, inerentes aos processos e às mudanças sociais
1 Célia Silva
TENDÊNCIAS DEMOGRÁFICAS E ORGANIZAÇÃO SOCIAL DO TERRITÓRIO
· Enquanto nos países europeus, em 1960, se acentuavam já os efeitos mais marcantes da chamada
"modernização demográfica" associada ao desenvolvimento das condições económicas, sociais e
culturais (o declínio do crescimento natural e o envelhecimento da estrutura etária), a população
portuguesa caracterizava-se ainda por uma taxa de crescimento natural positiva e por uma estrutura
etária jovem (mas também por uma esperança média de vida muito inferior e um índice muitíssimo
mais elevado de mortalidade infantil do que o dos países desenvolvidos).
· No início do séc. XXI aquela situação encontra-se radicalmente alterada.
Este facto traduz a ocorrência de uma inversão do perfil e dinâmicas fundamentais da
população: o abrandamento constante do ritmo de crescimento natural e envelhecimento
da estrutura etária são hoje, não apenas traços momentâneos, mas tendências consolidadas
da demografia portuguesa.
Para a alteração destas tendências contribuiram:
ò As alterações profundas que afetaram os fatores estruturais da dinâmica demográfica
natural: natalidade, fecundidade, mortalidade, longevidade média da população;
ò A dinâmica migratória que tem contribuído, ora para agravar, ora para atenuar as
consequências efetivas das alterações estruturais da dinâmica natural.
2 Célia Silva
Fecundidade
ò O decréscimo da natalidade articulou-se com o declínio da taxa de fecundidade.
ò A partir da década de 80, o índice sintético de fecundidade passou a situar-se abaixo
de 2,1 filhos por mulher, que é o valor mínimo necessário para assegurar a
substituição de gerações.
NOTAS:
· Índice de envelhecimento
Relação entre a população idosa (=/+65 anos) e a população jovem (0 a 14 anos) por cada 100
indivíduos.
· Taxa de natalidade
Quociente entre o nº de nados-vivos ocorrido num determinado ano e a população média desse
ano, por cada 1.000 habitantes.
· Taxa de mortalidade
Quociente entre o nº de óbitos ocorrido num determinado ano e a população média desse ano,
por cada 1.000 habitantes.
· Taxa de mortalidade infantil
Quociente entre o nº de óbitos de indivíduos com menos de 1 ano de idade num determinado
ano e o nº de nados-vivos no mesmo ano, por cada 1.000 nados-vivos.
· Índice sintético de fecundidade
Nº médio de nados-vivos que cada mulher em idade de procriar (15 a 49 anos) teria, caso se
mantivessem as taxas de fecundidade do ano observado. O nível mínimo necessário para a
substituição de gerações é 2,1.
· Esperança média de vida
Nº médio de anos que restam para viver a um indivíduo no momento do nascimento, caso se
mantenham as taxas de mortalidade observadas nesse mesmo momento.
4 Célia Silva
Nos anos 70
ò Apesar do declínio acentuado do crescimento natural, os movimentos de regresso
de emigrantes e de residentes das ex-colónias portuguesas na 2ª metade da década
deram origem a um saldo migratório positivo e a um acentuado crescimento
efetivo da população
Na década de 80
ò A redução do volume dos movimentos migratórios, conjugada com a redução
constante do crescimento natural conduziu a uma estagnação em torno de um
crescimento médio quase nulo;
Na última década do séc. XX
ò Assistiu-se a uma retoma do crescimento efetivo, com a pop. residente a aumentar
em aproximadamente 450.000 indivíduos em relação a 1991.
ò Com o saldo natural da década bastante inferior a esse acréscimo (seguindo o
declínio iniciado nas décadas anteriores), um saldo migratório positivo de cerca de
360.000 pessoas desempenhou, por isso, papel fundamental nesta nova fase de
crescimento demográfico.
5 Célia Silva
1.4.1.Diferenciações regionais do crescimento populacional
· Predominou em certas regiões a tendência para perder população (mesmo em momentos de
crescimento global positivo), enquanto outras conheceram ganhos populacionais constantes (mesmo
em momentos de crescimento global negativo):
No conjunto dos últimos 40 anos do séc. XX, as regiões do Norte e Centro interiores, o
Alentejo (e também o interior algarvio), caracterizaram-se por decréscimos constantes e
acentuados do nº de habitantes
No sentido inverso, as regiões do litoral continental (com as exceções das regiões Minho-
Lima e do litoral alentejano) conheceram sempre crescimentos populacionais ð Maiores na
região de Lisboa, e menores nas regiões do Porto e do Algarve.
· Dentro dessa marcada assimetria territorial do crescimento demográfico, afirmaram-se
entretanto (especialmente na década de 90) 2 tendências particulares:
O crescimento populacional dos concelhos e freguesias urbanos centrais das regiões
interiores (capitais de distrito ð Viseu, Guarda ou Évora), em contraste com as perdas
acentuadas dos concelhos ou freguesias envolventes;
A perda substancial de populações das cidades de Lisboa e do Porto, em sentido
rigorosamente inverso ao que ocorre nos concelhos periféricos das respetivas áreas
metropolitanas.
7 Célia Silva
1.5.2. Concentração pipulacional e urbanização
· 1960
Apenas 1/3 dos portugueses vivia em localidades com mais de 2.000 habitantes;
· 1991
Essa proporção era de 2/3.
· Os maiores aumentos populacionais verificaram-se nos aglomerados com mais de 10.000 habitantes
· Os maiores decréscimos verificaram-se na população isolada e nos aglomerados com menos de 100
habitantes.
8 Célia Silva
1.5.3. Assimetrias recentes do ordenamento social do território
· Durante séculos, por razões históricas e geográficas, a principal clivagem territorial em Portugal foi a
que opôs, num país predominantemente rural, o Norte Atlântico ao Sul Mediterrânico, grandes
pólos territoriais demarcados por:
Diferenças da paisagem
Formas de exploração agrícola
Tradições culturais
Dinâmica demográfica
Formas de povoamento.
· Os processos de modernização demográfica e social, encetados na década de 60, impuseram como
novo contraste determinante aquele que opõe o litoral ao interior, espaços contíguos e transversais
demarcados entre si por graus opostos de:
Dinamismo
Concentração populacional
Acessibilidade
Desenvolvimento humano.
· À entrada do séc. XXI os seguintes fenómenos apontam para a emergência de uma nova
estrutura, mais fragmentada, de assimetria territorial:
Estagnação da capacidade de atração das áreas de Lisboa e Porto
Crescimento de pólos urbanos de média dimensão (que, no interior, tendem cada vez mais a
absorver a população dos espaços rurais envolventes)
Atravessamento do país por redes de comunicação rápida
· A principal oposição parece, cada vez mais, confrontar:
Pólos urbanos de extensão e densidade variável disseminados por todo o território do país
(associados entre si pelos grandes eixos de transporte, de comunicação e de informação)
Vastos espaços intersticiais de muito baixa densidade demográfica
9 Célia Silva
DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO E SOCIAL
10 Célia Silva
"fundos de coesão"), é também o que, logo a seguir à Irlanda, tem apresentado maior ritmo de
crescimento.
12 Célia Silva
dos serviços sociais e do ensino (funções de responsabilidade) e menos das
funções de enriquecimento (setor financeiro, comércio, turismo, etc), criação
e transmissão (investigação, transportes, telecomunicações).
ª Quanto à repartição do dinamismo económico e do produto gerado, as
disparidades regionais são igualmente apreciáveis e caracterizam-se pelas
seguintes tendências:
ü Apenas as regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve têm apresentado um
nível de PIB per capita superior ao da média nacional
ü Perspetiva territorial mais discriminada
§ 2 sub-regiões - Grande Lisboa e Grande Porto, que concentram 35% da
população portuguesa - representam, por si sós, quase 50% da atividade
económica, e absorvem, em conjunto, aproximadamente 40% do
emprego nacional;
ü Perspetiva global do território
§ Verifica-se uma concentração da produção e do emprego na faixa litoral
entre Viana do Castelo e Setúbal, com prolongamento num segmento
estreito do litoral algarvio
Desemprego
· A partir da década de 80
O desemprego em Portugal acompanhou a evolução nos países da U.E., mas sempre a níveis
mais baixos.
Razões para esse nível mais baixo de desemprego podem ser encontradas:
ª Baixa modernização tecnológica do tecido produtivo (que assim assenta num maior
recurso à mão de obra disponível);
ª Maior limitação legal aos despedimentos em Portugal (razão pela qual os ajustamentos
em tempo de crise se terão feito menos pelo aumento do desemprego e mais pelo
abaixamento dos salários reais).
· Na atualidade
As principais tendências estruturais do desemprego em Portugal são:
ª Elevada taxa de desemprego jovem
ª Elevada taxa e peso proporcional do desemprego das mulheres
ª Crescimento do desemprego de longa duração e do desemprego nos grupos etários
mais idosos.
13 Célia Silva
Mutações e tendências recentes do sistema de emprego
· As transformações mais recentes da economia têm, entretanto, induzido transformações
estruturais dos sistema de emprego com significativo impacto social, nomeadamente:
Desajustamentos qualitativos entre a oferta e a procura de trabalho, com especial relevância
no caso dos jovens (aumento de diplomados desempregados ou empregados em atividades
com requisitos abaixo das suas habilitações)
Acréscimo de formas "atípicas" e precárias de trabalho (aumento do trabalho por conta
própria, aumento dos trabalhadores contratados a termo)
Alterações na duração média do trabalho, nomeadamente com o acréscimo de
trabalhadores a tempo parcial
Taxas de desemprego mais elevadas entre os detentores de níveis de qualificação intermédia
como o 2º e 3º Ciclos (com as menores taxas de desemprego entre os trabalhadores com níveis
de qualificação mais baixos (1º Ciclo) refletindo, afinal, o também menor grau de qualificação
média exigida pela economia portuguesa).
Crescimento económico
· O crescimento económico alarga a base de recursos materiais disponíveis para a satisfação das
necessidades humanas.
· Crescimento do PIB, devido:
Processos de modernização
Abertura económica
· O crescimento do rendimento nacional estreitou o fosso entre o nível e qualidade de vida médios dos
portugueses e os dos outros povos europeus (a persistência de disparidades importantes não deixa de
ser resultado das vulnerabilidades e dos atrasos da economia nacional em relação à dos países
economicamente mais desenvolvidos).
Políticas sociais do Estado
· O crescimento do rendimento nacional não se reflete numa evolução correspondente do
desenvolvimento social e humano.
Um dos fatores condicionantes dessa relação são as políticas do Estado, cujas opções e ações
influenciam o modelo de crescimento e a política de distribuição dos recursos que resultam
14 Célia Silva
do desenvolvimento económico
· Indicadores das opções do Estado nesta matéria são:
Rácio da Despesa Pública
ò Parte do rendimento nacional que, por via dos impostos, é afetada a despesas do
Estado;
Taxa de afetação social
ò Parte da despesa pública que é investida em setores sociais como a educação, a saúde
ou a proteção social.
· Em Portugal, a intervenção social do Estado caracteriza-se por uma política de fornecimento de bens
e de serviços públicos orientada para a cobertura de toda a população
Esta orientação consolidou-se, depois do 25 de Abril de 1974:
ò Pela consagração jurídica do princípio da universalidade e gratuitidade do acesso à
maioria dos bens e serviços públicos fundamentais (que assim passaram a ser
reconhecidos como direitos sociais);
ò Pelo crescimento constante da despesa pública com os respetivos setores.
· Instituiu-se assim em Portugal um Estado-providência a cuja ação se deve parte importante da
evolução positiva dos indicadores de desenvolvimento humano nas últimas décadas do séc. XX.
· Contudo, os atrasos de partida, o caráter semiperiférico e a inferior produtividade da economia
portuguesa tendem a traduzir-se na insuficiência dos recursos do Estado face à ampliação das suas
responsabilidades sociais e, por isso na debilidade quantitativa e qualitativa de algumas das
contribuições e serviços prestados.
Esta situação torna especialmente agudas em Portugal as dúvidas (e a consequente
controvérsia política) - também suscitadas nos países desenvolvidos em que mais cedo se
instituiu o chamado Welfare State ("Estado-providência" ou "Estado de bem- estar")
Quanto à sustentabilidade financeira desse modelo (face a uma população com um dos mais
baixos rendimentos per capita da U.E), as prestações e os gastos sociais nunca chegaram
sequer a atingir níveis quantitativos e qualitativos comparáveis aos daqueles países.
Saúde
· A evolução das condições de saúde dos portugueses pode ser avaliada pelo comportamento dos
seguintes indicadores fundamentais:
Taxa de mortalidade infantil
ò Apesar da queda generalizada neste indicador, têm persistido assimetrias regionais,
com as áreas do interior Norte e Centro e dos Açores situando-se significativamente
acima da média nacional;
Esperança média de vida
ò Apresenta um crescimento constante, mas com valores ainda inferiores à média dos
países da U.E.
· Do ponto de vista dos cuidados de saúde, esta evolução pode ser associada:
À expansão da assistência materno-infantil (nomeadamente ao crescimento do nº de partos
medicamente assistidos)
À universalização dos programas de vacinação
À expansão da oferta e da procura de serviços de saúde (crescimento do nº de profissionais e
estabelecimentos, crescimento do recurso aos estabelecimentos de saúde).
O principal agente do sistema de saúde português é o Serviço Nacional de Saúde,
implementado depois de 1979
ò Sistema público que concentra a maioria das entidades prestadoras e dos profissionais
Apesar da cobertura nacional da rede de unidades de saúde, a distribuição dos recursos
físicos e humanos apresenta significativas disparidades regionais (com vantagem para os
maiores centros urbanos do litoral).
Quanto ao financiamento das despesas com a saúde, a componente pública do
financiamento tem sido a mais baixa dos países da U.E. (sendo a taxa de participação
privada - maioritariamente das famílias - a mais elevada).
De notar porém que:
ò A percentagem da despesa pública com a saúde permanece inferior à média dos países
da OCDE
ò Em Portugal, em relação àqueles países, a política de saúde tem privilegiado as
15 Célia Silva
transferências monetárias a título de compensação dos orçamentos familiares
(especialmente na comparticipação em medicamentos) em detrimento do investimento
em serviços e equipamentos.
Proteção Social
· Em Portugal, a Segurança Social assegura a atribuição de prestações monetárias aos indivíduos e
agregados elegíveis para compensação devido à ocorrência de eventualidades adversas.
· Desde 1960
Assistiu-se a um alargamento dos mecanismos de proteção social:
ò Tanto na dimensão pessoal ð Integração constante de novos beneficiários até ao
ponto duma verdadeira universalização do sistema durante os anos 80;
ò Como na dimensão material ð traduzida na diversificação das eventualidades e
situações cobertas.
· Dois problemas interdependentes caracterizam o sistema de segurança em Portugal:
O facto das prestações serem, em média, muito baixas;
O facto do crescimento das despesas resultantes da expansão e universalização das
prestações, não ser acompanhado por um crescimento correspondente das receitas
provenientes das contribuições sociais ð desfasamento que tem sido crescentemente
compensado pelo financiamento do sistema através do Orçamento do Estado.
ò Esta situação de insuficiência pode ser imputada a vários fatores de natureza
demográfica e económica, tais como:
ü O facto de muitos pensionistas que beneficiaram da universalização do sistema
não terem tido uma carreira contributiva;
ü O aumento constante da percentagem de pensionistas reformados em relação ao
nº de contribuintes ativos (resultado do abaixamento da natalidade e do aumento
da esperança média de vida);
ü A persistência de um desemprego estrutural que se reflete tanto no aumento dos
encargos como na diminuição da base contributiva.
Educação
· Década de 60
Portugal detinha uma das mais altas taxas de analfabetismo da Europa (30%).
Só 1/3 da população frequentara a escolaridade básica e menos de 1% tinha um diploma do
ensino médio ou superior.
· Décadas seguintes
Foram marcadas pela generalização da escolaridade obrigatória
Marcadas pela expansão do acesso ao ensino secundário e superior ð Teve como
consequência o aumento do nº de cidadãos que dispõe dum grau de instrução formal.
· Contudo, continuam a persistir grandes fragilidades, comparativamente a outros países da UE:
Mais de ¾ da população tem como habilitação máxima o nível de ensino básico (% superior à
de todos os países da UE)
Baixo peso da população habilitada com o ensino secundário ou ensino superior;
Mais baixa taxa de frequência do ensino pré-escolar;
Mais elevada taxa de analfabetismo (10,3% em 1997).
· Um indicador que ganha importância com o declínio do analfabetismo é o de literacia (capacidade
para utilizar efetivamente as capacidades de leitura e de cálculo nas situações da vida quotidiana)
O perfil geral da literacia no país é bastante fraco, o que denota:
ò O grande atraso histórico da escolarização
ò O baixo nível de competências requerido por um sistema económico onde
predominam os lugares profissionais de baixa qualificação.
· Últimas décadas do séc. XX
Alteração profunda na composição da população escolar segundo os sexos, com especial
relevância no ensino superior.
ò A taxa de mulheres a frequentarem este nível de ensino é atualmente superior à dos
homens
ò Nos grupos etários mais jovens, os diplomados do ensino universitário são
maioritariamente de sexo feminino.
16 Célia Silva
Cultura
· A evolução e a situação do nível cultural dos portugueses apresentam naturais homologias com as de
nível educacional
Um constante progresso não diluiu, no final do séc. XX, o efeito dos profundos atrasos de
partida em relação aos países mais desenvolvidos da Europa.
· Os indicadores como a prática de leitura, a visita a museus, a frequência de espetáculos culturais
permanecem baixos e revelam marcadas assimetrias regionais e sociais ð concentração dos
valores mais altos em Lisboa e Porto e entre os grupos sociais de mais alto nível económico
Conforto e bem-estar
· Habitação e características dos alojamentos
A evolução do parque habitacional edificado se tem em geral caracterizado por um
rejuvenescimento (mais nítido na Região de Lisboa e Vale do Tejo. menos nítido no Alentejo)
As principais carências em termos de qualidade habitacional situam-se sobretudo em 2 tipos
de espaços:
ò Nas zonas periféricas das maiores cidades
ü Habitadas predominantemente por famílias de escassos recursos ð Condições
ambientais degradadas e alojamentos de precária qualidade material
ò Nas zonas dos centros históricos das cidades
ü Habitadas por uma população envelhecida ð Predominam as rendas muito
baixas e o mau estado de conservação dos imóveis antigos.
A atenuação daquelas situações tem resultado sobretudo da intervenção pública, através de:
ò Promoção de sistemas de crédito e de poupança para a aquisição de casa própria;
ò Incentivos à construção de novos fogos para a venda a preços acessíveis;
ò Programas de realojamento em habitação de custos controlados ou de recuperação do
parque habitacional.
· Condições básicas de conforto dos alojamentos
Evolução profundamente positiva
Disponibilidade de água canalizada e instalações de banho, acesso à rede elétrica
ò Caracterizou-se pela aproximação a taxas de cobertura próximas dos 90 ou 100%.
ò Contudo, as condições básicas de alojamento continuam a ser mais favoráveis na
região de Lisboa, e ainda nos aglomerados com 10.000 e mais habitantes.
· Disponibilidade de bens de equipamento
Acesso da maioria da população a bens de equipamento individuais associados à melhoria das
condições básicas de vida (aquecimento, frigorífico, arca congeladora, máquina de lavar
roupa, telefone, automóvel)
A disponibilidade de equipamento de introdução mais recentes (por ex, micro-ondas)
desenvolve-se rapidamente, o mesmo se passando relativamente a bens relacionados com a
cultura ou a distração (alta-fidelidade, vídeo, computador, etc)
ò Evolução mais rápida ð Região de Lisboa e Vale do Tejo (menos envelhecidas
demograficamente)
ò Evolução menos favorável ð Regiões Centro e Alentejo
18 Célia Silva
Disparidades regionais do desenvolvimento económico-social
· A evolução globalmente positiva dos diversos indicadores de desenvolvimento humano e social da
população portuguesa nas últimas 4 décadas do séc. XX, foi acompanhada por uma atenuação das
disparidades regionais relativamente às condições desse desenvolvimento (traduzida numa maior
aproximação de todas as regiões em relação á média do país).
Uma parte significativa da atenuação desses contrastes no que respeita aos níveis de
desenvolvimento humano e social, pode ser imputada às:
ò "Transferências de redistribuição" ð Processo em larga medida determinado por
políticas distributivas do Estado central, as quais (através, por ex, das prestações
sociais, das transferências de impostos para a administração local ou dos
investimentos em infraestruturas), asseguram uma canalização de parte dos recursos
públicos para as regiões menos desenvolvidas
· Década de 90
Tendência para a diminuição da dispersão dos rendimentos dos agregados familiares das
diferentes regiões em relação à média nacional.
ò Para tal tem contribuído de forma crucial o crescimento acentuado das regiões
autónomas dos Açores e da Madeira (nível de rendimento médio mais baixo)
Persistência dum desequilíbrio marcadamente favorável na região Lisboa e Vale do Tejo no
que respeita à distribuição espacial do rendimento (devido a situar-se sempre acima da média
nacional)
· Uma perspetiva mais completa e integrada da evolução comparativa do grau de desenvolvimento
humano das diferentes regiões do país é a que fornece o Índice de Desenvolvimento Económico-
Social (IDES), construído pela ponderação de 4 indicadores:
Nível de longevidade ð Definido pela esperança média de vida
Nível de educação ð Definido pela taxa de alfabetização
Nível de conforto ð Definido pela cobertura de água, eletricidade e instalações sanitárias
Nível de vida ð Definido pelo PIB.
· A nota mais marcante dessa evolução ao longo dos últimos 40 anos do séc. XX, foi, o esbatimento
das assimetrias regionais mais profundas do desenvolvimento humano em Portugal
Se se considerarem 3 grandes níveis de desenvolvimento medidos pelo IDES:
Regiões mais desenvolvidas,
Regiões de desenvolvimento intermédio
Regiões menos desenvolvidas
a análise da evolução da situação e da posição relativas das grandes regiões do país depois de
1970 mostra, ao mesmo tempo:
ò A evolução positiva de todas as grandes regiões
ò A permanência da posição especialmente privilegiada da Região de Lisboa e Vale do
Tejo, à qual se juntou, nos anos 90, a Região do Algarve.
· Entrada séc. XXI
Liderança do IDES por parte dos concelhos que integram a Grande Lisboa e, em menor grau,
o Grande Porto.
Os índices mais elevados de desenvolvimento humano (IDH) concentram-se em concelhos
do litoral, enquanto a grande maioria dos concelhos localizados no interior do Continente, no
Alentejo e na Madeira registam os níveis mais baixos.
19 Célia Silva
MORFOLOGIA E DINÂMICAS DA ESTRUTURA SOCIAL
· A modernização das estruturas sócio-demográfica e sócio-económica foi naturalmente acompanhada
por alterações importantes na composição social da população portuguesa.
· Quanto ao desenvolvimento económico e à reestruturação das atividades produtivas eles implicaram
uma reestruturação da estrutura profissional e ocupacional.
· Esta deslocação determinou uma recomposição significativa da estrutura de classes da sociedade
Portuguesa:
Declínio de categorias sociais cujas práticas e cujos valores desempenhavam papel
determinante na configuração anterior da sociedade e com o protagonismo emergente de
outras:
ò Especialmente das novas classes médias urbanas formadas pelos efeitos
convergentes da terciarização, da urbanização e da escolarização.
Reconfiguração da situação sócio-profissional das mulheres com impactos vastíssimos nos
comportamentos e nas formas de organização da vida social.
· Estas dinâmicas conduziram a uma reorganização geral das aspirações sociais (das necessidades, das
expectativas e dos projetos de vida) dos portugueses.
· Portugal do início dos anos 60
Prevaleciam ainda os valores duma sociedade tradicional pouco permeável à mobilidade,
demograficamente dominada por um campesinato pobre e pouco escolarizado:
ò Valores como o "respeito" incondicional pelas hierarquias tradicionais - familiares,
sexuais e de classe;
ò Correlativamente, prevaleciam os modelos de consumo centrados na escassez de
recursos e na valorização da poupança (valores que, expressamente assumidos pela
doutrina oficial do Estado Novo, se articulavam estreitamente com a ideologia
autoritária e tradicionalista que, sob esse regime, fundava a organização política do
país).
· As mudanças sociais ocorridas (potenciadas pela abertura ao exterior através do turismo ou da
emigração, pela escolarização crescente, pela expansão dos meios de comunicação social e pela
própria instituição da democracia política a partir de 1974), arrastaram consigo a difusão
generalizada de sistemas de preferências mais orientados para:
A relativização simbólica das distinções sociais intransponíveis,
A afirmação do direito de cada indivíduo à realização pessoal,
A adoção de modelos de consumo e de estilos de vida comuns às sociedades mais
desenvolvidas.
· Principais tendências demográficas
Declínio da fecundidade envelhecimento da estrutura etária, articularam-se com os efeitos
da modernização social e cultural e contribuíram para:
ò A emergência de novas clivagens estruturais ð como a que se exprime no peso
crescente das classes mais idosas,
ò A reconfiguração de estruturas sociais de base ð como a que afetou a estrutura e as
relações familiares.
· Alterações demográficas
Intensos fluxos migratórios internos e externos, que proporcionaram (fora e dentro do país)
o contacto entre populações de origens locais e étnicas diferentes;
ò Com eles (ao mesmo tempo que emergem situações de recombinação e de pluralismo
culturais) foram-se tornando mais complexos os elementos tradicionalmente
estruturantes da pertença e da identidade cultural portuguesas (sejam os que se
organizam em torno da unidade histórico-geográfica, linguística e religiosa do país,
sejam os que se enraízam em tradições regionais de caráter secular).
21 Célia Silva
3.1.3. A profissionalização da população feminina
· Uma das transformações mais importantes ocorridas na estrutura sócio-profissional no período
que decorreu de 1960 até ao início do séc. XXI, foi:
Explosão da participação das mulheres na atividade profissional
ò Evoluindo, nesse intervalo de tempo, de pouco mais de 10% para cerca de 50%, a
taxa de atividade feminina é, hoje, em Portugal, superior à de muitos países
europeus.
ò Tal deveu-se à presença do sexo feminino se ter tornado dominante nos níveis mais
elevados de ensino
ò A inserção massiva das mulheres na atividade profissional implicou alterações de
vulto nas práticas e nos valores associados á divisão sexual do trabalho.
· Não se pode ignorar que, nas formas tradicionais de organização do trabalho (pequena agricultura
tradicional, pequeno comércio, atividades artesanais – 1960 e em certas área de 2001), é o próprio
grupo doméstico que se constitui habitualmente como unidade de produção, integrando quase sempre
uma decisiva componente de trabalho feminino (trabalho doméstico e não só).
· A explosão da participação das mulheres no mercado formal de trabalho corresponde:
À modernização da estrutura económica e produtiva
Sintonização progressiva da sociedade portuguesa com uma tendência própria das economias
capitalistas que é a da constituição duma esfera profissional claramente diferenciada do
espaço doméstico (fenómeno social que estará também, entre outros fatores, na base de
transformações das formas de organização familiar).
· Quando se consideram a distribuição e a incidência da participação das mulheres nos diversos
setores de atividade da economia, pode observar-se que, sob a generalização da profissionalização
formal, ocorrerão processos com significado e impacto sociais muito diferenciados, de acordo com os
contextos de trabalho e com os perfis geracionais e educacionais da população feminina.
· Setor secundário
A presença dos homens tem permanecido sempre superior à das mulheres, verificando-se o
inverso nos setores primário e terciário.
· Setor primário
O aumento da % de mulheres traduzirá, sobretudo, uma nova repartição familiar da atividade,
caracterizada pela deslocação dos homens do trabalho agrícola para outras atividades
principais, ficando para as mulheres, em geral as mais idosas e com mais baixa ou nenhuma
escolaridade, a responsabilidade pela pequena agricultura complementar de subsistência.
· Setor terciário
A predominância do trabalho feminino terá acompanhado o incremento dos níveis de
escolarização das mulheres mais jovens, população que encontra nas atividades dos Serviços
uma colocação mais ajustada às suas qualificações e expectativas (com especial incidência em
ocupações ligadas ao Ensino, à Saúde e aos Serviços Sociais).
· Outros indicadores (por ex, o facto de as mulheres serem ainda minoritárias em categorias
profissionais como as dos "Quadros superiores e dirigentes"), sugerem que a recomposição sexual da
atividade profissional se terá refletido mais acentuadamente na distribuição da população masculina e
feminina pelas ocupações disponíveis do que numa reorganização da estrutura dos poderes
profissionais, tradicionalmente mais favorável aos homens.
26 Célia Silva
· Constata-se assim que, até aos anos 90, o perfil das comunidades estrangeiras em Portugal traduziu
genericamente a polarização de 2 tipos de movimentos imigratórios qualitativamente
contrastantes quanto às suas características sociais e ao tipo de inserção construída na estrutura
sócio-económica do país:
1º Grupo
ª Mão de obra pouco qualificada e precária, com origem predominante nas ex-colónias
portuguesas de África, cuja inserção se fez em geral nos lugares mais desfavorecidos
da estrutura social portuguesas;
2º Grupo
ª Com origem dominante na UE e no Brasil, de indivíduos qualificados e bem
remunerados cuja inserção se realizou nas posições mais elevadas dessa estrutura.
Na viragem para o séc. XXI, a explosão duma intensa corrente imigratória com origem
em países da Europa de Leste (nomeadamente na Ucrânia, na Moldávia e na Roménia), na
sequência da crise económica e social (países antes integrados na extinta União Soviética ou
na sua esfera de influência), veio tornar ainda mais plurifacetada a realidade social e cultural
dos estrangeiros presentes em Portugal.
ª Tratando-se em geral de indivíduos com níveis relativamente elevados de instrução,
têm sido recrutados para as atividades mais desqualificadas do mercado de trabalho,
quase sempre em situações de clandestinidade que agravam a insegurança, o
isolamento e a privação social que, pelo menos nesta fase inicial do ciclo migratório,
têm caracterizado a sua presença em Portugal.
Na composição do mosaico das minorias étnico-culturais, há que assinalar a importância
da etnia cigana, cujo nº de membros se estima situado entre os 40.000 e 50.000 indivíduos
espalhados por todo o país.
ª Ainda que tratando-se de cidadãos nacionais cuja presença remontará possivelmente
ao séc. XIV, a sua forte singularidade cultural foi objeto, em Portugal como noutras
partes do mundo, duma secular tradição de discriminação social e jurídica.
ª Originalmente nómadas, os ciganos integraram-se tradicionalmente em áreas
intersticiais da vida económica. como o pequeno artesanato e o comércio itinerante,
mas essa base de subsistência tende hoje a extinguir-se com o declínio do mundo rural
e com a crescente formalização das transações económicas.;
ª Este facto que, numa comunidade marcada pela forte incidência de pobreza e de
analfabetismo, propicia, o recurso a estratégias marginais ou ilícitas de sobrevivência
ü Reforçando a estigmatização que recai sobre o conjunto da comunidade, e até
servido de pretexto - em contextos de vizinhança com populações não ciganas -
a formas ativas de animosidade e de discriminação violenta dirigidas contra os
seus membros.
27 Célia Silva