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PRIMEIRO EXERCÍCIO (EE.

45-54)

“... movendo mais os afetos com a vontade” (EE.50)

O sentido do pecado para o cristão faz referência a uma relação e não a uma lei.
O pecado surge na Bíblia, em 1º lugar, como ruptura de uma ALIANÇA com o Senhor.
O pecado não é, em 1º lugar, uma infração à Lei, nem uma falta contra nós mesmos, mas
uma ruptura de Amor.
A Bíblia põe em evidência a situação do pecador como sendo, radicalmente, uma situa-
ção de fechamento, de bloqueio, de ruptura de relacionamentos... É uma recusa a viver
e amar.

O PECADO é colocar um grande “NÃO” diante do grande sentido da Vida:


- não louvar: cegueira diante dos dons; frieza; incapacidade de agradecer, de maravilhar-se...
- não reverenciar: partir para longe da presença de Deus; errante;
- não servir: auto-suficiência, soberba...

É a atitude pela qual nos fazemos o centro e só vemos as “coisas” em relação a nós; ao invés de dirigir o
olhar para a plenitude, dirigimos para nós mesmos.
PECADO é o ato da liberdade que se fecha a si mesma.
O homem “organiza” a vida sem levar em conta o plano de Deus; dá as costas para Deus, cri-
ando um outro projeto fundado sobre o poder, riqueza, status...
É o egoísmo levado às últimas consequências: amor a si mesmo até o desprezo de Deus.
O ser humano cria em torno de si um círculo de morte e destruição (fracasso). Estrutura de pe-
cado. É a longa história humana feita de nossos desejos ambíguos, dos medos que nos retém,
de buscas de nós mesmos, de instintos mal dirigidos.

Por isso, é necessário descer mais profundamente para descobrir o mal interno, ali onde se instala a
divisão: no coração do ser humano.
O pecado é algo que está historizado mas que se assenta sobretudo no coração.

Meditações inacianas (EE. 45-54)

- mais afetivas que racionais: “o afetivo é o efetivo”; trata-se de re-orientar os afetos;


- visam uma transformação: esta não surge por simples reflexão.

O fato de sermos pecadores cria em nós uma resistência para reconhecermos como tais; daí a dificuldade
de rezarmos sobre o pecado.
Aqui entra a tática de S. Inácio: parte do universal (pecado dos Anjos, de Adão e Eva, de uma pessoa
qualquer) até chega ao pecado pessoal. Essa é uma estratégia que que-
bra a nossa resistência e medo em considerar o pecado.

Percebemos que há uma solidariedade no pecado: fazemos parte de uma história de infidelidades.
Somos um elo.
“Pecado dos Anjos”, “pecado de Adão e Eva”: através destas meditações, ir à raiz do pecado;
e a raiz é o não reverenciar: soberba.
“Liberdade”, “reverência”, “obediência”, “soberba”: nestes conceitos está em jogo todo o tema
do pecado. Trata-se, nada menos, que a
“descomposição” do PF, o desajuste. É
a perda da identidade.

EE. 45: S. Inácio não fala de “3 pecados”, mas “considerar o primeiro, o segundo e terceiro peca-
dos”, dando com isso certa trama histórica do mal; situação de pecado que me rodeia e na qual
me sinto implicado.

EE. 46: oração preparatória (retomada do PF).


“Puramente ordenadas” qualifica aquilo que precede (ações, operações) e o que a se-
gue: a exclusividade no serviço do Reino.
O puro é sem divisões, sem misturas, sem reservas, sem apêgos.

EE. 47: 1º preâmbulo – “Composição vendo o lugar” (o objeto do verbo “compor” não é o lugar,
mas o exercitante; o exercício do VER tem uma finalidade de ajudar a uma
compostura interior; o que se compõe não é o lugar mas a pessoa mesma do
orante; estar diante do Mistério requer uma compostura, uma atitude de res-
peito, acatamento...).
O pecado nos introduz numa situação alienante:
- “cárcere” (ausência de liberdade);
- “desterro” (solidão);
- “brutos animais” (deformação).

EE. 48: 2º preâmbulo – “Pedir o que quero e desejo” (dimensão do coração, centro da pessoa e sede
das decisões vitais).

* “Vergonha” – “a graça da vergonha” ou “vergonha enquanto graça” é a expressão desse


contraste entre o Amor fiel de Deus e a minha infidelidade;
- “vergonha reconstrutora” do ser a partir de uma humildade radical e ao mes-
mo tempo confiada: suscita, desperta o desejo de mudança, diante da bon-
dade de Deus;
- “vergonha” que não se limita a uma lamentação do passado, mas é impulso
para o novo;
- é a “vergonha” ante o Amor inteiramente imerecido e no entanto incondicio-
nal; quando descubro com assombro o Amor que se me dá e que não mere-
ço;
- “vergonha” que brota emocionadamente empapada de confiança na fidelidade
do Amor que se me dá, que me abre à Vida, e que me salva de todo tipo de
angústia destrutiva ou traumatizante;
- a distancia entre o Deus fiel e a minha infidelidade considerada em si mesma
nos paralisa; a partir de Deus nos impulsiona.
Há diversos tipo de vergonha que não são graça:
+ “vergonha negativa” que é rebaixadora da pessoa;
+ “vergonha” por complexos, culpabilidade, retraimento...
Vergonha, em seu sentido saudável, conforma e forma o coração, dá fundamento à consciência moral,
protege a intimidade e qualifica o amor aos outros. Por ocupar os espaços mais profundos de
nosso ser, ela nos dá uma consciência de nossa pessoa.
Uma vergonha saudável que reforça o amor central é o fundamento para uma boa auto-estima.
Como tal, ajuda a construir a própria imagem e a modificar positivamente o caráter, a estrutura mesma
da personalidade.
Talvez, em alguns momentos, esta vergonha nos manifesta um sentimento de desaprovação para
indicar-nos que o que fazemos nos faz menos respeitáveis do que desejaríamos. É a ocasião de mudar
para melhorar certos aspectos de nossa vida.
O contrário é a “vergonha-humilhação” que nos faz sentir um conjunto de impressões afetivas que nos
levam a prestar mais atenção no outro que nos observa e que nos provoca a sensação de incomodidade,
de não estar bem por causa da impressão que nos parece que o outro tem de nós. Ela desemboca no
desprezo de si mesmo.

* “Confusão”- confusão segundo Deus; leva ao arrependimento;


- esta confusão revela confiança no perdão e desemboca numa ação de graças
pela misericórdia de Deus;
- significa reconhecer-se ingrato diante de tantos dons recebidos;
- é a mesma confusão do mendigo diante de uma esmola grande.

Textos bíblicos: 1) Apoc. 12,7-10 2) Gen 3 3) 2Sam. 11 e 12 4) Is. 5


5) Os. ll 6) Is. 59,1-15 7) Tg. 5,1-6

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