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Dentística II: FUNDAMENTOS DA DOENÇA CÁRIE E DA SUA LESÃO

Cárie dentária
- doença em nível pessoal (dependendo do comportamento de cada indivíduo) em
que ácidos produzidos a partir da fermentação de carboidratos por uma microbiota
supragengival simbiótica (biofilme) resulta em desmineralização ou destruição de
superfícies dentárias suscetíveis
- O termo cárie é frequentemente utilizado para descrever a manifestação da
progressão da doença. No entanto, a doença pode ser melhor compreendida como
uma alteração desfavorável do equilíbrio desmineralização-remineralização na
interface esmalte-biofilme (inobservável)
- bastante frequente, porém diminuiu muito ao longo dos anos
- se torna visível a lesão de cárie (sinal, sequela)

- Etiologia
- hospedeiro (fatores que contribuem diretamente para o aparecimento de
lesões)
- biofilme (microrganismo com propriedades acidogênicas e acidúricas)
- frequente exposição a carboidratos fermentáveis
- Tempo

- Fatores pessoais (fluxo salivar)


- Fatores ambientais (uso de fluoretos, goma de mascar)

Processo de cárie : resulta da interação dinâmica entre o biofilme dentário e a


superfície/subsuperfície dos dentes, em favor da desmineralização

A lesão da cárie é a manifestação clínica do processo em um estágio avançado no tempo

Processo de cárie
Tecidos dentários x meio oral equilíbrio dinâmico
- Biofilme presente não necessariamente se relaciona a doença
- lesão de cárie = dentre outros fatores, biofilme estagnado
- só vai ocorrer cárie se houver uma saturação e que a quantidade de saliva não seja
suficiente para resolver o problema de tamponamento
- Biofilme: comunidade microbiológica funcional e estruturalmente organizada
- película adquirida - filme acelular e orgânico(proteínas e glicoproteínas)
- bactérias pioneiras - estreptococos (S. sanguis, S. Mitis, S. Oralis)
- Com-adesão de bactérias secundárias (Actinomyces e Fusobacterium)
- Multiplicação celular e síntese de PEC (metabolismo de sacarose)
- encapsulamento das bactérias em matriz gelatinosa

Aumento de atividade bacteriana (açúcares, saliva)


- seleção de bactérias acidogênicas (produz ácidos) e acidúricas (sobrevivem em
ambientes ácidos) e adaptação
- alteração do equilíbrio DES-RE
- Início da lesão esmalte mais poroso e rugoso
- ph>5,5 neutralização do ph é possível que os íons se tornam em maior quantidade
(supersaturada) em relação a hidroxiapatita
- ph<5,5 ph crítico uma subsaturação dos íons cálcio e fosfato

Flúor presente no fluido do biofilme


- ph entre 5,5 e 4,5 - subsaturação em relação a HA, mas não em relação a FA
- Dissolução da HA, mas formação de FA - redução da DES
- Potencialização da RÉ - com a neutralização pela saliva na presença de flúor, fluido
do biofilme torna-se supersaturado em relação a HA e FA

Estágios iniciais: lesão de subsuperfície


- maturação pós-eruptiva
- maior aporte de cálcio, fosfato e flúor
- película adquirida (semi-permeável, prolina e estaterina > inibem os íons cálcios e
fosfato de maneira deliberada)
- ácidos penetraram pelos espaços inter prismáticos
Resposta a lesão no esmalte (Esclerose dos Tecidos Dentinários)
> Lesão atinge LIMITE AMELODENTINÁRIO - desmineralização acontecendo na dentina
> destruição progressiva da subsuperfície - rompimento do teto em esmalte - não é mais
passível de passar por um processo de remineralização
> Cavitação - decomposição pela ação e enzimas proteolíticas - a bactéria consegue ter
uma proteção a mais, dando prosseguimento a sua evolução

DENTINA
Zona de destruição/necrosada: dentina decomposta e desorganizada (não passível de
remineralização)
Zona de invasão bacteriana: dentina desmineralizada, com TD repletos de bactérias
Zona translúcida: porção da dentina desmineralizada mas não contaminada
Zona esclerosada: hipermineralizada
Zona terciária: reacional ou reparadora

Dentina Infectada: amolecida, bem destruída, necrótica, úmida, fácil remoção


Dentina afetada: oferece certa resistência, menos úmida, mais amarelada, aspecto de
lasca, dentina passível de remineralização, por isso não há sua remoção (manter sua
posição)

Lesão de cárie assume certo aspectos e padrões em diferentes locais da estrutura dentária

Em lesões de superfícies lisas elas progridem como dois cones superpostos na junção
amelodentinária ápice x base (pois a penetração dos ácidos acontecem entre os prismas de
esmalte que estão dispostos dessa forma e pelo interior dos túbulos dentinários)

Já em regiões de cicatrículas e fissuras a lesão de cárie vai se caracterizar por dois cones
sobrepostos na junção amelodentinária base x base, porque a região de cicatrículas a
gente tem a coalescência do esmalte, e ali teremos o prisma disposto no espaços
interprismática dispostos dessa maneira, ela vai ter uma amplitude menor na superfície do
que aquela que ela apresenta na junção amelo dentinária, ao contrário do que acontece na
região de superfície lisa, em que a amplitude na região superficial é muito similar que a
amplitude que ela tem na região amelo dentinária

Conceitos modernos da cárie


Filosofia preventiva
- avaliação do paciente como um todo + detecção e avaliação das lesões presentes
para um correto diagnóstico
- determinação do risco de desenvolver novas lesões
- paralisar e/ou remineralizar lesões iniciais
- quando a restrição for necessária: procedimento menos invasivo possível
- abrangente anamnese

Detecção da lesão de cáries x DIAGNÓSTICO da cárie


- detecção da lesão de cárie: métodos ópticos e físicos para se determinar se o sinal
está presente
- avaliação da lesão de cáries: determinação de características clínicas da lesão
- diagnóstico de cáries: avaliação dos sinais e de todos os fatores que
determinam/modulam a doença

Detecção da lesão de cárie


- métodos tradicionais: Exame visual (luz, superfície limpa e seca, uso de lupa,
separação dentária temporária)

Exame visual
- profilaxia com mistura de pedra pomes e água aplicada com taça de borracha ou
escova em forma de pincel em baixa rotação
- se deve observar todas as faces livres
- diagnosticar em casos iniciais de cárie

Diagnóstico diferencial: hipocalcificação do esmalte


- DEFEITO DE FORMAÇÃO DO ESMALTE (região incisal) x lesão cariosa (região
cervical, aspecto rugoso, aspecto brilhoso)
- Lesão cariosa x fluorose (dentes homólogos, de mesmo arco)

Face oclusal
- indicativos da presença de desmineralização, o profissional consegue interferir de
maneira bastante conservadora
- lesão cariosa x pigmentação de sulco (sulco bem definida, sem aspecto de umidade,
não muito alargado

Métodos adicionais

Métodos baseados na Fluorescência


- pioneira: QLF (Quantitative Light-induced Fluorescence)
> Luz (lampada halogenio) que excita o dente a emitir fluorescência: perda mineral diminui
fluorescência (quantificação)
> Estágios iniciais do processo nas superfícies lisas de esmalte
> Menor performance em lesões e em dentina

DIAGNOdent
- baseado na fluorescência causada pela porfirinas (metabólitos bacterianos)
- luz laser de diodo fluorescência (vermelha)absorvida pela porfirinas é retransmitida
como fluorescência perto do infravermelho
- captada pelo aparelho (dados numéricos indicam a extensão da lesão:0-99)
- NOVA VERSÃO, em associação a exame visual, pode eliminar necessidade de Rx.

Transiluminação por fibra óptica


- método alternativo às Rx interproximal (não usa radiação ionizante)
- transmissão do feixe de luz branca de alta intensidade, através de ponta de fibra
óptica
- lesão aparece como sombra
- aparelho portátil, de fácil utilização, mas método não quantitativo (não consegue
prever a extensão da lesão)
- baixa sensibilidade

Avaliação da lesão detectada

- Tecido envolvido: esmalte, dentina, cemento


- Localização anatômica: superfície lisa, cicatrículas e fissuras , vertentes/pontas de
cúspides, radicular
- Grau de destruição: incipiente, cavitada, grande destruição

Atividade
- sem o tratamento da atividade e velocidade de progressão da lesão, uma decisão
lógica de tratamento não pode ser feita
- Pq é importante esse processo?: para se estabelecer o nível de cárie necessário
para aquela superfície dentária específica: sem tratamento, flúor, selante
- Lesão ativa: lesão que está se formando ou progredindo
- Lesão inativa: lesão que não está mais progredindo

Ativa: superfície opaca (cor variando do branco giz até o amarelo), rugosa e localizada em
locais de estagnação de biofilme; lesões mais próximas da margem gengival
Em dentina: superficial mais amolecida e úmida. Notar halo branco no esmalte ao redor da
cavidade

Inativas
Superfície lisa, brilhante e dura, coloração variando do branco, amarelo e preto, certa
distância da margem gengival
Em dentina: lesão mais brilhante, com superfície dura

História prévia
Primária: lesões de cárie que acomete pela primeira vez
Secundária/adjacente à restauração: acontece na adjacência de uma restauração, e não
é a primeira vez que ocorre uma lesão de cárie no local

Diagnóstico
Detecção e avaliação das lesões > anamnese + identificação e avaliação dos sinais e
sintomas da doença > determinação do risco de cárie e decisão sobre o tratamento

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