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EXCELENTISSIMO SENHOR DR(A).

JUIZ(A) DE DIREITO DO JUIZADO


ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE VIAMÃO - RS

GRATUIDADE DA JUSTIÇA

AGUAS CLARAS MINERAÇÃO COMÉRCIO E


TRANSPORTES. ME., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob n°
08.845.338/0001-56, e Inscrição Estadual 159/0214649, com sede RS 040, Km
26, n° 7000, Bairro Aguas Claras, Cidade de Viamão/RS, CEP 94760-000, Caixa
Postal 09, , vem, com o devido respeito e acatamento, ora intermediado por seu
patrono ao final firmado – instrumento procuratório acostado – esse com
endereço eletrônico e profissional inserto, o qual indica-o para as intimações que
se fizerem necessárias, perante Vossa Excelência, ajuizar a presente

AÇÃO DE LOCUPLETAMENTO ILÍCITO,

com esteio nos arts. 61 da Lei n° 7.357/85 (Lei do Cheque) e 282 e ss. do Código
de Processo Civil, bem como nos demais dispositivos aplicados a espécie, em
face de:

ELIANE DE FREGA GUIMARÃES, brasileira, inscrito no CPF


sob nº 939.181.789-00, e RG nº 3388052, residente e domiciliado à Estrada dos
Rosas, nº 7000, Cidade de Viamão/RS, CEP: 61.919-210, fazendo-o pelos fatos e
fundamentos jurídicos a seguir expostos:
INTROITO

a) Benefícios da Assistência Judiciaria Gratuita.

O ora Peticionante, diante a grave crise que assola as


empresas de nosso Estado, em especial no ramo de extração de areia, a qual
atua, encontra-se sem movimentação comercial e não dispõe de recursos para
custear as despesas processuais (Anexo II). Mister frisar o art. 99, § 3º, CPC/2015:

A pessoa jurídica tem direito à concessão do benefício da


assistência judiciária gratuita, desde que comprove a incapacidade de arcar com
as custas sem comprometer a manutenção da mesma.

Ressalta-se, nesse diapasão, que a empresa praticamente


não realiza mais a atividade a que se presta, possivelmente até fechando suas
portas e decretando estado de falência, tudo devido as dificuldades econômico-
financeiras enfrentadas no momento.

Desse modo, consequentemente, torna-se inviável o


custeio das despesas processuais, pleiteando, portanto, os benefícios da JUSTIÇA
GRATUITA, assegurados pela Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do
novo CPC/2015, verbis:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou


estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários
advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma
da lei.

O entendimento jurisprudencial pacificado pelos tribunais pátrios corrobora a


pretensão argumentada, conforme se vislumbra da análise do precedente
declinado:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


AUSÊNCIA DE ARGUMENTOS CAPAZES DE INFIRMAR OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO AGRAVADA. ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA. PESSOA JURÍDICA.
HIPOSSUFICIÊNCIA. COMPROVAÇÃO. NECESSIDADE.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7. Não merece provimento
recurso carente de argumentos capazes de desconstituir a
decisão agravada. As pessoas jurídicas tem direito à
concessão do benefício da assistência judiciária gratuita
desde que comprovem a incapacidade de arcar com as
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custas processuais em detrimento da manutenção da
empresa". (...) (AgRg no Ag 776376 / RJ; Agravo
Regimental no Agravo de Instrumento, 2006/0117503-3,
Relator, Ministro Humberto Gomes de Barros, Terceira
Turma, DJ 11.09.2006 p. 277.)

Pois bem, in casu, a jurisprudência supramencionada


enquadra-se perfeitamente, posto que ratifica o direito à concessão do benefício
da justiça gratuita às pessoas jurídicas desde que demonstrado a impossibilidade
de custear as despesas processuais em prejuízo da atividade empresarial.

Ainda sobre a gratuidade a que tem direito esta pessoa


jurídica, o novo Código de Ritos Civis dispõe em seu art. 99, § 3º, que “presume-
se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa
natural”.

Assim, à pessoa natural basta a mera alegação de


insuficiência de recursos, sendo desnecessária a produção de provas da
hipossuficiência financeira. Por sua vez, a pessoa jurídica deve comprovar a
insuficiência de recursos para usufruir o benefício da justiça gratuita. Assim, para
o Requerente não se tem a presunção relativa de veracidade da alegação.

Corroborando com esse entendimento, o NCPC incorporou


a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o tema.
Especificamente, a Súmula nº 481, transcrita a seguir:

Súmula nº 481. Faz jus ao benefício da justiça gratuita a


pessoa jurídica com ou sem fins lucrativos que demonstrar
sua impossibilidade de arcar com os encargos processuais.

Nessa senda, conforme a inteligência do STJ, a título de


comprovação da alegação de insuficiência de recursos, traz-se, em anexo,
demonstrativo contábil necessário para a demonstração da impossibilidade do
Requerente em arcar com os encargos processuais e honorários periciais.

Assim, ex positis, pois, preenchidos os requisitos exigidos


para a concessão do benefício pleiteado, como medida de Justiça e de Direito
que se vislumbra neste momento.

I - DOS FATOS

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A Promovente é credora da quantia de R$ 2.000,00 (dois
mil reais), representado pelo cheque que segue (anexo I) , emitido pela
Promovida, titular da conta corrente nº 011930-0, da agência 2968-8, do Banco
Bradesco, situado à Avenida Paraguaçu, n. 1975, Capão da Canoa - RS, conforme
discriminado a seguir:

N° DO CHEQUE VALOR VENCIMENTO


000270 R$ 2.000,00 22/07/2015
TOTAL: R$ 3.445,00 (Dois mil reais)

Apresentado para pagamento o cheque foi devolvido em


virtude da Promovida não dispor de fundos suficientes para honrar o
compromisso, não sendo pago o título pelos motivos 11 (Cheque sem fundos –
1ª apresentação) e 21 (Cheque sustado – 2ª apresentação), conforme se verifica
pelo título ora acostado.

Mister esclarecer ainda que houveram inúmeros contatos


informais do Promovente com a Promovida a fim de que aquele pudesse
receber seu crédito, contudo tais tentativas restaram infrutíferas, nem ao menos
conseguiu-se uma composição amigável, restando ao Autor somente a
possibilidade de pedir um pronunciamento jurisdicional para resolver tal querela.

II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Funda-se a pretensão do Autor na ação cambial de


enriquecimento ilícito prevista no artigo 61 da Lei nº 7357/85 (Lei do Cheque),
verbis:

Art. 61. A Ação de enriquecimento ilícito contra o


emitente ou outros obrigados, que se locupletaram
injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve
em 2 (dois) anos, contados do dia em que se consumar a
prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta lei.
Repousa a pretensão do Autor no fato INADIMPLÊNCIA da
Ré, que, por si só, imprime as condições para o ajuizamento da presente ação, de
cunho tipicamente cambiário.

No elucidativo magistério de FÁBIO ULHOA COELHO:

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"As ações cambiais do cheque são duas: a execução, que
prescreve nos 6 meses seguintes ao término do prazo de
apresentação; e a de enriquecimento indevido, que tem
natureza cognitiva e pode ser proposta nos dois anos seguintes
à prescrição da execução. Nas duas, operam-se os princípios do
direito cambiário e, assim, o demandado não pode argüir, na
defesa, matéria estranha à sua relação com o demandante.
Prescrita a execução, o portador do cheque sem fundos poderá,
nos 2 anos seguintes, promover a ação de enriquecimento
indevido contra o emitente, endossante e avalistas (LC, art. 61).
Trata-se de modalidade de ação cambial, de natureza não
executiva. O portador do cheque, através do processo de
conhecimento, pede a condenação judicial de qualquer devedor
cambiário no pagamento do valor do título, sob o fundamento
que se operou o enriquecimento indevido. De fato, se o cheque
está sem fundos, o demandado locupletou-se sem causa lícita,
em prejuízo do demandante, e essa é, em princípio, a matéria
de discussão."(Curso de Direito Comercial, v. 1, Saraiva, 2a
edição, 1999 – Grifo nosso).
Em nosso ordenamento jurídico-processual, são quatro,
portanto, as formas de cobrança de dívida decorrente da emissão de um cheque,
a saber:

a) execução forçada, de natureza cambial, com prazo


prescricional de 6 (seis) meses - artigo 59 e parágrafo único da Lei nº 7357/85
(Lei do Cheque);

b) ação de enriquecimento ilícito, de natureza cambial,


com prazo prescricional de 2 (dois) anos - artigo 61 da Lei nº 7357/85.

c) ação monitória e de cobrança, fundadas no negócio


subjacente ao título, com prazo de prescrição comum às obrigações pessoais em
geral.

Ainda antes do advento do instituto da ação


monitória, a distinção entre os institutos da ação de enriquecimento ilícito
e de cobrança foi explanada com grande maestria em voto do ilustre
Ministro do Colendo Superior Tribunal de Justiça, Sálvio de Figueiredo
Teixeira, no Resp nº 36.590/MG, julgado em 21.06.1994, verbis:

"A ´ação de locupletamento` de que fala o artigo 61 da Lei


7.357/85, e a ação de cobrança fundada no cumprimento de
negócio jurídico do qual se originou o cheque não se
confundem, prescrevendo aquela no prazo fixado pelo próprio
dispositivo mencionado e esta no prazo do art. 177, do CC, para
as ações pessoais"

(...)
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"A diferença fundamental entre ambas, destarte, reside no onus
probandi. Enquanto na ´ação de locupletamento` o próprio
cheque basta como prova do fato constitutivo do direito do
autor, incumbindo o réu provar a falta de causa do título, na
´ação de cobrança` necessário se faz que comprove o autor o
negócio gerador do crédito reclamado."

"A assim chamada ´ação de locupletamento´ tem, portanto,


caráter diverso da ação de cobrança, visando aquela à
constituição de título executivo judicial que restabeleça força
executiva do cheque, partindo de um locupletamento
presumido" – Grifo Nosso.

E, como já se mencionou, o fato que gera tal


presunção é a devolução dos cheques por motivo de ausência de provisão
de fundos suficientes para o cumprimento da obrigação. Na lição de
PAULO RESTIFFE NETO, em capítulo específico sobre o tema constante
de sua monografia sobre o diploma do cheque, bem ficou pontuada os
fundamentos desta presunção:

"Quem emite cheque sem fundo está prejudicando o favorecido,


ou portador, na proporção do valor da ordem de pagamento à
vista representada pelo cheque. E se não houve da parte do
sacador o desembolso da quantia correspondente para a
constituição, em poder do sacado, da respectiva provisão, terá
ele auferido lucro ilegítimo. É o locupletamento ilícito em
detrimento alheio. " (Lei do Cheque, Revista dos
Tribunais, 3a edição, 1981)

O instituto da ação de locupletamento, vale lembrar,


é de antiga previsão em nosso ordenamento, sendo certo que ele foi
introduzido pela antiga Lei Cambial (Decreto nº 2044/1908), por seu turno
mantido pela Lei Uniforme (art. 25, Anexo II) e permanecendo até os dias
de hoje, agora com a escora do artigo 61 da Lei do Cheque, sendo que há
tempos a jurisprudência pátria se pronuncia sobre esse instituto, como
neste julgado do Tribunal de Justiça do Paraná, de 1962:

CAMBIAL - Título prescrito - Ação de locupletamento -


Procedência - Apelação não provida - Inteligência do art. 43 da
lei cambial. A ação de locupletamento, mesmo para o caso de
cambial prescrita, tem evidente apoio em nosso direito,
resultado de dispositivo claro e expresso da lei cambial, o seu
art. 48. A prova do prejuízo é feita pelo portador com a simples
exibição do título, cabendo ao devedor a prova em contrário.
(TJPR, Apelação Cível nº 359/62, RT 362/419)

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O julgado trouxe, em suas últimas linhas, importante
questão que merece destaque: a prova do prejuízo. Como já se frisou, a
presunção de enriquecimento ilícito tem suporte na simples existência do
cheque devolvido por falta de provisão de fundos. No bojo de um
primoroso e elucidativo voto da lavra do preclaro Juiz Costa de Oliveira,
do Primeiro Tribunal de Alçada Civil do Estado de São Paulo, há excerto
que merece destaque:

"A ação que o portador move ao sacado do cheque é ação


condenatória de enriquecimento injustificado. O só fato da
existência do documento (cheque) mostra que o réu contraiu
dívida. O crédito pode ter sido cedido de mão em mão (de
portador a portador), até incrustar-se na esfera jurídica do autor
da ação. O direito invocado é o de ser pago, e a causa está
implícita, mas é de clareza suficiente: o não pagamento da
dívida, que originou a liberação de pagamento consistente no
cheque de ação executiva já prescrita, constitui-se em
enriquecimento do réu (sacador) às custas do autor, sem causa,
sem justificação. Logo, a só apresentação do cheque de ação
prescrita, em cobrança ao responsável por sua criação, está já a
enunciar que a causa da ação proposta é o enriquecimento
injustificado do autor. Não são de mister mais explanações."
(Apelação Cível nº 419.282-9, 3a Cam. De Férias/1989)

Presente está, portanto, a causa de pedir da presente


ação, com a existência do título devolvido pelo banco sacado, provando-se o fato
constitutivo do direito do Autor. Daí a razão da propositura da presente ação,
visando ao pagamento da quantia já mencionada nesta exordial, para que não
permaneça maculado o direito lídimo e cristalino do Autor em perceber a dívida
obrigada.

III - DO PEDIDO

Ante o exposto, por ser medida de imperiosa justiça,


requer que Vossa Excelência se digne de:

a) Deferir o pedido preliminar dos benefícios da


Gratuidade da Justiça, uma vez que o Promovente enquadra-se nas formas
legais para a sua concessão, como assim autoriza e preceitua a Lei nº
1.060/50;

b) Mandar CITAR a Demandada, na pessoa de seu


representante legal, para comparecer à audiência de conciliação, sob pena
de revelia, ou apresentar defesa, oferecendo provas;

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c) Julgar PROCEDENTE a presente ação, para
condenar a Promovida ao pagamento da quantia de R$ 3.445,00 (três mil
quatrocentos e quarenta e cinco reais), consoante às exposições supra,
acrescida de juros e correção monetária.

PROTESTA-SE provar o alegado por todos os meios de


provas em direito admitidas, notadamente, depoimento pessoal do
representante legal da Demandada, sob pena de confesso, ouvida de
testemunhas, juntada posterior de documentos, inspeções, enfim, tudo o
que se fizer necessário.
Atribui-se à causa o valor de R$ 3.445,00 (três mil
quatrocentos e quarenta e cinco reais).

Nestes Termos,
Pede e Aguarda Deferimento.

Maracanaú-CE, 30 de setembro de 2011.

EMANUEL BRUNO PEIXOTO MOTA


OAB/CE 24.616

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO


JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE PATOS DE MINAS,
MG.

AUTOR, nacionalidade, estado civil, profissão, filiação, inscrito no RG: ... e no CPF: ...,
residente e domiciliado no endereço ..., por seu advogado que esta subscreve, vem respeitosamente
à presença de Vossa Excelência,
propor AÇÃO DE ENRIQUECIMENTO INDEVIDO (Art. 61, Lei do

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Cheque) em face deRÉU, nacionalidade, estado civil, profissão, inscrito no RG: ... e no CPF:
... , residente e domiciliado no endereço ..., pelas seguintes razões de fato e de direito:

DOS FATOS

Em 19 de julho de 2013, o Réu procurou o Autor e lhe pediu uma pequena quantia em
direito emprestada. Como foram vizinhos e são amigos há muitos anos, o Autor, emprestou ao Réu
a importância de R$... (...).
Como pagamento, o Réu emitiu o cheque nº ...., contra o Banco ..., agência ..., conta ...,
no valor de R$..., “pré-datado” para o dia ... de ... de 2013, em favor do Autor.
Na data avençada, o Autor apresentou o cheque ao Banco para pagamento, entretanto,
para sua surpresa o cheque foi devolvido pelo banco por insuficiência de fundos (Motivo 11), no
dia ... de ... de 2013.
De posse do cheque devolvido, o Autor tentou entrar em contato diversas vezes com o
Réu, entretanto, não conseguiu vez que, o mesmo havia mudado de telefone.
Sem alternativas, no dia ... de ... de 2013, o Autor apresentou o cheque pela segunda vez
ao banco. Mais uma vez, o mesmo foi devolvido por insuficiência de fundos (Motivo 12).
Desde então, o Autor vem tentando contato com o Réu, a fim de receber o valor que lhe é
devido. Contudo, até a presente data, não logrou êxito, razão pela qual, se vê obrigado, a buscar a
ajuda do poder judiciário.

DO DIREITO

Cheques emitidos na mesma praça de pagamento tem seu prazo de 6 meses


para execução (art. 59, Lei do Cheque[1]) iniciado 30 dias após sua emissão (art.
33, Lei do Cheque[2]).
Ao término desse lapso temporal, portanto, inicia-se a contagem do prazo
de 2 anos para a propositura da ação de enriquecimento indevido (art. 61, Lei do
Cheque[3])
In casu, trata-se de cheque emitido na mesma praça e prescrito para fins de
execução. Dessa forma, não tendo transcorrido o prazo de 2 anos desde a
prescrição, a Ação Cambial de Enriquecimento Indevido é a medida judicial mais
adequada a fim de se evitar o enriquecimento indevido do Réu.
Há que se ressaltar que as partes celebraram um contrato de mútuo, no
qual o Réu recebeu do Autor a importância de R$...; não efetuando o pagamento
do mesmo.
Respeitado o prazo, a inadimplência do Réu configura por si só, condição
essencial para o ajuizamento da presente demanda de cunho tipicamente cambial.
Nesse sentido, leciona o eminente doutrinador Fabio Ulhoa Coelho:

Prescrita a execução, o portador do cheque sem fundos poderá, nos 2 anos


seguintes, promover a ação de enriquecimento indevido contra o emitente,
endossantes e avalistas (LC, art. 61). Trata-se de modalidade de ação cambial,
de natureza não executiva. O portador do cheque, por meio de processo de
conhecimento, pede a condenação judicial de qualquer devedor cambiário no
pagamento do valor do título, sob o fundamento de que se operou o

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enriquecimento indevido. De fato, se o cheque está sem fundos, o demandado
locupletou-se sem causa lícita, em prejuízo do demandante, e é essa, em
princípio, a matéria de discussão na ação(grifo nosso) [4].

O devedor em mora responde pelos prejuízos que sua mora der causa
mais juros, atualização monetária e honorários advocatícios (art. 395, CC[5]).
Considerando que o cheque em questão foi devidamente apresentado para
pagamento na data avençada, o Réu foi devidamente constituído em mora, na data
da apresentação (art. 397, CC[6]).
Dessa forma, os juros de mora contar-se-ão desde o vencimento da
obrigação (data da apresentação). Nesse sentido, se posiciona a jurisprudência
atualizada do ínclito Superior Tribunal de Justiça.

(STJ – 2015) RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL. AÇÃO


MONITÓRIA. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL. DATA DO VENCIMENTO.
ACÓRDÃO RECORRIDO EM CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA
DESTA CORTE. SÚMULA 83 DO STJ. RECURSO A QUE SE NEGA
SEGUIMENTO.[7]

(STJ – 2014) RECURSO ESPECIAL. CIVIL, COMERCIAL E PROCESSUAL


CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUES PRESCRITOS. TERMO INICIAL DOS
JUROS DE MORA. 1. Ação monitória ajuizada para cobrança de cheques
prescritos, ensejando controvérsia acerca do termo inicial dos juros de mora. 2.
Recente enfrentamento da questão pela Corte Especial do STJ, em sede de
embargos de divergência, com o reconhecimento da contagem a partir do
vencimento, em se tratando de dívida líquida e positiva. 3. "Embora juros
contratuais em regra corram a partir da data da citação, no caso, contudo, de
obrigação contratada como positiva e líquida, com vencimento certo, os juros
moratórios correm a partir da data do vencimento da dívida. O fato de a dívida
líquida e com vencimento certo haver sido cobrada por meio de ação monitória
não interfere na data de início da fluência dos juros de mora, a qual recai no dia
do vencimento, conforme estabelecido pela relação de direito material." (EREsp
1.250.382/RS, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, CORTE ESPECIAL, julgado em
02/04/2014, DJe 08/04/2014) 4. Pequena alteração na conclusão alcançada pela
Corte Especial por se estar diante de dívida representada em cheques, atraindo a
incidência do art. 903 do CCB c/c 52, II, da Lei 7357/85, que disciplinam o 'dies
a quo' para a contagem dos juros legais. 5. Termo inicial dos juros de mora
fixado na data da primeira apresentação dos títulos para pagamento. 6.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO.[8]

Quanto à correção monetária, frise-se, que a mesma representa a


simples atualização do valor do cheque, devendo incidir invariavelmente desde o
vencimento da obrigação.
Assim, a fim de se evitar o enriquecimento indevido do Réu, é que se
busca através da presente ação o recebimento da quantia devida, corrigida

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monetariamente pelos índices oficiais e com juros de mora incidentes desde o
vencimento da obrigação.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:


1) A citação do Réu, para comparecer a audiência a ser designada, a fim de
responder à presente demanda sob pena de sofrer os efeitos da revelia.
2) Seja julgado procedente o pedido, com a condenação do Réu, a pagar ao Autor
a importância de R$... (...), corrigidos monetariamente e com juros de mora a
contar do vencimento da obrigação, perfazendo o valor atualizado de R$... (...),
conforme memória de cálculo anexa.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


admitidos, especialmente pela prova documental.

Dá-se a causa o valor de R$... (...).


Nestes termos, pede e espera deferimento.

Patos de Minas, 06 de agosto de 2015.

DOLGLAS EDUARDO SILVA


OAB/MG 125.162
Inicial – Ação de Enriquecimento Ilícito – Cheque Prescrito – Cobrança – Transportadora
EXMO. (A) SR. (A) DR. (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL DA
COMARCA DE WITMARSUM-SC

THELEMA TRANSPORTES RODOVIÁRIO DE CARGAS LTDA ME, pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ sob o n. 0, com sede a Rua x, por seu procurador
signatário, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor

AÇÃO DE COBRANÇA

em face a RA-HOOR-KHUIT ME, pessoa jurídica de direito privado, inscrito no CNPJ sob
o n. 0, com sede a Rua Y, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

I – DOS FATOS.
O Requerente tornou-se credor da quantia de R$ 17.200,00 (dezessete mil e duzentos
reais), referente a lauda de cheque de n. 0, do banco Capitalismo Selvagem, da ag. 0,
conta 0, com data de emissão e apresentação em 07 de abril de 2014, de titularidade do
Requerido.

Ocorre que na data acordada para o depósito o Requerente assim o realizou, entretanto
para sua surpresa o mesmo voltou pelo motivo “20” (Cheque sustado ou revogado em
virtude de roubo, furto ou extravio de folhas de cheque em branco).

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A pendencia do Requerido hoje é de R$ 21.643,36 (vinte e um mil, seiscentos e quarenta
e três reais e trinta e seis centavos), conforme atualização realizada junto a Corregedoria
Geral de Justiça do TJSC, (anexo).

Em várias oportunidade se buscou o recebimento deste valor, sem no entanto obter


êxito, nesta forma não resta alternativa ao Requerente, senão buscar o ampara judicial.

II – DO DIREITO.

II.A. – DA PRESCRIÇÃO DO TÍTULO.


O cheque ora cobrado encontra-se prescrito para fins de execução, posto que decorrido
o prazo legal (art. 59 da Lei n.° 7.357 de 02/09/85). Todavia tal documento de crédito é
apto a se demonstrar a existência de um crédito, tendo sido este emanado do próprio
Requerido.

No entanto, a mesma Lei n.º 7.357 de 02/09/85, em seu art. 61, prevê a possibilidade de
cobrança do cheque no prazo de 02 (dois) anos em face do emitente, verbis: ação de
enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se locupletaram injustamente
com o não-pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois) anos, contados do dia em que
se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu parágrafo desta Lei.

Destarte, deve o Requerido, pagar ao Requerente todo o valor da dívida, constante do


cheque, corrigido monetariamente desde a data de seu vencimento.

III – DOS PEDIDOS.


Por todo exposto, pede e requer, se digne Vossa Excelência julgar totalmente
procedente os pedidos da presente ação, determinando:
a) A citação do requerido, na forma do art. 18 da lei 9.099/95, para comparecer à
audiência pré-designada a fim de responder à proposta de conciliação ou querendo e
podendo, conteste a presente peça exordial, sob pena de revelia e confissão quanto à
matéria de fato, de acordo com o art. 20 da lei 9.099/95;
b) A condenação do requerido ao pagamento corrigido e atualizado do valor da dívida
que, inicialmente era de R$ 17.200,00 (dezessete mil e duzentos reais), estando até hoje
em R$ 21.643,36 (vinte e um mil, seiscentos e quarenta e três reais e trinta e seis
centavos);

Por fim, protesta e requer o requerente provar o alegado por todos os meios de prova
admitidos em Direito.

Dá-se a causa o valor de R$ 21.643,36 (vinte e um mil, seiscentos e quarenta e três


reais e trinta e seis centavos).

Termos em que,

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Pede deferimento.

Witmarsum SC, 17 de junho de 2015

Aleister Crowley
OAB 93

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