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Enfermagem

MODULO I
T É C N I C O

• Relações Interpessoais e Ética Profissional

• Biossegurança

• Fundamentos da Saúde

• Enfermagem em Saúde Coletiva


T É C N I C O

Relações Interpessoais
e Ética Profissional
T É C N I C O

SUMÁRIO

• 1 - AQUISIÇÃO DE COMPETÊNCIA INTERPESSOAL

• 2 - RELAÇÕES HUMANAS ENTRE GRUPOS

2.1 - Divisão de Trabalho entre as Equipes

2.2 - Reuniões de Coordenação entre os Diferentes Grupos

2.3 - A Fusão de Dois Grupos

2.4 - Dificuldades e Conflitos entre Grupos

• 3 - O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA INTERPESSOAL

• 4 - A IMPORTÂNCIA DO FEEDBACK NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

4.1 - Dificuldades em receber feedback

4.2 - Dificuldades em dar feedback

• 5 - CONFLITOS NAS ORGANIZAÇÕES

5.1 - Definição de Conflito

5.2 - Origem dos Conflitos

5.3 - Desenvolvimento

5.3 - Níveis e estágios do conflito

5.4 - Causas dos Conflitos

5.5 - Evolução dos conflitos e suas características

5.6 - Tipos de conflitos

5.7 - Conflitos Interpessoais nas Organizações

5.8 - Consequências do conflito

5.9 - Efeitos benéficos dos conflitos

5.10 - Como resolver os conflitos dentro das Organizações

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5.11 - Conclusão

• 6 - A COMUNICAÇÃO DIGITAL E VIRTUAL NO CONTEXTO INTERNO DAS


ORGANIZAÇÕES

• 7 - INFLUÊNCIA SOCIAL E LIDERANÇA

7.1 - Diferença entre grupo e equipe

7.2 - Liderança de uma Equipe

• 8 - COMO MOTIVAR SUA EQUIPE

• 9 - DICAS PARA COMUNICAR-SE BEM NO TRABALHO

• 10 - DINÂMICAS DE GRUPO

• 11 - ÉTICA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS

11.1 - Conceitos: Moral, Valor, Ética e Bioética

• 12 - O HOMEM QUANTO INDIVÍDUO SOCIAL

• 13 - ÉTICA PROFISSIONAL

13.1 - CÓDIGO DE ÉTICA

13.2 - LEI

13.3 - NORMA

13.4 - ESTATUTO

13. 5 - LEGISLAÇÃO REGULADORA DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL

• 14. - SITUAÇÕES E DILEMAS ÉTICO-LEGAIS

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RELAÇÕES INTERPESSOAIS E ÉTICA PROFISSIONAL

1 - AQUISIÇÃO DE COMPETÊNCIA INTERPESSOAL

Relações Humanas

Alguns Conceitos

- As relações humanas e o ambiente de trabalho resultam na criação de laços entre as


pessoas que são muito mais importantes para o aumento da produtividade do que as simples
condições físicas e materiais do trabalho.

- Envolve o conhecimento de relações internas do próprio EU. O autoconhecimento


favorece o desenvolvimento de relações mais produtivas, facilitando o trabalho em grupo.

- É essencialmente um processo interativo e didático (pessoa a pessoa) em que o


emissor constrói significados e desenvolve expectativas na mente do receptor.

- Não há processos unilaterais na interação humana: tudo que acontece no


relacionamento interpessoal decorre de duas fontes:

EU E OS OUTROS

O relacionamento interpessoal pode tornar-se e manter-se harmonioso e prazeroso,


permitindo trabalho cooperativo, em equipe, com integração de esforços, conjugando as energias,
conhecimentos e experiências para um produto maior que a soma, ou seja a sinergia.

- Ou então tende a tornar-se muito tenso, conflitivo, levando à desintegração de


esforços e dissolução do grupo.

Conhecimento de Si Próprio

- O comportamento do ser humano agrega um complexo de situações abstratas


oriundas do próprio ser, em aquisições passadas e presentes e da interação do ser com o
meio.

- O ser humano conhece pequena parte de si mesmo. “Conhece-te a ti mesmo”,


significa precisamente consciência de si mesmo.

- Existem pessoas que não se dão conta da atmosfera que criam no trabalho, no lar e nos grupos.

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- É necessário observarmos o impacto que causamos no nosso ambiente e no dos


outros. Nós usamos defesas para repelir ameaças imaginárias ou reais.

Descubra como você age!

Você é capaz de....

- Ouvir tão bem quanto fala?

- Não interromper os outros quando falam?

- Não ser agressivo?

Você gosta de impor suas ideias?

- Você, já procurou verificar suas falhas?

- Ver como você é mesmo?

- Ver como são os outros?

- Compreender seus próprios sentimentos?

- Entender seus preconceitos?

- Entender o relacionamento entre as pessoas?

As pessoas podem melhorar, aprender, aperfeiçoar suas habilidades adquirindo


traquejo nas relações humanas.

A Arte de Perceber os Outros

- Melhor compreensão dos outros, interpretando-os pelo que eles são e não pelo que

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desejaríamos que eles fossem.

- Reconhecer o outro como SER único, dotado de particularidades diferentes das


suas e visão de vida diferenciada.

- Avaliar as respostas tentando preencher as lacunas que ficaram abertas ou não


foram concluídas, desprendido de pré-conceitos.

- Não vemos as pessoas como são, mas a partir do que significam para nós.

- Não captamos com exatidão o que está “lá fora”.

- Vemos o que queremos ou precisamos ver para nos defender ou aproximar de nossos alvos.

Percepção

- A Percepção define aquilo que os nossos sentidos nos apresentam e identificamos


como algo vindo do ambiente externo. A percepção de um mesmo fato pode ser diferente
para duas pessoas que acompanham o mesmo evento.

- Percepção é o processo pelo qual as pessoas tomam conhecimento...

Comunicação

- Centro gravitacional de todas as atividades humanas, nada acontece sem que


haja prévia comunicação. Um grande número de problemas pode estar ligado a falta de
comunicação.

- Troca de entendimento onde além das palavras se considera as emoções e o contexto


ambiental, só acontece quando existe compreensão, aceitação e ação resultante, pois afeta

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comportamentos.

Uma sirene...

- Pode levar um indivíduo a crer que houve algum crime nas redondezas...

- Enquanto outro chegará à conclusão que há um incêndio a ser debelado.

- Um terceiro poderá concluir que um paciente está sendo levado a um hospital.

Comunicação Verbal e Não Verbal

- O nosso trabalho é feito por meio de contato com outros, quer como indivíduo, quer
como grupos;

- A falta de habilidade em lidar com outras pessoas prejudica o relacionamento


interpessoal;

- Para lidar com pessoas é necessário compreender o outro através da sensibilidade


social ou empatia.

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Teremos então:

EMPATIA (SENSITIVIDADE SOCIAL)

RELAÇÕES INTERPESSOAIS

REPERTÓRIO DE CONDUTAS

FLEXIBILIDADE DE COMPORTAMENTO

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Empatia e Simpatia

- Empatia: Compreensão de como a pessoa se sente (alegre ou triste).

- Simpatia: Capacidade de compreender sem sentir o que a pessoa sente.

- Quando a ação de uma pessoa desencadeia uma reação em outro.

- Base de toda a vida social, sem ela os grupos não seriam mais do que simples
aglomerados de indivíduos que permaneceriam lado a lado como estranhos.

- Ao interagir as pessoas se veem como indivíduos dotados de atitudes, expectativas


de comportamento, sentimentos e capacidade de julgamento.

2 - RELAÇÕES HUMANAS ENTRE GRUPOS

As relações interpessoais são importantes no desempenho das pessoas e na


produtividade.

Não bastam, no entanto, boas relações entre as pessoas e entre os líderes e seus
grupos para que o empreendimento tenha êxito: é imprescindível, ainda, que os grupos se
entendam entre si.

Boas relações entre os grupos não se improvisam, mas dependem de inúmeros


fatores, que iremos analisar na sequência. Isto porque, se dentro das empresas é importante
cuidar deste aspecto, temos que pensar na empresa como uma coletividade, como um grupo
maior que também tem as suas relações com outros grupos.

Estas relações podem tomar o caráter de respeito mútuo, mas existem também,
organizações em conflito, por concorrência, competição ou até má interpretação das suas
funções.

A primeira preocupação dos bons gerentes e diretores de empresas é cuidar da


organização racional das equipes de trabalho.

Se for verdade que sem relações humanas não há organização racional possível, o
contrário também é verdadeiro. Da má organização nasce a má vontade, a desconfiança,
tanto entre as pessoas como entre os grupos.

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Entre as primeiras providências a tomar na organização de uma empresa, figura a


divisão clara e nítida das atribuições entre cada grupo de trabalho.

2.1 - Divisão de Trabalho entre as Equipes

Certo dia, o gerente de uma loja de peças para automóveis chamou um psicólogo
industrial, aflito por uma luta interna entre o pessoal do Departamento de Vendas e o
Departamento de Propaganda.

Os membros e o chefe do Departamento de Propaganda queixavam-se que o


Departamento de Vendas estava entrando no trabalho alheio, pelo fato de fazer também
serviços de propaganda.

Como defesa, o Departamento de Venda alegava que era impossível vender dentro
das normas de ética, pois o Departamento de Propaganda fazia nos seus cartazes e anúncios
promessas além do que era verdadeiro. Indo até a afirmar vantagens que a mercadoria não tinha.

Aconteciam então inúmeras reclamações dos fregueses, quanto ao enferrujamento da


parte metálica de espelhos retrovisores, anunciados como inoxidáveis.

É evidente que, neste caso, o Departamento de Vendas tinha tomado a si a


responsabilidade que não lhe cabia.

Este fato ilustra bem a necessidade de definir claramente as atribuições entre os


diferentes serviços, colocando-as por escrito e distribuindo-as entre todas as pessoas.

Outro defeito nesta organização era a falta de coordenação entre os diferentes


departamentos.

2.2 - Reuniões de Coordenação entre os Diferentes Grupos

Se o gerente de quem acabamos de falar, tivesse reunido os dirigentes dos dois


departamentos citados (Vendas e Propaganda) mais o de Produção, teriam evitado os
incidentes pelas seguintes razões.

a) O gerente teria exposto o problema da venda do espelho.

b) O chefe do Departamento de Propaganda teria pedido as características exatas


do espelho. Teria sabido que não se podia garantir a resistência do material à ferrugem, em
virtude de insuficiências atuais; mas podia insistir na pureza do vidro, por exemplo.

d) O chefe do Departamento de Vendas teria sido informado de tudo isto e teria, em


qualquer oportunidade, as informações necessárias para os fregueses. Teria também, em
outra reunião, ter ocasião de trazer eventuais problemas surgidos com representantes.

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Reuniões periódicas são, por conseguinte, importantes para a manutenção ou criação


das boas relações entre os grupos.

Grupos que se conhecem mutuamente

Quando grupos nunca trabalharam em comum, costumam surgir ainda maiores


dificuldades, que variam conforme:

a) A Idade do Grupo

A idade do grupo tem papel importante; quanto mais velho for o grupo, maiores
serão as precauções necessárias na aproximação de outro grupo.

Pode-se observar certa relutância em mudar os hábitos e em aceitar a intromissão de


opiniões e ações alheias.

b) A Força e a competência do Grupo

A força e a competência do grupo o tornam mais ou menos autossuficiente, segundo


a intensidade destas características.

Assim, por exemplo, um grupo que possui indivíduos altamente qualificados para
determinados trabalhos poderá ter tendência ao orgulho grupal e ao egoísmo em relação aos
outros grupos.

Também pode acontecer que o grupo esteja tão pouco preparado ou dotado, que
fica permanentemente dependente de grupos, procurando ansiosamente ajuda e colaboração,
sem pensar em melhorar o seu próprio nível.

É necessário provocar a aproximação dos grupos, educando-os a colaborarem entre si.

Aos grupos mais idosos é necessário mostrar a importância da sua colaboração no


sentido de comunicar os grupos mais fracos a se aperfeiçoarem.

Convém lembrar que é exatamente difícil discriminar, em determinado grupo, se a


sua ausência de contato com outros grupos é realmente fenômeno do próprio grupo ou se a
culpa é do dirigente que influencia os seus membros no sentido do isolamento.

Fato é que, os grupos que têm a tendência de ajudar os outros grupos ou convocar reuniões
de intercâmbio de experiência, em igualdade, são geralmente dirigidos por um LÍDER.

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2.3 - A Fusão de Dois Grupos

Em casos de reorganização interna de encampação de uma empresa pela outra, ocorre


a necessidade de fundir um ou vários grupos entre si.

Tais operações trazem perigos, entre os quais o mais frequente é o medo e a angústia
que invadem os membros dos grupos.

Este medo pode tomar várias formas, segundo o tipo do problema:

a) Medo de perder o lugar pelo necessário desaparecimento de cargos existentes,


simultaneamente, nos dois grupos a fundir.

É o que ocorre, por exemplo, na fusão de dois escritórios, onde existiam digitadores:
os profissionais de cada um dos escritórios ficam com medo de serem despedidos.

b) Medo de mudar de chefe e não se dar bem com o novo dirigente.

c) Angústia geral provocada por mudança de ambiente, sem que haja causa definida,
a não ser o temor do desconhecido.

É extremamente perigoso deixar desenvolver estes tipos de medo porque os indivíduos


angustiados pela situação se tornam, automaticamente, inimigos de qualquer mudança.

É necessário preparar os grupos que nunca trabalharam juntos para uma ação em
comum, evitando-se assim, conflitos e sérias dificuldades.

2.4 - Dificuldades e Conflitos entre Grupos

São várias as dificuldades que costumam surgir entre os grupos.

Existem, por exemplo, grupos que só procuram explorar os outros grupos, pedindo-
lhes a colaboração, mas não respondem a um chamado idêntico. As relações só têm uma
“mão única”.

Este caso aproxima-se muito da situação do grupo que procura dominar.

Parece-nos que estas dificuldades poderiam ser evitadas se houvesse melhor escolha
dos dirigentes dos grupos.

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3 - O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA INTERPESSOAL

“Porque as pessoas nunca entendem claramente as minhas ideias?” (Fela, 2002)

Essa questão nos interpela e nos faz refletir diante do desafio eminente da convivência
humana e de nos relacionar. Na busca constante da conquista da competência, o primeiro
momento é a competência técnica, mas no convívio em grupo desperta-nos há a necessidade
de desenvolver outra competência, que envolve interação, em situações de trabalho ou de
atividades, exigindo de todos indivíduos envolvidos nesse processo de interação.

“O processo de interação humana é complexo e ocorre permanentemente entre


pessoas, sob forma de comportamentos manifestos e não manifestos, verbais e não verbais,
pensamentos, sentimentos, reações mentais e/ou físico-corporais.”(Fela, 2002)

A comunicação como forma comum na interação humana, mesmo que seja verbal ou
não verbal, é importante no processo de interação, na busca do entendimento, de entender e
ser entendido requer esforços, conhecimentos, convivência com o outro, mas a percepção, o
autoconhecimento e a auto percepção nos facilitam auxiliar no conhecimento, no convívio
com o outro e compreender outro com suas diferenças individuais.

O relacionamento interpessoal é e sempre será muito complexo, pois somos indivíduos


com sentimentos, emoções, necessidades e por isso, quando nos relacionamos com as pessoas,
que podemos simpatizar, sentir atrações, antipatizar, competir e nos afeiçoar. Essas reações
constituem o processo de interação pessoal.

“Competência interpessoal é a habilidade de lidar eficazmente com relações


interpessoais, de lidar com outras pessoas de forma adequada às necessidades de cada uma
e à exigência da situação.”(Fela, 2002)

A competência técnica para desenvolver busca-se cursos, especializações, experiência


e conhecimento literário específico, mas o desenvolvimento da competência interpessoal
está na meta primordial no treinamento de laboratório.

Os componentes da competência interpessoal: são a percepção e a habilidade. A


percepção precisa ser treinada, que nos faz trocar através de técnicas, vivências e jogos,
com uso de exercícios, de receber e dar feedback, proporcionando o crescimento pessoal
com a auto percepção, auto aceitação, autoconhecimento, instrumento esse que possibilita a
percepção real dos outros e da relação interpessoal vivenciada por nós. A habilidade engloba a
flexibilidade perceptiva e comportamental onde se ver a situação de vários ângulos e atuar de
forma criativa, inovadora e não rotineira, que assim permite o indivíduo o desenvolvimento
da capacidade criativa e o menos convencional e a habilidade de dar e receber feedback com
a finalidade de se construir um relacionamento interpessoal autêntico. O relacionamento
também é considerado como um dos componentes, refere-se a compreender a questão humana
dos indivíduos, envolvidos e integrantes no grupo, a dimensão emocional-afetiva, que não
podendo destacar o conteúdo cognitivo e a relação afetiva no relacionamento interpessoal, o

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equilíbrio desses componentes, fará com que o relacionamento humano, de maneira que ao
lidar com as diferenças individuais cria um clima entre as pessoas, podendo o relacionamento
interpessoal torna-se autêntico, duradouro e harmonioso.

A competência interpessoal desenvolvida, favorece aos integrantes de um grupo e ao


relacionamento interpessoal satisfatório, quando exercidas tais atitudes:

-Respeito às diferenças individuais (aceitação do eu e o outro);

-Comunicação efetiva;

-Feedback (produtivo, dar e receber);

-Controle emocional (equilíbrio);

-Autoconhecimento (auto percepção, auto aceitação, autocrítica);

Começamos a constatar que, quem não sabe dialogar prejudica o desenvolvimento


dos outros e de si mesmo, tende a reter informações, subestimar os participantes do grupo
e incentivar o individualismo. A questão fundamental é que o relacionamento com outras
pessoas, passe pelo relacionamento consigo mesmo. A competência interpessoal requer uma
capacidade de percepção, de auto percepção e de autocrítica. Quem segue num grupo sem
olhar para si, tende a abandonar-se e abandonar os outros e o grupo.

4 - A IMPORTÂNCIA DO FEEDBACK NAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

O feedback na nossa cultura é visto como crítica destrutiva, onde quem avalia
encontra-se numa posição superior a quem é avaliado e, na nossa sociedade, quase não se
fazem feedback de uma hierarquia inferior para uma superior. Os chefes raramente são
avaliados por seus subordinados.

Mas o feedback é um instrumento de avaliação que deveria envolver todas as partes.


O feedback é um processo em que uma pessoa fornece informações à outra pessoa ou a um
grupo de pessoas, de forma a favorecer para uma possível mudança de comportamento e
de comunicação, considerando que sua atuação não está adequada ou possa estar afetando
outras pessoas. Feedback eficaz ajuda o indivíduo ou o grupo a melhorar seu desempenho
e assim alcançar seus objetivos. O feedback, mesmo que tenha somente pontos a serem
melhorados, ainda assim é positivo. Melhor é se o feedback, além de apresentar esses pontos
a melhorar também apresentar os pontos adequados da comunicação ou do comportamento
do receptor ou do grupo receptivo.

Para que o feedback aconteça, é necessário proceder entre pessoas, podendo ser de
uma pessoa para outra, de uma pessoa para um grupo, ou entre os membros de um grupo.

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A pessoa ou grupo de pessoas que recebe o feedback, aqui chamaremos de “receptor”,


e deverá ter boa receptividade emocional para ouvir o que está sendo explanado.

Do outro lado, a pessoa que aqui chamaremos de “comunicador” é a que se propõe


a dar o feedback e neste caso, precisa utilizar de alguns preceitos para tornar o feedback
um instrumento realmente útil. Essa pessoa no lugar de avaliar, deverá descrever o
comportamento ou o evento, evitando qualquer julgamento de valor, para que a pessoa ou
o grupo que recebe o feedback não se coloque em posição defensiva e possa sentir-se à
vontade para analisar aquele dado se achar conveniente. De preferência, o feedback deve ser
dado o mais próximo possível do comportamento em questão, para que o receptor perceba
claramente do que se trata e incremente mudanças imediatas. Mas é necessário, que o
receptor avalie a prontidão da pessoa para ouvi-lo, seu estado emocional e o ambiente em que
será dado, para não a constrager.

Um feedback útil deverá ser o mais específico possível, indicando o comportamento


da pessoa numa determinada ocasião, como por exemplo: “Nesta reunião você fez o que
costuma fazer outras vezes: você não ouviu a opinião dos demais e fomos forçados a aceitar
sua decisão para não receber suas críticas exaltadas!” - Dizer isso é melhor que dizer apenas
que a pessoa é “dominadora ou controladora”.

A comunicação entre comunicador e receptor deve ser clara e levar em consideração


as necessidades do receptor e os possíveis comportamentos que o receptor possa modificar,
pois caso contrário, o receptor poderá sentir-se frustrado por reconhecer falhas naquilo que
está além do seu controle e modificar.

O comunicador deverá ser gentil e utilizar de perguntas com relação ao comportamento


que está sendo avaliado para que o próprio receptor possa se auto avaliar e responder. Em grupo, o
receptor deverá permitir que todos participem da avaliação e respondam segundo suas motivações
e necessidades, o que não consiste, porém, em desculpas e justificativas para o comportamento
adotado. O ideal é o receptor repetir o feedback recebido para esclarecer e assegurar que a
comunicação atingiu o objetivo, sem, contudo, ficar justificando-se ou se desculpando.

4.1 - DIFICULDADES EM RECEBER FEEDBACK

O ser humano tem muita dificuldade em aceitar as suas próprias limitações e as suas
ineficiências. Quando deparamos com alguém que nos aponta esses aspectos é difícil aceitar
e principalmente admiti-las publicamente. Especialmente no ambiente de trabalho, qualquer
crítica que possa afetar nossa imagem ou status nos traz receio e constrangimento. Muitas
vezes entendemos as críticas, por mais positivas que essas se apresentem, como falta de apoio
e confiança. É comum reagirmos defensivamente nos justificando, negando, não escutando o
que está sendo dito e ainda apontando os erros do próprio comunicador ou de outros colegas.

Uma boa solução seria considerar o feedback como possibilidade de corrigirmos

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nossa postura e mudar nosso modo de agir.

4.2 - Dificuldades em dar feedback

O feedback não pode ser visto como forma de mostrar a competência e a importância
do comunicador. O objetivo do feedback é mostrar ao receptor os pontos que ele poderá
melhorar na sua comunicação ou no seu comportamento. Para tanto, o comunicador não poderá
basear-se nas suas próprias motivações pessoais para apontar aspectos do comportamento do
outro, o que o tornaria emocional e parcial, fazendo do feedback como um instrumento de
desabafo ou agressão velada ou manifesta.

Também é importante que o comunicador não tema as possíveis reações agressivas do


outro. Se há resistência do receptor, não se deve argumentar ou tentar convencê-lo, pois este
reagirá ficando mais defensivo e resistente, facilitando a geração de polêmicas. Muitas vezes
o receptor não está preparado ou não deseja receber feedback. Nestes casos o comunicador
deverá ter uma percepção aguçada para no primeiro sinal de fraca prontidão perceptiva,
interromper o processo do feedback e deixar para outra oportunidade.

É preciso estabelecer uma relação de confiança entre receptor e comunicador,


diminuindo as barreiras e bloqueios do processo.Todos nós precisamos de feedback.
Necessitamos saber o que estamos fazendo inadequadamente como também o que
conseguimos fazer acertadamente, de modo a podermos corrigir as ineficiências e mantermos
os acertos.

Por outro lado, quando recebemos feedback de uma pessoa precisamos confrontar
com as opiniões de outras pessoas para verificar se precisamos mudar nosso comportamento
de maneira geral ou somente em relação àquela pessoa.

Devemos lembrar que “feedback” é uma palavra inglesa que sugere realimentação,
regeneração, o que o torna bastante apropriado para situações em que precisamos realimentar
e regenerar nosso comportamento, nosso modo de agir e comunicar.

5 - CONFLITOS NAS ORGANIZAÇÕES

5.1 - Definição de Conflito

• Nada mais é que percepções e interpretações divergentes das partes sobre um


determinado assunto.

• É sempre visto como algo negativo, um rompimento, um fim.

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• Pela nova ordem sistêmica, o conflito é um meio, uma oportunidade de reconstrução


de realidades e motor gerador de energia criativa.

5.2 - Origem dos conflitos

Os conflitos existem desde o início da humanidade, o mesmo é fonte de ideias novas,


podendo levar a discussões abertas sobre determinados assuntos, o que se revela positivo em
algumas das vezes, quando positivo permite a expressão e exploração de diferentes pontos de
vista, interesses e valores, ou seja, em certos momentos e em determinados níveis, o conflito
pode ser considerado necessário, caso não queira entrar num processo de estagnação.

Assim os conflitos não são necessariamente negativos; a maneira como lidamos com
eles é que pode gerar algumas reações.

5.3 - Desenvolvimento

Se a história for observada, até há pouco tempo a ausência de conflitos era vista
como expressão de bom ambiente, boas relações, e no caso das organizações, como sinal
de competência, pois a maioria dos profissionais via o conflito de forma negativa, sendo
o resultado de uma ação ou mau comportamento de algumas pessoas, e associavam à
agressividade, ao confronto físico e verbal e sentimentos ruins, que eram considerados
prejudiciais ao bom relacionamento entre pessoas e ao bom funcionamento das organizações.

5.3 - Níveis e estágios do conflito

Causas dos conflitos dentro das Organizações:

• Competição entre as pessoas, por recursos disponíveis, mas escassos;

• Divergência de alvos entre as partes;

• Tentativas de autonomia ou libertação de uma pessoa em relação a outra, assim


como podem ser atendidos como fontes de conflito: direitos não atendidos ou não
conquistados;

• Mudanças externas acompanhadas por tensões, ansiedades e medo.

• Luta pelo poder;

• Necessidade de status, desejo de êxito econômico;

• Exploração de terceiros (manipulação);

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• Necessidades individuais não atendidas;

• Expectativas não atendidas;

• Carências de informação, tempo e tecnologia;

• Escassez de recursos;

• Marcadas diferenças culturais e individuais;

• Divergência e metas;

• Tentativa de autonomia;

• Emoções não expressas/ inadequadas;

• Obrigatoriedade de consenso;

• Meio-ambiente adverso e preconceitos.

5.4 - Causas dos conflitos

Pela experiência de frustração de uma ou ambas as partes, ou seja, a incapacidade


de atingir uma ou mais metas ou realizar os seus desejos, por algum tipo de interferência ou
limitação pessoal, técnica ou comportamental.

Diferenças de personalidades, que são invocadas como explicação para as desavenças


tanto no ambiente familiar como no ambiente de trabalho, e reveladas no relacionamento
diário através de algumas características indesejáveis na outra parte envolvida;

Metas diferentes, pois é comum estabelecermos ou recebermos metas a serem


atingidas e que podem ser diferentes dos de outras pessoas e de outros departamentos, o que
nos leva à geração de tensões em busca de seu alcance;

Diferenças em termos de informações e percepções, costumeiramente tendemos a


obter informações e analisá-las à luz dos nossos conhecimentos e referenciais, sem levar em
conta que isto ocorre também com o outro lado com quem temos de conversar ou apresentar
nossas ideias, e que este outro lado pode ter uma forma diferente de ver as coisas.

5.5 - Evolução dos conflitos e suas características:

• Nível 1 - Discussão: é o estágio inicial do conflito; caracteriza-se normalmente por ser


racional, aberta e objetiva;

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• Nível 2 - Debate: neste estágio, as pessoas fazem generalizações e buscam demonstrar


alguns padrões de comportamento. O grau de objetividade existente no nível 1 começa
a diminuir;

• Nível 3 - Façanhas: as partes envolvidas no conflito começam a mostrar grande falta de


confiança no caminho ou alternativa escolhidos pela outra parte envolvida;

• Nível 4 - Imagens fixas: são estabelecidas imagens preconcebidas com relação à outra
parte, fruto de experiências anteriores ou de preconceitos que trazemos, fazendo com
que as pessoas assumam posições fixas e rígidas;

• Nível 5 - Loss of face (ficar com a cara no chão): trata-se da postura de “continuo neste
conflito custe o que custar e lutarei até o fim”, o que acaba por gerar dificuldades para
que uma das partes envolvidas se retire;

• Nível 6 - Estratégias: neste nível começam a surgir ameaças e as punições ficam mais
evidentes. O processo de comunicação, uma das peças fundamentais para a solução de
conflitos, fica cada vez mais restrito;

• Nível 7 - Falta de humanidade: no nível anterior evidenciam-se as ameaças e punições.


Neste, aparecem com muita frequência os primeiros comportamentos destrutivos e as
pessoas passam a se sentir cada vez mais desprovidas de sentimentos;

• Nível 8 - Ataque de nervos: nesta fase, a necessidade de se auto preservar e se proteger


passam a ser a única preocupação. A principal motivação é a preparação para atacar e
ser atacado;

• Nível 9 - Ataques generalizados: neste nível chega-se às vias de fato e não há alternativa
a não ser a retirada de um dos dois lados envolvidos ou a derrota de um deles.

5.6 - Tipos de conflitos

• Conflito latente: não é declarado e não há, mesmo por parte dos elementos envolvidos,
uma clara consciência de sua existência. Eventualmente nem precisam ser trabalhados.

• Conflito percebido: os elementos envolvidos percebem, racionalmente, a existência


do conflito, embora não haja ainda manifestações abertas do mesmo;

• Conflito sentido: é aquele que já atinge ambas as partes, e em que há emoção e forma
consciente;

• Conflito manifesto: trata-se de conflito que já atingiu ambas as partes, já é percebido


por terceiros e pode interferir na dinâmica da organização.

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5.7 - Conflitos Interpessoais nas Organizações

Os conflitos interpessoais se dão entre duas ou mais pessoas e podem ocorrer por
vários motivos: diferenças de idade, sexo, valores, crenças, por falta de recursos materiais,
financeiros, e por diferenças de papéis. Podemos dividir este tipo de conflitos em dois:

• Hierárquicos: colocam em jogo as relações com a autoridade existente. Ocorre


quando a pessoa é responsável por algum grupo, não encontrando apoio junto aos
seus subordinados e vice-versa. Neste caso, as dificuldades encontradas no dia-a-dia
deixam a maior parte das pessoas envolvidas desamparada quanto à decisão a ser
tomada.

• Pessoais: dizem respeito ao indivíduo, à sua maneira de ser, agir, falar e tomar decisões.
As “rixas pessoais” fazem com que as pessoas não se entendam e, portanto, não se
falem. Em geral esses conflitos surgem a partir de pequenas coisas ou situações nunca
abordadas entre os interessados.

5.8 - Consequências do conflito

• Quando desviam a atenção dos reais objetivos, colocando em perspectiva os objetivos


dos grupos envolvidos no conflito e mobilizando os recursos e os esforços para a sua
solução;

• Quando tornam a vida uma eterna derrota para os grupos de “perdedores habituais”,
interferindo na sua percepção e na socialização daqueles que entram na organização;

• Quando favorecem a percepção estereotipada a respeito dos envolvidos, como ocorre


frequentemente em organizações. Se por um lado existem os estereótipos genéricos
referentes às categorias profissionais, dentro de cada organização, além dos tipos que
fazem parte de sua cultura individual, como seus heróis, mitos, tipos ideais, começam
a surgirem seus “perdedores”, “ganhadores”, “culpados” e “inimigos”.

5.9 - Efeitos benéficos dos conflitos

• São bons elementos de socialização, pois oferecem aos novos participantes de um


grupo a sensação de envolvimento com alguma causa;

• Ajudam a equilibrar as relações de poder dentro da organização, pois qualquer episódio


de conflito pode haver diferente ganhador (independentemente das percepções
anteriores);

• Propiciam a formação de alianças com o objetivo de ganhar num conflito específico,


mas também de garantir mais poder.

23
Relações Interpessoais e Ética Profissional

5.10 - Como resolver os conflitos dentro das Organizações

• Criar uma atmosfera afetiva;

• Esclarecer as percepções;

• Focalizar em necessidades individuais e compartilhadas;

• Construir um poder positivo e compartilhado;

• Olhar para o futuro e, em seguida, aprender com o passado;

• Gerar opções de ganhos mútuos;

• Desenvolver passos para a ação a ser efetivada;

• Estabelecer acordos de benefícios mútuos.

5.11 - Conclusão

Sejam eles positivos ou negativos, os conflitos podem ser considerados úteis pelo papel que
desempenham na vida das pessoas, portanto é possível constatar que nenhuma organização
está livre de conflitos, pois praticamente toda a empresa sofre e se beneficia com eles.

Os conflitos são responsáveis por sérias ameaças à estabilidade da organização, mas


também podem agir de maneira construtiva estimulando o potencial de inovação.

6 - A COMUNICAÇÃO DIGITAL E VIRTUAL NO


CONTEXTO INTERNO DAS ORGANIZAÇÕES

A internet tem modificado amplamente as relações humanas. As pessoas se comunicam


em âmbito global por meio de diversas opções de sistemas digitais e virtuais. As relações
estão se tornando cada vez mais virtuais, seja no trabalho, nos ambientes educacionais e na
família. No campo da comunicação organizacional, o advento da internet tem transformado
as relações das organizações com seus públicos, inclusive no contexto comunicacional
entre organizações e seus colaboradores, a chamada comunicação interna. Neste âmbito,
está muito presente a comunicação mediada por ferramentas digitais, entre pessoas em um
mesmo espaço geográfico ou em unidades distantes.

Atualmente os funcionários e gestores se comunicam cada vez mais de forma


virtualizada. Ferramentas que trazem praticidade, como correio eletrônico, sistemas de

24
T É C N I C O

conversas instantâneas, intranet, fóruns internos, sistemas mobile, entre outras, acabam
substituindo muitas vezes cada vez a comunicação face a face. Ao mesmo tempo é comum
pessoas de uma mesma equipe, que trabalham em uma mesma sala, interagirem muito mais
por e-mail do que pessoalmente. As relações humanas dentro das organizações tendem a
se tornar mais frias e distantes, o que pode dificultar o relacionamento interpessoal entre
colaboradores, entre líderes e liderados e até a sensibilização de equipe. Por outro lado, essas
ferramentas facilitam muito o diálogo entre unidades de uma mesma organização que estão
geograficamente distantes.

A internet e as ferramentas de comunicação digitais são um caminho sem volta


e certamente contribuem muito para a evolução global. Por isso, no campo de estudo da
comunicação organizacional, há diversas pesquisas sendo realizadas para entender como a
Internet e ferramentas digitais podem ser trabalhadas de forma a contribuir estrategicamente
para as organizações. Mas considerando seu contexto interno ainda é necessária maior
investigação sobre o tema. Neste sentido, o profissional de comunicação, especialmente os
relações públicas, precisa se dedicar para entender e considerar as ferramentas digitais e
virtuais para trabalhar a comunicação integrada das empresas.

A gestão da comunicação interna precisa considerar os canais digitais e virtuais


utilizados pelos colaboradores e assumir seu papel fundamental de propiciar momentos
oficiais de interação interpessoal entre a força de trabalho. Restrições em excesso para
acesso à Internet ou resistência para a utilização dos canais de comunicação digitais destoam
da dinâmica comunicacional atual. Porém, é fundamental considerar as ferramentas de
comunicação digitais e virtuais no planejamento integrado de comunicação da organização,
considerando o posicionamento de marca, as políticas internas, o sistema de gestão e o perfil
do público. Os fluxos de comunicação formais precisam considerar tanto as ferramentas
digitais e virtuais, os canais de comunicação tradicionais (jornal, mural, documentos de
processos), quanto as formas de interação pessoal entre a força de trabalho como eventos
de integração, campanhas que mobilizem equipes, ambientes que possibilitem o diálogo,
sistemática de comunicação administrativa que considere reuniões presenciais, cursos,
entre outras ações. As ferramentas digitais e virtuais possuem características específicas
em termos de formato, linguagem e interatividade, que precisam ser sempre considerados
pela organização ao definir o conteúdo e temas de relacionamento nestes canais. Utilizar
ferramentas de comunicação digitais e virtuais, veiculando conteúdos que impossibilitem
a interatividade acaba subutilizando todo o potencial e finalidade dessa nova tendência
comunicação.

Sistemas de trabalho digitais e cada vez mais virtualizados podem facilitar ou dificultar
a interação e o relacionamento interno em uma organização, de acordo com a abordagem
e o posicionamento da empresa em relação à sua comunicação interna e administrativa.
As ferramentas digitais e virtuais facilitam para a agilidade do fluxo comunicacional, bem
como podem aproximar distâncias de unidades empresariais distintas. Porém, assim como
outros canais de comunicação, ao mesmo tempo em que possuem interatividade, são também
uma comunicação mediada, onde a rastreabilidade (por parte da empresa) e a interpretação
pessoal (de quem lê) influenciam nos assuntos e na forma que estes serão abordados. A
comunicação interna e administrativa abrange os fluxos formais e informais, sendo que a

25
Relações Interpessoais e Ética Profissional

qualidade dos fluxos informais, que mesmo com muitos canais de comunicação sempre vai
ocorrer, está diretamente relacionada à clareza e transparência de comunicação dos fluxos
formais da organização.

Toda organização é formada e mantida por pessoas, que precisam se sentir


integradas. Para facilitar essa integração, as empresas têm utilizado facilidades advindas das
novas tecnologias da informação, por meio das mídias digitais e virtuais e ferramentas de
comunicação digitais para agilizar a comunicação. Isso demonstra que é uma preocupação
de mercado possibilitar a troca de informações entre os colaboradores e entre a empresa e
os colaboradores. Ao mesmo tempo, a essência da comunicação face a face é estratégica
para a gestão de pessoas e possibilita as pessoas se sentirem parte da organização. Por isso,
é preciso estudar sobre como essas ferramentas virtuais e digitais podem ser trabalhadas
na comunicação interna e como influenciam nas relações interpessoais nas organizações.
É preciso analisar como essa nova realidade pode arrolar no engajamento e motivação dos
funcionários de uma organização, já que o engajamento da força de trabalho é fundamental
para o sucesso das organizações.

7 - INFLUÊNCIA SOCIAL E LIDERANÇA

7.1 - Diferença entre grupo e equipe

Grupo: É a reunião de várias pessoas, onde não existe um objetivo em comum.

Equipe: Trata-se de um grupo de pessoas com um objetivo comum, que batalham


por uma conquista e respeitam as características e competências individuais de cada um.

Equipe quer dizer comprometimento.

Acredita-se que cada indivíduo tem algo a oferecer para transformar um grupo em
uma equipe de sucesso.

O segredo é aproveitar tais competências individuais para obter um bom resultado coletivo.

Os colaboradores são águias de um projeto. Eles precisam ser tratados como peças
determinantes, verdadeiros atores, e não meros coadjuvantes num processo maior, que exige:

1. Envolvimento;

2. Resultados

26
T É C N I C O

3. Cooperação;

4. Determinação.

Finalmente, numa equipe verdadeira, seus membros se sentem mutuamente


responsáveis pelo desempenho da equipe.

As pessoas se sentem interdependentes, isto é, elas tem consciência de que todos os


seus membros são igualmente importantes e que atingirão o sucesso ou fracassarão juntos.

No trabalho em equipe, quem acha que sabe tudo sempre pode aprender algo novo, e
quem acha que não sabe nada, pode descobrir que é mais capaz do que imagina.

Comprometimento individual a um esforço em conjunto:

Isso é o que faz um time funcionar, uma empresa funcionar, uma sociedade funcionar,
uma civilização funcionar.

O profissional do futuro deve, sobretudo, saber trabalhar em equipe.

7.2 - Liderança de uma Equipe

O líder de uma equipe é responsável:

• Pela sua organização de modo que ela atinja seu(s) objetivo(s)

• Pela qualidade de sua produção;

• Pelo desenvolvimento de sua equipe;

• Pela interação entre sua equipe e a empresa.

Há um estilo ideal de liderança?

• O estilo ideal de liderança é qualquer um que melhor se adapte à equipe.

Estilos de liderança

• Democrático

27
Relações Interpessoais e Ética Profissional

• Autocrático

• Laissez Faire

• Situacional

O que é preciso fazer para que as equipes sejam bem-sucedidas?

• Usar instrumentos e técnicas que ajudem a equipe a desenvolver um método grupal de


trabalho, no qual as pessoas depositam confiança.

Como uma empresa pode garantir que uma equipe será bem-sucedida?

Nenhum de nós é tão bom quanto todos juntos.

8 - COMO MOTIVAR SUA EQUIPE

Quando o trabalho parece trivial, é difícil motivar os empregados. Independentemente


de eles estarem entediados, sem vontade ou por não gostarem do trabalho, você estará diante
do mesmo monstro: a falta de motivação. Porém, isso não está relacionado ao trabalho: é
tudo sobre o ambiente que “você” cria. Crie o ambiente certo e você terá funcionários felizes
e motivados que facilmente penderão à produtividade e ao contentamento.

28
T É C N I C O

Parte 1 de 3: Motivando-os Coletivamente

1 - Utilize um programa de compensação de incentivo ao empregado.


Em vez de aumentar salários (algo que nenhum chefe quer ouvir), comece um
programa de compensação de incentivo ao funcionário. Desse jeito, quando a empresa estiver
lucrando, todos os funcionários sairão beneficiados, do CEO aos assistentes de carga. Visto
que querem participar da coleta dos benefícios, eles permanecerão motivados para fazer a
empresa lucrar. Na mente deles, o pagamento normal vem de um jeito ou de outro: com o
programa de compensação, o sucesso da empresa também os afeta.

O programa pode (e deve) dar um incentivo que os funcionários possam dividir com
seus familiares. Incentivos assim são incríveis motivadores em empresas. Para aqueles que
são adultos com famílias para sustentar, o programa pode ser um grande motivo para lutar
pela empresa.

2 - Ajude seus comandados a ver que o trabalho é importante.


Presumivelmente, a empresa foi criada por motivos que vão muito além da coleta de
dinheiro. Talvez o alto escalão enxergue tais motivos; porém, para os empregados, todos os dias
equivalem a um mesmo cotidiano chato. É trabalho, trabalho, trabalho e mais trabalho. Certifique-
se de que eles vejam como o trabalho deles ajuda a empresa a chegar aos seus objetivos e como
isso é valioso. Você pode ficar surpreso ao saber que eles mal pensam sobre isso.

Digamos que você precise motivar sua equipe do McDonald’s. Eles estão virando
hambúrgueres e estão cansados disso. Faça-os lembrar de que, além do salário, eles estão
trabalhando por uma causa maior: entregar à população comida gostosa, barata e de maneira
rápida. Eles estão ajudando todas as pessoas cujas vidas são perturbadas por conta do tempo
e do dinheiro. Isso dá aos funcionários um motivo para trabalhar, pois talvez eles não tenham
um.

3 - Esclareça como cada passo dado serve para o bem maior.


É fácil os empregados olharem dados que precisam ser inseridos numa planilha, por
exemplo, e deixá-los de lado pelo fato de “os mesmos serem irrelevantes”. Porém, se o passo
1 não for concluído, as etapas 2, 3, 4 e 5 também não o serão. Esclareça que cada coisinha
que eles fazem ajuda a empresa a obter mais sucesso.

29
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Certifique-se de compartilhar com seus empregados a visão da empresa, permitindo


que eles saibam quais as funções deles e o que há por trás das mesmas. Quando um
funcionário não souber o que o trabalho dele significa para a empresa, ele não se sentirá
motivado a realizá-lo.

4 - Mantenha um ambiente de trabalho alegre, limpo e divertido.


Imagine um grupo de pessoas que trabalha num escritório cheio de cubículos
cinzentos, sem arte nas paredes, onde as copiadoras estão sem tinta e a cafeteira não funciona.
Você acha que os funcionários ficarão felizes? Não muito. Certifique-se de que chegar ao
trabalho seja divertido para manter os funcionários motivados. Eis algumas ideias:

• Dê um pouco de cor às paredes ao utilizar-se de arte e de pôsteres motivacionais;

• Estabeleça dias em que os funcionários tenham de vir vestidos de algo (trabalhar de


pijamas, que tal?);

• Faça um lanche especial em seu escritório um dia por semana rotineiramente;

• Certifique-se de que todos os equipamentos funcionem e permita que a realização do


trabalho seja simples;

• Prepare um espaço de lazer com jogos e atividades divertidas para manter o moral alto.

5 - Comece o dia com um abraço em grupo.


Cada time desportivo começa o dia com uma conversa em grupo por um motivo: isso
deixa cada jogador focado e centrado no que precisa fazer. Apenas 10 ou 15 minutos diários
dedicados à grandiosidade da equipe fará com que cada funcionário se sinta ainda mais
incrível. Os trabalhadores se sentirão animados e apreciados. .

Não tenha medo de tirar uns minutinhos para verificar como cada um está, também.
Quando tiver a oportunidade de ver pessoalmente que a Sandra está tentando digitar entre
tossidas e espirros, você pode dizer para ela trabalhar com mais calma. Isso faz com que
Sandra saiba que você se importa e dá a ela um motivo para trabalhar duro; a funcionária não
gostaria de desapontar alguém que se importa com a performance dela.

6 - Dê “promoções por projeto” aos empregados.


Digamos que David tenha criado uma ótima ideia para um projeto paralelo. Em vez
de dizer “Pode crer, David! Manda ver!” (O que é aceitável), diga: “David, você está demitido

30
T É C N I C O

de seu trabalho normal. Você agora é CEO do Projeto Paralelo X. Mostre-me o que você
pode fazer!”. David vai cair nesse truque.

Nós todos temos uma sensação de importância. Quando você tem um time maior
que está, essencialmente, fazendo as mesmas coisas, as pessoas começam a achar que não
importam, pois esta é a conclusão lógica. Dar pequenas promoções a essas pessoas e encorajar
os projetos paralelos delas é uma ótima maneira de contornar isso.

7 - Envolva-os na tomada de decisões.


Empresas tomam milhares de decisões diariamente. Normalmente, isso é feito sem
maiores conversas com funcionários, deixando-os até meio confusos na hora de mudanças.
Isso faz com que os funcionários se sintam incrivelmente isolados e desvalorizados; portanto,
acabe com esse problema ao envolvê-los no processo. Eles podem mostrar-lhe ideias e
apresentar soluções em potencial (e algumas podem ser muito boas). Você pode aceitar as
ideias ou deixá-las de lado.

Não importa se as ideias não forem implementadas – o que importa é envolver os


funcionários. Os funcionários devem sentir que estão no mesmo nível de todos os outros.
Ninguém é deixado para trás. Se algum funcionário se sentir abandonado, ele eventualmente
deixará de se importar com o trabalho.

PARTE 2 DE 3: MOTIVANDO-OS INDIVIDUALMENTE

1 - Dê a cada indivíduo os equipamentos necessários para seus serviços.


Quando o membro de um time se sente incompetente ou inseguro quanto ao seu
desempenho no emprego, o serviço dele sofre. O funcionário não trabalha tão duro, afinal,
ele não está feliz. Evite isso ao garantir que cada funcionário esteja equipado da maneira
certa para seus respectivos serviços. Forneça a eles cursos, seminários e técnicas para mantê-
los no caminho certo.

Idealmente, a organização de seu trabalho já tem esses equipamentos. O que importa


é saber quem precisa do quê. Quando começar a receber feedback de seus empregados, você
saberá exatamente quem precisa do quê.

2 - Use truques e gambiarras como símbolos de status.


Você se lembra de quando, na escolinha, sua professora lhe dava estrelas douradas
por causa de um bom trabalho? Agora que você está lidando com adultos, “nada mudou”.

31
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Humanos são bastante simples em relação a algumas coisas, e pequenos símbolos de status
podem ser bem significativos. Eis algumas ideias:

• Um cãozinho de pelúcia para alguém que “trabalhou pra cachorro”.

• Uma pizza grande pra quem estiver “botando a mão na massa”

• Estrelas coloridas de papelão por desempenhos “estelares”.

3 - Aproveite-se das motivações pessoais deles.


Se você escutar a pessoa por alguns minutos, será fácil descobrir o que a deixa
energizada. Sente-se com cada empregado e permita que eles falem sobre o trabalho e a
empresa. O que os incomoda? O que eles veem no futuro? O que os anima?

Por exemplo, saber que José fica animado com a multinacionalização da empresa
pode abrir a possibilidade de você deixá-lo animado para um projeto internacional. Isso
significa que José ficaria feliz em ajudar em tal projeto. Coisas assim podem reduzir as
chances de o empregado abandonar o trabalho também.

Fique de olho em gatilhos pessoais, também. José odeia as manhãs e sente que sua
produtividade diminui em tal período? Diga a ele que é aceitável ele vir para trabalhar uma
hora mais tarde. Isso se ele manter um altíssimo nível de produtividade, claro!

4 - Escute ao que eles têm a dizer.


Empregados não são macaquinhos que devem ser deixados num cômodo por 8 horas
diárias para apertar botões. Eles não são robôs que brilham alegremente até suas baterias
acabarem. Eles são pessoas que precisam se sentir importantes. O jeito mais fácil de fazer
isso é 100% gratuito. Apenas escute-os. Comece a conversar casualmente de vez em quando,
esclarecendo que você se importa com a felicidade deles. Nestes casos, uma ação simples
pode levá-los longe.

Você tem poder nessa situação. O que você poderia fazer para deixá-los mais felizes?
Se houver algo que você possa fazer, faça-o! O empregado feliz e motivado faz o trabalho
que lhe dá orgulho e, mesmo se houver desavenças, permanecerá lutando pela empresa!

5 - Respeite-os como seres individuais e reais.


Há muitas pessoas por aí que tomam o poder e abusam dele. O fato de seu grupo estar
“abaixo” de você não significa que ele não mereça ser respeitado. Se você estivesse no lugar dos
funcionários, como gostaria de ser tratado? Não respeitar os empregados enquanto indivíduos que
estão tentando fazer um bom trabalho é uma das coisas mais desmotivadoras que você pode fazer.

32
T É C N I C O

Se você estivesse no lugar deles, pense em como seria seu chefe. Que tipo de chefe
você gostaria de ter? Que tipo de chefe faria você querer trabalhar?

6 - Elogie-os.
Todos querem saber como estão, e todos “realmente” desejam elogios. Arranje um
minutinho de seu dia (da maneira mais consistente possível) para dizer “Continue firme!”.
Isso permite que os empregados saibam que você está atento ao trabalho que eles estão
fazendo (dando a eles um senso de responsabilidade). Isso também os deixa orgulhosos.

Faça isso na frente de todos. Isso gera inúmeros efeitos: faz com que a outra pessoa
se sinta grandiosa; faz com que ela deseje mais elogios; e, para os que já escutaram isso
anteriormente, faz com que o funcionário busque esse elogio, aumentando seu moral.

Parte 3 de 3: Motivando-os por Conta Própria

1 - Escute o que eles acham que precisa melhorar.


Funcionários enxergam um lado diferente da empresa. Por causa disso, eles têm
uma ideia melhor quanto a quais melhorias precisam ser feitas. Normalmente, essas ideias
facilitarão os trabalhos deles, levando a uma maior produtividade.

Seja uma copiadora mais confiável ou uma maneira diferente de receber salários,
lembre-se de que pequenos furos afundam navios, e pequenos consertos ajudam-nos a
permanecer flutuando. Tente implementar o máximo de ideias possível; não apenas para
aumentar o ritmo de trabalho, mas também para manter os funcionários valorizados.

2 - Continue coletando feedback.


Seja positivo ou negativo, empregados precisam saber como estão trabalhando e
se estão no caminho certo. A estrutura permite que eles permaneçam tranquilos. Com o
feedback, eles sabem exatamente o que se espera deles e quais áreas precisam ser abordadas.
Isso faz com que você fique mais feliz também, permitindo que sua visão se espalhe!

Certifique-se de manter o feedback pessoal. Não ande por aí espalhando o quanto


determinado empregado é bom enquanto não elogia os outros. O oposto é ainda mais
verdadeiro: não diminua alguém abertamente. A pessoa se sentirá desmotivada, pouco
apreciada e terrível.

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

3 - Invista nas vidas de seus funcionários.


Ensine-os, ajude-os e prepare-os para o futuro. Para torná-los funcionários valiosos,
você precisa fornecer técnicas que eles possam usar por um longo tempo. Dê a eles
oportunidades de melhorarem suas vidas, e não para firmar uma rotina em suas mentes.
Quando tiverem um emprego que os ensine a viver, eles verão valor no trabalho.

Deixe claro que você está interessado no equilíbrio trabalho-vida dos funcionários.
Investir na vida deles também significa investir na felicidade deles. Isso pode significar
perguntar como estão os familiares de seus funcionários, levá-los a um bar ou organizar uma
viagem de férias. Você quer indivíduos equilibrados e relaxados, e não robôs desmotivados
que contam os segundos para desligar.

4 - Faça com que tudo seja pessoal.


Receber um e-mail automático de sua empresa dizendo “Wow! Você trabalhou um
milhão de horas por nós! Obrigado!” É legal, claro (se você conhece o departamento de
recursos humanos, talvez). Porém, receber uma carta escrita à mão de seu chefe (mesmo se
você não o conhecer) poderia significar o mundo.

Aproveite oportunidades pequenas, sejam aniversários, comemorações ou


condolências. Quando seu empregado puder sentir sua presença, ele se sentirá uma parte
valiosa da empresa. Afinal de contas, por qual outro motivo você gastaria tempo com ele?

5 - Seja um pouco estranho.


Imagine um chefe que vem trabalhar todos os dias de terno e gravata, indo direto
para o escritório e ligando apenas para criticar o desempenho dos empregados. Divertido,
não? Agora, imagine um chefe que, de vez em quando, vem trabalhar vestido de macaco,
dá bananas para todo mundo e faz reuniões aleatórias de vez em quando (ocasionalmente,
vestido de macaco) para falar com o time, compreender como as coisas estão e dar notícias
sobre o estado da empresa. Que chefe você acha que atrairia os trabalhadores?

Certo, então você não quer vestir uma fantasia de macaco. Mas ir ao trabalho
carregando uma caixa de bolinhos de banana não seria ruim!

Participe do almoço para fazer piadas com seu time. O riso é contagioso e pode
manter todos animados, mesmo com os prazos a serem cumpridos.

Permita que eles o enxerguem com uma pessoa esquisita e tudo mais. A realidade
transformará você numa pessoa com sentimentos – alguém a ser respeitado e que não pode
ficar desapontado com os outros.

34
T É C N I C O

Dicas

• Dê uma folga à equipe de vez em quando. Se houver algo relaxante que ajude os
empregados, distribua-os ocasionalmente. Por exemplo, se alguém precisa descer
o prédio para colocar cartas no correio, e várias pessoas gostam de sair de vez em
quando, permita que elas façam isso!

• Faça uma festa com a equipe, jogue jogos e distribua prêmios. Relacione os jogos
ao trabalho. Você poderia fazer um jogo de perguntas e respostas para descobrir
quantos ramais os funcionários memorizaram, ou quantos produtos da empresa os
trabalhadores conhecem.

• Faça uma caixa de sugestões, analise-as ocasionalmente e implemente as boas ideias.


Leve todas as sugestões a sério. Algumas vezes, são as ideias incomuns que revitalizam
o espaço de trabalho.

• Reconheça que a maioria das pessoas trabalha pelo salário, e que o encorajamento
só ajuda o trabalhador a manter a produtividade. Se você não puder dar aumentos,
conceda bonificações para empregados que merecem. Por exemplo: dê um a mais para
trabalhadores organizados, mais criativos ou dê a eles a oportunidade de conhecerem
alguém que possa mudar suas carreiras.

Avisos

Não espere ser amigo das pessoas que você supervisiona, mesmo que determinados
funcionários sejam realmente seus “amigos” fora dos negócios. Você é o supervisor de seus
funcionários, e conversas casuais ou inapropriadas, especialmente envolvendo comentários
sugestivos, podem render processos.

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

9 - DICAS PARA COMUNICAR-SE BEM NO TRABALHO

Muitas competências são essenciais no mercado de trabalho, mas podemos dizer


que a comunicação efetiva está entre as mais importantes habilidades de um profissional.
E não por acaso, pois é através do bom desenvolvimento da capacidade de comunicar-se e,
consequentemente de relacionar-se, que o colaborador desenvolve sua inteligência social e
alcança também bons resultados.

Segundo o escritor Karl Albrecht, um dos mais importantes pensadores e nomes


na área da Administração Estratégica, focada em liderança, e autor do livro a “Inteligência
Social”, esta qualidade é “a Nova Ciência do Sucesso” e consiste na habilidade de se relacionar
bem com as outras pessoas e conquistar sua cooperação.

Esta Inteligência Social (IS) é uma combinação entre a sensibilidade e as necessidades


e interesses alheios, sendo chamada por vezes de radar social: uma atitude de generosidade
e consideração, além de um jogo de habilidades práticas para ter êxito ao interagir com as
pessoas em quaisquer circunstâncias.

36
T É C N I C O

Comunicação e Relacionamento

Entre as competências comportamentais mais valorizadas a Comunicação Efetiva se


destaca, pois compreende dominar as ferramentas de comunicação (linguagem oral, escrita e
expressão corporal) para se relacionar, expressar ideias claras, falar bem em público, saber
dar feedbacks, fazer réplicas e esclarecer dúvidas.

A forma de se comunicar impacta diretamente nos relacionamentos e na manutenção


do colaborador na empresa. Segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Harvard,
os problemas interpessoais são responsáveis por 60% das demissões. Isso representa que
2/3 das demissões nas empresas são causadas por dificuldades de relacionamento entre os
colegas de trabalho.

Confira 10 Dicas para Comunicar-se com Assertividade:

1- Estabeleça uma conexão amistosa com as pessoas;

2- Procure observar-se sob a visão do outro;

3- Ouça na Essência;

4- Escolha as palavras com cuidado;

5- Fique atento a sua expressão visual e corporal;

6- Controle a voz e seja objetivo em suas apresentações;

7- Prepare-se para falar em público;

8- Compartilhe e ouça os feedbacks atentamente;

9- Dê instruções claras e concisas;

10- Ajude os mais tímidos a se comunicarem melhor.

Fique atento as estas dicas e a forma com que se comunica com seus colegas, líderes
e liderados. Tanto a linguagem verbal como a corporal falam muito sobre você. Busque
aperfeiçoar sua comunicação, ampliar seu vocabulário, estar atento ao seu gestual.

Desta forma você conseguirá atingir, de maneira mais assertiva, os seus públicos e o
que é melhor, ter suas mensagens compreendidas com sucesso.

37
Relações Interpessoais e Ética Profissional

10 - DINÂMICAS DE GRUPO

As ciências sociais oferecem hoje aos indivíduos diversos meios que permitem
incentivar os educandos a participarem ativamente do processo de aprendizagem, trabalhando
em grupos.

Esses recursos diferem, de certo modo, dos processos habituais do ensino formal
e acadêmico e são os resultados de uma evolução natural e progressiva das doutrinas
pedagógicas, a partir do século XVII, com RATKE (1612) que começou a preocupar-se
com os princípios e regras do ensino e com BACON (1620) que salientava a importância da
observação, seleção de dados, formulação de hipóteses e generalização para a conquista do
conhecimento, caracterizando assim o método indutivo.

Em 1637, Descartes, complementando as ideias de Bacon, apresentou quatro princípios


“para guiarem o espírito em busca da verdade’’:

• 1º) não admitir nada como verdadeiro, se não se oferece como evidente (evidência);

• 2º) dividir cada uma das dificuldades em tantas partes quantas forem necessárias para
resolvê-las melhor (análise);

• 3º) ir do mais fácil e simples ao mais complexo (síntese);

• 4º) fazer enumeração completa e geral para ter a segurança de não haver omitido nada
(comparação).

A preocupação de Bacon e Descartes era buscar normas, imprimindo uma ordem nas
ideias até então apresentadas, procurando, assim, metodizar o processo de aprendizagem.

Em 1657, Comenius lançou as bases para obter-se maior rapidez no ensino, com
economia de tempo e energia, tornando conhecido o termo Didática. Comenius valorizava
o educando, enfatizando que ‘’ somente fazendo é que se aprende’’. Em 1762, Rousseau
proclamou a importância do conhecimento da natureza psíquica do educando, chegando,
assim ao conceito de educação paidocêntrica: ‘’O educando é o objeto e o guia da educação.’’

Ao estudarmos a dinâmica do trabalho em grupo contatamos algumas etapas


necessárias para uma boa aprendizagem são elas:

• 1º) o aluno só aprende bem quando o faz pessoalmente por observação, reflexão e
experimentação (auto ensino);

• 2º) o ensino deve ser adaptado à natureza peculiar de cada aluno (ensino diferenciado);

• 3º) deve-se desenvolver, junto à formação intelectual, as aptidões manuais, e, em geral


toda a energia criadora (ensino integral);

38
T É C N I C O

• 4º) a matéria de ensino deve ser organizada de tal modo que chegue a ter efeito global
na formação do educando (ensino globalizado);

• 5º) torna-se necessário socializar o ensino, por meio de trabalhos em grupos,


respeitando e fortalecendo ao mesmo tempo a individualidade dos educandos, pois
educação é vida, educar é preparar para a vida (ensino socializado). Pode-se observar
que a Dinâmica de Grupos surgiu como resultado da evolução natural de diferentes
correntes pedagógicas, que progressivamente tentavam soluções tendentes a dar ao
ensino um caráter mais socializante e ativo.

Daí o surgimento da Dinâmica de Grupos: primeiro, como réplica ao ensino


livresco, formal e acadêmico; segundo pela necessidade atual de ministrar conhecimentos
que superam os programas escolares, exigindo do professor preocupações constantes em
desenvolver habilidades para que o educando venha conquistar de modo próprio esses novos
conhecimentos.

O que é dinâmica de grupo?

Como se vê a dinâmica de Grupos, fundou-se originariamente na teoria da forma ou


Gestalt. Seguindo esta concepção estruturalista, a Dinâmica de Grupos estuda as forças que
afetam a conduta do grupo, começando por analisar a situação grupal como um todo com
força própria (Gestalt). A partir desse estudo, surge o conhecimento de cada um dos seus
componentes (o todo dá sentido às partes).

Podemos dizer, pois, que Dinâmica de Grupos é a disciplina moderna dentro do


campo da Psicologia Social que se ocupa do estudo da conduta dos grupos como um todo
e das variações da conduta individual de seus membros, das relações entre os grupos, da
formulação de leis e técnicas que aumentam a eficácia dos grupos.

A Dinâmica de Grupos é sempre orientada para produzir aprendizagens, de diversas


índoles, entre os seus membros.

Os Grupos são autênticos instrumentos utilizados dinamicamente pelo docente,


como o fim de promover o desenvolvimento individual dos seus integrantes.

Naturalmente que será muito mais fácil para o professor recorrer a um livro e ditá-lo
em classe do que organizar um meio ambiente e um conjunto de atividades que possibilitem
ao educando crescer e alcançar os estados de conduta desejados. Porém, está comprovado que
o uso da Dinâmica de Grupos veio facilitar o trabalho do ‘’novo professor’’ para a sociedade
atual. Com o auxílio das técnicas grupais, é possível ao docente desenvolver no educando
outras habilidades de caráter formativo, à medida que são ministrados os conhecimentos
pretendidos.

Estes passam a ser meios que o docente utiliza, com a ajuda da Dinâmica de Grupos,
para conduzir o educando a fazer uso de suas potencialidades, não somente para atender a

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

seus próprios interesses pessoais, mas sobretudo para atender aos interesses da comunidade.

O que é grupo?

Existem vários conceitos de grupo um deles poderíamos citar como exemplo seria
o de HOMANS que conceitua Grupo como sendo uma quantidade de pessoas que se
comunicam amiúde entre si, durante certo tempo, com o fim de estudar um problema e que
são suficientemente poucas como para que cada uma delas possam comunicar-se com todas
as demais de maneira dinâmica e direta.

Devemos salientar também, para melhor compreensão desse conceito, que para
constituir um Grupo não basta reunir um número reduzido de pessoas, nem haver um
interesse comum; é necessário, ainda que haja interação entre seus componentes, o que
representa o núcleo essencial do Grupo.

Compreende-se por interação, ação recíproca em que cada indivíduo, em sua relação
com os demais, respeita e procura se colocar frente aos problemas surgidos respeitando a
individualidade de cada um, mas buscando um ponto comum.

A partir do momento que o grupo se torna mais numeroso a interação se torna mais
complexa, em tal caso, as reações que se suscitam no grupo transformam-se em fenômenos
de massas, assim dificultando o trabalho em grupo.

Ao lermos KNOWLES ele coloca que a Dinâmica de Grupos se caracteriza em:

• Uma associação defensível (identificação entre as pessoas);

• Consciência de grupo (percepção coletiva de unidade);

• Participação com os mesmos propósitos (objetivos comuns);

• Dependências recíproca para a satisfação de necessidades (ajuda mútua);

• Ação recíproca (grande comunicabilidade);

• Existência de uma estrutura interna (distribuição dos papéis sociais)

• Habilidades para atuar em forma unitária (o grupo pode comportar-se como um


organismo unitário).

Podemos concluir que o verdadeiro sentimento de grupo somente existe quando


há um forte laço de simpatia, uma união dentro do grupo e um sentimento do ‘’nós’’, que
costuma manifestar-se nos seus integrantes ao usarem a 1ª pessoa do plural.

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T É C N I C O

Elementos básicos para ação em grupo

Os elementos básicos para um bom comportamento grupal, com fins educativos:

-o grupo; os objetivos; as técnicas grupais; o docente.

O grupo

Para HOMANS “a capacidade para a vida em grupo se aprende por sua vez, nos
grupos”, se estes não são sadios, a aprendizagem será prejudicada.

Entre as formas mais comuns dos indivíduos se manifestarem com relação à


insatisfação aos trabalhos em grupos existem:

• A agressão- que se manifesta em palavras ou gestos, quando as suas ideias não são
aceitas;

• A compensação- quando o indivíduo procura a compensação em outros interesses fora


o administrado pelo grupo;

• A projeção- o indivíduo transfere a outro sentimento de sua própria inadequação;

• A conversão-é a transformação da energia física em um sintoma ou queixa de doença,


após a sua frustração perante o trabalho;

• Negativismo- o indivíduo frustrado responde negativamente a todas as alternativas.

O que se observa é que a toda uma necessidade de ajuste frente aos muitos obstáculos
que surgem durante e depois da organização do trabalho em grupo.

A necessidade da ação permanente da busca pela igualização de ideias, objetivos e


conquistas. Somente com a interação total do grupo a um efetivo consenso no trabalho.

O objetivo

Para que um grupo exista a necessidade que haja um objetivo definido, muitas vezes
os membros do Grupo não percebem as razões da existência deste; entretanto à medida que a
ação se faz presente, vai obtendo uma maior coesão grupal e os indivíduos se vão inteirando
do em que e para que estão trabalhando em grupo.

Um grupo para produzir, necessita, pois, ter objetivos estabelecidos e definidos


com a maior clareza desde o princípio. O ideal é que esses objetivos sejam definidos com a
participação direta de todos os membros do grupo, pois dessa forma o grupo se sente mais
unido e trabalha com maior interesse.

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

Conceito de Liderança

O termo liderança tornou-se tão desgastado e confuso que vem sendo usado como
qualquer tipo de influência de um indivíduo sobre outro, podendo ir desde a persuasão lógica
até a mais brutal dominação física.

Atualmente das pesquisas e estudos realizados, surge uma ‘’nova interpretação’’ de


liderança. Vários autores procuram evidenciar o problema através de seus conceitos. Assim
para Cartwright, é a realização de funções necessárias e a adaptação a situações mutáveis.

De acordo com essa concepção, os grupos são flexíveis na atribuição de funções de


liderança a diferentes membros, de acordo com as mudanças de condições.

Os líderes eficientes são sensíveis às transformações de condições de seus grupos e


flexíveis na adaptação de seu comportamento às novas exigências.

Pode-se esperar o aperfeiçoamento de liderança não a partir do aperfeiçoamento dos


líderes separados dos grupos, mas através da modificação das relações entre os líderes e os
outros participantes.

Finalmente concluímos que a liderança se observa pela influência que deixa nos
membros do grupo em termos de objetivos e planos de ação que as pessoas descobrem por
si, com o auxílio do líder, do senso de responsabilidade e satisfações dominantes em grande
parte do grupo.

Há vários tipos de ambientes de grupo. Exemplos:

Ambiente paternalista: Onde o líder é cordial e amável, esse tipo de liderança evita
discordâncias e produz uma ação feliz e efetiva.

Ambiente democrático: Nesse tipo o líder leva em consideração as opiniões do


grupo antes de tomar decisões, a responsabilidade é compartilhada.

Ambiente participativo: Na estrutura participativa, os membros trabalham em


conjunto para chegarem a uma coesão do grupo.

Há também estudos levando-se em consideração a presença de alguns indivíduos dos


grupos como, por exemplo:

Indivíduos perguntadores: Aqueles que querem se exibir, querem impor a sua


opinião, às vezes estão bem informados, mas querem colocar suas ideias.

O sabe-tudo: Aquele indivíduo que fala tudo e não para, exceto o assunto em questão.

O tagarela: Aquele indivíduo que perturba o ambiente, que se coloca em meio às


falas e nunca se posiciona com relação a nada, em cima do muro.

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T É C N I C O

O do contra: Indivíduo que discute e se coloca contra sempre, muitas vezes sem ter
fundamento para tais atitudes.

O mudo voluntário: Indivíduo que nunca se interessa por coisa alguma, acha as
questões muito complicadas ou simples demais e procura se manter calado.

O Tímido: Aquele indivíduo que não tem coragem ou mesmo habilidade para
expressar suas ideias. Teme crítica.

O obstinado: Indivíduo que ignora totalmente o ponto de vista dos outros, não cede
de maneira alguma.

O interrogativo: Indivíduo que interroga tudo, a questionamento muitas vezes sem


fundamento.

CONCLUSÃO

Ao fim desse trabalho podemos deixar bem clara a importância da Dinâmica de


Grupos, visto que o indivíduo dentro desse espaço trabalha em conjunto com outras pessoas,
assim desenvolvendo o seu potencial como ser agente dentro da sociedade. Observamos
a importância do líder que se faz presente, junto a determinado grupo, sua colaboração
(influência) se torna importante ao se observar a necessidade da organização e clareza dos
objetivos.

A Dinâmica do Grupo se torna bem-sucedida através de um bom relacionamento


entre os indivíduos, assim as dificuldades encontradas meio à sociedade se tornam mais
fácies de se resolver.

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

11 - ÉTICA: CONCEITOS E FUNDAMENTOS

11.1 - Conceitos: Moral, Valor, Ética e Bioética

11.1.1 - Moral

A palavra “moral” tem origem no termo latino “morales” que significa “relativo
aos costumes”. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como uma forma
de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras geográficas e garante uma
identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam este mesmo referencial
moral comum, ou seja, é um conjunto de normas que regulam o comportamento do homem
em sociedade, e estas normas são adquiridas pela educação, pela tradição e pelo cotidiano.
A moral tem caráter obrigatório.

A moral sempre existiu, pois todo ser humano possui a consciência Moral que o leva
a distinguir o bem do mal no contexto em que se vive. Surgindo realmente quando o homem
passou a fazer parte de agrupamentos, isto é, surgiu nas sociedades primitivas, nas primeiras
tribos.

A moral, afinal, não é somente um ato individual, pois as pessoas são, por natureza,
seres sociais, assim percebe-se que a moral também é um empreendimento social. E esses
atos morais, quando realizados por livre participação da pessoa, são aceitas, voluntariamente.

Portanto, o termo moral significa tudo o que se submete a todo valor onde devem
predominar na conduta do ser humano as tendências mais convenientes ao desenvolvimento
da vida individual e social, cujas aptidões constituem o chamado sentido moral dos indivíduos.

A chamada consciência moral é o ato da inteligência pelo qual se juga prática e


proximidade sobre a moralidade de uma ação própria. (Entende-se aqui a “ação daquela
mesma pessoa que faz o julgamento”; por tanto, não se trata de juízo sobre as ações de
outros) aos principais tipos de consciência, vistos a seguir, podemos acrescentar o seguinte:

a) Consciência verdadeira ou correta: é aquela em que o juízo sobre a moralidade


de uma ação corresponde deverás às normas das leis morais. A consciência verdadeira deve
sempre ser obedecida;

b) Consciência falsa ou errônea: aquela em que o juízo sobre a moralidade da ação


se opõe à lei moral. Podemos distingui-la em:

- Vencível, caso seja possível por meio de pesquisas, estudos, informações, transformá-
la em correta;

- Invencível, quando um esforço normal é incapaz de transformá-la em correta.

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T É C N I C O

c) Consciência certa: é aquela que julga sem duvidar (pode ser correta ou errônea).
A consciência certa deve ser obedecida mesmo quando errônea, pois, do ponto de vista da
pessoa que age, ela é também correta.

d) Consciência provável: é a que tem certeza no julgamento da ação, porém forma


uma opinião baseada em sólidas possibilidades de ser verdadeira. Nem sempre é possível
chegar-se a uma certeza. Nesse caso, quando se tratar de saber se é pecado ou não, sem outra
consequência (e isto é muito importante), uma consciência provável baseada em verdadeiras
probabilidades poderá constituir uma certeza prática e com isso permitir a ação.

Assim, por exemplo, uma salpingectomia realizada numa prenhez ectópica, quando
a trompa contém um feto vivo não viável, parece ser, em certas condições, admissível. É
essa ao menos, a opinião de moralistas de valor. Pode, portanto, um enfermeiro cooperar na
operação.

Havendo motivo, pode-se seguir uma opinião solidamente provável, mesmo quando
houver outra mais provável.

e) Consciência dúbia: é aquela que mantém suspenso o julgamento sobre a moralidade


da ação, ou se julga, teme estar julgando erroneamente.

A dúvida pode ser:

I – Especulativa, se a razão está em dúvida sobre a existência ou não de uma lei moral
que determine alguma coisa em referência à ação proposta;

II – Prática, se a razão não consegue chegar a uma conclusão a respeito da moralidade da ação.

No caso de uma dúvida especulativa, deve-se fazer um esforço razoável (e proporcional


à ação) para resolvê-la.

Caso não se consiga, é possível agir; não porque seja possível agir em estado de
dúvida, mas porque a dúvida praticamente não cessa, uma vez que não existe obrigação e
não há certeza da existência de uma lei.

No caso de uma dúvida prática, não se pode agir antes de resolvê-la. Com efeito, agir
enquanto perdura a dúvida seria praticamente aceitar a possibilidade da realização de uma
ação moralmente má. A solução, é pois, abster-se da ação até resolver-se a dúvida ou adotar-
se o modo de agir mais seguro do ponto de vista moral.

f) Consciência escrupulosa: é a que vê o mal onde não existe ou o exagera onde


existe. A consciência escrupulosa é, em geral, o resultado de um estado psíquico anormal
(psicastenia). O melhor é procurar compreender o aspecto anormal (e até mórbido) deste
estado de espírito e, com isso, procurar remediá-lo.

g) Consciência laxa ou relaxada: é a que, baseada em fracos motivos, justifica a

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

prática de ações moralmente condenáveis.

É comum se dizer que ética e moral são a mesma coisa. Na verdade, são conceitos
diferentes, conforme veremos a seguir. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica e à
sistematização por meio de regras a serem seguidas e que estabelecem o que é bom para a
coletividade, já a moral direciona a prática cotidiana.

Vale destacar também que a moral não se reduz apenas a seu aspecto social, pois a
medida que desenvolvemos nossa reflexão crítica, passamos a questionar os valores herdados,
para então decidir se aceitamos ou não as normas. A ética, tanto quanto a moral, não é um
conjunto de verdades fixas, imutáveis. A ética se move, historicamente, se amplia e se adensa.
Entre a moral e a ética há uma tensão permanente: a ação moral busca uma compreensão e
uma justificação crítica universal e, a ética, por sua vez, exerce uma permanente vigilância
crítica sobre a moral, para reforçá-la ou transformá-la.

11.1.2 - Valor

Cada objeto que existe na natureza só tem valor no momento em que o homem
estabelece relação com ele. É o homem que dá valor às coisas ou cria valores na sua relação
com a natureza e com os outros homens. Assim, temos valores naturais, que independem do
trabalho humano, como a água e as plantas; e os valores artificiais, produzidos pelo trabalho
humano, como aparelhos eletrodomésticos, esculturas, objetos de uso pessoal, etc.

Contudo, só pelo fato de ter um valor para o homem, não significa que há uma
conotação moral neste valor. O valor moral dependerá de qual utilização será dada ao objeto,
a que fim, interesse ou necessidade servirá. Por exemplo, a descoberta de uma droga que
pode salvar vidas e que é utilizada em uma guerra química, causando mortes.

Logo, só podemos atribuir valor moral a um ato se ele tem consequências que afetam
a outros indivíduos, a um grupo social ou a toda uma sociedade.

A definição de um ato humano como moralmente valioso ou não, ou seja, o juízo de valor
que se faz de um ato humano, é a aferição de um valor ao ato de um sujeito por outro sujeito.

O sujeito que avalia e o que é avaliado estão inseridos em um contexto histórico e


social, e utilizam uma escala de valores elaborada a partir de seu contexto de vida, enquanto
ser social. O ato praticado e o juízo de valor emitido estão relacionados a uma situação
determinada, concreta. Estão relacionados a esta situação e não a outra. Ou seja, dependendo
do resultado obtido com o ato, podemos ter posições diferentes quanto ao mesmo ser
moralmente valioso ou não. Por exemplo, alguém pode contar uma mentira para outrem e
esta mentira ter significado benéfico para este outrem. Teoricamente, a mentira em si teria
uma conotação de moralmente não valiosa. Porém, se o resultado foi o bem para o indivíduo,
este ato pode também ser avaliado como moralmente valioso.

Se várias pessoas fossem avaliar a situação, provavelmente teríamos posições diferentes.

46
T É C N I C O

Estes problemas da relação cotidiana são prático-morais, conduzidos de acordo com


valores socialmente incorporados pelo indivíduo. A ética teoriza sobre estes comportamentos
de uma dada sociedade, em determinado momento histórico, na busca de sua essência.

Se os valores não são coisas, pois resultam da experiência vivida pelo homem ao se
relacionar com o mundo e os outros homens, talvez pudéssemos concluir que tais experiências
variam conforme o povo e a época. É o que parece nos sugerir a diversidade de costumes:
para algumas tribos, é indispensável matar os velhos e as crianças que nascem com algum
defeito, o que para nós pode parecer incrível crueldade. Na Idade Média era proibido dissecar
cadáveres, e, no entanto as instituições de justiça tinham o direito de torturar seres vivos.
Nosso costume de comer bife escandaliza o hindu, para quem a vaca é animal sagrado.

O ambiente em que vivemos, convivendo com outras pessoas na família que


constituímos, no nosso local de trabalho, na instituição de ensino, nossos amigos, nos oferece
oportunidades de prática de nossos valores a partir do relacionamento interpessoal. Cabe a
cada um exercer a prática dos valores para o bem próprio e o bem comum. Esta conjugação
de atitudes propicia a felicidade do homem e de todos à sua volta.

Isso significa que os valores são em parte herdados da cultura. Aliás, a primeira
compreensão que temos do mundo é fundada no solo dos valores da comunidade a que
pertencemos.

Em tese, tais valores existem para que a sociedade subsista, mantenha a integridade
e possa se desenvolver. Ou seja, a moral existe para se viver melhor. Talvez essa afirmação
cause espanto, se considerarmos que as regras morais são concebidas como condição de
repressão humana, sendo, assim, geradoras de infelicidade. Isso também é verdadeiro, mas
só enquanto deformação da moral autêntica e em contexto diferente daquele que estamos
considerando aqui. O que nos interessa enfatizar, em um primeiro momento, é que os grupos
humanos precisam de regras para viver bem.

Por isso é possível entender como, em certas tribos, onde há escassez de alimentação,
há o costume de matar crianças defeituosas e velhos incapazes de produzir, uma vez que se
tornam peso prejudicial à sobrevivência do grupo.

11.1.3 - Ética

A palavra ética é de origem grega, derivada de ethos, que por sua vez diz respeito
ao costume ou mesmo aos hábitos dos homens. Os estudos sobre o tema lidam com a
compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da
vida individual além de tratar-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais consideradas
tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual. Diversos são os autores que conceituam
a Ética. Ela é denominada, por exemplo, como “um conjunto de valores morais e princípios
que norteiam a conduta humana na sociedade” ou então, conforme outra definição, uma
parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das
noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual.

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

Em outras palavras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais
consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual, ou seja, é o conjunto de
princípios morais que regem os direitos e deveres de um indivíduo ou de uma organização,
dentro de um determinado setor de trabalho.

A ética teria surgido com Sócrates, pois se exige maior grau de cultura. Ela investiga
e explica as normas morais, pois leva o homem a agir não só por tradição, educação ou
hábito, mas principalmente por convicção e inteligência.

A ética é a ciência que ensina o homem a agir corretamente. O homem não quer
apenas viver, mas viver bem. Não se deve entender este bem como uma preocupação egoísta
de conseguir valores materiais, senão como um aperfeiçoamento moral capaz de integrar a
aspiração de cada um aos interesses de todos. O objetivo da ética é a aquisição de hábitos
bons, que contribuam para a formação do caráter nobre, levando o indivíduo a ser e agir de
maneira íntegra e honrada.

A ética profissional mantém o homem dentro de um padrão de comportamento,


ditando-lhe aquilo que deve fazer e aquilo que deve evitar a fim de ser um bom profissional.
Assim, temos a ética médica, a ética dos advogados, a ética dos enfermeiros, etc.

A observância dos princípios éticos próprios de cada profissão impõe-se a todos


aqueles que abraçam como uma necessidade.

A ética no âmbito das relações sociais afirma explicitamente que a pessoa humana é e
deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais. A vida social é criação
sua, nela se concretiza e se realiza a liberdade do homem; a ordem social e o progresso
devem ordenar-se incessantemente para o bem das pessoas, pois a organização das coisas
deve subordinar-se à ordem das pessoas e não o contrário.

11.1.4 - Bioética

Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão moral,


decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma
variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar.

A bioética é uma prática racional muito específica que põe em movimento, ao mesmo
tempo, um saber, uma experiência e uma competência normativa, em um contexto particular
do agir que é definido pelo prefixo ‘bio’. Poderíamos caracterizá-la melhor dizendo que
é uma instância de juízo, mas precisando que se trata de um juízo prático, que atua em
circunstâncias concretas e ao qual se atribui uma finalidade prática a través de várias formas
de institucionalização. Assim, a bioética constitui uma prática de segunda ordem, que opera
sobre práticas de primeira ordem, em contato direto com as determinações concretas da ação
no âmbito das bases biológicas da existência humana.

Ocorre que nos últimos anos a medicina, a biologia e a engenharia genética alcançaram

48
T É C N I C O

extraordinários avanços: multiplicaram-se os transplantes, experiências bem-sucedidas com


animais se multiplicaram, inseminações artificiais se tornaram corriqueiras, bem como
nascimentos humanos fora do corpo humano (fertilização in vitro). Igualmente pela crescente
legislação, adotada por vários, países, que permite o aborto e, em menor escala, a eutanásia.
Ela tem procurado orientar não só os cientistas dedicados a experiências genéticas como
também a opinião pública e os legisladores em geral. Aos cientistas alerta-os para os limites
da sua investigação, à opinião pública para esclarecê-la e aos legisladores para que façam as
leis seguindo princípios éticos aceitáveis. Leia sobre a polêmica envolvendo células-tronco
embrionárias.

Diferentes momentos da Bioética:

• a) Bioética geral: ocupa-se das funções éticas, é o discurso sobre os valores e os


princípios originários da ética médica e sobre fontes documentais da bioética;

• b) Bioética especial: analisa os grandes problemas enfrentando-os sempre sob o


perfil geral, tanto no terreno médico quanto no biológico (engenharia genética, aborto,
eutanásia, experiência clínica etc.). São as grandes temáticas da bioética.

• c) Bioética clínica (o de decisão): trata da práxis médica e do caso clínico, quais são
os valore em jogo e quais os caminhos corretos de conduta.

1.2- Princípios que norteiam a bioética

São cinco, os princípios bioéticos:

1. princípio da autonomia: requer do profissional respeito à vontade, o respeito à


crença, o respeito aos valores morais do sujeito, do paciente, reconhecendo o domínio do
paciente sobre sua própria vida e o respeito à sua intimidade. Este princípio gera diversas
discussões sobre os limites morais da eutanásia, suicídio assistido, aborto, etc. Exige também
definições com respeito à autonomia, quando a capacidade decisional do sujeito (ou paciente)
está comprometida. São as pessoas ou grupos considerados vulneráveis. Isto ocorre em
populações e comunidades especiais, como menores de idade, indígenas, débeis mentais,
pacientes com dor, militares, etc. Com relação à ética em pesquisa, gera o princípio do “termo
de consentimento livre e esclarecido” a ser feito pelo pesquisador e preenchido pelos sujeitos
da pesquisa ou seus representantes legais, quando os sujeitos estiverem com sua capacidade
decisional comprometida.

2. Princípio da beneficência: assegura o bem-estar das pessoas, evitando danos


e garante que sejam atendidos seus interesses. Trata-se de princípio indissociável ao da
autonomia.

3. Princípio da não maleficência: assegura que sejam minorados ou evitados danos


físicos aos sujeitos da pesquisa ou pacientes. Riscos da pesquisa são as possibilidades de
danos de dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual do ser
humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente. Dano associado ou decorrente

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Relações Interpessoais e Ética Profissional

da pesquisa é o agravo imediato ou tardio, ao indivíduo ou à coletividade, com nexo causal


comprovado, direto ou indireto, decorrente do estudo científico.

4. Princípio da justiça: exige equidade na distribuição de bens e benefícios em


qualquer setor da ciência, como por exemplo: medicina, ciências da saúde, ciências da vida,
do meio ambiente, etc.

5. Princípio da proporcionalidade: procura o equilíbrio entre os riscos e benefícios,


visando ao menor mal e ao maior benefício às pessoas. Este princípio está intimamente
relacionado com os riscos da pesquisa, os danos e o princípio da justiça.

12 - O HOMEM QUANTO INDIVÍDUO SOCIAL

O comportamento humano é ditado pela sociedade, e esta sofre alterações à medida


que o homem avança em seus conhecimentos tecnológicos e científicos.

Com isso, muitos costumes, ideias e valores passam a ser questionados dia-a-dia,
caminhando para uns, rumo à evolução, para outros rumo ao caos. Porém, a sociedade é
extremamente conservadora e o indivíduo que porventura adotar um comportamento que
venha a destoar dos padrões preestabelecidos será discriminado ou marginalizado.

Assim, eis alguns comportamentos que sofrem este tipo de discriminação:

a) Masturbação: é o estímulo voluntário sobre si mesmo (órgãos genitais), por


contatos manuais ou por outros instrumentos, com a finalidade de obter prazer erótico. É
um fenômeno universal e, conforme a época da vida em que é praticada, é também normal e
necessária para o desenvolvimento da personalidade. Assim, está presente na vida da criança
desde a infância, intensificando-se na fase fálica e na adolescência. Quando bem conduzida,
não representa problema na fase adulta.

b) Homossexualidade: é toda ligação afetiva e sexual exclusivamente entre indivíduos


do mesmo sexo. O homossexualismo masculino é denominado uranismo e o feminismo
tribalismo.

Existem várias teorias que tentam explicar tal comportamento:

- Distúrbio hormonal;

- Distúrbio de origem genética;

- Predisposição constitucional;

- Relacionamento inadequado com os pais;

50
T É C N I C O

- Convívio prolongado e exclusivo com pessoas do mesmo sexo.

Entretanto, nenhuma das teorias encerra em si mesma o fator determinante.

c) Toxicomania: é um problema sério, significativo e crescente. Refere-se à mania


ou dependência que o indivíduo tem de intoxicar-se, em virtude de alguma razão física,
emocional, social, financeira ou outra. Para tanto, são utilizadas substâncias como cocaína,
maconha, anfetaminas, tranquilizantes, éter, clorofórmio, cola de sapateiro, etc. pelas vias
endovenosa, inalatória ou oral.

O indivíduo, ao iniciar-se no mundo das drogas, o faz geralmente por curiosidade,


por influência de amigos ou pela falsa impressão de que vai resolver seus problemas ou
aliviar ansiedades, entre outros motivos. Com a utilização sistemática, o indivíduo acaba
por gerar uma dependência física e\ou psicológica, conforme a substância utilizada. Este
comportamento faz com que se desenvolva a chamada tolerância, o que leva a consumir
quantidades cada vez maiores do produto. Muitas vezes, o toxicômano tentar abandonar esta
prática, sendo vencido pela dependência já instalada e\ou pela síndrome da abstinência, que
o faz sofrer terrivelmente. Como o problema é grave em todos os sentidos, existem vários
serviços organizados com o intuito de ajudar os drogados na superação desta dependência,
fazendo também trabalhos de educação e informação contra os perigos das drogas.

d) Alcoolismo: é a síndrome da dependência do álcool, gerada por uma predisposição


e necessidade que o organismo cria, acarretando acentuadas mudanças no comportamento
social, nas relações familiares e na saúde do indivíduo. Existem dois tipos de bebidas
alcoólicas: as destiladas e as fermentadas. As bebidas destiladas contêm teores alcoólicos
bem maiores que os das fermentadas.

Os efeitos que o álcool determina no organismo dependem da quantidade ingerida e da


resistência individual. O alcoolismo é uma “doença orgânica”, que precisa ser tratada como tal.

Assim, o tratamento deve incluir: desintoxicação orgânica com orientação médica e


sob internação; acompanhamento psicológico e nutricional, terapia ocupacional, participação
da família, além de programas educativos.

e) Tabagismo: é uma pandemia crescente e consiste na intoxicação provocada pelo


abuso do tabaco.

O tabaco é uma erva cujo ingrediente ativo é a nicotina, substância venenosa que,
como tal, age no organismo de forma maléfica, levando o indivíduo ao “suicídio em câmara
lenta”, uma vez que as consequências são perceptíveis a longo prazo. Os efeitos nocivos
dessa prática são exercidos, principalmente, sobre os aparelhos respiratório, circulatório e
digestivo, bem como sobre o sistema nervoso.

Porém, a sua nocividade não se restringe apenas ao tabagista, mas também aos não
fumantes e ao ambiente. Em vista do exposto, justifica-se a luta travada internacionalmente
contra o vício de fumar.

51
Relações Interpessoais e Ética Profissional

13 - ÉTICA PROFISSIONAL

A atuação profissional deve ser lembrada de maneira pessoal, mas ressaltando-se


o trabalho em equipe, haja vista que muito dificilmente a coletividade não influencia na
relação laboral. Nesse sentido, devemos lembrar que a forma de atuar profissionalmente
requer princípios gerais que norteiam não apenas uma pessoa, mas sim um grupo de pessoas
que atuam no âmbito profissional. Assim pode-se definir ética profissional como “conjunto
de atitudes e valores positivos aplicados no ambiente de trabalho. A ética no ambiente de
trabalho é de fundamental importância para o bom funcionamento das atividades da empresa
e das relações de trabalho entre os funcionários”.

13.1 - Código de Ética

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por
exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude
pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos de não utilização de animais para estes
fins. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética.
Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética
de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica,
ética profissional (trabalho), ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética
jornalística, ética na política, etc.

13.2 - Lei

A palavra “lei” se refere a limites em várias formas de comportamento. Algumas leis


são descritivas: eles simplesmente descrevem como as pessoas, ou até mesmo, fenômenos
naturais, normalmente devem se comportar. Outras leis são prescritivas, descrevem como as
pessoas deveriam se comportar.

As relações entre pessoas são reguladas por lei prescritivas, em todas as sociedades.
Mas, a maioria deles é regido pelos costumes, quer dizer, regras informais de comportamento
social e moral.

Mas algumas destas regras, nós, só aceitamos se nós fizemos parte dos grupos
particulares onde estas leis são inseridas, como religião, grupos educacionais. E algumas
delas são leis precisas feitas por nações e se obrigam a serem aceitadas por todos os cidadãos
no poder delas.

Leis feitas pelo governo são, não obstante, frequentemente moldadas nas regras
informais de conduta que já existem na sociedade e nas relações entre as pessoas, regulado
por uma combinação de todas estas regras.

Com que motivo os governos fazem e obrigam as leis? Controle social é uma das respostas.

52
T É C N I C O

Leis públicas estabelecem a autoridade do próprio governo, e direitos civis provêem uma
armação de interação entre cidadãos. Sem leis, é discutido, haveria anarquia em sociedade.

Outra razão é a implementação de justiça. Justiça é um conceito que a maioria das


pessoas sente que é muito importante, mas poucos podem definir. Às vezes uma decisão
justa simplesmente é uma decisão que a maioria das pessoas sente que é justa.

13.3 - Norma

Normas são razões ou motivos para agir, para acreditar ou para sentir. Ordens e
permissões expressam ordens. Elas prescrevem maneiras de ser ao mundo ao invés de
descrever estados do mundo. Resumidamente, normas é o cumprimento das regras de acordo
com seus valores.

13.4 - Estatuto

O instrumento que materializa a entidade é o estatuto e o regimento interno. São


eles que dão personalidade à entidade. É lá que vamos descobrir o que é, para que foi
fundada, quem pode participar, de onde vem os recursos e, o mais importante, quem serão
os beneficiados das suas ações, do seu trabalho.

Os estatutos contêm regras gerais, filosofia e outros conteúdos. O regimento interno


contém os procedimentos práticos e aspectos do dia a dia da entidade.

Não existe um padrão único para estatutos e regimentos internos. Cada entidade
tem total liberdade de colocar o que quiser nesses instrumentos. Mas o que quer que seja
colocado, será lido pelos futuros interessados e pelos órgãos governamentais para fornecer
subsídios, ajudas, verbas e doações. Nessa hora é importante que o conteúdo desses
instrumentos contenha visões muito claras, éticas e adequadas, que mostrem que a entidade
tem um comportamento ético muito elevado, que as suas ações são realizadas com muita
democracia e que a gestão dos recursos é realizada com muita transparência.

Lembre-se sempre que o estatuto e o regimento interno devem conter cláusulas que
fornecem direitos às pessoas, mas é importante ter também todas aquelas cláusulas que
criam obrigações para as pessoas.

13.5 - Legislação Reguladora do Exercício Profissional

13.5.1 - Lei Nº. 7.498\86 que dispõe sobre o Exercício da Enfermagem

O presidente da República, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono


a seguinte Lei:

53
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 1º - É livre o exercício da Enfermagem em todo o território nacional, observadas as


disposições desta Lei.

Art. 2º - A Enfermagem e suas atividades Auxiliares somente podem ser exercidas por
pessoas legalmente habilitadas e inscritas no Conselho Regional de Enfermagem com
jurisdição na área onde ocorre o exercício.

Parágrafo único - A Enfermagem é exercida privativamente pelo Enfermeiro, pelo Técnico


de Enfermagem, pelo Auxiliar de Enfermagem e pela Parteira, respeitados os respectivos
graus de habilitação.

Art. 3º - O planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem


planejamento e programação de Enfermagem.

Art. 4º - A programação de Enfermagem inclui a prescrição da assistência de Enfermagem.

Art. 5º - (vetado)

§ 1º - (vetado)

§ 2º - (vetado)

Art. 6º - São enfermeiros:

I - O titular do diploma de enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da


lei;

II - O titular do diploma ou certificado de obstetriz ou de enfermeira obstétrica, conferidos


nos termos da lei;

III - O titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado


de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira
segundo as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou
revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de
Obstetriz;

IV - Aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiverem título de Enfermeiro
conforme o disposto na alínea “d” do Art. 3º. do Decreto nº 50.387, de 28 de março de
1961.

Art. 7º - São técnicos de Enfermagem:

I - O titular do diploma ou do certificado de Técnico de Enfermagem, expedido de acordo


com a legislação e registrado pelo órgão competente;

II - O titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso

54
T É C N I C O

estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no


Brasil como diploma de Técnico de Enfermagem.

Art. 8º - São Auxiliares de Enfermagem:

I - O titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino,


nos termos da Lei e registrado no órgão competente;

II - O titular do diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de 1956;

III - O titular do diploma ou certificado a que se refere o inciso III do Art. 2º. da Lei nº
2.604, de 17 de setembro de 1955, expedido até a publicação da Lei nº 4.024, de 20 de
dezembro de 1961;

IV - O titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido


até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da
Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos
termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22
de janeiro de 1946, e da Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

V - O pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº


299, de 28 de fevereiro de 1967;

VI - O titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo


as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no
Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem.

Art. 9º - São Parteiras:

I - A titular de certificado previsto no Art. 1º do Decreto-lei nº 8.778, de 22 de janeiro de


1964, observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

II - A titular do diploma ou certificado de Parteira, ou equivalente, conferido por escola ou


curso estrangeiro, segundo as leis do país, registrado em virtude de intercâmbio cultural
ou revalidado no Brasil, até 2 (dois) anos após a publicação desta Lei, como certificado
de Parteira.

Art. 10º - (vetado)

Art. 11º - O Enfermeiro exerce todas as atividades de Enfermagem, cabendo-lhe:

I - privativamente:

a) Direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde,


pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem;

55
Relações Interpessoais e Ética Profissional

b) Organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e


auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;

c) Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços de


assistência de Enfermagem;

d) (vetado)

e) (vetado)

f) (vetado)

g) (vetado)

h) Consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

i) Consulta de Enfermagem;

j) Prescrição da assistência de Enfermagem;

l) Cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

m) Cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos


de base científica e capacidade de tomar decisões imediatas;

II - Como integrante da equipe de saúde:

a) Participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

b) Participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde;

c) Prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina


aprovada pela instituição de saúde;

d) Participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação;

e) Prevenção e controle sistemático de infecção hospitalar e de doenças transmissíveis em geral;

f) Prevenção e controle sistemático de danos que possam ser causados à clientela durante
a assistência de Enfermagem;

g) Assistência de Enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;

h) Acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

i) Execução do parto sem distorcia;

56
T É C N I C O

j) Educação visando à melhoria de saúde da população;

Parágrafo único - às profissionais referidas no inciso II do Art. 6º desta Lei incumbe, ainda:

a) Assistência à parturiente e ao parto normal;

b) Identificação das distorcias obstétricas e tomada de providências até a chegada do médico;

c) Realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando necessária.

Art. 12º - O Técnico de Enfermagem exerce atividade de nível médio, envolvendo


orientação e acompanhamento do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar, e participação
no planejamento da assistência de Enfermagem, cabendo-lhe especialmente:

a) Participar da programação da assistência de Enfermagem;

b) Executar ações assistenciais de Enfermagem, exceto as privativas do Enfermeiro,


observado o disposto no Parágrafo único do Art. 11º desta Lei;

c) Participar da orientação e supervisão do trabalho de Enfermagem em grau auxiliar;

d) Participar da equipe de saúde.

Art. 13º - O Auxiliar de Enfermagem exerce atividades de nível médio, de natureza


repetitiva, envolvendo serviços auxiliares de Enfermagem sob supervisão, bem como
a participação em nível de execução simples, em processos de tratamento, cabendo-lhe
especialmente:

a) Observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas;

b) Executar ações de tratamento simples;

c) Prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente;

d) Participar da equipe de saúde.

Art. 14º - (vetado)

Art. 15º - As atividades referidas nos arts. 12º e 13º desta Lei, quando exercidas em
instituições de saúde, públicas e privadas, e em programas de saúde, somente podem ser
desempenhadas sob orientação e supervisão de Enfermeiro.

Art. 16º - (vetado)

Art. 17º - (vetado)

57
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 18º - (vetado)

Parágrafo único - (vetado)

Art. 19º - (vetado)

Art. 20º - Os órgãos de pessoal da administração pública direta e indireta, federal, estadual,
municipal, do Distrito Federal e dos Territórios observarão, no provimento de cargos e funções
e na contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, os preceitos desta Lei.

Parágrafo único - Os órgãos a que se refere este artigo promoverão as medidas necessárias
à harmonização das situações já existentes com as disposições desta Lei, respeitados os
direitos adquiridos quanto a vencimentos e salários.

Art. 21º - (vetado)

Art. 22º - (vetado)

Art. 23º - O pessoal que se encontra executando tarefas de Enfermagem, em virtude de


carência de recursos humanos de nível médio nesta área, sem possuir formação específica
regulada em lei, será autorizado, pelo Conselho Federal de Enfermagem, a exercer
atividades elementares de Enfermagem, observado o disposto no Art. 15 desta Lei.

Parágrafo único - A autorização referida neste artigo, que obedecerá aos critérios baixados
pelo Conselho Federal de Enfermagem, somente poderá ser concedida durante o prazo de
10 (dez) anos, a contar da promulgação desta Lei.

Art. 24º - (vetado)

Parágrafo único - (vetado)

Art. 25º - O Poder Executivo regulamentará esta Lei no prazo de 120 (cento e vinte) dias
a contar da data de sua publicação.

Art. 26º- Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 27º - Revogam-se (vetado) as demais disposições em contrário.

Brasília, em 25 de junho de 1986, 165º da Independência e 98º da República

José Sarney

Almir Pazzianotto Pinto

Lei nº 7.498, de 25.06.86 publicada no DOU de 26.06.86 - Seção I - fls. 9.273 a 9.275

58
T É C N I C O

13.5.2 - Lei Nº. 94406\87- Regulamenta a Lei no. 7.498 de 25 de junho de 1986, que
dispõe sobre o exercício da enfermagem - Decreto Nº 94.406/87

Regulamenta a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre o exercício da


Enfermagem, e dá outras providências.

O Presidente da República, usando das atribuições que lhe confere o Art. 81, item III, da
Constituição, e tendo em vista o disposto no Art. 25 da Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986,

Decreta:

Art. 1º - O exercício da atividade de Enfermagem, observadas as disposições da Lei nº 7.498, de


25 de junho de 1986, e respeitados os graus de habilitação, é privativo de Enfermeiro, Técnico
de Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem e Parteiro e só será permitido ao profissional
inscrito no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva região.

Art. 2º - As instituições e serviços de saúde incluirão a atividade de Enfermagem no seu


planejamento e programação.

Art. 3º - A prescrição da assistência de Enfermagem é parte integrante do programa de Enfermagem.

Art. 4º - São Enfermeiros:

I - O titular do diploma de Enfermeiro conferido por instituição de ensino, nos termos da lei;

II - O titular do diploma ou certificado de Obstetriz ou de Enfermeira Obstétrica,


conferidos nos termos da lei;

III - O titular do diploma ou certificado de Enfermeira e a titular do diploma ou certificado


de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz, ou equivalente, conferido por escola estrangeira
segundo as respectivas leis, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou
revalidado no Brasil como diploma de Enfermeiro, de Enfermeira Obstétrica ou de Obstetriz;

IV - Aqueles que, não abrangidos pelos incisos anteriores, obtiveram título de Enfermeira
conforme o disposto na letra “d” do Art. 3º. do Decreto-lei Decreto nº 50.387, de 28 de
março de 1961.

Art. 5º - São técnicos de Enfermagem:

I - O titular do diploma ou do certificado de técnico de Enfermagem, expedido de acordo


com a legislação e registrado no órgão competente;

II - O titular do diploma ou do certificado legalmente conferido por escola ou curso


estrangeiro, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no
Brasil como diploma de técnico de Enfermagem.

59
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 6º - São Auxiliares de Enfermagem:

I - O titular do certificado de Auxiliar de Enfermagem conferido por instituição de ensino,


nos termos da Lei e registrado no órgão competente;

II - O titular do diploma a que se refere a Lei nº 2.822, de 14 de junho de 1956;

III - O titular do diploma ou certificado a que se refere o item III do Art. 2º. da Lei nº
2.604, de 17 de setembro de1955, expedido até a publicação da Lei nº 4.024, de 20 de
dezembro de 1961;

IV - O titular de certificado de Enfermeiro Prático ou Prático de Enfermagem, expedido


até 1964 pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, do Ministério da
Saúde, ou por órgão congênere da Secretaria de Saúde nas Unidades da Federação, nos
termos do Decreto-lei nº 23.774, de 22 de janeiro de 1934, do Decreto-lei nº 8.778, de 22
de janeiro de 1946, e da Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

V - O pessoal enquadrado como Auxiliar de Enfermagem, nos termos do Decreto-lei nº


299, de 28 de fevereiro de 1967;

VI - O titular do diploma ou certificado conferido por escola ou curso estrangeiro, segundo


as leis do país, registrado em virtude de acordo de intercâmbio cultural ou revalidado no
Brasil como certificado de Auxiliar de Enfermagem.

Art. 7º - São Parteiros:

I - O titular de certificado previsto no Art. 1º do nº 8.778, de 22 de janeiro de 1946,


observado o disposto na Lei nº 3.640, de 10 de outubro de 1959;

II - O titular do diploma ou certificado de Parteiro, ou equivalente, conferido por escola


ou curso strangeiro, segundo as respectivas leis, registrado em virtude de intercâmbio
cultural ou revalidado no Brasil, até 26 de junho de1988, como certificado de Parteiro.

Art. 8º - Ao enfermeiro incumbe:

I - Privativamente:

a) Direção do órgão de Enfermagem integrante da estrutura básica da instituição de saúde,


pública ou privada, e chefia de serviço e de unidade de Enfermagem;

b) Organização e direção dos serviços de Enfermagem e de suas atividades técnicas e


auxiliares nas empresas prestadoras desses serviços;

c) Planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da


assistência de Enfermagem;

60
T É C N I C O

d) Consultoria, auditoria e emissão de parecer sobre matéria de Enfermagem;

e) Consulta de Enfermagem;

f) Prescrição da assistência de Enfermagem;

g) Cuidados diretos de Enfermagem a pacientes graves com risco de vida;

h) Cuidados de Enfermagem de maior complexidade técnica e que exijam conhecimentos


científicos adequados e capacidade de tomar decisões imediatas;

II - Como integrante da equipe de saúde:

a) Participação no planejamento, execução e avaliação da programação de saúde;

b) Participação na elaboração, execução e avaliação dos planos assistenciais de saúde;

c) Prescrição de medicamentos previamente estabelecidos em programas de saúde pública


e em rotina aprovada pela instituição de saúde;

d) Participação em projetos de construção ou reforma de unidades de internação;

e) Prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar, inclusive como membro das


respectivas comissões;

f) Participação na elaboração de medidas de prevenção e controle sistemático de danos


que possam ser causados aos pacientes durante a assistência de Enfermagem;

g) Participação na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral e nos


programas de vigilância epidemiológica;

h) Prestação de assistência de enfermagem à gestante, parturiente, puérpera e ao recém-nascido;

i) Participação nos programas e nas atividades de assistência integral à saúde individual e


de grupos específicos, particularmente daqueles prioritários e de alto risco;

j) Acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;

l) Execução e assistência obstétrica em situação de emergência e execução do parto sem


distocia;

m) Participação em programas e atividades de educação sanitária, visando à melhoria de


saúde do indivíduo, da família e da população em geral;

n) Participação nos programas de treinamento e aprimoramento de pessoal de saúde,


particularmente nos programas de educação continuada;

61
Relações Interpessoais e Ética Profissional

o) participação nos programas de higiene e segurança do trabalho e de prevenção de


acidentes e de doenças profissionais e do trabalho;

p) participação na elaboração e na operacionalização do sistema de referência e contra


referência do paciente nos diferentes níveis de atenção à saúde;

q) participação no desenvolvimento de tecnologia apropriada à assistência de saúde;

r) participação em bancas examinadoras, em matérias específicas de Enfermagem, nos


concursos para provimento de cargo ou contratação de Enfermeiro ou pessoal Técnico e
Auxiliar de Enfermagem.

Art. 9º - Às profissionais titulares de diploma ou certificados de Obstetriz ou de Enfermeira


Obstétrica, além das atividades de que trata o artigo precedente, incumbe:

I - prestação de assistência à parturiente e ao parto normal;

II - identificação das distócias obstétricas e tomada de providências até a chegada do


médico;

III - realização de episiotomia e episiorrafia com aplicação de anestesia local, quando


necessária.

Art. 10 - O Técnico de Enfermagem exerce as atividades auxiliares, de nível médio


técnico, atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe:

I - Assistir ao Enfermeiro:

a) No planejamento, programação, orientação e supervisão das atividades de assistência


em enfermagem;

b) Na prestação de cuidados diretos de Enfermagem a pacientes em estado grave;

c) Na prevenção e controle das doenças transmissíveis em geral em programas de


vigilância epidemiológica;

d) Na prevenção e controle sistemático da infecção hospitalar;

e) Na prevenção e controle sistemático de danos físicos que possam ser causados a


pacientes durante a assistência de saúde;

f) Na execução dos programas referidos nas letras “i” e “o” do item II do Art. 8º.

II - Executar atividades de assistência de Enfermagem, excetuadas as privativas do


Enfermeiro e as referidas no Art. 9º deste Decreto:

62
T É C N I C O

III - Integrar a equipe de saúde.

Art. 11 - O Auxiliar de Enfermagem executa as atividades auxiliares, de nível médio


atribuídas à equipe de Enfermagem, cabendo-lhe:

I - Preparar o paciente para consultas, exames e tratamentos;

II - Observar, reconhecer e descrever sinais e sintomas, ao nível de sua qualificação;

III - Executar tratamentos especificamente prescritos, ou de rotina, além de outras


atividades de enfermagem, tais como:

a) Ministrar medicamentos por via oral e parenteral;

b) Realizar controle hídrico;

c) Fazer curativos;

d) Aplicar oxigenoterapia, nebulização, enteroclisma, enema e calor ou frio;

e) Executar tarefas referentes à conservação e aplicação de vacinas;

f) Efetuar o controle de pacientes e de comunicantes em doenças transmissíveis;

g) Realizar testes e proceder à sua leitura, para subsídio de diagnóstico;

h) Colher material para exames laboratoriais;

i) Prestar cuidados de Enfermagem pré e pós-operatórios;

j) Circular em sala de cirurgia e, se necessário, instrumentar;

l) Executar atividades de desinfecção e esterilização;

IV - Prestar cuidados de higiene e conforto ao paciente e zelar por sua segurança, inclusive:

a) Alimentá-lo ou auxiliá-lo a alimentar-se;

b) Zelar pela limpeza e ordem do material, de equipamentos e de dependência de


unidades de saúde;

V - Integrar a equipe de saúde;

VI - Participar de atividades de educação em saúde, inclusive:

a) Orientar os pacientes na pós-consulta, quanto ao cumprimento das prescrições de

63
Relações Interpessoais e Ética Profissional

enfermagem e médicas;

b) Auxiliar o Enfermeiro e o Técnico de Enfermagem na execução dos programas de


educação para a saúde;

VII - Executar os trabalhos de rotina vinculados à alta de pacientes:

VIII - Participar dos procedimentos pós-morte.

Art. 12 - Ao Parteiro incumbe:

I - Prestar cuidados à gestante e à parturiente;

II - Assistir ao parto normal, inclusive em domicílio; e

III - Cuidar da puérpera e do recém-nascido.

Parágrafo único - As atividades de que trata este artigo são exercidas sob supervisão de
Enfermeiro Obstetra, quando realizadas em instituições de saúde, e, sempre que possível,
sob controle e supervisão de unidade de saúde, quando realizadas em domicílio ou onde
se fizerem necessárias.

Art. 13 - As atividades relacionadas nos arts. 10 e 11 somente poderão ser exercidas sob
supervisão, orientação e direção de Enfermeiro

Art. 14 - Incumbe a todo o pessoal de Enfermagem:

I - Cumprir e fazer cumprir o Código de Deontologia da Enfermagem;

II - Quando for o caso, anotar no prontuário do paciente as atividades da assistência de


Enfermagem, para fins estatísticos;

Art. 15 - Na administração pública direta e indireta, federal, estadual, municipal, do


Distrito Federal e dos Territórios será exigida como condição essencial para provimento
de cargos e funções e contratação de pessoal de Enfermagem, de todos os graus, a prova
de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem da respectiva região.

Parágrafo único - Os órgãos e entidades compreendidos neste artigo promoverão, em


articulação com o Conselho Federal de Enfermagem, as medidas necessárias à adaptação
das situações já existentes com as disposições deste Decreto, respeitados os direitos
adquiridos quanto a vencimentos e salários.

Art. 16 - Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 17 - Revogam-se as disposições em contrário.

64
T É C N I C O

Brasília, 08 de junho de 1987;

José Sarney

Eros Antônio de Almeida

Dec. nº 94.406, de 08.06.87

Publicado no DOU de 09.06.87

Seção I - fls. 8.853 a 8.855

13.5.3 - Resolução do COFEN Nº. 311\2007 – Aprova o código de ética dos profissionais
de enfermagem e dá outras providências.

CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM

ANEXO

PREÂMBULO

A enfermagem compreende um componente próprio de conhecimentos científicos e


técnicos, construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas
que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza-se na prestação de serviços à
pessoa, família e coletividade, no seu contexto e circunstâncias de vida.

O aprimoramento do comportamento ético do profissional passa pelo processo de


construção de uma consciência individual e coletiva, pelo compromisso social e
profissional configurado pela responsabilidade no plano das relações de trabalho com
reflexos no campo científico e político.

A enfermagem brasileira, face às transformações socioculturais, científicas e legais,


entendeu ter chegado o momento de reformular o Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem (CEPE).

A trajetória da reformulação, coordenada pelo Conselho Federal de Enfermagem com a


participação dos Conselhos Regionais de Enfermagem, incluiu discussões com a categoria
de enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem está organizado por
assunto e inclui princípios, direitos, responsabilidades, deveres e proibições pertinentes
à conduta ética dos profissionais de enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem leva em consideração a necessidade e o direito de assistência em enfermagem

65
Relações Interpessoais e Ética Profissional

da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa,


família e coletividade e pressupõe que os trabalhadores de enfermagem estejam aliados
aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população. O
presente Código teve como referência os postulados da Declaração Universal dos Direitos
do Homem, promulgada pela Assembleia Geral das Nações Unidas (1948) e adotada
pela Convenção de Genebra da Cruz Vermelha (1949), contidos no Código de Ética
do Conselho Internacional de Enfermeiros (1953) e no Código de Ética da Associação
Brasileira de Enfermagem (1975). Teve como referência, ainda, o Código de Deontologia
de Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (1976), o Código de Ética dos
Profissionais de Enfermagem (1993) e as Normas Internacionais e Nacionais sobre
Pesquisa em Seres Humanos [Declaração Helsinque (1964), revista em Tóquio (1975), em
Veneza (1983), em Hong Kong (1989) e em Sommerset West (1996) e a Resolução 196 do
Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde (1996)].

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS

A enfermagem é uma profissão comprometida com a saúde e a qualidade de vida da


pessoa, família e coletividade.

O profissional de enfermagem atua na promoção, prevenção, recuperação e reabilitação


da saúde, com autonomia e em consonância com os preceitos éticos e legais.

O profissional de enfermagem participa, como integrante da equipe de saúde, das ações


que visem satisfazer as necessidades de saúde da população e da defesa dos princípios
das políticas públicas de saúde e ambientais, que garantam a universalidade de acesso aos
serviços de saúde, integralidade da assistência, resolutividade, preservação da autonomia
das pessoas, participação da comunidade, hierarquização e descentralização político-
administrativa dos serviços de saúde.

O profissional de enfermagem respeita a vida, a dignidade e os direitos humanos, em


todas as suas dimensões.

O profissional de enfermagem exerce suas atividades com competência para a promoção do


ser humano na sua integralidade, de acordo com os princípios da ética e da bioética.

CAPÍTULO I

DAS RELAÇÕES PROFISSIONAIS

DIREITOS

Art. 1º - Exercer a enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os


pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos.

66
T É C N I C O

Art. 2º - Aprimorar seus conhecimentos técnicos, científicos e culturais que dão


sustentação a sua prática profissional.

Art. 3º - Apoiar as iniciativas que visem ao aprimoramento profissional e à defesa dos


direitos e interesses da categoria e da sociedade.

Art. 4º - Obter desagravo público por ofensa que atinja a profissão, por meio do Conselho
Regional de Enfermagem.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 5º - Exercer a profissão com justiça, compromisso, equidade, resolutividade,


dignidade, competência, responsabilidade, honestidade e lealdade.

Art. 6º - Fundamentar suas relações no direito, na prudência, no respeito, na solidariedade


e na diversidade de opinião e posição ideológica.

Art. 7º - Comunicar ao COREN e aos órgãos competentes, fatos que infrinjam dispositivos
legais e que possam prejudicar o exercício profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 8º - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de membro da equipe
de enfermagem, equipe de saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações da
categoria ou instituições.

Art. 9º - Praticar e/ou ser conivente com crime, contravenção penal ou qualquer outro ato,
que infrinja postulados éticos e legais.

SEÇÃO I

DAS RELAÇÕES COM A PESSOA, FAMILIA E COLETIVIDADE.

DIREITOS

Art. 10 - Recusar-se a executar atividades que não sejam de sua competência técnica, científica,
ética e legal ou que não ofereçam segurança ao profissional, à pessoa, família e coletividade.

Art. 11 - Ter acesso às informações, relacionadas à pessoa, família e coletividade,


necessárias ao exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 12 - Assegurar à pessoa, família e coletividade assistência de enfermagem livre de


danos decorrentes de imperícia, negligência ou imprudência.

67
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente
aceitar encargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem.

Art. 14 - Aprimorar os conhecimentos técnicos, científicos, éticos e culturais, em benefício


da pessoa, família e coletividade e do desenvolvimento da profissão.

Art. 15 - Prestar assistência de enfermagem sem discriminação de qualquer natureza.

Art. 16 - Garantir a continuidade da assistência de enfermagem em condições que ofereçam


segurança, mesmo em caso de suspensão das atividades profissionais decorrentes de
movimentos reivindicatórios da categoria.

Art. 17 - Prestar adequadas informações à pessoa, família e coletividade a respeito dos


direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca da assistência de enfermagem.

Art. 18 - Respeitar, reconhecer e realizar ações que garantam o direito da pessoa ou de ser
representante legal, de tomar decisões sobre sua saúde, tratamento, conforto e bem-estar.

Art. 19 - Respeitar o pudor, a privacidade e a intimidade do ser humano, em todo seu ciclo
vital, inclusive nas situações de morte e pós-morte.

Art. 20 - Colaborar com a equipe de saúde no esclarecimento da pessoa, família e


coletividade a respeito dos direitos, riscos, benefícios e intercorrências acerca de seu
estado de saúde e tratamento.

Art. 21 - Proteger a pessoa, família e coletividade contra danos decorrentes de imperícia,


negligência ou imprudência por parte de qualquer membro da equipe de saúde.

Art. 22 - Disponibilizar seus serviços profissionais à comunidade em casos de emergência,


epidemia e catástrofe, sem pleitear vantagens pessoais.

Art. 23 - Encaminhar a pessoa, família e coletividade aos serviços de defesa do cidadão,


nos termos da lei.

Art. 24 - Respeitar, no exercício da profissão, as normas relativas à preservação do meio


ambiente e denunciar aos órgãos competentes as formas de poluição e deterioração que
comprometam a saúde e a vida.

Art. 25 - Registrar no prontuário do paciente as informações inerentes e indispensáveis


ao processo de cuidar.

PROIBIÇÕES

Art. 26 - Negar assistência de enfermagem em qualquer situação que se caracterize como


urgência ou emergência.

68
T É C N I C O

Art. 27 - Executar ou participar da assistência à saúde sem o consentimento da pessoa ou


de seu representante legal, exceto em iminente risco de morte.

Art. 28 - Provocar aborto, ou cooperar em prática destinada a interromper a gestação.

Parágrafo único - Nos casos previstos em lei, o profissional deverá decidir, de acordo com
a sua consciência, sobre a sua participação ou não no ato abortivo.

Art. 29 - Promover a eutanásia ou participar em prática destinada a antecipar a morte do cliente.

Art. 30 - Administrar medicamentos sem conhecer a ação da droga e sem certificar-se da


possibilidade de riscos.

Art. 31 - Prescrever medicamentos e praticar ato cirúrgico, exceto nos casos previstos na
legislação vigente e em situação de emergência.

Art. 32 - Executar prescrições de qualquer natureza, que comprometam a segurança da


pessoa.

Art. 33 - Prestar serviços que por sua natureza competem a outro profissional, exceto em
caso de emergência.

Art. 34 - Provocar, cooperar, ser conivente ou omisso com qualquer forma de violência.

Art. 35 - Registrar informações parciais e inverídicas sobre a assistência prestada.

SEÇÃO II

DAS RELAÇÕES COM OS TRABALHADORES DE ENFERMAGEM, SAÚDE E


OUTROS

DIREITOS

Art. 36 - Participar da prática multiprofissional e interdisciplinar com responsabilidade,


autonomia e liberdade.

Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medicamentosa e terapêutica, onde não conste


a assinatura e o número de registro do profissional, exceto em situações de urgência e
emergência.

Parágrafo único - O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar prescrição


medicamentosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou ilegibilidade.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais,

69
Relações Interpessoais e Ética Profissional

independentemente de ter sido praticada individualmente ou em equipe.

Art. 39 - Participar da orientação sobre benefícios, riscos e consequências decorrentes de


exames e de outros procedimentos, na condição de membro da equipe de saúde.

Art. 40 - Posicionar-se contra falta cometida durante o exercício profissional seja por
imperícia, mprudência ou negligência.

Art. 41 - Prestar informações, escritas e verbais, completas e fidedignas necessárias para


assegurar a continuidade da assistência.

PROIBIÇÕES

Art. 42 - Assinar as ações de enfermagem que não executou, bem como permitir que suas
ações sejam assinadas por outro profissional.

Art. 43 - Colaborar, direta ou indiretamente com outros profissionais de saúde, no


descumprimento da legislação referente aos transplantes de órgãos, tecidos, esterilização
humana, fecundação artificial e manipulação genética.

SEÇÃO III

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES DA CATEGORIA

DIREITOS

Art. 44 - Recorrer ao Conselho Regional de Enfermagem, quando impedido de cumprir o


presente Código, a legislação do exercício profissional e as resoluções e decisões emanadas
do Sistema COFEN/COREN.

Art. 45 - Associar-se, exercer cargos e participar de entidades de classe e órgãos de


fiscalização do exercício profissional.

Art. 46 - Requerer em tempo hábil, informações acerca de normas e convocações.

Art. 47 - Requerer, ao Conselho Regional de Enfermagem, medidas cabíveis para obtenção


de desagravo público em decorrência de ofensa sofrida no exercício profissional.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 48 - Cumprir e fazer os preceitos éticos e legais da profissão.

Art. 49 - Comunicar ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que firam preceitos do


presente Código e da legislação do exercício profissional.

Art. 50 - Comunicar formalmente ao Conselho Regional de Enfermagem fatos que

70
T É C N I C O

envolvam recusa ou demissão de cargo, função ou emprego, motivado pela necessidade


do profissional em cumprir o presente Código e a legislação do exercício profissional.

Art. 51 - Cumprir, no prazo estabelecido, as determinações e convocações do Conselho


Federal e Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 52 - Colaborar com a fiscalização de exercício profissional.

Art. 53 - Manter seus dados cadastrais atualizados, e regularizadas as suas obrigações


financeiras com o Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 54 - Apor o número e categoria de inscrição no Conselho Regional de Enfermagem


em assinatura, quando no exercício profissional.

Art. 55 - Facilitar e incentivar a participação dos profissionais de enfermagem no


desempenho de atividades nas organizações da categoria.

PROIBIÇÕES

Art. 56 - Executar e determinar a execução de atos contrários ao Código de Ética e às


demais normas que regulam o exercício da Enfermagem.

Art. 57 - Aceitar cargo, função ou emprego vago em decorrência de fatos que envolvam
recusa ou demissão de cargo, função ou emprego motivado pela necessidade do profissional
em cumprir o presente código e a legislação do exercício profissional.

Art. 58 - Realizar ou facilitar ações que causem prejuízo ao patrimônio ou comprometam


a finalidade para a qual foram instituídas as organizações da categoria.

Art. 59 - Negar, omitir informações ou emitir falsas declarações sobre o exercício


profissional quando solicitado pelo Conselho Regional de Enfermagem.

SEÇÃO IV

DAS RELAÇÕES COM AS ORGANIZAÇÕES EMPREGADORAS

DIREITOS

Art. 60 - Participar de movimentos de defesa da dignidade profissional, do aprimoramento


técnico científico, do exercício da cidadania e das reivindicações por melhores condições
de assistência, trabalho e remuneração.

Art. 61 - Suspender suas atividades, individual ou coletivamente, quando a instituição


pública ou privada para a qual trabalhe não oferecer condições dignas para o exercício
profissional ou que desrespeite a legislação do setor saúde, ressalvadas as situações de
urgência e emergência, devendo comunicar imediatamente por escrito sua decisão ao

71
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Conselho Regional de Enfermagem.

Art. 62 - Receber salários ou honorários compatíveis com o nível de formação, a jornada


de trabalho, a complexidade das ações e a responsabilidade pelo exercício profissional.

Art. 63 - Desenvolver suas atividades profissionais em condições de trabalho que


promovam a própria segurança e a da pessoa, família e coletividade sob seus cuidados, e
dispor de material e equipamentos de proteção individual e coletiva, segundo as normas
vigentes.

Art. 64 - Recusar-se a desenvolver atividades profissionais na falta de material ou


equipamentos de proteção individual e coletiva definidos na legislação específica.

Art. 65 - Formar e participar da comissão de ética da instituição pública ou privada onde


trabalha, bem como de comissões interdisciplinares.

Art. 66 - Exercer cargos de direção, gestão e coordenação na área de seu exercício


profissional e do setor saúde.

Art. 67 - Ser informado sobre as políticas da instituição e do serviço de enfermagem, bem


como participar de sua elaboração.

Art. 68 - Registrar no prontuário, e em outros documentos próprios da enfermagem,


informações referentes ao processo de cuidar da pessoa.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 69 - Estimular, promover e criar condições para o aperfeiçoamento técnico, científico


e cultural dos profissionais de Enfermagem sob sua orientação e supervisão.

Art. 70 - Estimular, facilitar e promover o desenvolvimento das atividades de ensino,


pesquisa e extensão, devidamente aprovadas nas instâncias deliberativas da instituição.

Art. 71 - Incentivar e criar condições para registrar as informações inerentes e


indispensáveis ao processo de cuidar.

Art. 72 - Registrar as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar de


forma clara, objetiva e completa.

PROIBIÇÕES

Art. 73 - Trabalhar, colaborar ou acumpliciar-se com pessoas físicas ou jurídicas que


desrespeitem princípios e normas que regulam o exercício profissional de enfermagem.

Art. 74 - Pleitear cargo, função ou emprego ocupado por colega, utilizando-se de


concorrência desleal.

72
T É C N I C O

Art. 75 - Permitir que seu nome conste no quadro de pessoal de hospital, casa de saúde,
unidade sanitária, clínica, ambulatório, escola, curso, empresa ou estabelecimento
congênere sem nele exercer as funções de enfermagem pressupostas.

Art. 76 - Receber vantagens de instituição, empresa, pessoa, família e coletividade, além


do que lhe é devido, como forma de garantir Assistência de Enfermagem diferenciada ou
benefícios de qualquer natureza para si ou para outrem.

Art. 77 - Usar de qualquer mecanismo de pressão ou suborno com pessoas físicas ou


jurídicas para conseguir qualquer tipo de vantagem.

Art. 78 - Utilizar, de forma abusiva, o poder que lhe confere a posição ou cargo, para
impor ordens, opiniões, atentar contra o pudor, assediar sexual ou moralmente, inferiorizar
pessoas ou dificultar o exercício profissional.

Art. 79 - Apropriar-se de dinheiro, valor, bem móvel ou imóvel, público ou particular de


que tenha posse em razão do cargo, ou desviá-lo em proveito próprio ou de outrem.

Art. 80 - Delegar suas atividades privativas a outro membro da equipe de enfermagem ou


de saúde, que não seja enfermeiro.

CAPÍTULO II-DO SIGILO PROFISSIONAL

DIREITOS

Ética Profissional e Desenvolvimento Humano 18

Art. 81 - Abster-se de revelar informações confidenciais de que tenha conhecimento em


razão de seu exercício profissional a pessoas ou entidades que não estejam obrigadas ao
sigilo.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 82 - Manter segredo sobre fato sigiloso de que tenha conhecimento em razão de
sua atividade profissional, exceto casos previstos em lei, ordem judicial, ou com o
consentimento escrito da pessoa envolvida ou de seu representante legal.

§ 1º - Permanece o dever mesmo quando o fato seja de conhecimento público e em caso


de falecimento da pessoa envolvida.

§ 2º - Em atividade multiprofissional, o fato sigiloso poderá ser revelado quando necessário


à prestação da assistência.

§ 3º - O profissional de enfermagem, intimado como testemunha, deverá comparecer


perante a autoridade e, se for o caso, declarar seu impedimento de revelar o segredo.

73
Relações Interpessoais e Ética Profissional

§ 4º - O segredo profissional referente ao menor de idade deverá ser mantido, mesmo


quando a revelação seja solicitada por pais ou responsáveis, desde que o menor tenha
capacidade de discernimento, exceto nos casos em que possa acarretar danos ou riscos
ao mesmo.

Art. 83 - Orientar, na condição de enfermeiro, a equipe sob sua responsabilidade, sobre o


dever do sigilo profissional.

PROIBIÇÕES

Art. 84 - Franquear o acesso a informações e documentos para pessoas que não estão
diretamente envolvidas na prestação da assistência, exceto nos casos previstos na
legislação vigente ou por ordem judicial.

Art. 85 - Divulgar ou fazer referência a casos, situações ou fatos de forma que os envolvidos
possam ser identificados.

CAPÍTULO III

DO ENSINO, DA PESQUISA E DA PRODUÇÃO TÉCNICO-CIENTÍFICA

DIREITOS

Art. 86 - Realizar e participar de atividades de ensino e pesquisa, respeitadas as normas


ético-legais.

Art. 87 - Ter conhecimento acerca do ensino e da pesquisa a serem desenvolvidos com as


pessoas sob sua responsabilidade profissional ou em seu local de trabalho.

Art. 88 - Ter reconhecida sua autoria ou participação em produção técnico-científica.

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 89 - Atender as normas vigentes para a pesquisa envolvendo seres humanos, segundo
a especificidade da investigação.

Art. 90 - Interromper a pesquisa na presença de qualquer perigo à vida e à integridade da


pessoa.

Art. 91 - Respeitar os princípios da honestidade e fidedignidade, bem como os direitos


autorais no processo de pesquisa, especialmente na divulgação dos seus resultados.

Art. 92 - Disponibilizar os resultados de pesquisa à comunidade científica e sociedade


em geral.

Art. 93 - Promover a defesa e o respeito aos princípios éticos e legais da profissão no

74
T É C N I C O

ensino, na pesquisa e produções técnico-científicas.

PROIBIÇÕES

Art. 94 - Realizar ou participar de atividades de ensino e pesquisa, em que o direito


inalienável da pessoa, família ou coletividade seja desrespeitado ou ofereça qualquer tipo
de risco ou danos aos envolvidos.

Art. 95 - Eximir-se da responsabilidade por atividades executadas por alunos ou


estagiários, na condição de docente, enfermeiro responsável ou supervisor.

Art. 96 - Sobrepor o interesse da ciência ao interesse e segurança da pessoa, família


ou coletividade.

Art. 97 - Falsificar ou manipular resultados de pesquisa, bem como, usá-los para fins
diferentes dos pré-determinados.

Art. 98 - Publicar trabalho com elementos que identifiquem o sujeito participante do


estudo sem sua autorização.

Art. 99 - Divulgar ou publicar, em seu nome, produção técnico-científica ou


instrumento de organização formal do qual não tenha participado ou omitir nomes de
coautores e colaboradores.

Art. 100 - Utilizar sem referência ao autor ou sem a sua autorização expressa, dados,
informações, ou opiniões ainda não publicadas.

Art. 101 - Apropriar-se ou utilizar produções técnico-científicas, das quais tenha


participado como autor ou não, implantadas em serviços ou instituições sem concordância
ou concessão do autor.

Art. 102 - Aproveitar-se de posição hierárquica para fazer constar seu nome como autor
ou coautor em obra técnico-científica.

CAPÍTULO IV

DA PUBLICIDADE

DIREITOS

Art. 103 - Utilizar-se de veículo de comunicação para conceder entrevistas ou divulgar


eventos e assuntos de sua competência, com finalidade educativa e de interesse social.

Art. 104 - Anunciar a prestação de serviços para os quais está habilitado.

75
Relações Interpessoais e Ética Profissional

RESPONSABILIDADES E DEVERES

Art. 105 - Resguardar os princípios da honestidade, veracidade e fidedignidade no


conteúdo e na forma publicitária.

Art. 106 - Zelar pelos preceitos éticos e legais da profissão nas diferentes formas de
divulgação.

PROIBIÇÕES

Art. 107 - Divulgar informação inverídica sobre assunto de sua área profissional.

Art. 108 - Inserir imagens ou informações que possam identificar pessoas e instituições
sem sua prévia autorização.

Art. 109 - Anunciar título ou qualificação que não possa comprovar.

Art. 110 - Omitir em proveito próprio, referência a pessoas ou instituições.

Art. 111 - Anunciar a prestação de serviços gratuitos ou propor honorários que caracterizem
concorrência desleal.

CAPÍTULO V

DAS INFRAÇÕES E PENALIDADES

Art. 112 - A caracterização das infrações éticas e disciplinares e a aplicação das respectivas
penalidades regem-se por este Código, sem prejuízo das sanções previstas em outros
dispositivos legais.

Art. 113 - Considera-se infração ética a ação, omissão ou conivência que implique em
desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de
Enfermagem.

Art. 114 - Considera-se infração disciplinar a inobservância das normas dos Conselhos
Federal e Regional de Enfermagem.

Art. 115 - Responde pela infração quem a cometer ou concorrer para a sua prática, ou dela
obtiver benefício, quando cometida por outrem.

Art. 116 - A gravidade da infração é caracterizada por meio da análise dos fatos do dano
e de suas conseqüencias.

Art. 117 - A infração é apurada em processo instaurado e conduzido nos termos do Código
de Processo Ético das Autarquias Profissionais de Enfermagem.

76
T É C N I C O

Art. 118 - As penalidades a serem impostas pelos Conselhos Federal e Regional de


Enfermagem, conforme o que determina o art. 18, da Lei n° 5.905, de 12 de julho de 1973,
são as seguintes:

I - Advertência verbal;

II - Multa;

III - Censura;

IV - Suspensão do exercício profissional;

V - Cassação do direito ao exercício profissional.

§ 1º - A advertência verbal consiste na admoestação ao infrator, de forma reservada, que


será registrada no prontuário do mesmo, na presença de duas testemunhas.

§ 2º - A multa consiste na obrigatoriedade de pagamento de 01 (uma) a 10 (dez) vezes o


valor da anuidade da categoria profissional à qual pertence o infrator, em vigor no ato do
pagamento.

§3º - A censura consiste em repreensão que será divulgada nas publicações oficiais dos
Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande circulação.

§ 4º - A suspensão consiste na proibição do exercício profissional da enfermagem por um


período não superior a 29 (vinte e nove) dias e será divulgada nas publicações oficiais dos
Conselhos Federal e Regional de Enfermagem, jornais de grande circulação e comunicada
aos órgãos empregadores.

§ 5º - A cassação consiste na perda do direito ao exercício da enfermagem e será divulgada


nas publicações dos Conselhos Federal e Regional de Enfermagem e em jornais de grande
circulação.

Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão


do exercício profissional, são da alçada do Conselho Regional de Enfermagem, serão
registradas no prontuário do profissional de enfermagem; a pena de cassação do direito ao
exercício profissional é de competência do Conselho Federal de Enfermagem, conforme o
disposto no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei n° 5.905/73.

Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal de


Enfermagem, terá como instância superior a Assembleia dos Delegados Regionais.

Art. 120 - Para a graduação da penalidade e respectiva imposição consideram-se:

I - A maior ou menor gravidade da infração;

77
Relações Interpessoais e Ética Profissional

II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração;

III - O dano causado e suas consequências;

IV - Os antecedentes do infrator.

Art. 121 - As infrações serão consideradas leves, graves ou gravíssimas, segundo a


natureza do ato e a circunstância de cada caso.

§ 1º - São consideradas infrações leves as que ofendam a integridade física, mental ou


moral de qualquer pessoa, sem causar debilidade ou aquelas que venham a difamar
organizações da categoria ou instituições.

§ 2º - São consideradas infrações graves as que provoquem perigo de vida, debilidade


temporária de membro, sentido ou função em qualquer pessoa ou as que causem danos
patrimoniais ou financeiros.

§ 3º - São consideradas infrações gravíssimas as que provoquem morte, deformidade


permanente, perda ou inutilização de membro, sentido, função ou ainda, dano moral
irremediável em qualquer pessoa.

Art. 122 - São consideradas circunstâncias atenuantes:

I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com
eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu ato;

II - Ter bons antecedentes profissionais;

III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação;

IV - Realizar ato sob emprego real de força física;

V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração.

Art. 123 - São consideradas circunstâncias agravantes:

I - Ser reincidente;

II - Causar danos irreparáveis;

III - Cometer infração dolosamente;

IV - Cometer a infração por motivo fútil ou torpe;

V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de


outra infração;

78
T É C N I C O

VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima;

VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao


cargo ou função;

VIII - Ter maus antecedentes profissionais.

CAPÍTULO VI

DA APLICAÇÃO DAS PENALIDADES

Art. 124 - As penalidades previstas neste Código somente poderão ser aplicadas,
cumulativamente, quando houver infração a mais de um artigo.

Art. 125 - A pena de advertência verbal é aplicável nos casos de infrações ao que está
estabelecido nos artigos: 5º a 7º; 12 a 14; 16 a 24; 27; 30; 32; 34; 35; 38 a 40; 49 a 55; 57;
69 a 71; 74; 78; 82 a 85; 89 a 95; 98 a 102; 105; 106; 108 a 111 deste Código.

Art. 126 - A pena de multa é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido nos
artigos: 5º a 9º; 12; 13; 15; 16; 19; 24; 25; 26; 28 a 35; 38 a 43; 48 a 51; 53; 56 a 59; 72 a 80;
82; 84; 85; 90; 94; 96; 97 a 102; 105; 107; 108; 110; e 111 deste Código.

Art. 127 - A pena de censura é aplicável nos casos de infrações ao que está estabelecido
nos artigos: 8º; 12º; 13º; 15º; 16º; 25; 30 a 35; 41 a 43; 48; 51; 54; 56 a 59; 71 a 80; 82; 84;
85; 90; 91; 94 a 102; 105; 107 a 111 deste Código.

Art. 128 - A pena de suspensão do exercício profissional é aplicável nos casos de infrações
ao que está estabelecido nos artigos: 8º; 9º; 12; 15; 16; 25; 26; 28; 29; 31; 33 a 35; 41 a 43;
48; 56; 58; 59; 72; 73; 75 a 80; 82; 84; 85; 90; 94; 96 a 102; 105; 107 e 108 deste Código.

Art.129 - A pena de cassação do direito ao exercício profissional é aplicável nos casos de


infrações ao que está estabelecido nos artigos: 9º; 12; 26; 28; 29; 78 e 79 deste Código.

CAPITULO VII

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 130 - Os casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Federal de Enfermagem.

Art. 131- Este Código poderá ser alterado pelo Conselho Federal de Enfermagem, por
iniciativa própria ou mediante proposta de Conselhos Regionais.

Parágrafo único - A alteração referida deve ser precedida de ampla discussão com a
categoria, coordenada pelos Conselhos Regionais.

Art. 132 - O presente Código entrará em vigor 90 dias após sua publicação, revogadas as

79
Relações Interpessoais e Ética Profissional

disposições em contrário.

Rio de Janeiro, 08 de fevereiro de 2007.

13.4. Lei no. 8080 – Lei orgânica da saúde de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre
as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

Data de Publicação: 18/01/2007

LEI 8080, de 19 de setembro de 1990.

Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização


e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.

O presidente da República.

Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 1º - Esta lei regula, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde,
executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas
naturais ou jurídicas de direito Público ou privado.

TÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 2º - A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as


condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º - O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas


econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

§ 2º - O dever do Estado não exclui o das pessoas, da família, das empresas e da


sociedade.

Art. 3º - A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a


alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais; os níveis de
saúde da população expressam a organização social e econômica do País.

80
T É C N I C O

Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que, por força do disposto no
artigo anterior, se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar
físico, mental e social.

TÍTULO II - DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

DISPOSIÇÃO PRELIMINAR

Art. 4º - O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições


públicas federais, estaduais e municipais, da Administração direta e indireta e das
fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS).

§ 1º - Estão incluídas no disposto neste artigo as instituições públicas federais, estaduais


e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produção de insumos, medicamentos,
inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para saúde.

§ 2º - A iniciativa privada poderá participar do Sistema Único de Saúde (SUS), em caráter


complementar.

CAPÍTULO I - Dos Objetivos e Atribuições

Art. 5º - São objetivos do Sistema Único de Saúde SUS:

I - A identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes da saúde;

II - A formulação de política de saúde destinada a promover, nos campos econômico


e social, a observância do disposto no § 1º do art. 2º desta lei;

III - A assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção, proteção


e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações assistenciais e das
atividades preventivas.

§ 2º - (vetado)

Art. 6º - Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):

I - A execução de ações:

§ 1º - De vigilância sanitária;

§ 2º - De vigilância epidemiológica;

§ 3º - De saúde do trabalhador;

81
Relações Interpessoais e Ética Profissional

§ 4º - De assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;

II - a participação na formulação da política e na execução de ações de saneamento básico;

III - A ordenação da formação de recursos humanos na área de saúde;

IV - A vigilância nutricional e a orientação alimentar;

V - A colaboração na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho;

VI - A formulação da política de medicamentos, equipamentos, imunobiológicos e


outros insumos de interesse para a saúde e a participação na sua produção;

VII - O controle e a fiscalização de serviços, produtos e substâncias de interesse para


a saúde;

VIII - A fiscalização e a inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo humano;

IX - A participação no controle e na fiscalização da produção, transporte, guarda e


utilização de substâncias e produtos psicoativos, tóxicos e radioativos;

X - O incremento, em sua área de atuação, do desenvolvimento científico e tecnológico;

XI - A formulação e execução da política de sangue e seus derivados.

§ 1º - Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar,


diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do
meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse
da saúde, abrangendo:

I - O controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a


saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo;

II - O controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente


com a saúde.

§ 2º - Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam


o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes
e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar
as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.

§ 3º - Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades
que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária,
à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e
reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das
condições de trabalho, abrangendo:

82
T É C N I C O

I - Assistência ao trabalhador vítima de acidentes de trabalho ou portador de doença


profissional e do trabalho;

II - Participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS), em


estudos, pesquisas, avaliação e controle dos riscos e agravos potenciais à saúde
existentes no processo de trabalho;

III - Participação, no âmbito de competência do Sistema Único de Saúde (SUS),


da normatização, fiscalização e controle das condições de produção, extração,
armazenamento, transporte, distribuição e manuseio de substâncias, de produtos, de
máquinas e de equipamentos que apresentam riscos à saúde do trabalhador;

IV - Avaliação do impacto que as tecnologias provocam à saúde;

V - Informação ao trabalhador e à sua respectiva entidade sindical e às empresas


sobre os riscos de acidentes de trabalho, doença profissional e do trabalho, bem como
os resultados de fiscalizações, avaliações ambientais e exames de saúde, de admissão,
periódicos e de demissão, respeitados os preceitos da ética profissional;

VI - Participação na normatização, fiscalização e controle dos serviços de saúde do


trabalhador nas instituições e empresas públicas e privadas;

VII - Revisão periódica da listagem oficial de doenças originadas no processo de


trabalho, tendo na sua elaboração a colaboração das entidades sindicais; e

VIII - A garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao órgão competente a


interdição de máquina, de setor de serviço ou de todo ambiente de trabalho, quando
houver exposição a risco iminente para a vida ou saúde dos trabalhadores.

CAPÍTULO II - Dos Princípios e Diretrizes

Art. 7º - As ações e serviços públicos de saúde e os serviços privados contratados ou


conveniados que integram o Sistema Único de Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo
com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituição Federal, obedecendo ainda aos
seguintes princípios:

I - Universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência;

II - Integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das


ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema;

III - Preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade física e


moral;

83
Relações Interpessoais e Ética Profissional

IV - Igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer


espécie;

V - Direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde;

VI - Divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e a sua


utilização pelo usuário;

VII - Utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a alocação


de recursos e a orientação programática;

VIII - Participação da comunidade;

IX - Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera


de governo:

§ 1º - Ênfase na descentralização dos serviços para os municípios;

§ 2º - Regionalização e hierarquização da rede de serviços de saúde;

X - Integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e saneamento básico;

XI - Conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios na prestação de serviços de
assistência à saúde da população;

XII - Capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência; e

XIII - Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para
fins idênticos.

CAPÍTULO III - Da Organização, da Direção e da Gestão

Art. 8º - As ações e serviços de saúde, executados pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
seja diretamente ou mediante participação complementar da iniciativa privada, serão
organizados de forma regionalizada e hierarquizada em níveis de complexidade crescente.

Art. 9º - A direção do Sistema Único de Saúde (SUS) é única, de acordo com o inciso
I do art. 198 da Constituição Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos
seguintes órgãos:

I - No âmbito da União, pelo Ministério da Saúde;

II - No âmbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secretaria de Saúde


ou órgão equivalente; e

84
T É C N I C O

III - no âmbito dos Municípios, pela respectiva Secretaria de Saúde ou órgão


equivalente

Art. 10º - Os municípios poderão constituir consórcios para desenvolver em conjunto as


ações e os serviços de saúde que lhes correspondam.

§ 1º - Aplica-se aos consórcios administrativos intermunicipais o princípio da direção


única, e os respectivos atos constitutivos disporão sobre sua observância.

§ 2º - No nível municipal, o Sistema Único de Saúde (SUS), poderá organizar-se em


distritos de forma a integrar e articular recursos, técnicas e práticas voltadas para a
cobertura total das ações de saúde.

Art. 11º - (Vetado).

Art. 12º - Serão criadas comissões Inter setoriais de âmbito nacional, subordinadas ao
Conselho Nacional de Saúde, integradas pelos Ministérios e órgãos competentes e por
entidades representativas da sociedade civil.

Parágrafo único. As comissões Inter setoriais terão a finalidade de articular políticas e


programas de interesse para a saúde, cuja execução envolva áreas não compreendidas no
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 13 - A articulação das políticas e programas, a cargo das comissões Inter setoriais,
abrangerá, em especial, as seguintes atividades:

I - Alimentação e nutrição;

II - Saneamento e meio ambiente;

III - Vigilância sanitária e farmacoepidemiologia;

IV - Recursos humanos;

V - Ciência e tecnologia; e

VI - Saúde do trabalhador.

Art. 14º - Deverão ser criadas Comissões Permanentes de integração entre os serviços de
saúde e as instituições de ensino profissional e superior.

Parágrafo único. Cada uma dessas comissões terá por finalidade propor prioridades,
métodos e estratégias para a formação e educação continuada dos recursos humanos
do Sistema Único de Saúde (SUS), na esfera correspondente, assim como em relação à
pesquisa e à cooperação técnica entre essas instituições.

85
Relações Interpessoais e Ética Profissional

CAPÍTULO IV - Da Competência e das Atribuições

Seção I - Das Atribuições Comuns

Art. 15º - A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios exercerão, em seu


âmbito administrativo, as seguintes atribuições:

I - Definição das instâncias e mecanismos de controle, avaliação e de fiscalização das


ações e serviços de saúde;

II - Administração dos recursos orçamentários e financeiros destinados, em cada ano, à saúde;

III - Acompanhamento, avaliação e divulgação do nível de saúde da população e das


condições ambientais;

IV - Organização e coordenação do sistema de informação de saúde;

V - Elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade e


parâmetros de custos que caracterizam a assistência à saúde;

VI - Elaboração de normas técnicas e estabelecimento de padrões de qualidade para


promoção da saúde do trabalhador;

VII - Participação de formulação da política e da execução das ações de saneamento


básico e colaboração na proteção e recuperação do meio ambiente;

VIII - Elaboração e atualização periódica do plano de saúde;

IX - Participação na formulação e na execução da política de formação e


desenvolvimento de recursos humanos para a saúde;

X - Elaboração da proposta orçamentária do Sistema Único de Saúde (SUS), de


conformidade com o plano de saúde;

XI - Elaboração de normas para regular as atividades de serviços privados de saúde,


tendo em vista a sua relevância pública;

XII - Realização de operações externas de natureza financeira de interesse da saúde,


autorizadas pelo Senado Federal;

XIII - Para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transitórias,


decorrentes de situações de perigo iminente, de calamidade pública ou de irrupção
de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente
poderá requisitar bens e serviços, tanto de pessoas naturais como de jurídicas,
sendo-lhes assegurada justa indenização;

86
T É C N I C O

XIV - Implementar o Sistema Nacional de Sangue, Componentes e Derivados;

XV - Propor a celebração de convênios, acordos e protocolos internacionais relativos à


saúde, saneamento e meio ambiente;

XVI - Elaborar normas técnico-científicas de promoção, proteção e recuperação


da saúde;

XVII - Promover articulação com os órgãos de fiscalização do exercício profissional


e outras entidades representativas da sociedade civil para a definição e controle dos
padrões éticos para pesquisa, ações e serviços de saúde;

XVIII - Promover a articulação da política e dos planos de saúde;

XIX - Realizar pesquisas e estudos na área de saúde;

XX - Definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder


de polícia sanitária;

XXI - Fomentar, coordenar e executar programas e projetos estratégicos e de


atendimento emergencial.

Seção II - Da Competência

Art. 16º - A direção nacional do Sistema Único da Saúde (SUS) compete:

I - Formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição;

II - Participar na formulação e na implementação das políticas:

§ 1º - De controle das agressões ao meio ambiente;

§ 2º - De saneamento básico; e

§ 3º - Relativas às condições e aos ambientes de trabalho;

III - Definir e coordenar os sistemas:

§ 1º - De redes integradas de assistência de alta complexidade;

§ 2º - De rede de laboratórios de saúde pública;

§ 3º - De vigilância epidemiológica; e

§ 4º - Vigilância sanitária;

87
Relações Interpessoais e Ética Profissional

IV - Participar da defi nição de normas e mecanismos de controle, com órgão afi ns,


de agravo sobre o meio ambiente ou dele decorrentes, que tenham repercussão na
saúde humana;

V - Participar da definição de normas, critérios e padrões para o controle das condições


e dos ambientes de trabalho e coordenar a política de saúde do trabalhador;

VI - Coordenar e participar na execução das ações de vigilância epidemiológica;

VII - Estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos


e fronteiras, podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito
Federal e Municípios;

VIII - Estabelecer critérios, parâmetros e métodos para o controle da qualidade


sanitária de produtos, substâncias e serviços de consumo e uso humano;

IX - Promover articulação com os órgãos educacionais e de fiscalização do exercício


profissional, bem como com entidades representativas de formação de recursos
humanos na área de saúde;

X - Formular, avaliar, elaborar normas e participar na execução da política nacional


e produção de insumos e equipamentos para a saúde, em articulação com os demais
órgãos governamentais;

XI - Identificar os serviços estaduais e municipais de referência nacional para o


estabelecimento de padrões técnicos de assistência à saúde;

XII - Controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde;

XIII - Prestar cooperação técnica e financeira aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios para o aperfeiçoamento da sua atuação institucional;

XIV - Elaborar normas para regular as relações entre o Sistema Único de Saúde
(SUS) e os serviços privados contratados de assistência à saúde;

XV - Promover a descentralização para as Unidades Federadas e para os Municípios,


dos serviços e ações de saúde, respectivamente, de abrangência estadual e municipal;

XVI - Normatizar e coordenar nacionalmente o Sistema Nacional de Sangue,


Componentes e Derivados;

XVII - Acompanhar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde, respeitadas


as competências estaduais e municipais;

XVIII - Elaborar o Planejamento Estratégico Nacional no âmbito do SUS, em


cooperação técnica com os Estados, Municípios e Distrito Federal;

88
T É C N I C O

XIX - estabelecer o Sistema Nacional de Auditoria e coordenar a avaliação técnica


e financeira do SUS em todo o Território Nacional em cooperação técnica com os
Estados, Municípios e Distrito Federal. (Vide Decreto nº 1.651, de 1995)

XX - definir as instâncias e mecanismos de controle e fiscalização inerentes ao poder


de polícia sanitária;

Parágrafo único. A União poderá executar ações de vigilância epidemiológica e sanitária


em circunstâncias especiais, como na ocorrência de agravos inusitados à saúde, que
possam escapar do controle da direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) ou que
representem risco de disseminação nacional.

Art. 16º - À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:

I - Promover a descentralização para os Municípios dos serviços e das ações de saúde;

II - Acompanhar, controlar e avaliar as redes hierarquizadas do Sistema Único


de Saúde (SUS);

III - Prestar apoio técnico e financeiro aos Municípios e executar supletivamente


ações e serviços de saúde;

IV - Coordenar e, em caráter complementar, executar ações e serviços:

§ 1º - De vigilância epidemiológica;

§ 2º - De vigilância sanitária;

§ 3º - De alimentação e nutrição; e

§ 4º - De saúde do trabalhador;

V - Participar, junto com os órgãos afins, do controle dos agravos do meio ambiente
que tenham repercussão na saúde humana;

VI - Participar da formulação da política e da execução de ações de saneamento básico;

VII - Participar das ações de controle e avaliação das condições e dos ambientes de trabalho;

VIII - Em caráter suplementar, formular, executar, acompanhar e avaliar a política de


insumos equipamentos para a saúde;

IX - Identificar estabelecimentos hospitalares de referência e gerir sistemas públicos


de alta complexidade, de referência estadual e regional;

X -Coordenar a rede estadual de laboratórios de saúde pública e hemocentros, e gerir

89
Relações Interpessoais e Ética Profissional

as unidades que permaneçam em sua organização administrativa;

XI - Estabelecer normas, em caráter suplementar, para o controle e avaliação das


ações e serviços de saúde;

XII - Formular normas e estabelecer padrões, em caráter suplementar, de procedimentos


de controle de qualidade para produtos e substâncias de consumo humano;

XIII - Colaborar com a União na execução da vigilância sanitária de portos,


aeroportos e fronteiras;

XIV - O acompanhamento, a avaliação e divulgação dos indicadores de morbidade e


mortalidade no âmbito da unidade federada.

Art. 18 - À direção estadual do Sistema Único de Saúde (SUS) compete:

I - Planejar, organizar, controlar e avaliar as ações e os serviços de saúde e gerir e


executar os serviços públicos de saúde;

II - Participar do planejamento, programação e organização da rede regionalizada


e hierarquizada do Sistema Único de Saúde (SUS), em articulação com sua direção
estadual;

III - Participar da execução, controle e avaliação das ações referentes às condições e


aos ambientes de trabalho;

IV - Executar serviços:

§ 1º - De vigilância epidemiológica;

§ 2º - Vigilância sanitária;

§ 3º - De alimentação e nutrição;

§ 4º - De saneamento básico; e

§ 5º - De saúde do trabalhador;

V - Dar execução, no âmbito municipal, à política de insumos e equipamentos para a saúde;

VI - Colaborar na fiscalização das agressões ao meio ambiente que tenham


repercussão sobre a saúde humana e atuar, junto aos órgãos municipais, estaduais e
federais competentes, para controlá-las;

VII - Formar consórcios administrativos intermunicipais;

90
T É C N I C O

VIII - Gerir laboratórios públicos de saúde e hemocentros;

IX - Colaborar com a União e os Estados na execução da vigilância sanitária de portos,


aeroportos e fronteiras;

X - Observado o disposto no art. 26 desta Lei, celebrar contratos e convênios com entidades
prestadoras de serviços privados de saúde, bem como controlar e avaliar sua execução;

XI - Controlar e fiscalizar os procedimentos dos serviços privados de saúde;

XII - Normatizar complementarmente as ações e serviços públicos de saúde no seu


âmbito de atuação.

Art. 19º - Ao Distrito Federal competem as atribuições reservadas aos Estados e


aos Municípios.

CAPÍTULO V - Do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Incluído pela Lei nº 9.836,


de 1999)

Art. 19.A - As ações e serviços de saúde voltados para o atendimento das populações
indígenas, em todo o território nacional, coletiva ou individualmente, obedecerão ao
disposto nesta Lei. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

Art. 19.B - É instituído um Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, componente do


Sistema Único de Saúde – SUS, criado e definido por esta Lei, e pela Lei no 8.142, de 28
de dezembro de 1990, com o qual funcionará em perfeita integração. (Incluído pela Lei
nº 9.836, de 1999))

Art. 19.C - Caberá à União, com seus recursos próprios, financiar o Subsistema de Atenção
à Saúde Indígena. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

Art. 19.D - O SUS promoverá a articulação do Subsistema instituído por esta Lei com os
órgãos esponsáveis pela Política Indígena do País. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

Art. 19.E - Os Estados, Municípios, outras instituições governamentais e não-


governamentais poderão atuar complementarmente no custeio e execução das ações.
(Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

Art. 19.F - Dever-se-á obrigatoriamente levar em consideração a realidade local e as


especificidades da cultura dos povos indígenas e o modelo a ser adotado para a atenção à
saúde indígena, que se deve pautar por uma abordagem diferenciada e global, contemplando
os aspectos de assistência à saúde, saneamento básico, nutrição, habitação, meio ambiente,
demarcação de terras, educação sanitária e integração institucional. (Incluído pela Lei nº
9.836, de 1999)

91
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 19.G- O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena deverá ser, como o SUS,
descentralizado, hierarquizado e regionalizado.(Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

§ 1º - O Subsistema de que trata o caput deste artigo terá como base os Distritos Sanitários
Especiais Indígenas. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

§ 2º - O SUS servirá de retaguarda e referência ao Subsistema de Atenção à Saúde Indígena,


devendo, para isso, ocorrer adaptações na estrutura e organização do SUS nas regiões
onde residem as populações indígenas, para propiciar essa integração e o atendimento
necessário em todos os níveis, sem discriminações. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

§ 3º - As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local,


regional e de centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo
a atenção primária, secundária e terciária à saúde. (Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

Art. 19.H - As populações indígenas terão direito a participar dos organismos colegiados
de formulação, acompanhamento e avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho
Nacional de Saúde e os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for o caso.
(Incluído pela Lei nº 9.836, de 1999)

CAPÍTULO VI -Do Subsistema de Atendimento e Internação Domiciliar (Incluído pela


Lei nº 10.424, de 2002)

Art. 19.I - São estabelecidos, no âmbito do Sistema Único de Saúde, o atendimento


domiciliar e a internação domiciliar. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)

§ 1º - Na modalidade de assistência de atendimento e internação domiciliares incluem-


se, principalmente, os procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos,
psicológicos e de assistência social, entre outros necessários ao cuidado integral dos
pacientes em seu domicílio.

(Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)

§ 2º - O atendimento e a internação domiciliares serão realizados por equipes


multidisciplinares que atuarão nos níveis da medicina preventiva, terapêutica e
reabilitadora. (Incluído pela Lei nº 10.424, de 2002)

§ 3º - O atendimento e a internação domiciliares só poderão ser realizados por indicação


médica, com expressa concordância do paciente e de sua família. (Incluído pela Lei nº
10.424, de 2002)

CAPÍTULO VII - DO Subsistema de Acompanhamento durante o Trabalho de Parto, e


Pós-Parto Imediato (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)

Art. 19.J - Os serviços de saúde do Sistema Único de Saúde - SUS, da rede própria
ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de 1 (um)

92
T É C N I C O

acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato.


(Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)

§ 1º - O acompanhante de que trata o caput deste artigo será indicado pela parturiente.
(Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)

§ 2º - As ações destinadas a viabilizar o pleno exercício dos direitos de que trata este
artigo constarão do regulamento da lei, a ser elaborado pelo órgão competente do Poder
Executivo. (Incluído pela Lei nº 11.108, de 2005)

TÍTULO III - DOS SERVIÇOS PRIVADOS DE ASSISTÊNCIA À SAÚDE

CAPÍTULO I - Do Funcionamento

Art. 20º - Os serviços privados de assistência à saúde caracterizam-se pela atuação, por
iniciativa própria, de profissionais liberais, legalmente habilitados, e de pessoas jurídicas
de direito privado na promoção, proteção e recuperação da saúde.

Art. 21º - A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

Art. 22º - Na prestação de serviços privados de assistência à saúde, serão observados os


princípios éticos e as normas expedidas pelo órgão de direção do Sistema Único de Saúde
(SUS) quanto às condições para seu funcionamento.

Art. 23º - É vedada a participação direta ou indireta de empresas ou de capitais


estrangeiros na assistência à saúde, salvo através de doações de organismos internacionais
vinculados à Organização das Nações Unidas, de entidades de cooperação técnica e de
financiamento e empréstimos.

§ 1º - Em qualquer caso é obrigatória a autorização do órgão de direção nacional do


Sistema Único de Saúde (SUS), submetendo-se a seu controle as atividades que forem
desenvolvidas e os instrumentos que forem firmados.

§ 2º - Excetuam-se do disposto neste artigo os serviços de saúde mantidos, em finalidade


lucrativa, por empresas, para atendimento de seus empregados e dependentes, sem
qualquer ônus para a seguridade social.

CAPÍTULO II - Da Participação Complementar

Art. 24º - Quando as suas disponibilidades forem insuficientes para garantir a cobertura
assistencial à população de uma determinada área, o Sistema Único de Saúde (SUS)
poderá recorrer aos serviços ofertados pela iniciativa privada.

Parágrafo único. A participação complementar dos serviços privados será formalizada


mediante contrato ou convênio, observadas, a respeito, as normas de direito público.

93
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 25º - Na hipótese do artigo anterior, as entidades filantrópicas e as sem fins lucrativos
terão preferência para participar do Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 26º - Os critérios e valores para a remuneração de serviços e os parâmetros de


cobertura assistencial serão estabelecidos pela direção nacional do Sistema Único de
Saúde (SUS), aprovados no Conselho Nacional de Saúde.

§ 1º - Na fixação dos critérios, valores, formas de reajuste e de pagamento da remuneração


aludida neste artigo, a direção nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) deverá
fundamentar seu ato em demonstrativo econômico-financeiro que garanta a efetiva
qualidade de execução dos serviços contratados.

§ 2º - Os serviços contratados submeter-se-ão às normas técnicas e administrativas e aos


princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), mantido o equilíbrio econômico
e financeiro do contrato.

§ 3º - (Vetado).

§ 4º - Aos proprietários, administradores e dirigentes de entidades ou serviços contratados


é vedado exercer cargo de chefia ou função de confiança no Sistema Único de Saúde (SUS).

TÍTULO IV - DOS RECURSOS HUMANOS

Art. 27º - A política de recursos humanos na área da saúde será formalizada e


executada, articuladamente, pelas diferentes esferas de governo, em cumprimento dos
seguintes objetivos:

I - Organização de um sistema de formação de recursos humanos em todos os


níveis de ensino, inclusive de pós-graduação, além da elaboração de programas de
permanente aperfeiçoamento de pessoal;

II - (Vetado)

III - (Vetado)

IV - valorização da dedicação exclusiva aos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS).

Parágrafo único. Os serviços públicos que integram o Sistema Único de Saúde (SUS)
constituem campo de prática para ensino e pesquisa, mediante normas específicas,
elaboradas conjuntamente com o sistema educacional.

Art. 28º - Os cargos e funções de chefia, direção e assessoramento, no âmbito do Sistema


Único de Saúde (SUS), só poderão ser exercidas em regime de tempo integral.

94
T É C N I C O

§ 1º - Os servidores que legalmente acumulam dois cargos ou empregos poderão exercer


suas atividades em mais de um estabelecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).

§ 2º - O disposto no parágrafo anterior aplica-se também aos servidores em regime


de tempo integral, com exceção dos ocupantes de cargos ou função de chefia,
direção ou assessoramento.

Art. 29º - (Vetado).

Art. 30º - As especializações na forma de treinamento em serviço sob supervisão serão


regulamentadas por Comissão Nacional, instituída de acordo com o art. 12 desta Lei,
garantida a participação das entidades profissionais correspondentes.

TÍTULO V - DO FINANCIAMENTO

CAPÍTULO I -Dos Recursos

Art. 31º - O orçamento da seguridade social destinará ao Sistema Único de Saúde (SUS)
de acordo com a receita estimada, os recursos necessários à realização de suas finalidades,
previstos em proposta elaborada pela sua direção nacional, com a participação dos órgãos
da Previdência Social e da Assistência Social, tendo em vista as metas e prioridades
estabelecidas na Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Art. 32º. - São considerados de outras fontes os recursos provenientes de:

I - (Vetado)

II - Serviços que possam ser prestados sem prejuízo da assistência à saúde;

III - Ajuda, contribuições, doações e donativos;

IV - Alienações patrimoniais e rendimentos de capital;

V - Taxas, multas, emolumentos e preços públicos arrecadados no âmbito do Sistema


Único de Saúde (SUS); e

VI - Rendas eventuais, inclusive comerciais e industriais.

§ 1° - Ao Sistema Único de Saúde (SUS) caberá metade da receita de que trata o inciso I
deste artigo, apurada mensalmente, a qual será destinada à recuperação de viciados.

§ 2° - As receitas geradas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) serão creditadas


diretamente em contas especiais, movimentadas pela sua direção, na esfera de poder onde
forem arrecadadas.

95
Relações Interpessoais e Ética Profissional

§ 3º - As ações de saneamento que venham a ser executadas supletivamente pelo Sistema


Único de Saúde (SUS), serão financiadas por recursos tarifários específicos e outros da
União, Estados, Distrito Federal, Municípios e, em particular, do Sistema Financeiro
da Habitação (SFH).

§ 4º - (Vetado).

§ 5º - As atividades de pesquisa e desenvolvimento científico e tecnológico em saúde serão


cofinanciadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelas universidades e pelo orçamento
fiscal, além de recursos de instituições de fomento e financiamento ou de origem externa
e receita própria das instituições executoras.

§ 6º - (Vetado).

CAPÍTULO II - Da Gestão Financeira

Art. 33º - Os recursos financeiros do Sistema Único de Saúde (SUS) serão depositados
em conta especial, em cada esfera de sua atuação, e movimentados sob fiscalização dos
respectivos Conselhos de Saúde.

§ 1º - Na esfera federal, os recursos financeiros, originários do Orçamento da Seguridade


Social, de outros Orçamentos da União, além de outras fontes, serão administrados pelo
Ministério da Saúde, através do Fundo Nacional de Saúde.

§ 2º - (Vetado).

§ 3º - (Vetado).

§ 4º - O Ministério da Saúde acompanhará, através de seu sistema de auditoria, a


conformidade à programação aprovada da aplicação dos recursos repassados a Estados e
Municípios. Constatada a malversação, desvio ou não aplicação dos recursos, caberá ao
Ministério da Saúde aplicar as medidas previstas em lei.

Art. 34º - As autoridades responsáveis pela distribuição da receita efetivamente


arrecadada transferirão automaticamente ao Fundo Nacional de Saúde (FNS), observado
o critério do parágrafo único deste artigo, os recursos financeiros correspondentes às
dotações consignadas no Orçamento da Seguridade Social, a projetos e atividades a serem
executados no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Parágrafo único. Na distribuição
dos recursos financeiros da Seguridade Social será observada a mesma proporção da
despesa prevista de cada área, no Orçamento da Seguridade Social.

Art. 35º - Para o estabelecimento de valores a serem transferidos a Estados, Distrito Federal
e Municípios, será utilizada a combinação dos seguintes critérios, segundo análise técnica
de programas e projetos:

96
T É C N I C O

I - perfil demográfico da região;

II - Perfil epidemiológico da população a ser coberta;

III - Características quantitativas e qualitativas da rede de saúde na área;

IV - Desempenho técnico, econômico e financeiro no período anterior;

V - Níveis de participação do setor saúde nos orçamentos estaduais e municipais;

VI - Previsão do plano quinquenal de investimentos da rede;

VII - Ressarcimento do atendimento a serviços prestados para outras esferas de governo.

§ 1º - Metade dos recursos destinados a Estados e Municípios será distribuída segundo


o quociente de sua divisão pelo número de habitantes, independentemente de qualquer
procedimento prévio.

§ 2º - Nos casos de Estados e Municípios sujeitos a notório processo de migração, os


critérios demográficos mencionados nesta lei serão ponderados por outros indicadores de
crescimento populacional, em especial o número de eleitores registrados.

§ 3º - (Vetado).

§ 4º - (Vetado).

§ 5º - (Vetado).

§ 6º - O disposto no parágrafo anterior não prejudica a atuação dos órgãos de controle


interno e externo e nem a aplicação de penalidades previstas em lei, em caso de
irregularidades verificadas na gestão dos recursos transferidos.

CAPÍTULO III - Do Planejamento e do Orçamento

Art. 36º - O processo de planejamento e orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) será
ascendente, do nível local até o federal, ouvidos seus órgãos deliberativos, compatibilizando-
se as necessidades da política de saúde com a disponibilidade de recursos em planos de
saúde dos Municípios, dos Estados, do Distrito Federal e da União.

§ 1º - Os planos de saúde serão a base das atividades e programações de cada nível de


direção do Sistema Único de Saúde (SUS), e seu financiamento será previsto na respectiva
proposta orçamentária.

§ 2º - É vedada a transferência de recursos para o financiamento de ações não previstas nos

97
Relações Interpessoais e Ética Profissional

planos de saúde, exceto em situações emergenciais ou de calamidade pública, na área de saúde.

Art. 37º - O Conselho Nacional de Saúde estabelecerá as diretrizes a serem observadas


na elaboração dos planos de saúde, em função das características epidemiológicas e da
organização dos serviços em cada jurisdição administrativa.

Art. 38º - Não será permitida a destinação de subvenções e auxílios a instituições


prestadoras de serviços de saúde com finalidade lucrativa.

DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS

Art. 39º - (Vetado).

§ 1º - (Vetado).

§ 2º - (Vetado).

§ 3º - (Vetado).

§ 4º - (Vetado).

§ 5º - A cessão de uso dos imóveis de propriedade do Inamps para órgãos integrantes do


Sistema Único de Saúde (SUS) será feita de modo a preservá-los como patrimônio da
Seguridade Social.

§ 6º - Os imóveis de que trata o parágrafo anterior serão inventariados com todos os seus
acessórios, equipamentos e outros.

§ 7º - (Vetado)

§ 8º - O acesso aos serviços de informática e bases de dados, mantidos pelo Ministério da


Saúde e pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social, será assegurado às Secretarias
Estaduais e Municipais de Saúde ou órgãos congêneres, como suporte ao processo de
gestão, de forma a permitir a gerencia informatizada das contas e a disseminação de
estatísticas sanitárias e epidemiológicas médico-hospitalares.

Art. 40º - (Vetado)

Art. 41º - As ações desenvolvidas pela Fundação das Pioneiras Sociais e pelo Instituto
Nacional do Câncer, supervisionadas pela direção nacional do Sistema Único de Saúde
(SUS), permanecerão como referencial de prestação de serviços, formação de recursos
humanos e para transferência de tecnologia.

Art. 42º - (Vetado).

Art. 43º - A gratuidade das ações e serviços de saúde fica preservada nos serviços públicos

98
T É C N I C O

contratados, ressalvando-se as cláusulas dos contratos ou convênios estabelecidos com as


entidades privadas.

Art. 44º - (Vetado).

Art. 45º - Os serviços de saúde dos hospitais universitários e de ensino integram-se


ao Sistema Único de Saúde (SUS), mediante convênio, preservada a sua autonomia
administrativa, em relação ao patrimônio, aos recursos humanos e financeiros, ensino,
pesquisa e extensão nos limites conferidos pelas instituições a que estejam vinculados.

§ 1º - Os serviços de saúde de sistemas estaduais e municipais de previdência social


deverão integrar-se à direção correspondente do Sistema Único de Saúde (SUS), conforme
seu âmbito de atuação, bem como quaisquer outros órgãos e serviços de saúde.

§ 2º - Em tempo de paz e havendo interesse recíproco, os serviços de saúde das Forças


Armadas poderão integrar-se ao Sistema Único de Saúde (SUS), conforme se dispuser em
convênio que, para esse fim, for firmado.

Art. 46º - o Sistema Único de Saúde (SUS), estabelecerá mecanismos de incentivos à


participação do setor privado no investimento em ciência e tecnologia e estimulará a
transferência de tecnologia das universidades e institutos de pesquisa aos serviços de
saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, e às empresas nacionais.

Art. 47º - O Ministério da Saúde, em articulação com os níveis estaduais e municipais do


Sistema Único de Saúde (SUS), organizará, no prazo de dois anos, um sistema nacional
de informações em saúde, integrado em todo o território nacional, abrangendo questões
epidemiológicas e de prestação de serviços.

Art. 48º - (Vetado).

Art. 49º - (Vetado).

Art. 50º - Os convênios entre a União, os Estados e os Municípios, celebrados para


implantação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde, ficarão rescindidos à
proporção que seu objeto for sendo absorvido pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Art. 51º - (Vetado).

Art. 52º - Sem prejuízo de outras sanções cabíveis, constitui crime de emprego irregular
de verbas ou rendas públicas (Código Penal, art. 315) a utilização de recursos financeiros
do Sistema Único de Saúde (SUS) em finalidades diversas das previstas nesta lei.

Art. 53º - (Vetado).

Art. 54º - Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

99
Relações Interpessoais e Ética Profissional

Art. 55º - São revogadas a Lei nº. 2.312, de 3 de setembro de 1954, a Lei nº. 6.229, de 17
de julho de 1975, e demais disposições em contrário.

Brasília, 19 de setembro de 1990; 169º da Independência e 102º da República.

FERNANDO COLLOR

14 - SITUAÇÕES E DILEMAS ÉTICO-LEGAIS

14.1 - Aborto

É a expulsão ou extração do ovo fecundado (embrião ou feto vivente), ainda incapaz


de viver fora do útero materno.

Tipos de aborto;

a) Involuntário: que pode ser espontâneo, quando ocorre sem nenhuma participação
humana, ou culposo, quando decorrente de uma ação perigosa á gestação feita por
imprudência;

b) Voluntário: Podendo ser direto, que é a ação sobre o ovo fecundado com a intenção
de tirar-lhe a vida, ou indireto que embora previsto, não é desejado. Resulta de uma ação
lícita, que por sua natureza visa um efeito bom.

Aborto direto ou provocado, no Brasil, pode ser legal ou criminoso. É legal, quando a
gravidez coloca em risco a vida da mãe, ou é resultado de estupro. Neste caso, a vítima ou
seu representante legal obtém autorização judicial para realizar o aborto.
As demais indicações são consideradas criminosas, sendo os seus praticantes (mulher
que permite, indivíduos que colaboram ou realizam o aborto) penalizados conforme previsto
no Código Penal Brasileiro.

14.2 - Eutanásia

Em seu sentido etimológico quer dizer a morte boa ou honrada.

Existe a eutanásia negativa, quando se omitem cuidados destinados a prolongar a


vida do paciente, deixando-se a natureza fazer o seu curso. Esta só pode ser aceita nos casos
em que, após o uso de todos os recursos disponíveis, desaparece a esperança de salvar a vida,
em casos de doenças terminal.

100
T É C N I C O

A eutanásia positiva é o planejamento de tratamento com o fim de provocar


antecipadamente a morte, diante da impotência de salvar a vida do paciente. Esta é
inaceitável primeiro, pela lei natural (respeitar a vida humana); segunda, pela lei divina (não
matarás); depois, pelos abusos que sobreviriam; e por último, pelos males que causariam aos
profissionais da saúde (desconfiança).

Mesmo nos casos de eutanásia negativa são necessários muitos critérios e


discernimentos, pois, o respeito à vida é critério imprescindível em qualquer ciência e
técnica. No Brasil, é considerada crime tanto profissional como social.

14.3 - Transplante de Órgãos

Os transplantes de órgãos vêm provocando inúmeros questionamentos éticos acerca da


origem, forma de obtenção do material a ser transplantado e tipo de procedimento a ser realizado.

Quanto a origem, os órgãos podem ser oriundos de outras espécies animais, de


seres humanos vivos ou mortos. Quanto a forma de obtenção, especificamente falando
em órgãos oriundos de seres humanos, a questão mais importante é a do resguardo da
voluntariedade e da espontaneidade no ato de doar órgãos, ou aceita que o bem comum
está acima da vontade do indivíduo e permitir a apropriação dos órgãos de cadáveres ou
que o indivíduo é proprietário do seu corpo e, desta forma, pode dispor do mesmo como
melhor lhe aprouver. O tipo de procedimento também apresenta inúmeros questionamentos.
Os transplantes de órgãos internos foram os primeiros, mas alguns transplantes já foram
realizados com manifestação externa das partes transplantadas, como transplante de mão e
mais recentemente o transplante parcial de face.

A utilização de órgãos de outros animais em seres humanos vem atraindo a atenção


de cientistas desde o início do século.

A obtenção de órgãos de doador vivo tem sido muito utilizada, ainda é útil, porém é
igualmente questionável desde o ponto de vista ético. Este tipo de doação somente tem sido
aceito quando existe relação de parentesco entre doador e receptor. A doação de órgãos por
parte de amigos ou até mesmo de desconhecidos tem sido fortemente evitada. As questões
envolvidas são a autonomia e a liberdade do doador ao dar seu consentimento e a avaliação
de risco\benefício associada ao procedimento, especialmente com relação a não-maleficência
(mutilação) do doador.

A utilização de órgãos de doadores cadáveres tem sido a solução mais promissora para
o problema da demanda excessiva. O problema inicial foi o estabelecimento de critérios para
caracterizar a morte do indivíduo doador. A mudança do critério cardiorrespiratório para o
encefálico possibilitou um grande avanço neste sentido. Os critérios para a caracterização de
morte encefálica foram propostos, no Brasil, pelo Conselho Federal de Medicina através da
resolução CFM 1480\97.

Na doação de órgãos por cadáver muda-se a discussão da origem para a forma de

101
Relações Interpessoais e Ética Profissional

obtenção: doação voluntária, consentimento presumido, manifestação compulsória ou


abordagem de mercado.

Em 16 de janeiro de 1997, foi aprovada, pelo Congresso Nacional, após uma longa
discussão, a nova lei de transplante (Lei 9434\97), sancionada pelo Presidente da República
em 4 de fevereiro de 1997, que altera a forma de obtenção para consentimento presumido. A
legislação anteriormente vigente (Lei 8489\92 e o Decreto 879\93) estabeleciam o critério da
doação voluntária. Em março de 2001 houve uma nova mudança, através da lei 10211, que dá
plenos poderes para a família doar ou não os órgãos de cadáver. Todas as manifestações de
vontade constante em documentos foram tornadas sem efeito.

Ao longo de poucos anos, houve uma mudança muito grande na abordagem desta
questão no Brasil. No período de 1968 a 1997 era válida a vontade do indivíduo, na sua ausência
a família poderia se manifestar. A partir de 1997 houve a mudança para a possibilidade da
utilização dos cadáveres sem a participação da família, salvo manifestação individual em
contrário. Desde março de 2001, apenas a família tem poderes para permitir ou não a doação,
sem que haja espaço legal para a manifestação do indivíduo. Recentemente foi apresentada
uma proposta inusitada. Um projeto de Lei, de junho de 2004, propõe a utilização intervivos
de órgãos de condenados a penas superiores a 30 anos de reclusão.

A alocação dos órgãos para transplante, assim como de outros recursos escassos
deve ser feita em dois estágios. O primeiro estágio deve ser realizado pela própria equipe de
saúde, contemplando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de sucesso e de progresso
à ciência visando a beneficência ampla. O segundo estágio, a ser realizado por um Comitê
de Bioética, pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, das probabilidades estatísticas
envolvidas no caso, da necessidade de tratamento futuro, do valor social do indivíduo
receptor, da dependência de outras pessoas, entre outros critérios mais.

14.4 - Pena de Morte

Também conhecida como pena capital, é a condenação à morte daquele que tenha
cometido crimes como traição à pátria e assassinato, a sentença é dada pelo poder judiciário.

Este tipo de sentença já foi abolida em vários lugares do mundo, porém ainda existem
países os quais praticam a pena de morte, à exemplo os Estados Unidos, China, Afeganistão,
etc.

No Brasil a pena de morte foi abolida parcialmente, atualmente só pode ser aplicada
em tempo de guerra. A aplicação da sentença poderia ser das seguintes formas:

- Injeção letal;

- Fuzilamento;

102
T É C N I C O

- Estrangulamento;

- Câmera de gás;

- Eletrocussão (cadeira elétrica);

- Asfixia;

- Crucificação;

- Fogueira.

A pena de morte é uma forma de punição muito controversa atualmente. Os que são
a favor dela dizem que é eficaz na prevenção de futuros crimes e que é apropriada como
punição para assassinato. Os opositores dizem que não é aplicada de forma eficaz e que,
como consequência, vários inocentes são executados anualmente. Também afirmam que é
uma violação dos direitos humanos e que é usada de forma indiscriminada para executar
pessoas de minorias étnicas.

14.5 - Células Tronco

Células tronco são células capazes de multiplicar-se e diferenciar-se nos mais variados
tecidos do corpo humano (sangue, ossos, nervos, músculos, etc.). Sua utilização para fins
terapêuticos pode representar talvez a única esperança para o tratamento de inúmeras doenças
ou para pacientes que sofreram lesões incapacitantes da medula espinhal que impedem seus
movimentos.

As células tronco existem em vários tecidos humanos, no cordão umbilical e em


células embrionárias na fase de blastócito. Pesquisas com células tronco, porém, estão
cerceadas pela desinformação ou por certas posições religiosas que veem nelas um atentado
contra a vida em vez de um recurso terapêutico que possibilitará salvar muitas vidas.

A forma mais comum de obtenção destas células é por meio de embriões congelados.
Nesta técnica, óvulos fertilizados em clínicas de reprodução assistida se desenvolvem até o
estágio conhecido como blastocisto. Após chegar a este estágio o embrião é destruído e as
células tronco são removidas.

Na formulação aprovada pelo Senado Federal, fica permitida, para fins de pesquisa e
terapia, a utilização de células tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos
por fertilização in-vitro e não utilizados no respectivo procedimento, desde que os embriões
sejam inviáveis ou sejam embriões congelados há três anos ou mais, na data da publicação da
lei, ou que, já congelados na data da publicação da lei, depois de três anos, contados a partir
da data do congelamento.

Em qualquer caso se faz necessária a permissão dos genitores e as instituições de

103
Relações Interpessoais e Ética Profissional

pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células tronco embrionárias
humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês
de ética. Fica vedada a comercialização do material biológico em questão.

14.6 - Homicídio

É a morte de uma pessoa praticada por outrem, de forma direta ou indireta. É o assassinato.

São várias as razões que levam o indivíduo a praticar tal ato: amor, ódio, medo,
vingança, inveja, angústia, etc., razões que, porém, não o justificam.

Segundo a legislação brasileira (código penal), constitui crime esta prática, variando a
penalidade de acordo com o tipo de homicídio praticado (simples, qualificado, necessário, etc.).

14.7 - Suicídio

Significa pôr fim à própria vida por livre vontade ou por falta de discernimento e
visão unilateral da realidade.

14.8 - Esterilização

É a cirurgia que se realiza, no homem ou na mulher, com a finalidade de evitar a gravidez.

Esterilidade: é a incapacidade de gerar a vida. Assim, a esterilização determina a esterilidade.

Denomina-se vasectomia a operação masculina e laqueadura, a feminina.

A laqueadura deve ser realizada apenas nos casos em que há risco de vida para a mãe
ou para o filho. A indicação terapêutica deve ser feita após criteriosa avaliação, mediante
documento assinado por três médicos aprovando a necessidade da operação e, também,
mediante a assinatura da mulher concordando com a cirurgia.

14.9 - O erro de Enfermagem

O erro dito de enfermagem é o dano provocado no paciente pela ação ou inação do


profissional de enfermagem no exercício da profissão e sem a intenção de cometê-lo.

Existem três possibilidades de suscitar o dano e alcançar o erro: imprudência, imperícia


e negligência, consistindo esta última em não fazer o que deveria ser feito; a imprudência,
em fazer o que não deveria ser feito e a imperícia em fazer mal o que deveria ser bem feito.

Tem-se que observar que a negligência ocorre quase sempre por omissão, enquanto

104
T É C N I C O

a imprudência ou a imperícia por comissão, ou seja por incumbência imposta pela profissão.

Necessário também se faz entender que o mal provocado pelo profissional de


enfermagem, no exercício da profissão, quando involuntário, é considerado culposo, posto
que não houve a intenção de cometê-lo.

A enfermagem presume um compromisso coma vida humana, considerando-se como


seu ciclo vital o período compreendido entre a concepção e a morte física, no sentido de
cuidar do cliente/paciente ora necessitado. Assim, o erro de enfermagem deve ser separado do
possível resultado adverso do ato de cuidar, quando o profissional de enfermagem empregou
todos os recursos disponíveis sem obter o sucesso pretendido.

Muitas outras profissões de saúde, na perspectiva da presença da equipe de


enfermagem na maior parte do tempo com os clientes/pacientes, tentam imputar seus erros
e/ou suas omissões aos profissionais de enfermagem.

Ainda no campo da diferenciação, cabe ressaltar que não conota como erro de
enfermagem o acidente imprevisível (resultado lesivo, advindo do acaso ou força maior,
incapaz de ser previsto ou evitado). Diferente também é o resultado incontrolável (oriundo
de situação incontornável, de curso inexorável, característico da evolução do caso, quando
até o momento da ocorrência a ciência e a competência profissional não dispõem de solução).

Centrando a questão nos atendimentos de urgência e emergência, torna-se tácito o


costumeiro, porém arriscado “fazer tudo para tentar salvar outrem”. A equipe de enfermagem
em urgências e emergências, não diferindo de outras áreas de assistência hospitalar,
constantemente vê-se só perante um cliente/paciente que, independentemente de quem o
atende apenas clama por atendimento digno.

O cerne da questão está na análise de três perguntas:

- Quem pode fazer algo?

- Quem deve fazer algo?

- Quem fez algo?

Ao tentarmos responder essas três perguntas, com certeza esbarraremos nas mais
diversas questões de ordens legais, sociais, políticas, educacionais, profissionais, etc.

Diante de nossa vasta legislação de saúde vigente no país, seria, no mínimo, demagogo
dizermos que basta as instituições cumprirem-nas para solucionarem os problemas da saúde
brasileira. Temos que ser realistas e admitir, entre outras coisas, que:

- Nem os órgãos, nem as instituições públicas e privadas respeitam o quantitativo


necessário de profissionais para um atendimento digno e seguro à população;

105
Relações Interpessoais e Ética Profissional

- O corporativismo de algumas profissões ainda dita as regras do jogo;

- Nossos políticos necessitam urgentemente, para confeccionarem nossa legislação,


de técnicos especializados e devidamente regionalizados, a fim de se garantir, não
a hegemonia de padrões nacionais, mas o respeito às características e necessidades
de cada região;

- Os cargos com poder de mando ainda são puramente de caráter político, ou seja,
encontramos um exército de chefes sem cabeça tentando comandar centenas de
subalternos com mais qualificações que eles;

- Nosso país ainda não investe nem um terço de um terço que deveria investir em pesquisa;

- Nossas universidades públicas estão deterioradas, alimentando sobremaneira o


crescente mercado educacional privado, autêntico representante da quantidade em
detrimento da qualidade, política, por sinal, adotada por nosso governo para tentar
convencer que o Brasil investe em educação.

Diante destas poucas considerações, não é difícil visualizarmos a realidade de


muitas instituições de saúde de nosso país, nas quais a única profissão disponível sempre é
a de enfermagem, acabando por isso, rotulada, entre outras coisas de submissa, subalterna,
sempre culpada, etc.

Temos enquanto profissionais, que exigir respeito por nosso labor. Temos que parar
de fazer o serviço de outros profissionais. Temos que esclarecer à população em geral de
quem realmente é a culpa por alguém deixar de ser atendido com resolutividade. Temos que
deixar de ser eternos secretários e domésticos.

É incrível como até hoje, mesmo diante da vasta regulamentação de nosso sistema,
que disciplina determinadas questões, como calhas de gesso, parto, suturas, auxílio de
cirurgias, etc., muitos profissionais ainda teimem em burlar tais regulamentações, ensejando,
tão somente, desrespeito à disciplina e à ética profissional, acomodação dos profissionais
que tinham a real obrigação de executar as ações, descrédito da população em relação à
responsabilidade profissional, entre outras coisas.

A Visão Alheia

O erro de enfermagem tem sido mal visualizado por outras profissões da área da saúde.

Profissionais, não de enfermagem, buscam uma versão despida de uma análise técnica
e ética, ensejando tão somente acusações soltas, de cunho coorporativo e mercantilista.
Desprezam, via de regra, o estudo das possíveis causas do fato, como má-formação
profissional, ambiente laboral adverso às práticas e ensinamentos aprendidos na formação
profissional, demanda excessiva de clientes/pacientes, em total desrespeito às recomendações

106
T É C N I C O

da própria Organização Mundial de Saúde e do Conselho Federal de Enfermagem quanto ao


dimensionamento de pessoal de enfermagem, além dos baixos e vergonhosos salários.

Essa visão, quando ofertada de forma comercial e sensacionalista, leva a enfermagem a


uma exposição sem antecedentes, tentando imputar ao profissional, que na ânsia de cuidar/salvar
não mede esforços para a garantia da continuidade da vida, uma irresponsabilidade e um crime
quando ele exerce outra profissão de forma ilegal. Deveriam as pessoas que assim tentam denegrir
nossa imagem lembrar que se um profissional de enfermagem fez algo que não lhe cabia legalmente,
foi porque o profissional que deveria ter feito estava ausente e/ou foi omisso em suas ações.

Penso que somente no dia em que a enfermagem deixar morrer é que algumas pessoas
entenderão que eram outros profissionais que deveriam não ter deixado a morte sobressair.

A Vigilância

Existe, com certeza, atenção especial sobre o erro de enfermagem não apenas por parte
das entidades fiscalizadoras como também por parte das entidades associativas responsáveis pelo
aprimoramento técnico no exercício ético-profissional, social e cultural da profissão.

É de bom alvitre, porém, salientar que nossa profissão, através do Sistema COFEN/
CORENs, é permanentemente fiscalizada. Se for o caso, qualquer profissional infrator de nosso
código de ética e/ou de nossas resoluções, decisões e leis são devidamente processados e punidos
na forma da legislação vigente no país, assim como de tal fato é permitida a livre divulgação por
entendermos que só a transparência exprime a honestidade, portanto o desejo de bem fazer.

A Essência do Erro

Em verdade, a grande maioria de nossos profissionais erra na ânsia de melhor cuidar.


A grande questão, portanto, está no exagero, ou seja, está no “sei que não posso fazer
legalmente, mas vou fazer porque quero melhorar a qualidade de vida desta pessoa”. Aí
perguntaríamos: - E como vai ficar sua qualidade de profissional se isso for descoberto e
denunciado? Urge sermos mais razão que emoção, sem perdermos nossos princípios éticos.

REFERÊNCIAS

● CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM-COFEN. Código de ética dos


Profissionais de Enfermagem. COFEN, 1 993, 1 6p.

● GELAIN, I. A ética, a bioética e os profissionais de enfermagem. 4.ed. ed. Atual. e


Ampl. São Paulo: EPU, 2010.

● Thofehrn MB. Vínculos profissionais: uma proposta para o trabalho em equipe na


enfermagem [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina; 2005.

107
T É C N I C O

Biossegurança
T É C N I C O

SUMÁRIO

• 1 - PRINCIPAIS CONCEITOS DE SEGURANÇA DO TRABALHO E


BIOSSEGURANÇA

• 2 - TIPOS DE RISCOS

2.1 - Classes de risco biológico

2.2 - Tipos de riscos ocupacionais da enfermagem

• 3 - NORMAS REGULAMENTADORAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO


TRABALHO

• 4 - FORMAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO

4.1 - Boas práticas de laboratório

4.2 - Equipamentos de segurança

4.3 - Lavagem das mãos

4.4 - Imunização

• 5 - NORMAS TÉCNICAS DE DESCONTAMINAÇÃO, LIMPEZA, PREPARO,


DESINFECÇÃO, ESTERILIZAÇÃO, MANUSEIO E ESTOCAGEM DE MATERIAIS

5.1 - Artigos

5.2 - Superfícies

• 6 - EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL - ACIDENTES COM MATERIAL BIOLÓGICO

6.1 - Profissionais de saúde e tipos de exposições

6.2 - Riscos de transmissão

6.3 - Prevenção da exposição a materiais biológicos

6.4 - Procedimentos recomendados nos casos de exposição aos materiais biológicos

111
Biossegurança

• 7. - Gerenciamento do descarte de resíduos, fluídos, agentes biológicos, físicos,


químicos e radioativos

7.1 - Resíduos Sólidos

7.2 - Resíduos do serviço de saúde

• 8 - REFERÊNCIAS

112
T É C N I C O

1 - PRINCIPAIS CONCEITOS DE SEGURANÇA


DO TRABALHO E BIOSSEGURANÇA

A biossegurança compreende um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar,


mitigar ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam interferir ou comprometer
a qualidade de vida, a saúde humana e o meio ambiente. Desta forma, a biossegurança
caracteriza-se como estratégica e essencial para a pesquisa e o desenvolvimento sustentável
sendo de fundamental importância para avaliar e prevenir os possíveis efeitos adversos de
novas tecnologias à saúde (MS, 2010).

“Biossegurança é o conjunto de ações voltadas para a prevenção, minimização ou


eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento
tecnológico e prestação de serviços, visando à saúde do homem, dos animais, a preservação
do meio ambiente ou a qualidade dos trabalhos desenvolvidos” (AMATO,1995), ou seja, é
um somatório de conhecimentos, hábitos, comportamentos e sentimentos, que devem ser
incorporados ao homem para que esse desenvolva, de forma segura, sua atividade.

O fundamento da biossegurança é a prevenção de riscos à vida e à saúde, como já


dissemos. Isso inclui as mais diversas formas de prevenção. Existem anúncios que informam
sobre os riscos do hábito de fumar, esses anúncios são exemplos simples de biossegurança.
Costa (1996) define biossegurança como um “conjunto de medidas técnicas, administrativas,
educacionais, médicas e psicológicas, empregadas para prevenir acidentes em ambientes
biotecnológicos”.

As ações de biossegurança em saúde são primordiais para a promoção e manutenção


do bem-estar e proteção à vida. A evolução cada vez mais rápida do conhecimento científico
e tecnológico propicia condições favoráveis que possibilitam ações que colocam o Brasil
em patamares preconizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em relação à
biossegurança em saúde. No Brasil, a biossegurança começou a ser institucionalizada a partir
da década de 80 quando o Brasil tomou parte do Programa de Treinamento Internacional
em Biossegurança ministrado pela OMS que teve como objetivo estabelecer pontos focais na
América Latina para o desenvolvimento do tema (BINSFELD, 2004).

A partir daí, deu-se início a uma série de cursos, debates e implantação de medidas
para acompanhar os avanços tecnológicos em biossegurança. Em 1985, a FIOCRUZ promoveu
o primeiro curso de biossegurança no setor de saúde e passou a implementar medidas de
segurança como parte do processo de Boas Práticas em Laboratórios, que desencadeou
uma série de cursos sobre o tema. No mesmo ano, o Ministério da Saúde deu início ao
Projeto de Capacitação Científica e Tecnológica para Doenças Emergentes e Reemergentes
visando capacitar as instituições de saúde em biossegurança. Foi também em 1995 que
houve a publicação da primeira Lei de Biossegurança, a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de
1995, posteriormente revogada pela Lei no 11.105, de 24 de março de 2005. A discussão da
biossegurança trouxe resultados e avanços ao tema.

113
Biossegurança

Promover debates sobre biossegurança em saúde nos dias atuais não apenas contribui
para a solidificação das ações e o exercício das competências na área de biossegurança, mas,
principalmente, reforça o propósito de qualidade de vida e saúde do Sistema Único de Saúde,
bem como qualifica as demandas e contribui para o fortalecimento do Complexo Industrial
da Saúde.

O objetivo principal da biossegurança é criar um ambiente de trabalho onde se


promova a contenção do risco de exposição a agentes potencialmente nocivos ao trabalhador,
pacientes e meio ambiente, de modo que este risco seja minimizado ou eliminado.

O termo “contenção” é usado para descrever os métodos de segurança utilizados


na manipulação de materiais infecciosos ou causadores de riscos em meio laboratorial,
onde estão sendo manejados ou mantidos. O objetivo da contenção é reduzir ou eliminar
a exposição da equipe de um laboratório, de outras pessoas e do meio ambiente em geral
aos agentes potencialmente perigosos. As contenções de riscos representam-se como a base
da biossegurança e são ditas primárias ou secundárias. A contenção primária, ou seja, a
proteção do trabalhador e do ambiente de trabalho contra a exposição a agentes infecciosos,
é obtida através das práticas microbiológicas seguras e pelo uso adequado dos equipamentos
de segurança. A contenção secundária compreende a proteção do ambiente externo contra a
contaminação proveniente do laboratório e/ou setores que manipulam agentes nocivos. Esta
forma de contenção é alcançada tanto pela adequada estrutura física do local como também
pelas rotinas de trabalho, tais como descarte de resíduos sólidos, limpeza e desinfecção de
artigos e áreas, etc.

Na enfermagem a subnotificação dos acidentes de trabalho ocorre na maioria das


vezes devido à falta de esclarecimento dos profissionais em relação a importância do registro
do acidente para garantia de seus direitos, bem como de sua utilização como estratégia para
reivindicação de melhores condições de segurança no trabalho.

Assim, gostaríamos de alertar os profissionais de enfermagem acerca da importância


da adoção de práticas educativas referente a manipulação e descarte de materiais perfuro
cortantes, cobertura vacinal dos profissionais referente a Hepatite B e a necessidade de
notificação dos acidentes.

Acreditamos que a adoção de medidas educativas e preventivas efetivas pelas


instituições empregadoras agregadas às políticas públicas que priorizem ações de promoção
a saúde dos trabalhadores e prevenção de doenças possam minimizar a ocorrência de
acidentes e doenças entre os trabalhadores de enfermagem.

114
T É C N I C O

2 - TIPOS DE RISCOS

As normas de biossegurança englobam medidas que visam evitar riscos físicos,


químicos, biológicos e ergonômicos.

RISCOS FÍSICOS

Consideram-se agentes de riscos físicos as diversas formas de energia, originadas


dos equipamentos e são dependentes dos equipamentos, do manuseio do operador ou do
ambiente em que se encontra no laboratório. Pode-se citar alguns exemplos: ruídos, vibrações,
pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ionizantes,
ultrassom, etc. Estufas, muflas, banhos de água, bicos de gás, lâmpadas infravermelhas,
mantas aquecedoras, agitadores magnéticos com aquecimento, incubadoras elétricas,
fornos de microondas e autoclaves são os principais equipamentos geradores de calor. Suas
instalações devem ser feitas em local ventilado e longe de materiais inflamáveis, voláteis e
de equipamentos termos sensíveis.

RISCOS BIOLÓGICOS

Os materiais biológicos abrangem amostras provenientes de seres vivos como


plantas, bactérias, fungos, parasitas, animais e seres humanos (sangue, urina, escarro, peças
cirúrgicas, biópsias, entre outras).

RISCOS DE ACIDENTES

Considera-se riscos de acidentes qualquer fator que coloque o trabalhador ou aluno


em situação de perigo e possa afetar sua integridade e bem estar físico. São exemplos de
riscos de acidentes: equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão,
arranjo físico e armazenamento inadequados, etc.

RISCOS QUÍMICOS

Consideram-se agentes de riscos químicos os produtos que possam penetrar no


organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou
vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvido

115
Biossegurança

pelo organismo através da pele ou por ingestão. A classificação das substâncias químicas,
gases, líquidos ou sólidos devem ser conhecidas por seus manipuladores. Nesse aspecto,
tem-se solventes orgânicos, explosivos, irritantes, voláteis, cáusticos, corrosivos e tóxicos.
Eles devem ser manipulados de forma adequada em locais que permitam ao operador a
segurança pessoal e do meio ambiente, além dos cuidados com o descarte dessas substâncias.

RISCOS ERGONÔMICOS

Considera-se riscos ergonômicos qualquer fator que possa interferir nas características
psicofisiológicas do trabalhador causando desconforto ou afetando sua saúde. Tais riscos
referem-se as condições dos projetos dos laboratórios como a distância em relação à altura
dos balcões, cadeiras, prateleiras, gaveteiros, capelas, circulação e obstrução de áreas
de trabalho. Os espaços devem ser adequados para a execução de trabalhos, limpeza e
manutenção, garantindo o menor risco possível de choques acidentais.

Segue a tabela de classificação dos principais riscos ocupacionais em grupos, de


acordo com a sua natureza e a padronização das cores correspondentes:

Fonte da Tabela: “Dicas de Prevenção de Acidentes e Doenças do Trabalho” (Sesi- Sebrae)

116
T É C N I C O

O Mapa de Riscos é uma das modalidades mais simples de avaliação qualitativa dos
riscos existentes nos locais de trabalho. É a representação gráfica dos riscos por meio de
círculos de diferentes cores e tamanhos, permitindo fácil elaboração e visualização.

É um instrumento participativo, elaborado pelos próprios trabalhadores e de


conformidade com as suas sensibilidades. O Mapa de Riscos está baseado no conceito
filosófico de que quem faz o trabalho é quem conhece o trabalho. Ninguém conhece melhor
a máquina do que o seu operador.

2.1 - Classes de risco biológico

Classe de Risco I:

Escasso risco individual e comunitário: o micro-organismo tem pouca probabilidade


de provocar enfermidades humanas ou enfermidades de importância veterinária.

Classe de Risco II:

Risco individual moderado, risco comunitário limitado: a exposição ao agente


patogênico pode provocar infecção, porém, se dispõe de medidas eficazes de tratamento e
prevenção, sendo o risco de propagação limitado.

Classe de Risco III:

Risco individual elevado, baixo risco comunitário: o agente patogênico pode provocar
enfermidades humanas graves, podendo propagar-se de uma pessoa infectada para outra,
entretanto, existe profilaxia e/ou tratamento.

Classe de Risco IV:

Elevado risco individual e comunitário: os agentes patogênicos representam grande


ameaça para as pessoas e animais, com fácil propagação de um indivíduo ao outro, direta ou
indiretamente, não existindo profilaxia nem tratamento.

117
Biossegurança

2.2 - Tipos de riscos ocupacionais da enfermagem

• Os profissionais de saúde em seu ambiente de trabalho estão expostos a inúmeros riscos.

• O ambiente hospitalar é um local tipicamente insalubre, pois propicia a exposição


a riscos inerentes ao desenvolvimento de suas atividades. • Os trabalhadores de
enfermagem estão expostos a inúmeros riscos que podem causar agravos à sua saúde,
acidentes de trabalho e/ou doenças, principalmente durante a assistência ao cliente.

• Essa exposição pode trazer consequências para a saúde do trabalhador em vários


aspectos: físico, psíquico, emocional e social.

• É obrigatório que as instituições implantem uma Comissão Interna de Prevenção


de Acidentes (CIPA), assim como a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar
(CCIH) e os programas PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) e
PPRO (Programa de Prevenção de Riscos Ocupacionais) nas unidades que atuarão
juntamente com a participação dos profissionais.

• As instituições também devem garantir treinamentos e capacitações periódicas para os


profissionais, preparando-os para o cumprimento das normas estabelecidas.

• A Norma Regulamentadora NR-32 tem como finalidade estabelecer as diretrizes básicas


para a implantação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores
dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e
assistência à saúde em geral.

• A identificação precoce dos riscos ocupacionais a que a equipe de enfermagem está


exposta ajuda na prevenção e no controle dos riscos e acidentes de trabalho, reduzindo
os danos à saúde do trabalhador.

• Durante a assistência ao paciente, os trabalhadores de enfermagem estão expostos


à inúmeros riscos ocupacionais, causados por fatores químicos, físicos, mecânicos,
biológicos, ergonômicos, que podem ocasionar doenças ocupacionais e acidentes de
trabalho.

• A enfermagem é uma profissão de risco devido à exposição à qual o profissional se


submete diariamente.

118
T É C N I C O

3 - NORMAS REGULAMENTADORAS DE SAÚDE


E SEGURANÇA DO TRABALHO

A sociedade é regida por algumas regras de comportamento, ou seja, por leis que são
fundamentais no ordenamento social. Entre outros “bens” protegidos pela legislação, está a
vida. E para garantir a nossa segurança e sobrevivência, existem regras específicas.

A Norma Regulamentadora (NR) 32 aborda alguns pontos básicos para implementação


de medidas de proteção à segurança e à saúde de todos àqueles que trabalham nos serviços
de saúde ou que exercem atividades de promoção e assistência à saúde. Em sua composição
explicita o Programa de Prevenção dos Riscos Ambientais (PPRA) e o Programa de Controle
Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO). O PPRA objetiva a conservação da saúde, bem
como manter a integridade do trabalhador, já o PCMSO visa promover e preservar a saúde
dos trabalhadores. A NR 32 estabelece como devem funcionar e quando são utilizados
medidas de proteção, como os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s). Dessa maneira,
objetiva-se refletir a relação da NR 32 com a Enfermagem, a partir da disciplina “Enfermagem
no cuidado à saúde do trabalhador”, ministrada no Curso de Enfermagem, na tentativa de
reconhecer o papel do enfermeiro na Saúde do Trabalhador por meio das NR’s e mediante
o entendimento do conceito de trabalho e de suas dimensões na vida humana. Com isso,
através das discussões em aula, verificou-se que as NR 32 apresenta extrema relevância
para os profissionais da área da saúde, particularmente para os enfermeiros. Identificou-se
que na NR 32 é declarado que os trabalhadores devem ser capacitados para adotar mecânica
corporal correta na movimentação de pacientes, fato nem sempre vivenciado, visto o quesito
sexo feminino na sua relação com o levantamento do peso excedendo a capacidade corporal
das mulheres enfermeiras. Além disso, os postos de trabalho, de acordo com a NR 32, devem
ser organizados de forma a evitar deslocamentos e esforços adicionais aos trabalhadores, no
entanto, percebe-se que isto não é um fator que esteja no planejamento organizacional da
estrutura física dos serviços de saúde. Um ponto a ser levantado trata da manutenção dos
equipamentos, dificilmente visualizado nas vivências práticas, bem como a avaliação diária
dos EPI’s, conforme determinado na NR 32. Ainda sobre os EPIs vale referir que os mesmos
nem sempre se encontram na quantidade suficiente e em todos os locais de trabalho. Nesse
aspecto, o enfermeiro é respaldado pela Resolução do COFEN nº 311/2007 a recusar-se a
desenvolver atividades profissionais na falta de material ou EPI’s, fato que se fosse levado
em seu sentido pleno impossibilitaria o desenvolvimento do cuidado e da atenção integral.
Enfim, a NR 32 permite identificar muitos pontos irregulares nos serviços de saúde. Desse
modo, é possível considerar que a norma auxiliará o enfermeiro a exigir da instituição de
saúde que trabalha condições adequadas de trabalho, se o mesmo conhecer e compreender
esta NR. Além disso, é fundamental que o enfermeiro, assim como os outros profissionais
da equipe, conheçam esta norma regulamentadora a fim de que possam cumprir com os
seus deveres, reafirmar seus diretos, assim como também possam promover a segurança no
trabalho e prevenir acidentes e doenças ocupacionais.

Considerando-se a inter-relação existente entre as normas regulamentadoras, o

119
Biossegurança

propósito é o de indicar efetivamente essa ocorrência, demonstrando, na prática prevencionista,


que muito pouco adianta atender a uma sem levar em consideração o que na maioria dos
casos dispõe a outra.

As normas regulamentadoras poderão ser obtidas, na íntegra, no endereço (internet)


www.mte.gov.br.

4 - FORMAS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES DO TRABALHO

Sob todos os aspectos em que possam ser analisados, os acidentes e doenças


decorrentes do trabalho apresentam fatores extremamente negativos para a empresa, para o
trabalhador acidentado e para a sociedade. Anualmente, as altas taxas de acidentes e doenças
registradas pelas estatísticas oficiais expõem. Os elevados custos e prejuízos humanos, sociais
e econômicos que custam muito para o País, considerando apenas os dados do trabalho
forma.

É importante ressaltar que, apesar de todos os cálculos, o valor da vida humana não
pode ser matematizado, sendo o mais importante no estudo o conjunto de benefícios que a
micro ou pequena empresa consegue com a adoção de boas práticas de Saúde e Segurança
no Trabalho, pois, além de prevenir acidentes e doenças, está vacinada contra os imprevistos
acidentários, reduz os custos, otimiza conceito e imagem junto à clientela e potencializa a
sua competitividade.

4.1. - Boas práticas de laboratório

Todo pessoal de laboratório deve:

• Conhecer os riscos biológicos, químicos, radioativos, tóxicos e ergonômicos com os


quais se tem contato no laboratório;

• Ser treinado e aprender as precauções e procedimentos de biossegurança;

• Seguir as regras de biossegurança;

• Evitar trabalhar sozinho com material infeccioso. Uma segunda pessoa deve estar
acessível para auxiliar em caso de acidente;

• Ser protegido por imunização apropriada quando disponível;

120
T É C N I C O

• Manter o laboratório limpo e arrumado, devendo evitar o armazenamento de materiais


não pertinentes ao trabalho do laboratório; os espaços físicos dos laboratórios necessitam
ser mantidos devidamente organizados e higienizados. Para que a biossegurança seja
cumprida, a higienização dos ambientes deve ser realizada com

• Hipoclorito de sódio a 2% e álcool a 70%.

• Limitar o acesso aos laboratórios. Não permitir crianças no laboratório. Esclarecer


mulheres grávidas ou indivíduos imunocomprometidos que trabalham ou entram no
laboratório quanto aos riscos biológicos;

• Manter a porta do laboratório fechada;

• Usar roupas protetoras de laboratório (uniformes, aventais, jalecos, máscaras), que


devem estar disponíveis e serem usadas inclusive por visitantes;

• Usar luvas sempre que manusear material biológico. As luvas devem ser usadas em
todos os procedimentos que envolverem o contato direto da pele com toxinas, sangue,
materiais infecciosos ou animais infectados. Anéis ou outros adereços de mão que
interferem o uso da luva devem ser retirados. As luvas devem ser removidas com
cuidado para evitar a formação de aerossóis e descontaminadas antes de serem
descartadas. Trocar de luvas ao trocar de material. Não tocar o rosto com as luvas de
trabalho. Não tocar com as luvas de trabalho em nada que possa ser manipulado sem
proteção, tais como maçanetas, interruptores, etc. Não descartar luvas em lixeiras de
áreas administrativas, banheiros, etc.;

• Retirar o jaleco ou avental antes de sair do laboratório. Aventais devem ter seu uso
restrito ao laboratório. Não devem ser usados em áreas não laboratoriais tais como
áreas administrativas, biblioteca, cantina, etc.;

• Não usar sapatos abertos;

• Usar óculos de segurança, visores ou outros equipamentos de proteção facial sempre


que houver risco de espirrar material infectante ou de contusão com algum objeto;

• Não aplicar cosméticos;

• Não retirar canetas ou qualquer outro instrumento do laboratório sem descontaminar


antes; colocar todo o material com contaminação biológica em recipientes com tampa
e a prova de vazamento, antes de removê-los de uma seção para outra do laboratório;

• Descontaminar por autoclavação ou por desinfecção química, todo o material com


contaminação biológica;

• Descontaminar todo equipamento antes de qualquer serviço de manutenção;

121
Biossegurança

• Saber a localização do mais próximo lava olhos, chuveiro de segurança e extintor de


incêndio. Saber como usá-los;

• Manter preso em local seguro todos os cilindros de gás, fora da área do laboratório e
longe do fogo;

• Ao sair do laboratório, verificar se tudo está em ordem. Caso for o último ao sair, desligar
os equipamentos e as luzes, exceto quando indicado pelas normas do Laboratório.

• Estabelecer normas de PROCEDIMENTO OPERACIONAL PADRAO (POP), para


todas as seções. Este POP tem por finalidade estabelecer regras para a melhoria da
qualidade de trabalho dentro de um laboratório. Trata-se de um protocolo que descreve
cada atividade realizada dentro do laboratório, desde a utilização dos materiais até
normas de biossegurança. Faz-se necessário ressaltar que dentro das responsabilidades
do POP estão também descritos os resíduos gerados e qual a procedência de seu descarte

• Todo novo funcionário ou estagiário deve ter treinamento e orientação específica sobre
boas práticas laboratoriais e princípios de biossegurança aplicados ao trabalho que irá
desenvolver.

Principais símbolos internacionais associados aos riscos em laboratórios:

Fonte: Google

122
T É C N I C O

4.2 - Equipamentos de segurança

Para prevenir os acidentes e as doenças decorrentes do trabalho, a ciência e as


tecnologias colocam à nossa disposição uma série de medidas e equipamentos de proteção
coletiva e individual. As medidas e os equipamentos de proteção coletiva visam, além
proteger muitos trabalhadores ao mesmo tempo, à otimização dos ambientes de trabalho,
destacando-se por serem mais rentáveis e duráveis para a empresa.

Equipamento de Proteção Coletiva – EPC

Considera-se EPC toda medida ou dispositivo, sinal, imagem, som, instrumento ou


equipamento destinado à proteção de uma ou mais pessoas.

Fonte: Google

Equipamento de Proteção Individual – EPI

Considera-se EPI todo dispositivo de uso individual, destinado a proteger a saúde


e a integridade física do trabalhador, não sendo adequado o uso coletivo por questões de
segurança e higiene. Sua função é prevenir ou limitar o contato entre o operador e o material
infectante. A maioria dos EPIs, se usados adequadamente promovem também uma contenção
da dispersão de agentes infecciosos no ambiente, facilitando a preservação da limpeza do
laboratório. A utilização dos EPIs encontra-se regulamentada pelo MTE através da NR-6,
em que estão definidas as obrigações do empregador e do empregado.

A escolha do EPI deve ser feita por pessoal especializado, conhecedor não só do
equipamento, como também das condições em que o trabalho é executado. É preciso conhecer
também o tipo de risco, a parte do corpo atingida, as características e qualidades técnicas

123
Biossegurança

do EPI, se possui Certificado de Aprovação - CA do Ministério do Trabalho e Emprego e,


principalmente, o grau de proteção que o equipamento deverá proporcionar.

Fonte: Google

LUVAS:

Devem ser usadas em todos os procedimentos com exposição a sangue, hemoderivados


e fluidos orgânicos. Luvas apropriadas para manipulação de objetos em temperaturas altas ou
baixas devem estar disponíveis nos locais onde tais procedimentos são realizados. Em casos
de acidente, luvas grossas de borracha devem ser usadas nos procedimentos de limpeza e na
retirada de fragmentos cortantes do chão ou de equipamentos, com auxílio de pá e escova.
Luvas de material adequado devem ser utilizadas na manipulação de substâncias químicas
perigosas NÃO usar luvas fora da área de trabalho.

Lembretes Técnicos:

1. Retire as luvas imediatamente após o término do procedimento;

2. Não toque na parte externa das luvas ao removê-las;

3. As luvas não protegem de perfurações de agulhas, mas está comprovado que elas
podem diminuir a penetração de sangue em até 50% de seu volume;

O uso de luvas não substitui a necessidade da LAVAGEM DAS MÃOS porque elas
podem ter pequenos orifícios ou danificar-se durante o uso, podendo contaminar as mãos
quando removidas.

124
T É C N I C O

AVENTAL OU JALECO

Seu uso deve ser obrigatório e restrito aos laboratórios. Os aventais de tecido devem
ser SEMPRE de mangas compridas, comprimento pelo menos até a altura dos joelhos e
devem ser usados abotoados. Deve ser dada preferência às fibras naturais (100% algodão)
uma vez que as fibras sintéticas se inflamam com facilidade. Quando retirado do laboratório
para ser lavado, o avental deverá ser acondicionado em saco plástico. Os aventais descartáveis
também devem ter as mangas compridas com punhos e serem fechados dorsalmente. O jaleco
deve ter colarinho alto e mangas longas, podendo ser de algodão ou de material sintético.
Deve ser transportado em sacos impermeáveis e lavado separadamente das roupas de uso
pessoal.

MÁSCARAS

EPI indicado para a proteção das vias respiratórias e mucosa oral durante a realização
de procedimentos com produtos químicos e em que haja possibilidade de respingos ou
aspiração de agentes patógenos eventualmente presentes no sangue e outros fluidos
corpóreos. A máscara deve ser escolhida de modo a permitir proteção adequada. Portanto,
use apenas máscara de tripla proteção e quando do atendimento de pacientes com infecção
ativa, particularmente tuberculose, devem ser usadas máscaras especiais, tipo N95 (refere-se
à capacidade para filtrar partículas maiores que 0,3µm com uma eficiência de 95%), N99 ou N100.

IMPORTANTE:

4. Nunca deixar a máscara pendurada no pescoço ou ouvido;

5. Descartar em recipiente apropriado, após o uso e sempre que estiver visivelmente


contaminada ou úmida;

6. Não guardar em bolsos ou gavetas;

7. Evitar tocá-la após a sua colocação.

125
Biossegurança

OUTROS EQUIPAMENTOS:

• Visores ou óculos de proteção e protetor facial (protegem contra salpicos, borrifos,


gotas e impacto);

• Respiradores (tecido, fibra sintética descartável, filtros para gases, pó, etc., dependendo
da necessidade);

• Dispositivos de pipetagem (peras, pipetadores automáticos, etc.);

• Gorros;

• Coletor de papelão rígido para desprezo de perfuro cortantes;

• Sapatos fechados e pró pé.

Fonte: Google

4.3 - Lavagem das Mãos

A lavagem das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para
prevenir a propagação das infecções relacionadas à assistência à saúde. Recentemente, o
termo “lavagem das mãos” foi substituído por “higienização das mãos” devido à maior
abrangência deste procedimento. O termo engloba a higienização simples, a higienização
antisséptica, a fricção antisséptica e a antissepsia cirúrgica das mãos, que serão abordadas
mais adiante.

As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismos durante a


assistência prestada aos pacientes, pois a pele é um possível reservatório de diversos
microrganismos, que podem se transferir de uma superfície para outra, por meio de contato
direto (pele com pele), ou indireto, através do contato com objetos e superfícies contaminados.

126
T É C N I C O

A higienização das mãos apresenta as seguintes finalidades:

• Remoção de sujidade, suor, oleosidade, pelos, células descamativas e da microbiota da


pele, interrompendo a transmissão de infecções veiculadas ao contato;

• Prevenção e redução das infecções causadas pelas transmissões cruzadas.

• Devem higienizar as mãos todos os profissionais que trabalham em serviços de saúde,


que mantém contato direto ou indireto com os pacientes, que atuam na manipulação
de medicamentos, alimentos e material estéril ou contaminado.

• As mãos dos profissionais que atuam em serviços de saúde podem ser higienizadas
utilizando-se: água e sabão, preparação alcoólica e antisséptico.

• As técnicas de higienização das mãos podem variar, dependendo do objetivo ao qual


se destinam. Podem ser divididas em:

• Higienização simples das mãos.

• Higienização antisséptica das mãos.

• Fricção de antisséptico nas mãos.

• Antissepsia cirúrgica ou preparo pré-operatório das mãos.

A eficácia da higienização das mãos depende da duração e da técnica empregada.

IMPORTANTE: Antes de iniciar qualquer uma dessas técnicas, é necessário retirar


joias (anéis, pulseiras, relógio), pois sob tais objetos podem acumular-se microrganismos.

HIGIENIZAÇÃO SIMPLES DAS MÃOS

Finalidade:

Remover os microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim


como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando a sujidade propícia à permanência e
à proliferação de microrganismos.

Duração do procedimento: 40 a 60 segundos.

127
Biossegurança

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T É C N I C O

Fonte: Anvisa

FRICÇÃO ANTISSÉPTICA DAS MÃOS (COM PREPARAÇÕES ALCOÓLICAS)

Finalidade:

Reduzir a carga microbiana das mãos (não há remoção de sujidades). A utilização de


gel alcoólico a 70% ou de solução alcoólica a 70% com 1-3% de glicerina pode substituir a
higienização com água e sabão quando as mãos não estiverem visivelmente sujas.

Duração do Procedimento: 20 a 30 segundos.

Fonte: Anvisa

129
Biossegurança

ANTISSÉPSIA CIRÚRGICA OU PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO DAS MÃOS

Finalidade

Eliminar a microbiota transitória da pele e reduzir a microbiota residente, além de


proporcionar efeito residual na pele do profissional.

As escovas utilizadas no preparo cirúrgico das mãos devem ser de cerdas macias e
descartáveis, impregnadas ou não com antisséptico e de uso exclusivo em leito ungueal e subungueal.

Para este procedimento, recomenda-se: Antissepsia cirúrgica das mãos e antebraços


com antisséptico degermante.

Duração do Procedimento: de 3 a 5 minutos para a primeira cirurgia e de 2 a 3


minutos para as cirurgias subsequentes (sempre seguir o tempo de duração recomendado
pelo fabricante).

Fonte: Anvisa

130
T É C N I C O

4.4 - Imunização

As imunizações reduzem o risco de infecção e, por conseguinte, protegem, não


apenas a saúde dos componentes da equipe, mas também a de seus clientes e familiares.

Os profissionais de saúde ficam expostos a diversas doenças infectocontagiosas,


sendo necessário um esquema vacinal ampliado em relação à população em geral. Ao exame
médico admissional, no processo de recrutamento e seleção que vem ser um conjunto de
procedimentos que visam escolher um indivíduo potencialmente qualificado a desenvolver
determinada atividade, o candidato deve estar com seu esquema vacinal adequado a
profissão respeitando suas peculiaridades. A vacinação para os profissionais de enfermagem
fundamenta-se a protegê-los de diversas doenças infecciosas que possam cursar com
gravidade no adulto, além de prevenir que esses profissionais contaminem os seus pacientes

Todos os profissionais de saúde devem ser vacinados com:

• 2 doses da vacina Tríplice Viral a não ser que apresente evidência de imunidade contra
o sarampo, caxumba e rubéola.

• Vacinação anual de Influenza.

• 1 dose de dTpa (difteria, tétano, coqueluche acelular), principalmente para imunizar


contra o Pertussis causador da coqueluche.

• 3 doses de Hepatite B, principalmente para aqueles que possam estar expostos a sangue
ou outros fluidos do corpo.

• 2 doses de vacina de Varicela, a não ser que haja evidência de imunidade de varicela.

De acordo com a nota técnica de agosto de 2005 do Projeto de Vigilância


Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde, está contraindicado o uso da vacina BCG
para profissionais de saúde.

Todos os alunos de graduação e pós-graduação deverão iniciar o esquema de


vacinação o mais precocemente possível, uma vez que é obrigatória a apresentação do cartão
de vacinação com o esquema vacinal completo antes do primeiro dia de atividade clínica ou
de ingresso no campo de estágio.

131
Biossegurança

5 - NORMAS TÉCNICAS DE DESCONTAMINAÇÃO,


LIMPEZA, PREPARO, DESINFECÇÃO, ESTERILIZAÇÃO,
MANUSEIO E ESTOCAGEM DE MATERIAIS

Historicamente, no Brasil, o Controle das Infecções Hospitalares teve seu marco


referencial com a Portaria MS nº 196, de 24 de junho de 1993, que instituiu a implantação
de Comissões de Controle de Infecções Hospitalares em todos os hospitais do país,
independentemente de sua natureza jurídica.

Atualmente, as diretrizes gerais para o Controle das Infecções em Serviços de Saúde


são delineadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na Gerência
Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde, através da Unidade de Controle de Infecções
em Serviços de Saúde (UCISA), e novo impulso tem sido dado no sentido de enfrentar a
problemática das infecções relacionadas à assistência.

Sem dúvida alguma, as infecções hospitalares constituem um grave problema de


saúde pública, tanto pela sua abrangência como pelos elevados custos sociais e econômicos. O
conhecimento e a conscientização dos vários riscos de transmissão de infecções, das limitações
dos processos de desinfecção e de esterilização e das dificuldades de processamento inerentes à
natureza de cada artigo são imprescindíveis para que se possa tomar as devidas precauções.

5.1 - Artigos

Os artigos compreendem instrumentos, objetos de natureza diversa, utensílios


(comadres, papagaios, etc.), acessórios de equipamentos e outros.

Críticos: são os artigos destinados à penetração através da pele e mucosas adjacentes,


nos tecidos subepiteliais e no sistema vascular, bem como todos os que estejam diretamente
conectados com este sistema. Estes requerem esterilização para satisfazer os objetivos a que
se propõem.

Semicríticos: são os artigos destinados ao contato com a pele não-íntegra ou com


mucosas íntegras e requerem desinfecção de médio ou de alto nível, ou esterilização para
ter garantida a qualidade do múltiplo uso destes. Se forem termo resistentes, poderão ser
submetidos à autoclavagem.

Não-críticos: são os artigos destinados ao contato com a pele íntegra do paciente e


requerem limpeza ou desinfecção de baixo ou médio nível.

O manuseio de artigos requer que cada procedimento seja acompanhado da indicação


do EPI específico, em relação à natureza do risco ao qual o profissional da saúde se expõe.
Os riscos são em relação ao material biológico, químico e térmico. Considerar que: - todo
artigo deverá ser considerado “contaminado”, sem levar em consideração o grau de sujidade
presente; - passos sequenciais: limpeza ou descontaminação --- desinfecção e/ou esterilização

132
T É C N I C O

ou estocagem, conforme o objetivo de uso do artigo; - classificar o artigo de acordo com o risco
potencial de infecção envolvido em seu uso e definir se desinfecção ou esterilização; - para que a
remoção da sujidade ou matéria orgânica não se constitua em risco a pessoa que os manuseia e ao
local onde está limpeza e desinfecção é realizada, é imprescindível o uso de EPI.

5.1.1 - Limpeza

A limpeza é o procedimento de remoção de sujidade e detritos para manter em estado


de asseio os artigos, reduzindo a população microbiana. Constitui o núcleo de todas as ações
referentes aos cuidados de higiene com os artigos hospitalares. A limpeza deve preceder os
procedimentos de desinfecção ou de esterilização, pois reduz a carga microbiana através
remoção da sujidade e da matéria orgânica presentes nos materiais. O excesso de matéria
orgânica aumenta não só a duração do processo de esterilização, como altera os parâmetros
para este processo. Assim, é lícito afirmar que a limpeza rigorosa é condição básica para
qualquer processo de desinfeção ou esterilização. “É possível limpar sem esterilizar, mas
não é possível garantir a esterilização sem limpar”.

A limpeza de artigos é feita por: fricção mecânica, utilizando água e sabão, auxiliada
por esponja, pano ou escova (padronizar pia ou recipiente paras este fim).

Os tipos de limpeza relacionados a seguir estão classificados de acordo com a sua


abrangência, frequência e os objetivos a serem atingidos.

a) Limpeza concorrente: É aquela realizada, de forma geral, diariamente, e inclui


a limpeza de pisos, instalações sanitárias, superfícies horizontais de equipamentos
e mobiliários, esvaziamento e troca de recipiente de lixo, de roupas e arrumação
em geral. Ainda a manutenção e reposição de materiais de consumo (papel toalha,
sabonete líquido, papel higiênico, etc.). Em condições especiais esse tipo de limpeza
pode e deve ser realizado mais de uma vez por dia e em áreas críticas, duas vezes ao
dia, ou mais.

b) Limpeza imediata ou descontaminação: Trata-se da limpeza quando é realizada


quando ocorre sujidade após a limpeza concorrente em áreas críticas e semicríticas,
em qualquer período do dia. Tal sujidade refere-se, principalmente àquelas de origem
orgânica, química ou radioativa, com riscos de disseminação de contaminação. Essa
limpeza limita-se a remoção imediata dessa sujidade do local onde ela ocorreu e sua
adequada dispensação. A técnica utilizada dependerá do tipo de sujidade e de seu
risco de contaminação.

c) Limpeza de manutenção: É constituída de alguns requisitos da limpeza


concorrente. Limitam-se mais ao piso, banheiros e esvaziamento de lixo, em locais
de grande fluxo de pessoal e de procedimentos, sendo realizada nos 3 períodos do
dia (manhã, tarde e noite) conforme a necessidade, através de rotina e de vistoria
contínua. Exemplo de onde esse tipo de limpeza ocorre com frequência é o pronto
socorro ou ambulatório, devido à alta rotatividade de atendimento.

133
Biossegurança

d) Limpeza terminal: Trata-se de uma limpeza e ou desinfecção mais completa,


abrangendo horizontalmente e verticalmente pisos, paredes, equipamentos,
mobiliários, inclusive camas, macas e colchões, janelas, vidros, portas, peitoris,
varandas, grades do ar condicionado, luminárias, teto, etc., em todas as suas
superfícies externas e internas. A periodicidade de limpeza de todos esses itens
dependerá da área onde os mesmos se encontram e de sua frequência de sujidade.
Como exemplos, a limpeza terminal da unidade de um paciente internado deverá
ser realizada a qualquer momento após sua alta, transferência ou óbito. Já a limpeza
terminal do centro cirúrgico é realizada diariamente após a realização de cirurgias
eletivas do dia.

5.1.2 - Descontaminação

É o processo de eliminação total ou parcial da carga microbiana de artigos e


superfícies, tornando-os aptos para o manuseio seguro. A descontaminação de artigos é feita
por: fricção auxiliada por pano e álcool à 70%.

A descontaminação tem por finalidade reduzir o número de microrganismos presentes


nos artigos sujos, de forma a torná-los seguros para manuseá-los, isto é, ofereçam menor
risco ocupacional. O uso de agentes químicos desinfetantes como glutaraldeído, formaldeído,
hipoclorito de sódio e outros no processo de descontaminação, prática largamente utilizada,
não tem fundamentação. O agente químico é impedido de penetrar nos microrganismos pois
há tendência das soluções químicas ligarem-se com as moléculas de proteínas presentes na
matéria orgânica, não ficando livres para ligarem-se aos microrganismos nas proporções
necessárias dando uma “falsa segurança” no manuseio do material como descontaminado.
Além disso o uso desses agentes na prática da descontaminação causa uma aderência de
precipitado de matéria orgânica no artigo, prejudicando sobremaneira a posterior limpeza.

5.1.3 - Desinfecção

O termo desinfecção deverá ser entendido como um processo de eliminação ou


destruição de todos os microrganismos na forma vegetativa, independentemente de serem
patogênicos ou não, presentes nos artigos e objetos inanimados. A destruição de algumas
bactérias na forma esporulada também pode acorrer, mas não se tem o controle e a garantia
desse resultado. No seu espectro de ação, a desinfecção de alto nível deve incluir a eliminação
de alguns esporos, o bacilo da tuberculose, todas as bactérias vegetativas, fungos e todos os
vírus.

A desinfecção de alto nível é indicada para itens semicríticos como 12 lâminas de


laringoscópios, equipamento de terapia respiratória, anestesia e endoscópio de fibra ótica
flexível. O agente mais comumente utilizado para desinfecção de alto nível é o glutaraldeído.
Na desinfecção de nível intermediário não é esperada ação sobre os esporos bacterianos
e ação média sobre vírus não lipídicos, mas que seja tuberculicida, elimine a maioria dos
fungos e atue sobre todas as células vegetativas bacterianas. Cloro, iodóforos, fenólicos e

134
T É C N I C O

álcoois pertencem a este grupo. Os desinfetantes desta classificação, juntamente com os de


baixo nível, são tipicamente usados para artigos que entrarão em contato somente com a pele
íntegra ou para desinfecção de superfícies. Na desinfecção de baixo nível não há ação sobre
os esporos ou bacilo da tuberculose, podendo ter ou não ação sobre vírus não lipídicos e com
atividade relativa sobre fungos, mas capaz de eliminar a maioria das bactérias em forma
vegetativa. Compostos com quaternário de amônia são exemplos de desinfetantes de baixo
nível. Quando se fala em processo de desinfecção, subentende-se o uso de agentes químicos,
cujos princípios ativos permitidos pelo Ministério da Saúde, através da Portaria número 15
de 1988 são: os aldeídos, fenólicos, quaternário de amônia, compostos orgânicos liberados
de cloro ativo, iodo e derivados, álcoois e glicóis, biguanidas e outros, desde que atendam à
legislação específica.

Deve ser feita da seguinte forma: com uso de luvas, depois da limpeza com água e sabão,
aplicar o produto desinfetante e deixar o tempo necessário, como alguns exemplos abaixo:

LIMPEZA DO ESFIGMOMANÔMETRO (SOMENTE O MANGUITO)

• Lavar com água, sabão neutro e esfregar com escova; - Deixar secar naturalmente ou
em secadora com ar frio. Advertências:

• Usar EPI para limpeza de materiais e viatura (luvas, avental impermeável e óculos
de proteção).

• Utilizar roupa apropriada e toca para trabalhar na sala de esterilização.

LIMPEZA E DESINFECÇÃO DO COLAR CERVICAL

• Limpeza: - Imergir em um balde com tampa contendo solução de detergente Enzimático


(endozime) e deixar por 10 min; - Esfregar com escova se necessário; - Enxaguar com
água corrente;

• Desinfecção: - Imergir em um balde escuro com tampa contendo solução de


Hipoclorito diluído a 0,5% ou glutaraldeido e deixar por 30min; - Enxaguar com
água corrente; - Deixar secar naturalmente ou em secadora com ar quente; - Embalar
em saco plástico e selar.

LIMPEZA E DESINFECÇÃO DO ESTETOSCÓPIO

• Limpeza: - Lavar com água, sabão neutro e esfregar com pano limpo;

135
Biossegurança

• Desinfecção: - Friccionar com pano umedecido com álcool 70%, apenas nas partes metálicas

• Deixar secar naturalmente;

• Repetir o processo por 3 (três) vezes;

LIMPEZA, DESINFECÇÃO DA PRANCHA LONGA

• Descontaminação prévia: - Remover o excesso de resíduos com papel toalha ou pano


velho se necessário; - Passar hipoclorito a 1% nos locais onde existir sangue ou outros
fluídos corpóreos, e deixar por 10min;

• Limpeza: - Lavar com água, sabão neutro e esfregar com escova ou pano; - Secar com
pano limpo; - Friccionar com pano umedecido em álcool etílico a 70% e deixar secar
repetindo este procedimento por 3 (três) vezes.

5.1.4 - Enxágue

Para o enxágue após a limpeza e/ou desinfecção, a água deve ser potável e corrente.

5.1.5 - Secagem

A secagem objetiva evitar a interferência da umidade nos processos e produtos


posteriores e poderá ser feita por uma das seguintes alternativas: - pano limpo ou seco; ou -
O² (restante no cilindro de Oxigênio)

5.1.6 - Quando o artigo vai para a Esterilização

Por meio físico: Acondicionar os artigos em invólucros de grau cirúrgico (papel


crepado), adequados ao tipo de processamento. Deve conter: data de embalagem e
identificação do profissional que embalou, assim como identificação visual dos pacotes com
fita termossensível para assegurar que o pacote passou pelo calor.

Autoclaves: será realizado em estabelecimentos de saúde que dispõem do


equipamento. São equipamentos que se utilizam de vapor saturado para realizarem o
processo de esterilização. O vapor saturado, ou seja, de temperatura equivalente ao ponto
de ebulição da água, na pressão considerada, é o meio de esterilização mais econômico para
materiais termo resistentes. Indicadores de uso: todos os artigos críticos termo resistentes; e
alguns artigos semicríticos, termo resistentes, por facilidade operacional e de tempo, podem
ser submetidos à autoclavagem.

136
T É C N I C O

5.1.7 - Estocagem

Após submeter os artigos ao processamento mais adequado, estocá-los em área


separada, limpa, livre de poeiras, em armários fechados, preferencialmente.

5.2 - Superfícies

As superfícies fixas (pisos, paredes, tetos, portas, mobiliários, equipamentos e demais


instalações) não representam risco significativo de transmissão de infecção. É desnecessária
a desinfecção de paredes, pisos, tetos, janelas, portas, a menos que haja respingo ou
deposição de matéria orgânica, quando é recomendada a desinfecção localizada. Quando
não há, será realizada somente limpeza com água e sabão. Existem locais e mobiliários que
podem constituir risco de contaminação para pacientes e profissionais, pela presença de
descarga de excreta, secreção ou exsudação de material orgânico. Estes locais necessitam
de descontaminação antes ou concomitante à limpeza. As superfícies que estiverem com
presença de matéria orgânica em áreas críticas, semicríticas e não-críticas deverão sofrer
processo de desinfecção ou descontaminação localizada e, posteriormente, deve-se realizar
a limpeza com água e sabão em toda a superfície, sempre utilizando os EPI necessários.

Desinfecção:

a) Com uso de luvas, retirar o excesso de carga contaminante em papel ou panos


velhos.

b) Desprezar o papel ou pano em saco plástico de lixo. c) Aplicar sobre a área atingida,
hipoclorito (piso) ou álcool etílico a 70% (em outras superfícies) por 10 minutos,
repetindo 3 vezes.

6 - EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL - ACIDENTES


COM MATERIAL BIOLÓGICO

6.1 - Profissionais de saúde e tipos de exposições

Neste capítulo serão considerados todos os profissionais e trabalhadores do setor saúde


que atuam, direta ou indiretamente, em atividades onde há risco de exposição ao sangue e a
outros materiais biológicos, incluindo aqueles profissionais que prestam assistência domiciliar,

137
Biossegurança

atendimento pré-hospitalar e ações de resgate feitas por bombeiros ou outros profissionais.

As exposições que podem trazer riscos de transmissão ocupacional do HIV e dos


vírus das hepatites B (HBV) e C (HCV) são definidas como:

• Exposições percutâneas – lesões provocadas por instrumentos perfurantes e cortantes


(p.ex. agulhas, bisturi, vidrarias);

• Exposições em mucosas – p.ex. quando há respingos na face envolvendo olho, nariz,


boca ou genitália;

• Exposições cutâneas (pele não-íntegra) – p.ex. contato com pele com dermatite ou
feridas abertas;

• Mordeduras humanas – consideradas como exposição de risco quando envolverem a


presença de sangue, devendo ser avaliadas tanto para o indivíduo que provocou a lesão
quanto àquele que tenha sido exposto.

6.1.1 - Cuidados com Material Perfuro cortante e Material Biológico

AO MANUSEAR PERFURO CORTANTES: agulhas, escalpes, vidrarias, lâminas de


bisturi e outros:

• Ter máxima atenção durante a realização de procedimentos invasivos.

• Jamais utilizar os dedos como anteparo durante a realização de procedimento que


envolva material perfuro cortante.

• Nunca reencapar, entortar, quebrar ou desconectar a agulha da seringa.

• Não utilizar agulhas para fixar papéis.

• Desprezar agulhas, escalpes, lâminas de bisturi e vidrarias, mesmo que estéreis, em


recipiente próprio.

• Não descartar material perfuro cortante em saco de lixo comum, mesmo que seja
branco.

• Usar sapatos fechados (não de tecido) para proteção dos pés em locais úmidos,
com presença de material biológico ou onde haja risco de acidente percutâneo (Ex.:
consultório odontológico, sala de coleta de exames, centro cirúrgico, centro obstétrico,
centro de material e esterilização, pronto-socorro e outros).

138
T É C N I C O

Momentos de risco biológico – Procedimentos onde são indicados dispositivos


de segurança. TODOS OS OBJETOS PERFURO CORTANTES DEVEM SER
DESCARTADOS EM RECIPIENTE DE PAREDE RÍGIDA, IMPERMEÁVEL E
CONTER TAMPA.

RECIPIENTE PARA MATERIAL PERFURO CORTANTE

• Deve conter paredes rígidas e impermeáveis e tampa.

• Não deve ser preenchido acima do limite de 2/3 de sua capacidade total.

• Não deve ser deixado no chão, devendo estar sempre em local seguro.

• Deve ser colocado em ponto estratégico, no suporte próprio, nunca sobre pias.

• Deve-se vedá-lo com fita adesiva e colocá-lo em saco branco leitoso, dar um nó e
encaminhá-lo para o destino final.

CUIDADOS COM O TRANSPORTE DE MATERIAL BIOLÓGICO

• Etiquetar os frascos coletores antes da coleta do material.

• Acondicionar as amostras em saco plástico transparente.

• Colocar o saco com as amostras em caixa térmica para transporte que contenha gelo
reciclável.

• O transporte é de responsabilidade do laboratório executor.

• Adaptado de Técnicas para coleta de sangue/Coordenação Nacional de DST e Aids. 2ª


edição, Brasília: Ministério da Saúde, 1997, Revisão- 2011.

6.2 - Riscos de transmissão

6.2.1 - Risco de transmissão do vírus da imunodeficiência humana

Vários fatores podem interferir no risco de transmissão do HIV. Estudos realizados


estimam, em média, que o risco de transmissão do HIV é de 0,3% (IC 95% = 0.2 – 0.5%) em
acidentes percutâneos e de 0,09 % (IC 95% = 0.006 – 0.5%) após exposições em mucosas.
O risco após exposições envolvendo pele não-íntegra não é precisamente quantificado,

139
Biossegurança

estimando-se que ele seja inferior ao risco das exposições em mucosas.

MATERIAIS BIOLÓGICOS E RISCO DE TRANSMISSÃO DO HIV:

• Sangue, outros materiais contendo sangue, sêmen e secreções vaginais são considerados
materiais biológicos envolvidos na transmissão do HIV. Apesar do sêmen e das
secreções vaginais estarem frequentemente relacionados à transmissão sexual desses
vírus, esses materiais não estarão envolvidos habitualmente nas situações de risco
ocupacional para profissionais de saúde.

• Líquidos de serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico, líquor e


líquido articular são fluidos e secreções corporais potencialmente infectantes. Não
existem, no entanto, estudos epidemiológicos que permitam quantificar os riscos
associados a estes materiais biológicos. Estas exposições devem ser avaliadas de forma
individual, já que, em geral, estes materiais são considerados como de baixo risco para
transmissão viral ocupacional.

• Suor, lágrima, fezes, urina, vômitos, secreções nasais e saliva (exceto em ambientes
odontológicos) são líquidos biológicos sem risco de transmissão ocupacional. Nestes
casos, as profilaxias e o acompanhamento clínico-laboratorial não são necessários. A
presença de sangue nestes líquidos torna-os materiais infectantes.

• Qualquer contato sem barreira de proteção com material concentrado de vírus


(laboratórios de pesquisa, com cultura de vírus e vírus em grandes quantidades) deve
ser considerado uma exposição ocupacional que requer avaliação e acompanhamento.
As estimativas baseiam-se em situações de exposição a sangue; o risco de infecção
associado a outros materiais biológicos é provavelmente inferior. Casos de contaminação
ocupacional pelo HIV podem ser caracterizados como comprovados ou prováveis.
De maneira geral, casos comprovados de contaminação por acidente de trabalho são
definidos como aqueles em que há evidência documentada de soro conversão e sua
demonstração temporal associada a exposição ao vírus.

No momento do acidente, os profissionais apresentam sorologia não reativa, e durante


o acompanhamento se evidencia sorologia reativa. Alguns casos em que a exposição é
inferida (mas não documentada) também podem ser considerados como casos comprovados
de contaminação quando há evidência de homologia da análise sequencial do DNA viral
do paciente-fonte e do profissional de saúde. Casos prováveis de contaminação são aqueles
em que a relação causal entre a exposição e a infecção não pode ser estabelecida porque a
sorologia do profissional acidentado não foi obtida no momento do acidente. Os profissionais
de saúde apresentam infecção e não possuem nenhum risco identificado para infecção
diferente da exposição ocupacional, mas não foi possível a documentação temporal da soro
conversão.

Desde o início da epidemia da aids (1981) até o momento atual, 103 casos comprovados
e 219 casos prováveis de profissionais de saúde contaminados pelo HIV por acidente de
trabalho foram publicados em todo o mundo. Em um estudo caso-controle multicêntrico

140
T É C N I C O

retrospectivo, envolvendo acidentes percutâneos, um risco maior de transmissão esteve


associado às exposições com grande quantidade de sangue do paciente-fonte, cujos
marcadores foram:

a) Dispositivo visivelmente contaminado pelo sangue do paciente;

b) Procedimentos com agulha diretamente inserida em acesso arterial ou venoso; e

c) Lesão profunda. Ficou demonstrado ainda que o uso profilático do AZT


(zidovudina) esteve associado à redução de 81% do risco de soro conversão após
exposição ocupacional (Cardo, D M, 1997).

Este mesmo estudo evidenciou que um risco aumentado de transmissão também


esteve relacionado com exposições envolvendo pacientes com aids em fase terminal, podendo
refletir uma quantidade elevada de vírus ou a presença de outros fatores como, por exemplo,
cepas virais indutoras de sincício.

6.2.2 - Risco de transmissão do vírus da hepatite b

O risco de contaminação pelo vírus da Hepatite B (HBV) está relacionado,


principalmente, ao grau de exposição ao sangue no ambiente de trabalho e também à presença
ou não do antígeno HBeAg no paciente-fonte. Em exposições percutâneas envolvendo
sangue sabidamente infectado pelo HBV e com a presença de HBeAg (o que reflete uma alta
taxa de replicação viral e, portanto, uma maior quantidade de vírus circulante), o risco de
hepatite clínica varia entre 22 a 31% e o da evidência sorológica de infecção de 37 a 62%.
Quando o paciente-fonte apresenta somente a presença de HBsAg (HBeAg negativo), o risco
de hepatite clínica varia de 1 a 6% e o de soro conversão 23 a 37%.

Apesar das exposições percutâneas serem um dos mais eficientes modos de transmissão
do HBV, elas são responsáveis por uma minoria dos casos ocupacionais de hepatite B entre
profissionais de saúde. Em investigações de surtos nosocomiais, a maioria dos profissionais
infectados não relata exposições percutâneas. Mas, em alguns desses estudos, quase 1/3 dos
profissionais se lembram de terem atendido pacientes HBsAg positivo.

Já foi demonstrado que, em temperatura ambiente, o HBV pode sobreviver em


superfícies por períodos de até 1 semana. Portanto, infecções pelo HBV em profissionais
de saúde, sem história de exposição não ocupacional ou acidente percutâneo ocupacional,
podem ser resultado de contato, direto ou indireto, com sangue ou outros materiais biológicos
em áreas de pele não-íntegra, queimaduras ou em mucosas. A possibilidade de transmissão
do HBV a partir do contato com superfícies contaminadas também já foi demonstrada
em investigações de surtos de hepatite B, entre pacientes e profissionais de unidades de
hemodiálise.

O sangue é o material biológico que tem os maiores títulos de HBV e é o principal


responsável pela transmissão do vírus nos serviços de saúde. O HBV também é encontrado

141
Biossegurança

em vários outros materiais biológicos, incluindo leite materno, líquido biliar, líquor, fezes,
secreções nasofaringes, saliva, suor e líquido articular. A maior parte desses materiais biológicos
não é um bom veículo para a transmissão do HBV. As concentrações de partículas infectantes do
HBV são 100 a 1.000 vezes menor do que a concentração de HBsAg nestes fluidos.

6.2.3 - Risco de transmissão do vírus da hepatite c

O vírus da hepatite C (HCV) só é transmitido de forma eficiente através do sangue.


A incidência média de soro conversão, após exposição percutânea com sangue sabidamente
infectado pelo HCV é de 1.8% (variando de 0 a 7%). Um estudo demonstrou que os casos de
contaminações só ocorreram em acidentes envolvendo agulhas com lúmen.

O risco de transmissão em exposições a outros materiais biológicos que não o sangue


não é quantificado, mas considera-se que seja muito baixo. A transmissão do HCV a partir
de exposições em mucosas é extremamente rara. Nenhum caso de contaminação envolvendo
pele não-íntegra foi publicado na literatura. Nos casos de exposição não ocupacional, estima-
se que 30-40% dos casos não têm forma de infecção identificada.

Ao contrário do HBV, dados epidemiológicos sugerem que o risco de transmissão


do HCV, a partir de superfícies contaminadas não é significativo, exceto em serviços de
hemodiálise, onde já foram descritos casos nos quais houve contaminação ambiental e níveis
precários de práticas de controle de infecção.

6.3 - Prevenção da exposição a materiais biológicos

A prevenção da exposição ao sangue ou a outros materiais biológicos é a principal


medida para que não ocorra contaminação por patógenos de transmissão sanguínea nos
serviços de saúde. Precauções básicas ou precauções padrão são normatizações que visam
reduzir a exposição aos materiais biológicos. Essas medidas devem ser utilizadas na
manipulação de artigos médico-hospitalares e na assistência a todos os pacientes, independente
do diagnóstico definido ou presumido de doença infecciosa (HIV/aids, hepatites B e C).

Recomenda-se o uso rotineiro de barreiras de proteção (luvas, capotes, óculos


de proteção ou protetores faciais) quando o contato muco cutâneo com sangue ou outros
materiais biológicos puder ser previsto. Incluem-se ainda as precauções necessárias na
manipulação de agulhas ou outros materiais cortantes, para prevenir exposições percutâneas;
e os cuidados necessários de desinfecção e esterilização na reutilização de instrumentos
usados em procedimentos invasivos.

CUIDADOS COM MATERIAL PERFURO CORTANTE E MATERIAL BIOLÓGICO

AO MANUSEAR PERFURO CORTANTES: agulhas, escalpes, vidrarias, lâminas de


bisturi e outros

142
T É C N I C O

• Ter máxima atenção durante a realização de procedimentos invasivos.

• Jamais utilizar os dedos como anteparo durante a realização de procedimento que


envolva material perfuro cortante.

• Nunca reencapar, entortar, quebrar ou desconectar a agulha da seringa.

• Não utilizar agulhas para fixar papéis.

• Desprezar agulhas, escalpes, lâminas de bisturi e vidrarias, mesmo que estéreis, em


recipiente próprio.

• Não descartar material perfuro cortante em saco de lixo comum, mesmo que seja
branco.

• Usar sapatos fechados (não de tecido) para proteção dos pés em locais úmidos,
com presença de material biológico ou onde haja risco de acidente percutâneo (Ex.:
consultório odontológico, sala de coleta de exames, centro cirúrgico, centro obstétrico,
centro de material e esterilização, pronto-socorro e outros).

Momentos de risco biológico – Procedimentos onde são indicados dispositivos


de segurança. TODOS OS OBJETOS PERFURO CORTANTES DEVEM SER
DESCARTADOS EM RECIPIENTE DE PAREDE RÍGIDA, IMPERMEÁVEL E
CONTER TAMPA.

RECIPIENTE PARA MATERIAL PERFURO CORTANTE

• Deve conter paredes rígidas e impermeáveis e tampa.

• Não deve ser preenchido acima do limite de 2/3 de sua capacidade total.

• Não deve ser deixado no chão, devendo estar sempre em local seguro.

• Deve ser colocado em ponto estratégico, no suporte próprio, nunca sobre pias.

• Deve-se vedá-lo com fita adesiva e colocá-lo em saco branco leitoso, dar um nó e
encaminhá-lo para o destino final.

• Cuidados com o Transporte de Material Biológico

• Etiquetar os frascos coletores antes da coleta do material.

• Acondicionar as amostras em saco plástico transparente.

• Colocar o saco com as amostras em caixa térmica para transporte que contenha
gelo reciclável.

143
Biossegurança

• O transporte é de responsabilidade do laboratório executor.

• Adaptado de Técnicas para coleta de sangue/Coordenação Nacional de DST e Aids. 2ª


edição, Brasília: Ministério da Saúde, 1997, Revisão- 2011.

6.4 - Procedimentos recomendados nos casos de exposição aos materiais biológicos

6.4.1 - Cuidados imediatos com a área de exposição

Recomenda-se como primeira conduta, após a exposição a material biológico, os


cuidados imediatos com a área atingida. Essas medidas incluem a lavagem exaustiva do local
exposto com água e sabão nos casos de exposições percutâneas ou cutâneas. Apesar de não
haver nenhum estudo que demonstre o benefício adicional ao uso do sabão neutro nesses
casos, a utilização de soluções antissépticas degermantes é uma opção. Não há nenhum
estudo que justifique a realização de expressão do local exposto como forma de facilitar o
sangramento espontâneo. Nas exposições de mucosas, deve-se lavar exaustivamente com
água ou com solução salina fisiológica. Procedimentos que aumentam a área exposta (cortes,
injeções locais) e a utilização de soluções irritantes como éter, hipoclorito ou glutaraldeído
são contraindicados.

6.4.2 - Quimioprofilaxia para o HIV

As principais evidências da quimioprofilaxia pós-exposição ocupacional (PEP) dos


medicamentos antirretrovirais na redução da transmissão do HIV estão baseadas em:

• Estudo caso-controle, multicêntrico, envolvendo profissionais de saúde que tiveram


exposições percutâneas com sangue sabidamente infectado pelo HIV (Tabela 1), no
qual o uso do AZT foi associado a um efeito protetor de 81% (IC95% = 43 - 94%);

• Evidências com os protocolos de uso de antirretrovirais para prevenção da transmissão


vertical do HIV sugerindo um efeito protetor com o uso dos medicamentos pós-
exposição;

• Dados de experimentos em animais, principalmente, após as recentes melhorias na


metodologia de inoculação viral.

A quimioprofilaxia pós-exposição ao HIV é complexa, por englobar tanto a falta de


dados mais precisos sobre o risco relativo de diferentes tipos de exposição (p.ex. risco de
lesões superficiais x profundas, agulhas com lúmen x agulhas de sutura, exposição a sangue
x outro material biológico), quanto o risco de toxicidade dos medicamentos antirretrovirais.

144
T É C N I C O

O PROFISSIONAL DE SAÚDE ACIDENTADO DEVERÁ SER INFORMADO QUE:

• O conhecimento sobre a eficácia da PEP é limitado;

• Somente a zidovudina (AZT) demonstrou benefício em estudos humanos;

• Não há evidência de efeito benéfico adicional com a utilização da combinação de


antirretrovirais, mas a sua recomendação baseia-se na possibilidade de maior potência
antirretroviral e cobertura contra vírus resistentes;

• A eficácia da profilaxia não é de 100%. Existem casos documentados de transmissão


mesmo com uso adequado da profilaxia e pacientes-fonte sabidamente infectados pelo
HIV com carga viral indetectável.

• O conhecimento sobre a ocorrência de toxicidade de antirretrovirais em pessoas não


infectadas pelo HIV ainda é limitado; os efeitos adversos são mais conhecidos para
o AZT comparando-se aos outros inibidores da transcriptase reversa análogos de
nucleosídeos (ITRN); e

• É direito do profissional se recusar a realizar a quimioprofilaxia ou outros procedimentos


necessários pós-exposição (como p.ex. coleta de exames sorológicos e laboratoriais).
Nestes casos, porém, deverá assinar um documento (por ex.: prontuário) onde esteja
claramente explicitado que todas as informações foram fornecidas no seu atendimento
sobre os riscos da exposição e os riscos e benefícios da conduta indicada.

• A indicação ou não de PEP (Fluxograma 1) requer a avaliação do risco da exposição,


o que inclui: • A definição do tipo de material biológico envolvido;

• A gravidade e o tipo da exposição;

• A identificação ou não do paciente-fonte e de sua condição sorológica antiHIV;

• As condições clínicas, imunológicas e laboratoriais do paciente-fonte identificado


como infectado pelo HIV/aids.

• Os critérios de gravidade na avaliação do risco do acidente são dependentes do volume


de sangue e da quantidade de vírus presente. Os acidentes mais graves são aqueles que
envolvem:

• Maior volume de sangue, cujos marcadores são: lesões profundas provocadas por
material perfuro cortante, presença de sangue visível no instrumento, acidentes com
agulhas previamente utilizadas na veia ou artéria do paciente-fonte e acidentes com
agulhas de grosso calibre;

• Maior inoculo viral representado por pacientes-fonte com infecção pelo HIV/aids
em estágios avançados da doença ou com infecção aguda pelo HIV, situações que

145
Biossegurança

apresentam viremias elevadas. Estes são exemplos de marcadores para estimar os títulos
virais no paciente-fonte para fins de quimioprofilaxia antirretroviral e não refletem
todas as situações clínicas que podem ser observadas. Apesar de um alto título de HIV
no paciente-fonte ser associado a um maior risco de transmissão, a possibilidade de
transmissão de um paciente com baixa carga viral deve ser considerada, nas exposições
de alto risco.

A quimioprofilaxia deve ser recomendada aos profissionais de saúde que sofreram


exposições com risco significativo de contaminação pelo HIV. Para exposições com menor
risco, a quimioprofilaxia deve ser considerada na presença de altos títulos virais no paciente-
fonte. Observamos que a quimioprofilaxia pode não ser justificada naquelas situações com
risco insignificante de contaminação, nas quais o risco de efeitos tóxicos dos medicamentos
ultrapassa o risco de transmissão do HIV.

Quando indicada, a PEP deverá ser iniciada o mais rápido possível, idealmente, nas
primeiras horas após o acidente. Estudos em animais sugerem que a quimioprofilaxia não é
eficaz, quando iniciada 24 a 48 horas após a exposição. Recomenda-se que o prazo máximo,
para início de PEP, seja de até 72h após o acidente. A duração da quimioprofilaxia é de 28
dias.

Os esquemas preferenciais estabelecidos pelo MS são:

- 2 ITRN -> AZT + 3TC – preferencialmente combinados em um mesmo comprimido

- 2 ITRN + 1 IP Æ AZT + 3TC + NFV ou AZT + 3TC + IDV/r

** ATENÇÃO: A nevirapina é contraindicada como profilaxia antirretroviral


por haver relatos de hepatotoxicidade grave (inclusive com casos de falência hepática
necessitando de transplante) e Síndrome de Stevens-Johnson. O efavirenz deve ser
usado somente em situações excepcionais (exposição grave a paciente-fonte HIV+ com
resistência potencial aos IP) após avaliação de especialistas no tratamento de infecção
pelo HIV/aids. Existe risco de teratogenicidade com EFV; portanto, quando prescrito
para mulheres férteis, deve-se descartar a possibilidade de gravidez.

Doses habitualmente utilizadas na infecção pelo HIV/aids devem ser prescritas nos
esquemas de PEP.

O ESQUEMA PADRÃO DE AZT (ZIDOVUDINA) ASSOCIADO À 3TC


(LAMIVUDINA) ESTÁ INDICADO PARA A MAIORIA DAS EXPOSIÇÕES. O USO
HABITUAL DE AZT + 3TC ESTÁ RELACIONADO:

• Ao fato destes medicamentos existirem combinados em uma mesma cápsula e


permitirem melhor adesão pela facilidade do esquema posológico;

146
T É C N I C O

• Ao efeito profilático da zidovudina descrito no estudo caso-controle em profissionais


de saúde e no ACTG076 (prevenção da transmissão materno-fetal do HIV);

• A lamivudina ser um dos inibidores de transcriptase reversa análogo de nucleosídeo


(ITRN) com menor ocorrência de efeitos adversos. Esquemas expandidos com acréscimo
de um inibidor de protease (IP), preferencialmente o nelfinavir ou o indinavir/r, devem
ser cogitados em situações de alto risco e quando houver possibilidade de resistência
viral.

O objetivo da quimioprofilaxia com os atuais esquemas combinados de antirretrovirais


(2 ou 3 medicamentos) inclui não somente aspectos relacionados com a maior potência
antirretroviral, mas também a uma maior cobertura contra vírus resistentes, já que um
número cada vez maior de pacientes faz uso de antirretrovirais e a transmissão de vírus
resistentes já foi demonstrada em diferentes situações. Não existe, entretanto, nenhum
dado que demonstre que a combinação de drogas seja mais eficaz para profilaxia do que a
zidovudina (ou outros agentes) de forma isolada.

Para a escolha do esquema profilático em exposições envolvendo pacientes-fonte


infectados pelo HIV/aids, deve-se avaliar a história prévia e atual de uso dos antirretrovirais
e os parâmetros que possam sugerir a presença de vírus resistentes como o tratamento
antirretroviral prolongado e a ocorrência, durante o tratamento, de progressão clínica,
aumento de RNA viral, queda dos níveis de linfócitos CD4+ e falta de resposta na troca do
esquema medicamentoso.

Medicamentos antirretrovirais diferentes do esquema padrão podem estar indicados


quando há suspeita de exposição a cepas virais resistentes. Nestes casos, uma avaliação
criteriosa deve ser feita por médicos especialistas na área de infecção pelo HIV/aids (Quadro
1). Se a resistência provavelmente afeta toda uma classe de antirretrovirais, é prudente incluir
uma droga de uma outra classe. Ressalta-se que a falta de um especialista, no momento
imediato do atendimento pós-exposição, não é razão suficiente para retardar o início da
quimioprofilaxia. Nestes casos, recomenda-se o uso dos esquemas habituais (como AZT
+ 3TC + IP) até que o profissional acidentado seja reavaliado quanto à adequação da PEP,
iniciada dentro do prazo ideal de até 72h após a exposição.

O uso de testes de resistência no paciente-fonte, no momento do acidente, não é


factível já que os resultados não estariam disponíveis em tempo hábil (usualmente são 1
a 2 semanas) para auxiliar a escolha da PEP mais adequada. Além disso, nessas situações
não se sabe se a modificação do esquema é necessária ou ainda se irá influenciar o desfecho
da exposição ocupacional. Eventualmente, quando há um teste de resistência recente, esta
informação poderá ser utilizada para escolha da profilaxia a ser oferecida ao profissional
acidentado. A falha da PEP em prevenir a contaminação pelo HIV já foi descrita na literatura
em pelo menos 21 circunstâncias. Em 16 casos, o AZT havia sido usados isoladamente;
em 2 envolveu o uso de AZT com ddI e em 3 casos, mais de três antirretrovirais foram
utilizados. O uso de antirretrovirais pelo paciente-fonte antes da exposição foi descrito em 13
casos. Testes de resistência aos antirretrovirais foram realizados em 7 casos e em 4 o vírus
transmitido apresentava sensibilidade diminuída ao AZT e/ou outras drogas usadas na PEP.

147
Biossegurança

CONDUTA EM EXPOSIÇÕES ENVOLVENDO PACIENTES-FONTE COM


SOROLOGIA ANTIHIV DESCONHECIDA

• Realizar teste antiHIV do paciente-fonte após aconselhamento e autorização – utilizar


testes rápidos quando o resultado da sorologia convencional não puder ser obtido logo
após a exposição

• Avaliar o tipo de exposição

• Avaliar a probabilidade clínica e epidemiológica do paciente-fonte contrair infecção


pelo HIV/aids

• Se indicado, iniciar a PEP o mais precoce possível após a exposição

• Reavaliar o profissional acidentado dentro de 72 horas após a exposição, principalmente


se existe informação adicional sobre a exposição ou do paciente-fonte

– Manter a PEP por 4 semanas nos casos de evidência de infecção pelo HIV (teste
antiHIV positivo)

– Interromper a PEP se o resultado do teste antiHIV do paciente-fonte for negativo - a


possibilidade de soro conversão recente (“janela imunológica”) sem a presença de
sintomas de infecção aguda pelo HIV é extremamente rara. Excepcionalmente,
resultados falso-negativos devem ser considerados diante de dados clínicos e

148
T É C N I C O

epidemiológicos do paciente-fonte sugestivos de infecção pelo HIV/aids (CDC, 2001).

Na escolha da PEP, informações sobre condições subjacentes (como p.ex.


hepatopatias, nefropatias, gestação, amamentação) devem ser investigadas na anamnese do
profissional acidentado. A possibilidade de interações medicamentosas da profilaxia com
outras drogas, que o profissional faça uso regular, também deve ser sempre avaliada (p.ex.
anticonvulsivantes). Em profissionais de saúde do sexo feminino em idade fértil, o risco de
gravidez deve ser indagado, sendo recomendável a realização de testes de gravidez sempre
que houver dúvida. Nos casos excepcionais de uso do EFV, o uso de testes de gravidez é
obrigatório se houver possibilidade de gravidez. Para as profissionais que estão fazendo uso
de anticoncepcionais orais, é importante observar que existe a possibilidade de interação
desses com os inibidores de protease.

O início de PEP em profissionais de saúde grávidas deverá ser decidido em conjunto


com a profissional acidentada e com o médico assistente do pré-natal após avaliação dos
riscos, benefícios e informações sobre a segurança para o feto. A gravidez, entretanto, não
deve ser motivo isolado para deixar de se oferecer a melhor profilaxia relacionada à sua
exposição. Contudo, nos casos de gravidez algumas drogas devem ser evitadas, como o
efavirenz pela ocorrência de efeitos teratogênicos demonstrados em primatas. Casos recentes
de acidose láctica (inclusive fatais) foram relatados em mulheres grávidas tratadas durante
a gestação com d4T + ddI. Assim, estas drogas não devem ser utilizadas em mulheres
grávidas. Deve-se ter cautela com o uso do indinavir pela ocorrência frequente de intolerância
gastrintestinal, nefrolitíase e hiperbilirrubinemia. Profissionais que estiverem amamentando
deverão ser orientadas a suspender o aleitamento durante a quimioprofilaxia antirretroviral,
pela possibilidade de exposição da criança aos antirretrovirais (passagem pelo leite materno)
e também para evitar o risco de transmissão secundária do HIV.

6.4.3 - Quimioprofilaxia para o HBV

A vacinação pré-exposição contra a hepatite B é a principal medida de prevenção


de hepatite B ocupacional entre profissionais de saúde. Idealmente a vacinação deverá ser
feita antes da admissão do profissional (ou estudante, estagiário) nos serviços de saúde. Está
indicada para todos aqueles que podem estar expostos aos materiais biológicos durante suas
atividades, inclusive os que não trabalham diretamente na assistência ao paciente como, por
exemplo, as equipes de higienização e de apoio. Para todos estes profissionais, a vacina está
disponível nas unidades básicas de saúde.

Não é recomendada a sorologia pré-vacinal para definir a vacinação exclusiva de


profissionais não-imunes. Excepcionalmente, em algumas situações pode-se considerar
que a realização da sorologia pré-vacinal tem uma relação custo-efetividade aceitável.
Profissionais que relatam história prévia de hepatite, mas que não sabem informar qual o
tipo viral, devem ser vacinados contra hepatite B. Provavelmente, esses casos se referem à
hepatite A e, portanto, esses profissionais são susceptíveis à infecção por HBV.

A vacina contra hepatite B é extremamente eficaz (90 a 95% de resposta vacinal em

149
Biossegurança

adultos imunocompetentes) e segura. Os efeitos colaterais são raros e, usualmente, pouco


importantes, tais como: dor discreta no local da aplicação (3 a 29%), febre nas primeiras
48-72 horas após a vacinação (1 a 6 %); mais raramente, fenômenos alérgicos relacionados a
alguns componentes da vacina; e anafilaxia (estimativa de 1:600.000 doses). A gravidez e a
lactação não são contraindicações para a utilização da vacina.

O esquema vacinal é composto por uma série de três doses da vacina com intervalos
de zero, um e seis meses. Um a dois meses após a última dose (com intervalo máximo
de 6 meses), o teste sorológico antiHBs pode ser realizado para confirmação da resposta
vacinal (presença de anticorpos protetores com títulos acima de 10 mUI/ml). A imunidade é
prolongada não sendo recomendadas doses de reforço após o esquema vacinal completo em
profissionais imunocompetentes. Observamos ainda que outras vacinas podem ser aplicadas
simultaneamente sem o risco de interferência na produção de anticorpos para as outras
vacinas.

As vacinas contra a hepatite B são constituídas por produtos que contém o antígeno
de superfície HBsAg purificado, obtido por engenharia genética. As doses recomendadas
variam conforme o fabricante do produto utilizado (de 10 a 20mcg de HBsAg/ml para
adultos). Doses maiores são recomendadas para os profissionais de saúde que apresentem
imunodeficiência e para os que têm insuficiência renal e se encontram em programas de
diálise. A aplicação da vacina deverá ser realizada sempre por via intramuscular, em região
de músculo deltóide, isto porque a aplicação em glúteos, comprovadamente, tem menor
eficácia (menor frequência de detecção do antiHBs).

Quando o esquema vacinal for interrompido não há necessidade de recomeçá-lo.


Profissionais que tenham parado o esquema vacinal após a 1ª dose deverão realizar a 2ª dose
logo que possível e a 3ª dose está indicada com um intervalo de pelo menos 2 meses da dose
anterior. Profissionais de saúde, que tenham interrompido o esquema vacinal após a 2ª dose,
deverão realizar a 3ª dose da vacina tão logo seja possível. O aumento de intervalo entre a
2ª e a 3ª doses aumenta o título final de anticorpos. Nos esquemas incompletos de vacinação
recomenda-se a comprovação da resposta vacinal através da solicitação do antiHBs um a
dois meses após a última dose (com intervalo máximo de 6 meses).

Quando não há resposta vacinal adequada após a primeira série de vacinação, grande
parte dos profissionais (até 60%) responderá a uma série adicional de 3 doses. Caso persista
a falta de resposta, não é recomendada uma revacinação. Uma alternativa que deve ser
considerada antes do início da segunda série do esquema vacinal, ou depois da comprovação
de falta de soro conversão com 6 doses da vacina (não respondedor), é a solicitação de
HBsAg, para descartar a possibilidade desses profissionais terem infecção crônica pelo HBV
e que, portanto, não estariam apresentando “resposta vacinal”. O profissional de saúde não
respondedor (sem resposta vacinal a 2 séries com 3 doses cada) deve ser considerado como
susceptível à infecção pelo HBV.

Caso ocorra uma exposição a materiais biológicos com risco conhecido, ou provável,
de infecção pelo HBV, o não respondedor deve utilizar a imunoglobulina hiperimune contra
hepatite B.

150
T É C N I C O

A imunoglobulina hiperimune contra hepatite B (IGHAHB) também deve ser


aplicada por via IM. Ela fornece imunidade provisória por um período de 3 a 6 meses após
a administração. É constituída por mais de 100.000 UI de antiHBs; sendo produzida a partir
de plasma de indivíduos que desenvolvem altos títulos de antiHBs quando são submetidos à
imunização ativa contra a hepatite B. A gravidez e a lactação não são contraindicações para
a utilização da IGHAHB.

Existe maior eficácia na profilaxia pós-exposição quando a imunoglobulina é utilizada


dentro das primeiras 24 a 48 horas após o acidente. Não existe benefício comprovado após
uma semana da exposição.

Efeitos adversos da imunoglobulina são raros e incluem febre, dor no local da


aplicação e excepcionalmente reações alérgicas. A dose recomendada é de 0,06 ml / kg de
peso corporal. Se a dose a ser utilizada ultrapassar 5ml, deve-se dividir a aplicação em duas
áreas corporais diferentes. A vacina e a IGHAHB podem ser administradas simultaneamente,
sendo indicada a aplicação em locais diferentes.

6.4.4 - Medidas relacionadas ao HCV

Não existe nenhuma medida específica eficaz para redução do risco de transmissão
do vírus da hepatite C após exposição ocupacional. Os estudos não comprovaram benefício
profilático com o uso de imunoglobulinas. Dados atualmente disponíveis sugerem que o
interferon só atua efetivamente quando a infecção pelo HCV está estabelecida, parecendo
indicar que não atuariam como profilaxia pós-exposição.

6.4.5 - Considerações sobre o paciente-fonte

O paciente-fonte deverá ser avaliado quanto à infecção pelo HIV, hepatite B e


hepatite C, no momento da ocorrência do acidente. Informações disponíveis no prontuário
sobre resultados de exames laboratoriais, história clínica prévia e diagnóstico de admissão
somente serão considerados, se positivos para determinada infecção (HIV, HBV, HCV).

Se o paciente-fonte é conhecido, mas a informação sobre doença prévia ou situação


sorológica para HIV, HBV, HCV é desconhecida, é preciso orientá-lo sobre a importância da
realização dos exames sorológicos para o profissional de saúde acidentado. O aconselhamento
prévio para realização do exame é necessário. Os exames laboratoriais devem ser colhidos,
preferencialmente, logo após o acidente. Oportunidades perdidas de coleta de amostras podem
ocorrer caso o paciente seja transferido, tenha alta ou evolua para o óbito, por exemplo. Os
resultados dos exames sorológicos devem ser sempre comunicados aos pacientes. Na presença
de qualquer evidência de infecção o paciente deverá ser encaminhado para acompanhamento
clínico-laboratorial.

Se a fonte da exposição não é conhecida ou não pode ser testada, deve-se avaliar
a probabilidade clínica e epidemiológica da infecção pelo HIV, HBV ou HCV. Algumas

151
Biossegurança

situações e tipos de exposição podem sugerir um risco aumentado ou reduzido da transmissão.


Importantes itens a serem considerados são a prevalência da infecção naquela localização,
origem do material (áreas de alto risco como serviços de emergência, centro cirúrgico,
diálise, entre outros) e a gravidade do acidente.

6.4.6 - Acompanhamento clínico-laboratorial após exposição

O acompanhamento clínico-laboratorial deverá ser realizado para todos os profissionais


de saúde acidentados que tenham sido expostos a pacientes-fonte desconhecidos ou pacientes
fonte com infecção pelo HIV e/ou hepatites B e C, independente do uso de quimioprofilaxias
ou imunizações.

É essencial reconhecer, diagnosticar e orientar:

• O surgimento de sintomas e sinais clínicos relacionados a possíveis soro conversões


(síndrome de mononucleose, hepatite aguda) e as complicações relacionadas às
contaminações (p.ex. insuficiência hepática, alterações neurológicas na infecção aguda
pelo HIV);

• As toxicidades medicamentosas ou efeitos adversos associados às imunizações, que


podem exigir o uso de medicamentos sintomáticos com a finalidade de manter a
profilaxia durante a duração prevista;

• A adesão às profilaxias indicadas, adequando-se, sempre que possível, os medicamentos


aos horários compatíveis com as atividades diárias do profissional; a não-adesão pode
ser resultado da falta de compreensão da prescrição e/ou da falta de informação sobre
as consequências da interrupção das profilaxias;

• Os aspectos psicossociais relacionados ao acidente de trabalho, como a síndrome da


desordem pós-traumática com reações de medo, angústia, ansiedade, depressão, e
reações somáticas como fadiga, cefaleia, insônia, pesadelos, anorexia, náuseas;

• A prevenção secundária das infecções durante o período de acompanhamento através


do uso de preservativos durante as relações sexuais; do não compartilhamento de
seringas e agulhas nos casos de uso de drogas injetáveis; da contraindicação da doação
de sangue, órgãos ou esperma e a importância de se evitar a gravidez, bem como a
discussão sobre a necessidade ou não de interrupção da amamentação.

O acompanhamento laboratorial do profissional de saúde acidentado deverá avaliar


possíveis toxicidades medicamentosas e condições sorológicas através da realização de:

• Exames laboratoriais específicos às profilaxias iniciadas (p.ex. hemograma, testes de


função hepática e glicemia);

• Exames sorológicos que devem ser sempre colhidos em dois momentos: a) no

152
T É C N I C O

momento do acidente com a finalidade de descartar que o profissional acidentado


não apresentasse, previamente, infecção por quaisquer desses vírus; e b) durante
todo o acompanhamento após exposições envolvendo pacientes-fonte infectados pelo
HIV, pelos vírus das hepatites B e C ou acidentes envolvendo fontes desconhecidas.
Exposições que envolvem pacientes-fonte com sorologias negativas não necessitam
da testagem sorológica inicial e do acompanhamento clínico-laboratorial – a testagem
inicial pode ser realizada nos casos em que haja interesse do profissional em conhecer
sua condição sorológica para estas infecções;

• Teste de gravidez para profissionais de saúde em idade fértil que desconhecem ou


relatam a possibilidade de gravidez.

6.4.7 - Registro de ocorrência do acidente de trabalho

Os acidentes de trabalho deverão ter um protocolo de registro com informações sobre


avaliação, aconselhamento, tratamento e acompanhamento de exposições ocupacionais que
envolvam patógenos de transmissão sanguínea.

Condições do acidente

• Data e horário da ocorrência

• Avaliação do tipo de exposição e gravidade

• Área corporal do profissional atingida no acidente

• Tipo, quantidade de material biológico e tempo de contato envolvidos na exposição

• Utilização ou não de EPI pelo profissional de saúde no momento do acidente

• Causa e descrição do acidente

• Local do serviço de saúde de ocorrência do acidente

• Detalhe do procedimento realizado no momento da exposição, incluindo tipo e marca


do artigo médico-hospitalar utilizado

Dados do paciente-fonte

• História clínica e epidemiológica

• Resultados de exames sorológicos e/ou virológicos

153
Biossegurança

• Infecção pelo HIV/aids - estágio da infecção, histórico de tratamento antirretroviral,


carga viral, teste de resistência.

Dados do profissional de saúde

• Identificação

• Ocupação

• Idade

• Datas de coleta e os resultados dos exames laboratoriais

• Uso ou não de profilaxia antirretroviral o Reações adversas ocorridas com a utilização


de antirretrovirais

• Uso ou não de imunoglobulina hiperimune e vacina para hepatite B e possíveis efeitos


adversos

• Uso de medicação imunossupressora ou história de doença imunossupressora

• Histórico de imunizações – hepatite B, resposta vacinal

• A recusa do profissional acidentado para a realização de testes sorológicos ou para o


uso das quimioprofilaxias específicas deve ser registrada e atestada pelo profissional.
Condutas indicadas após o acidente, acompanhamento clínico-epidemiológico
planejado e o responsável pela condução do caso

• Aconselhamento, manejo pós-exposição

• O Formulário específico de comunicação de acidente de trabalho deve ser preenchido


para devido encaminhamento.

6.4.8 - Orientações legais quanto à legislação trabalhista

Apesar de serem regimes jurídicos diferenciados que regem a categoria dos


trabalhadores públicos e privados, em ambas as codificações, há necessidade de ser feita a
comunicação do acidente de trabalho, sendo que para a legislação privada essa comunicação
deverá ser feita em 24h, por meio de formulário denominado CAT – Comunicação de
Acidente de Trabalho. O Regime Jurídico Único (RJU) dos funcionários da União, Lei no
8.112/90, regula o acidente de trabalho nos artigos 211 a 214, sendo que o fato classificado
como acidente de trabalho deverá ser comunicado até 10 (dez) dias após o ocorrido. Os
funcionários dos Estados e dos Municípios devem observar Regimes Jurídicos Únicos que
lhes são específicos.

154
T É C N I C O

Os medicamentos para a quimioprofilaxia, a vacina para hepatite B e a imunoglobulina


hiperimune para hepatite B devem ser disponibilizados pelos locais de trabalho públicos ou
privados. Essa é uma exigência amparada pela Legislação Trabalhista Brasileira no âmbito 37
da iniciativa privada (Consolidação das Leis Trabalhistas e suas Normas Regulamentadoras),
assim como pelo artigo 213 da RJU da União. As unidades hospitalares do setor privado
deverão ter os medicamentos de PEP e a vacina para hepatite B adquiridos sob suas expensas.

6.4.9 - Tuberculose

Alguns estudos nacionais têm demonstrado que, além do risco de infecção, o risco
de adoecimento entre profissionais da área da saúde é superior ao da população em geral.
Portanto, é fundamental que medidas de prevenção sejam adotadas nas unidades de saúde
para minimizar o problema. Dessa forma, medidas de controle da transmissão da tuberculose
são propostas pela OMS para que sejam adotadas nas Unidades de Saúde cujo ambiente
proporcione elevado risco de infecção pelo bacilo da tuberculose, transmissão de paciente
para paciente ou de paciente para profissional (FUNASA, 2002).

RECOMENDAÇÕES PARA O ATENDIMENTO DE PACIENTES COM TB

Unidades Ambulatoriais

Medidas administrativas

• Implantação da busca ativa na unidade e organização do fluxo de atendimento interno


dos pacientes suspeitos e dos já confirmados;

• Recepção de casos já diagnosticados em outras unidades, agilização e organização do


fluxo de atendimento;

• Organização da coleta e do fluxo de exames e de resultados. Não esquecer de colher a


primeira amostra no próprio serviço, no momento em que se faz a suspeição;

• Educação em saúde dos clientes - uso de lenço de papel ou máscara cirúrgica;

• Escalonamento de horários ou dias de atendimento, agendamento de consultas,


diminuir espera e aglomeração;

• Agendamento de forma diferenciada dos pacientes sabidamente multirresistentes;

• Treinamento continuado de toda a equipe: (recepcionistas, vigias, pessoal da limpeza


e o corpo técnico).

155
Biossegurança

Medidas de Controle Ambiental

• Escolha de salas adequadas quanto à ventilação e iluminação para atendimento dos


pacientes suspeitos ou com tuberculose confirmada;

• Disposição dos móveis favorecendo a dispersão do ar contaminado para o meio exterior;

• Janelas abertas;

• É recomendada instalação de exaustores ou filtros HEPA, conforme a área física, o


número e tipo de atendimento. Por exemplo, em unidades de referência para pacientes
multirresistentes; Item

• Quando necessário, reforma ou construção.

Medidas de Proteção Respiratória

• Em serviços ambulatoriais recomenda-se o uso de máscara N95 por funcionários:


responsáveis por procedimentos indutores de tosse em pacientes suspeitos de
tuberculose ou tratamento com pentamidina inalatória; que atendem pacientes
sabidamente multirresistentes durante todo o período de permanência do profissional
no consultório.

• Em serviços com grande concentração de doentes novos bacilíferos discute-se o uso


da máscara nestes atendimentos. Porém, essa indicação não é consensual, visto que é
sabido que os doentes sem tratamento são a maior fonte, além do fato que, após a saída
do doente do consultório, os bacilos ali permanecem em suspensão. Discute-se ainda,
que a máscara possa ser um fator que estimule no paciente o sentimento de rejeição,
que poderia facilitar o abandono, piorando o controle da doença, com consequente
aumento de cepas multirresistentes.

Serviços de Emergência

Medidas Administrativas Relativas à Identificação do Doente Busca Ativa de


Tuberculose:

No ingresso do paciente, identificar se: a) o doente tem tuberculose pulmonar


comprovada; b) é fortemente suspeito; c) é fracamente suspeito; d) não apresenta tosse. Em
serviços de grande porte, sugere-se a proposta TSN, criada pelo Instituto de Infectologia
Emílio Ribas na qual, no pronto-socorro, o paciente é classificado como T (bacilífero), S+
(fortemente suspeito), S- (fracamente suspeito) e N (sem tuberculose).

• Isolar em salas separadas os doentes T, S+ e S- e cuidar para que não permaneçam


nos corredores;

• Disponibilizar baciloscopias de escarro em caráter de urgência (4 horas);

156
T É C N I C O

• Estabelecer fluxos e instrumentos de encaminhamento para garantir que o paciente


diagnosticado chegue a outros serviços de saúde encarregados do seu seguimento.
Manter a listagem dos pacientes, respectivos endereços, telefones e locais para onde
foram encaminhados;

• Notificar os casos de tuberculose à vigilância epidemiológica. Os casos suspeitos


devem ser encaminhados para elucidação, tendo-se o cuidado de registrar os dados
pessoais do paciente para posterior localização.

• Relativas aos Funcionários:

• Manter registro e estatística de profissionais de saúde que adoecerem de tuberculose e


dos seus contatos.

• Treinar os funcionários novos e oferecer treinamento continuado para todos os


funcionários.

• Realizar discussões periódicas de casos com a equipe encarregada e apresentar, de


forma periódica, vídeos e outros materiais educativos.

Medidas de Controle Ambiental

São basicamente as que se aplicam aos serviços ambulatoriais e dependem do tipo de


serviço, características e quantidade da demanda. Essas medidas são:

• Evitar a recirculação do ar;

• Manter a ventilação com um mínimo de 6 a 12 trocas de ar por hora;

• Em áreas (consultórios) com grande número de atendimentos de tuberculose e/ou


referências para tuberculose multirresistente, a ventilação deve acontecer de dentro
para fora da unidade (local onde não tenha fluxo de clientes/pacientes). Outra forma de
promover a ventilação é a instalação de sistemas de exaustão, filtros HEPA e construção
ou reformas dos setores de atendimento para cumprir os requisitos de biossegurança.

Medidas de Proteção Respiratória

Recomenda-se o uso de MÁSCARAS APROPRIADAS a cada situação

Profissionais de saúde devem usar máscaras N95:

• Ao efetuar procedimentos indutores de tosse em pacientes suspeitos de tuberculose


(como inalações, tratamento com pentamidina);

• Ao entrar em enfermarias onde haja pacientes com tuberculose em fase bacilífera;

157
Biossegurança

• No transporte de pacientes bacilíferos em ambulâncias ou demais veículos fechados;

• No atendimento de pacientes sabidamente multirresistentes. - Paciente com tuberculose


bacilífera:

• Deve usar máscara cirúrgica comum ao circular pelos setores do hospital

• Proteger a boca e o nariz com lenços de papel, ou papel toalha ao tossirem.

- Laboratórios devem cumprir o Manual de Normas para Laboratórios do


Ministério da Saúde.

• Procedimentos Geradores de Tosse ou com Risco de Produção de Gotículas contendo


o Bacilo de Koch Procedimentos como o uso da pentamidina inalatória, broncoscopia,
bronco aspiração e irrigação de abscesso tuberculoso são indutores de tosse.

As medidas de proteção recomendadas são:

• Os procedimentos geradores de tosse devem ter indicação precisa e serem restritos a


casos absolutamente necessários. Evitar o uso de pentamidina por via inalatória em
doentes HIV+;

• Manter na sala um paciente por vez quando da realização desses procedimentos;

• A sala deve ser bastante ventilada e, para uma nova utilização, deve-se esperar que a
ventilação remova 99% dos contaminantes do ar;

• Uso de máscara N95 pelos funcionários;

• Manter o paciente na sala após a realização do procedimento enquanto estiver com


tosse. Instruí-lo a cobrir a boca e o nariz com um lenço de papel.

Rotina para Proteção de Profissionais de Saúde

O risco de infecção tuberculosa em profissionais de saúde depende do setor de


trabalho e do tempo de exposição. Salas de inalação para utilização de pentamidina e
outros procedimentos indutores de tosse oferecem maior risco do que áreas essencialmente
administrativas. Para a proteção, devem ser incluídas todas as categorias profissionais da
área.

O adoecimento dependerá da capacidade imunológica da pessoa. Portanto,


funcionários soropositivos para o vírus HIV ou portadores de outras imunodeficiências
estarão sujeitos a um risco maior. O tratamento efetivo tem uma alta eficácia, exceto em
casos multirresistentes.

Recomenda-se que, na admissão, o profissional de saúde seja informado e

158
T É C N I C O

periodicamente treinado sobre a tuberculose, principalmente aqueles que habitualmente


atendem os pacientes com TB. Todos os profissionais de saúde devem ser submetidos a
exame médico admissional, prova tuberculínica (PT) e pesquisa de sintomas respiratórios.
Posteriormente, prosseguir com a avaliação periódica dos sintomáticos respiratórios (SR).

7 - GERENCIAMENTO DO DESCARTE DE RESÍDUOS, FLUÍDOS,


AGENTES BIOLÓGICOS, FÍSICOS, QUÍMICOS E RADIOATIVOS

7.1 - Resíduos Sólidos

Resíduos sólidos e lixo são termos utilizados indistintamente por autores de


publicações, mas na linguagem cotidiana o termo resíduo é muito pouco utilizado. Na
linguagem corrente, o termo lixo é usualmente utilizado para designar tudo aquilo que
não tem mais utilidade, enquanto resíduo é mais utilizado para designar sobra (refugo) do
beneficiamento de produtos industrializados.

A Resolução CONAMA no 005/1993 define resíduos sólidos como: resíduos nos


estados sólido e semissólido que resultam de atividades de origem industrial, doméstica,
hospitalar, comercial, agrícola e de serviços de varrição. Ficam incluídos nesta definição os
lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e
instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades
tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para
isso soluções técnica e economicamente inviáveis em face à melhor tecnologia disponível.

Classificação:

De acordo com IPT/Cempre (2000), os resíduos sólidos podem ser classificados de


várias formas:

1) por sua natureza física: seco ou molhado;

2) por sua composição química: matéria orgânica e matéria inorgânica;

3) pelos riscos potenciais ao meio ambiente; e

4) quanto à origem.

No entanto, as normas e resoluções existentes classificam os resíduos sólidos em


função dos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde, como também, em função da
natureza e origem. Com relação aos riscos potenciais ao meio ambiente e à saúde pública a

159
Biossegurança

NBR 10.004/2004 classifica os resíduos sólidos em duas classes: classe I e classe II.

Os resíduos classe I, denominados como perigosos, são aqueles que, em função de


suas propriedades físicas, químicas ou biológicas, podem apresentar riscos à saúde e ao
meio ambiente. São caracterizados por possuírem uma ou mais das seguintes propriedades:
inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenecidade.

Os resíduos classe II denominados não perigosos são subdivididos em duas classes:


classe II-A e classe II-B. Os resíduos classe II-A - não inertes podem ter as seguintes
propriedades: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em água. Os resíduos
classe II-B - inertes não apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a
concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, com exceção dos aspectos
cor, turbidez, dureza e sabor.

Com relação a origem e natureza, os resíduos sólidos são classificados em: domiciliar,
comercial, varrição e feiras livres, serviços de saúde, portos, aeroportos e terminais
rodoviários e ferroviários, industriais, agrícolas e resíduos de construção civil. Com relação
à responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos sólidos pode-se agrupá-los em dois
grandes grupos.

O primeiro grupo refere-se aos resíduos sólidos urbanos, compreendido pelos:

• Resíduos domésticos ou residenciais;

• Resíduos comerciais;

• Resíduos públicos.

• O segundo grupo, dos resíduos de fontes especiais, abrange:

• Resíduos industriais;

• Resíduos da construção civil;

• Rejeitos radioativos;

• Resíduos de portos, aeroportos e terminais rodoferroviários;

• Resíduos agrícolas;

• Resíduos de serviços de saúde.

O sistema de limpeza urbana dos municípios é composto pelos serviços de coleta,


tratamento e disposição final dos resíduos sólidos urbanos. Incluem os serviços de varrição e
capina das ruas, desobstrução de bueiros, poda de árvores, lavagem de ruas após feiras livres e
demais atividades necessárias à manutenção da cidade, sob o aspecto de limpeza e organização.

160
T É C N I C O

No Brasil, as formas de disposição final são usualmente designadas como lixão ou


vazadouro a céu aberto, aterros controlados e aterros sanitários.

7.2 - Resíduos do serviço de saúde

Os resíduos de serviços de saúde são aqueles gerados em hospitais, clínicas,


ambulatórios, UBS(s) e similares. Apresentam como principal característica o potencial de
estarem contaminados com agentes patogênicos

A maioria dos trabalhos realizados em unidades de saúde (assistência aos pacientes)


gera resíduos com potencial de contaminação, quando seu destino for inadequado ocorre o
risco da contaminação do solo e dos lençóis freáticos (lixões e aterros ilegais), prejudicando
o meio ambiente.

Os profissionais envolvidos nos serviços de saúde estão expostos a maior risco do que
a população em geral, pois suas atividades rotineiras envolvem a manipulação dos RSS. A
consequência desta manipulação inadequada expõe estes profissionais a riscos ocupacionais
desde a equipe de limpeza, coletores de lixos, a aqueles que trabalham em aterros sanitários
não controlados.

O manejo dos resíduos infectantes gera um potencial de risco em dois níveis: na


saúde ocupacional e no meio ambiente, pois expõe a situações de risco o gerador destes
resíduos, os manipuladores e a saúde pública em geral.

A enfermagem, hoje, com seu campo de atividade ampliado, atende a assistência


individual, familiar e comunitária, que apresenta estreitas relações com a saúde ambiental.
Pode, dentre outras ações, identificar populações submetidas a riscos ambientais, atuar
na educação ambiental da comunidade, contribuir no aperfeiçoamento do conhecimento
científico do tema e transformá-lo em políticas públicas.

No campo da infecção hospitalar nas duas últimas décadas e, considerando aumento


do volume de Resíduo Sólidos de Serviços de Saúde, tornou-se necessário a realização de
legislações envolvendo os Ministérios da Saúde e do Meio Ambiente.

7.2.1 - Classificação

De acordo com a RDC ANVISA no 306/04 e Resolução CONAMA no 358/05, os


RSS são classificados em cinco grupos: A, B, C, D e E.

Grupo A - engloba os componentes com possível presença de agentes biológicos que,


por suas características de maior virulência ou concentração, podem apresentar risco
de infecção. Exemplos: placas e lâminas de laboratório, carcaças, peças anatômicas
(membros), tecidos, bolsas transfusionais contendo sangue, dentre outras.

161
Biossegurança

Grupo B - contém substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública
ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade e toxicidade. Exemplo: medicamentos apreendidos,
reagentes de laboratório, resíduos contendo metais pesados, dentre outros.

Grupo C - quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham


radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de eliminação especificados
nas normas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN, como, por exemplo,
serviços de medicina nuclear e radioterapia etc.

Grupo D - não apresentam risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao


meio ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Ex: sobras de
alimentos e do preparo de alimentos, resíduos das áreas administrativas etc.

Grupo E - materiais perfuro cortantes ou escarificantes, tais como lâminas de


barbear, agulhas, ampolas de vidro, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas,
espátulas e outros similares.

Fonte: Google

162
T É C N I C O

7.2.2 - Riscos potenciais

Os resíduos do serviço de saúde ocupam um lugar de destaque pois merecem atenção


especial em todas as suas fases de manejo (segregação, condicionamento, armazenamento,
coleta, transporte, tratamento e disposição final) em decorrência dos imediatos e graves riscos
que podem oferecer, por apresentarem componentes químicos, biológicos e radioativos.

Para a comunidade científica e entre os órgãos federais responsáveis pela definição


das políticas públicas pelos resíduos de serviços saúde (ANVISA e CONAMA) esses
resíduos representam um potencial de risco em duas situações: a) para a saúde ocupacional
de quem manipula esse tipo de resíduo, seja o pessoal ligado à assistência médica ou médico-
veterinária, seja o pessoal ligado ao setor de limpeza e manutenção; b) para o meio ambiente,
como decorrência da destinação inadequada de qualquer tipo de resíduo, alterando as
características do meio.

7.2.3 - Legislação referentes aos Resíduos dos Serviços de Saúde

Embora a responsabilidade direta pelos RSS seja dos estabelecimentos de serviços


de saúde, por serem os geradores, pelo princípio da responsabilidade compartilhada, ela se
estende a outros atores: ao poder público e às empresas de coleta, tratamento e disposição
final. A Constituição Federal, em seu artigo 30, estabelece como competência dos municípios
“organizar e prestar, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, os serviços
públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo que tem caráter essencial”.

No que concerne aos aspectos de biossegurança e prevenção de acidentes - preservando


a saúde e o meio ambiente - compete à ANVISA, ao Ministério do Meio Ambiente, ao
SISNAMA, com apoio das Vigilâncias Sanitárias dos estados, dos municípios e do Distrito
Federal, bem como aos órgãos de meio ambiente regionais, de limpeza urbana e da Comissão
Nacional de Energia Nuclear - CNEN: regulamentar o correto gerenciamento dos RSS,
orientar e fiscalizar o cumprimento desta regulamentação.

7.2.4 - Procedimentos recomendados para o acondicionamento RSS

Acondicionamento de RSS do grupo A

Os sacos para acondicionamento dos resíduos do grupo A devem estar contidos em


recipientes de material lavável, resistente à punctura, ruptura e vazamento, impermeável,
com tampa provida de Sistema de abertura sem contato manual, com cantos arredondados.
Devem ser resistentes a tombamento e respeitados os limites de peso de cada invólucro.
Os sacos devem estar identificados com simbologia da substância infectante. É proibido o
esvaziamento dos sacos ou seu reaproveitamento.

Os resíduos do grupo A que necessitam de tratamento, devem ser inicialmente


acondicionados de maneira compatível com o processo de tratamento a ser utilizado. Os

163
Biossegurança

resíduos dos grupos A1, A2 e A5 devem ser acondicionados após o tratamento, da seguinte
forma: Havendo descaracterização física das estruturas, podem ser acondicionados como
resíduos do grupo D; Se não houver descaracterização física das estruturas, devem ser
acondicionados em saco branco leitoso.

7.2.5 - Acondicionamento de RSS do grupo B

Substâncias perigosas (corrosivas, reativas, tóxicas, explosivas e inflamáveis). Devem


ser acondicionados com base nas recomendações específicas do fabricante para acondicioná-
los e descartá-los. Elas se encontram nas etiquetas de cada produto. Resíduos sólidos –
Devem ser acondicionados em recipientes de material rígido, adequados para cada tipo de
substância química, respeitadas as suas características físico-químicas e seu estado físico,
devendo ser identificados de acordo com suas especificações.

Acondicionamento de RSS do grupo D Resíduos com características semelhantes


aos domiciliares – devem ser acondicionados em sacos impermeáveis, de acordo com as
orientações dos serviços locais de limpeza urbana. Os cadáveres de animais devem ter
acondicionamento e transporte diferenciados, de acordo com o porte do animal, desde que
submetidos à aprovação pelo órgão de limpeza urbana, responsável direto ou coordenador
das etapas de coleta, transporte e disposição final.

Acondicionamento de RSS do grupo E Para os resíduos cortantes ou perfurantes, o


pré-acondicionamento deve ser em recipiente rígido, estanque, resistente à punctura, ruptura
e vazamento, impermeável, com tampa, contendo a simbologia da substância. Os materiais
perfuro cortantes (PC) devem ser acondicionados separadamente, no local de sua geração,
imediatamente após o uso. É expressamente proibido o esvaziamento desses recipientes para
o seu reaproveitamento. É proibido reencapar ou proceder a retirada manual das agulhas
descartáveis.

Os recipientes que acondicionam os PC devem ser descartados quando o preenchimento


atingir 2/3 de sua capacidade ou o nível de preenchimento ficar a 5 cm de distância da boca
do recipiente, sendo proibido o seu esvaziamento e reaproveitamento. Quando o gerador de
RSS produzir material perfuro cortante dos grupos A e B, poderá ser utilizado um único
recipiente de acondicionamento na unidade geradora, sendo que, para o descarte, deverá
ser considerado o resíduo de maior risco. Os resíduos do grupo E, gerados pelos serviços
de assistência domiciliar, devem ser acondicionados e recolhidos pelos próprios agentes de
atendimento, ou por pessoa treinada para a atividade, recolhidos pelo serviço de assistência
domiciliar, responsável pelo gerenciamento desses resíduos

164
T É C N I C O

Fonte: Anvisa

165
Biossegurança

7.2.6 - Destinação dos RSS

A partir a geração dos resíduos, são segregados, acondicionados e identificados em


sacos plásticos dispostos em lixeiras.

A coleta interna é representada pela retirada dos resíduos das lixeiras, momento em
que os sacos contendo os resíduos são lacrados e encaminhados até o abrigo temporário
ou sala de resíduos; há que se destacar que estabelecimentos de saúde que não são grandes
geradores, como as unidades básicas de saúde, não necessitam de armazenamento interno,
devido a menor quantidade de resíduos gerados.

Em seguida, os resíduos serão transportados até o abrigo externo. Os resíduos


permanecem no armazenamento externo até a coleta externa, que é realizada por caminhões
que transportam os resíduos para o tratamento e destinação final (Brasil, 2002b).

Coleta externa: consiste na remoção dos RSS do abrigo de resíduos (armazenamento


externo) até a unidade de tratamento ou disposição final, pela utilização de técnicas que
garantam a preservação das condições de acondicionamento e a integridade dos trabalhadores,
da população e do meio ambiente. Deve estar de acordo com as regulamentações dos órgãos
de limpeza urbana.

8 - REFERÊNCIAS

● ASSOCIATION FOR PRO FESSIONA LS IN INFECTION CONTROL AND EPIDE


MILOGY. APIC position paper: prevention of device mediated blood born infections to
health care workers. Am. J. Infect. Control., [S.l.], v. 26, n. 6, p. 578-580, 1998.

● BELTRAMI, E. M. et al. Risk and management of blood-born infections in health


care workers. Clin. Microbiol. Rev., [S.l.], v. 13, n. 3, p. 385-407, 2000.

● BINSFELD, P. C. Biossegurança em biotecnologia. Rio de Janeiro: Interciência,


2004. 367 p.

● BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA-ANVISA.


Higienização das mãos em serviços de saúde/ Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
– Brasília : Anvisa, 2007.

● BRASIL. Portaria nº 3.214 de 08 de junho de 1978 Aprova a Norma

166
T É C N I C O

● Regulamentadora NR - 6. Equipamento de Proteção Individual - EPI.

● Atualizada pela Portaria SIT n.º 194, de 07 de dezembro de 2010. Ministério

● do trabalho e Emprego.Brasília,2010.

● BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Biossegurança em saúde : prioridades e


estratégias de ação / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. –
Brasília : Ministério da Saúde, 2010.

● BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde / Ministério da Saúde, Agência
Nacional de Vigilância Sanitária. – Brasília : Ministério da Saúde, 2006.

● BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recomendações para atendimento e


acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico: HIV e Hepatites
B e C. Programa Nacional DST/Aids– Secretaria de Vigilância em Saúde e Programa
Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites virais- Departamento de Vigilância
Epidemiológica -Secretaria de Vigilância em Saúde. Brasília, 2004.

● BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE - FUNASA. Controle da tuberculose: uma


proposta de integração ensino-serviço. 5ª. ed. Rio de Janeiro: 2000.

● CARDO DM, CULVER DH, CIESIELSKI CA, et al. A case–control study of HIV
seroconversion in health care workers after percutaneous exposure. N Engl J Med 1997;
337: 1485-90.

● MARZIALE, Maria Helena Palucci. Segurança no trabalho de enfermagem. Rev.


Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 2, p. 1-3, Apr. 2000 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-11692000000200001&ln
g=en&nrm=iso>. access on 31 May 2016.

● MONTEIRO, A. L. C.; RUIZ, E. A. C.; PAZ, R. B. Recomendações e condutas após


exposição ocupacional de profissionais de saúde. Boletim Epidemiológico – CRT/ AIDS
– CVE, São Paulo, ano XVII, n. 1, jul. 1999.

● PORTAL EDUCAÇÃO. Biossegurança: conceito. Disponível em: http://


w w w.p o r t a le d u c a c a o.c om .b r/e n fe r m a ge m /a r t igo s /49561/ bio s s eg u r a n c a -
conceito#ixzz4AF66WJdW. Acesso em: 01/06/2016.

167
T É C N I C O

Fundamentos
da Saúde
T É C N I C O

SUMÁRIO

• 1 - CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA

1.1 - Doença

1.2 - Saúde

1.3 - Processo Saúde-Doença

1.4 - Promoção da saúde

• 2 - CONTEXTO HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA

• 3 - SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS

3.1 - PRINCÍPIOS QUE REGEM A ORGANIZAÇÃO DO SUS

3.2 - Redes de Atenção à Saúde - RAS

3.3 - Estratégia Saúde da Família- ESF

3.4 - Unidade de Pronto Atendimento - UPA

3.5 - Avanços e Desafios do SUS

3.6 - Pacto pela saúde

3.7 - Financiamentos

3.8 - Ações e Programas do SUS

• 4 - REFERÊNCIAS

171
Fundamentos da Saúde

FUNDAMENTOS DA SAÚDE

1 - CONCEITOS DE SAÚDE E DOENÇA

Este capítulo tem por objetivo apresentar as diferentes concepções sobre saúde-doença
e cuidado, de forma a relacionar as necessidades em saúde com base nas características de
uma população em um dado território; caracterizar a relação entre o processo saúde-doença
e as dinâmicas existentes de cuidado relativo à organização das ações e serviços de saúde
e as redes sociais de apoio; e tratar dos diferentes determinantes sociais do processo saúde-
doença com base nas características de uma dada população.

A definição de saúde possui implicações legais, sociais e econômicas dos estados


de saúde e doença; sem dúvida, a definição mais difundida é a encontrada no preâmbulo da
Constituição da Organização Mundial da Saúde: saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças.

1.1 - Doença

A doença não pode ser compreendida apenas por meio das medições fisiopatológicas,
pois quem estabelece o estado da doença é o sofrimento, a dor, o prazer, enfim os valores
e sentimentos expressos pelo corpo subjetivo que adoece (CANGUILHEM; CAPONI apud
BRÊTAS e GAMBA, 2006).

“Para Evans & Stoddart (1990) a doença não é mais que um constructo que guarda
relação com o sofrimento, com o mal, mas não lhe corresponde integralmente. Quadros
clínicos semelhantes, ou seja, com os mesmos parâmetros biológicos, prognóstico e
implicações para o tratamento, podem afetar pessoas diferentes de forma distinta, resultando
em diferentes manifestações de sintomas e desconforto, com comprometimento diferenciado
de suas habilidades de atuar em sociedade. O conhecimento clínico pretende balizar a
aplicação apropriada do conhecimento e da tecnologia, o que implica que seja formulado
nesses termos. No entanto, do ponto de vista do bem-estar individual e do desempenho
social, a percepção individual sobre a saúde é que conta (EVANS; STODDART, 1990).”

1.2 - Saúde

A saúde é silenciosa, geralmente não a percebemos em sua plenitude; na maior parte


das vezes apenas a identificamos quando adoecemos. É uma experiência de vida, vivenciada
no âmago do corpo individual. Ouvir o próprio corpo é uma boa estratégia para assegurar a

172
T É C N I C O

saúde com qualidade, pois não existe um limite preciso entre a saúde e a doença, mas uma
relação de reciprocidade entre ambas; entre a normalidade e a patologia, na qual os mesmos
fatores que permitem ao homem viver (alimento, água, ar, clima, habitação, trabalho,
tecnologia, relações familiares e sociais) podem causar doenças. Essa relação é demarcada
pela forma de vida dos seres humanos, pelos determinantes biológicos, psicológicos e sociais.
Tal constatação nos remete à reflexão de que o processo saúde-doença-adoecimento ocorre
de maneira desigual entre os indivíduos, as classes e os povos, recebendo influência direta do
local que os seres ocupam na sociedade (BERLINGUER apud BRÊTAS e GAMBA, 2006).

O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e cultural. Ou seja:


saúde não representa a mesma coisa para todas as pessoas. Dependerá da época, do lugar,
da classe social. Dependerá de valores individuais, dependerá de concepções científicas,
religiosas, filosóficas.

Canguilhem (apud BRÊTAS e GAMBA, 2006) considera que, para a saúde, é


necessário partir da dimensão do ser, pois é nele que ocorrem as definições do normal ou
patológico. O considerado normal em um indivíduo pode não ser em outro; não há rigidez no
processo. Dessa maneira, podemos deduzir que o ser humano precisa conhecer-se, necessita
saber avaliar as transformações sofridas por seu corpo e identificar os sinais expressos por
ele. Esse processo é viável apenas na perspectiva relacional, pois o normal e o patológico só
podem ser apreciados em uma relação.

A Organização Mundial da Saúde define a saúde como um completo bem-estar físico,


social e mental e não apenas ausência de doenças, conceito esse que evoluiu, pois saúde, em
sua concepção ampliada, é o resultado das condições de alimentação, moradia, educação,
meio ambiente, trabalho e renda, transporte, lazer, liberdade e, principalmente, acesso aos
serviços de saúde, conforme a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada no Brasil, em
1986.

Nesse contexto, direito à saúde significa a garantia, pelo Estado, de condições dignas
de vida e de acesso universal e igualitário às ações e serviços de promoção, proteção e
recuperação da saúde, em todos os seus níveis, a todos os habitantes do território nacional,
levando ao desenvolvimento pleno do ser humano em sua individualidade.

Diante da necessidade da compreensão da saúde em suas diferentes dimensões,


com o enfoque voltado para a promoção e proteção da saúde, considerando as práticas
mais integradoras em saúde, bem como as desigualdades sociais que impedem o acesso aos
serviços de saúde e à informação por parte da população como um todo, torna-se importante,
que os profissionais da área, entendam que essa compreensão nos dará subsídios para sermos
atores transformadores da sua própria saúde e da saúde dos indivíduos, família e da população
atendida através de sua prática profissional.

Com isso, percebe-se a necessidade de modificações conceituais na formação


dos profissionais e a inclusão do enfoque coletivo na educação permanente, abordando o
conceito ampliado de saúde com seus determinantes sociais e contextuais. Faz-se necessário
também a busca de novas metodologias de educação em saúde que vão além da informação,

173
Fundamentos da Saúde

promovendo a ressignificação dos conceitos do processo saúde-doença e possibilitando, de


fato, o estabelecimento de novas práticas e novos processos de trabalho em saúde (CHAGAS
A. M.; CÂMARA, S. et al, 2012).

1.3 - Processo Saúde-Doença

Apesar de todos os conceitos estabelecidos sobre saúde e doença, sabe-se que eles, ao
longo dos anos, têm sido compreendidos ou enfrentados de acordo com as diversas formas
de existir das sociedades, expressas nas diferentes culturas e formas de organização. Eles
dependem do entendimento que se tem do ser e de sua relação com o meio em que está
inserido. Esse entendimento varia de acordo com a cultura de cada lugar e o momento
histórico. Por tudo isso, a conceituação de saúde se faz tão difícil de ser fixada, uma vez
que está condicionada ao momento histórico e às condições concretas e peculiares de
existência.

Um novo instrumento intelectual para a apreensão da saúde e da doença deve levar


em conta a distinção entre a doença, tal como definida pelo sistema da assistência à saúde – e
a saúde, tal como percebida pelos indivíduos. Também, deve incluir a dimensão do bem-estar,
um conceito maior, no qual a contribuição da saúde não é a única e nem a mais importante.
O sofrimento experimentado pelas pessoas, suas famílias e grupos sociais não corresponde
necessariamente à concepção de doença que orienta os provedores da assistência, como os
profissionais da Estratégia Saúde da Família.

Por outro lado, como alternativa para a superação dos modelos causais clássicos,
centrados em ações individuais, como os métodos diagnósticos e terapêuticos, a vacinação,
a educação em saúde, ainda que dirigidos aos denominados grupos de risco, haveria que
privilegiar a dimensão coletiva do fenômeno saúde-doença, por meio de modelos interativos
que incorporassem ações individuais e coletivas. Uma nova maneira de pensar a saúde
e a doença deve incluir explicações para os achados universais de que a mortalidade e a
morbidade obedecem a um gradiente, que atravessa as classes socioeconômicas, de modo
que menores rendas ou status social estão associados a uma pior condição em termos de
saúde. Tal evidência constitui-se em um indicativo de que os determinantes da saúde estão
localizados fora do sistema de assistência à saúde.

Para Brêtas e Gamba, 2006, saúde e doença não são duas faces de uma mesma
moeda. De fato, se considerarmos um sistema de saúde, como, por exemplo, o SUS, é
possível verificar que as ações voltadas para o diagnóstico e tratamento das doenças são
apenas duas das suas atividades. Inclusão social, promoção de equidade ou de visibilidade e
cidadania são consideradas ações de saúde. O entendimento da saúde como um dispositivo
social relativamente autônomo em relação à ideia de doença, e as repercussões que este novo
entendimento traz para a vida social e para as práticas cotidianas em geral e dos serviços de
saúde em particular, abre novas possibilidades na concepção do processo saúde e doença.

O processo envolvendo adoecimento e cura tem sido influenciado, através dos tempos,

174
T É C N I C O

pelos paradigmas que regem a saúde e a doença.

RESUMO DA EVOLUÇÃO DO PROCESSO DE SAÚDE E DOENÇA NA


HISTÓRIA DA HUMANIDADE

Primeira Fase (magia ou aspectos sociais)

• Os fatores determinantes da doença provinham de forças sobrenaturais, atribuídos a


deuses ou demônios, ou forças do mal. Se fosse cristão, era considerado como uma
forma de expiação dos pecados e se fosse de outra orientação religiosa, era considerado
como possessão demoníaca.

Segunda Fase (fatores físico-químicos, os “miasmas’’)

• A teoria miasmática foi uma teoria biológica formulada por Thomas Sydenham e
Giovanni María Lancisi durante o século XVII;

• As doenças eram causadas por emanações do solo ou do ar, supostamente nocivos, como o
chorume do lixo e sujeiras que porventura vinham produzir a doença no corpo sadio;

Terceira Fase (biológica ou microbiológicas)

• A teoria bacteriológica, surgida por volta do século XIX, baseava-se no conceito


de que uma vez identificados os agentes vivos específicos de doenças, os chamados
agentes etiológicos e os seus meios de transmissão, os problemas de prevenção e
cura das doenças correspondentes estariam resolvidos, esquecendo-se dos demais
determinantes causais relacionados ao hospedeiro e ao ambiente. Essa foi a época da
teoria da unicausalidade, muito aceita no início do século XX, que considera como fator
único de surgimento de doenças um agente etiológico (vírus, bactérias, protozoários).

• Estabelece com a descoberta do microscópio e do mundo das bactérias, enfatiza-se a


ação dos germes e a consequente degradação sobre a saúde (SOUZA et al, 1997).

Quarta Fase (abordagem multicausal)

• Altera a abordagem da doença, relacionando-a a uma causalidade múltipla e


incorporando os aspetos sociais ou psicossociais no processo de adoecer, buscando
explicar o aparecimento e a manutenção da doença na coletividade como resultante da
interação do homem com os fatores biológicos, químicos e físicos. Na ABORDAGEM
MULTICAUSAL, uma única doença é proveniente de diversos fatores determinantes,
inter-relacionados e dinâmicos. A intervenção é baseada em múltipla direção de modo
a abranger os fatores multicausais.

175
Fundamentos da Saúde

1.3.1 - Saúde e Doença ao Longo da História

A natureza da saúde e da medicina representa um reflexo de muitos teóricos


médicos, entre eles pode-se citar Galeno, médico grego que documentou o conhecimento e a
especulação médica de sua época. Uma de suas ideias que permanece na humanidade desde
a Antiguidade é a saúde como equilíbrio entre as partes primárias do corpo.

Na antiguidade clássica, Galeno estabeleceu a teoria das latitudes de saúde, que se


divide em saúde, estado neutro e má-saúde. Estas dimensões podem ocorrer isoladamente
ou em combinação de umas com as outras. Assim, nove combinações são possíveis. Este
esquema foi utilizado por mais de mil anos na medicina ocidental.

Ainda na Antiguidade, acreditava-se que as doenças poderiam ser causadas por


elementos naturais ou sobrenaturais. Nesse período, a compreensão das doenças era através
da filosofia religiosa. Na medicina hindu e chinesa, a doença é resultante do desequilíbrio do
organismo humano (causas naturalizadas). As causas eram relacionadas ao ambiente físico,
aos astros, ao clima, aos insetos e aos animais. Para os gregos, fatores externos ocasionavam
as doenças. Então, para alcançar a harmonia perfeita do corpo humano deveriam ser
consideradas as estações do ano, as características do vento e da água. Inicia, nesse período,
a ideia empírica do contágio.

Na Idade Média, as causas das doenças retornam ao caráter religioso. No entanto,


no final desse período, com as crescentes epidemias, retoma-se a ideia de contágio entre
os homens, sendo as causas a conjugação dos astros, o envenenamento das águas pelos
leprosos, judeus ou por bruxarias. Ainda, no Renascimento, os estudos empíricos originam
a formação das ciências básicas e com isto surge a necessidade de descobrir a origem das
matérias que causavam os contágios. Assim, surge a teoria miasmática.

Do fim do século XVIII ao início do século XX, a medicina social foi capaz de criar
as condições de salubridade adequadas à nova sociedade, e de abrir espaço para que a prática
médica individual viesse gradativamente a ocupar o lugar central nas práticas de saúde.

No século XIX, aparece a bacteriologia e a concepção de que para cada doença há um


agente etiológico que poderia ser combatido com produtos químicos ou vacinas. O empirismo
influenciou e ainda influencia a medicina. No entanto, no século XIX se fortalece a biologia
científica, sem influência externa da filosofia. Assim, aflora a patologia celular, a fisiologia,
a bacteriologia e o desenvolvimento de pesquisas. Passa, dessa forma, a medicina de ciência
empírica para ciência experimental.

A medicina moderna direciona sua atuação para o corpo, a doença, na busca de


um estado biológico normal, exigindo, desse modo, alta tecnologia e custos elevados. Vale
ressaltar que a saúde e a doença na cultura ocidental apresentam diferentes realidades.
O conhecimento sobre o corpo é fragmentado, com perspectivas teóricas redutoras do
conhecimento biológico, psíquico e social. Nesse sentido, o conceito moderno de doença
compreende a análise estrutural da matéria/ corpo, fundamentada na anatomopatologia.

176
T É C N I C O

A multicausalidade aparece no século XX. Os fatores causadores das doenças


eram relacionados ao agente etiológico, ao hospedeiro e ao meio ambiente. Entretanto, as
causas agiam separadamente. Ainda nesse século, passa-se a considerar os fatores psíquicos
como causadores de doenças. O homem então começa a ser visto como ser biopsicossocial.
Em suma, o pensamento científico na Idade Moderna tende à redução, à objetividade e à
fragmentação do conhecimento, traduzindo os acontecimentos por meio de formas abstratas,
demonstráveis e calculáveis.

Na contemporaneidade, surge a complexidade na discussão científica na tentativa de


explicar a realidade ou sistemas vivos através de modelos que procuram não apenas integrar
as partes, descrever elementos de objetos, mas, sobretudo, levam em conta as relações
estabelecidas entre os mesmos.

Os conceitos médicos atuais representam o resultado das práxis de cuidado de saúde.


Isto é, os conceitos simplesmente se concretizam pelo modo de vida e pela comunicação
sobre a vida. Entretanto, existe mais de um conceito sobre saúde e doença que os estudos
atuais apresentam, e esses conceitos resultam das práxis normais. Esta evidência reforça a
necessidade de os profissionais não trabalharem com conceitos estagnados que impedem o
conhecimento da realidade.

Para definir saúde e a sua própria normalidade, alguns fatores têm merecido destaque
na atualidade. A princípio, quando se pensa em o normal, pensa-se na frequência de um
determinado fenômeno como sendo o estado mais comum. Assim, determinando o estado
mais frequente, determina-se o mais saudável. Esse princípio de definição é utilizado nas
diversas áreas da ciência.

No entanto, a saúde e a doença envolvem dimensões subjetivas e não apenas


biologicamente científicas e objetivas, e a normatividade que define o normal e o patológico
varia. As variações das doenças podem ser verificadas historicamente, em relação ao seu
aparecimento e desaparecimento, aumento ou diminuição de sua frequência, da menor ou
maior importância que adquirem em variadas formas de organização social.

Torna-se necessário o redimensionamento dos limites da ciência, ampliando a sua


interação com outras formas de se apreender a realidade, e é preciso inovar na forma de se
utilizar a racionalidade científica para explicar a realidade, e principalmente para agir.

Dessa maneira, a atenção à saúde, hoje, requer uma mudança na concepção de


mundo e na forma de utilizar o conhecimento em relação às práticas de saúde, voltando o
seu enfoque especialmente para a promoção da saúde. É muito mais do que uma aplicação
técnica e normativa, ou seja, a promoção da saúde está relacionada à potencialização da
capacidade individual e coletiva das pessoas para conduzirem suas vidas frente aos múltiplos
condicionantes da saúde. Isto significa que é preciso estar atento aos acontecimentos da
realidade, os quais nos mobilizam para intervir de forma mais efetiva, especialmente nos
contextos vulneráveis.

177
Fundamentos da Saúde

1.4 - Promoção da saúde

A promoção da saúde envolve escolhas relacionadas a valores e processos que não


se expressam por conceitos precisos e mensuráveis. Nesse sentido, termos novos vem sendo
desenvolvidos atualmente, tais como: empowerment e vulnerabilidade, permitindo abordagens
transdisciplinares, envolvendo outras áreas do conhecimento e muitos significados que se
originam da consideração da diferença, da subjetividade e da singularidade do que acontece
na esfera individual e coletiva.

A promoção da saúde, como uma das estratégias de produção de saúde, ou seja, como
um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no
sistema de saúde brasileiro, contribui na construção de ações que possibilitam responder às
necessidades sociais em saúde. No SUS, a estratégia de promoção da saúde é retomada como
uma possibilidade de enfocar os aspectos que determinam o processo saúde-adoecimento em
nosso País – como, por exemplo: violência, desemprego, subemprego, falta de saneamento
básico, habitação inadequada e/ou ausente, dificuldade de acesso à educação, fome,
urbanização desordenada, qualidade do ar e da água ameaçada e deteriorada; e potencializam
formas mais amplas de intervir em saúde.

2 - CONTEXTO HISTÓRICO DA SAÚDE PÚBLICA

2.1 - Análise das políticas de saúde no brasil de acordo com os períodos históricos:

De 1500 até o primeiro reinado

Desde o descobrimento até a instalação do império, o país era colonizado por exilados
e aventureiros, com isso não dispunha de nenhum modelo de atenção à saúde da população
e o governo colonizador, Portugal, não tinha interesse em criá-lo. Por esta razão, a atenção
à saúde se dava por recursos próprios da terra (plantas, ervas) e as habilidades na arte do
cuidar eram realizadas por curandeiros através do conhecimento empírico.

Com a chegada da família real no Rio de Janeiro, foi necessário criar uma organização
de estrutura sanitária mínima para recebê-los. As atividades de saúde pública até 1850 eram
limitadas apenas a delegação das atribuições sanitárias as juntas municipais e controle de
navios e saúde nos portos. Por quase um século, o objetivo principal foi manter um controle
sanitário mínimo na capital do império. O império mantinha um tipo de política de governo
unitário e centralizador, sendo este incapaz de manter e dar continuidade nas determinações
vindas dos comandos centrais.

Segundo Salles 1971, já no Brasil Colônia e no Brasil Império a escassez de


profissionais médicos era enorme, no Rio de Janeiro, em 1789, só haviam quatro médicos
exercendo a profissão. Nos outros estados brasileiros este profissional não existia. Devido

178
T É C N I C O

a abstinência de uma assistência médica estruturada, os Boticários ou farmacêuticos, se


proliferaram. A função dos boticários eram manipular as fórmulas prescritas pelos médicos,
porém eles próprios indicavam tais fórmulas, o que é comum nos dias atuais. Para receber
o título de Boticário, como não havia formação acadêmica, era necessário realizar um
acompanhamento do serviço em uma botica estabelecida há um certo período de tempo,
realizar um exame no final da supervisão, se aprovado, o candidato recebia a “carta de
habilitação”, e estava apto a instalar sua própria botica. (SALLES, 1971).

Dom João VI em 1808, fundou na Bahia o Colégio Médico-Cirúrgico no Real Hospital


Militar no município de Salvador. No mesmo ano, em Novembro, foi criada a Escola de
Cirurgia do Rio de Janeiro, anexa ao Hospital Militar. (VARGAS, 2008).

Início da república 1889 até 1930

Após a Proclamação da República, iniciou-se uma forma de organização Jurídica-


Política típica do estado capitalista. Porém essa forma de organização favorecia apenas a
burguesia clássica, especialmente a adoção do voto direto pelo sufrágio universal. Os grandes
proprietários mantinham o controle político, o chamado coronelismo, e estes impunham seus
interesses capitalistas dominantemente agrários, a eleição do Presidente da República pelo
voto direto, de quatro em quatro anos, produziu lutas efetivas em que se condensavam os
conflitos no interior do sistema.

Nesse contexto, as cidades brasileiras ficaram sujeitas às epidemias devido à falta de


um modelo sanitário para o país. O Rio de Janeiro apresentava um quadro sanitário caótico,
com a presença de inúmeras doenças graves que acometiam à população, como por exemplo
a varíola, malária, febre amarela, e posteriormente a peste, que gerou graves consequências
tanto para a saúde coletiva quanto para outros setores como o do comércio exterior, visto que
os navios estrangeiros não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro em função da
situação sanitária do município. (VARGAS, 2008).

O Presidente do Brasil, Rodrigues Alves, nomeou Oswaldo Cruz, como Diretor do


Departamento Federal de Saúde Pública, que propôs erradicar a epidemia de febre amarela
no Rio de Janeiro. Um exército de 1500 pessoas foi criado para exercer atividades de
desinfecção no combate ao mosquito vetor da febre amarela, porém a falta de esclarecimento
e as arbitrariedades cometidas pelos “guardas-sanitários” causaram revolta na população.
Este modelo, conhecido como Campanhista, foi idealizado dentro de uma visão militar onde
os fins justificavam os meios, os instrumentos de ação de maior prioridade eram o uso da
força e da autoridade.

A população revoltada com as medidas de desinfecção realizadas pelo serviço


sanitário municipal fez com que o próprio presidente Rodrigues Alves chamasse Oswaldo
Cruz ao Palácio do Catete, pedindo-lhe para, apesar de acreditar na estratégia do sanitarista,
não continuar queimando os colchões e as roupas dos doentes. Com a criação da Lei
Federal nº 1261, de 31 de Outubro de 1904, por Oswaldo Cruz, a insatisfação da população
se agravou, pois a mesma instituiu a vacinação contra a varíola, obrigatória para todo o
território nacional.

179
Fundamentos da Saúde

Com isso surge um grande movimento popular de revolta que ficou conhecido na
história como a Revolta da Vacina.

Mesmo com todas as imposições realizadas e todos os abusos cometidos no modelo


campanhista, houve importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, e a erradicação
da febre amarela na cidade do Rio de Janeiro, fortalecendo assim o modelo proposto e
tornando-o hegemônico como proposta de intervenção na área da saúde coletiva, durante
décadas. Nesta mesma época, houve a organização da diretoria geral de saúde pública por
Oswaldo Cruz, criando uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, um serviço
de engenharia sanitária e de profilaxia de febre amarela, a inspetoria de isolamento e
desinfecção, e o Instituto Soroterápico Federal, posteriormente transformando no Instituto
Oswaldo Cruz (VARGAS, 2008).

• Os elementos incorporados nas ações de saúde durante a reforma promovida por


Oswaldo Cruz foram:

• O registro demográfico, possibilitando conhecer a composição e os fatos vitais de


importância da população;

• A introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico;

• Fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa.

O sucessor de Oswaldo Cruz, Carlos Chagas em 1920, reestruturou o Departamento


Nacional de Saúde, então ligado ao Ministério da Justiça e introduziu a propaganda e a
educação sanitária na técnica rotineira de ação, inovando o modelo campanhista de Oswaldo
Cruz que era puramente fiscal e policial. Para combater a tuberculose, lepra e as doenças
venéreas foram criados órgão especializados. A assistência hospitalar, infantil e a higiene
industrial se destacaram como problemas individualizados. As atividades de saneamento
expandiram-se para outros estados, além do Rio de Janeiro e fundou-se a Escola de
Enfermagem Anna Nery.

A economia agroexportadora acentuada na monocultura cafeeira dominava a


sociedade brasileira, portanto o que se exigia do sistema de saúde era, sobretudo, uma
política de saneamento destinado aos espaços de circulação das mercadorias exportáveis
e a erradicação ou controle das doenças que poderiam prejudicar a exportação. Por esta
razão, desde o final do século passado até o início dos anos 60, predominou o modelo do
sanitarismo campanhista. (MENDES, 1992).

Com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras o modelo campanhista
deslocou a sua ação para o campo e para o combate das denominadas endemias rurais, dado ser a
agricultura a atividade hegemônica da economia da época. Este modelo de atuação foi amplamente
utilizado pela Sucam no combate a diversas endemias como Chagas, Esquistossomose, e outras,
sendo esta posteriormente incorporada à Fundação Nacional de Saúde.

180
T É C N I C O

O surgimento da Previdência Social

A economia brasileira no início do século era basicamente agroexportadora, assentada


na monocultura do café. Deu-se início ao processo de industrialização no país em decorrência
da acumulação capitalista advinda do comércio exterior que se dava principalmente no eixo
Rio-São Paulo.

Tal processo foi acompanhado de uma urbanização crescente e da utilização de


imigrantes, especialmente italianos e portugueses, como mão-de-obra nas indústrias, visto
que os mesmos já possuíam grande experiência neste setor, que já era muito desenvolvido
na Europa. Nesta época os operários não tinham nenhuma garantia trabalhista como: férias,
jornada de trabalho definida, pensão ou aposentadoria.

Os imigrantes, especialmente os italianos, traziam consigo a história do movimento


operário na Europa e dos direitos trabalhistas que já tinham sido conquistados pelos
trabalhadores europeus, e desta forma procuraram mobilizar e organizar a classe operária no
Brasil na luta pela conquista dos seus direitos.

Foram organizadas e realizadas duas greves gerais no país, uma em 1917 e a outra em
1919, devido as péssimas condições de trabalho existentes e da falta de garantia de direitos
trabalhistas. Por meio destes movimentos os operários começaram a conquistar alguns
direitos sociais. Em 24 de Janeiro de 1923, foi aprovado pelo Congresso Nacional a Lei Elóy
Chaves, marco inicial da Previdência Social no Brasil, através desta lei foram instituídas as
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s).

Devem ser feitas as seguintes considerações a respeito desta lei:

A lei deveria ser aplicada somente ao operariado urbano. Para que fosse aprovado no
Congresso Nacional, dominado na sua maioria pela oligarquia rural foi imposta a condição
de que este benefício não seria estendido aos trabalhadores rurais. Fato que na história da
previdência do Brasil perdurou até a década de 60, quando foi criado o FUNRURAL;

Outra particularidade refere-se ao fato de que as caixas deveriam ser organizadas por
empresas e não por categorias profissionais;

A criação de uma CAP também não era automática, dependia do poder de mobilização
e organização dos trabalhadores de determinada empresa para reivindicar a sua criação.

A primeira CAP criada foi a dos ferroviários, o que pode ser explicado pela importância
que este setor desempenhava na economia do país naquela época e pela capacidade de
mobilização que a categoria dos ferroviários possuía.

Segundo Possas (1981): “tratando-se de um sistema por empresa, restrito ao âmbito


das grandes empresas privadas e públicas, as CAP’s possuíam administração própria para
os seus fundos, formada por um conselho composto de representantes dos empregados e
empregadores.”

181
Fundamentos da Saúde

A comissão que administrava a CAP era composta por três representantes da


empresa, um dos quais assumindo a presidência da comissão, e de dois representantes dos
empregados, eleitos diretamente a cada três anos. O regime de representação direta das
partes interessadas, com a participação de representantes de empregados e empregadores,
permaneceu até a criação do INPS (1967), quando foram afastados do processo administrativo
(POSSAS, 1981).

O Estado não participava propriamente do custeio das Caixas, que de acordo com o
determinado pelo artigo 3º da lei Eloy Chaves, eram mantidas por: empregados das empresas
(3% dos respectivos vencimentos); empresas (1% da renda bruta); e consumidores dos
serviços das mesmas. (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 1989).

No sistema das Caixas estabelecido pela lei Eloy Chaves, as próprias empresas
deveriam recolher mensalmente o conjunto das contribuições das três fontes de receita, e
depositar diretamente na conta bancária da sua CAP. (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 1989).

Além das aposentadorias e pensões, os fundos proviam os serviços funerários,


médicos, conforme explicitado no artigo 9º da Lei Eloy Chaves:

1º - socorros médicos em caso de doença em sua pessoa ou pessoa de sua família, que
habite sob o mesmo teto e sob a mesma economia;

2º - medicamentos obtidos por preço especial determinado pelo Conselho


de Administração;

3º - aposentadoria;

4º - pensão para seus herdeiros em caso de morte. E ainda, no artigo 27, obrigava as
CAP’s a arcar com a assistência aos acidentados no trabalho.

A criação das CAP’s deve ser entendida, assim, no contexto das reivindicações
operárias no início do século, como resposta do empresariado e do estado a crescente
importância da questão social. Em 1930, o sistema já abrangia 47 caixas, com 142.464
segurados ativos, 8.006 aposentados, e 7.013 pensionistas. (VARGAS, 2008).

A crise dos anos 30

A representatividade dos partidos obedecia a uma hierarquia coerente com o peso dos
setores oligárquicos que os integravam. A política dos governadores foi a forma para qual se
reorganizou a divisão do poder entre os segmentos da classe dominante durante este período.
Entre 1922 a 1930, sucederam-se crises econômicas e políticas em que se conjugaram fatores
de ordem interna e externa, e que tiveram como efeito a diminuição do poder das oligarquias
agrárias. Em particular, atuaram no Brasil as crises internacionais de 1922 a 1929, tornando mais
agudas as contradições e instalações contra a política dos governadores. (VARGAS, 2008).

182
T É C N I C O

A crise de 1929 mobilizou temporariamente o setor agrário-exportador, redefinindo


a organização do estado, que vai imprimir novos caminhos a vida nacional. Assim é que a
crise do café, a ação dos setores agrários e urbanos vão propor um novo padrão de uso do
poder no Brasil.

Em 1930, comandada por Getúlio Vargas é instalada a revolução, que rompe com a
política do café com leite, entre São Paulo e Minas Gerais, que sucessivamente elegiam o
Presidente da República. Vitorioso o movimento, foram efetuadas mudanças na estrutura
do estado. Estas objetivavam promover a expansão do sistema econômico estabelecendo-se,
paralelamente, uma nova legislação que ordenasse a efetivação dessas mudanças. Foram
criados o “Ministério do Trabalho”, o da “Indústria e Comércio”, o “Ministério da Educação
e Saúde” e juntas de arbitramento trabalhista.

A implantação do estado novo representava o acordo entre a grande propriedade


agrária e a burguesia industrial historicamente frágil. Coube ao Estado Novo acentuar e
dirigir o processo de expansão do capitalismo no campo, de maneira a impedir que nele
ocorressem alterações radicais na estrutura da grande propriedade agrária.

Em 1937 é promulgada nova constituição que reforça o centralismo e a autoridade


presidencial (ditadura). O trabalhismo oficial e as suas práticas foram reforçadas a partir
de 1940 com a imposição de um sindicato único e pela exigência do pagamento de uma
contribuição sindical. Em 1939 regulamenta-se a justiça do trabalho e em 1943 é homologada
a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT).

A maior parte das inversões no setor industrial foi feita em São Paulo, Rio de Janeiro,
Belo Horizonte reforçando ainda mais a importância econômica e financeira desta área
na dinâmica das transformações da infraestrutura nacional, isto agravou desequilíbrios
regionais, especialmente o caso do nordeste, com grandes êxodos rurais, e a proliferação das
favelas nestes grandes centros. A crescente massa assalariada urbana passa a se constituir
no ponto de sustentação política do novo governo de Getúlio Vargas, através de um regime
corporativista.

São promulgadas as leis trabalhistas, que procuram estabelecer um contrato capital-


trabalho, garantindo direitos sociais ao trabalhador. Ao mesmo tempo, cria-se a estrutura
sindical do Estado.

Estas ações transparecem como dádivas do governo e do estado, e não como conquista
dos trabalhadores. O fundamento dessas ações era manter o movimento trabalhista contido
dentro das forças do estado. (VARGAS, 2008).

A Previdência Social no estado novo

No que tange a previdência social, a política do Estado pretendeu estender a todas as


categorias do operariado urbano organizando os benefícios da previdência. Desta forma, as
antigas CAP’s são substituídas pelos Institutos De Aposentadoria e Pensões(IAP).

183
Fundamentos da Saúde

Nestes institutos os trabalhadores eram organizados por categoria profissional


(marítimos, comerciários, bancários) e não por empresa. Em 1933, foi criado o primeiro
Instituto de Aposentadoria e Pensões: o dos Marítimos (IAPM). Seu decreto de constituição
definia, no artigo 46, os benefícios assegurados aos associados: Aposentadoria;

1. Pensão em caso de morte, para os membros de suas famílias ou para os beneficiários;

2. Assistência médica e hospitalar, com internação até trinta dias;

3. Socorros farmacêuticos, mediante indenização pelo preço do custo acrescido das


despesas de administração.

Os IAP’s foram criados de acordo com a capacidade de organização, mobilização


e importância da categoria profissional em questão. Assim, em 1933 foi criado o primeiro
instituto, o de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), em 1934 o dos Comerciários
(IAPC) e dos Bancários (IAPB), em 1936 o dos Industriários (IAPI),e em 1938 o dos
Transportadores de Cargas (IAPETEL).

Até o final dos anos 50, a assistência médica previdenciária não era importante. Os
técnicos do setor a consideram secundária no sistema previdenciário brasileiro, e os segurados
não faziam dela parte importante de suas reivindicações. Em 1949 foi criado o Serviço de
Assistência Médica Domiciliar e de Urgência (SAMDU) mantido por todos os institutos e as
caixas ainda remanescentes.

É a partir principalmente da segunda metade da década de 50, com o maior


desenvolvimento industrial, com a consequente aceleração da urbanização, e o assalariamento
de parcelas crescente da população, que ocorre maior pressão pela assistência médica via
institutos, e viabiliza-se o crescimento de um complexo médico hospitalar para prestar
atendimento aos previdenciários, em que se privilegiam abertamente a contratação de
serviços de terceiros. Segundo NICZ (1982), em 1949, as despesas com assistência médica
representaram apenas 7,3% do total geral das despesas da previdência social. Em 1960 já
sobem para 19,3%, e em 1966 já atingem 24,7% do total geral das despesas, confirmando a
importância crescente da assistência médica previdenciária.

Saúde Pública no período de 30 a 60

Na era do Estado Novo poucas foram as investidas no setor da saúde pública,


destacando-se:

a) Em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, e a pulverização


de ações de saúde a outros diversos setores como: fiscalização de produtos de origem
animal que passa para o Ministério da Agricultura (1934); higiene e segurança do
trabalho (1942) que vincula-se ao Ministério do Trabalho.

184
T É C N I C O

b) Em 1941, instituiu-se a reforma Barros Barreto, em que se destacam as seguintes ações:

- Instituição de órgãos normativos e supletivos destinados a orientar a assistência


sanitária e hospitalar;

- Criação de órgãos executivos de ação direta contra as endemias mais importantes


(malária, febre amarela, peste);

- Fortalecimento do Instituto Oswaldo Cruz, como referência nacional;

- Destaque aos programas de abastecimento de água e construção de esgotos, no


âmbito da saúde pública;

- Atenção aos problemas das doenças degenerativas e mentais com a criação de


serviços especializados de âmbito nacional (Instituto Nacional do Câncer).

A escassez de recursos financeiros associado a pulverização destes recursos e de


pessoal entre diversos órgãos e setores, aos conflitos de jurisdição e gestão, e superposição de
funções e atividades, fizeram com que a maioria das ações de saúde pública no estado novo
se reduzissem a meros aspectos normativos, sem efetivação no campo prático de soluções
para os grandes problemas sanitários existentes no país naquela época. (VARGAS, 2008).

Em 1953 foi criado o Ministério da Saúde, o que na verdade limitou-se a um mero


desmembramento do antigo Ministério da Saúde e Educação sem que isto significasse uma
nova postura do governo e uma efetiva preocupação em atender aos importantes problemas
de saúde pública de sua competência. Em 1956, foi criado o Departamento Nacional de
Endemias Rurais (DNERU), incorporando os antigos serviços nacionais de febre amarela,
malária, peste.

A lei orgânica da Previdência Social e o processo de unificação dos IAP’s

O processo de unificação dos IAPs já vinha sendo gestado desde 1941 e sofreu em
todo este período grandes resistências, pelas radicais transformações que implicava. Após
longa tramitação, a Lei Orgânica de Previdência Social só foi finalmente sancionada em
1960, acompanhada de intenso debate político a nível legislativo em que os representantes das
classes trabalhadoras se recusavam à unificação, uma vez que isto representava o abandono
de muitos direitos conquistados.

Finalmente em 1960 foi promulgada a lei 3.807, denominada Lei Orgânica da


Previdência Social, que veio estabelecer a unificação do regime geral da previdência
social, destinado a abranger todos os trabalhadores sujeitos ao regime da CLT, excluídos os
trabalhadores rurais, os empregados domésticos e naturalmente os servidores públicos e de
autarquias e que tivessem regimes próprios de previdência. Os trabalhadores rurais só viriam
a ser incorporados ao sistema 3 anos mais tarde, quando foi promulgada a lei 4.214 de 2/3/63
que instituiu o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (FUNRURAL).

185
Fundamentos da Saúde

A lei previa uma contribuição tríplice com a participação do empregado, empregador


e a União. O governo federal nunca cumpriu a sua parte, o que evidentemente comprometeu
seriamente a estabilidade do sistema. (POSSAS, 1981). O processo de unificação só avança
com movimento revolucionário de 1964, que neste mesmo ano promove uma intervenção
generalizada em todos os IAPs, sendo os conselhos administrativos substituídos por juntas
interventoras nomeadas pelo governo revolucionário. A unificação vai se consolidar em 1967.

Ações do regime militar na Previdência Social

A repressão militar seria incapaz de sozinha justificar por um longo tempo um governo
ditatorial. Diante, deste quadro, o regime instituído procura atuar através da formulação de
algumas políticas sociais na busca de uma legitimação do governo perante a população.
Visto que os IAP’s eram limitados a determinadas categorias profissionais mais mobilizadas
e organizadas política e economicamente, o governo militar procura garantir para todos os
trabalhadores urbanos e os seus dependentes os benefícios da previdência social.

O processo de unificação previsto em 1960 se efetiva em 2 de Janeiro de 1967, com a


implantação do Instituto Nacional de Previdência social (INPS), reunindo os seis Institutos
de Aposentadorias e Pensões, o Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência
(SAMDU) e a Superintendência dos Serviços de Reabilitação da Previdência Social. A criação
do INPS propiciou a unificação dos diferentes benefícios ao nível do IAP’s. Na medida em
que todo o trabalhador urbano com carteira assinada era automaticamente contribuinte e
beneficiário do novo sistema, foi grande o volume de recursos financeiros capitalizados. O
fato do aumento da base de contribuição, aliado ao fato do crescimento econômico da década
de 70 (o chamado milagre econômico), do pequeno percentual de aposentadorias e pensões
em relação ao total de contribuintes, fez com que o sistema acumulasse um grande volume
de recursos financeiros.

Ao unificar o sistema previdenciário, o governo militar se viu na obrigação de


incorporar os benefícios já instituídos fora das aposentadorias e pensões. Um destes era a
da assistência médica, que já era oferecido pelos vários IAPs, sendo que alguns destes já
possuíam serviços e hospitais próprios.

No entanto, ao aumentar substancialmente o número de contribuintes e


consequentemente de beneficiários, era impossível ao sistema médico previdenciário
existente atender a toda essa população.

Diante deste fato, o governo militar tinha que decidir onde alocar os recursos públicos
para atender a necessidade de ampliação do sistema, tendo ao final optado por direcioná-los
para a iniciativa privada.

Desta forma, foram estabelecidos convênios e contratos com a maioria dos médicos
e hospitais existentes no país, pagando-se pelos serviços produzidos (pró-labore), o que
propiciou a estes grupos se capitalizarem, provocando um efeito cascata com o aumento no
consumo de medicamentos e de equipamentos médico-hospitalares, formando um complexo
sistema médico-industrial. Este sistema foi se tornando cada vez mais complexo tanto do

186
T É C N I C O

ponto de vista administrativo quanto financeiro dentro da estrutura do INPS, que acabou
levando a criação de uma estrutura própria administrativa, o Instituto Nacional de Assistência
Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978.

Ações de Saúde Pública no regime militar

No campo da organização da saúde pública no Brasil foram desenvolvidas as


seguintes ações no período militar: a) Promulgação do Decreto Lei 200 (1967), estabelecendo
as competências do Ministério da Saúde: formulação e coordenação da política nacional
de saúde; responsabilidade pelas atividades médicas ambulatoriais e ações preventivas
em geral; controle de drogas e medicamentos e alimentos; pesquisa médico-sanitário; b)
Em 1970 criou-se a SUCAM (Superintendência de Campanhas da Saúde Pública) com a
atribuição de executar as atividades de erradicação e controle de endemias, sucedendo o
Departamento Nacional de Endemias Rurais (DENERU) e a campanha de erradicação da
malária. c) Em 1975 foi instituído no papel o Sistema Nacional de Saúde, que estabelecia de
forma sistemática o campo de ação na área de saúde, dos setores públicos e privados, para o
desenvolvimento das atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.

No entanto, o governo federal destinou poucos recursos ao Ministério da Saúde, que


dessa forma foi incapaz de desenvolver as ações de saúde pública propostas, o que significou
na prática uma clara opção pela medicina curativa, que era mais cara e que no entanto,
contava com recursos garantidos através da contribuição dos trabalhadores para o INPS.

Concluindo podemos afirmar que o Ministério da Saúde tornou-se muito mais um


órgão burocrato-normativo do que um órgão executivo de política de saúde.

1975 - A Crise

O modelo econômico implantado pela ditadura militar entra em crise. Primeiro,


porque o capitalismo a nível internacional entra num período também de crise. Segundo,
porque em função da diminuição do fluxo de capital estrangeiro para mover a economia
nacional, o país diminuiu o ritmo de crescimento. Os pobres ficaram mais pobres e os ricos
mais ricos, sendo o país um dos que apresentam um dos maiores índices de concentração de
renda a nível mundial. A população com baixos salários, contidos pela política econômica e
pela repressão, passou a conviver com o desemprego e as suas graves consequências sociais,
como aumento da marginalidade, das favelas, da mortalidade infantil.

O modelo de saúde previdenciário começa a mostrar as suas dificuldades: - Por ter


priorizado a medicina curativa, o modelo proposto foi incapaz de solucionar os principais
problemas de saúde coletiva, como as endemias, as epidemias, e os indicadores de saúde
(mortalidade infantil, por exemplo); - Aumentos constantes dos custos da medicina
curativa, centrada na atenção médico-hospitalar de complexidade crescente; - Diminuição
do crescimento econômico com a respectiva repercussão na arrecadação do sistema
previdenciário; - Incapacidade do sistema em atender a uma população cada vez maior de
marginalizados, que sem carteira assinada e contribuição previdenciária, se viam excluídos
do sistema; - Desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas de outros

187
Fundamentos da Saúde

setores e para realização de obras por parte do governo federal; Devido à escassez de
recursos para a sua manutenção, ao aumento dos custos operacionais, e ao descrédito social
em resolver a agenda da saúde, o modelo proposto entrou em crise.

Na tentativa de conter custos e combater fraudes o governo criou em 1981 o Conselho


Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS. O
plano inicia-se pela fiscalização mais rigorosa da prestação de contas dos prestadores de
serviços credenciados, combatendo-se as fraudes. O plano propõe a reversão gradual do
modelo médico-assistencial através do aumento da produtividade do sistema, da melhoria
da qualidade da atenção, da equalização dos serviços prestados as populações urbanas e
rurais, da eliminação da capacidade ociosa do setor público, da hierarquização, da criação
do domicílio sanitário, da montagem de um sistema de auditoria médico-assistencial e
da revisão dos mecanismos de financiamento do FAS. Devido ao agravamento da crise
financeira o sistema redescobre quinze anos depois a existência do setor público de saúde, e
a necessidade de se investir nesse setor, que trabalhava com um custo menor e atendendo a
uma grande parcela da população carente de assistência.

Em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto interministerial


(Previdência-Saúde-Educação), visando um novo modelo assistencial que incorporava o
setor público, procurando integrar ações curativas-preventivas e educativas ao mesmo tempo.
Assim, a Previdência passa a comprar e pagar serviços prestados por estados, municípios,
hospitais filantrópicos, públicos e universitários. (VARGAS, 2008).

O fim do regime militar

O movimento das DIRETAS JÁ (1985) e a eleição de Tancredo Neves marcaram o


fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais inclusive na área de saúde, que
culminaram com a criação das associações dos secretários de saúde estaduais (CONASS) ou
municipais (CONASEMS), e com a grande mobilização nacional por ocasião da realização
da VIII Conferência Nacional de Saúde (Congresso Nacional,1986), a qual lançou as bases
da reforma sanitária e do SUDS (Sistema Único Descentralizado de Saúde).

Estes fatos ocorreram com a eleição da Assembleia Nacional Constituinte em 1986 e


a promulgação da nova Constituição em 1988. A partir do momento em que o setor público
entrou em crise, o setor liberal começou a perceber que não mais poderia se manter e se
nutrir daquele e passou a formular novas alternativas para sua estruturação. Direcionou o
seu modelo de atenção médica para parcelas da população, classe média e categorias de
assalariados, procurando através da poupança desses setores sociais organizar uma nova
base estrutural. Em 1990 o Governo edita as Leis 8.080 e 8.142, conhecidas como Leis
Orgânicas da Saúde, regulamentando o SUS, criado pela Constituição de 1988.

188
T É C N I C O

A Constituição de 1988

A Constituição de 1988 adotou o modelo de seguridade social, abandonando o


modelo de seguro social, que já vinha sendo abolido nos anos 80. Foi estabelecida a criação
do Sistema Único de Saúde, que rompia com duas lógicas presentes nas políticas de saúde
dos trinta anos anteriores, ou seja, promovendo a mudança de um modelo de seguro social
para a seguridade social - permitindo a universalização - e a mudança do modelo de atenção
curativa da saúde para um modelo de atenção integral à população. (Carvalho, 1998:3)

A Constituição conta com um capítulo dedicado à seguridade social - que abrange


a Previdência Social, a saúde e a assistência social - dentro do qual alguns artigos dizem
respeito especificamente à saúde:

“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.
Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público
dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua
execução ser feita diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica
de direito privado. Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com
as seguintes diretrizes: I- descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II- atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais; III- participação da comunidade. Parágrafo Único. O sistema único de
saúde será financiado, nos termos do artigo 195, com recursos do orçamento da seguridade
social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, além de outras fontes.”

Ficou estabelecido “um novo pacto social”, passando a saúde a ser um direito de
todos - condição de cidadania social - e dever do Estado - ou seja, uma responsabilidade
e solidariedade do conjunto da sociedade - para a qual as clientelas seriam beneficiadas
independente de contribuírem para o financiamento do sistema.

Estes preceitos constitucionais inaugurados com a Constituição de 1988 requeriam


um padrão de financiamento adequado, o que no entanto não foi claramente determinado
pela nova Constituição. Foi criado pela Constituição o Orçamento da Seguridade Social
exclusivo para financiar previdência, saúde e assistência social.

Entretanto, os artigos da Carta que tratam das fontes de financiamento do setor


deixam dúvidas quanto à responsabilidade que cabe aos entes federativos, quanto ao papel
de cada fonte, quanto aos requisitos legais para que novas fontes de financiamento sejam
criadas posteriormente.

A regulamentação dos artigos constitucionais referentes à saúde aconteceu por meio


das leis 8.080/90 e 8.142/90. A primeira determinava “as condições para a promoção, proteção
e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes”, o
que incluía as condições para a transferência de recursos para o setor, os critérios de repasse

189
Fundamentos da Saúde

de recursos para Estados e Municípios, etc.

A lei 8.142 estabeleceu as formas de participação da comunidade na gestão do SUS,


tratou da criação dos Conselhos de Saúde, e tratou das transferências intergovernamentais
de recursos para a saúde; das possibilidades de repasse regular e automático, da distribuição
dos recursos entre Estados e Municípios. Definiu-se também que a questão do financiamento
seria de responsabilidade dos três níveis de governo: União, Estados e Municípios, mas,
como dito anteriormente, faltou clareza quanto aos critérios de definição da contribuição de
cada um dos níveis.

Com a não especificação das responsabilidades, coube ao governo federal arcar com
a maior parcela dos recursos para o setor público da saúde. Não foi definida pela Constituição
qual seria a participação da saúde no Orçamento da União, o que dependia de aprovação de
lei complementar posterior. Enquanto não fosse aprovada a lei de diretrizes orçamentárias,
havia no Ato das Disposições Transitórias da Constituição um artigo que determinava a
destinação de 30% do orçamento da seguridade social para a saúde.

A Constituição de 1988, como um todo, defendia o processo de descentralização no


país, não só do sistema de saúde, que garantisse um novo pacto federativo e novos mecanismos
de descentralização fiscal e administrativa aos Estados e Municípios. Em termos fiscais,
Estados e Municípios teriam maior autonomia para tributar e haveria um incremento nos
mecanismos de partilha de receita (as transferências intergovernamentais). A característica
principal da descentralização dos recursos tributários foi o movimento de municipalização da
receita. Tem havido um incremento na arrecadação direta dos Municípios e o fortalecimento
do sistema de transferência de impostos (principalmente através do Fundo de Participação
Municipal - FPM).

A arrecadação municipal direta apresentou um grande desempenho nos últimos anos,


passando de R$ 6.227 bilhões, em 1988, para R$18.438 bilhões, em 2000. As transferências
do Sistema Único de Saúde tiveram uma participação significativa na ampliação do volume
de receita dos Municípios. Este movimento descentralizador e de redesenho federativo foi
em parte neutralizado porque o governo federal adotou medidas, ao longo dos anos 90, que
reforçaram o seu próprio poder e capacidade de arrecadação, ao mesmo tempo em que criou
mecanismos inibidores da participação dos níveis subnacionais no processo.

Por um lado, o governo promoveu a ampliação das contribuições sociais na arrecadação


fiscal, de competência exclusiva da União, não partilhada com Estados e Municípios. Por
outro lado, o governo conseguiu inibir a atuação de Estados e Municípios através das
dificuldades para renegociar as dívidas destes. Com isso, torna-se mais difícil para os níveis
subnacionais participarem da formulação e do financiamento das políticas públicas.

190
T É C N I C O

Cenário atual da saúde no brasil

O quadro da saúde no Brasil tem se modificado nos últimos anos. Índices da década
de 40, por exemplo, demonstram que a taxa de fecundidade era de 6,2 filhos por mulher. Hoje
com as mudanças sociais, políticas e econômicas esse indicador foi reduzido para 1,9 filho
por mulher em 2009.

Segundo Otaliba Libânio, diretor do DASIS/MS, estas transformações refletem


diretamente no Sistema Único de Saúde (SUS), e representam o grande desafio atual para o
Sistema. “O Brasil assiste hoje por um lado, o rápido envelhecimento populacional e por outro
a alta obesidade de homens e mulheres e o aumento da carga de doenças crônicas. Diante
disso, temos que priorizar as intervenções sobre a redução das desigualdades geográficas,
além de aprimorar o pacto Inter federativo para o fortalecimento do SUS.

Para analisar a situação da saúde no Brasil deve-se modificar, inicialmente, o padrão


seletivo utilizado nos dias de hoje. Esse padrão limita as ações sociais e o acesso dos
segmentos mais pobres da população. Na agenda está a ampliação da oferta, a fixação de
profissionais, o cartão SUS, a rede exclusiva para o SUS, hospitais universitários, eliminação
dos subsídios e deduções fiscais para o setor privado, regulação do ciclo de inovação, a
regulamentação da Emenda Constitucional n.29 mais o aumento dos recursos para a saúde.
A Atenção Básica deve ser tratada como prioridade, há diversas dificuldades enfrentadas
nas unidades de saúde, localizadas principalmente nos municípios brasileiros, entre elas,
as filas de espera, a demora e o agravamento da situação de saúde e o exercício do poder
de influência para obtenção ou agilização de serviços. Não se pode tratar só a doença, é
preciso garantir a seguridade social que está estabelecida na Constituição Federal de 1988. A
Atenção Básica é a porta de entrada do SUS.

3 - Sistema Único de Saúde – SUS

É uma nova formulação política e organizacional para o reordenamento dos serviços


e ações de saúde estabelecida pela Constituição de 1988. O SUS não é o sucessor do INAMPS
e nem tampouco do SUDS. O SUS é o novo sistema de saúde que está em construção.

191
Fundamentos da Saúde

Chamado de Sistema Único pois segue a mesma doutrina e os mesmos princípios


organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade das três esferas autônomas
de governo federal, estadual e municipal. Assim, o SUS não é um serviço ou uma instituição,
mas um Sistema que significa um conjunto de unidades, de serviços e ações que interagem
para um fim comum. Esses elementos integrantes do sistema, referem-se ao mesmo tempo,
às atividades de promoção, proteção e recuperação da saúde.

Baseado nos preceitos constitucionais a construção do SUS se norteia pelos seguintes


princípios doutrinários:

UNIVERSALIDADE – É a garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo


e qualquer cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de acesso a todos
os serviços públicos de saúde, assim como àqueles contratados pelo poder público. Saúde é
direito de cidadania e dever do Governo: municipal, estadual e federal. A universalidade,
portanto, é um princípio finalístico, ou seja, é um ideal a ser alcançado, indicando, portanto,
uma das características do sistema que se pretende construir e um caminho para sua
construção. Para que o SUS venha a ser universal é preciso se desencadear um processo
de universalização, isto é, um processo de extensão de cobertura dos serviços, de modo
que venham, paulatinamente, a se tornar acessíveis a toda a população. Para isso, é preciso
eliminar barreiras jurídicas, econômicas, culturais e sociais que se interpõem entre a
população e os serviços.

EQUIDADE – É assegurar ações e serviços de todos os níveis de acordo com a


complexidade que cada caso requeira, more o cidadão onde morar, sem privilégios e sem
barreiras. Todo cidadão é igual perante o SUS e será atendido conforme suas necessidades
até o limite do que o sistema puder oferecer para todos. A noção de equidade diz respeito
à necessidade de se “tratar desigualmente os desiguais” de modo a se alcançar a igualdade
de oportunidades de sobrevivência, de desenvolvimento pessoal e social entre os membros
de uma dada sociedade. O ponto de partida da noção de equidade é o reconhecimento
da desigualdade entre as pessoas e os grupos sociais e o reconhecimento de que muitas
dessas desigualdades são injustas e devem ser superadas. Em saúde, especificamente, as
desigualdades sociais se apresentam como desigualdades diante do adoecer e do morrer,
reconhecendo-se a possibilidade de redução dessas desigualdades, de modo a garantir
condições de vida e saúde mais iguais para todos.

INTEGRALIDADE - É o reconhecimento na prática dos serviços de que: • cada


pessoa é um todo indivisível e integrante de uma comunidade; • as ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde formam também um todo indivisível e não podem ser
compartimentalizadas; • as unidades prestadoras de serviço, com seus diversos graus de
complexidade, formam também um todo indivisível configurando um sistema capaz de
prestar assistência integral. Enfim: “O homem é um ser integral, biopsicossocial, e deverá
ser atendido com esta visão integral por um sistema de saúde também integral, voltado a
promover, proteger e recuperar sua saúde”.

A noção de integralidade diz respeito ao leque de ações possíveis para a promoção da


saúde, prevenção de riscos e agravos e assistência a doentes, implicando a sistematização do

192
T É C N I C O

conjunto de práticas que vem sendo desenvolvidas para o enfrentamento dos problemas e o
atendimento das necessidades de saúde. A integralidade é (ou não), um atributo do modelo de
atenção, entendendo-se que um “modelo de atenção integral à saúde” contempla o conjunto
de ações de promoção da saúde, prevenção de riscos e agravos, assistência e recuperação. Um
modelo “integral”, portanto, é aquele que dispõe de estabelecimentos, unidades de prestação
de serviços, pessoal capacitado e recursos necessários, à produção de ações de saúde que vão
desde as ações inespecíficas de promoção da saúde em grupos populacionais definidos, às
ações específicas de vigilância ambiental, sanitária e epidemiológica dirigidas ao controle de
riscos e danos, até ações de assistência e recuperação de indivíduos enfermos, sejam ações
para a detecção precoce de doenças, sejam ações de diagnóstico, tratamento e reabilitação.

O princípio fundamental que articula o conjunto de leis e normas que constituem a


base jurídica da política de saúde e do processo de organização do SUS no Brasil hoje está
explicitado no artigo 196 da Constituição Federal (1988), que afirma: “A saúde é direito de
todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem a
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação”. Esse artigo traz, além da ideia central do
direito à saúde como direito de cidadania, inerente a todos aqueles que sejam brasileiros,
por nascimento ou naturalização, a noção de que cabe ao Estado a responsabilidade por
promover a saúde, proteger o cidadão contra os riscos a que ele se expõe e assegurar a
assistência em caso de doença ou outro agravo à saúde.

O SUS é a expressão mais acabada do esforço do nosso país de garantir o acesso


universal de seus cidadãos aos cuidados em saúde que necessitam para ter uma vida mais
longa, produtiva e feliz. Embora saibamos que os bons indicadores de saúde dependem de
um conjunto de políticas econômicas e sociais mais amplas (emprego, moradia, saneamento,
boa alimentação, educação, segurança etc.), é inquestionável a importância de uma política
de saúde que, para além da universalidade, garanta a equidade, a integralidade e a qualidade
do cuidado em saúde prestado aos seus cidadãos.

3.1 - Princípios que regem a organização do SUS

REGIONALIZAÇÃO e HIERARQUIZAÇÃO - Os serviços devem ser organizados


em níveis de complexidade tecnológica crescente, dispostos numa área geográfica delimitada
e com a definição da população a ser atendida. Isto implica na capacidade dos serviços em
oferecer a uma determinada população todas as modalidades de assistência, bem como o
acesso a todo tipo de tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade
(solução de seus problemas). O acesso da população à rede deve se dar através dos serviços de
nível primário de atenção que devem estar qualificados para atender e resolver os principais
problemas que demandam os serviços de saúde. Os demais, deverão ser referenciados para
os serviços de maior complexidade tecnológica. A rede de serviços, organizada de forma
hierarquizada e regionalizada, permite um conhecimento maior dos problemas de saúde da
população da área delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária,
controle de vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar
em todos os níveis de complexidade.

193
Fundamentos da Saúde

RESOLUBILIDADE - É a exigência de que, quando um indivíduo busca o atendimento


ou quando surge um problema de impacto coletivo sobre a saúde, o serviço correspondente
esteja capacitado para enfrentá-lo e resolvê-lo até o nível da sua competência.

DESCENTRALIZAÇÃO - É entendida como uma redistribuição das responsabilidades


quanto às ações e serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de
que quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá de acerto. Assim,
o que é abrangência de um município deve ser de responsabilidade do governo municipal; o
que abrange um estado ou uma região estadual deve estar sob responsabilidade do governo
estadual, e, o que for de abrangência nacional será de responsabilidade federal. Deverá
haver uma profunda redefinição das atribuições dos vários níveis de governo com um nítido
reforço do poder municipal sobre a saúde - é o que se chama municipalização da saúde.
Aos municípios cabe, portanto, a maior responsabilidade na promoção das ações de saúde
diretamente voltadas aos seus cidadãos.

PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS - É a garantia constitucional de que a população,


através de suas entidades representativas, participará do processo de formulação das políticas
de saúde e do controle da sua execução, em todos os níveis, desde o federal até o local.

Essa participação deve se dar nos Conselhos de Saúde, com representação paritária
de usuários, governo, profissionais de saúde e prestadores de serviço. Outra forma de
participação são as conferências de saúde, periódicas, para definir prioridades e linhas de
ação sobre a saúde. Deve ser também considerado como elemento do processo participativo
o dever das instituições oferecerem as informações e conhecimentos necessários para que a
população se posicione sobre as questões que dizem respeito à sua saúde.

3.2 - Redes de Atenção em Saúde - RAS

Fonte: Google

194
T É C N I C O

A Redes de Atenção à Saúde (RAS) foi desenvolvida como estratégia para superar a
fragmentação da atenção e da gestão nas Regiões de Saúde e aperfeiçoar o funcionamento
político-institucional do Sistema Único de Saúde (SUS) com vistas a assegurar ao usuário o
conjunto de ações e serviços que necessita com efetividade e eficiência.

O objetivo das RAS é promover a integração sistêmica, de ações e serviços de saúde


com provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e humanizada, bem
como incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade, eficácia clínica
e sanitária; e eficiência econômica.

Caracteriza-se pela formação de relações horizontais entre os pontos de atenção


com o centro de comunicação na Atenção Primária à Saúde (APS), pela centralidade nas
necessidades em saúde de uma população, pela responsabilização na atenção contínua e
integral, pelo cuidado multiprofissional, pelo compartilhamento de objetivos e compromissos
com os resultados sanitários e econômicos.

Fundamenta-se na compreensão da APS como primeiro nível de atenção, enfatizando


a função resolutiva dos cuidados primários sobre os problemas mais comuns de saúde e a
partir do qual se realiza e coordena o cuidado em todos os pontos de atenção.

Embora sejam inegáveis e representativos os avanços alcançados pelo SUS nos últimos
anos, torna-se cada vez mais evidente a dificuldade em superar a intensa fragmentação das
ações e serviços de saúde e qualificar a gestão do cuidado no contexto atual.

O modelo de atenção à saúde vigente fundamentado nas ações curativas, centrado no


cuidado médico e estruturado com ações e serviços de saúde dimensionados a partir da oferta
tem se mostrado insuficiente para dar conta dos desafios sanitários atuais e, insustentável
para os enfrentamentos futuros.

O cenário brasileiro caracterizado pela diversidade de contextos regionais com


marcantes diferenças socioeconômicas e de necessidades de saúde da população entre as
regiões, agravado pelo elevado peso da oferta privada e seus interesses e pressões sobre o
mercado na área da saúde e pelo desafio de lidar com a complexa inter-relação entre acesso,
escala, escopo, qualidade e custo efetividade demonstra a complexidade do processo de
constituição de um sistema unificado e integrado no Brasil.

Superar os desafios e avançar na qualificação da atenção e da gestão em saúde


requer forte decisão dos gestores do SUS enquanto protagonistas do processo instituidor e
organizador do sistema de saúde. Essa decisão envolve aspectos técnicos, éticos, culturais,
mas principalmente, implica no cumprimento do pacto político cooperativo entre as
instâncias de gestão do Sistema, expresso por uma “associação fina da técnica e da política”,
para garantir os investimentos e recursos necessários à mudança.

A solução está em inovar o processo de organização do sistema de saúde,


redirecionando suas ações e serviços no desenvolvimento das RAS para produzir impacto
positivo nos indicadores de saúde da população.

195
Fundamentos da Saúde

No Brasil, o debate em torno da busca por maior integração adquiriu nova ênfase
a partir do Pacto pela Saúde, que contempla o acordo firmado entre os gestores do SUS e
ressalta a relevância de aprofundar o processo de regionalização e de organização do sistema
de saúde sob a forma de redes como estratégias essenciais para consolidar os princípios de
Universalidade, Integralidade e Equidade, se efetivando em três dimensões:

• Pacto Pela Vida: compromisso com as prioridades que apresentam impacto sobre a
situação de saúde da população brasileira;

• Pacto em Defesa do SUS: compromisso com a consolidação os fundamentos políticos


e princípios constitucionais do SUS.

• Pacto de Gestão: compromisso com os princípios e diretrizes para a descentralização,


regionalização, financiamento, planejamento, programação pactuada e integrada,
regulação, participação social, gestão do trabalho e da educação em saúde.

Fundamentais para o uso racional dos recursos e para estabelecer o foco gerencial dos
entes de governança das RAS, estruturam-se por meio de arranjos produtivos conformados
segundo as densidades tecnológicas singulares, variando do nível de menor densidade (APS),
ao de densidade tecnológica média, (atenção secundária à saúde), até o de alta densidade
tecnológica (atenção terciária à saúde).

Atenção Básica

A Portaria do Ministério da Saúde n. 648/2006, a atenção básica caracteriza-se por


um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção
e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação
e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e
sanitárias, democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, e dirigidas a
populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária,
considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza
tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas
de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos
usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da
acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e da continuidade, da integralidade,
da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. A atenção
básica tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para sua organização de acordo
com os preceitos do Sistema Único de Saúde.

Portanto, a atenção básica é entendida como o primeiro nível da atenção à saúde no


SUS (contato preferencial dos usuários), que se orienta por todos os princípios do sistema,
inclusive a integralidade, mas emprega tecnologia de baixa densidade.

De fato, na mesma portaria, quando é descrita a infraestrutura necessária para a


atenção básica, destaca-se a unidade básica de saúde, com ou sem saúde da família, com
equipe multiprofissional composta por médico, enfermeiro, cirurgião dentista, auxiliar de

196
T É C N I C O

consultório dentário ou técnico em higiene dental, auxiliar de enfermagem ou técnico de


enfermagem e agente comunitário de saúde, entre outros.

Média complexidade

A média complexidade ambulatorial é composta por ações e serviços que visam


atender aos principais problemas e agravos de saúde da população, cuja complexidade da
assistência na prática clínica demande a disponibilidade de profissionais especializados e a
utilização de recursos tecnológicos, para o apoio diagnóstico e tratamento.

Temos, em acréscimo a esta definição, uma relação dos grupos que compõem os
procedimentos de média complexidade do Sistema de Informações Ambulatoriais (SIA): •
procedimentos especializados realizados por profissionais médicos, outros profissionais de
nível superior e nível médio;

• Cirurgias ambulatoriais especializadas;

• Procedimentos tráumato-ortopédico;

• Ações especializadas em odontologia;

• Patologia clínica;

• Anatomopatologia e citopatologia;

• Radiodiagnóstico;

• Exames ultrassonográficos;

• Diagnose;

• Fisioterapia;

• Terapias especializadas;

• Próteses e órteses;

• Anestesia.

Alta complexidade

Conjunto de procedimentos que, no contexto do SUS, envolve alta tecnologia e alto


custo, objetivando propiciar à população acesso a serviços qualificados, integrando-os aos
demais níveis de atenção à saúde (atenção básica e de média complexidade).

197
Fundamentos da Saúde

Principais áreas que compõem a alta complexidade do SUS, organizadas em redes são:

• Assistência ao paciente portador de doença renal crônica (por meio dos procedimentos
de diálise);

• Assistência ao paciente oncológico; • cirurgia cardiovascular; cirurgia vascular;


cirurgia cardiovascular pediátrica;

• Procedimentos da cardiologia intervencionista;

• Procedimentos endovasculares extra cardíacos;

• Laboratório de eletrofisiologia;

• Assistência em tráumato-ortopedia;

• Procedimentos de neurocirurgia;

• Assistência em otologia;

• Cirurgia de implante coclear;

• Cirurgia das vias aéreas superiores e da região cervical;

• Cirurgia da calota craniana, da face e do sistema estomatognático;

• Procedimentos em fissuras labiopalatais;

• Reabilitação protética e funcional das doenças da calota craniana, da face e do


sistema estomatognático;

• Procedimentos para a avaliação e o tratamento dos transtornos respiratórios do sono;

• Assistência aos pacientes portadores de queimaduras; • assistência aos pacientes


portadores de obesidade (cirurgia bariátrica);

• Cirurgia reprodutiva;

• Genética clínica;

• Terapia nutricional;

• Distrofia muscular progressiva;

• Osteogênese imperfecta;

198
T É C N I C O

• Fibrose cística e reprodução assistida.

Os procedimentos da alta complexidade encontram-se relacionados na tabela do


SUS, em sua maioria no Sistema de Informação Hospitalar, e estão também no Sistema
de Informações Ambulatoriais em pequena quantidade, mas com impacto financeiro
extremamente alto, como é o caso dos procedimentos de diálise, quimioterapia, radioterapia
e hemoterapia. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, SUS de A a Z, 2005).

Por fim, deve haver a integração entre os níveis de atenção à saúde, pois o sistema de
saúde deve ser entendido como um contínuo e não como uma situação de extremos opostos
entre integração e não integração. Dessa forma, existem graus de integração, que variam
da fragmentação absoluta à integração total. Por sua vez, a integração é um meio para
melhorar o desempenho do sistema, de modo que os esforços justificam-se na medida em
que conduzam a serviços mais acessíveis, de maior qualidade, com melhor relação custo-
benefício e satisfaçam aos usuários (OPAS, 2009).

3.3 - Estratégia Saúde da Família- ESF

Como você pode observar, a ação na Atenção Básica, principal porta de entrada
do sistema de saúde, inicia-se com o ato de acolher, escutar e oferecer resposta resolutiva
para a maioria dos problemas de saúde da população, minorando danos e sofrimentos e
responsabilizando-se pela efetividade do cuidado, ainda que este seja ofertado em outros
pontos de atenção da rede, garantindo sua integralidade (BRASIL, 2011). Para isso, é
necessário que o trabalho seja realizado em equipe, de forma que os saberes se somem e
possam se concretizar em cuidados efetivos dirigidos a populações de territórios definidos,
pelos quais essa equipe assume a responsabilidade sanitária.

A Saúde da Família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo


assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em
unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de um
número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica delimitada. As equipes
atuam com ações de promoção da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e
agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde desta comunidade. A responsabilidade
pelo acompanhamento das famílias coloca para as equipes saúde da família a necessidade de
ultrapassar os limites classicamente definidos para a atenção básica no Brasil, especialmente
no contexto do SUS.

A ESF tem um papel central na garantia da integralidade. Isto implica tomar como objeto
os problemas de saúde e seus determinantes, organizando a atenção de modo a incluir não apenas
as ações e os serviços que incidem sobre os “efeitos” dos problemas (doença, incapacidade e
morte), mas, sobretudo, atuar sobre as “causas” (condições de vida, trabalho e lazer).

A estratégia de Saúde da Família é um projeto dinamizador do SUS, condicionada


pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A velocidade de
expansão da Saúde da Família comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos

199
Fundamentos da Saúde

seus princípios. Iniciado em 1994, apresentou um crescimento expressivo nos últimos anos.
A consolidação dessa estratégia precisa, entretanto, ser sustentada por um processo que
permita a real substituição da rede básica de serviços tradicionais no âmbito dos municípios e
pela capacidade de produção de resultados positivos nos indicadores de saúde e de qualidade
de vida da população assistida.

A Saúde da Família como estratégia estruturante dos sistemas municipais de saúde


tem provocado um importante movimento com o intuito de reordenar o modelo de atenção
no SUS. Busca maior racionalidade na utilização dos demais níveis assistenciais e tem
produzido resultados positivos nos principais indicadores de saúde das populações assistidas
às equipes saúde da família.

Equipes de Saúde

O trabalho de equipes da Saúde da Família é o elemento-chave para a busca permanente


de comunicação e troca de experiências e conhecimentos entre os integrantes da equipe e
desses com o saber popular do Agente Comunitário de Saúde. As equipes são compostas, no
mínimo, por um médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes
comunitários de saúde. Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de
consultório dentário e um técnico em higiene dental.

Cada equipe se responsabiliza pelo acompanhamento de cerca de 3 mil a 4 mil e 500


pessoas ou de mil famílias de uma determinada área, e estas passam a ter corresponsabilidade
no cuidado à saúde. A atuação das equipes ocorre principalmente nas unidades básicas de
saúde, nas residências e na mobilização da comunidade, caracterizando-se: como porta de
entrada de um sistema hierarquizado e regionalizado de saúde; por ter território definido,
com uma população delimitada, sob a sua responsabilidade; por intervir sobre os fatores de
risco aos quais a comunidade está exposta; por prestar assistência integral, permanente e de
qualidade; por realizar atividades de educação e promoção da saúde.

E, ainda: por estabelecer vínculos de compromisso e de corresponsabilidade com


a população; por estimular a organização das comunidades para exercer o controle social
das ações e serviços de saúde; por utilizar sistemas de informação para o monitoramento e
a tomada de decisões; por atuar de forma intersetorial, por meio de parcerias estabelecidas
com diferentes segmentos sociais e institucionais, de forma a intervir em situações que
transcendem a especificidade do setor saúde e que têm efeitos determinantes sobre as
condições de vida e saúde dos indivíduos- famílias- comunidade.

Portanto, os profissionais de saúde, de maneira geral, e os membros da ESF, em


particular, são capacitados para a identificação de doenças e fatores de risco individuais e
coletivos (epidemiológico-sanitário-ambiental). Utilizam para tal os campos de conhecimento
da clínica e da vigilância à saúde. Estas ferramentas são, sem dúvida, imprescindíveis para a
prevenção (controle de riscos) e o controle de danos (assistência).

200
T É C N I C O

Agentes Comunitários de Saúde

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde é hoje considerado parte da Saúde da


Família. Nos municípios onde há somente o PACS, este pode ser considerado um programa de
transição para a Saúde da Família. No PACS, as ações dos agentes comunitários de saúde são
acompanhadas e orientadas por um enfermeiro/supervisor lotado em uma unidade básica de saúde.

Os agentes comunitários de saúde podem ser encontrados em duas situações distintas


em relação à rede do SUS: a) ligados a uma unidade básica de saúde ainda não organizada
na lógica da Saúde da Família; e b) ligados a uma unidade básica de Saúde da Família como
membro da equipe multiprofissional. Atualmente, encontram-se em atividade no país 204
mil ACS, estando presentes tanto em comunidades rurais e periferias urbanas quanto em
municípios altamente urbanizados e industrializados.

Valorização Profissional

O Ministério da Saúde reconhece e valoriza a formação dos trabalhadores como um


componente para o processo de qualificação da força de trabalho no sentido de contribuir
decisivamente para a efetivação da política nacional de saúde. Essa concepção da formação
busca caracterizar a necessidade de elevação da escolaridade e dos perfis de desempenho
profissional para possibilitar o aumento da autonomia intelectual dos trabalhadores, domínio
do conhecimento técnico-científico, capacidade de gerenciar tempo e espaço de trabalho,
de exercitar a criatividade, de interagir com os usuários dos serviços, de ter consciência da
qualidade e das implicações éticas de seu trabalho.

Desafios Institucionais

Como desafios institucionais para expandir e qualificar a atenção básica no contexto


brasileiro destaca-se:

1 - A expansão e estruturação de uma rede unidades básicas de saúde que permitam


a atuação das equipes na proposta da saúde da família;

2 - A contínua revisão dos processos de trabalho das equipes de saúde da família com
reforço as estruturas gerenciais nos municípios e estados;

3 - A elaboração de protocolos assistenciais integrados (promoção, prevenção,


recuperação e reabilitação) dirigidos aos problemas mais frequentes do estado de
saúde da população, com indicação da continuidade da atenção, sob a lógica da
regionalização, flexíveis em função dos contextos estaduais, municipais e locais;

4 - Ações que visem o fortalecimento das estruturas gerenciais nos municípios e


estados com vistas a: programação da atenção básica, supervisão das equipes,
supervisão dos municípios, supervisão regional, uso das informações para a tomada
de decisão;

201
Fundamentos da Saúde

5 - Revisão dos processos de formação, educação em saúde com ênfase na educação


permanente das equipes, coordenações e gestores;

6 - A definição de mecanismos de financiamento que contribuam para a redução das


desigualdades regionais e para uma melhor proporcionalidade entre os três níveis de
atenção;

7 - A institucionalização de processos de acompanhamento, monitoramento e


avaliação da atenção básica;

8 - Ações articuladas com as instituições formadoras para promover mudanças


na graduação e pós-graduação dos profissionais de saúde, de modo a responder
aos desafios postos pela expansão e qualificação da atenção básica, incluindo aí a
articulação com os demais níveis de atenção.

Desempenho

• Modelo de Atenção à Saúde do Brasil é referência internacional.

• Estratégia Saúde da Família como desenhada no caso Brasileiro é destaque e modelo


para outros países.

• Atenção Básica em Saúde é a pauta política dos gestores públicos.

• A estratégia Saúde da Família está consolidada nos municípios brasileiros.

• Estudos acadêmicos em curso demonstram que a Saúde da Família no período de 1992


a 2002 apresenta indicadores animadores como a redução da mortalidade infantil.

• Pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, em parceria com a Universidade de


São Paulo e Universidade de Nova York, demonstra que a cada 10% de aumento de
cobertura o índice de mortalidade infantil cai em 4,6%.

• Aumento da satisfação dos usuários quanto ao atendimento recebido resultado das


mudanças das práticas das equipes de saúde.

Responsabilidades das Esferas Gestoras em Atenção Básica

Federal

• Elaborar as diretrizes da política nacional de atenção básica;

• Co-financiar o sistema de atenção básica;

• Ordenar a formação de recursos humanos;

202
T É C N I C O

• Propor mecanismos para a programação, controle, regulação e avaliação da atenção


básica;

• Manter as bases de dados nacionais.

Estadual

• Acompanhar a implantação e execução das ações de atenção básica em seu território;

• Regular as relações intermunicipais;

• Coordenar a execução das políticas de qualificação de recursos humanos em seu


território;

• Co-financiar as ações de atenção básica;

• Auxiliar na execução das estratégias de avaliação da atenção básica em seu território.

Municipal

• Definir e implantar o modelo de atenção básica em seu território;

• Contratualizar o trabalho em atenção básica;

• Manter a rede de unidades básicas de saúde em funcionamento (gestão e gerência);

• Co-financiar as ações de atenção básica;

• Alimentar os sistemas de informação;

• Avaliar o desempenho das equipes de atenção básica sob sua supervisão.

3.4 - Unidade de Pronto Atendimento- UPA

Como citado anteriormente, o SUS encontra-se estruturado em três níveis de atenção


à saúde - atenção básica, de média e alta complexidade. Cada um desses componentes da rede
assistencial deve participar da Atenção às Urgências respeitando-se os limites de sua complexidade
e capacidade de resolução. É esperado que a população que necessita de atendimento possa
ser acolhida em qualquer nível de atenção e encaminhada para os demais níveis quando a
complexidade do atendimento exigido ultrapasse a capacidade de assistência do serviço.

A falta de articulação, no entanto, entre esses setores, somado ao aumento dos casos
de acidentes e violência urbana, nos últimos anos, causou a superlotação das emergências
hospitalares e prontos-socorros, transformando essa área numa das mais problemáticas do
sistema de saúde.

203
Fundamentos da Saúde

Com o intuito de desafogar as unidades de atendimento a urgência e emergência,


chamados de Pronto Socorro, até então centralizado nos grandes Hospitais Gerais, o SUS
promove a descentralização desta atividade criando uma unidade de atendimento específico
a essas ações, as Unidades de Pronto Atendimento (UPA).

As UPA’s representam uma nova vertente no cenário atual dos ambientes hospitalares,
contemplando a sociedade com uma estrutura intermediária entre as unidades básicas
de saúde e as portas hospitalares de urgência. As Unidades supracitadas ocupam o nível
intermediário de complexidade entre as Unidades Básicas de Saúde (atenção básica) e a
média e alta complexidade, integrando a Rede Pré-Hospitalar Fixa.

Devem funcionar 24 horas por dia, realizando triagem classificatória de risco,


prestando atendimento resolutivo aos pacientes acometidos por quadros agudos ou crônicos
agudizados, casos de baixa complexidade, à noite e nos finais de semana, quando a rede
básica e a Estratégia de Saúde da Família não estão ativas, dessa maneira, também, entreposto
de estabilização do paciente crítico para o Serviço de Atendimento Pré-Hospitalar Móvel
(SAMU), e constrói fluxos coerentes e efetivos de referência e contra referência com outras
instituições e serviços de saúde do sistema locorregional.8

A triagem classificatória de risco, segundo a Portaria n. 2048/02, deve ser executada


por profissional de nível superior treinado, e respeitar protocolos de avaliação de urgência,
priorizando os casos mais graves para atendimento preferencial.

A Portaria n. 1020, de 13 de maio de 2009, que estabelece diretrizes para a implantação


do componente Pré-Hospitalar fixo, a qual define as competências e responsabilidades das
UPA’s, utiliza o termo “acolhimento” em vez de “triagem”, conforme preconizado pelo
Humaniza SUS, que entende triagem como uma prática de exclusão.

Entre os profissionais que atuam nas Unidades estão: coordenador ou gerente, médico
clínico geral, médico pediatra, enfermeiro, técnico/ auxiliar de enfermagem, técnico de
radiologia, auxiliar de serviços gerais, auxiliar administrativo e, quando houver laboratório
na unidade, também deverão contar com bioquímico, técnico de laboratório e auxiliar de
laboratório. A equipe de enfermagem está inserida no novo serviço, fazendo parte da equipe
que acolhe, assiste e participa do processo de referência e contra referência dos pacientes.

3.5 - Avanços e Desafios do SUS

O atual sistema de saúde brasileiro vive um momento de intensos avanços, mas ainda
de muitos desafios a serem superados. Podemos descrever como avanços o que se refere à
oferta de diversos programas, projetos e políticas que têm apresentado resultados inegáveis e
exitosos para a população brasileira, que incluem a evolução das equipes do Programa Saúde
da Família, do Programa Nacional de Imunizações, do Sistema Nacional de Transplantes,
sendo o segundo país do mundo em número de transplantes, do Programa de Controle de
HIV/AIDS, reconhecido internacionalmente pelo seu progresso no atendimento às Doenças
Sexualmente Transmissíveis/AIDS, entre outros (Brasil, 2006).

204
T É C N I C O

Como desafios, podemos enumerar aqueles referentes aos problemas de implementação,


implantação, financiamento e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), fato que, para ser
compreendido, merece uma análise mais detalhada, fazendo-se necessário um resgate do
processo de construção do sistema de saúde no Brasil a partir da construção do SUS.

O Sistema Único de Saúde, como responsável por ações de promoção, prevenção


e recuperação de saúde, apresenta propostas legislativas completas para um sistema de
saúde nacional. Porém, num país com dimensões territoriais continentais como o Brasil, que
enfrenta uma série de desafios sociais, econômicos, políticos, com inúmeras desigualdades,
sua efetivação torna-se de difícil realização. São diversos os problemas a enfrentar, a começar
pela situação de vida dos cidadãos.

Pode-se dizer que o SUS enfrenta uma problematização dicotômica entre o que está
escrito e o que é realizado. A descrença do povo brasileiro num sistema de saúde para todos
leva milhões de pessoas a procurar por serviços, planos ou seguradoras de saúde privados,
pagando, por conseguinte, abusivos valores, especialmente para a população de faixa etária
mais avançada que, em função do aumento da expectativa de vida e dos agravos da terceira
idade, é a que mais necessita. Esse fato sustenta-se na perspectiva de que um dos temas com
maiores demandas recebidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) consiste
no aumento da mensalidade de operadoras e planos de saúde (Brasil, 2007).

Porém, o sistema de saúde suplementar é importante num país com desigualdades


sociais acentuadas, como o Brasil, onde existe uma grande concentração de renda, tornando-
se necessária a utilização do sistema privado por aqueles que possam, o qual tem estabelecido
maiores parcerias com o SUS, em caráter complementar de ações, devido à insuficiência na
disponibilidade e oferta de determinados serviços públicos. Essa participação do setor privado
no SUS é mais pronunciada na atenção hospitalar e na oferta de serviços especializados
de alto custo e densidade tecnológica, que o sistema público não pôde alcançar devido à
insuficiência de investimentos (Vasconcelos e Pasche, 2006).

A complexidade do SUS, as dificuldades loco regionais, a fragmentação das políticas


e programas de saúde, a qualificação da gestão e do controle social, a organização de uma
rede regionalizada e hierarquizada de ações e serviços de saúde têm se constituído em
desafios permanentes na consolidação do Sistema Único de Saúde. A dificuldade dos gestores
para promover a integração entre estados, municípios e as redes assistenciais estatais com
os serviços de abrangência nacional tem levado a problemas no acesso aos serviços e ao
comprometimento da universalidade e integralidade (Vasconcelos, 2005).

Assim, diversos usuários não usufruem do direito universal à saúde. A existência


de gestores mais preocupados com campanhas políticas eleitorais do que com a saúde dos
seus cidadãos leva a falhas graves no sistema e o mais prejudicado com isso é o próprio
povo. Nesse sentido, a melhoria na gestão reflete-se, consequentemente, num melhor aporte
financeiro do setor, com um equânime repasse de recursos, melhor utilização e aplicação
desse investimento, maior remuneração salarial para os profissionais da saúde, com o
possível estabelecimento de vínculos, hoje ainda bastante precários, gerando desmotivação e
desestímulo entre os servidores.

205
Fundamentos da Saúde

3.6 - Pacto pela saúde

Na linha do tempo da saúde brasileira, muitas iniciativas foram tomadas para


a implementação do SUS, a partir de 1990, com forte ênfase na descentralização e
municipalização das ações de saúde. Esse processo de descentralização ampliou o contato
de gestores e profissionais da saúde com a realidade social, política e administrativa do país.
Evidenciaram-se, com maior clareza, as diferenças regionais, tornando mais complexa a
organização de uma rede de serviços que atendesse às diferentes necessidades dos brasileiros.
Em princípio, a responsabilidade pela gestão do SUS era dos três níveis de governo, e as
normas operacionais vinham regulamentando as relações e responsabilidades dos diferentes
níveis até 2006, momento em que se instituiu o Pacto pela Saúde, um conjunto de reformas nas
relações institucionais e no fortalecimento da gestão do SUS. O pacto introduziu mudanças nas
relações entre os entes federados, inclusive nos mecanismos de financiamento, significando,
portanto, um esforço de atualização e aprimoramento do SUS. Para a adesão dos gestores ao
pacto, é assinado um termo de compromisso, no qual se estabelecem compromissos entre os
gestores em três dimensões: Pacto pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão.

No Pacto pela Vida são firmados compromissos em torno de medidas que resultem em
melhorias da situação de saúde da população brasileira. A partir dele, definem-se prioridades
e metas a serem alcançadas nos municípios, regiões, estados e país.

Atualmente são oito as prioridades em vigência:

1. Saúde do idoso;

2. Controle do câncer do colo do útero e da mama;

3. Redução da mortalidade infantil e materna;

4. Fortalecimento da capacidade de resposta às doenças emergentes e endemias, com


ênfase na dengue, hanseníase, tuberculose, malária, influenza, hepatite e AIDS;

5. Promoção da saúde;

6. Fortalecimento da Atenção Básica;

7. Saúde Mental; 8. Saúde do Homem.

O Pacto em Defesa do SUS firma-se em torno de ações que contribuam para aproximar
a sociedade brasileira do SUS, seguindo estas diretrizes:

1. A repolitização da saúde, como movimento que retoma a Reforma Sanitária


Brasileira, atualizando as discussões em torno dos desafios atuais do SUS;

206
T É C N I C O

2. Promoção da cidadania como estratégia de mobilização social tendo a questão da


saúde como direito;

3. Garantia de financiamento de acordo com as necessidades do Sistema.

Na dimensão do Pacto de Gestão são abordados:

1. A regionalização;

2. A qualificação do processo de descentralização e ações de planejamento e


programação;

3. Mudanças no financiamento.

Na adesão ao pacto, os gestores assinam em conjunto o Termo de Compromisso, no


qual constam nos eixos prioritários as metas a serem atingidas anualmente ou bianualmente.
Existe um sistema informatizado de monitoramento, o SISPACTO, que contém indicadores
e metas atingidas do ano anterior e as pactuadas para o ano seguinte. São em torno de
40 indicadores, tais como: coeficiente de mortalidade infantil; cobertura de Programa de
Saúde da Família; proporção de internação por complicação de diabetes; proporção de sete
consultas ou mais de pré-natal; cobertura de primeira consulta odontológica programática,
entre outros. Esse é mais um esforço para se traduzir, na prática, as grandes diretrizes do
SUS construídas ao longo de muitos anos. Sem a atuação concreta dos gestores municipais,
do controle social, e, principalmente do aperfeiçoamento do trabalho de cada equipe, o
SUS permanecerá “no papel”, sem ter um papel realmente transformador no cuidado aos
brasileiros. Esse é o desafio ao se pensar o SUS como política. Não uma abstração, mas um
conjunto de ações concretas capazes de transformar, para melhor, a vida das pessoas.

3.7 - Financiamentos

Os investimentos e o custeio do SUS são feitos com recursos das três esferas de
governo federal, estadual e municipal. Os recursos federais para o SUS provêm do
orçamento da Seguridade Social (que também financia a Previdência Social e a Assistência
Social) acrescidos de outros de outros recursos da União, constantes da Lei de Diretrizes
Orçamentárias, aprovada anualmente pelo Congresso Nacional.

Esses recursos, geridos pelo Ministério da Saúde, são divididos em duas partes: uma
é retida para o investimento e custeio das ações federais; e a outra é repassada às secretarias
de saúde, estaduais e municipais, de acordo com critérios previamente definidos em função
da população, necessidades de saúde e rede assistencial.

207
Fundamentos da Saúde

Em cada estado, os recursos repassados pelo Ministério da Saúde são somados aos
alocados pelo próprio governo estadual, de suas receitas, e geridos pela respectiva secretaria
de saúde, através de um fundo estadual de saúde. Desse montante, uma parte fica retida para
as ações e os serviços estaduais, enquanto outra parte é repassada aos municípios, de acordo
também com critérios específicos.

Finalmente, cabe aos próprios municípios destinar parte adequada de seu próprio
Orçamento para as ações e serviços de saúde de sua população. Assim, cada município irá
gerir os recursos federais repassados a ele e os seus próprios recursos alocados pelo governo
municipal para o investimento e custeio das ações de saúde de âmbito municipal. Também os
municípios administrarão os recursos para a saúde através de um fundo municipal de saúde.

A criação dos fundos é essencial, pois asseguram que os recursos da saúde sejam
geridos pelo setor saúde, e não pelas secretarias de fazenda, em caixa único, estadual ou
municipal, sobre o qual a Saúde tem pouco acesso.

3.8 - Ações e Programas do SUS

O conceito abrangente de saúde, definido na nova Constituição deverá nortear a


mudança progressiva dos serviços, passando de um modelo assistencial centrado na doença
e baseado no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à saúde,
onde haja a incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas
propriamente ditas de recuperação.

Para melhor identificar quais os principais grupos de ações de promoção, de proteção


e de recuperação da saúde, a serem desenvolvidas prioritariamente é necessário conhecer
as principais características do perfil epidemiológico da população, não só em termos de
doenças mais frequentes, como também em termos das condições socioeconômicas da
comunidade, dos seus hábitos e estilos de vida, e de suas necessidades de saúde, sentidas ou
não-sentidas, aí incluída, por extensão, a infraestrutura de serviços disponíveis.

Ações de promoção e proteção de saúde: esses grupos de ações podem ser


desenvolvidos por instituições governamentais, empresas, associações comunitárias e
indivíduos. Tais ações visam à redução de fatores de risco, que constituem ameaça à saúde
das pessoas, podendo provocar-lhes incapacidades e doenças. Esses grupos compreendem
um elenco bastante vasto e diversificado de ações, de natureza eminentemente preventiva,
que, em seu conjunto, constituem um campo de aplicação precípua do que se convencionou
chamar, tradicionalmente, de Saúde Pública, ou seja: o diagnóstico e tratamento científico
da comunidade.

No campo da promoção, são exemplos de ações: educação em saúde, bons padrões de


alimentação e nutrição, adoção de estilos de vida saudáveis, uso adequado e desenvolvimento
de aptidões e capacidades, aconselhamentos específicos, como os de cunho genético e sexual.
Através dessas ações, são estimuladas as práticas da ginástica e outros exercícios físicos, os
hábitos de higiene pessoal, domiciliar e ambiental e, em contrapartida, desestimulados o

208
T É C N I C O

sedentarismo, o tabagismo, o alcoolismo, o consumo de drogas, a promiscuidade sexual. No


desenvolvimento dessas ações devem ser utilizados, de forma programática e sistemática,
com emprego de linguagem adequada ao público-alvo, os diferentes meios e veículos
disponíveis de comunicação ao alcance da comunidade: cartazes, rádio, jornal, televisão,
alto-falantes, palestras e debates em escolas, associações de bairro, igrejas, empresas, clubes
de serviço e lazer, dentre outros.

No campo da proteção, são exemplos de ações: vigilância epidemiológica, vacinações,


saneamento básico, vigilância sanitária, exames médicos e odontológicos periódicos, entre
outros. Através da vigilância epidemiológica, são obtidas as informações para conhecer
e acompanhar, a todo momento, o estado de saúde da comunidade e para desencadear,
oportunamente, as medidas dirigidas à prevenção e ao controle das doenças e agravos à
saúde.

A vigilância sanitária busca garantir a qualidade de serviços, meio ambiente de


trabalho e produtos (alimentos, medicamentos cosméticos, sanitários, agrotóxicos e outros),
mediante a identificação, o controle ou a eliminação de fatores de risco à saúde, neles
eventualmente presentes. São exemplos de serviços sujeitos à vigilância sanitária: unidades
de saúde, restaurantes, academias de ginástica, institutos de beleza, piscinas públicas, etc.
No meio ambiente, a vigilância sanitária procura evitar ou controlar a poluição do ar, do solo,
da água, a contaminação por agrotóxicos, o uso do mercúrio nos garimpos, etc.

Nos locais de trabalho, a vigilância sanitária preocupa-se, por exemplo em assegurar


condições ambientais satisfatórias (iluminação, temperatura, umidade, ventilação, nível
sonoro), adequação ergométrica de máquinas, equipamentos e móveis e eliminação de
substâncias e produtos que podem provocar doenças ocupacionais. Em relação aos produtos,
a vigilância sanitária não se limita apenas à fiscalização dos artigos já expostos ao consumo,
mas efetua, com prioridade, a inspeção sanitária e técnica das respectivas linhas de
fabricação, de modo a evitar a sua comercialização em condições insatisfatórias de segurança
e qualidade.

Todos esses grupos de ações geralmente têm o suporte de legislação específica, na qual
são inseridas as normas e regulamentos de proteção à saúde, com vistas à sua observância
por todos. Todas as ações de promoção e proteção da saúde acima descritas, podem e devem
ser exercidas (ou desencadeadas), também, durante o atendimento nas unidades de saúde,
ambulatoriais e hospitalares, com objetivos e técnicas adequados a estes locais.

Ações de recuperação - esse grupo de ações envolve o diagnóstico e o tratamento


de doenças, acidentes e danos de toda natureza, a limitação da invalidez e a reabilitação.
Essas ações são exercidas pelos serviços públicos de saúde (ambulatórias e hospitalares) e, de
forma complementar, pelos serviços particulares, contratados ou conveniados, que integram
a rede do SUS, nos níveis federal, estadual e municipal, particularmente nos dois últimos,
onde deve estar concentrada a maior parte dessas atividades.

De todo modo, nesses serviços as ações típicas são: consultas médicas e odontológicas,
a vacinação, o atendimento de enfermagem, exames diagnósticos e o tratamento, inclusive

209
Fundamentos da Saúde

em regime de internação, e em todos os níveis de complexidade. A realização de todas essas


ações para a população deve corresponder às suas necessidades básicas, e estas transparecem
tanto pela procura aos serviços (demanda), como pelos estudos epidemiológicos e sociais de
cada região (planejamento da produção de serviços).

O diagnóstico deve ser feito o mais precocemente possível, assim como o tratamento
deve ser instituído de imediato, de modo a deter a progressão da doença. Por isso, os serviços
de saúde, especialmente os de nível primário de assistência, devem buscar o adequado
desempenho dessas duas ações fundamentais de recuperação da saúde - o diagnóstico e o
tratamento - visto que tais serviços representam a porta de entrada do sistema de saúde, onde
a população toma os seus primeiros contatos com a rede assistencial.

O tratamento deve ser prestado ao paciente portador de qualquer alteração de sua


saúde, desde uma afecção corriqueira, cujo atendimento pode ser efetuado por pessoal
de nível elementar, até uma doença mais complexa, que exige a atenção por profissional
especializado e tecnologia avançada.

O tratamento deve ser conduzido, desde o início, com a preocupação de impedir o


surgimento de eventuais incapacidades decorrentes das diferentes doenças e danos.

A reabilitação consiste na recuperação parcial ou total das capacidades no processo de


doença e na reintegração do indivíduo ao seu ambiente social e a sua atividade profissional.
Com essa finalidade, são utilizados não só os serviços hospitalares como os comunitários,
visando a reeducação e treinamento, ao reemprego do reabilitado ou à sua colocação seletiva,
através de programas específicos junto ás indústrias e ao comércio, para a absorção dessa
mão-de-obra.

As ações de recuperação da saúde, na maior parte das vezes podem e devem ser
planejadas, através de estudos epidemiológicos, definição de cobertura e concentração das
ações ambulatoriais e hospitalares, aplicando-se parâmetros de atendimento No caso da
atenção a grupos de risco, a previsão e planejamento destas ações tornam-se conjugadas às
ações de promoção e proteção. Assim vistas, as ações de recuperação da saúde devem ser
também geradas no diagnóstico e tratamento científico da comunidade, integrando junto às
ações promotoras e protetoras, o que podemos chamar de moderna Saúde Pública.

210
T É C N I C O

4 - REFERÊNCIAS

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Brasília (DF): Ministério da Saúde; 1986.

● ______. Portaria GM/MS 399 de 22 de fevereiro de 2006. Divulga o Pacto pela


Saúde 2006 – consolidação do SUS e aprova as diretrizes operacionais do referido pacto.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 fev. 2006. Seção 1, p. 43-51.

● ______. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional


de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização
da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes
Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial [da República Federativa do Brasil],
Brasília, n.204, p.55, 24 out. 2011. Seção 1, pt1.

● ______. Ministério da Saúde. O SUS de A a Z: garantindo saúde nos municípios.


Brasília: Ministério da Saúde, 2005. p. 27 e 140. Disponível em http://dtr2004.saude.gov.
br/susdeaz/. Acesso em: 07 jun. 2016.

● _____. Ministério da Saúde (BR). Portaria n. 1020/GM/MS de 13 de maio de


2009: Estabelece diretrizes para a implantação do componente pré-hospitalar fixo para
a organização de redes loco regionais de atenção integral às urgências em conformidade
com a Política Nacional de Atenção às Urgências. Brasília (DF): MS; 2009.

● BRÊTAS, A.C.P.; GAMBA, M.A. Enfermagem e saúde do adulto. Barueri: Manole,


2006.

● CHAGAS A. M.; CÂMARA, S. et al. Significados e Valores da Educação em Saúde.


REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MÉDICA 36 (1, Supl. 1) : 40-50; 2012.

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Bettina Camargo Bub e Théo Fernado Camargo Bub. Florianópolis (SC): Bernúncia;
2000.

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Campinas, 2005. VASCONCELOS, C. M.; PASCHE, D. F. O Sistema Único de Saúde.
In: CAMPOS, G. W. S. et al. (Org.). Tratado de saúde coletiva. São Paulo: Hucitec; Rio de
Janeiro: Fiocruz, 2006. p. 531-562.

212
T É C N I C O

Enfermagem em
Saúde Coletiva
T É C N I C O

SUMÁRIO

• 1 - INTRODUÇÃO

• 2 - ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA NA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

2.1 - Principais programas da Atenção Primária a serem executadas pelas Estratégias


Saúde da Família

• 3 - SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO E AGRAVOS DE DOENÇAS (SINAN)

• 4 - EPIDEMIOLOGIA GERAL E REGIONAL

4.1 - Processos interativos com influência sobre o curso das doenças

4.2 - PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

4.3 - HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA

• 5 - FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS PREVALENTES NA


REGIÃO, FOCOS DE CONTAMINAÇÃO, VIAS DE TRANSMISSÃO, MEDIDAS
DE PREVENÇÃO, CONTROLE E TRATAMENTO

5.1 - Doenças transmissíveis com tendência

5.2 - Doenças transmissíveis com quadro de persistência

• 6 - PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO - PNI

6.1 - Calendário Vacinal

6.2 - Efeitos adversos da vacina e imunobiológicos especiais

6.3 - Administração das vacinas

6.4 - Equipe de vacinação

6.5 - Rede de frio

6.6 - Transporte

• 7 - REFERÊNCIAS

215
Enfermagem em Saúde Coletiva

ENFERMAGEM EM SAÚDE COLETIVA

1- INTRODUÇÃO

A Saúde Coletiva é um conjunto de ações de caráter individual e coletivo, situadas em


todos os níveis de atenção do sistema de saúde voltadas para promoção da saúde, prevenção
de agravos tratamento e reabilitação, centrado na qualidade de vida das pessoas e do seu
meio ambiente, levando em consideração o contexto histórico /estrutural da sociedade.

A Saúde Coletiva pode ser definida como um campo de produção de conhecimentos


voltados para a compreensão da saúde e a explicação de seus determinantes sociais, bem como
o âmbito de práticas direcionadas prioritariamente para sua promoção, além de voltadas para
a prevenção e o cuidado a agravos e doenças, tomando por objeto não apenas os indivíduos
mas, sobretudo, os grupos sociais, portanto a coletividade (Paim, 1982; Donnangelo 1983).

Para iniciarmos a discussão sobre as ações de enfermagem em saúde coletiva, é


fundamental recuperarmos o entendimento do processo saúde-doença considerando-o resultante
de determinada organização social e influenciado por diversos aspectos que caracterizam a
inserção social dos indivíduos e grupos em busca de melhor qualidade de vida.

Atualmente, apesar de a saúde não mais ser considerada apenas como a inexistência
de doença, ainda podemos perceber, em diversas situações, que a prática dos serviços
volta-se prioritariamente para uma atuação curativa que envolve ações relativas somente à
doença, principalmente queixas específicas e pontuais. Por exemplo, num serviço de Pronto-
Atendimento a preocupação dos profissionais centra-se na queixa apresentada pelo paciente
e a conduta a ser adotada procura apenas “solucionar” o problema, sem a preocupação de
esclarecer suas causas.

Com isso surge a necessidade de desenvolver intervenções de prevenção e controle


permanentes da saúde da população, visando à melhoria dos indicadores de saúde.

A saúde e doença são manifestações das formas de viver em sociedade, e não um


acaso no destino das pessoas. Além disso, conceito de que o processo saúde-doença decorre
da qualidade de vida das populações. As possibilidades de adoecimento e morte dependerão,

216
T É C N I C O

em última instância, de como se vive em sociedade, sendo distintas em função da classe ou


grupo social, da cultura, da raça, da geração e do gênero.

Esse entendimento está presente na definição de saúde que originou o Sistema Único
de Saúde (SUS), destacando a importância de que, para se ter um melhor nível de saúde na
sociedade, faz-se necessário investir em melhorias na habitação, na renda, no consumo de
alimentos, no aumento da escolaridade e na construção de ambientes saudáveis. Ou seja, não
basta investir apenas em serviços de saúde voltados para atender às doenças das pessoas, é
preciso ampliar os espaços de promoção da saúde.

2 - ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIANA ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE

Inicialmente estudaremos que a Atenção Básica constitui-se em um conjunto de ações


que dão consistência prática ao conceito de Vigilância em Saúde, referencial que articula
conhecimentos e técnicas provindos da epidemiologia, do planejamento e das ciências sociais
em saúde, redefinindo as práticas em saúde, articulando as bases de promoção, proteção e
assistência, a fim de garantir a integralidade do cuidado (SANTANA; CARMAGNANI,
2001). Concomitante, a ESF é um modelo que procura reorganizar a Atenção Básica de acordo
com os preceitos do SUS (BRASIL, 1997) e com o apoio do NASF, estrutura vinculada à
Atenção Básica de Saúde que busca ampliar, aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na
ESF, privilegiando a construção de redes de atenção e cuidado, constituindo-se em apoio às
equipes de saúde da família e ampliando sua resolutividade e sua capacidade de compartilhar
e fazer a coordenação do cuidado (COSTA; CARBONE, 2009).

A Saúde da Família é uma das principais estratégias, propostas pelo Ministério da


Saúde do Brasil, para reorientar o modelo assistencial do Sistema Único de Saúde, a partir
da atenção básica (BRASIL, 1997). Ela procura reorganizar os serviços e reorientar as
práticas profissionais na lógica da promoção da saúde, prevenção de doenças e reabilitação,
enfim, da promoção da qualidade de vida da população, constituindo-se em uma proposta
com dimensões técnica, política e administrativa inovadoras. Ela pressupõe o princípio
da Vigilância à Saúde, a inter e multidisciplinaridade e a integralidade do cuidado sobre a
população que reside na área de abrangência de suas unidades de saúde (BRASIL, 1998).
Sua expansão ganhou impulso com a Norma Operacional Básica (NOB-96) (BRASIL,
1997b) que operacionalizou a descentralização de recursos e a municipalização da
saúde, apresentando as orientações para o repasse, aplicação e mecanismos de controle e
acompanhamento dos recursos financeiros que compõe o Piso da Atenção Básica (PAB),
assim com a responsabilidade dos municípios enquanto gestores (COIMBRA et al., 2005).

A Estratégia Saúde da Família incorpora os princípios do Sistema Único de Saúde


(SUS) (BRASIL, 2000) e se estrutura a partir da Unidade Saúde da Família (USF), conforme
contextualizado a seguir (BRASIL, 2006):

• Integralidade e Hierarquização: A Unidade de Saúde da Família (USF) está inserida

217
Enfermagem em Saúde Coletiva

na atenção primária à saúde. Suas equipes devem realizar o diagnóstico de saúde


do território adscrito, identificando o perfil epidemiológico e sociodemográfico das
famílias, reconhecendo os problemas de saúde prevalentes e os riscos a que esta
população está exposta, elaborando, com a sua participação, um plano local para
o enfrentamento dos problemas de saúde. O cumprimento desses dois princípios
pressupõe que os profissionais envolvidos nas equipes de saúde compreendam que
seus serviços estão organizados em níveis de complexidade crescentes, desde o nível
local de assistência, até os mais especializados; este sistema é denominado referência
e contra referência, sendo que a referência se dá do nível de menor para o de maior
complexidade, inversamente à contra referência. A articulação entre esses dois
sistemas é bastante difícil uma vez que a demanda de serviços mais complexos excede
ao número de solicitações por parte da atenção básica, dificultando atingir excelência
no atendimento aos clientes que necessitam de serviços especializados.

• Territorialização e Adscrição da Clientela: a USF trabalha com território de abrangência


definido, sendo responsável pelo cadastramento e acompanhamento desta população.
Recomenda-se que a equipe seja responsável por, no máximo, 4000 pessoas do
território.

• Equipe Multiprofissional: composta por um enfermeiro, um médico generalista ou de


família, um auxiliar de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS). Além
desses, odontólogos, assistentes sociais e psicólogos, dentre outros, poderão fazer parte
das equipes ou formar equipes de apoio, de acordo com as necessidades locais.

• Caráter Substitutivo: substituição das práticas tradicionais de assistência, com foco


nas doenças, por um novo processo de trabalho, centrado na Vigilância à Saúde
(SANTANA e CARMAGNANI, 2001).

A ESF prioriza ações de proteção e promoção da saúde, cada equipe de saúde é levada
a conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por meio do cadastramento e da
identificação de suas características, tornando-se mais sensível às suas necessidades. Assim,
esses profissionais e a população acompanhada criam vínculos, o que facilita a identificação
e o atendimento dos problemas de saúde da comunidade.

Em seu processo de implantação e expansão, vem enfrentando várias dificuldades,


muitas delas por se constituir em uma prática inovadora e contra hegemônica. Esta nova
prática é rica em potenciais de avaliação e intervenção em saúde da família, mas, para
que esses potenciais se concretizem, faz-se necessário a criação de um contexto, no qual
profissionais e famílias possam estabelecer uma relação de parceria, confiança, comunicação
regular e transparência, bem como cooperação para atender as necessidades da família. O
estabelecimento desse contexto depende da clareza do conceito de família, e de referenciais
teóricos e instrumentos que capacitem os profissionais a abordarem as questões relacionadas
à dinâmica familiar de modo efetivo.

A família é o objeto de atenção da ESF, sendo também participante do cuidado à


saúde. A família também é alvo da vigilância à saúde e do planejamento da assistência,

218
T É C N I C O

além de contexto do cuidado ao indivíduo. Afirma-se que a proximidade com a família


torna o profissional mais humano, sendo necessário conhecer bem os integrantes e a situação
social das famílias, para a identificação de demandas de assistência. Ainda assim não são
apresentadas orientações sobre a abordagem a estas famílias. O enfoque na saúde da família
exige dos profissionais visão sistêmica e integral do indivíduo, família e comunidade. Para
recomenda-se o estabelecimento de novas relações entre os profissionais, as famílias e a
comunidade, e ainda apresenta tópicos que devem ser abordados no treinamento introdutório
para profissionais da ESF.

A família é o objeto de atenção precípua da ESF, sendo o núcleo básico da atenção à


saúde, devendo ser descritos o número de famílias que deverão ser atendidas por cada equipe
e os aspectos a serem observados durante o cadastro: componentes familiares, morbidades
referidas, condições de moradia, saneamento e condições ambientais. Sendo uma das
atribuições das equipes é conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis,
com ênfase em suas características sociais, demográficas e epidemiológicas. O papel dos
Agentes Comunitários de Saúde (ACS) é reforçado na identificação de indivíduos e famílias
de risco. Pelo convívio com as famílias, os profissionais da equipe podem perceber demandas,
ansiedades, sofrimentos e potenciais que antes seriam ignorados.

A operacionalização dos objetivos da ESF ocorre por meio da definição territorial da


clientela, a noção da família como foco da assistência, o trabalho em equipe interdisciplinar
e multiprofissional e o vínculo entre os profissionais e as famílias assistidas (COSTA e
CARBONE 2009). Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 1997a), a territorialização
pressupõe o diagnóstico das características sociais, demográficas e epidemiológicas e deve
impactar, de forma favorável, as condições de saúde da população adscrita. Para tal, as equipes
de saúde devem realizar o cadastramento das famílias por meio de visitas domiciliares.

Este diagnóstico permite:

• Identificar os problemas de saúde prevalentes e situações de risco desta população;

• Elaborar, em conjunto com a comunidade, um plano de ação para o enfrentamento dos


determinantes de processo saúde/doença;

• Prestar assistência integral na USF, na comunidade, no domicilio além do


acompanhamento nos serviços de referência ambulatorial ou hospitalar;

• Desenvolver ações educativas e intersetoriais para o enfrentamento dos problemas de saúde.

Na ESF o trabalho em equipe é considerado um dos pilares para a mudança do


atual modelo hegemônico em saúde, com interação constante e intensa de trabalhadores de
diferentes categorias e com diversidade de conhecimentos e habilidades que interajam entre
si para que o cuidado do usuário seja o imperativo ético-político que organiza a intervenção
técnico-científica.

O funcionamento das Unidades Saúde da Família (USF) se dá pela atuação de

219
Enfermagem em Saúde Coletiva

uma ou mais equipes de profissionais que devem se responsabilizar pela atenção à saúde
da população, vinculada a um determinado território. Cada equipe é responsável por uma
área onde residem entre 600 a 1000 famílias, com limite máximo de 4000 habitantes. Essas
equipes devem realizar o cadastramento das famílias por meio de visitas domiciliares às
residências, em sua área de abrangência. As informações desse cadastro, juntamente com
outras fontes de informação, levam ao conhecimento da realidade daquela população, seus
principais problemas de saúde e seu modo de vida.

Essas informações servem para que o gestor e a equipe, juntamente com a população,
possam planejar as atividades a serem desenvolvidas, para que cumpram seu objetivo de
melhorar as condições encontradas. O cadastro destas famílias é registrado no Sistema de
Informações da Atenção Básica (SIAB). O SIAB é, portanto, um sistema de informação
que sistematiza os dados coletados, possibilita a sua informatização e gera relatórios de
acompanhamento e avaliação.

Do mesmo modo que na ESF, a equipe da Unidade de Saúde da Família é composta por
um enfermeiro, um médico generalista ou de família, um auxiliar de enfermagem e agentes
comunitários de saúde (ACS). Além desses, odontólogos, assistentes sociais e psicólogos,
dentre outros, devem fazer parte tanto nessas equipes quanto nos Núcleos de Apoio à Saúde
da Família (NASF).

Todos esses profissionais devem desenvolver suas atividades laborais, tanto nas
unidades quanto na comunidade, devendo ter gosto pelo trabalho em equipe, facilidade no
trato com pessoas, habilidade em trabalhar com planejamento e programação em saúde;
capacidade em adaptar-se a situações novas e qualificação profissional adequada às práticas
de saúde pública.

2.1 - Principais programas da Atenção Primária a serem executadas pelas Estratégias


Saúde da Família

Atenção à Saúde da Criança:

• Vigilância nutricional com acompanhamento do crescimento e desenvolvimento,


promoção ao aleitamento materno;

• Imunização - realização de esquema vacinal básico e busca ativa de faltosos;

• Assistência às doenças prevalentes entre elas as diarreicas em crianças menores de


cinco anos;

• Assistência e prevenção das patologias bucais com foco no desenvolvimento

220
T É C N I C O

neurolinguístico e no processo de socialização da criança.

Atenção à Saúde da Mulher:

• Pré-natal - diagnóstico de gravidez, cadastramento das gestantes com e sem riscos


gestacionais, na primeira consulta. Vacinação antitetânica, avaliação no puerpério e
atividade educativa de promoção à saúde;

• Planejamento familiar com fornecimento de medicamento e orientação quanto a


métodos anticoncepcionais;

• Prevenção de câncer de colo e útero;

• Prevenção de problemas odontológicos e levantamento de doenças bucais especialmente


cáries e doenças gengivais. Controle de hipertensão e diabetes:

• Diagnóstico de caso e cadastramento dos portadores;

• Busca ativa dos casos com medição de pressão arterial e/ou dosagem dos níveis de glicose;

• Tratamento dos casos com fornecimento de medicação e acompanhamento do paciente;

• Diagnóstico precoce de complicações;

• Ação educativa para controle de risco como obesidade, vida sedentária, tabagismo
além da prevenção de patologias bucais.

Controle de Tuberculose:

• Busca ativa de casos e identificação de sintomáticos respiratórios;

• Diagnóstico clínico dos comunicantes, vacinação com BCG e quimioprofilaxia quando


necessário;

• Notificação e investigação dos casos;

• Tratamento supervisionado dos casos positivos e busca de faltosos;

• Fornecimento de medicamentos;

• Ações educativas.

221
Enfermagem em Saúde Coletiva

Eliminação da Hanseníase:

• Busca ativa de casos e identificação dos sintomáticos dermatológicos e de seus


comunicantes;

• Notificação e investigação dos casos;

• Diagnóstico clínico dos casos com exames dos sintomáticos e classificação clínica dos
casos multi e palcibacilares;

• Tratamento supervisionado dos casos com avaliação dermatoneurológica e fornecimento


de medicamento;

• Controle de incapacidades físicas;

• Atividades educativas.

Ações de saúde bucal:

• Cadastramento de usuários, planejamento e programação integrada às demais áreas de


atenção do ESF;

• Alimentação e análise dos sistemas de informação específicos;

• Participação do processo de planejamento, acompanhamento e avaliação das ações


desenvolvidas no território de abrangência;

• Desenvolvimento de ações intersetoriais.

Atenção à Saúde do Idoso:

• Humanização e acolhimento à pessoa idosa na atenção básica

• Promoção de hábitos saudáveis

• Gerenciamento ou cuidados com a pessoa em processo de envelhecimento

• Suporte familiar e social

• Avaliação multidimensional rápida da pessoa idosa

222
T É C N I C O

• Envelhecimento e medicamentos

• Atenção domiciliar às pessoas idosas

Atenção à saúde do homem:

• Acesso da população masculina aos serviços de saúde hierarquizados nos diferentes


níveis de atenção e organizados em rede, possibilitando melhoria do grau de
resolutividade dos problemas e acompanhamento do usuário pela equipe de saúde;

• Articular-se com as diversas áreas do governo com o setor privado e a sociedade,


compondo redes de compromisso e corresponsabilidade quanto à saúde e a qualidade
de vida da população masculina;

• Informações e orientação à população masculina, aos familiares e a comunidade sobre


a promoção, prevenção e tratamento dos agravos e das enfermidades do homem;

• Captação precoce da população masculina nas atividades de prevenção primaria


relativa às doenças cardiovasculares e cânceres, entre outros agravos recorrentes;

• Capacitação técnica dos profissionais de saúde para o atendimento do homem;

• Disponibilidade de insumos, equipamentos e materiais educativos;

• Estabelecimento de mecanismos de monitoramento e avaliação continuada dos serviços


e do desempenho dos profissionais de saúde, com participação dos usuários;

• Elaboração e análise dos indicadores que permitam aos gestores monitorar as


ações e serviços e avaliar seu impacto, redefi nindo as estratégias e/ou atividades
que se fi zerem necessárias.

A Política de Atenção à Saúde do Homem tem como um dos principais objetivos


ações de saúde que contribuam significativamente para a compreensão da realidade singular
masculina nos seus diversos contextos socioculturais e político-econômicos; outro, é o
respeito aos diferentes níveis de desenvolvimento e organização dos sistemas locais de saúde
e tipos de gestão. Com isso possibilitando o aumento da expectativa de vida e a redução dos
índices de morbimortalidade por causas previsíveis e evitáveis nessa população.

Essa política deve nortear as ações de atenção integral à saúde do homem, visando
estimular o autocuidado e, sobretudo, o reconhecimento de que a saúde é um direito social
básico e de cidadania de todos os homens brasileiros.

223
Enfermagem em Saúde Coletiva

3 - SISTEMA DE NOTIFICAÇÃO E AGRAVOS DE DOENÇAS (SINAN)

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação - Sinan é alimentado,


principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam
da lista nacional de doenças de notificação compulsória (Portaria GM/MS Nº 104, de 25 de
janeiro de 2011), mas é facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde
importantes em sua região, como varicela no estado de Minas Gerais ou difilobotríase no
município de São Paulo.

O Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan tem como objetivo


coletar, transmitir e disseminar dados gerados rotineiramente pelo Sistema de Vigilância
Epidemiológica das três esferas de governo, através de uma rede informatizada, para
apoiar o processo de investigação e dar subsídios à análise das informações de vigilância
epidemiológica das doenças e agravos de notificação compulsória, ou seja, sua utilização
efetiva permite a realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de um evento na
população; podendo fornecer subsídios para explicações causais dos agravos de notificação
compulsória, além de vir a indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo
assim, para a identificação da realidade epidemiológica de determinada área geográfica.

O seu uso sistemático, de forma descentralizada, contribui para a democratização


da informação, permitindo que todos os profissionais de saúde tenham acesso à informação
e as tornem disponíveis para a comunidade. É, portanto, um instrumento relevante para
auxiliar o planejamento da saúde, definir prioridades de intervenção, além de permitir que
seja avaliado o impacto das intervenções.

O Sinan pode ser operacionalizado no nível administrativo mais periférico, ou seja,


nas unidades de saúde, seguindo a orientação de descentralização do SUS. Caso o município
não disponha de computadores em suas unidades, o Sinan pode ser acessado nas secretarias
municipais, regionais de Saúde e/ou Secretaria Estadual de Saúde.

A Ficha Individual de Notificação (FIN) é preenchida pelas unidades assistenciais


para cada paciente quando da suspeita da ocorrência de problema de saúde de notificação
compulsória ou de interesse nacional, estadual ou municipal. Este instrumento deve ser
encaminhado aos serviços responsáveis pela informação e/ou vigilância epidemiológica das
Secretarias Municipais, que devem repassar semanalmente os arquivos em meio magnético
para as Secretarias Estaduais de Saúde (SES). A comunicação das SES com a SVS deverá
ocorrer quinzenalmente, de acordo com o cronograma definido pela SVS no início de cada
ano.

Caso não ocorra nenhuma suspeita de doença, as unidades precisam preencher


o formulário de notificação negativa, que tem os mesmos prazos de entrega. Esta é uma
estratégia criada para demonstrar que os profissionais e o sistema de vigilância da área
estão alerta para a ocorrência de tais eventos e evitar a subnotificação. Caso os municípios
não alimentem o banco de dados do Sinan, por dois meses consecutivos, são suspensos os
recursos do Piso de Assistência Básica - PAB, conforme Portaria N.º 1882/GM de 16/12/1997.

224
T É C N I C O

Além da Ficha Individual de Notificação (FIN), e da Notificação Negativa, o Sistema


ainda disponibiliza a Ficha Individual de Investigação (FII), que é um roteiro de investigação,
que possibilita a identificação da fonte de infecção e os mecanismos de transmissão da
doença. Ainda constam a Planilha e o Boletim de acompanhamento de surtos e os Boletins
de acompanhamento de Hanseníase e Tuberculose.

4 - EPIDEMIOLOGIA GERAL E REGIONAL

A Epidemiologia é a ciência que estuda os padrões da ocorrência de doenças em


populações humanas e os fatores determinantes destes padrões (Lilienfeld, 1980).

Enquanto a clínica aborda a doença em nível individual, a epidemiologia aborda


o processo saúde-doença em grupos de pessoas que podem variar de pequenos grupos
até populações inteiras. O fato de a epidemiologia, por muitas vezes, estudar morbidade,
mortalidade ou agravos à saúde, deve-se, simplesmente, às limitações metodológicas da
definição de saúde.

Suas aplicações variam desde a descrição das condições de saúde da população, da


investigação dos fatores determinantes de doenças, da avaliação do impacto das ações para
alterar a situação de saúde até a avaliação da utilização dos serviços de saúde, incluindo
custos de assistência. Dessa forma, a epidemiologia contribui para o melhor entendimento da
saúde da população - partindo do conhecimento dos fatores que a determinam e provendo,
consequentemente, subsídios para a prevenção das doenças.

Estudo inclui vigilância, observação, pesquisa analítica e experimento. Distribuição


refere-se à análise por tempo, local e características dos indivíduos. Determinantes são
todos os fatores físicos, biológicos, sociais, culturais e comportamentais que influenciam a
saúde. Condições relacionadas à saúde incluem doenças, causas de mortalidade, hábitos de
vida (como tabagismo, dieta, atividades físicas, etc.), provisão e uso de serviços de saúde e
de medicamentos. Populações especificadas são aquelas com características identificadas,
como, por exemplo, determinada faixa etária em uma dada população.

Outros termos específicos utilizados nos estudos epidemiológicos são dignos de


apresentação, devido sua importância para a compreensão dos textos da área. São eles:

• MORBIDADE: conjunto de indivíduos que adquiriram doenças num determinado


intervalo de tempo.

• MORTALIDADE: conjunto de indivíduos que morreram num determinado


intervalo de tempo.

• DISTRIBUIÇÃO: variação de frequência das doenças em função das mudanças


ambientais e populacionais ligadas ao tempo e espaço.

225
Enfermagem em Saúde Coletiva

• DETERMINANTES: estudo de possíveis associações entre um ou mais fatores


suspeitos e uma situação de ausência de saúde.

• PREVENÇÃO: medidas que impedem que indivíduos sadios adquiram doenças.

4.1 - Processos interativos com influência sobre o curso das doenças

A ideia que as doenças são auto determinadas ou ocorrem espontaneamente deixou


de ser considerada há mais de século, com a evidência científica da existência de fatores
que interagem em determinadas situações e estimulam ou causam reações dos organismos,
respostas estas que podem resultar em um estado de saúde ou de doença.

O exemplo mais elementar desta interação entre fatores, causando a doença, é


a condição de infecção determinada por condições presentes num sistema. Um elemento
presente é o SUSCETÍVEL, pessoa ou animal que pode ser penetrado por um agente
patogênico. Outro elemento que contribui para a instalação do processo infeccioso é o
AGENTE, microrganismo capaz de produzir a infecção ou a doença infecciosa. O terceiro
elemento seria o próprio AMBIENTE onde se dá essa interação, incluindo todas as formas
de expressão desta palavra, considerando então os ambientes físico, químico e biológico do
suscetível e do agente, bem como os fatores culturais e socioeconômicos.

Rouquayrol & Goldbaum (1999) nos indicam uma nova tendência da epidemiologia
que dá ênfase ao estudo da estrutura socioeconômica, a EPIDEMIOLOGIA SOCIAL. Tem
por objetivo explicar as doenças não como resultado da mera interação de fatores naturais, mas
como forma de expressão abrangente, onde o estudo da estrutura socioeconômica é utilizado
para explicar o processo saúde-doença de maneira histórica, tornando a epidemiologia um
dos instrumentos de transformação social.

4.2 - Processo Saúde-Doença

A expansão do conceito de epidemiologia, incluindo os elementos sociais, torna


mais evidente a necessidade de especificar outro conceito utilizado nos estudos da área:
é o campo de atuação da epidemiologia conhecido por “ PROCESSO SAÚDE-DOENÇA”
entendido como o “modo específico de ocorrência do processo biológico de desgaste e
reprodução, destacando em momentos particulares o funcionamento biológico diferente com
consequência para o desenvolvimento regular de atividades cotidianas, ou seja, o surgimento
da doença”. (Laurell, 1985).

226
T É C N I C O

6.8 - História natural da doença

Uma abordagem temática interessante e ao mesmo tempo polêmica é a que


considera que as doenças cumprem um curso “natural”, resultado da interação entre fatores.
O conhecimento da história de interação entre esses fatores pode favorecer uma outra
abordagem do processo epidemiológico conhecido como prevenção.

A “história natural da doença” é definida por Leavell & Clark (1976) como: “o
conjunto de processos interativos compreendendo as inter-relações do agente, do suscetível
e do meio ambiente que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras
forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, passando pela resposta do homem
ao estímulo até as alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte”.

Assim as doenças teriam seu curso iniciado pelo PERÍODO EPIDEMIOLÓGICO


quando se desenvolvem as pré-condições para o estabelecimento das relações entre o
suscetível e o ambiente, e um segundo período, o PATOLÓGICO, do meio interno, onde
se dão as modificações do organismo relativas às mudanças bioquímicas, histológicas e
fisiológicas próprias da doença. Uma abordagem integradora destes conceitos compreende
que este processo ou conjunto de processos não pode ser visto apenas do ponto de vista
funcional, considerando a mera conjunção de determinados fatores como agente eliciador
das doenças. Antes, há que se falar de um complexo sistema epidemiológico organizado de
modo a permitir a interação e reestruturação das relações entre os fatores. Assim, foi criada a
designação de ESTRUTURA EPIDEMIOLÓGICA ou sistema epidemiológico definido pelo
“conjunto de fatores vinculados ao suscetível e ao ambiente, incluindo aí o agente etiológico,
conjunto este dotado de uma organização interna que define as suas interações e também é
responsável pela produção da doença”.

Outra concepção ampliada do conceito de ESTRUTURA EPIDEMIOLÓGICA dá-


se com a interpretação de San Martin (1981) que insere no sistema epidemiológico novos
elementos, entre eles a população, a economia e a cultura, estruturando assim o SISTEMA
EPIDEMIOLÓGICO-SOCIAL.

O autor passa a considerar como essenciais e determinantes para a compreensão


do processo saúde doença as influências de componentes como a qualidade e dinâmica
do ambiente socioeconômico, modos e relações de produção, tipo de desenvolvimento
econômico, velocidade de industrialização, desigualdades socioeconômicas, concentração
de riquezas, participação comunitária e a responsabilidade individual e coletiva.

Com o objetivo de facilitar o entendimento e a abordagem dos problemas


epidemiológicos, classificam-se as variáveis que poderiam estar influenciando no
desenvolvimento do PROCESSO SAÚDE-DOENÇA, destacando-se as que seguem:

Fatores socioeconômicos:

• Condições de miséria

227
Enfermagem em Saúde Coletiva

• Renda

• Escolaridade

• Nível de consumo

Fatores sociopolíticos:

• Instrumentação jurídico-legal

• Decisão política

• Higidez política

• Participação consentida e valorização da cidadania

• Participação comunitária efetivamente exercida

• Transparência das ações e acesso à informação

Fatores socioculturais:

• Hábitos culturais

• Crendices

• Comportamentos e valores

• Cultura política

Fatores psicossociais:

• Marginalidade

• Ausência de relações parenterais estáveis

• Distanciamento da cultura de origem

• Apoio social ausente

228
T É C N I C O

• Condições de trabalho extenuantes ou estressantes

• Promiscuidade

• Transtornos econômicos, sociais ou pessoais

• Falta de cuidados maternos na infância

• Carência afetiva de ordem geral

• Agressividade do meio

• Desemprego

Fatores ambientais:

• Situação geográfica, solo e clima

• Recursos hídricos e topografia

• Agentes químicos e físicos

• Situações ecológicas desfavoráveis

• Agentes agregados artificialmente

• Poluição ambiental

• Uso de pesticidas (acúmulo gradual)

• Aditivos alimentares (sabores, corantes e conservantes)

• Uso de medicamentos e estrogênios

229
Enfermagem em Saúde Coletiva

5 - FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS PREVALENTES


NA REGIÃO, FOCOS DE CONTAMINAÇÃO, VIAS DE TRANSMISSÃO,
MEDIDAS DE PREVENÇÃO, CONTROLE E TRATAMENTO

A situação das doenças transmissíveis no Brasil apresenta um quadro complexo,


que pode ser resumido em três grandes tendências: doenças transmissíveis com tendência
descendente, doenças transmissíveis com quadro de persistência e doenças transmissíveis
emergentes e reemergentes.

5.1 - Doenças transmissíveis com tendência descendente

Esse grupo de doenças encontra-se em franco declínio, com reduções drásticas nos
índices de incidência. A varíola está erradicada desde 1978, a poliomielite recebeu a certificação
da erradicação da transmissão autóctone em 1994, o sarampo encontra-se eliminado. Ainda
nesta década será atingida a meta de erradicação da raiva humana transmitida por animais
domésticos, da rubéola congênita e do tétano neonatal.

Ainda dentro deste grupo de doenças transmissíveis com tendência ao declínio, estão
a difteria, a rubéola, a coqueluche e o tétano acidental, que têm em comum o fato de serem
imunopreveníveis, a doença de Chagas e a hanseníase, ambas endêmicas há várias décadas
em nosso país, e a febre tifoide, associada a condições sanitárias precárias. Por fim, estão
também a oncocercose, a filariose e a peste, todas com áreas de ocorrência restritas.

As estratégias do Ministério da Saúde para esse grupo de doenças visam à manutenção


da situação de controle ou mesmo a erradicação, quando esta é factível. Para o êxito dessas
estratégias, o Ministério da Saúde tem investido no fortalecimento da capacidade dos
municípios e dos estados de detectarem rapidamente os casos suspeitos e adotarem medidas
eficazes de bloqueio, dentre outras ações de vigilância epidemiológica. Também tem
investido no aumento da homogeneidade da cobertura vacinal de rotina para que se atinjam
níveis adequados em cada um dos municípios e na adoção de estratégias específicas, como
vacinações casa-a-casa, intensificações e campanhas de vacinação.

Difteria

A difteria é uma doença transmissível aguda, toxiinfecciosa, causada por bacilo


toxigênico que frequentemente se aloja nas amígdalas, na faringe, na laringe, no nariz e,
ocasionalmente, em outras mucosas e na pele.

A estratégia adotada para essa doença é o aprofundamento de seu controle por meio do
fortalecimento da vigilância epidemiológica e da elevação e homogeneidade das coberturas
vacinais com a vacina DTP, que protege contra a difteria, o tétano e a coqueluche.

230
T É C N I C O

Coqueluche

Desde a instituição do Programa Nacional de Imunizações, em 1973, quando a vacina


tríplice bacteriana (DTP) passou a ser preconizada para crianças menores de 7 anos, observa-
se um declínio na incidência da coqueluche, muito embora as coberturas vacinais iniciais
não fossem elevadas. Na década de 1990, a cobertura foi se elevando, principalmente a partir
de 1998, resultando em uma modificação importante no perfil epidemiológico desta doença.
Entretanto, nos últimos anos, surtos de coqueluche vêm sendo registrados em populações
com baixa cobertura vacinal, principalmente em populações indígenas.

A estratégia para essa doença também é a manutenção de seu controle, por meio do
fortalecimento da vigilância epidemiológica, reforço à detecção precoce e bloqueio imediato
de qualquer surto detectado, evitando-se sua propagação, além da obtenção das coberturas
vacinais adequadas (95% dos menores de 1 ano com a vacina tetravalente – DTP + Hib) em
todos os municípios.

Tétano

O tétano é uma doença transmissível, não contagiosa, que apresenta duas formas de
ocorrência: acidental e neonatal. A primeira forma geralmente acomete pessoas que entram
em contato com o bacilo tetânico ao manusearem o solo ou por meio de ferimentos ou
lesões ocorridas por materiais contaminados, em ferimentos na pele ou na mucosa. O tétano
neonatal é causado pela contaminação durante a secção do cordão umbilical pelo uso de
instrumentos cortantes ou material de hemostasia inadequadamente esterilizados ou não
esterilizados, pelo uso de substâncias contaminadas no coto umbilical, como teia de aranha,
pó de café, fumo, esterco.

O tétano acidental pode ser evitado pelo uso da vacina DTP na infância e com a
vacina dupla adulto (dT) em adultos, além dos reforços a cada dez anos para quem já tem
o esquema completo. Outra medida importante é a adoção de procedimentos adequados de
limpeza e desinfecção de ferimentos ou lesão suspeita para tétano nas unidades de saúde.

O tétano neonatal pode ser evitado principalmente por meio da vacinação


das gestantes durante o pré-natal, iniciando com o recebimento precoce do esquema
vacinal preconizado.

Poliomielite

A intensificação da vigilância e ações de controle, particularmente a ampliação da


vacinação de rotina e a introdução das Campanhas Nacionais de Vacinação, estratégia que
nosso país adotou em caráter pioneiro em 1980, levaram à diminuição do número de casos
confirmados nos anos de 1987 e 1988 e culminaram em 1989 com a notificação do último

231
Enfermagem em Saúde Coletiva

caso com isolamento do poliovírus selvagem no país. Em 1994, o país recebeu o certificado
de erradicação da transmissão autóctone pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A persistência da poliomielite em outros continentes, com o permanente risco de


importação do vírus, enquanto não for alcançada a erradicação em escala mundial, justifica
a permanência da estratégia dos dias nacionais de vacinação e o fortalecimento da vigilância
epidemiológica das paralisias flácidas agudas.

As estratégias fundamentais para manutenção da erradicação são o alcance de


coberturas vacinais adequadas de forma homogênea em todo o território nacional e o
cumprimento de metas adequadas dos indicadores de vigilância epidemiológica.

Sarampo

O sarampo é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus chamado


Morbillivirus. A enfermidade é uma das principais responsáveis pela mortalidade infantil
em países do Terceiro Mundo. No Brasil, graças às sucessivas campanhas de vacinação e
programas de vigilância epidemiológica, a mortalidade não chega a 0,5%.

A transmissão é diretamente de pessoa a pessoa, por meio das secreções do nariz e


da boca expelidas pelo doente ao tossir, respirar ou falar.

Altamente contagioso, o sarampo é propagado por meio das secreções mucosas


(como a saliva, por exemplo) de indivíduos doentes para outros não-imunizados. O período
de incubação dura entre oito e 13 dias. Depois começam a aparecer os principais sintomas,
com o aparecimento de pequenas erupções na pele (exantemas) de cor avermelhada, febre
alta, dor de cabeça, mal-estar e inflamação das vias respiratórias, com presença de catarro.

A doença torna-se mais grave quando atinge mães em período de amamentação,


crianças desnutridas e adultos. Vacinar é o meio mais eficaz de prevenção contra o sarampo.
A vacina tetraviral é indicada para prevenção do sarampo e está disponível nos postos de
saúde para crianças a partir de 12 meses de idade. Outra opção é a vacina tríplice viral.

Rubéola

A rubéola é causada pelo vírus Rubella vírus e é transmitida de pessoa para pessoa,
por meio do espirro ou tosse, sendo altamente contagiosa. Uma pessoa com rubéola pode
transmitir a doença a outras pessoas desde uma semana antes do início da erupção até uma a
duas semanas depois de seu desaparecimento. Ou seja, uma pessoa pode transmitir a doença
antes mesmo de saber que tem rubéola.

232
T É C N I C O

A doença também pode ser congênita, podendo ser transmitida de mãe para filho
ainda durante a gravidez.

Vacinação é o meio mais seguro e eficaz de se prevenir rubéola. A vacina da rubéola


é recomendada para todas as crianças. Normalmente, é aplicada em bebês de 12 a 15 meses,
mas algumas vezes é administrada antes e durante epidemias. Uma segunda vacinação
(reforço) é aplicada rotineiramente em crianças entre quatro e seis anos. A tríplice viral é
uma vacina combinada que protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Já a vacina tetra
viral protege também contra catapora.

Doença de Chagas

Doença de Chagas é uma inflamação causada por um parasita encontrado em fezes


de insetos. É bastante comum em países da América do Sul, América Central e no México.
Alguns casos da doença já foram identificados nos Estados Unidos também.

A Doença de Chagas também é conhecida como tripanossomíase americana e


chaguismo. Recebeu esse nome graças ao seu descobridor, o médico brasileiro Carlos Chagas
– indicado quatro vezes ao Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia.

É possível contaminar-se também com a doença a partir da ingestão de alimentos


crus e contaminados com fezes do parasita, da transfusão de sangue ou transplantes de
órgãos contaminados com a doença, do contato direto com o parasita e com outros animais
que estejam infectados. A Doença de Chagas também pode ser congênita, no caso de mães
infectadas que transmitem esse mal para o filho durante a gravidez.

A prevenção é feita através do controle de insetos com inseticidas e habitações com


menos propensão de ter populações de insetos ajudam a controlar a disseminação da doença.
Ainda não existe uma vacina disponível para a prevenção da Doença de Chagas.

Fonte: Google

233
Enfermagem em Saúde Coletiva

Hanseníase

A hanseníase é uma doença infecciosa e contagiosa causada por um bacilo


denominado Mycobacterium leprae. A hanseníase não é hereditária e sua evolução depende
de características do sistema imunológico da pessoa que foi infectada.

Os pacientes de hanseníase sem tratamento eliminam os bacilos através do aparelho


respiratório superior (secreções nasais, gotículas da fala, tosse, espirro). O paciente em
tratamento regular ou que já recebeu alta não transmite. A maioria das pessoas que entram em
contato com estes bacilos não desenvolvem a hanseníase. Somente um pequeno percentual,
em torno de 5% de pessoas, adoecem. Fatores ligados à genética humana são responsáveis
pela resistência (não adoecem) ou suscetibilidade (adoecem). O período de incubação da
hanseníase é bastante longo, variando de três a cinco anos.

Os sintomas da hanseníase incluem:- Sensação de formigamento, fisgadas ou


dormência nas extremidades; manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda
da sensibilidade ao calor, frio, dor e tato; áreas da pele aparentemente normais que têm
alteração da sensibilidade e da secreção de suor; caroços e placas em qualquer local do
corpo; diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos).

A hanseníase tem cura. O tratamento é feito nas unidades de saúde e é gratuito. A


cura é mais fácil e rápida quanto mais precoce for o diagnóstico. O tratamento da hanseníase
é via oral, constituído pela associação de dois ou três medicamentos e é denominado
poliquimioterapia.

É importante que se divulgue junto à população os sinais e sintomas da hanseníase


e a existência de tratamento e cura, através de todos os meios de comunicação. A prevenção
da hanseníase baseia-se no exame dermatoneurológico e aplicação da vacina BCG em todas
as pessoas que compartilham o mesmo domicílio com o portador da doença.

Febre tifoide

A febre tifoide é uma doença transmissível associada às precárias condições sanitárias,


de higiene pessoal e ambiental, sendo frequente sua ocorrência sob a forma de surtos
relacionados com água e/ou alimentos contaminados. A imunidade adquirida após a infecção
ou a vacinação não é definitiva, e a vacina não apresenta efetividade para o controle de surtos.

A estratégia de controle da febre tifoide está dirigida, no setor saúde, para o


fortalecimento das vigilâncias epidemiológica, sanitária e ambiental visando à detecção
de casos precoces e à adoção de medidas que impeçam sua propagação. Nesse sentido,
o Ministério da Saúde vem implantando, em todas as unidades federadas, a vigilância
epidemiológica de doenças de transmissão hídrica e alimentar. Com isso, tem sido trabalhado
de forma integrada com outras doenças diarreicas, as capacitações de profissionais de saúde,
com utilização do Manual Integrado de Febre Tifoide. Destacam-se ainda a ampliação da

234
T É C N I C O

capacidade laboratorial para o diagnóstico específico e adoção de informações sobre a


ocorrência de casos de febre tifoide como um dos critérios de priorização de municípios para
a aplicação de recursos em saneamento básico.

Ferver ou filtrar a água antes de consumi-la, prevenir-se com higiene pessoal,


saneamento básico e preparo adequado dos alimentos, evitar alimentação na rua e, se
necessário, dar preferência a pratos preparados na hora, por fervura, e servidos ainda quentes.
A vacina contra febre tifoide é a forma mais eficaz de imunização.

7.2 - Doenças transmissíveis com quadro de persistência

Algumas doenças transmissíveis apresentam um quadro de persistência ou de redução


em período ainda recente, configurando nossa agenda inconclusa nessa área. Para essas
doenças, é necessário o fortalecimento de novas estratégias, recentemente adotadas, que
propõem uma maior integração entre as áreas de prevenção e controle e a rede assistencial,
já que o principal foco da ação nesse conjunto de doenças está voltado para o diagnóstico e o
tratamento das pessoas doentes, visando à interrupção da cadeia de transmissão.

Malária

A transmissão ocorre após picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por


protozoários do gênero Plasmodium. No Brasil, três espécies estão associadas à malária em
seres humanos: P. vivax, P. falciparum e P. malariae.

O protozoário é transmitido ao homem pelo sangue, geralmente através da picada da


fêmea do mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium ou, mais raramente, por outro tipo
de meio que coloque o sangue de uma pessoa infectada em contato com o de outra sadia,
como o compartilhamento de seringas (consumidores de drogas), transfusão de sangue ou
até mesmo de mãe para feto, na gravidez.

Os sintomas mais comuns são: calafrios, febre alta (no início contínua e depois com
frequência de três em três dias), dores de cabeça e musculares, taquicardia, aumento do baço
e, por vezes, delírios. No caso de infecção por P. falciparum, também existe uma chance
mínima de se desenvolver o que se chama de malária cerebral, responsável por cerca de 80%
dos casos letais da doença. Além dos sintomas correntes, aparece ligeira rigidez na nuca,
perturbações sensoriais, desorientação, sonolência ou excitação, convulsões, vômitos e dores
de cabeça, podendo o paciente chegar ao coma.

Medidas de prevenção individual: uso de mosquiteiros impregnados ou não com


inseticidas, roupas que protejam pernas e braços, telas em portas e janelas, uso de repelentes.

Medidas de prevenção coletiva: drenagem, pequenas obras de saneamento para


eliminação de criadouros do vetor, aterro, limpeza das margens dos criadouros, modificação

235
Enfermagem em Saúde Coletiva

do fluxo da água, controle da vegetação aquática, melhoramento da moradia e das condições


de trabalho, uso racional da terra.

Atualmente, a malária concentra-se na região da Amazônia Legal, que responde


por mais de 99% dos casos registrados no país. Nos estados das demais regiões, os casos
registrados são quase totalmente importados da região Amazônica ou de outros países onde
ocorre transmissão.

Tuberculose

A tuberculose tem sido objeto de ações e investimentos recentes do Ministério da


Saúde e demais instâncias do Sistema Único de Saúde (SUS), visando descentralizar o
atendimento e adotar novas formas de garantir a continuidade do tratamento, para ampliar
a capacidade de detecção de novos casos e aumentar o percentual de cura. Essa estratégia
tem envolvido inclusive o repasse de recursos financeiros para ampliar a detecção de casos,
elevar a taxa de cura e reduzir a taxa de abandono, visando produzir um impacto positivo já
nos próximos anos.

A tuberculose no geral é causada por uma infecção por Mycobacterium tuberculosis


ou Bacilo de Koch (BK). Outras espécies de micobactérias também podem causar a
tuberculose. São elas: Mycobacterium bovis, africanum e microti.

A transmissão da tuberculose é direta, de pessoa a pessoa, portanto, a aglomeração


de pessoas é o principal fator de transmissão. A pessoa com tuberculose expele, ao falar,
espirrar ou tossir, pequenas gotas de saliva que contêm o agente infeccioso e podem ser
aspiradas por outro indivíduo contaminando-o. Má alimentação, falta de higiene, tabagismo,
alcoolismo ou qualquer outro fator que gere baixa resistência orgânica, também favorece o
estabelecimento da tuberculose.

Alguns pacientes não exibem nenhum indício da tuberculose, outros apresentam


sintomas aparentemente simples que são ignorados durante alguns anos (ou meses). Contudo,
na maioria dos infectados com tuberculose, os sinais e sintomas mais frequentemente
descritos são:

• Tosse seca contínua no início, depois com presença de secreção por mais de quatro
semanas, transformando-se, na maioria das vezes, em uma tosse com pus ou sangue

• Cansaço excessivo

• Febre baixa geralmente à tarde

• Sudorese noturna

• Falta de apetite

236
T É C N I C O

• Palidez

• Emagrecimento acentuado

• Rouquidão

• Fraqueza

• Prostração.

• Os casos graves de tuberculose apresentam:

• Dificuldade na respiração

• Eliminação de grande quantidade de sangue

• Colapso do pulmão

• Acumulo de pus na pleura (membrana que reveste o pulmão) - se houver


comprometimento dessa membrana, pode ocorrer dor torácica.

O tratamento da tuberculose à base de antibióticos é 100% eficaz, no entanto, não


pode haver abandono. A cura da tuberculose leva seis meses, mas muitas vezes o paciente não
recebe o devido esclarecimento e acaba desistindo antes do tempo. Para evitar o abandono do
tratamento da tuberculose é importante que o paciente seja acompanhado por equipes com
médicos, enfermeiros, assistentes sociais e visitadores devidamente preparados.

Para prevenir a tuberculose é necessário imunizar as crianças com a vacina BCG.


Crianças soropositivas ou recém-nascidas que apresentam sinais ou sintomas de Aids não
devem receber a vacina. A prevenção da tuberculose inclui evitar aglomerações, especialmente
em ambientes fechados, e não utilizar objetos de pessoas contaminadas.

Meningites

A maioria dos casos de meningite é provocada por vírus ou bactérias, mas a doença
também pode ser transmitida via fungos. Outros fatores também podem desencadear num
quadro de meningite, como alergias a determinados medicamentos, alguns tipos de câncer e
também inflamações.

Conheça os principais tipos de meningite existentes:

• Meningite viral

• Meningite bacteriana

237
Enfermagem em Saúde Coletiva

• Meningite fúngica.

Esses três tipos podem levar a um quadro de meningite crônica.

A causa da meningite varia de acordo com o tipo. A mais comum das meningites é
aquela causada por vírus, mas há casos também da doença provocada por bactérias. Menos
comum, a meningite causada por fungos também pode surgir.

A meningite viral pode ser causada por diversos tipos de vírus e é a forma mais
comum e menos perigosa de meningite, pois muitas vezes nem exige tratamento. Os vírus
causadores da meningite podem ser transmitidos via alimentos, água e objetos contaminados
e são mais comuns entre o fim do verão e o começo do outono.

Meningite bacteriana é a mais grave de todas. Ela ocorre geralmente quando a


bactéria entra na corrente sanguínea e migra até o cérebro. Pode acontecer, também, de a
doença ser desencadeada após uma infecção no ouvido, fratura ou, mais raramente, após
alguma cirurgia. Existe mais de uma bactéria capaz de transmitir a doença.

Já a meningite fúngica, apesar de ser a menos comum, pode levar ao quadro crônico
da doença. Às vezes seus efeitos podem ser similares ou até idênticos aos da meningite
bacteriana, por isso inspira cuidados, mas não é contagiosa de pessoa para pessoa.

Em casos mais raros ainda, meningite pode ser resultado de causas não-infecciosas,
como reações químicas, alergia a alguns medicamentos e alguns tipos de câncer também.

Alguns fatores são considerados de risco para a meningite, como:

• Idade: meningite viral costuma afetar crianças de até cinco anos, mas a forma
bacteriana da doença geralmente atinge adultos na casa dos 20. Na verdade, o grupo
de risco, quando é classificado pela idade, varia de acordo com a causa da doença.
Meningite causada pela bactéria Listeria monocytogenes costuma vitimizar muitos
idosos também

• Viver em grandes centros urbanos e frequentar ambientes fechados e cheios de pessoas


também podem aumentar os riscos de contrair meningite. Se uma pessoa vive em
alguma base militar, orfanato ou albergue, as chances de ela apresentar a doença são
maiores também

• Gravidez: mulheres grávidas têm maiores chances de contrair listeriose e também a


meningite bacteriana causada por Listeria monocytogenes

• Sistema imunológico comprometido: pessoas com baixa imunidade correm maiores


riscos de apresentar meningite também, a exemplo de portadores de Aids ou diabetes
e usuários de drogas injetáveis.

238
T É C N I C O

Os sintomas mais comuns da meningite são:

• Febre alta repentina

• Forte dor de cabeça

• Pescoço rígido

• Vômitos

• Náusea

• Confusão mental e dificuldade de concentração

• Convulsões

• Sonolência

• Fotossensibilidade

• Falta de apetite

• Rachaduras e presença de manchas vermelhas na pele.

Bebês recém-nascidos portadores de meningite também podem apresentar febre, dor


de cabeça, vômitos, confusão, rigidez corporal, moleira tensa ou elevada e inquietação. Às
vezes, apenas irritabilidade em crianças ou choro fácil, diferente do normal, pode ser um
indício de uma meningite.

O tratamento de meningite depende da causa. Para meningite viral muitas vezes o


tratamento é dispensável, pois a doença costuma desaparecer sozinha após algumas semanas.
Geralmente, os únicos meios de terapia indicados pelo médico são repouso, ingestão de
muita água e o uso de medicamentos para aliviar as dores. Em casos específicos, o médico
pode receitar também um antiviral.

Já para casos de meningite bacteriana, o tratamento deve ser imediato por meio
de antibióticos intravenosos e medicamentos de cortisona, para reduzir o risco de futuras
complicações. O antibiótico que o médico receitará depende do tipo de meningite que o
paciente tem, ou seja, da bactéria causadora da doença.

Mesmo quando as causas da meningite não estão esclarecidas, os médicos podem


ministrar medicamentos antivirais e antibióticos para o paciente, já que meningites causadas
por vírus e bactérias são os tipos mais frequentes da doença.

Quando o caso é de meningite fúngica, o tratamento é feito via fungicidas. No


entanto, esses medicamentos podem apresentar diversos efeitos colaterais. Por isso, eles só

239
Enfermagem em Saúde Coletiva

serão receitados ao paciente quando a causa por comprovadamente infecção por fungos. Para
tratar meningite crônica, o tratamento indicado é o mesmo do de meningite fúngica, já que
esta é a única forma de meningite que pode levar ao quadro crônico da doença.

Meningite é geralmente resultado de contágio entre duas pessoas. Vírus e bactérias


causadores da doença podem ser transmitidos via tosse, espirro, beijo ou compartilhamento de
itens pessoais. Por isso, é importante evitar ficar muito próximo a pessoas portadoras de meningite.

Leishmaniose

Doença infecciosa, porém, não contagiosa, causada por parasitas do gênero


Leishmania. Os parasitas vivem e se multiplicam no interior das células que fazem parte
do sistema de defesa do indivíduo, chamadas macrófagos. Há dois tipos de leishmaniose:
leishmaniose tegumentar ou cutânea e a leishmaniose visceral ou calazar. A leishmaniose
tegumentar caracteriza-se por feridas na pele que se localizam com maior frequência nas
partes descobertas do corpo. Tardiamente, podem surgir feridas nas mucosas do nariz, da boca
e da garganta. Essa forma de leishmaniose é conhecida como “ferida brava”. A leishmaniose
visceral é uma doença sistêmica, pois, acomete vários órgãos internos, principalmente o
fígado, o baço e a medula óssea. Esse tipo de leishmaniose acomete essencialmente crianças
de até dez anos; após esta idade se torna menos frequente. É uma doença de evolução longa,
podendo durar alguns meses ou até ultrapassar o período de um ano.

A leishmaniose é transmitida por insetos hematófagos (que se alimentam de sangue)


conhecidos como flebótomos ou flebotomíneos. Os flebótomos medem de 2 a 3 milímetros
de comprimento e devido ao seu pequeno tamanho são capazes de atravessar as malhas dos
mosquiteiros e telas. Apresentam cor amarelada ou acinzentada e suas asas permanecem
abertas quando estão em repouso. Seus nomes variam de acordo com a localidade; os mais
comuns são: mosquito palha, tatuquira, birigüi, cangalinha, asa branca, asa dura e palhinha.
O mosquito palha ou asa branca é mais encontrado em lugares úmidos, escuros, onde existem
muitas plantas.

As fontes de infecção das leishmanioses são, principalmente, os animais silvestres e


os insetos flebotomíneos que abrigam o parasita em seu tubo digestivo, porém, o hospedeiro
também pode ser o cão doméstico.

Na leishmaniose cutânea os animais silvestres que atuam como reservatórios são os


roedores silvestres, tamanduás e preguiças. Na leishmaniose visceral a principal fonte de
infecção é a raposa do campo.

Leishmaniose visceral: febre irregular, prolongada; anemia; indisposição; palidez


da pele e ou das mucosas; falta de apetite; perda de peso; inchaço do abdômen devido ao
aumento do fígado e do baço.

Leishmaniose cutânea: duas a três semanas após a picada pelo flebótomo aparece

240
T É C N I C O

uma pequena pápula (elevação da pele) avermelhada que vai aumentando de tamanho até
formar uma ferida recoberta por crosta ou secreção purulenta. A doença também pode se
manifestar como lesões inflamatórias nas mucosas do nariz ou da boca.

Como se dá a prevenção?

• Evitar construir casas e acampamentos em áreas muito próximas à mata

• Fazer dedetização, quando indicada pelas autoridades de saúde

• Evitar banhos de rio ou de igarapé, localizado perto da mata

• Utilizar repelentes na pele, quando estiver em matas de áreas onde há a doença

• Usar mosquiteiros para dormir

• Usar telas protetoras em janelas e portas

• Eliminar cães com diagnóstico positivo para leishmaniose visceral, para evitar o
aparecimento de casos humanos.

Febre Amarela

É uma doença infecciosa febril aguda, de curta duração (no máximo 10 dias), e de
gravidade variável. Possui dois ciclos de transmissão: o silvestre (que ocorre entre primatas
não humanos, onde o vírus é transmitido por mosquitos silvestres) e o urbano (erradicado no
Brasil desde 1942).

A transmissão da enfermidade não é feita diretamente de uma pessoa para outra.


Para isso, é necessário que o mosquito pique uma pessoa infectada e, após o vírus da febre
amarela, (pertencente ao gênero Flavivirus, da família Flaviviridae) ter se multiplicado (nove
a 12 dias), pique um indivíduo que ainda não teve a doença e não tenha sido vacinado. O
vírus e a evolução clínica da doença são idênticos para os casos de febre amarela urbana e de
febre amarela silvestre, diferenciando-se apenas o transmissor da doença. A febre amarela
silvestre ocorre, principalmente, por intermédio de mosquitos do gênero Haemagogus. Uma
vez infectado em área silvestre, a pessoa pode, ao retornar, servir como fonte de infecção
para o Aedes aegypti (também vetor do dengue), principal transmissor da febre amarela
urbana.

Dependendo da gravidade, a pessoa pode sentir febre, dor de cabeça, calafrios,


náuseas, vômito, dores no corpo, icterícia (a pele e os olhos ficam amarelos) e hemorragias
(de gengivas, nariz, estômago, intestino e urina).

Não existe medicamento para combater o vírus da febre amarela. O tratamento é

241
Enfermagem em Saúde Coletiva

apenas sintomático e requer cuidados na assistência ao paciente que, sob hospitalização,


deve permanecer em repouso com reposição de líquidos e das perdas sanguíneas, quando
indicado. Nas formas graves, o paciente deve ser atendido numa Unidade de Terapia Intensiva.

A única forma de evitar a febre amarela é a vacinação. A vacina contra febre amarela
é gratuita e está disponível nos postos de saúde em qualquer época do ano. É administrada
em dose única a partir dos 9 meses de idade e é válida por 10 anos. Deve ser aplicada 10 dias
antes de viagens para as áreas de risco de transmissão da doença. O Aedes aegypti prolifera-
se nas proximidades de habitações, em recipientes que acumulam água limpa e parada. Para
evitar a proliferação do mosquito devem ser adotadas medidas simples como colocar areia
nos pratinhos de plantas, cobrir recipientes que acumulam água - lixeiras, pneus, caixas
d’água, tonéis, retirar água de lajes, desentupir calhas, guardar garrafas de vidros ou pet,
baldes e vasos vazios e de boca para baixo.

Dengue

A dengue é uma doença febril aguda causada por um vírus, sendo um dos principais
problemas de saúde pública no mundo. O seu principal vetor de transmissão é o mosquito
Aedes aegypti, que se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de


pessoas se infectem anualmente com a dengue em mais de 100 países de todos os continentes,
exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em
consequência da dengue.

Existem quatro tipos de dengue, pois o vírus causador da dengue possui quatro
sorotipos: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4. A infecção por um deles dá proteção permanente
para o mesmo sorotipo, mas imunidade parcial e temporária contra os outros três.

Quando uma pessoa é infectada com um determinado tipo de vírus, cria anticorpos
no seu organismo e não irá mais contrair a doença por esse mesmo vírus, mas ainda pode ser
infectada pelos outros três tipos. Isso quer dizer que só é possível pegar dengue quatro vezes.

Caso ocorra um segundo ou terceiro episódio da dengue, há risco aumentado para


formas mais graves da dengue, como a dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue.

Na maioria dos casos, a pessoa infectada não apresenta sintomas da dengue,


combatendo o vírus sem nem saber que ele está em seu corpo. Para aqueles que apresentam
sintomas, os tipos de dengue podem se manifestar clinicamente de quatro formas:

A dengue clássica é a forma mais leve da doença, sendo muitas vezes confundida
com a gripe. Tem início súbito e os sintomas podem durar de cinco a sete dias, apresentando
sintomas como febre alta (39° a 40°C), dores de cabeça, cansaço, dor muscular e nas
articulações, indisposição, enjoos, vômitos, entre outros.

242
T É C N I C O

A dengue hemorrágica acontece quando a pessoa infectada com dengue sofre


alterações na coagulação sanguínea. Se a doença não for tratada com rapidez, pode levar à
morte. No geral, a dengue hemorrágica é mais comum quando a pessoa está sendo infectada
pela segunda ou terceira vez. Os sintomas iniciais são parecidos com os da dengue clássica,
e somente após o terceiro ou quarto dia surgem hemorragias causadas pelo sangramento
de pequenos vasos da pele e outros órgãos. Na dengue hemorrágica, ocorre uma queda na
pressão arterial do paciente, podendo gerar tonturas e quedas.

A síndrome de choque da dengue é a complicação mais séria da dengue, se


caracterizando por uma grande queda ou ausência de pressão arterial, acompanhado
de inquietação, palidez e perda de consciência. Uma pessoa que sofreu choque por conta
da dengue pode sofrer várias complicações neurológicas e cardiorrespiratórias, além de
insuficiência hepática, hemorragia digestiva e derrame pleural. Além disso, a síndrome de
choque da dengue não tratada pode levar a óbito.

A dengue não é transmitida de pessoa para pessoa. A transmissão se dá pelo mosquito


que, após um período de 10 a 14 dias contados depois de picar alguém contaminado, pode
transportar o vírus da dengue durante toda a sua vida.

O ciclo de transmissão ocorre do seguinte modo: a fêmea do mosquito deposita seus


ovos em recipientes com água. Ao saírem dos ovos, as larvas vivem na água por cerca de
uma semana. Após este período, transformam-se em mosquitos adultos, prontos para picar
as pessoas. O Aedes aegypti procria em velocidade prodigiosa e o mosquito da dengue adulto
vive em média 45 dias. Uma vez que o indivíduo é picado, demora no geral de três a 15 dias
para a doença se manifestar, sendo mais comum cinco a seis dias.

O mosquito Aedes aegypti é o transmissor do vírus e suas larvas nascem e se criam


em água parada. Por isso, evitar esses focos da reprodução desse vetor é a melhor forma de
prevenir a dengue.

• Evite o acúmulo de água

• Coloque areia nos vasos de plantas

• Coloque desinfetante nos ralos

• Limpe as calhas

• Coloque tela nas janelas

• Lagos caseiros e aquários

• Seja consciente com seu lixo

• Uso de inseticidas e larvicidas

243
Enfermagem em Saúde Coletiva

• Uso de repelente

• Suplementação vitamínica do complexo B

Os sintomas da dengue iniciam de uma hora para outra e duram entre 5 a 7 dias. Os
principais sinais são:

• Febre alta com início súbito (39° a 40°C)

• Forte dor de cabeça

• Dor atrás dos olhos, que piora com o movimento dos mesmos

• Perda do paladar e apetite

• Manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e


membros superiores

• Náuseas e vômitos

• Tontura

• Extremo cansaço

• Moleza e dor no corpo

• Muitas dores nos ossos e articulações

• Dor abdominal (principalmente em crianças).

Sintomas da dengue hemorrágica

Os sintomas da dengue hemorrágica são os mesmos da dengue clássica. A diferença


é que a febre diminui ou cessa após o terceiro ou quarto dia da doença e surgem hemorragias
em função do sangramento de pequenos vasos na pele e nos órgãos internos. Quando acaba
a febre começam a surgir os sinais de alerta:

• Dores abdominais fortes e contínuas

• Vômitos persistentes

• Pele pálida, fria e úmida

244
T É C N I C O

• Sangramento pelo nariz, boca e gengivas

• Manchas vermelhas na pele

• Comportamento variando de sonolência à agitação

• Confusão mental

• Sede excessiva e boca seca

• Dificuldade respiratória

• Queda da pressão arterial.

Na dengue hemorrágica, o quadro clínico se agrava rapidamente, apresentando sinais


de insuficiência circulatória. A baixa circulação sanguínea pode levar a pessoa a um estado
de choque. Embora a maioria dos pacientes com dengue não desenvolva choque, a presença
de certos sinais alerta para esse quadro:

• Dor abdominal persistente e muito forte

• Mudança de temperatura do corpo e suor excessivo

• Comportamento variando de sonolência à agitação

• Pulso rápido e fraco

• Palidez

• Perda de consciência.

A síndrome de choque da dengue, quando não tratada, pode levar a pessoa à morte
em até 24 horas. De acordo com estatísticas do Ministério da Saúde, cerca de 5% das pessoas
com dengue hemorrágica morrem.

Zika Vírus

Zika Vírus é uma infecção causada pelo vírus ZIKV, transmitida pelo mosquito
Aedes aegypti, mesmo transmissor da dengue e da febre chikungunya.

O contágio do vírus ZIKV se dá pelo mosquito que, após picar alguém contaminado,
pode transportar o ZIKV durante toda a sua vida, transmitindo a doença para uma população

245
Enfermagem em Saúde Coletiva

que não possui anticorpos contra ele.

O ZIKV é transmitido principalmente pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes


albopictus. Também existe a possibilidade de transmissão pela via sexual, por transfusão
sanguínea e neonatal, embora não se saiba o real protagonismo dessas vias de transmissão
na propagação da infecção.

Os sinais de infecção pelo Zika vírus são parecidos com os sintomas da dengue, e
começam de 3 a 12 dias após a picada do mosquito.

O diagnóstico deverá ser feito por meio de análise clínica e exame sorológico (de sangue).

A partir de uma amostra de sangue, os especialistas buscam a presença de anticorpos


específicos para combater o Zika vírus no sangue. Isso indicará que a doença está circulando
pelo seu corpo e que o organismo está tentando combatê-lo. A técnica RT-PCR, de biologia
molecular, também pode ser usada para identificar o vírus em estágios precoces de
contaminação.

Ainda não se sabe muito sobre as complicações que o Zika vírus pode causar.
Recentemente ele foi relacionado pelo Ministério da Saúde à casos de microcefalia - uma
condição neurológica rara identificada em geral na fase da gestação - e à Síndrome de
Guillan-Barré, que é uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca o sistema
nervoso por engano, que o causa uma inflamação nos nervos e fraqueza muscular.

De acordo com o Ministério da Saúde, as investigações sobre microcefalia e o Zika


vírus devem continuar para esclarecer questões como a transmissão desse agente, a sua
atuação no organismo humano, a infecção do feto e período de maior vulnerabilidade para
a gestante. Em análise inicial, o risco está associado aos primeiros três meses de gravidez.

O mosquito Aedes aegypti é o transmissor do vírus e suas larvas nascem e se criam


em água parada. Por isso, evitar esses focos da reprodução desse vetor é a melhor forma de
se prevenir contra o Zika vírus.

Chikungunya

A febre de Chikungunya (CHIK), causada pelo vírus Chikungunya, é uma doença


arboviral transmitida pela picada dos mosquitos Aedes infectados.

Os sintomas são clinicamente semelhantes aos da dengue – febre de início agudo,


dores articulares e musculares, cefaleia, náusea, fadiga e exantema. A principal manifestação
clínica que a difere da dengue são as fortes dores nas articulações. Além dessa fase inicial
pode evoluir em duas etapas subsequentes: fase subaguda e crônica. Embora a Febre de
Chikungunya não seja uma doença de alta letalidade, tem elevada taxa de morbidade
associada à artralgia persistente, que pode levar à incapacidade e, consequentemente, redução

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T É C N I C O

da produtividade e da qualidade de vida.

A febre chikugunya não é transmitida de pessoa para pessoa. O contágio se dá pelo


mosquito que, após um período de sete dias contados depois de picar alguém contaminado,
pode transportar o vírus CHIKV durante toda a sua vida, transmitindo a doença para uma
população que não possui anticorpos contra ele. Por isso, o objetivo é estar atento para
bloquear a transmissão tão logo apareçam os primeiros casos.

O mosquito Aedes aegypti é o transmissor do vírus e suas larvas nascem e se criam


em água parada. Por isso, evitar esses focos da reprodução desse vetor é a melhor forma de
prevenir a febre chikungunya.

Fonte: Google

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Enfermagem em Saúde Coletiva

6 - PROGRAMA NACIONAL DE IMUNIZAÇÃO

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil é uma referência internacional


de política pública de saúde. O país já erradicou, por meio da vacinação, doenças de alcance
mundial como a varíola e a poliomielite (paralisia infantil). A população brasileira tem acesso
gratuito a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Desde
que foi criado, em 1973, o programa busca a inclusão social, assistindo todas as pessoas, em
todos o país, sem distinção de qualquer natureza. As vacinas do programa estão à disposição
de todos nos postos de saúde ou com as equipes de vacinação, cujo empenho permite levar a
imunização mesmo aos locais de difícil acesso.

“Imunização” significa o emprego de vacinas para a imunização de uma pessoa,


incluindo todo o processo, desde a produção, o transporte, o manuseio, a prescrição e a
administração do imunobiológico.

“Vacinação” é o procedimento de administração de uma vacina, isto é, introdução


no organismo de antígenos ou de microrganismos vivos atenuados, indutores de imunização,
podendo ser bem-sucedida ou não. Portanto, “imunização” é um termo mais abrangente que
“vacinação”, pois inclui imunização passiva e ativa e, quando utilizado estritamente, implica
no desenvolvimento de resposta imunológica.

Entretanto, em publicações e linguagem corrente, os termos “imunização” e


“vacinação” são usados como sinônimos, porém, quando o significado é considerado implícito
e de uso comum, ficam mantidos, tais como: “programas de imunização”, “campanhas de
vacinação de massa”.

Para que conseguíssemos as importantes vitórias no controle e na erradicação de


doenças imunopreveníveis, foi fundamental a evolução recente obtida nas coberturas
alcançadas pelas vacinas que compõem o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Ainda assim, muitas pessoas deixam de comparecer aos postos de saúde para
atualizar a carteira de vacinação, e também de levar os filhos no tempo correto de aplicação
das vacinas. Umas das coisas que nós temos nos preocupado muito é o receio das pessoas
quanto à seguridade das vacinas. Como não temos doenças como pólio há mais de 20 anos e
profissionais de saúde nunca viram surtos destas doenças, isso faz com que a população não
tenha um olhar tão importante para este momento. Por isso, é fundamental que a população
tome consciência de que é preciso acompanhar as campanhas e ir regularmente às unidades
de saúde para a vacinação.

6.1 - Calendário Vacinal

As vacinas ofertadas na rotina dos serviços de saúde são definidas nos calendários de
vacinação, nos quais estão estabelecidos:

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T É C N I C O

• Os tipos de vacina;

• O número de doses do esquema básico e dos reforços;

• A idade para a administração de cada dose; e

• O intervalo entre uma dose e outra no caso do imunobiológico cuja proteção exija mais
de uma dose.

Considerando o risco, a vulnerabilidade e as especificidades sociais, o PNI define


calendários de vacinação com orientações específicas para crianças, adolescentes, adultos,
gestantes, idosos e indígenas. As vacinas recomendadas para as crianças têm por objetivo
proteger esse grupo o mais precocemente possível, garantindo o esquema básico completo no
primeiro ano de vida e os reforços e as demais vacinações nos anos posteriores.

Esse ano, foram alteradas doses de reforço para vacinas infantis contra meningite e
pneumonia, além do esquema vacinal da poliomielite. Também não será mais necessária a
terceira dose da vacina de HPV

Historicamente, diversos calendários de vacinação foram propostos em função de


diferentes situações, tais como:

• Situação epidemiológica;

• Mudanças nas indicações de vacinas;

• Incorporações de novas vacinas.

Um das principias mudanças é na vacina papiloma vírus humano (HPV). O esquema


vacinal passa para duas doses, sendo que a menina deve receber a segunda seis meses após
a primeira, deixando de ser necessária a administração da terceira dose. Os estudos recentes
mostram que o esquema com duas doses apresenta uma resposta de anticorpos em meninas
saudáveis de 9 a 14 anos não inferior quando comparada com a resposta imune de mulheres
de 15 a 25 anos que receberam três doses. As mulheres vivendo com HIV entre de 9 a 26
anos devem continuar recebendo o esquema de três doses.

Para os bebês, a principal diferença será a redução de uma dose na vacina pneumocócica
10 valente para pneumonia, que a partir de agora será aplicada em duas doses, aos 2 e 4
meses, seguida de reforço preferencialmente aos 12 meses, mas poderá ser tomado até os
4 anos. Essa recomendação também foi tomada em virtude dos estudos mostrarem que o
esquema de duas doses mais um reforço tem a mesma efetividade do esquema três doses
mais um reforço.

Já a terceira dose da vacina contra poliomielite, administrada aos seis meses, deixa de
ser oral e passa a ser injetável. A mudança é uma nova etapa para o uso exclusivo da vacina
inativada (injetável) na prevenção contra a paralisia infantil, tendo em vista a proximidade

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Enfermagem em Saúde Coletiva

da erradicação mundial da doença. No Brasil, o último caso foi em 1989.

A partir de agora, a criança recebe as três primeiras doses do esquema – aos dois,
quatro e seis meses de vida – com a vacina inativada poliomielite (VIP), de forma injetável.
Já a vacina oral poliomielite (VOP) continua sendo administrada como reforço aos 15 meses,
quatro anos e anualmente durante a campanha nacional, para crianças de um a quatro anos.

Também houve mudança da vacina meningocócica C (conjugada), que protege as crianças


contra meningite causada pelo meningococo C. O reforço, que anteriormente era aplicado aos 15
meses, passa a ser aplicado aos 12 meses, preferencialmente, podendo ser feito até os 4 anos. As
primeiras doses da meningocócica continuam sendo realizadas aos 3 e 5 meses.

Segue o novo calendário de Vacinas 2016:

Fonte: Ministério da Saúde/Brasil

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T É C N I C O

6.2 - Efeitos adversos da vacina e imunobiológicos especiais

Evento adverso pós-vacinação (EAPV) é qualquer ocorrência médica indesejada


após a vacinação e que, não necessariamente, possui uma relação causal com o uso de uma
vacina ou outro imunobiológico (imunoglobulinas e soros heterólogos). Um EAPV pode
ser qualquer evento indesejável ou não intencional, isto é, sintoma, doença ou um achado
laboratorial anormal (CIOMS; WHO, 2012).

Os eventos adversos que podem ser imputados às vacinações são apenas uma
fração dos que ocorrem após as vacinações. Os eventos adversos podem ser inesperados
ou esperados, tendo em vista a natureza e características do imunobiológico, bem como
o conhecimento já disponível pela experiência acumulada. Entre os eventos esperados,
podemos ter eventos relativamente triviais, como febre, dor e edema local, ou eventos mais
graves, como convulsões febris, episódio hipotônico-hiporresponsivo, anafilaxia etc.

Eventos inesperados são aqueles não identificados anteriormente, às vezes com


vacinas de uso recente, como ocorreu com a vacina rotavírus rhesus/humana (invaginação
intestinal), ou mesmo com vacinas de uso mais antigo, como por exemplo, visceralização e
falência múltipla de órgãos, observada muito raramente após a vacina febre amarela. São
ainda eventos inesperados aqueles decorrentes de problemas ligados à qualidade do produto,
como por exemplo, contaminação de lotes provocando abscessos locais, ou teor indevido de
endotoxina em certas vacinas, levando a reações febris e sintomatologia semelhante à sépsis.

Uma distinção também importante é entre vacinas vivas e não vivas. As vacinas
virais vivas apresentam imunidade duradoura, por vezes com uma única dose. Entretanto,
têm o potencial de causar eventos adversos graves quando são administradas em pessoas com
deficiência imunológica ou com fatores individuais de predisposição ainda desconhecidos
(“idiossincrásicos”). As vacinas não vivas geralmente são imunógenos potentes. Porém, a
repetição exagerada do número de doses de algumas vacinas, como tétano e difteria, pode
provocar eventos adversos relacionados à deposição de imunocomplexos. A grande maioria
deles é local e/ou sistêmica e de baixa gravidade. Por essa razão as ações de vigilância são
voltadas para os eventos moderados e graves. Apenas em situações raras e particulares, o
óbito pode ser decorrente da vacinação.

O objetivo da vigilância epidemiológica de óbitos é primordialmente afastar as causas


coincidentes e indevidamente atribuídas às vacinas. Por exemplo: a síndrome da morte súbita
infantil, que não tem qualquer relação com vacinação, pode ocorrer no mesmo período de
aplicação de vários imunobiológicos do calendário básico de vacinação da criança. Porém,
vários estudos mostraram que as imunizações não aumentam o risco de morte súbita.

É essencial que as vacinas sejam utilizadas de acordo com suas indicações,


contraindicações, dosagens, condições de armazenamento, procedimentos de reconstituição
descritas em bula, entre outros. Os erros de imunização, consequentes de atitudes ou
procedimentos não cumpridos conforme estabelecidos nas normas, por si só ou em conjunto,
podem causar redução ou falta do efeito esperado e eventos adversos graves e até fatais.

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Enfermagem em Saúde Coletiva

6.3 - Administração das vacinas

A administração de imunobiológico confere imunização ativa ou passiva ao indivíduo.


Para que este processo se dê em sua plenitude e com segurança, as atividades de imunização
devem ser cercadas de cuidados, adotando-se procedimentos adequados antes, durante e
após a administração dos imunobiológicos.

6.4 - Equipe de vacinação

As atividades da sala de vacinação são desenvolvidas pela equipe de enfermagem


treinada e capacitada para os procedimentos de manuseio, conservação, preparo e
administração, registro e descarte dos resíduos resultantes das ações de vacinação. A equipe
de vacinação é formada pelo enfermeiro e pelo técnico ou auxiliar de enfermagem, sendo
ideal a presença de dois vacinadores para cada turno de trabalho. O tamanho da equipe
depende do porte do serviço de saúde, bem como do tamanho da população do território sob
sua responsabilidade.

São funções da equipe responsável pelo trabalho na sala de vacinação: • planejar as


atividades de vacinação, monitorar e avaliar o trabalho desenvolvido de forma integrada ao
conjunto das demais ações da unidade de saúde;

• Prover, periodicamente, as necessidades de material e de imunobiológicos;

• Manter as condições preconizadas de conservação dos imunobiológicos;

• Utilizar os equipamentos de forma a preservá-los em condições de funcionamento;

• Dar destino adequado aos resíduos da sala de vacinação conforme orientação;

• Atender e orientar os usuários com responsabilidade e respeito;

• Registrar todos os dados referentes às atividades de vacinação nos impressos adequados


para a manutenção, o histórico vacinal do indivíduo e a alimentação dos sistemas de
informação do PNI conforme orientação;

• Manter o arquivo da sala de vacinação em ordem conforme orientação;

• Promover a organização e monitorar a limpeza da sala de vacinação conforme


orientação.

A sala de vacinação é classificada como área semicrítica. Deve ser destinada


exclusivamente à administração dos imunobiológicos, devendo-se considerar os diversos
calendários de vacinação existentes.

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T É C N I C O

6.5 - Rede de frio

A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de armazenamento, conservação,


manipulação, distribuição e transporte dos imunobiológicos do Programa Nacional de
Imunizações, e deve ter as condições adequadas de refrigeração, desde o laboratório produtor
até o momento em que a vacina é administrada.

O objetivo final da Rede de Frio é assegurar que todos os imunobiológicos


administrados mantenham suas características iniciais, a fim de conferir imunidade, haja
vista que são produtos termolábeis, isto é, se deterioram depois de determinado tempo
quando expostos a variações de temperaturas inadequadas à sua conservação. O calor acelera
a inativação dos componentes imunogênicos.

É necessário, portanto, mantê-los constantemente refrigerados, utilizando instalações


e equipamentos adequados em todas as instâncias: nacional, estadual, regional ou distrital e
municipal/local. Um manuseio inadequado, um equipamento com defeito, ou falta de energia
elétrica podem interromper o processo de refrigeração, comprometendo a potência e eficácia
dos imunobiológicos.

Os principais cuidados com os imunológicos são:

• Prazo de validade

• Conservação (Temperatura)

• Transporte

• Armazenamento

• Dose

• Coloração da Vacina

• Diluição

• Tempo de Validade após diluição

A sala de vacinação e a instancia final da Rede de Frio, onde os procedimentos de


vacinação propriamente ditos são executados mediante ações de rotina, campanhas e outras
estratégias.

Recomenda-se a utilização de freezers exclusivos para guarda das bobinas reutilizáveis,


em número suficiente às demandas locais. É recomendada, também, a climatização da
sala de vacinação (aparelhos de ar-condicionado, para clima quente, e aquecedores, para

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Enfermagem em Saúde Coletiva

clima frio), de forma a minimizar os riscos indesejados de alterações de temperatura dos


imunobiológicos.

Na sala de vacinação, todas as vacinas devem ser armazenadas entre +2°C e +8°C,
sendo ideal +5°C. Além disso, a geladeira deve ser organizada de forma padronizada pelo
Ministério da Saúde.

Alguns cuidados básicos devem ser observados: Testar os alarmes antes de sair, ao
final da jornada de trabalho; Fazer a leitura da temperatura interna diariamente, no início
da jornada de trabalho, no início da tarde e no final do dia, com equipamento disponível;
Equipamento de proteção individual para trabalhar dentro de câmara: calça, casaco com
capuz, botas e luvas; Certificar-se uma vez ao mês, de que a vedação da porta da câmara está
adequada para o funcionamento; Registrar no formulário próprio; usar luz fria; no final do dia
de trabalho, certificar-se de que a luz esteja apagada, de que todas as pessoas tenham saído,
de que a porta esteja fechada; fazer a limpeza da câmara com pano úmido; quando necessário
utilizar sabão neutro, mantendo-a sempre limpa; não deixar a porta aberta por mais de um
minuto ao colocar ou retirar os imunobiológicos; somente abrir a câmara após ter fechado a
antecâmara; Semanalmente a coordenação estadual deverá receber do responsável pela Rede
de Frio o gráfico de temperatura das câmaras e dar o visto, após análise dos mesmos.

Outro cuidado deve ser a arrumação interna da geladeira comercial:

• Na primeira prateleira devem ser armazenadas as vacinas que podem ser submetidas à
temperatura negativas (APO, TV, DV, FA).

• Na segunda prateleira armazenar os imunobiológicos que não podem ser mantidos


em temperaturas negativas (dT, TT, HEP B, HIB, Anti - Raiva, BCG, Pneumococo,
Pólio inativa. Ainda, no centro, colocar o termômetro de máxima e mínima na posição
vertical.

• Na terceira prateleira pode-se colocar caixas com soros ou as vacinas de conservação


a +2ºC, empilhadas na própria embalagem, tendo os espaços para manter a circulação
de ar.

• No compartimento inferior deve-se manter no mínimo 30 garrafas com água


adicionando corante.

• Fazer a leitura da temperatura diariamente no início da manhã, tarde e fim da do dia


após a jornada de trabalho;

• Manter afixado, em cada porta do equipamento, cartazes para não abrir as portas da
geladeira;

• Usar tomada exclusiva;

• Instalar em ambiente climatizado +18ºC;

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T É C N I C O

• Colocar suporte de rodinhas;

• Não permitir armazenar outro material;

• Certificar-se que a porta está fechada;

• Fazer o degelo a cada 15 dias.

• Realizar a limpeza da geladeira a cada 15 dias ou se a camada de gelo atingir 0,5cm.

As caixas térmicas devem ser organizadas para manter a temperatura de conservação


dos imunobiológicos a - 20ºC ou entre +2ºC e +8ºC de acordo seu armazenamento e transporte,
se necessário usar isopor para manter o espaço ideal entre os imunobiológicos. Não utilizar
sacos de gelo pois poderá comprometer os imunobiológicos.

6.6 - Transporte

O transporte de imunobiológicos do PNI é realizado por diferentes vias: aérea, terrestre


ou aquática, a depender da origem/destino, volume a ser transportado e facilidade da via em
relação aos locais. Neste fluxo, são de fundamental importância o controle da temperatura e
outros aspectos que possam comprometer as características de origem do produto, conforme
previsto no art. 61 da Lei no 6.360/1976, que dispõe sobre a vigilância a que ficam sujeitos
os medicamentos: “os produtos que exijam condições especiais de armazenamento e guarda,
os veículos utilizados no seu transporte deverão ser dotados de equipamento que possibilite
acondicionamento e conservação capazes de assegurar as condições de pureza, segurança e
eficácia do produto”.

Neste sentido, os imunobiológicos, dada a relevância da temperatura para conservação


de suas características ideais, o controle da temperatura é fator fundamental, da mesma
forma o equipamento utilizado, o acondicionamento, a logística e o monitoramento ao longo
do percurso. Outro fator que deve ser levado em consideração nos trajetos percorridos é
o choque mecânico ou os impactos durante o transporte, principalmente no transporte
rodoviário.

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Enfermagem em Saúde Coletiva

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