, r ...' -, ." existindo antes dele, é porque existem fora dele. O si'stema de sinal~
je que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema ~e mocdlls .~ue ,
2. o QUE É FATO SOCIAL? *
:mprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que uttltIO
nas relações comerciais, as práticas seguidas na pro(issã~,e~ci, etc.,:;
funcionam independentemente do uso que delas (aço. TaiS afirmações, ..
podem ser estendidas a cada um dos membros de que é composta ~ma
. ",
sociedade tomados uns após outros. Estamos; pois, diante de maneiras
de agir, depensar e de sentir que apresentam a propriedade marcante
i
Antes de indagar qual o método que convém ao estudo dos fatos de existir fora das consciências individunis.
sclciais, é necessário saber que. fatos podem ser assim chamados.
Esses tipos de conduta ou de pensamento não são apenas exte-
A questão é tanto mais necessária quanto esta qualificação é utilizada
riores ao indivíduo, são também dotados de um poder imperativo e
sem muita precisão. Empregam-na correntemente para designar
quase todos os fenômenos que se passam no interior da sociedade, coercilivo em virtude do qual se lhe imprlem. quer. queira, quer não.
por pouco que apresentem. além de certa generalidade, algum interesse Não há d~vida de que esta coerção não se faz sentir. ou é muito pouco
S9cial. Todavia, desse ponto de vista, não haveria por assim dizer ne- sentida quando. com ela me conformo de bom grado, pois ent~o torna-se
inútil. Mas não deixa de constituir caráter intrínseco de tais fat~s, e.
nhum acontecimento humano que não pudesse ser chamado de social.
Cada indivíduo bebe, dorme; come,. raciocina e a sociedade tem todo a prova é <.jueseaJirma desde que tento resistir, Se ~xperi~ento. VIOlar
o ,interesse em que estas funçõe~ se exerçam de macio regular. Porém, as leis do direito, estas reagem contra mim de maneira a I~pedlr, meu,
"to se ainda é tempo; com .q fim de anulá-lo e restabelece-lo em sua
se: todos esses fatos fossem sociais, a Sociologia não teria objeto pró-
forma normal se já se realizou e é reparável; ou então para que eu
prio e seu domínio se confundiria com o da Biologia e da Psicologia.
I
o expie se não há outra possibilidade de reparação. Mas, e ~~ ~e
; Na verdade, porém, há em toda sociedade um grupo determinado tratando de máximas puramente morais? Nesse caso, a conSClenCIa
dei fenômenos com caracteres nítidos, que se distingue daqueles estu- públicu. pelu vigilância que exen;e _sobre a conduta dos cidadãos c pelas
da~os pelas oulras ciências da natureza. , .. <.jue tem
penas e:>peclals • a seu d"Ispor, repn 'me todo _'ato 'Iue a ofende. .. .
Quando desempenho meus deveres de irmão, de esposo ou de Noul ros casos, :lo coerçiio é menos violenta; mas nao dClxa úe "CXlst~r.
cidadão, quando me desincumbo de encargos que contraí, pratico deve- Se não me submeto, às convençües mundanas; se, ao me .vesllr, nao
res que estão definidos fora de mim e de meus atos, no direito e nos .
levo cm cunslderaçao - os usos seguI'd os em m eu país e na mmha classe,
costumes. Mesmo estando de acordo com sentimentos que me .são o riso que provoco, o afastamento em <.jue os ou Iras me co~servam,
próprios, sentindo-lhes interiormente a realidade, esta não deixa de ser pro d uzem, cmora b de maneira mais atenuada '. os mesmos .efeitos _ que .
objetiva; pois não fui eu quem os criou, mas recebi-os através da uma pena propriamente dita. Noutros setores, embora. a coerça.o seja
educação. Contudo, quantas vezes não ignoramos o detalhe das obri- apenas indireta, não é menos efic~z. Não estou obngado a falar 0"
ga~ões que nos incumbe desempenhar, e precisamos, para sabê-lo, con- mesmo idioma que meus compatnotas, ne.m a ~mpregar ~s moeda~ ,;
sul~ar o Código e seus intérpretes autorizados! Assim também o devoto, legais. mas é impossível agir de outra maneira. Mmha te~tattva,.JracasiR
I sa.rl'a 'lamentavelmente, se procuras. se escapar desta ne~esslda~e'f~Se,.S04~tt
.... d . I etécOlcas'
industrial nada me proíbe de trabalhar utlhzan,o.pr'1cessos. t;; i
. ,.. . ". ' om~'
I.•
~-p-ro-d-u-ZI-'d-o-de
DURKHEIM, E. "O que é fato social?" In: As Regras do resu!\aáQ 'Jnevl
Mé~Odo Socio/óllico. Tnld; por Maria Isaura Pereira de Queir.oz. 6.- ed. São do século ".passa.do.;
.:. mas., .se.O)IZer, terei,.
" aI'bruma.
rt ~.;;'
des""' sregrasc'vlo
1, ..;l''''~.,lt;ll. 'lá .
Pau,0, Companhia Edilora Nacional, 1972. p. 1.4, 5, 8.11.
.. .
tável. M.esmo quando ,~so, realment: m~ I e. ar~.,:-~ t: li .; ~~t~nl
..
-Ias com sucesso, ve,io-me sempre obngado a lutar contra elas. E, q. I't
I
49
, I
c tendências não são elaboradas por n(,s, lHas noS V[:IHde fora, l'on- al:resl:clllar como caracll.;ríslica segunda c essclll:ial que de exi,.tc illt!<.:-
clui-se quc não podclll pcnelrar CIH n(,s scniío atraví~s de lima i1llposi. pCJ\llcl\lclIlCnle dasfOl'lIIas individuais quc tOlHa ao se Jifundir, Nalguns
çiío;cis \0110 o sil~lIifkado de nossa definiçiio, Sahe~se, al~1H disso, quc l:asos, este últirrio aitério é até mesmo mais fácil de ~plicar do que o
toda coerção social n:u) é necessariamente exdusiva l:olll rc1ação ;1 o
;interior .. Com ,efeito, a coerção _é fá.~íl d,e consta~ar quat e,la ~e\traduZ'.,k\.,
pr.rsonalidade individual. (.,.) nu exterior por qualquer reaçao direta da SOCiedade, como c ,~ casoi J.,
Esta definição do fato social po~e, além do mais, ser confirmada em se tratan<.lo<.lo direito, da moral, <.Iascrenças, do, uSos, e até 'das\,~
por meio <.Ie uma experiência característica: basta, para tal, que se modas. Mas, 'quando não é senão indireta, como a uc exerce umaiij;
observe a maneira pela qual são educadas as 'crianças. Toda a educação organização econômica, não se deixa observar com ~anta facilidade. :,,~
consiste num esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, Generalidade 'e objetividade combinadas podem então ser mais fáceis J
Ue sentir 'e de' agir às quais elas não chegariam espontaneamente, - de estabelecer. A segunda definição não constitui se 50 \lma forma
bbservação que salta aos olhos todas as vezes que os fatos l:ão enca-
:-> : .. ,
5~
51
diferente que toma a primeira: pois o comportament~qu.e existe exte-
riçrmente às consciências individuais só se generahzalmpondo~se a morais, ainda quando apresentam algum ponto de apoio na na~ureza,
eslas. J .e
física . somente através do direito público que se toma :possível estudar
tal organização, pois é ele que a determina, assim como determina.
Poder-se-ia, todavia, perguntar se esta definição é c~mpJeta. Com nossas relações domésticas e cívicas .. Tal organização não é, pois, menos
efeito, os fatos que nos forneceram a base para ela sao, todos ~Jcs obrigut6ria do que outros falossociois. Se a população se comprime
modos de agir; são de ordem fisiológica. Ora, existem tambem maneiras nas cidades em lugar de se dispersar nos campos, é porque existe unUlj ~:.
de ser coletivas, isto é, fatos sociais de ordem anatômica ou morfo- corrente de opinião, uma pressão coletiva que impõe aos' indi~fduos:il
lógi~a. A Sociologia não se pode desinteressar' daquilo que concerne ao esla concentração. Não podemos escolher a forma de nossas casas; nem
substrato da vida coletiva. No. entanto, o número e a natureza das pllr,tes a de nossas roupas; pois uma é tão obrigatória quanto a outra. As vias
elementares de qu~ é composta a sociedade, a maneira p~la .qu:J1_ estão de comunicação determinam de maneira imperiosa o sentido em que
dispostas, o grau de coalescência a que chegaram, a dlstnbUlçao .da se fazem as migrações interiores e as trocas, e mesmo até a intensidade
população na superfície do territ~rio, o número e a natureza das VI~S de tais trocas e tais migrações, etc., etc. Por conseguinte, haveria, no
de comunicação, a forma dus habitações, etc., não parec~m, a um .pn- máximo, possibilidade de acrescentar à lista de fenômenos que enume-
Ineira exame, passíveis de se reduzirem a modos de agir, de sentir e ramos COIIIO apresentando o sinal distintivo do fato social uma categoria
de pensar. a mais, a das maneiras de ser; e como aquela enumeração nada tinha
de rigorosamenteexaustivll, a adição não era indispensável.
Contudo, em primeiro lugar, apresentam estes diversos fenômenos
o mesmo traço que nos serviu para definir os outro~. Do mesm~ modo Mas não seria nem mesmo útil; pois tais mané iras de ser não
que as. maneiras de agir de que já falamos, tambem as maneIras de passam de maneiras de agir consolidadas. A estrutura' política de uma
ser se impõem aosindivídulls. De fato, quando queremos conh~cer sociedade não é mais do que o modo pelo qual os diferentes segmentos
como está uma sociedade dividida politicamente, como se compoem que a compõem tomaram o hábito de' viver uns com os outros. Se' suas
estas divisües, a fusão mais ou menos completa que existe entre elas, relações são tradicionalmente estreitas, os segmentos tcndem a se con-
não é com o auxílio de uma investigação material e por mei~ ~: obs~r- fundir; no caso contrário, tendem a se distinguir. O tipo de habitação
vações geográficas que poderemos alcançá-lo; pois estas dlVlsoes sao :1 nós imposto ní10 é senão a maneira pela qual todo o mundo, em
IH ISSO redor '--- e em parte as gerações anteriores _, se acostumaram
:1 construir as casas. As vias de comunicação não pass~m de leitos
~-Vem~~'~uóln(U cs(a úefinição do fulo sociul sc ufusta daqucla' '1UC ~crvc úc
qUl' a <.:ürrentc regular dil~ t'rocas e das migrações, caminhando semprc
buse uo cngcnhÇlSo NiNlema de Tilrdc. Primeiramen(c. d~vem~s .dcd;~rar qu~ as
. .. n.IO
pesqlJl~,IS ~ n.u. fl'7,cnm
., dc modo algum cunslu(ar
. u .influenCia, pl epundcr.llllc
. . d. no mesmo sentido, cavou para. si própria, ek~ Sem dúvida, se os fenô-
quc Tarde atribui à imitaçiio na gênese ~os fatos cule~lvos. Alem do m,"s: ,I IIlcnos de ordem morfológica fossem os úni<.:üs u apresentar cstu fixitlcz.
definiçilo precedente (que niío é uma leona. ma~ ,.•m!lInp~es resu~o dos dado~ poder-se-ia acreditar que constituem ullla espécie à parte. Mus as regra~
illlediutos da ohservaçiío) purece resultar que a Imllaçao nau expr~m.e sempre: c
jurídicas constituem ,Irranjos não menos permanentes do que os tipos
nem mesmo exprime nunca. o que há de essencial c CllTacletuttco no fato
60cial. Não há dúvida de que lodo falo social é imitado; aprcsenta. co~o l~ca. de arquitetura e, no entanto, são fatos fisiológicos. A simples máxima
bamo8 de mostrar, tendência para se generalizar, mas isto. purque é s~lul: Isto moral é seguramente mais maleável; porém, apresenta forlllas muilo
é obrigatório. Seu poder de expansão não é a causa c sim u conseq~cnclll dc mais rígidas do que os meros costumes profissi'onais ou tio que a modà.
s~u caráter sociológico. A imilação poderia servir, se não pa.ra. explicar, pel.o
Existe toda uma gllma de nuanças que, sem solução tle continuid:Jde,
menos pura definir os fatos sociais, se ainda eSlesfossem. os ~mco~ a proú~zlr
liga os fatos de. estrutura maisCilrac. terísticos a ..e.sta Jivrt:s eorren. tes
l
esta conseqüência. Mas um estado individual que ricocheteIa na~ ~elx~ por ISSO
ide ser individual. E, mais ainda, podemos indagar se o ter~o Imltaça~ é re~l. da vida social que não estão ainda presas a nenhu molde definido.,
'mente aquele que convém para designar uma propagação deVida a uma influênCIa O que quer dizer que não existem entre eles;. senão iferenças no grau(:
'coercitiva. Sob esta expressão única - imitação - confundem-se fenômenos
muito diferentes que seria necessário distinguir. de consolidação 'que apresentam. Uuse. outros não pa~sam devida mais'
ou menos cristalizada. Pode, sem dúvida, ser maisinleressante reservar
52 "
° nome de m\.rf.o1ÓgiCOSpara. oS fatos sociais concernentes ao SUb.strato
social, mOSs b a 'ondiç'o de n'o perder de vista que s'o da me"na
nalu"" que os oul<OS.Nnssa definição oompreenderá,lr pois, todo <l
definido, se dissermoS' £' '010 ,ociaf lodo maneira de al jixa ou não,
,,,,ccll de exercer ,ob" o Individuo uma coe<çãOexlerlo'i ou então
ainda,velque é leral na exlmão d. uma ,odedade duda, ap,e",,,andu
• uma al.,,2ncia p,óp.!a. Independente da< manlle"aç~" IndIviduai' 'I'U'
poúa ter. 2 .
ura
ROIJIUGUI'S,)ll,é . i\lbe,li,'" (o,g.) I )urkbcim. T,ad. \.a Natal Rlldrig'
_.~-_...:--~_.-
2 p)lle p"rente~çu eftlreilll entre 11 vida e 11 c~trUI\lrll, c:ntr~ o brRÜo c 11 (unçÍln.
pod, '" {"dlm"" "",h""i,l. ,m "«iulu,i" porq"" ,,,'"
entc '" doi, I"m" ".
tremo , cxi~le toda uma série lIeinlcrmellilirio~ imelliutum (lb~ervâvci~. mos'
"."d.s o "'0
p"milido ""
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,I... A lIioI0,i" o,. "m • m"""" ",u,".
q.' •• ind",'" d, prlmd" d"'"
"'",'
d'nd ••, , ,,,, ,,,p,i1o, ,'o
Ilplic6.vels ~ outra e que. n05 orgunism05 como nas i1ocledilde5, não exislem
entre IIS lIUlls ordens de r"IOS senüo di(erençns de grau.