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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
UNIDADE 1 – MÉTODOS DE PESQUISA E POSTURA ÉTICA EM PSICOLOGIA
DA SAÚDE.................................................................................................................. 6
1.1 Métodos de pesquisa em psicologia da saúde ...................................................... 6
1.2 Postura ética em psicologia hospitalar e da saúde ............................................. 10
UNIDADE 2 – SAÚDE x DOENÇA: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .................. 14
2.1 Visão histórica da saúde X doença ..................................................................... 15
UNIDADE 3 – PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIAL (MENTE-CORPO) ................. 22
UNIDADE 4 – BASES BIOLÓGICAS DA SAÚDE E DOENÇA................................ 26
4.1 Sistema nervoso .................................................................................................. 26
4.2 Sistema endócrino ............................................................................................... 30
UNIDADE 5 – SUBJETIVIDADE E ADOECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE
.................................................................................................................................. 33
UNIDADE 6 – PSICOSSOMÁTICA .......................................................................... 37
6.1 Definição ............................................................................................................. 37
6.2 Distúrbios psicossomáticos em diferentes sistemas corporais ............................ 42
6.3 Distúrbios psicossomáticos na infância ............................................................... 50
6.4 O atendimento psicológico ao paciente somatizador .......................................... 53
UNIDADE 7 – DOR ................................................................................................... 59
UNIDADE 8 – IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS DAS DOENÇAS .......................... 65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 71
2
INTRODUÇÃO
De que sofre o paciente? Qual a sua queixa? Ela faz referência apenas ao
seu corpo? Como o corpo e a mente possuem essa relação tão íntima que se
expressa tanto em termos de saúde quanto em termos da doença? Esses
questionamentos tentarão ser esclarecidos neste material.
E como os pesquisadores chegam às respostas para indagações como
essas e outras mais? Começaremos esta apostila falando sobre isso: como
acontece a pesquisa em psicologia da saúde. É essencial conhecermos esses
delineamentos de pesquisa para podermos compreender que a psicologia é uma
ciência, ou seja, as respostas às quais os pesquisadores chegaram não derivam de
“achismo”, de senso comum.
Mas a psicologia é uma ciência da saúde ou uma ciência humana?
Quando um estudante opta por cursar a graduação em psicologia, ele
percebe que o curso vem listado entre os da área de humanas. Em sua colação de
grau, a cor da faixa que compõe sua beca – azul – reforça que esta é a formatura
num curso da área de humanas. Entretanto, o psicólogo está inserido na equipe
multiprofissional de saúde, como mostra a citação a seguir:
ou outra linha, mas mostrar que todas elas têm benefícios e visões diferentes sobre
a mesma questão.
Os objetivos que pretendemos alcançar neste material já foram elucidados
na primeira página. A obra foi embasada principalmente nas ideias de Straub (2014)
e Hisada (2003), mas várias obras importantes (livros e artigos científicos indexados
em bases de dados) também serão citadas e devidamente referenciadas ao final do
material.
a) Pré-história:
Nesse período da história as doenças eram atribuídas a fatores espirituais,
ou seja, os espíritos ruins provocavam as doenças e somente os sacerdotes ou
pajés das comunidades eram capazes de intervir sobre esses espíritos. Há indícios
desses tratamentos nas pinturas rupestres encontradas em cavernas e em crânios
humanos descobertos por arqueólogos que apresentavam perfurações (indícios de
trepanação, uma intervenção cirúrgica primitiva onde se fazia um furo no crânio, o
qual permitiria a saída dos espíritos malignos) (STRAUB, 2014).
Com o passar dos anos, há aproximadamente quatro mil anos, há registros
das primeiras associações entre higiene e saúde, e algumas comunidades passaram
a melhorar a higiene pública para evitar a infestação por vermes (STONE; COHEN;
ADLER, 1979 apud STRAUB, 2014).
das vias públicas, o suprimento e a conservação dos alimentos era controlado por
oficiais. No século I d.C., há registros de um sistema moderno de esgoto sanitário e
banheiros públicos (CARTWRIGTH, 1972 apud STRAUB, 2014).
Na Grécia antiga houve importantes descobrtas acerca da estrutura e do
funcionamento do corpo, da mente e da interação entre ambos (CASTRO;
LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Hipócrates (em torno de 460 a 377 a.C),
considerado pai da medicina moderna, deixou de relacionar as doenças com o
misticismo.
Para Hipócrates, o cérebro é considerado a sede das funções relacionadas
ao intelecto (julgamento, emoções), assim como dos problemas como espasmos,
convulsões e condições que afetam a inteligência (HIPÓCRATES, trad. 2002;
PANOURIAS; SKIADAS; SAKAS; MARKETOS, 2005, apud CASTRO; LANDEIRA-
FERNANDEZ, 2011).
Atribuía-se à cabeça os distúrbios do movimento, como as paralisias, além
dos distúrbios da fala (FINGER, 2000; HIPÓCRATES, trad. 2002; PANOURIAS et
al., 2005 apud CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Para Hipócrates os
transtornos mentais são associados ao cérebro.
Um ponto chave em sua teoria é a teoria dos humores, a qual explica o
equilíbrio dos organismos, a saúde, e já foi utilizada como explicação para as
diferenças de personalidade. A citação a seguir elucida tal teoria: esta doutrina
serviu como base para toda prática médica ocidental por quase dois milênios
(BATISTA, 2003; FINGER, 2000; FRIAS, 2004; HIPÓCRATES, trad. 2002).
d) Século XIX
Com o decorrer do tempo, algumas teorias na área da saúde foram se
disseminando, dentre elas destacamos as deias de Pasteur, que realizou uma série
de experimentos para mostrar, por exemplo, como os métodos de esterilização
podem eliminar os germes, os quais não surgem por geração espontânea, a
exemplo do que se pensava anteriormente. As teorias de Pasteur também serviram
para elucidar a ideia de que vírus, bactérias e outros microrganismos podem invadir
o corpo humano e fazer com que o seu funcionamento torne-se inadequado
(STRAUS, 2014).
Pasteur não dispôs de condições adequadas para descobrir quais
microrganismos eram responsáveis por determinada doença, já em 1876, Koch,
através de pesquisas com camundongos, conseguiu identificar o bacilo causador de
antraz em ratos, o que sinaliza um grande avanço na área das doenças causadas
por esses tipos de contaminações (FONSECA; CORBO, 2007).
e) Século XX
Época em que a medicina era mais embasada no estudo da anatomia e da
fisiologia, em detrimento dos pensamentos e emoções. Predomina o modelo
biomédico de saúde, que sustenta que as doenças sempre têm causas biológicas (o
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direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Para explicar os casos onde o modelo biomédico não era eficaz, ou seja,
aqueles que não se reduzem a patógenos, e que não se reduzem a condições que
afetam exclusivamente o corpo, os estudos de Freud – cujos pressupostos sobre a
personalidade foram apresentados na apostila anterior – se despontaram nesse
contexto através do estudo das pacientes histéricas, o qual já era desenvolvido
anteriormente, mas foi mais divulgado após sua participação e sucesso com o
tratamento dessas pacientes.
Freud (1856-1939) foi um grande pensador e uma personalidade que muito
influenciou a psicologia do século XX – mesmo que sua psicanálise seja alvo de
crítica de muitas linhas de abordagem da atualidade.
Em linhas gerais, pelo método da psicanálise, ele buscava trazer os
conteúdos do inconsciente para o consciente para assim trabalhar os conflitos de
forma construtiva (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; JORGE; FERREIRA, 2002;
SCHULTZ; SCHULTZ, 1992; HALL, LINDZEY, 1984).
Tendência Resultado
1. Aumento da expectativa de vida. Reconhecer a necessidade de cuidar melhor
de nós mesmos para promover a vitalidade
no decorrer de uma vida mais longa.
2. O surgimento de transtornos Educar as pessoas para evitar
relacionados com o estilo de vida comportamentos que contribuam para essas
(por exemplo: câncer, AVE, doenças doenças (por exemplo: fumar e ter uma dieta
cardíacas). com teores elevados de gordura).
3. Aumento nos custos da assistência à Concentrar esforços em maneiras de
saúde. prevenir a doença e manter uma boa saúde
para evitar esses custos.
4. Reformulação do modelo biomédico. Desenvolver um modelo mais abrangente da
saúde e da doença – a abordagem
biopsicossocial.
Tabela 02: Tendências do século XX que moldaram a psicologia da saúde
Fonte: STRAUB (2014, p.13).
de saúde, como ficou tão claro nas ideias de Straub (2014), mas enfocam apenas as
doenças:
Como vem sido enfatizado ao longo desta apostila, corpo e mente estão
ligados de modo íntimo e indissociável. Através da perspectiva biopsicossocial, é
possível compreender que os comportamentos, pensamentos e sentimentos afetam
o funcionamento do corpo, assim como são influenciados por este. Compreender os
sistemas físicos do corpo nos possibilita refletir como bons hábitos auxiliam na
prevenção de doenças e na obtenção de bem-estar, enquanto o inverso também é
verdadeiro (STRAUB, 2014).
Um curso de psicologia hospitalar e da saúde não irá se voltar
demasiadamente para o funcionamento do corpo humano, porém uma noção geral
de como opera o organismo é imprescindível para termos subsídios para se
compreender algumas questões relacionadas a doenças específicas, foco do nosso
curso num outro momento. Não iremos detalhar estruturas anatômicas de cada
órgão que compõem os sistemas do corpo humano, ao mesmo tempo em que não é
o nosso objetivo fornecer detalhamentos aprofundados acerca da fisiologia.
O funcionamento do organismo é algo demasiadamente complexo para ser
apresentado num pequeno capítulo de uma apostila, por isso muitas das
informações aqui apresentadas mostram-se incompletas. Como a anatomia e a
fisiologia são disciplinas presentes na graduação da psicologia e de todos os cursos
da área da saúde, partimos do pressuposto de que o profissional já conheça esses
sistemas e os processos complexos a ele envolvidos, só iremos fornecer uma breve
recapitulação de conteúdos que serão mencionados posteriormente.
O corpo é formado pelos sistemas nervoso, endócrino, imune, respiratório,
cardiovascular, linfático, digestório, excretor e reprodutor, mas, para esta apostila,
serão mencionados apenas os dois primeiros, os quais são sistemas de
comunicação do organismo. Na seção sobre as enfermidades psicossomáticas,
iremos mencionar todos esses sistemas ao mostrar os principais tipos de doenças
que afetam cada um deles.
Existem alguns tipos de glândulas, mas para esse estudo só se faz relevante
voltar nossa atenção para as glândulas endócrinas – aquelas que secretam
hormônios na corrente sanguínea. A glândula hipófise é denominada glândula
endócrina mestra, já que ela libera diversos hormônios, os quais agem sobre as
diversas glândulas do corpo. As respostas hormonais são essenciais à saúde e vale
a pena destacar que situações estressantes podem influenciar o sistema endócrino,
como é possível observar nas pessoas que ganham peso em decorrência do
estresse. (STRAUB, 2014).
Importante destacar que a obesidade não deve ser compreendida apenas
como disfunção endócrina ou excesso de alimentação. A compreensão da
obesidade também se dá numa perspectiva bopsicossocial.
genéticos (os quais não podem ser modificados), e ambientais, ou seja, passíveis de
mudança (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004).
Segundo Nieman (1999), dentre os riscos associados à obesidade, podem-
se destacar dificuldades emocionais (como baixa autoestima e depressão) aumento
de osteoartrite; aumento de incidência de hipertensão arterial e diabetes; aumento
dos níveis de colesterol; aumento dos riscos de doença cardíaca, câncer e morte
prematura.
A figura 3 mostra a glândula hipófise, a qual está localizada no cérebro.
Controlada pelo hipotálamo, envia seus hormônios via corrente sanguínea, os quais
vão influenciar os outros órgãos a secretar os seus hormônios.
UNIDADE 6 – PSICOSSOMÁTICA
6.1 Definição
Conforme já foi mencionado anteriormente, o estudo da psicossomática vem
propor uma visão diferente daquela enfatizada pelo modelo biomédico. A
psicossomática propõe a compreensão do homem a partir de um olhar
biopsicossocial, ao postular, em linhas gerais, que muitos sintomas e doenças
surgem em decorrência de questões subjetivas, as quais precisam ser trabalhadas
em busca da saúde do paciente.
O termo psicossomático foi utilizado pela primeira vez em 1908, sendo que
a noção predominante até recentemente era de como os aspectos
emocionais influenciavam sobre a determinação das doenças orgânicas,
visão essa que revela ainda a forte divisão biomédica de corpo e mente. O
entendimento mais atual acerca da psicossomática direciona-se à
compreensão dos processos de saúde e doença como biopsicossociais, ou
seja, aspectos biológicos, psicológicos e sociais estão sempre em mútua
relação, integrando essas dimensões para uma compreensão e ação
terapêutica mais abrangente e significativa (CAPITÃO; CARVALHO, 2006;
FERREIRA; MULLER; JORGE, 2006; SPERONI, 2006 apud VIEIRA;
MARCON; OLIVEIRA, 2011, p.220).
não acreditar, por exemplo, em suas dores. Essas reações negativas das pessoas
frente à doença psicossomática deixam o paciente ainda pior.
O psicólogo hospitalar e da saúde precisa conhecer a psicossomática, pois
em alguns casos, o profissional é apontado como a última esperança, após idas e
vindas a diferentes médicos especialistas sem nenhum sucesso em seu tratamento.
Este profissional poderá trazer benefícios para o paciente através de um tratamento
que visa abordar as causas subjetivas do adoecimento, ou mesmo para prevenir o
surgimento do problema e seu reaparecimento.
Para a psicossomática, infere-se que cada indivíduo possui um modo
peculiar de viver e adoecer, dessa forma, o tipo de doença e a época em que a
mesma ocorre se relaciona com a história de vida de cada indivíduo, a natureza dos
conflitos intrapsíquicos, a forma de lidar com esses conflitos. Disso, conclui-se que
cada sintoma orgânico possui um significado emocional para o paciente, sintoma
esse que oferece alívio dos conflitos emocionais (HISADA, 2003).
A psicossomática relaciona-se à lesão do órgão que não cede ao
tratamento. Os sintomas surgem em situações onde ocorrem fatos marcantes na
vida do indivíduo, as quais ocasionam no indivíduo sensação de perda, luto ou
sobrecarga afetiva (JESUS, 2002).
Segundo McDougall (2000), as manifestações psicossomáticas são
compreendidas como dificuldades de simbolização e verbalização de sentimentos.
A seguir, algumas definições de psicossomática: “Estudo das relações entre
as emoções e os males do corpo”. (HOWARD; LEWIS, 1999, p. 6).
Schiller (2003) mostra que a psicossomática da medicina, da psicologia e da
psicanálise diferem-se entre si. Não é nosso objetivo realizar essas diferenciações,
porém vale a pena ressaltar que a medicina e a psicologia descendem da visão de
Descartes do dualismo entre o corpo e a alma, o que já foi abordado em outra
seção. A psicanálise mostra que, na verdade, a divisão existente não é entre mente
e corpo, mas entre corpo e organismo. Corpo e organismo são entidades distintas. O
corpo é formado pelas representações que vão sendo construídas desde o
nascimento, pela via da linguagem, estrutura imutável ao longo da vida.
Quando digo ‘meu corpo’ não incluo o objeto da anatomia, a concretude dos
órgãos, a intimidade descrita pela medicina. De meu organismo recebo
O corpo não é apenas formado por órgãos, há uma relação entre os órgãos
e a vida emocional, o indivíduo é corpo e mente, como temos ressaltado. O corpo é
construído a partir da interação entre o Ego e Id, e o fator emocional desempenha
importante papel no desenvolvimento da personalidade. Esse fator emocional é
responsável por coordenar os investimentos libidinais nas diversas partes do corpo,
assim, cada órgão possui uma representação simbólica, um investimento emocional,
que se difere entre os indivíduos (BENDASSOLLI, 1998).
O estudo da psicossomática mostra que a dor pode não estar associada
com a lesão de tecidos, ao contrário do que comumente costumamos imaginar.
Numa seção anterior foram apresentados postulados de Straub (2014) que
abordavam a psicossomática e a psicanálise enquanto alternativas ao modelo
biomédico, que tanto vem sendo criticado pelos profissionais da psicologia.
Exsterman (1992 apud HISADA, 2003) diferencia a psicossomática e a
psicanálise:
Assim,
a) Transtornos gastrintestinais
Observa-se uma íntima ligação entre as emoções e a alimentação desde os
primeiros dias de vida do bebê, assim, a influência dos fatores emocionais nos
transtornos gastrintestinais é muito frequente.
Nas desordens gastrointestinais, a adaptação harmoniosa da atividade
gastrointestinal ao estado geral do organismo está perturbada. O sistema digestivo é
extremamente sensível às tensões. O apetite envolve-se na defesa contra a
ansiedade e a depressão, fatores relacionados a transtornos como anorexia
nervosa, bulimia e obesidade (HISADA, 2003, p.37). Essas condições já foram
mencionadas num outro momento nesse mesmo material e serão pormenorizadas
num outro momento desse curso, por isso as mesmas serão apenas citadas aqui.
Segundo Bitelman (2004), pacientes com queixas de gastrite ou úlcera
duodenal costumam apresentar conflitos relacionados ao trabalho, à vida familiar e
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b) Transtornos cardiovasculares
A hipertensão arterial é uma patologia relacionada à pressão do sangue
contra as paredes das artérias. Segundo a SBH (2014), a tabela a seguir mostra os
níveis das pressões sistólica e diastólica no organismo humano. Observem quando
ela é considerada normal e os casos onde já se considera que há hipertensão.
Tabela 03: Definições e classificações dos níveis de pressão arterial no consultório em mmHg
A hipertensão arterial pode ser ocasionada por uma série de fatores, tais
como hereditariedade, estilo de vida, fatores emocionais, dentre outros. Para nós,
cabe destacar que os aspectos psicológicos podem ser responsáveis por episódios
c) Transtornos da pele
Ao investigar a história de vida dos pacientes com problemas de pele,
observa-se a falta de contato físico entre mãe e bebê durante o seu primeiro ano de
vida. “Problemas de pele parecem estar relacionados à privação de contato físico
sofrida dos primeiros anos de vida.” Os pais apresentam dependência e insegurança
em relação à sua figura materna; já as mães se mostram ansiosas, superprotetoras,
com hostilidade disfarçada em ansiedade. Na adolescência esses problemas de pele
podem simbolizar a ansiedade vinculada à heterossexualidade emergente nessa
etapa da vida (HISADA, 2003, p.59).
As doenças infecciosas da pele podem ser causadas pela presença de
bactérias, portanto seu tratamento costuma ser antibioticoterapia. Elas também
podem surgir após períodos de queda do sistema imunológico (que sofre influência
do estado psíquico), o que favorece o surgimento de infecções oportunistas.
“Atualmente, muitos profissionais da saúde reconhecem que manifestações da pele
representam uma exteriorização de problemas internos não resolvidos, de ordem
física ou emocional” (BITELMAN, 2003, p.353).
Dentre as doenças da pele que podem ser de ordem psicossomática
destacam-se o vitiligo, a psoríase, as dermatites (atópica, de contato), a herpes, a
urticária, o eczema (HISADA, 2003), a acne, a erisipela (BITELMAN, 2003). As
imagens a seguir ilustram a aparência de algumas das patologias citadas:
e) Cefaleia e enxaqueca
Cefaleia e enxaqueca são dois tipos de dores de cabeça. Às vezes torna-se
difícil distinguir uma da outra, mas, dentre os sintomas, enquanto que a cefaleia
tensional se caracteriza normalmente apenas pela queixa dolorosa a enxaqueca
também pode apresentar distúrbios visuais denominados aura, dor apenas de um
lado da cabeça, náuseas e vômitos (VIEIRA, 2003).
Segundo Hisada (2003), os portadores de enxaqueca são pessoas que
perderam a segurança do lar e têm que enfrentar a responsabilidade sozinhos.
patologia muito grave (muitos acreditam ter câncer, por exemplo, ou estarem ficando
loucos); não se conformam em saber que “a causa é emocional”, como muitos
costumam dizer. Normalmente esses pacientes fazem tratamentos farmacológicos
direcionados aos sintomas físicos (por exemplo, para a diarreia e a enxaqueca) ou
também recebem prescrição de fármacos voltados a outras condições que podem
estar associadas (como, por exemplo, antidepressivos e ansiolíticos).
Um primeiro ponto que o psicólogo deve levar em consideração ao fechar o
diagnóstico de doença psicossomática e comunicar esse fato ao paciente é que este
pode não reagir bem, seja em função das características citadas anteriormente, ou
mesmo porque ele pode não ter entendido do que se trata. A palavra
“psicossomática” assusta, é erudita, não se pode esperar que o paciente domine
termos técnicos. Deve-se explicar de forma que ele possa entender, além de se
levar em consideração a comunicação estabelecida entre profissional e paciente –
tema que foi abordado na apostila anterior desse curso e que é ilustrado na citação
a seguir:
[...] juntamente com o paciente, ir construindo com ele esses marcos, sua
história de sintomas e de sofrimento, como se fossem peças de um quebra-
cabeça em que as partes estão todas espalhadas, distantes umas das
outras, impedindo uma visão do todo integrada. [...] É importante fazer
perguntas e responder às do paciente, abrir vias, caminhos que o paciente
não pôde construir. [...] É necessário uma relação humana com o paciente.
A escolha das palavras, o momento adequado, ajudam a criar o sintoma
que faltou em sua vida. As manifestações transferenciais devem ser vividas
e não interpretadas. O contato afetivo e a disponibilidade real em querer
ajudar são importantes. [...] O tratamento exige paciência, tempo e muita
disponibilidade do terapeuta, pois muitas vezes o paciente psicossomático é
repetitivo, falando várias vezes somente do sintoma [...]. Apresenta
dificuldade de integração uma vez que não consegue associar seus
sintomas com suas questões emocionais. É importante o terapeuta ter uma
visão unificada do paciente para poder auxiliar na integração e compreender
que o paciente está realmente sofrendo muito (HISADA, 2003, p.89-90).
[...] a psicossomática nos ensinou que os afetos não fazem mal à saúde.
Pelo contrário, aprendemos que a possibilidade do manejo psíquico dos
afetos é uma condição sine qua non para a proteção contra a doença e um
fator importante para o restabelecimento. Porém, como vimos, nossas
instituições ainda supõem que um estado emocional mínimo é a condição
ideal para um paciente internado. Podem-se imaginar quantas mudanças
seriam feitas nos procedimentos hospitalares se fosse levado em conta
esse outro ponto de vista. [...] O que observamos é que os aspectos
psicodinâmicos do paciente são considerados, mais frequentemente, como
uma espécie de acompanhante indesejável da doença que pode exigir.
Psicólogos ou psiquiatras costumam ser solicitados para, através de uma
interconsulta, ou de um tratamento paralelo, cuidar de problemas
disciplinares do paciente. Ou, então, determinadas doenças são
consideradas psicossomáticas se não se detecta nenhuma etiologia
orgânica. Constituem-se, assim, numa espécie de caso especial, exceções
que mantêm inalterado o modelo hegemônico das doenças e terapêuticas
puramente físicas.
tratamento, que ocorre de maneira gradual”, ou seja, esse tipo de terapia não
significa a imunidade aos problemas, mas um aprendizado de como lidar com as
adversidades de modo mais efetivo. “O paciente aprende que reabilitação não é cura
e nem tudo pode ser previsto” (p.607).
O terapeuta deve levar em conta que: “[...] a melhora dos sintomas
orgânicos apresenta um novo problema para o ego: encontrar um novo meio de
vazão para as tendências antes aliviadas pelos sintomas orgânicos” (HISADA, 2003,
p.8).
UNIDADE 7 – DOR
Pode-se afirmar que a dor é única, pois cada um sente a dor de uma forma e
sua vivência também é particular. A dor não resulta apenas da lesão tecidual, como
sempre é importante considerar o homem como um ser holístico, a dor também
precisa ser avaliada como um todo. A quantidade e a qualidade da dor que sentimos
são determinadas por nossas experiências prévias com sensações dolorosas, além
de nossa capacidade de entender as causas e as consequências da dor.
A ocorrência de dor varia em função de idade e gênero (TEIXEIRA et al.,
1999; STRAUB, 2014). Nas mulheres é mais comum o aparecimento de síndromes
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Talvez mais do que outra experiência cotidiana, a dor ilustra de forma clara
o modelo biopsicossocial. Esse modelo distingue entre os mecanismos
biológicos pelos quais estímulos dolorosos são processados pelo corpo: a
experiência emocional e subjetiva da dor e os fatores emocionais e
comportamentais que ajudam a moldar nossa experiência a ela (STRAUB,
2014, p.371).
Para validar a existência da dor basta apenas o relato de que está presente.
Para avaliá-la é necessário levar em consideração as causas físicas e
emocionais que influenciam sua percepção. A dor relatada é sempre real,
mesmo sendo de causa desconhecida (MURTA, 2007, p. 222).
Frente ao paciente com dor é sabido que não cabe ao psicólogo tratar a dor
em si, não basta saber a etiologia da dor, é necessário também buscar compreender
o sofrimento pelo qual o paciente está passando.
Como enfatizamos nas duas últimas seções, a dor e a doença não podem
ser compreendidas como eventos exclusivamente fisiológicos, considerando-se o
homem como um ser biopsicossocial, fica fácil compreender como essas situações
adversas acarretam em consequências não apenas para o organismo do sujeito,
como também para seu estado psicológico e nas suas interações sociais. Sem
aprofundarmos no assunto, qualquer pessoa, mesmo leiga, consegue perceber
como o estado biopsicossocial da pessoa com dor e doente fica alterado.
Afirmamos anteriormente que algumas dores não podem ser vistas (por
exemplo, caso haja uma fratura exposta fica mais fácil “visualizarmos a dor” à qual o
paciente se refere, diferente, por exemplo, de uma cefaleia, que normalmente não
apresenta nenhum sinal), mas podemos afirmar que as alterações no estado
psicossocial no indivíduo são importantes indícios de que a dor está presente.
Na maioria das vezes as consequências da dor e da doença (durante o
curso das mesmas ou mesmo após seu tratamento) são negativas para o paciente e
seus familiares. Reações como ansiedade, isolamento social, medo, depressão,
desconfiança, visão pessimista da vida, afastamento do trabalho e da escola, dentre
outras são comuns. A dor pode ser também indício de outras condições de caráter
psicopatológico, pois, segundo Figueiró (1999), a dor é um sintoma frequente em
pacientes com transtornos ansiosos, do humor (como a depressão) e somatoformes.
Entretanto, há pessoas que saem mais fortalecidas desse processo.
Segundo Perrin (1996 apud SILVA, 2001), as repercussões emocionais das doenças
variam de pessoa a pessoa. Quando o curso da doença é mais prolongado, o
paciente acaba se privando daquilo que lhe ocasionava prazer, já que as
implicações da doença afetam negativamente na sua autoestima, no controle de seu
próprio corpo e nas relações interpessoais.
Observam-se diferentes reações nos pacientes que sofrem de patologias
crônicas e agudas. No caso da doença crônica, há aqueles pacientes que, mesmo
afetados pela doença, requerem poucos cuidados por parte do profissional de
saúde, ou seja, vivem como se gozassem de boa saúde. Não vivem como doentes,
mesmo em situações em que precisam tomar precauções e abrir mão de atividades
físicas e sociais devido ao seu estado, ou seja, adaptam ao seu estado. Existe
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