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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
UNIDADE 1 – MÉTODOS DE PESQUISA E POSTURA ÉTICA EM PSICOLOGIA
DA SAÚDE.................................................................................................................. 6
1.1 Métodos de pesquisa em psicologia da saúde ...................................................... 6
1.2 Postura ética em psicologia hospitalar e da saúde ............................................. 10
UNIDADE 2 – SAÚDE x DOENÇA: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA .................. 14
2.1 Visão histórica da saúde X doença ..................................................................... 15
UNIDADE 3 – PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIAL (MENTE-CORPO) ................. 22
UNIDADE 4 – BASES BIOLÓGICAS DA SAÚDE E DOENÇA................................ 26
4.1 Sistema nervoso .................................................................................................. 26
4.2 Sistema endócrino ............................................................................................... 30
UNIDADE 5 – SUBJETIVIDADE E ADOECIMENTO NA CONTEMPORANEIDADE
.................................................................................................................................. 33
UNIDADE 6 – PSICOSSOMÁTICA .......................................................................... 37
6.1 Definição ............................................................................................................. 37
6.2 Distúrbios psicossomáticos em diferentes sistemas corporais ............................ 42
6.3 Distúrbios psicossomáticos na infância ............................................................... 50
6.4 O atendimento psicológico ao paciente somatizador .......................................... 53
UNIDADE 7 – DOR ................................................................................................... 59
UNIDADE 8 – IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS DAS DOENÇAS .......................... 65
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 71
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INTRODUÇÃO

Enquanto orientadores, sempre recomendamos a pesquisa de materiais


recentes, porém, ao se utilizar obras clássicas (como no caso deste material em que
grande parte do conteúdo foi embasado em obras de teóricos que abordam sobre
diferentes autores) isso não se faz possível – ainda mais em caso de livros que já
possuem edições mais recentes, porém lançamos mão de cópias mais antigas. Fora
isso, é sempre importante mantermos o conhecimento científico atualizado!
Também já justificamos o uso de algumas citações de citações (apuds), o
que não é recomendado do ponto de vista da metodologia da pesquisa, porém, se
fez necessário em algumas situações devido à dificuldade em se localizar algumas
obras originais. Sugerimos que, na introdução, anotem as questões que mais
despertaram sua curiosidade ou dúvidas e após o estudo da apostila revejam se as
mesmas ficaram realmente claras.
Nesta apostila, nosso foco será mais direcionado à psicologia da saúde que
à psicologia hospitalar especificamente, a qual será o centro de nossa atenção em
outros momentos do curso. Partimos do pressuposto de que a condição de
adoecimento não acomete apenas o indivíduo que se encontra hospitalizado,
portanto, é imprescindível que o psicólogo estude a saúde – sua promoção,
prevenção e reabilitação da mesma – nos diferentes contextos nos quais o sujeito
encontra-se inserido. Não iremos detalhar aqui muitas condições específicas ao
paciente hospitalizado, mas de todo paciente que chega até a nós, psicólogos – seja
no consultório, no ambulatório, nas UAPs, ou mesmo no hospital.
Nessa parte do curso, nosso foco se faz menos à prevenção e mais ao
processo de doença em si. Reforçamos o quanto partir da prevenção se faz
importante para evitar maiores transtornos para o paciente e também menos custos
para ele e para o sistema de saúde, entretanto, devemos levar em consideração que
nossa cultura ainda não assimilou bem essa perspectiva preventiva. Grande parte
da população só procura ajuda da equipe multiprofissional de saúde quando já há
algum sintoma instalado, dentre eles a dor, que é um dos assuntos enfatizados
neste material. Iremos abordar a prevenção na próxima apostila, ressaltando, mais
uma vez, que não estamos desmerecendo sua importância nos contextos de saúde.

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De que sofre o paciente? Qual a sua queixa? Ela faz referência apenas ao
seu corpo? Como o corpo e a mente possuem essa relação tão íntima que se
expressa tanto em termos de saúde quanto em termos da doença? Esses
questionamentos tentarão ser esclarecidos neste material.
E como os pesquisadores chegam às respostas para indagações como
essas e outras mais? Começaremos esta apostila falando sobre isso: como
acontece a pesquisa em psicologia da saúde. É essencial conhecermos esses
delineamentos de pesquisa para podermos compreender que a psicologia é uma
ciência, ou seja, as respostas às quais os pesquisadores chegaram não derivam de
“achismo”, de senso comum.
Mas a psicologia é uma ciência da saúde ou uma ciência humana?
Quando um estudante opta por cursar a graduação em psicologia, ele
percebe que o curso vem listado entre os da área de humanas. Em sua colação de
grau, a cor da faixa que compõe sua beca – azul – reforça que esta é a formatura
num curso da área de humanas. Entretanto, o psicólogo está inserido na equipe
multiprofissional de saúde, como mostra a citação a seguir:

Temos, atualmente, 14 profissões de nível superior, reconhecidas pelo


Conselho Nacional de Saúde como da área de saúde: Biomedicina,
Biologia, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia,
Fonoaudiologia, Medicina, Medicina Veterinária, Nutrição, Odontologia,
Psicologia, Serviço Social e Terapia Ocupacional. Temos, ainda, inúmeras
profissões formais de nível médio que participam ativamente da atenção à
saúde. (VELLOSO, s.d., p.25)

Então, a psicologia é da área da saúde ou de humanas? Ficou confuso?


Vamos tentar esclarecer.
Aqueles que se graduaram em psicologia mais recentemente costumam
compreender melhor essa questão, que acaba sendo perceptível durante o curso.
Os cursos de psicologia mais antigos tinham em sua grade curricular conteúdos
bastante diversificados de onde ficava subentendido que o profissional graduado em
psicologia teria condições de atuar, por exemplo, em clínicas, hospitais, empresas,
instituições diversas, escolas, dentre outros locais que contam com a presença
desse profissional.
Com o passar dos anos, algumas reformulações foram acontecendo nas
grades curriculares e, atualmente, o padrão que impera na maioria das faculdades e
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universidades é de um currículo básico, para os primeiros anos de curso – o qual


integra conhecimentos que serão de aplicabilidade em todas as áreas de atuação –
e, após o cumprimento desses conteúdos, o graduando opta por diferentes ênfases
– disciplinas voltadas mais diretamente para a sua área de interesse – tais como
clínica, organizacional, escolar, hospitalar.
A partir dessa breve explanação sobre os currículos de algumas instituições
formadoras, torna-se mais fácil compreender que, desde a sua formação, norteiam-
se caminhos diferentes pelos quais o psicólogo deseja se enveredar: na área de
humanas (como a psicologia organizacional) e na área da saúde (como a psicologia
hospitalar). Se pensarmos numa perspectiva histórica – como foi abordado na
apostila anterior – fica fácil compreender que a psicologia descende das humanas
(filosofia) e da saúde (fisiologia).
A reflexão que fica para nós é a seguinte: a psicologia não pode ser
abordada como uma ciência e uma profissão exclusivamente da área da saúde, mas
sim, de intercâmbio entre a saúde e as humanas:

Provavelmente nenhum psicólogo colocaria em dúvida que suas ações têm


como objetivo final a promoção do bem-estar da pessoa. Mas tal
reconhecimento não é suficiente para definir sua identidade como
profissional de saúde. Se assim o fosse, até um engenheiro civil poderia ser
classificado como um profissional da área de saúde, ao ter de elaborar
projetos pensando no ser humano que irá habitar, trabalhar ou circular nos
espaços que projeta. Por isso, insistimos que ser profissional de saúde é
apenas uma de nossas identidades. Admitir sermos apenas profissionais da
área de saúde significa seguir em uma direção contrária ao respeito à
diversidade, hoje um valor reconhecido entre o conjunto de valores de quem
defende uma sociedade democrática. O problema persistiria se também o
rótulo fosse o de ciência da educação. No entanto, isto seguiria
rigorosamente a mesma lógica de defender que Psicologia pertence à área
da saúde. Muitas das nossas práticas são efetivamente práticas educativas,
mesmo quando estamos inseridos no campo da saúde, nas ações de
prevenção e atenção por exemplo. Ou seja, quaisquer rótulos restritivos nos
trariam problemas internos (SBPOT, 2008, s.p).

Quando falamos sobre o psicólogo da saúde, estamos reforçando essas


ideias, mas desde já não podemos considerar a psicologia como uma área APENAS
da saúde.
Esta apostila foi construída a partir da leitura pormenorizada de diversos
materiais bibliográficos de diferentes linhas teóricas. Buscamos não privilegiar uma

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ou outra linha, mas mostrar que todas elas têm benefícios e visões diferentes sobre
a mesma questão.
Os objetivos que pretendemos alcançar neste material já foram elucidados
na primeira página. A obra foi embasada principalmente nas ideias de Straub (2014)
e Hisada (2003), mas várias obras importantes (livros e artigos científicos indexados
em bases de dados) também serão citadas e devidamente referenciadas ao final do
material.

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UNIDADE 1 – MÉTODOS DE PESQUISA E POSTURA ÉTICA


EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

1.1 Métodos de pesquisa em psicologia da saúde


Compreender como acontecem as pesquisas na área da psicologia da
saúde é muito importante para o profissional que deseja aprofundar os seus estudos
na área. Ressaltamos aqui que os métodos de pesquisas ilustrados nessa seção
não serão os mesmos que vocês irão utilizar em seu Trabalho de Conclusão de
Curso, os mesmos servem apenas para ilustrar que a psicologia hospitalar e da
saúde é uma disciplina científica e, para que conclusões sejam tiradas e estudos
publicados, faz-se necessário um estudo prévio, com delineamento de pesquisa
específico. Todo esse cuidado é essencial, pois as pesquisas possibilitam, por
exemplo, que os resultados alcançados sejam fidedignos e que não haja explicações
embasadas no senso comum (já que muitas considerações acerca das dimensões
psíquicas ocorrem dessa forma).
Da mesma forma que os farmacêuticos fazem uma série de experimentos e
testes para descobrirem novas drogas que curam doenças, na psicologia também se
faz necessário realizar pesquisas para compreender aspectos psicológicos do
indivíduo e assim buscar intervir para a prevenção de problemas e para tratar as
condições já existentes.
Mesmo que o psicólogo hospitalar não se envolva na área das pesquisas, é
importante que ele conheça esses métodos, já que muitos materiais da área (como
livros e artigos científicos) citam pesquisas de diferentes delineamentos
metodológicos, porém sem oferecer maiores explicações, por exemplo, sobre as
vantagens e desvantagens do mesmo e porque este método seria o mais adequado
e não outro.
Antes de detalharmos os métodos de pesquisa propriamente ditos, faz-se
relevante compreender o papel do psicólogo da saúde e suas áreas de atuação,
visto que na apostila anterior o nosso foco foi mais voltado à psicologia hospitalar.
Os psicólogos da saúde atuam como professores, cientistas pesquisadores
e/ou clínicos, por isso, a questão da metodologia de pesquisa em saúde é
diretamente relacionada com as áreas de atuação do profissional.

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Segundo Aranha e Martins (1995), o conhecimento científico caracteriza-se


por ser preciso, sistemático e objetivo. As verdades científicas não são absolutas e
definitivas, visto que esse tipo de conhecimento está em constante transformação.
Assim, resultados de uma determinada pesquisa podem ser refutados num outro
momento, o que faz com que o saber seja questionado.

No centro de toda investigação científica, há uma atitude de descrença que


nos encoraja a avaliar evidências e analisar conclusões. Essa atitude é
chamada de pensamento crítico e envolve uma abordagem de
questionamento a todas as informações e todos os argumentos (STRAUB,
2014, p.27).

A pesquisa em saúde precisa ser sempre científica, os dados devem ser


testados, pois, do contrário, pode-se cair no senso comum e atribuir as respostas às
questões científicas a crenças tendenciosas, ou seja, raciocínios equivocados cujas
expectativas não permitem o indivíduo a buscar explicações alternativas para as
suas explicações (STRAUB, 2014).
Segundo Papalia, Olds e Feldman (2006), o método científico passa pelas
seguintes etapas: identificação do problema de pesquisa; formulação das hipóteses;
coleta de dados (que pode ser diretamente junto à amostra ou a partir de dados de
estudos já publicados); análise de dados (onde se espera confirmar as hipóteses
testadas) e posterior divulgação dos resultados alcançados.
A partir de diferentes metodologias, as quais serão apresentadas a seguir,
investigam-se como fatores psicológicos podem influenciar na saúde do indivíduo. A
tabela a seguir ilustra as categorias de estudos utilizados e um apanhado geral
sobre os mesmos (STRAUB, 2014).

Tabela 01: Comparando métodos de pesquisa


Tipo / Método Características principais Vantagens Desvantagens
da Pesquisa
Estudo de caso Pesquisadores observam e Oferecem Não há como
registram os informações úteis e controlar as variáveis
comportamentos dos aprofundadas sobre de forma direta.
participantes, formulando uma pessoa. Sujeito a
hipóteses que serão Frequentemente leva tendenciosidade do
testadas de forma a novas hipóteses. observador.
sistemática posteriormente. Detecta relações de Não determina
É um tipo de estudo ocorrência natural causalidade.
descritivo, assim como entre as variáveis. Os resultados obtidos
inquéritos, entrevistas, em um único caso
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observações naturalísticas. podem não ser


Os estudos de caso generalizáveis a
estudam um único indivíduo maiores grupos.
em profundidade.
Estudos Procuram definir relações Podem superar a Sujeitos à
correlacionais positivas ou negativas entre tendenciosidade de tendenciosidade do
as variáveis. base cultural na teoria observador.
Uso de cálculos estatísticos. e pesquisa.
Variáveis com correlação
positiva: aumentam ou
diminuem juntas. (Exemplo:
↑ idade → ↑ incidência da
Doença de Alzheimer)
Variáveis com correlação
negativa: uma variável
aumenta e a outra diminui.
(↓ escolarização → ↑
incidência da Doença de
Alzheimer).
Estudos Comparação estatística de Estabelece relações Quando realizados
experimentais dois grupos: o grupo de causa e efeito. em laboratórios,
experimental (sujeito ao Procedimento alguns experimentos
experimento, exemplo: altamente controlado, podem não ser
grupos que ingerem novos que pode ser repetido aplicados na prática.
fármacos) e grupo controle por outro Certas variáveis
(não sujeito ao experimento, experimentador. podem não ser
apenas para comprovar que testadas por motivos
os resultados não foram práticos e éticos.
devido a outras variáveis,
exemplo: grupos que
ingerem placebo).
Estudos Comparações estatísticas Auxiliam a determinar Certas variáveis
epidemiológicos entre grupos expostos a a etiologia de algumas devem ser
diferentes fatores de risco. doenças. controladas por
Fácil replicação e seleção ao invés de
generalização dos manipulação direta.
resultados. Demorados.
Custo elevado.
Estudos de Coletam-se dados sobre a Pode indicar mudança Demorado, caro.
desenvolvimento: mesma pessoa ou grupos devido à idade ou Problemas de
Longitudinais de pessoas durante continuidade. desgaste,
determinado período de Evita confusões com tendenciosidade da
tempo. efeitos de coorte amostra e efeitos de
(grupos etários, repetição dos testes.
gerações). Resultados podem ser
válidos apenas nos
grupos testados.
Estudos de Coletam-se dados sobre Indica semelhanças Não pode estabelecer
desenvolvimento: pessoas de diferentes diferenças entre efeitos de idade.
Transversais idades na mesma ocasião grupos etários. Mascara diferenças
Rápido. individuais.
Econômico. Pode ser confundido
Sem problemas de com efeitos de
desgastes ou coortes.
repetição dos testes.
Fonte: adaptado de Straub (2014); Papalia, Olds e Feldman (2006).

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A partir das considerações apresentadas na tabela anterior algumas


explicações serão feitas:
Observam-se que existem vários tipos de pesquisas, diferentes
metodologias, todas utilizadas na área da saúde, com suas vantagens e
desvantagens. Cada método é adequado para se investigar determinada questão,
assim o pesquisador deve ser experiente no tipo de pesquisa que pretende realizar
para se alcançar os resultados esperados.
Define-se amostra como um grupo menor, dentro de uma população que
apresenta características semelhantes às da população inteira. Seleciona-se uma
amostra, pois em muitos estudos, torna-se inviável realizar um estudo com toda a
população, a exemplo do que ocorre nos censos. Existem dois tipos de seleção da
amostra: aleatória ou por conveniência. A seleção aleatória é o tipo mais
recomendado e caracteriza-se pelo fato de que cada pessoa dentro de determinada
população tem uma chance igual e independente de ser escolhida, ou seja, a
escolha se dá ao acaso. Como nem sempre é possível realizar esse tipo de escolha
algumas amostragens são escolhidas por conveniência (por exemplo, na escola
onde o pesquisador já trabalha); pode haver o risco dos resultados obtidos daquela
amostra em especial não serem aplicados à população como um todo (PAPALIA;
OLDS; FELDMAN, 2006).
Uma coorte pode ser compreendida como um grupo que tem em comum
determinado evento, um grupo de pessoas que viveu em determinada geração.
“Grupo de pessoas que podem ter nascido aproximadamente na mesma época,
experimentam condições históricas e sociais semelhantes” (STRAUB, 2014, p.16).
Estudos desse tipo são importantes e poderiam investigar, por exemplo, os efeitos
do estresse em pessoas que viveram na Alemanha em ocasião da segunda guerra.
Os estudos epidemiológicos são de suma importância na área da saúde.
Na apostila anterior, ao abordarmos o envelhecimento, falamos brevemente sobre a
transição epidemiológica: o maior número de mortes devido às doenças crônicas
não transmissíveis ao invés da morte por doenças infecto-contagiosas. A
epidemiologia é utilizada para estabelecer a causa da doença; para se traçar a

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história natural de uma doença; para descrever o estado de saúde de determinadas


populações e para realizar uma intervenção (POWERS; HOWLEY, 2000).
Fletcher e Fletcher (2006) elucidam a importância da epidemiologia clínica
por ser esta a ciência que objetiva desenvolver e aplicar métodos de observação
clínica que conduzam a conclusões válidas, evitando-se, assim, a ocorrência de
erros. A epidemiologia clínica é de grande importância, pois, a partir dela, os
especialistas podem obter as informações mais relevantes sobre o paciente para,
com elas, tomarem as melhores decisões no que diz respeito ao seu cuidado.
Na tabela anterior foram apresentados apenas estudos com seres humanos,
porém há outra modalidade de pesquisa, realizada com dados de pesquisa já
publicados, que também é muito válida: a metanálise (bibliometria). A bibliometria
pode ser definida como uma prática multidisciplinar e é um recurso que começou a
ser utilizado para identificar comportamentos da literatura e sua evolução em
determinados contextos sócio-históricos. Visa quantificar resultados de busca de
pesquisa. Os métodos bibliométricos são uma importante ferramenta para a
realização dos estudos sobre a produção científica de determinado assunto, país (ou
comparação entre diferentes países) e autor. A internet é um poderoso meio de
disseminação do conhecimento científico e acadêmico, por isto é um local
privilegiado para a realização de pesquisa bibliométrica (BUFREM; PRATES, 2005).

1.2 Postura ética em psicologia hospitalar e da saúde


Conforme mencionado na tabela, uma questão muito importante nas
pesquisas que envolvem seres vivos é a ética. Neste caso, iremos focar apenas a
legislação e os princípios que regem a pesquisa com seres humanos – sujeitos de
interesse do psicólogo hospitalar e da saúde.
Papalia, Olds e Feldman (2006) elucidam três princípios básicos que
envolvem a pesquisa com seres humanos: a beneficência, o respeito à autonomia e
a justiça. Além disso, os sujeitos que compõem amostras de pesquisas têm também
direito a consentimento informado, à autoestima, à privacidade e ao sigilo. Koerich,
Machado e Costa (2005) elucidam que esses princípios não se restringem à área da
pesquisa, mas devem ser utilizados como recursos para a análise e a compreensão
das situações que acontecem no cotidiano dos serviços de saúde. Dessa forma,

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reafirmamos a importância do psicólogo hospitalar e da saúde compreender esses


princípios.
O primeiro princípio abordado é o da beneficência, o qual foi explicitado por
Beauchamp e Childress (1993 apud KOERICH; MACHADO; COSTA, 2005):

O princípio da beneficência relaciona-se ao dever de ajudar aos outros, de


fazer ou promover o bem a favor de seus interesses. Reconhece o valor
moral do outro, levando-se em conta que maximizando o bem do outro,
possivelmente pode-se reduzir o mal. O profissional se compromete em
avaliar os riscos e os benefícios potenciais (individuais e coletivos) e a
buscar o máximo de benefícios, reduzindo ao mínimo os danos e riscos
(p.108).

Faz-se relevante destacar que, segundo os autores supracitados, para


realmente fazer o bem ao paciente, torna-se necessário que os profissionais da
saúde dominem suas competências profissionais, pois assim, o mesmo terá
condições de definir atitudes e procedimentos que realmente visem o melhor ao
paciente e, consequentemente, evitar possíveis riscos.
Cada profissional que compõe a equipe multiprofissional de saúde precisa
ter conhecimento de seu código de ética profissional, documento que norteia a
postura ética do profissional, além de expor claramente os direitos,
responsabilidades, deveres, proibições e possíveis penalidades caso cometa alguma
atitude proibida por seu código de ética. O psicólogo precisa conhecer o Código de
Ética do Psicólogo (CFP, 2005), além das resoluções que regulamentam sua prática
profissional.
Não basta fazer o bem ao paciente, também se faz imprescindível não fazer
o mal a ele.

O princípio de não-maleficência implica no dever de se abster de fazer


qualquer mal para os clientes, de não causar danos ou colocá-los em risco.
O profissional se compromete a avaliar e evitar os danos previsíveis
(KOERICH; MACHADO; COSTA, 2005, p.109).

Mais uma vez ressalta-se a importância do profissional da saúde vigiar sua


postura para não trazer nenhum tipo de riscos ao seu paciente ou sujeito da
pesquisa, ou mesmo executar outra técnica que acarrete em menores riscos ao
paciente.

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O princípio da autonomia diz respeito à autodeterminação ou autogoverno,


ao poder de decidir sobre si mesmo. [...] Respeitar a autonomia é
reconhecer que ao indivíduo cabe possuir certos pontos de vista e que é ele
que deve deliberar e tomar decisões seguindo seu próprio plano de vida e
ação embasado em crenças, aspirações e valores próprios, mesmo quando
estejam em divergência com aqueles dominantes na sociedade, ou quando
o cliente é uma criança, um deficiente mental ou um sofredor psíquico
(KOERICH; MACHADO; COSTA, 2005, p.109).

Deve-se enfatizar que a autonomia do paciente sempre é restrita quando o


mesmo se encontra hospitalizado e a equipe de saúde deve buscar garantir sua
autonomia. Para a psicologia é importante enfatizar que respeitar a autonomia
envolve reconhecer que o paciente possui crenças e pontos de vista diferentes, os
quais não devem ser simplesmente “abafados” pelo conhecimento científico vigente.
Finalmente, o princípio da justiça refere-se à “inclusão de grupos diversos
mantendo a sensibilidade a qualquer impacto especial que a situação de pesquisa
possa ter sobre eles” (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006, p.94). Em relação à
atuação profissional frente ao paciente preconiza-se “à distribuição coerente e
adequada de deveres e benefícios sociais”, ou seja, no Brasil, o paciente tem direito
à saúde pública e gratuita (KOERICH; MACHADO; COSTA, 2005, p.109).
Além desses princípios que norteiam não apenas a atuação dos
pesquisadores, mas também a prática profissional da equipe multiprofissional em
saúde, três pontos precisam ser elucidados ao se realizar uma pesquisa.
Para que uma pessoa participe de uma pesquisa inicialmente ela necessita
ter condições para concordar voluntariamente do estudo, tendo consciência de seus
possíveis riscos e benefícios. Em caso de pessoas que não têm condições de dar
esse consentimento (por exemplo, crianças e idosos com demência), faz-se
necessária também a autorização de um responsável (PAPALIA; OLDS; FELDMAN,
2006). Os pesquisadores redigem um termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE), o qual deve expressar claramente objetivos, riscos e benefícios em se
participar da pesquisa. Caso concorde com o que está registrado, o participante
assina o termo e só então passa a participar da pesquisa.
No Brasil há o Conselho de Ética em Pesquisa, ao qual todas as pesquisas
precisam ser submetidas. A Resolução 196/96 (BRASIL, 1996) regulamenta as
pesquisas com seres humanos em território nacional.
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Os pacientes possuem também direito a ter sua privacidade resgatada, além


de sigilo em relação aos dados coletados (assim como acontece na prática
profissional) e direito à autoestima (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Isso justifica, por exemplo, por que o psicólogo nunca pode revelar dados
dos pacientes numa pesquisa (ou apresentação escrita e oral de trabalho em
congresso, por exemplo), já que feriria o direto do paciente à sua privacidade e
sigilo. O Código de Ética dos Psicólogos (CFP, 2005) também reforça a questão do
sigilo profissional, dado que será aprofundado num outro momento do curso
(juntamente com outros detalhes refrentes à ética profissional, indispensáveis à
atuação do psicólogo em instituições de saúde).

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UNIDADE 2 – SAÚDE x DOENÇA: UMA PERSPECTIVA


HISTÓRICA

Após essa explanação de como ocorrem as pesquisas em psicologia da


saúde e, consequentemente, como os resultados aos quais os pesquisadores
chegam são fidedignos e embasados em dados confiáveis, partiremos para outros
pontos de interesse do psicólogo hospitalar e da saúde.
Fala-se em saúde a todo o tempo, porém, o que é saúde? Será que é
apenas não ter doenças? Pensar em saúde e doença nos leva a uma reflexão
bastante ampla, a qual engloba inúmeros aspectos, não apenas de ordem do
biológico, como ilustrado na citação a seguir:

A vida se manifesta através da saúde e da doença, que são formas únicas,


experiências subjetivas e que não podem ser manifestadas integralmente
através de palavras. No entanto, a pessoa doente utiliza palavras para
expressar a sua doença e os profissionais da saúde, por sua vez, também
fazem uso de palavras para significar as queixas dos pacientes. Dessa
maneira, surge tensão entre a subjetividade da doença e a objetividade dos
significados atribuídos pelos profissionais às queixas do paciente e que o
levam a propor intervenções para lidar com esta situação. (CZERESNIA
1999 apud BACKES et al., 2009, p. 112).

O conceito de saúde sofreu algumas alterações ao longo do contexto


histórico e nosso foco agora será apresentarmos essas modificações. Segundo
Straub (2014), o termo “saúde” deriva-se do alemão e refere-se a um estado de
integridade do corpo. Por outro lado, a perda de saúde era compreendida, na
tradução literal da palavra, como um grave ferimento corporal. Com o passar dos
tempos, saúde passou a ser compreendida como a ausência de doenças (não de
ferimentos), porém, essa definição também se tornou incompleta. Atualmente, a
saúde é definida como um estado de bem-estar físico, psicológico e social.
Essa definição justifica por que a psicologia possui relação íntima com o
conceito de saúde, o qual não inclui apenas o ponto de vista físico. Relacionam-se à
psicologia da saúde questões como a influência das crenças, atitudes, autoconfiança
e personalidade no estado geral de saúde. “A psicologia da saúde é a ciência que
busca responder a essas e a muitas outras questões a respeito da maneira como
nosso bem-estar interage com o que pensamos, sentimos e fazemos” (STRAUB,
2014, p.5).
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A doença esteve presente em todas as culturas no decorrer do contexto


histórico, mas cada cultura atribuía diferentes causas para as doenças e,
consequentemente, diferentes tratamentos. Importante conhecer as diferentes
etiologias e estratégias de tratamento das doenças que foram se modificando no
passar dos anos. O psicólogo deve compreender que, até os dias de hoje, algumas
pessoas atribuem as doenças a causas que já foram desmistificadas ao longo do
tempo, assim como acreditam em tratamentos que não possuem validade científica.
Entretanto, é preciso cuidado para lidar com essas diferentes crenças.

2.1 Visão histórica da saúde X doença


Por questões de limitações de tempo, não é possível oferecer detalhes
pormenorizados acerca de importantes acontecimentos em relação ao processo de
saúde e doença que ocorreram ao longo da história. Assim, iremos citar apenas
alguns eventos relevantes que irão se associar com assuntos posteriormente
abordados nesta apostila.

a) Pré-história:
Nesse período da história as doenças eram atribuídas a fatores espirituais,
ou seja, os espíritos ruins provocavam as doenças e somente os sacerdotes ou
pajés das comunidades eram capazes de intervir sobre esses espíritos. Há indícios
desses tratamentos nas pinturas rupestres encontradas em cavernas e em crânios
humanos descobertos por arqueólogos que apresentavam perfurações (indícios de
trepanação, uma intervenção cirúrgica primitiva onde se fazia um furo no crânio, o
qual permitiria a saída dos espíritos malignos) (STRAUB, 2014).
Com o passar dos anos, há aproximadamente quatro mil anos, há registros
das primeiras associações entre higiene e saúde, e algumas comunidades passaram
a melhorar a higiene pública para evitar a infestação por vermes (STONE; COHEN;
ADLER, 1979 apud STRAUB, 2014).

b) Grécia e Roma (séculos VI e V a.C.)


Nessa época houve avanços expressivos na área da saúde pública e
saneamento. Em Roma, em 312 a.C., a água chegava por um arqueduto, a limpeza

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das vias públicas, o suprimento e a conservação dos alimentos era controlado por
oficiais. No século I d.C., há registros de um sistema moderno de esgoto sanitário e
banheiros públicos (CARTWRIGTH, 1972 apud STRAUB, 2014).
Na Grécia antiga houve importantes descobrtas acerca da estrutura e do
funcionamento do corpo, da mente e da interação entre ambos (CASTRO;
LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Hipócrates (em torno de 460 a 377 a.C),
considerado pai da medicina moderna, deixou de relacionar as doenças com o
misticismo.
Para Hipócrates, o cérebro é considerado a sede das funções relacionadas
ao intelecto (julgamento, emoções), assim como dos problemas como espasmos,
convulsões e condições que afetam a inteligência (HIPÓCRATES, trad. 2002;
PANOURIAS; SKIADAS; SAKAS; MARKETOS, 2005, apud CASTRO; LANDEIRA-
FERNANDEZ, 2011).
Atribuía-se à cabeça os distúrbios do movimento, como as paralisias, além
dos distúrbios da fala (FINGER, 2000; HIPÓCRATES, trad. 2002; PANOURIAS et
al., 2005 apud CASTRO; LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011). Para Hipócrates os
transtornos mentais são associados ao cérebro.
Um ponto chave em sua teoria é a teoria dos humores, a qual explica o
equilíbrio dos organismos, a saúde, e já foi utilizada como explicação para as
diferenças de personalidade. A citação a seguir elucida tal teoria: esta doutrina
serviu como base para toda prática médica ocidental por quase dois milênios
(BATISTA, 2003; FINGER, 2000; FRIAS, 2004; HIPÓCRATES, trad. 2002).

Basicamente, propõe que o corpo é composto por quatro humores: sangue,


flegma, bile amarela e bile negra. A saúde estaria associada com a perfeita
justa proporção destes humores, tanto qualitativa quanto quantitativamente.
A doença seria resultado do isolamento de um dos humores em alguma
região do corpo, desequilibrando seu funcionamento (CASTRO; LANDEIRA-
FERNANDEZ, 2011, p.802).

Galeno (129-200 a.C.) é outra figura importante nesse contexto. Realizou


dissecações de animais e tratou graves ferimentos de gladiadores romanos. Seus
estudos sobre anatomia, higiene e saúde foram relevantes e seus conhecimentos na
área da anatomia foram muito difundidos. Embasado na teoria humoral de

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Hipócrates desenvolveu um elaborado sistema de farmacologia que persistiu por


muitos anos (STRAUB, 2014).

Além disso, Galeno revitalizou a Teoria Humoral de Hipócrates e ressaltou a


importância dos quatro temperamentos, conforme o predomínio de um dos
quatro humores: sanguíneo, fleumático, colérico (de cholé, bile) melancólico
(de melános, negro + cholé, bile). Considerou, desse modo, o
comportamento das pessoas a partir do equilíbrio e harmonia dos humores
constituintes do ser humano (FINGER, 2000; GROSS, 1998b) (CASTRO;
LANDEIRA-FERNANDEZ, 2011, p.803).

c) Idade Média e Renascença


Época marcada pelo retorno das explicações para as doenças provenientes
da crença no sobrenatural. A hegemonia da Igreja merece destaque nessa época, a
qual proibia, por exemplo, a dissecação dos corpos pela explicação de que os seres
vivos possuem alma e não poderiam ser violados. As doenças eram interpretadas
como punições de Deus, explicação dada às doenças epidêmicas que assolavam a
população (STRAUB, 2014).
Outros pontos que merecem destaque nesse contexto histórico foram a
criação dos hospitais, a adoção de medidas médico-sanitárias e a adoção da prática
da quarentena para se evitar a propagação de doenças (FONSECA; CORBO, 2007).

Como síntese desse período, parece-nos importante lembrar que, embora a


natureza comunicável de algumas doenças fosse cada vez mais nítida –
como a lepra e a peste –, a teoria miasmática ainda persistia como modelo
explicativo. Ou seja, não havia evidência do elemento comunicável que não
aqueles já sugeridos por Hipócrates: uma alteração atmosférica, onde
águas estagnadas e matéria orgânica em decomposição corrompiam o ar.
Naturalmente que, sob o poder da igreja, foram desautorizadas todas as
iniciativas de avanço no conhecimento das causas das doenças e até
mesmo de sugestão de qualquer explicação que estivesse além da fé.
Aqueles que insistissem enfrentariam os tribunais da Inquisição (FONSECA;
CORBO, 2007).

Com o passar dos tempos e a maior disseminação das epidemias, a


explicação para as mesmas voltou a ser a transmissão entre os indivíduos, que se
dava devido à “conjugação dos astros, o envenenamento das águas pelos leprosos,
judeus ou por bruxarias” (STRAUB, 2010, p.9). Surge a necessidade de descobrir a
origem dos materiais que causavam os contágios (BARATA, 1985 apud BACKES et
al., 2009).

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Destacam-se nesse período as ideias de Descartes, as quais são muito


importantes para o advento da psicologia.
Descartes (1596-1650) inaugurou a psicologia moderna ao sugerir que a
mente influencia o corpo, ao mesmo tempo em que o corpo pode exercer sobre a
mente uma influência maior do que até então se supunha, o que é um grande
avanço, pois, desde as ideias de filósofos clássicos, como Platão, acreditava-se que
a mente (ou alma) e o corpo possuíam naturezas diferentes. (SCHULTZ; SCHULTZ,
1992).

A ideia mais radical de Descartes foi sugerir que, embora a mente


conseguisse afetar o corpo, o corpo também conseguia afetar a mente. Por
exemplo, ele acreditava que paixões, como amor, ódio, tristeza, surgiam do
corpo e influenciavam os estados mentais, embora o corpo agisse sobre
essas paixões por meio de seus mecanismos. Dessa maneira, Descartes
aproximou mente e corpo ao focalizar suas interações (GAZZANIGA;
HEATHERTON, 2005, p.48).

d) Século XIX
Com o decorrer do tempo, algumas teorias na área da saúde foram se
disseminando, dentre elas destacamos as deias de Pasteur, que realizou uma série
de experimentos para mostrar, por exemplo, como os métodos de esterilização
podem eliminar os germes, os quais não surgem por geração espontânea, a
exemplo do que se pensava anteriormente. As teorias de Pasteur também serviram
para elucidar a ideia de que vírus, bactérias e outros microrganismos podem invadir
o corpo humano e fazer com que o seu funcionamento torne-se inadequado
(STRAUS, 2014).
Pasteur não dispôs de condições adequadas para descobrir quais
microrganismos eram responsáveis por determinada doença, já em 1876, Koch,
através de pesquisas com camundongos, conseguiu identificar o bacilo causador de
antraz em ratos, o que sinaliza um grande avanço na área das doenças causadas
por esses tipos de contaminações (FONSECA; CORBO, 2007).

e) Século XX
Época em que a medicina era mais embasada no estudo da anatomia e da
fisiologia, em detrimento dos pensamentos e emoções. Predomina o modelo
biomédico de saúde, que sustenta que as doenças sempre têm causas biológicas (o
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que foi experimentalmente demonstrado em estudos como os de Pasteur e Koch)


(STRAUS, 2014). Até a atualidade, este é o modelo ainda predominante na
medicina, por isso é muito importante que não só o psicólogo hospitalar, mas a
equipe de saúde como um todo, compreenda os fatores biológicos envolvidos na
etiologia da doença, mas, além disso, não deixe de relacionar a importância dos
aspectos psicológicos nas condições de saúde e doença.

O modelo biomédico apresenta três características distintas. Em primeiro


lugar, pressupõe que a doença seja o resultado de um patógeno – um vírus,
uma bactéria ou outro microrganismo que invade o corpo. O modelo não faz
menção às variáveis psicológicas, sociais e comportamentais na doença.
Nesse sentido, o modelo biomédico é reducionista, considerando que
fenômenos complexos (como a saúde e a doença) são essencialmente
derivados de um fator primário. Em segundo, esse modelo tem como base a
doutrina cartesiana de dualismo mente-corpo, que, como vimos, considera-
os entidades separadas e autônomas que interagem de forma mínima. Por
fim, de acordo com ele, a saúde nada mais é que a ausência de doenças.
Dessa forma, aqueles que trabalham apoiados nessa perspectiva se
concentram em investigar as causas das doenças físicas, em vez daqueles
fatores que promovem a vitalidade física, psicológica e social. Médicos que
trabalhassem unicamente segundo a perspectiva biomédica, enfocariam as
causas fisiológicas das dores de cabeça, do coração acelerado e da falta de
ar [...] em vez de considerar algum problema psicológico que poderia estar
contribuindo para esses sintomas (STRAUB, 2014, p.11).

Para explicar os casos onde o modelo biomédico não era eficaz, ou seja,
aqueles que não se reduzem a patógenos, e que não se reduzem a condições que
afetam exclusivamente o corpo, os estudos de Freud – cujos pressupostos sobre a
personalidade foram apresentados na apostila anterior – se despontaram nesse
contexto através do estudo das pacientes histéricas, o qual já era desenvolvido
anteriormente, mas foi mais divulgado após sua participação e sucesso com o
tratamento dessas pacientes.
Freud (1856-1939) foi um grande pensador e uma personalidade que muito
influenciou a psicologia do século XX – mesmo que sua psicanálise seja alvo de
crítica de muitas linhas de abordagem da atualidade.
Em linhas gerais, pelo método da psicanálise, ele buscava trazer os
conteúdos do inconsciente para o consciente para assim trabalhar os conflitos de
forma construtiva (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005; JORGE; FERREIRA, 2002;
SCHULTZ; SCHULTZ, 1992; HALL, LINDZEY, 1984).

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Estudou medicina, porém também estudou biologia (zoologia e fisiologia) em


Viena. Após formado e desinteressado da clínica médica, foi começar sua carreira
em neurologia clínica junto com pacientes que apresentavam sintomas de paralisia
em várias partes do corpo e observou que o tratamento dispensado a essas
pacientes no momento era a hipnose. Dando continuidade aos seus estudos em
Paris ouviu de Charcot – o médico que seria o seu tutor, a explicação de que a
denominação para esses males neurológicos sem causa definida que acometia as
mulheres era histeria e que a causa dos mesmos era sexual. A partir de então Freud
resolveu aprofundar nesses estudos (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005;
SCHULTZ; SCHULTZ, 1992).

Freud deduziu que grande parte do comportamento humano é determinada


por processos mentais que operam abaixo do nível do conhecimento
consciente, no nível do inconsciente. Freud acreditava que as forças
mentais inconscientes muitas vezes entravam em conflito, o que produzia
desconforto psicológico e, em alguns casos inclusive, alguns transtornos
mentais aparentes (GAZZANIGA; HEATHERTON, 2005, p.53).

Segundo Straub (2014), os resultados dos estudos de Freud, médico, foram


muito importantes para que a comunidade médica passasse a aceitar na existência
dos sintomas conversivos – aqueles ocasionados devido a conflitos inconscientes
“convertidos” no corpo. Na década de 1940, Franz Alexander trouxe à tona a ideia
de que os conflitos psicológicos podem ocasionar doenças. O mesmo ajudou a
estabelecer a medicina psicossomática, que envolve o diagnóstico e tratamento
de doenças físicas, as quais são causadas por processos mentais deficientes (por
ser um assunto de vital importância para o psicólogo da saúde nesse material,
temos uma seção inteiramente destinada a ele).
Importante destacar que os estudos de Freud e Alexander representam uma
conexão entre medicina e psicologia. Essa nova visão, ao contrário do modelo
biomédico, postula que doença e saúde são multifatoriais, ou seja, relacionam-se a
fatores do hospedeiro, ambientais, comportamentais e psicológicos (STRAUB,
2010).
O movimento behaviorista despontou-se na primeira metade do século XX.
Segundo o mesmo autor, a medicina comportamental de Miller (1909 – 2002) visa
explorar os comportamentos aprendidos na saúde e na doença. Um ponto de

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destaque é a técnica de biofeedback, a qual permite que as pessoas tenham um


certo controle sobre sua pressão arterial e frequência cardíaca a partir do momento
em que tornam-se cientes do seus estados. Destaca-se o caráter multidisciplinar
dessa abordagem, a qual é área de interesse da antropologia, sociologia, biologia
molecular, genética, bioquímica, psicologia, enfermagem, medicina e odontologia.
Em 1973, surge a Psicologia da Saúde a partir da Associação Americana de
Psicologia (APA). Esse campo objetiva estudar de forma científica a etiologia das
doenças (suas causas e origens); promover a saúde; prevenir e tratar doenças, além
de promover políticas de saúde pública e o aprimoramento do sistema de saúde
pública (STRAUB, 2014).
A tabela a seguir mostra determinadas tendências na área da saúde que
moldaram a psicologia da saúde:

Tendência Resultado
1. Aumento da expectativa de vida. Reconhecer a necessidade de cuidar melhor
de nós mesmos para promover a vitalidade
no decorrer de uma vida mais longa.
2. O surgimento de transtornos Educar as pessoas para evitar
relacionados com o estilo de vida comportamentos que contribuam para essas
(por exemplo: câncer, AVE, doenças doenças (por exemplo: fumar e ter uma dieta
cardíacas). com teores elevados de gordura).
3. Aumento nos custos da assistência à Concentrar esforços em maneiras de
saúde. prevenir a doença e manter uma boa saúde
para evitar esses custos.
4. Reformulação do modelo biomédico. Desenvolver um modelo mais abrangente da
saúde e da doença – a abordagem
biopsicossocial.
Tabela 02: Tendências do século XX que moldaram a psicologia da saúde
Fonte: STRAUB (2014, p.13).

Como será mostrado na próxima apostila, a psicologia da saúde enquanto


especialidade da psicologia ainda não é disseminada pelo Brasil, porém seus
pressupostos teóricos são de grande valia para o psicólogo que deseja atuar em
hospitais, clínicas, instituições de saúde, ambulatórios e mesmo consultórios. Os
conhecimentos oriundos da psicologia da saúde serão muito enfatizados nesta
apostila, já que os temas tratados nela refletem essa visão.

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UNIDADE 3 – PERSPECTIVA BIOPSICOSSOCIAL (MENTE-CORPO)

Como o psicólogo irá compor a equipe multiprofissional em saúde, é


importante que ele esteja alinhado com o restante da equipe visando o melhor
cuidado do paciente. Assim como nas demais profissões da equipe, faz-se
necessário deixar de lado o modelo biomédico, que ainda predomina nas instituições
de saúde, em busca de uma perspectiva mais integradora do ser humano, que visa
todas as dimensões nas quais o mesmo se encontra inserido: biopsicossocial.
Interessante destacar que mesmo com a primazia do modelo biomédico, a
perspectiva biopsicossocial tem sido utilizada até mesmo para orientar a prática
médica.

No campo médico, as mudanças promoveram a formação de várias áreas


de ensino, investigação e prática: Psicologia Médica, Psicossomática,
Psicanálise, Medicina Comportamental, Interconsulta, só para citar algumas,
que se estruturaram a partir da virada do século XIX para o século XX, com
aproximações metodológicas próximas ou distintas, mas voltadas para
áreas contíguas (DE MARCO, 2006, p.61).

A perspectiva biopsicossocial (mente-corpo) postula que as forças


biológicas, psicológicas e socioculturais agem em conjunto para determinar a saúde
e a vulnerabilidade do sujeito à doença, ou seja, tanto a saúde quanto a doença
devem ser aplicadas a partir desses múltiplos contextos nos quais o homem se
encontra inserido (STRAUB, 2014).
A citação a seguir fornece mais detalhes acerca do modelo biopsicossocial,
o qual precisa ser bem assimilado pelos profissionais de saúde, em especial o
psicólogo, sempre voltado aos aspectos não apenas biológicos envoltos no processo
saúde – doença:

A perspectiva que tem como referência o modelo biopsicossocial tem-se


afirmado progressivamente. Ela proporciona uma visão integral do ser e do
adoecer que compreende as dimensões física, psicológica e social. Quando
incorporada ao modelo de formação do médico coloca a necessidade de
que o profissional, além do aprendizado e evolução das habilidades técnico-
instrumentais, evolua também as capacidades relacionais que permitem o
estabelecimento de um vínculo adequado e uma comunicação efetiva (DE
MARCO, 2006, p.64)

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A perspectiva biopsicossocial também é denominada de produção social da


saúde (MENDES, 1996 apud PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011) e se opõe ao
modelo biomédico e curativista. São princípios do modelo biopsicossocial:

1. O corpo humano é um organismo biológico, psicológico e social, ou seja,


recebe informações, organiza, armazena, gera, atribui significados e os
transmite, os quais produzem, por sua vez, maneiras de se comportar.
2. Saúde e doença são condições que estão em equilíbrio dinâmico; estão
codeterminadas por variáveis biológicas, psicológicas e sociais, todas em
constante interação.
3. O estudo, diagnóstico, prevenção e tratamento de várias doenças devem
considerar as contribuições especiais e diferenciadas dos três conjuntos de
variáveis citadas.
4. A etiologia dos estados de doença é sempre multifatorial. Devem-se
considerar os vários níveis etiopatogênicos e que todos eles requerem uma
investigação adequada.
5. A melhor maneira de cuidar de pessoas que estão doentes se dá por
ações integradas, realizadas por uma equipe de saúde, que deve ser
composta por profissionais especializados em cada uma das três áreas.
6. Saúde não é patrimônio ou responsabilidade exclusiva de um grupo ou
especialidade profissional. A investigação e o tratamento não podem
permanecer exclusivamente nas especialidades médicas (BELLOCH
OLABARRIA, 1993 apud PEREIRA; BARROS; AUGUSTO, 2011, p.526).

Convém ressaltar que as concepções apregoadas pelo modelo biomédico


ainda estão em processo inicial de efetivação nos serviços de saúde. Como já
enfatizamos a importância da atuação interdisciplinar, faz-se necessário um maior
amadurecimento dos profissionais desde a sua formação aos modelos de gestão e
funcionamento dos serviços de saúde, visto que ainda observam-se resquícios do
modelo biomédico dentre esses meios. No que diz respeito à formação profissional,
enfatiza-se o uso de metodologias de ensino que ultrapassem o saber técnico
científico divulgado pelas instituições e o desenvolvimento de habilidades que
possibilitem ao futuro profissional lidar com a dimensão subjetiva do ser humano
(paciente, equipe, comunidade e a dele mesmo). Além disso, também se faz
necessário elaborar propostas que visem à participação dos profissionais e usuários
na produção de saúde, o que resulta numa vida mais saudável (PEREIRA;
BARROS; AUGUSTO, 2011).
Essas ideias são reforçadas a partir dos olhares de diferentes autores,
como, por exemplo, Howard e Lewis (1999), que dentre as primeiras ideias de
estudo sobre a psicossomática deixam bastante evidente a influência dos fatores
psicológicos nas doenças. Observe que os autores não estão se referindo ao estado
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de saúde, como ficou tão claro nas ideias de Straub (2014), mas enfocam apenas as
doenças:

A maioria das doenças está na dependência tanto de fatores emocionais


quanto físicos. Você é uma unidade mente-corpo. Suas emoções são
fenômenos físicos e cada alteração fisiológica tem o seu componente
emocional (HOWARD; LEWIS, 1999, p. 3).

Corpo e mente são partes inseparáveis de uma única unidade bioquímica,


cujo resultado final dessa interação é o indivíduo – único. Convém separarmos
essas unidades (além da social e espiritual que, mesmo externas ao indivíduo, ficam
em constante interação e também garantem a individualidade ao sujeito). Com isso,
fica evidente que o homem é um ser biopsicossocial e espiritual ou, como é comum
denominarmos na área da saúde, um ser holístico.

Ao dividirmos as funções humanas em físicas e psíquicas, na realidade


estamos estabelecendo uma divisão artificial. Você é, na realidade, um ser
íntegro, funcionando como um todo. Qualquer resposta mental, seja ela
reação emocional ou atividade intelectual, faz parte e é processo de um
processo físico. Analogicamente, todo o estado físico – seja de bem-estar
ou de padecimento – tem componentes emocionais (HOWARD, LEWIS,
1999, p.11).

A química corporal está intimamente associada ao estado emocional do


indivíduo, como aponta o exemplo a seguir: “A perna de um homem é amputada
devido à gangrena. Logo ele passa a sentir dores terríveis no membro que não mais
possui” (HOWARD, LEWIS, 1999, p.5). Os sintomas do denominado membro
fantasma são bastante frequentes e causam sérias dores e desajustes nos
amputados. Em busca de proporcionar alívio aos pacientes que sofrem com essa
situação, é comum a atuação de uma equipe multiprofissional, composta, pelo
menos, por médico, enfermeiro, fisioterapeuta e o psicólogo, os quais, em conjunto,
abordam o indivíduo e sua percepção de dor como um fenômeno multicausal que
não será solucionado apenas com a prescrição e administração de fármacos, como
normalmente costuma-se fazer.
Os contextos nos quais o homem está inserido serão brevemente
apresentados a seguir de forma a fornecer uma compreensão acerca da perspectiva
biopsicossocial.

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O contexto biológico abrange a constituição genética, os sistemas nervoso,


imune e endócrino, os quais influenciam diretamente os processos de saúde e
doença. No contexto psicológico, destacam-se as crenças do paciente acerca sua
saúde, doença e tratamentos; as intervenções psicológicas utilizadas para
administrar as tensões do meio. Finalmente, no contexto social, destacam-se as
influências culturais, familiares que norteiam a maneira como se pensa e se
relaciona com os outros e o ambiente (STRAUB, 2014).
Enfim, compreender o modelo biopsicossocial em saúde é essencial ao
psicólogo que pretende atuar em setores de saúde, o qual sempre irá enfatizar os
aspectos biopsicossociais da saúde e da doença, além do que, esse profissional
sempre deve nortear sua prática considerando não apenas a sua atuação, mas de
toda a equipe na qual o psicólogo está inserido. Nosso próximo passo é
compreender melhor os fatores provenientes desses diferentes contextos nos quais
o ser humano encontra-se inserido e que se relacionam com os processos de saúde
e doença.

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UNIDADE 4 – BASES BIOLÓGICAS DA SAÚDE E DOENÇA

Como vem sido enfatizado ao longo desta apostila, corpo e mente estão
ligados de modo íntimo e indissociável. Através da perspectiva biopsicossocial, é
possível compreender que os comportamentos, pensamentos e sentimentos afetam
o funcionamento do corpo, assim como são influenciados por este. Compreender os
sistemas físicos do corpo nos possibilita refletir como bons hábitos auxiliam na
prevenção de doenças e na obtenção de bem-estar, enquanto o inverso também é
verdadeiro (STRAUB, 2014).
Um curso de psicologia hospitalar e da saúde não irá se voltar
demasiadamente para o funcionamento do corpo humano, porém uma noção geral
de como opera o organismo é imprescindível para termos subsídios para se
compreender algumas questões relacionadas a doenças específicas, foco do nosso
curso num outro momento. Não iremos detalhar estruturas anatômicas de cada
órgão que compõem os sistemas do corpo humano, ao mesmo tempo em que não é
o nosso objetivo fornecer detalhamentos aprofundados acerca da fisiologia.
O funcionamento do organismo é algo demasiadamente complexo para ser
apresentado num pequeno capítulo de uma apostila, por isso muitas das
informações aqui apresentadas mostram-se incompletas. Como a anatomia e a
fisiologia são disciplinas presentes na graduação da psicologia e de todos os cursos
da área da saúde, partimos do pressuposto de que o profissional já conheça esses
sistemas e os processos complexos a ele envolvidos, só iremos fornecer uma breve
recapitulação de conteúdos que serão mencionados posteriormente.
O corpo é formado pelos sistemas nervoso, endócrino, imune, respiratório,
cardiovascular, linfático, digestório, excretor e reprodutor, mas, para esta apostila,
serão mencionados apenas os dois primeiros, os quais são sistemas de
comunicação do organismo. Na seção sobre as enfermidades psicossomáticas,
iremos mencionar todos esses sistemas ao mostrar os principais tipos de doenças
que afetam cada um deles.

4.1 Sistema nervoso


O sistema nervoso é formado pelo cérebro, medula (que juntos formam o
sistema nervoso central – SNC) e pelos nervos periféricos (sistema nervoso
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periférico – SNP) que enviam e recebem sinais para o restante do corpo. É


responsável por grande parte do controle sobre a operação dos sistemas corporais
(GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005; STRAUB, 2014).
Uma questão precisa ser esclarecida, a qual parece ser bastante simples,
mas a falta de conhecimento da mesma gera confusões conceituais. Cérebro e
mente não são sinônimos. Cérebro é o órgão que se encontra dentro do crânio e faz
parte do sistema nervoso, é uma estrutura física, ou seja, podemos visualizar este
órgão em exames de imagem como a ressonância magnética ou tomografia
computadorizada. Já a mente é uma parte “virtual”, ou seja, não faz parte do sistema
nervoso, não é visível nos exames de imagem. A mente se relaciona aos processos
psicológicos do indivíduo, como já vimos, relaciona-se aos padrões de saúde e
doença. Para uma abordagem biopsicossocial do ser humano, precisamos lembrar
de que o corpo e a mente estão sempre em íntima relação.
Voltando-se ao sistema nervoso, é importante saber que o SNC é
subdividido em dois (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005, STRAUB, 2014):
• sistema nervoso somático – composto pelos nervos que levam as mensagens dos
órgãos sensoriais até o SNC e deste para os músculos e glândulas. Controlado
de maneira voluntária;
• sistema nervoso autônomo (SNA) – nervos que ligam o SNC ao coração,
intestinos e outros órgãos internos. Controlado de maneira involuntária.
Nesse momento iremos voltar nossa atenção para o sistema nervoso
autônomo, o qual sofre grande influência das reações de estresse. O SNA é
subdividido em simpático e parassimpático. Em linhas gerais, a divisão simpática
prepara o indivíduo para a ação, enquanto que a divisão parassimpática faz o corpo
voltar ao seu estado de repouso (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005).
A figura a seguir ilustra as divisões simpática e parassimpática do sistema
nervoso autônomo e, a seguir, teceremos algumas considerações sobre a mesma:

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Figura 01: SNA simpático e parassimpático

Fonte: Vilela (s.d., s.p.).

O sistema nervoso simpático prepara o organismo para o ataque e fuga,


portanto as reações expressas na figura como dilatação da pupila, aceleração dos
batimentos cardíacos, liberação de glicose pelo fígado e estimulação da produção
de adrenalina preparam o corpo para esse tipo de reação. Passado o perigo, o
sistema nervoso parassimpático contrai a pupila, reduz os batimentos cardíacos e
volta ao corpo ao seu estado de repouso.
Como mencionamos anteriormente, o sistema nervoso autônomo sofre
influência direta dos estados psicológicos. Isso explica, por exemplo, porque uma
pessoa tem uma forte diarreia num dia que irá ser submetida a uma avaliação muito
difícil (estimula a atividade do estômago e intestinos) ou sente sua boca seca diante
de uma situação de estresse intenso (inibe a salivação). É comum pessoas
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procurarem os serviços de saúde com sintomas como esses, ou outros mais


alarmantes, como taquicardia e, após uma bateria de exames, o laudo conclusivo
não aponta nenhuma disfunção nos órgãos relacionados, mas uma forte reação de
ansiedade. O psicólogo hospitalar e da saúde auxilia o paciente a lidar com esses
sintomas e a evitar que os mesmos surjam em outras situações.

O sistema nervoso simpático também é ativado por estados psicológicos,


como ansiedade ou infelicidade. As pessoas que se preocupam muito ou
que não conseguem lidar com o estresse têm o corpo em constante estado
de excitação. A ativação crônica do sistema nervoso simpático está
associada a problemas médicos que incluem úlceras, doenças cardíacas e
asma (DAVISON; PENNEBAKER, 1996 apud GAZZANINGA;
HEATHERTON, 2005, p.114).

O cérebro é o centro de controle do sistema nervoso e o local de


armazenamento das memórias. Sem o cérebro não seria possível ao homem
pensar, andar, falar ou respirar (STRAUB, 2014).
O estudo de pacientes com lesões cerebrais é muito comum na
neuropsicologia e, ao observar os pacientes antes e depois das lesões, é possível
observar alterações comportamentais, nas sensações (por exemplo, pessoas que
param de enxergar e não têm nenhuma lesão nos olhos), na fala, dentre outras. Na
Doença de Alzheimer, o acúmulo de placas entre os neurônios ocasiona a morte dos
mesmos, o que explica as alterações na memória, no comportamento, na fala e,
posteriormente, em todas as outras funções do organismo que são controladas pelo
cérebro.
É muito importante que o psicólogo hospitalar compreenda o quanto que as
lesões cerebrais ou doenças que atingem o cérebro podem trazer consequências
desastrosas e ser irreversíveis, pois os neurônios não são regeneráveis. Por outro
lado, estudos na área da neuropsicologia também mostram que em alguns casos é
possível que o cérebro crie novas rotas para compensar determinadas funções
comprometidas em função de lesões ou deteriorações em áreas mais especificas.
Todas as regiões e estruturas cerebrais são de suma importância para o
homem, mas aqui iremos nos limitar a afirmar que o sistema límbico, localizado na
região central do cérebro, desempenha um importante papel nas emoções, como o
medo e a agressividade (STRAUB, 2014).

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4.2 Sistema endócrino


Considerado o segundo sistema de comunicação do corpo, o sistema
endócrino possui íntima relação com o sistema nervoso para a regulação das
principais funções do organismo. Ambos os sistemas possuem mensageiros
químicos responsáveis pela sua comunicação com o corpo: o sistema nervoso utiliza
os neurotransmissores, enquanto que o sistema endócrino utiliza os hormônios
(STRAUB, 2014).

Os sistemas nervoso e endócrino utilizam informações do ambiente para


dirigir as respostas comportamentais que serão adaptativas. Basicamente, o
sistema endócrino está sob o controle do sistema nervoso central.
Estímulos externos e internos são interpretados pelo cérebro, que envia
sinais para o sistema endócrino, que, então, inicia diversos efeitos sobre o
corpo e sobre o comportamento (GAZZANINGA; HEATHERTON, 2005,
p.115).

Existem alguns tipos de glândulas, mas para esse estudo só se faz relevante
voltar nossa atenção para as glândulas endócrinas – aquelas que secretam
hormônios na corrente sanguínea. A glândula hipófise é denominada glândula
endócrina mestra, já que ela libera diversos hormônios, os quais agem sobre as
diversas glândulas do corpo. As respostas hormonais são essenciais à saúde e vale
a pena destacar que situações estressantes podem influenciar o sistema endócrino,
como é possível observar nas pessoas que ganham peso em decorrência do
estresse. (STRAUB, 2014).
Importante destacar que a obesidade não deve ser compreendida apenas
como disfunção endócrina ou excesso de alimentação. A compreensão da
obesidade também se dá numa perspectiva bopsicossocial.

Alguns denominaram nossa época como a ‘era da ansiedade calórica’, na


qual nós temos como padrão de beleza a magreza, mas, como hábito de
vida, a abundância (NIEMAN, 1999, p.227).

A obesidade é uma doença crônica não transmissível caracterizada pelo


acúmulo excessivo de gordura, a qual acarreta uma série de prejuízos à saúde dos
indivíduos, inclusive favorece o surgimento de patologias que, a longo prazo, podem
evoluir para o óbito, como o diabetes tipo 2 e outras doenças. Envolve fatores

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genéticos (os quais não podem ser modificados), e ambientais, ou seja, passíveis de
mudança (PINHEIRO; FREITAS; CORSO, 2004).
Segundo Nieman (1999), dentre os riscos associados à obesidade, podem-
se destacar dificuldades emocionais (como baixa autoestima e depressão) aumento
de osteoartrite; aumento de incidência de hipertensão arterial e diabetes; aumento
dos níveis de colesterol; aumento dos riscos de doença cardíaca, câncer e morte
prematura.
A figura 3 mostra a glândula hipófise, a qual está localizada no cérebro.
Controlada pelo hipotálamo, envia seus hormônios via corrente sanguínea, os quais
vão influenciar os outros órgãos a secretar os seus hormônios.

Figura 3: Hipófise e outras glândulas endócrinas

Fonte: Vilela (s.d., s.p.).

As reações de estresse estão diretamente relacionadas ao sistema nervoso


e endócrino. O sistema nervoso simpático estimula a gandula adrenal a liberar os
hormônios que desencadeiam ações de ataque e fuga, conforme explicamos
anteriormente. Dentre esses hormônios destaca-se o cortisol. O mecanismo de
síntese e liberação do cortisol é complexo e não será pormenorizado aqui, porém
enfatizamos sua íntima relação com as reações de estresse (STRAUB, 2014):

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A taxa de secreção do cortisol, que é normalmente sensível a fatores


psicológicos e atinge o máximo cerca de 30 minutos após a ocorrência do
estressor está tão relacionada com o estresse que o nível desse hormônio
circulando no sangue ou na saliva costuma ser utilizado pelos psicólogos da
saúde como um índice fisiológico de estresse. Para algumas pessoas,
mesmo um evento aparentemente comum, como embarcar em um avião,
pode desencadear um grande aumento no nível do cortisol [...]
(THOMPSON, 2002 apud STRAUB, 2014, p.80).

Importante esclarecer que o cortisol é um hormônio necessário ao


organismo devido às suas ações anti-inflamatória, de promover a cura e por
desencadear a liberação de energia armazenada para preparar o organismo para
lidar com alguma ameaça. Quando em excesso por longos períodos o cortisol pode
levar à hipertensão, diminuição da capacidade do organismo de combater infecções
e transtornos psicológicos (STRAUB, 2014).
Foi afirmado anteriormente que não falaríamos de outras glândulas que não
as endócrinas, porém, a título de curiosidade, cita-se como o estresse também afeta
o funcionamento das glândulas sudoríparas, o que explica o fato de algumas
pessoas suarem demasiadamente em situações de estresse, podendo gerar
inconvenientes como constrangimento em relação à aparência e hiperidrose (suor
excessivo) nas mãos, o que pode comprometer o desempenho de certas atividades.

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UNIDADE 5 – SUBJETIVIDADE E ADOECIMENTO NA


CONTEMPORANEIDADE

Na seção anterior ilustramos os dois sistemas de comunicação do


organismo e as bases biológicas para algumas afecções que afetam o organismo.
Agora pretendemos apontar de que forma os aspectos subjetivos interferem nas
condições de saúde e doença, fator esse que é negligenciado se o modelo
biomédico prevalecer. A abordagem biopsicossocial do ser humano enfatiza a
importância dos aspectos psicológicos na etiologia, tratamento e prevenção das
doenças, assim como para a promoção da saúde, diferente do que apregoa o
modelo biomédico, como expresso na citação a seguir:

[...] verificamos no campo da saúde coletiva a emergência de novas


abordagens para se pensar o adoecimento, tais como a clínica ampliada, a
humanização do atendimento, as discussões sobre a integralidade das
ações de saúde e a produção do cuidado com vistas à transformação do
modelo tecno-assistencial. [...] A capacidade resolutiva dos problemas de
saúde por estes sistemas de cura deve-se fundamentalmente à peculiar
interpretação do binômio saúde-doença, no qual os aspectos psíquicos e
físicos são indissociáveis na busca do restabelecimento do equilíbrio
(NOGUEIRA, 2003 apud GUEDES; NOGUEIRA; CAMARGO JR, 2003,
p.1095).

Uma causa de doenças muito discutida atualmente é o estresse. Já falamos


do estresse na seção anterior e, de maneira sintética, o definimos como o “processo
pelo qual percebemos e respondemos a eventos, chamados de estressores, que são
percebidos como prejudiciais, ameaçadores ou desafiadores” (STRAUB, 2014,
p.77).
O estresse está presente em nossos cotidianos, é impossível retirá-lo por
completo, pois é proveniente de fontes diversas, tais como escola, trabalho, família,
dentre outras. Ao mesmo tempo que um pouco de estresse faz com que a vida não
seja entediante, estresse em níveis maiores é extremamente prejudicial, pois
sobrecarrega os recursos de enfrentamento do indivíduo, impactando negativamente
a saúde. O estresse é uma experiência biopsicossocial, a qual varia individualmente,
pois processos biológicos ocorrem quando sentimos estresse; as influências
psicológicas afetam a maneira como avaliamos as situações desafiadoras e,
finalmente, influências socioculturais interferem na forma como cada um avalia o

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estresse. Observa-se, também, que dentre diferentes pessoas submetidas ao


mesmo estressor umas adoecem e outras não, o que aponta que as consequências
do estresse para a saúde dependem da avaliação que cada um faz dos agentes
estressores (STRAUB, 2014).
Além do estresse, outras situações subjetivas são relacionadas à condição
de adoecimento na contemporaneidade. Os transtornos alimentares trazem
consequências danosas ao indivíduo do ponto de vista biopsicossocial e são
causados por múltiplos fatores, como genética, personalidade, antecedentes
familiares e fatores relacionados ao meio no qual o indivíduo encontra-se inserido
(WEINBERG; GOULD, 2006). Devido à importância desse assunto para o psicólogo
hospitalar e da saúde este é um tema que já foi citado e será pormenorizado em
outro momento do curso.
Os padrões de beleza impostos na atualidade e muito reforçados pela mídia
estão diretamente relacionados à ocorrência desses transtornos, o que pode ser
ainda mais intensificado caso o indivíduo esteja envolvido em ambientes
profissionais, acadêmicos ou recreativos diretamente relacionados com a questão do
corpo e da aparência física.
Fortes, Almeida e Ferreira (2014) perceberam que a internalização do ideal
de magreza influenciou uma amostra de jovens atletas de ginástica artística do sexo
feminino a adotarem comportamentos compulsivos e purgativos, ou seja, bulímicos.
Além da cobrança da mídia por esses ideais de beleza muitas vezes inatingíveis na
pesquisa também foi possível observar que muitos treinadores também fazem
cobranças nocivas para essas jovens.
Voltaremos, então, à discussão sobre o corpo e a mente. Nessa seção
citamos a questão da subjetividade como processo de adoecimento, porém, o que é
objetivo e o que é da ordem do subjetivo? A citação a seguir demonstra essa
diferenciação, a qual teve suas origens no decorrer da história, acompanhando o
advento da ciência.

[...] estabeleceu-se uma dicotomia importante entre o diagnóstico, seara da


ciência, e a intervenção terapêutica, território da “arte”, sendo a última
permeada de incerteza e a possibilidade de fracasso, além de ser
compartilhada com o paciente. Verificou-se, então, uma verdadeira cisão
entre teoria e práticas médicas, que termina por fragmentar também o
paciente (sintomas objetivos x sintomas subjetivos). Na maioria das vezes,
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os sintomas subjetivos não são levados em conta, ou mesmo, não se sabe


como “dar conta” deles. Assim, entendemos que a subjetividade do
adoecimento, isto é, a complexidade e a singularidade do sofrimento
humano, e mais ainda, a sua dimensão fenomenológica, experiencial, nunca
chegou a ser objeto das ciências biomédicas, uma vez que o modelo da
medicina ocidental é herdeiro da racionalidade científica moderna
(GUEDES; NOGUEIRA; CAMARGO JR, 2003, p.1095).

Ou seja, os sintomas objetivos são aqueles diretamente relacionados ao


corpo, objeto de estudo de uma ciência embasada na percepção desses sintomas e
intervenção direta sobre os mesmos. Já os sintomas subjetivos relacionam-se aos
aspectos psicológicos do paciente (mente), são condições que também podem levar
ao adoecimento, porém não permitem sua abordagem direta por via do corpo.
Hisada (2003) reforça que o conceito de mente não pode se restringir à ideia
que o senso comum tem de “cabeça”. Deve-se considerar o indivíduo em sua
totalidade, o que retoma a todo o seu processo de desenvolvimento, além dos
acontecimentos exteriores ao indivíduo, pertencentes ao meio. A mente tem função
de personalização. Quando se faz menção à psicossomática – tema de suma
importância que será devidamente pormenorizado a seguir – a autora pontua o seu
viés negativo devido à dissociação que a doença causa no paciente. Porém, além
disso, há também alguns lados positivos, um deles exposto na citação a seguir:

[...] a doença psicossomática pode ser entendida como um pedido de


socorro e de esperança, ainda que sua condição clínica ilustre ativamente o
contrário, pela cisão e por várias dissociações. Um corpo que sofre é um
corpo vivo. A doença psicossomática é uma tendência à integração e à
personalização, dos aspectos básicos do crescimento (HISADA, 2003, p.4).

Compreendemos, a partir da citação, que a doença psicossomática é um


grito de um indivíduo que sofre e a causa desse sofrimento não reside no corpo,
porém a doença afeta o corpo. Além disso, a psicossomática é um indício de que o
corpo está vivo, que deseja ser socorrido.
Enfim, a temática é amplamente extensa. Há fatores relacionados à
subjetividade do ser humano envolvidos não só apenas nas condições expostas
aqui, mas também em relação á saúde mental (loucura), do adoecimento em função
das condições de trabalho (burnout), dentre outras condições que serão explicitadas
no decorrer do curso, por isso as mesmas não serão abordadas aqui. Vale a pena
ressaltar que, assim como os fatores diretamente relacionados ao corpo, as
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condições subjetivas expressas nas dimensões biológica e social também


influenciam diretamente as condições de saúde e doença. Enquanto membro da
equipe multiprofissional o psicólogo está apto a auxiliar o paciente na abordagem e
resolução dessas questões em busca de melhores condições de saúde do mesmo.

Entendemos que a noção de cuidado e o princípio de integralidade


abordados por diversos pesquisadores – como a recusa ao reducionismo e
a objetivação dos indivíduos – podem ajudar a construir caminhos
alternativos para a assistência médica, oferecendo novos parâmetros
conceituais e técnicos para o modelo biomédico (GUEDES; NOGUEIRA;
CAMARGO JR, 2003, p.1002).

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UNIDADE 6 – PSICOSSOMÁTICA

6.1 Definição
Conforme já foi mencionado anteriormente, o estudo da psicossomática vem
propor uma visão diferente daquela enfatizada pelo modelo biomédico. A
psicossomática propõe a compreensão do homem a partir de um olhar
biopsicossocial, ao postular, em linhas gerais, que muitos sintomas e doenças
surgem em decorrência de questões subjetivas, as quais precisam ser trabalhadas
em busca da saúde do paciente.

O termo psicossomático foi utilizado pela primeira vez em 1908, sendo que
a noção predominante até recentemente era de como os aspectos
emocionais influenciavam sobre a determinação das doenças orgânicas,
visão essa que revela ainda a forte divisão biomédica de corpo e mente. O
entendimento mais atual acerca da psicossomática direciona-se à
compreensão dos processos de saúde e doença como biopsicossociais, ou
seja, aspectos biológicos, psicológicos e sociais estão sempre em mútua
relação, integrando essas dimensões para uma compreensão e ação
terapêutica mais abrangente e significativa (CAPITÃO; CARVALHO, 2006;
FERREIRA; MULLER; JORGE, 2006; SPERONI, 2006 apud VIEIRA;
MARCON; OLIVEIRA, 2011, p.220).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais em sua versão


mais atual (DSM-IV-TR) caracteriza os transtornos somatoformes, os quais incluem
transtorno de somatização, hipocondria, transtorno doloroso, transtorno dismórfico
corporal, transtorno conversivo, transtorno de somatização sem outra especificação
e transtorno somatoforme indiferenciado. O termo somatização é utilizado para
caracterizar pacientes que vivenciam e apresentam seus sofrimentos psicológicos e
interpessoais através do corpo, com sintomas que muitas vezes aparecem como
inexplicáveis. Esses sintomas acarretam prejuízos no funcionamento social,
ocupacional, dentre outras esferas (FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008). A
psicossomática aparece incluída nesse grupo de transtornos.
Mesmo nos dias de hoje, muitos pacientes são taxados por “atores”,
“chiliquentos”, dentre outras denominações pejorativas quando se percebe que a
causa dos seus sintomas reside em questões relacionadas à esfera do psicológico.
Muitos desses pacientes se passam por mentirosos, já que as pessoas costumam

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não acreditar, por exemplo, em suas dores. Essas reações negativas das pessoas
frente à doença psicossomática deixam o paciente ainda pior.
O psicólogo hospitalar e da saúde precisa conhecer a psicossomática, pois
em alguns casos, o profissional é apontado como a última esperança, após idas e
vindas a diferentes médicos especialistas sem nenhum sucesso em seu tratamento.
Este profissional poderá trazer benefícios para o paciente através de um tratamento
que visa abordar as causas subjetivas do adoecimento, ou mesmo para prevenir o
surgimento do problema e seu reaparecimento.
Para a psicossomática, infere-se que cada indivíduo possui um modo
peculiar de viver e adoecer, dessa forma, o tipo de doença e a época em que a
mesma ocorre se relaciona com a história de vida de cada indivíduo, a natureza dos
conflitos intrapsíquicos, a forma de lidar com esses conflitos. Disso, conclui-se que
cada sintoma orgânico possui um significado emocional para o paciente, sintoma
esse que oferece alívio dos conflitos emocionais (HISADA, 2003).
A psicossomática relaciona-se à lesão do órgão que não cede ao
tratamento. Os sintomas surgem em situações onde ocorrem fatos marcantes na
vida do indivíduo, as quais ocasionam no indivíduo sensação de perda, luto ou
sobrecarga afetiva (JESUS, 2002).
Segundo McDougall (2000), as manifestações psicossomáticas são
compreendidas como dificuldades de simbolização e verbalização de sentimentos.
A seguir, algumas definições de psicossomática: “Estudo das relações entre
as emoções e os males do corpo”. (HOWARD; LEWIS, 1999, p. 6).
Schiller (2003) mostra que a psicossomática da medicina, da psicologia e da
psicanálise diferem-se entre si. Não é nosso objetivo realizar essas diferenciações,
porém vale a pena ressaltar que a medicina e a psicologia descendem da visão de
Descartes do dualismo entre o corpo e a alma, o que já foi abordado em outra
seção. A psicanálise mostra que, na verdade, a divisão existente não é entre mente
e corpo, mas entre corpo e organismo. Corpo e organismo são entidades distintas. O
corpo é formado pelas representações que vão sendo construídas desde o
nascimento, pela via da linguagem, estrutura imutável ao longo da vida.

Quando digo ‘meu corpo’ não incluo o objeto da anatomia, a concretude dos
órgãos, a intimidade descrita pela medicina. De meu organismo recebo

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apenas sinais fragmentados que, em relação ao meu corpo, parecem porvir


‘de fora’” (p.30).

O corpo não é apenas formado por órgãos, há uma relação entre os órgãos
e a vida emocional, o indivíduo é corpo e mente, como temos ressaltado. O corpo é
construído a partir da interação entre o Ego e Id, e o fator emocional desempenha
importante papel no desenvolvimento da personalidade. Esse fator emocional é
responsável por coordenar os investimentos libidinais nas diversas partes do corpo,
assim, cada órgão possui uma representação simbólica, um investimento emocional,
que se difere entre os indivíduos (BENDASSOLLI, 1998).
O estudo da psicossomática mostra que a dor pode não estar associada
com a lesão de tecidos, ao contrário do que comumente costumamos imaginar.
Numa seção anterior foram apresentados postulados de Straub (2014) que
abordavam a psicossomática e a psicanálise enquanto alternativas ao modelo
biomédico, que tanto vem sendo criticado pelos profissionais da psicologia.
Exsterman (1992 apud HISADA, 2003) diferencia a psicossomática e a
psicanálise:

Medicina psicossomática é o estudo das relações mente-corpo com ênfase


na explicação psicológica da patologia somática; é uma proposta de
assistência integral e uma transcrição para a linguagem psicológica dos
sintomas corporais, enquanto que a Psicanálise é um método de
investigação da mente e uma atividade terapêutica (p.7).

Observa-se que a psicossomática é uma espécie de fraqueza do ego, um


sintoma de que o desenvolvimento emocional do indivíduo não foi satisfatório. Há
uma divisão na personalidade do indivíduo, por isso o paciente não percebe a
relação entre o mal que atinge o seu corpo e o psiquismo. O indivíduo tenta integrar
a psique e o corpo e adoece por não conseguir realizar essa integração. Winnicott
ressalta que no indivíduo saudável não ocorre essa cisão (HISADA, 2003).
Como mencionamos anteriormente em relação ao estresse, situações
relacionadas ao estado emocional interferem no funcionamento do organismo e, em
longo prazo, podem causar consequências mais sérias:

As emoções são capazes de alterar o equilíbrio endócrino, assim como o


fluxo sanguíneo e a pressão, de inibir o processo digestivo, de alterar a sua
respiração e a temperatura de sua pele. Um estado prolongado de
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perturbação emocional pode levar a alterações que provoquem uma doença


(HOWARD; LEWIS, 1999, p. 8).

Enquanto as ciências, como a medicina, desvendam como determinados


sintomas e doenças surgem, a psicossomática visa às verdadeiras causas que
propiciaram determinadas condições. Por exemplo, a produção de adrenalina é o
mecanismo que leva ao aumento da frequência cardíaca e não sua causa, como
apregoa a medicina. A verdadeira causa da taquicardia está na esfera do psíquico,
como alguma condição adversa que vem a propiciar todo esse desajuste. A
psicossomática procura o porquê dos sintomas e patologias (SCHILLER, 2003).
Para o mesmo autor:

Diante de uma doença, o que importa ao psicanalista não é a intimidade da


fisiologia, não é uma possível interpretação baseada em tabelas ou
coleções de casos clínicos, mas a teoria do paciente, o que ele tem a dizer
sobre ela. Como diante de qualquer sintoma, será por meio da linguagem
[...] que se desvendará a estrutura causal (p.31).

Falar em doença psicossomática é o mesmo que entender que o ser


humano consegue somatizar situações e/ou ideias desagradáveis. Exemplo:

Um morador suburbano, de cinquenta e três anos de idade, olha horrorizado


para o carro que avança para o meio-fio, aproximando-se rapidamente dele.
O carro não o atinge; ele sai ileso, mas muito abalado. Decorrida uma hora,
morre de um colapso cardíaco (HOWARD; LEWIS, 1999, p.5).

Voltando à nomenclatura do DSM-IV-TR, três modelos são indicados para a


abordagem dos transtornos somatoformes: o modelo cognitivo comportamental, o
modelo psicanalítico e o modelo psicossomático. Segundo o modelo cognitivo
comportamental:

Sintomas físicos (somáticos) são influenciados por fatores sensoriais,


afetivos, cognitivos e comportamentais. Comportamentos e emoções, por
sua vez, são influenciados por interpretações de eventos. Pensamentos,
usualmente automáticos e não conscientes, têm um profundo impacto ao
ajustamento a qualquer condição médica, tanto aguda quanto crônica,
podendo amplificar ou minimizar os sintomas. A ênfase no modelo cognitivo
comportamental é colocada no modo como os pensamentos e as atitudes
interagem com fatores físicos, afetivos e comportamentais (FILIPPON;
CARDOSO; AGUIAR, 2008, p.603).

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Ainda de acordo com esse modelo, merece destaque o comportamento de


doente, o qual se refere às condutas mal-adaptativas disfuncionais em resposta a
determinado sintoma, condutas essas que se associam à manutenção do mesmo e
à incapacidade. Além disso, merecem destaque outras condutas, tais como o uso
abusivo de medicamentos para o alívio das queixas, isolamento social, excesso de
sono ou alimentação, desinteresse ou abandono do trabalho, requisição excessiva
de atenção por parte de familiares e amigos. Segundo esse modelo, esses
comportamentos são aprendidos pelo condicionamento clássico, operante e
modelagem e podem causar disfunções familiares e sociais, além de piora na
condição médica ou psiquiátrica. (FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008).
Faz-se necessário mostrar para o paciente seus comportamentos
disfuncionais, o quanto eles contribuem para a manutenção de sua doença e auxiliá-
lo na aquisição de novos padrões de comportamento, mais saudáveis.
A psicanálise oferece a explicação para os fenômenos conversivos a partir
dos conflitos e sentimentos inconscientes e inaceitáveis que são expressos no corpo
por meio dos mecanismos de defesa (os quais foram apresentados na apostila
anterior). Esses mecanismos impedem os conflitos e sentimentos inconscientes de
serem simbolizados, conscientizados e verbalizados, dificultando, assim, seu manejo
e resolução. Cada pessoa possui um limiar além do qual é possível somatizar.

Face à dor psíquica, às divisões internas e aos traumatismos universais e


pessoais que a vida inevitavelmente provoca, o homem é capaz de criar
uma neurose, uma psicose [...], sonhos, obras de arte e doenças
psicossomáticas (MCDOUGALL, 1978 apud FILIPPON; CARDOSO;
AGUIAR, 2008).

Assim,

Esses pacientes têm dificuldade em discriminar sentimentos. O paciente


portador de uma doença psicossomática está preparado para compreender
algo a respeito de si próprio apenas no plano intelectual, pois foi o que fez
ao longo de sua existência. É importante dar tempo ao paciente para que se
recupere dessa dissociação (HISADA, 2003, p.91).

Finalmente, a psicossomática interessa-se não apenas pela forma como os


aspectos psíquicos e somáticos da doença se inter-relacionam, mas também como

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essas relações ocorrem nos indivíduos normais ou com pequenos desvios da


normalidade.

Considera que são as atividades de representação psíquica que permitem


integrar as tensões pulsionais e protegem, assim a saúde física individual.
Uma falha da capacidade de representação psíquica (mecanismos de
simbolização, sonhos), ocasionada por situações de trauma precoce,
produziria organizações psíquicas mal-estruturadas com marcada
insuficiência do funcionamento mental (FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR,
2008, p.604).

6.2 Distúrbios psicossomáticos em diferentes sistemas corporais


Observa-se que em algumas doenças, o sintoma psicossomático é mais
reconhecido, já que estudos indicam que as questões emocionais estão diretamente
relacionadas com o aparecimento dos sintomas como, por exemplo, doenças de
pele, gastrintestinais e até mesmo a oncologia (VIEIRA; MARCON; OLIVEIRA,
2011).
Devido à grande importância desses quadros para o psicólogo hospitalar e
toda a equipe multidisciplinar em saúde uma análise mais detalhada dos sistemas
que juntos formam o corpo humano e as condições psicossomáticas a eles
associadas será realizada a seguir. Por isso apresentamos alguns desses sistemas
anteriormente.

a) Transtornos gastrintestinais
Observa-se uma íntima ligação entre as emoções e a alimentação desde os
primeiros dias de vida do bebê, assim, a influência dos fatores emocionais nos
transtornos gastrintestinais é muito frequente.
Nas desordens gastrointestinais, a adaptação harmoniosa da atividade
gastrointestinal ao estado geral do organismo está perturbada. O sistema digestivo é
extremamente sensível às tensões. O apetite envolve-se na defesa contra a
ansiedade e a depressão, fatores relacionados a transtornos como anorexia
nervosa, bulimia e obesidade (HISADA, 2003, p.37). Essas condições já foram
mencionadas num outro momento nesse mesmo material e serão pormenorizadas
num outro momento desse curso, por isso as mesmas serão apenas citadas aqui.
Segundo Bitelman (2004), pacientes com queixas de gastrite ou úlcera
duodenal costumam apresentar conflitos relacionados ao trabalho, à vida familiar e
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afetiva. Essas questões desencadeiam os sintomas dolorosos mesmo que o


paciente esteja fazendo tratamento medicamentoso.
Outros distúrbios do sistema digestório que se relacionam ao estado
emocional do indivíduo envolvem o intestino: colite ulcerativa, diarreia crônica,
constipação crônica, síndrome do cólon irritável (SII), doença de Crohn.
A colite ulcerativa é um estado de inflamação crônica dos intestinos. Seus
sintomas são dores abdominais, diarreia que pode ser acompanhada de muco e
sangue, desidratação, febre, vômitos, falta de apetite e acentuada perda de peso.
Observa-se que o primeiro episódio da doença ocorre quando o paciente vive uma
situação que requer algum tipo de realização para a qual ele se sente despreparado.
A colite surge como uma saída inconsciente do indivíduo para a saída que era
esperada dele. São pessoas com antecedentes de dificuldades na expressão da
agressividade, com características de submissão, que apresentam perfeccionismo e
rigidez. “Na colite mucosa temos uma desordem da função fisiológica do cólon
causada pela atividade excessiva do sistema nervoso parassimpático, atribuída à
tensão emocional” (HISADA, 2003, p.48).
A diarreia crônica caracteriza-se pelo aparecimento de fezes líquidas e
frequentes, a qual pode aparecer sozinha ou combinada com outras doenças. É
desencadeada pela angústia aguda, em situações em que o indivíduo se sente
submetido a uma exigência excessiva e à agressividade (HISADA, 2003).
A Síndrome do Cólon Irritável ou Síndrome do Intestino Irritável (SII)
apresenta sintomas como dor abdominal e alterações no hábito intestinal (oscilação
entre diarreia e constipação intestinal). Os conflitos psíquicos apresentados por
esses pacientes podem ser oriundos da infância e, em muitos casos, o médico
especialista volta-se apenas aos sintomas físicos, deixando de lado os fatores
emocionais que podem se relacionar à doença, o que pode fazer com que o
tratamento e a cura do paciente demorem ainda mais (BITELMAN, 2004).
A constipação crônica caracteriza-se pela pouca frequência (intervalos de
3 a 15 dias entre uma evacuação e outra) e ressecamento das fezes, que podem
causar dor nas eliminações. No histórico do paciente percebe-se que foram crianças
que apresentaram dificuldades nas relações com suas mães e, em ocasião do treino
higiênico, a constipação aparece como uma reação à mãe. Pessoas com esses

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sintomas normalmente se mostram pessimistas e derrotistas, mal humoradas (“daí o


termo enfezadas”); não confiam nas pessoas ao seu redor (HISADA, 2003).
As úlceras gástricas são patologias que atingem principalmente as pessoas
muito ambiciosas, em estado de tensão emocional contínua, que carregam
hostilidade principalmente em relação à mãe. São causadas pelo ácido existente na
cavidade estomacal, o qual é necessário para o processo de digestão. O que
ocasiona a úlcera é alguma deficiência no muco que recobre a parede do estômago,
protegendo-o da ação nociva desse ácido (HISADA, 2003).

Está intimamente associado ao desejo de ser nutrido, estimulando a


atividade gástrica através das vias parassimpáticas [...] O comportamento
manifesto é a atitude independente, ambiciosa e agressiva exagerada.
Anseiam proteção, mas paradoxalmente não gostam de receber ajuda e
sobrecarregam-se com todo tipo de responsabilidade, reprimindo atitude
dependente (HISADA, 2003, p.45-46).

b) Transtornos cardiovasculares
A hipertensão arterial é uma patologia relacionada à pressão do sangue
contra as paredes das artérias. Segundo a SBH (2014), a tabela a seguir mostra os
níveis das pressões sistólica e diastólica no organismo humano. Observem quando
ela é considerada normal e os casos onde já se considera que há hipertensão.

Tabela 03: Definições e classificações dos níveis de pressão arterial no consultório em mmHg

Fonte: SBH (2014, p.13).

A hipertensão arterial pode ser ocasionada por uma série de fatores, tais
como hereditariedade, estilo de vida, fatores emocionais, dentre outros. Para nós,
cabe destacar que os aspectos psicológicos podem ser responsáveis por episódios

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hipertensivos ou mesmo pela cronicidade da doença. Para Hisada (2003), o


hipertenso vive um conflito entre a hostilidade interior e sua inibição. Em situações
de raiva ele busca não expressar seus sentimentos, portanto, a pressão da explosão
do sentimento fica contida no paciente.

Os pacientes apresentam rigidez e alto grau de exigência, têm explosões de


raiva ocasionalmente, mas, de um modo geral, mantêm um considerável
grau de controle, dando a impressão de um amadurecimento apenas
aparente. Mas essa ambivalência de sentimentos se bloqueia, mantendo
uma tensão crônica que exerce um efeito sobre as funções vasomotoras
(HISADA, 2003, p.56).

Outras doenças do sistema cardiovascular que podem ter fatores


psicossomáticos envolvidos são a taquicardia e a angina.

c) Transtornos da pele
Ao investigar a história de vida dos pacientes com problemas de pele,
observa-se a falta de contato físico entre mãe e bebê durante o seu primeiro ano de
vida. “Problemas de pele parecem estar relacionados à privação de contato físico
sofrida dos primeiros anos de vida.” Os pais apresentam dependência e insegurança
em relação à sua figura materna; já as mães se mostram ansiosas, superprotetoras,
com hostilidade disfarçada em ansiedade. Na adolescência esses problemas de pele
podem simbolizar a ansiedade vinculada à heterossexualidade emergente nessa
etapa da vida (HISADA, 2003, p.59).
As doenças infecciosas da pele podem ser causadas pela presença de
bactérias, portanto seu tratamento costuma ser antibioticoterapia. Elas também
podem surgir após períodos de queda do sistema imunológico (que sofre influência
do estado psíquico), o que favorece o surgimento de infecções oportunistas.
“Atualmente, muitos profissionais da saúde reconhecem que manifestações da pele
representam uma exteriorização de problemas internos não resolvidos, de ordem
física ou emocional” (BITELMAN, 2003, p.353).
Dentre as doenças da pele que podem ser de ordem psicossomática
destacam-se o vitiligo, a psoríase, as dermatites (atópica, de contato), a herpes, a
urticária, o eczema (HISADA, 2003), a acne, a erisipela (BITELMAN, 2003). As
imagens a seguir ilustram a aparência de algumas das patologias citadas:

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Figura 4: Sintomas da dermatite atópica

Fonte: SALVATO (s.d.).

Figura 05: Sintomas e tratamentos do Vitiligo

Fonte: SALVATO (s.d.).

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Figura 6: Sintomas da Psoríase

Fonte: Estética e Bem Estar (2010).

Não iremos detalhar aqui os sintomas de cada doença, as imagens serviram


para ilustrar o problema que, por ser na pele, torna-se extremamente visível. Apenas
ressaltamos o quanto as doenças de pele geram incômodo e podem interferir
negativamente na qualidade de vida do paciente, pois algumas, devido à sua
aparência desagradável, podem causar constrangimento no paciente e consequente
isolamento social.

d) Transtornos endócrinos e metabólicos


Iremos focar aqui apenas no estudo de duas glândulas, as quais já foram
apresentadas anteriormente nesta apostila: tireoide e pâncreas.
Os distúrbios da tireoide que apresentam relação com o estado emocional
do paciente são o hipertireoidismo e o hipotireoidismo.
O hipertireoidismo é caracterizado por sintomas como perda de peso,
taquicardia, insônia, olhos saltados, bócio (aumento da glândula), dentre outros
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sintomas. Os comportamentos apresentados nesses pacientes são agitação,


nervosismo, impaciência, instabilidade emocional, choro fácil, irritabilidade. Os
pacientes caracterizam-se por apresentar medos, frente aos quais reagem com
negação. “O hipertireoidismo pode ser precipitado por vários fatores, mas o mais
comum é o trauma psíquico ou o conflito emocional intenso, acompanhados de
angústia e irritabilidade” (HISADA, 2003, p.66).
Pessoas com hipotireoidismo apresentam tendência à depressão,
esquecimento de fatos recentes, apatia, aumento do peso, bradicardia, sonolência e
constipação intestinal (HISADA, 2003).
A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD, s.d.) define o diabetes tipo 2 ou
não insulinodependente como o tipo que acomete mais de 90% da população,
normalmente maiores de 40 anos. Atualmente, porém, devido aos maus hábitos
nutricionais, sedentarismo e stress, observa-se esse tipo de diabetes até em
pessoas mais jovens. Segundo Powers e Howey (2000), os sinais de advertência da
doença são micção frequente; sede e fome exagerada; perda rápida de peso;
fraqueza; fadiga; irritabilidade; náuseas e vômitos.

Os transtornos emocionais podem agravar a evolução do distúrbio


metabólico existente no diabético, mas o possível significado de tais fatores
ainda não foi estabelecido. [...] Os diabéticos mostram-se indecisos,
apresentam ressentimento com os pais e submissão. São dominados pela
figura materna. De forma geral, apresentam passividade, tendo dificuldade
em substituir seu estado dependente infantil por um mais independente e
maduro. Regridem a uma atitude dependente e mostram seu esforço para
obter independência verbalmente, porém com pouca ação. A passividade
do diabético é muitas vezes interpretada como demonstração do seu forte
desejo de retorno à primeira infância, o que pode ser demonstrado na sua
grande gula (HISADA, 2003, p.68).

e) Cefaleia e enxaqueca
Cefaleia e enxaqueca são dois tipos de dores de cabeça. Às vezes torna-se
difícil distinguir uma da outra, mas, dentre os sintomas, enquanto que a cefaleia
tensional se caracteriza normalmente apenas pela queixa dolorosa a enxaqueca
também pode apresentar distúrbios visuais denominados aura, dor apenas de um
lado da cabeça, náuseas e vômitos (VIEIRA, 2003).
Segundo Hisada (2003), os portadores de enxaqueca são pessoas que
perderam a segurança do lar e têm que enfrentar a responsabilidade sozinhos.

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Limitam a expressão da agressividade, o que leva à ansiedade, que desencadeia a


resposta fisiológica de dor. São pessoas com dificuldade de adaptação às
mudanças, inseguras e que apresentam problemas de ordem sexual. As crises
costumam cessar subitamente quando o paciente se conscientiza de sua raiva
reprimida, a qual resultou o quadro doloroso. Outras condições também
caracterizam o paciente que sofre de enxaqueca:

Na enxaqueca, as dores aparecem quando o outro não se submete à


dominação do indivíduo que sofre de enxaqueca, notadamente quando este
outro impõe seu conhecimento ou ganha a competição intelectual que o
portador de enxaqueca fez existir e da qual o outro não tinha ideia ou não
dava importância. As leves disputas de conhecimento do dia-a-dia
assumem uma dimensão enorme no portador de enxaqueca. A crise
dolorosa pode ocorrer também quando o indivíduo, por conveniência
externa, reprime o ímpeto de ser quem manda (VIEIRA, 2003, p.332).

f) Transtornos das articulações e dos músculos esqueléticos


Dentre as condições dolorosas de ordem psicossomática que atingem as
articulações e os músculos esqueléticos destacam-se artrite reumatoide, dores nas
costas, gota, osteoartrite, osteoporose, tendinite, bursite e fibromialgia.
“Os pacientes com transtornos nas articulações tendem a controlar e
dominar o ambiente. Têm predileção por competição e são exigentes e severos
consigo mesmo e com os outros”. As queixas são relacionadas à agressividade e
ódio reprimidos. Como as articulações são responsáveis pelos movimentos, os
sintomas que restringem os mesmos são transformados em autoagressão (HISADA,
2003, p.73).
Atualmente, devido ao aumento de pessoas com a queixa desse problema,
que pode ocasionar afastamento do trabalho, a fibromialgia é uma condição que
merece destaque, a qual é sintetizada a seguir.

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Figura 07: Fibromialgia

Fonte: Bem Estar (2014).

6.3 Distúrbios psicossomáticos na infância


Inicialmente os estudos na área da psicossomática focalizavam o indivíduo
adulto, porém já se sabe que as crianças também estão propensas a desenvolver
distúrbios psicossomáticos. Para compreender esses distúrbios na infância, faz-se
necessário falar da relação mãe-bebê, a qual pode ser benéfica ou prejudicial ao
desenvolvimento infantil.
Focalizaremos brevemente nossos estudos em Spitz e Bowlby. Spitz (1980)
elucida a importância da relação estabelecida entre mãe e filho para que o bebê
tenha condições de perceber e interpretar seu corpo, suas relações e o ambiente no
qual está inserido. Quando essa relação não é favorável, a personalidade da mãe é
capaz de promover alguns distúrbios específicos na criança, tais como o vômito em
jato, o eczema infantil ou mesmo a depressão anaclítica. As atitudes maternas
nocivas ao desenvolvimento infantil são denominadas rejeição primária manifesta,
superpermissividade ansiosa primária, hostilidade disfarçada em ansiedade,
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oscilação entre mimo e hostilidade, oscilação cíclica de humor da mãe e hostilidade


conscientemente compensada. Não iremos pormenorizar esses padrões de
personalidade da mãe em relação ao filho, apenas compreendam que tanto a
rejeição, quanto a superproteção e a oscilação de humor podem ser nocivas ao
desenvolvimento do bebê.
Já Bolby (apud PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006) investigou como o apego
entre mãe e bebê é essencial nos primeiros meses de vida e a forma como esse
laço é estabelecido influenciará as relações que o bebê mantiver com todas as
pessoas ao longo de sua vida. Quando o apego é seguro o desenvolvimento infantil
torna-se mais saudável.
Inicialmente, o bebê não percebe a separação entre o seu corpo e o da mãe,
o seio aparece como uma continuidade de seu próprio corpo, porém, com o
desenvolvimento normal, o bebê deve elaborar que o seu corpo e o da mãe são
entidades distintas.
Segundo Vieira, Marcon e Oliveira (2011), a mãe deve contribuir para esse
movimento, pois, caso contrário, podem surgir problemas psicossomáticos ao longo
do desenvolvimento dessa criança. “Ainda com relação aos bebês, estes são
indivíduos com a maturação psíquica pouco elaborada. A somatização torna-se uma
forma de expressão frequente, se não única” (CAPITÃO; CARVALHO, 2006;
OLIVEIRA; ROSA; BONATTO; OLIVEIRO, 2006 apud VIEIRA; MARCON;
OLIVEIRA, 2011, p.221).
Em termos simbólicos, o bebê já existe antes de nascer, já que o mesmo
costuma ser fantasiado pelos pais. A partir de seu nascimento inicia-se uma jornada
através de seu desenvolvimento e os pais, em especial a mãe, buscam
compreender aquele ser que acaba de nascer. O bebê começa a se descobrir como
pessoa a partir da mãe, a qual, quando estabelece um canal de comunicação com
seu filho, passa a traduzir em palavras os atos e sensações do bebê (ANDRADE,
1993).
Não apenas a relação mãe-bebê é relevante para o desenvolvimento infantil
saudável. O bebê capta situações de estresse no meio familiar e comunica essa
percepção através de sintomas. Quando a criança adoece o seu sintoma pode, por
exemplo, ser uma espécie de elo entre pais distantes. Na maioria das vezes, os

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problemas familiares passam a ser ignorados quando uma criança adoece e a


família volta-se à criança sintomática (FERREIRA et al., 2006; MINUCHIN et al.,
1975 apud VIEIRA; MARCON; OLIVEIRA, 2011).
Num estudo publicado por Vieira, Marcon e Oliveira (2011) observaram um
bebê de nove meses hospitalizado com queixa de diarreia crônica. A mãe mostrava-
se com traços de superpermissividade ansiosa, cercava o bebê de cuidados
excessivos e mostrava-se muito preocupada com o bebê e duvidosa frente aos
diagnósticos apontados pela equipe. O pai não visitava o bebê diariamente. Após
entrevistas da equipe da psicologia foi concluído que o bebê sofria de diarreia
crônica benigna da infância, afecção de cunho psicossomático. Dentre as
intervenções dos psicólogos hospitalares citam-se a tentativa de deixar o pai mais
próximo nessa relação, além de encaminhar a mãe para a psicoterapia, pois foi
percebido que sua relação era nociva para o bebê. A mãe aceitou as sessões de
psicoterapia breve durante a hospitalização do bebê, mas não reagiu bem à
indicação de manter o tratamento quando fora da unidade hospitalar.
A asma, condição que afeta muitas pessoas, mas, em especial, crianças,
caracteriza-se por ser uma condição crônica marcada por ataques repetidos de
dispneia, chiado, tosse seca e dificuldade de respirar. As crises, que podem durar de
horas a semanas, são desencadeadas por emoções, substâncias irritantes,
exercícios, fadiga ou alergia. “A crise de asma é um sintoma cuja causa imediata é
um espasmo dos bronquíolos e que está relacionado a fases de pressão excessiva”
(HISADA, 2003, p.51).
Andrade (1993) tece algumas considerações sobre a asma. Segundo ele, os
pacientes asmáticos são frágeis, dependentes e inseguros, já que foram construídos
assim pelos pais. São crianças que geralmente ocupam para os pais o lugar de
outro, assim são marcadas para um lugar designado pelos pais, para, de alguma
forma, completá-los. Dessa forma, o asmático vive o conflito entre a incapacidade de
ser diferente e o insuportável peso de ser o que é. As angústias resultantes desse
conflito são simbolizadas no corpo, na dificuldade de respirar. Quando em crise, a
criança asmática tem de seus pais a atenção e o carinho dos quais ela sempre
desejou, porém geralmente nunca recebe. Há uma insatisfação da criança em
relação aos pais, a qual se traduz em agressividade. “Esta agressividade é também

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defletida sobre si próprio no sofrimento de seu corpo, sofrimento esse que é um


misto de ‘dor’ e satisfação, à medida que nele a criança expia sua culpa pelo que
causa aos pais” (p.12).

Distúrbios psicossomáticos no momento inicial do desenvolvimento são


essencialmente ligados à relação mãe e bebê. Essas interações primárias
são essenciais para o desenvolvimento posterior da criança e, atuar nesse
momento, constitui-se numa ação essencialmente preventiva que deve ser
estudada e observada pelos psicólogos e por todos os profissionais de
saúde, independente do nível de complexidade do serviço em que atuam
(VIEIRA; MARCON; OLIVEIRA, 2011, p.229).

6.4 O atendimento psicológico ao paciente somatizador


É importante destacar que o estabelecimento do diagnóstico é essencial
nesses pacientes, visto que os sintomas podem ser parecidos com de outras
condições médicas (como esclerose múltipla, lúpus) e outras comorbidades
psiquiátricas (transtornos de ansiedade e humor, transtornos de personalidade)
(FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008).
Conforme já foi ressaltado em vários pontos desse material, o papel do
psicólogo é de suma importância para um bom prognóstico do paciente somatizador.
Acostumados com o discurso biomédico, muitos profissionais da equipe
multidisciplinar de saúde não dão a devida importância aos aspectos
biopsicossociais envolvidos no processo de adoecimento, portanto é essencial
reconhecer como a influência desses é um diferencial no processo saúde-doença.
Além disso, o psicólogo hospitalar e da saúde deve ter em mente que o atendimento
ao paciente psicossomático pode acontecer em nível ambulatorial ou hospitalar,
visto que, como foi visto anteriormente, há diversas patologias ligadas ao estado
emocional do paciente, de diferentes níveis de gravidade.
Como muitos pacientes já sofreram atitudes preconceituosas por parte de
familiares e até mesmo profissionais de saúde quando esses percebem que o seu
estado emocional influencia diretamente em sintomas que aparecem no corpo (como
dores, por exemplo), quando um profissional faz o diagnóstico de doença
psicossomática eles podem não se dar por satisfeitos. “Sentem um sintoma” de algo
que é real, que está no corpo (como uma diarreia), que dói (como a fibromialgia),
que incomoda muito (como a enxaqueca), que pode ser até visível (como as
afecções da pele), por isso acreditam que a causa desses problemas é alguma
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patologia muito grave (muitos acreditam ter câncer, por exemplo, ou estarem ficando
loucos); não se conformam em saber que “a causa é emocional”, como muitos
costumam dizer. Normalmente esses pacientes fazem tratamentos farmacológicos
direcionados aos sintomas físicos (por exemplo, para a diarreia e a enxaqueca) ou
também recebem prescrição de fármacos voltados a outras condições que podem
estar associadas (como, por exemplo, antidepressivos e ansiolíticos).
Um primeiro ponto que o psicólogo deve levar em consideração ao fechar o
diagnóstico de doença psicossomática e comunicar esse fato ao paciente é que este
pode não reagir bem, seja em função das características citadas anteriormente, ou
mesmo porque ele pode não ter entendido do que se trata. A palavra
“psicossomática” assusta, é erudita, não se pode esperar que o paciente domine
termos técnicos. Deve-se explicar de forma que ele possa entender, além de se
levar em consideração a comunicação estabelecida entre profissional e paciente –
tema que foi abordado na apostila anterior desse curso e que é ilustrado na citação
a seguir:

[...] a comunicação de um diagnóstico psicossomático pode ser ofensiva


para o próprio paciente ou sua família, estes imaginando que o médico não
valorizou suas percepções, não lhe deu atenção ou está considerando-o
louco (VIEIRA; MARCON; OLIVEIRA, 2011, p.221).

Como já foi possível compreender nessa seção, a psicoterapia é um tipo de


tratamento recomendado para esses pacientes. Esteja ele no hospital, como no
exemplo da criança com diarreia e sua mãe ansiosa descritos por Vieira, Marcon e
Oliveira (2011), ou em ambiente ambulatorial, conforme preconiza Hisada (2003), o
paciente que sofre de alguma patologia psicossomática chega ao psicólogo após um
encaminhamento médico, ou ele já foi há vários médicos em busca da resolução de
seu problema e vê no psicólogo sua última esperança (às vezes ele chega até a
recorrer a tratamentos espirituais antes de ir ao psicólogo, visto que muitos ainda
acreditam que esse é um profissional que “só atende loucos”).
Os pacientes poliqueixosos tendem a uma superutilização dos serviços de
saúde. Segundo Mai (2004 apud FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008), os
pacientes com transtornos de somatização devem ser acompanhados por médicos
clínicos que podem avaliar e examinar novos sintomas, porém sem a realização de

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exames complementares desnecessários. Esses pacientes devem realizar consultas


médicas regulares e estruturadas, de forma a sentirem segurança, ao mesmo
tempo, não devem ser tão frequentes para não gerarem no paciente uma
dependência excessiva. Consultar outros médicos, serviços de emergência e fazer
“consultas telefônicas” não são estratégias recomendadas, o que pode intensificar,
no paciente, o comportamento de doente.
Segundo Hisada (2003), poucos pacientes procuram ajuda do psicólogo por
conta própria e costumam estranhar quando recebem o encaminhamento médico,
pois não conseguem associar como o psicólogo pode auxiliá-los, já que suas
queixas são da ordem do físico.
Já está evidente que o paciente psicossomático deve realizar um
acompanhamento psicoterápico. Frente às diversas abordagens disponíveis, a
escolha do método psicoterápico deve levar em consideração o diagnóstico
específico; a motivação, a capacidade cognitiva e as preferências do paciente, além
das melhores evidências científicas disponíveis (FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR,
2008).
Numa linha psicanalítica, conforme Jesus (2002) e Hisada (2003), os
sintomas das manifestações psicossomáticas coincidem com períodos em que o
paciente vivenciou situações adversas. O psicólogo deve:

[...] juntamente com o paciente, ir construindo com ele esses marcos, sua
história de sintomas e de sofrimento, como se fossem peças de um quebra-
cabeça em que as partes estão todas espalhadas, distantes umas das
outras, impedindo uma visão do todo integrada. [...] É importante fazer
perguntas e responder às do paciente, abrir vias, caminhos que o paciente
não pôde construir. [...] É necessário uma relação humana com o paciente.
A escolha das palavras, o momento adequado, ajudam a criar o sintoma
que faltou em sua vida. As manifestações transferenciais devem ser vividas
e não interpretadas. O contato afetivo e a disponibilidade real em querer
ajudar são importantes. [...] O tratamento exige paciência, tempo e muita
disponibilidade do terapeuta, pois muitas vezes o paciente psicossomático é
repetitivo, falando várias vezes somente do sintoma [...]. Apresenta
dificuldade de integração uma vez que não consegue associar seus
sintomas com suas questões emocionais. É importante o terapeuta ter uma
visão unificada do paciente para poder auxiliar na integração e compreender
que o paciente está realmente sofrendo muito (HISADA, 2003, p.89-90).

Numa linha cognitivo comportamental, o terapeuta pode auxiliar o paciente a


adquirir senso de controle sobre os efeitos da dor em seu cotidiano, além de
identificar, avaliar e modificar pensamentos e expectativas distorcidas, modificando
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os comportamentos nocivos que foram aprendidos ao longo de sua vida e


melhorando, assim, sua autoeficácia. Tudo isso ajuda o paciente a melhorar sua
qualidade de vida e desenvolver pensamentos mais adaptativos. Diversas técnicas
podem ser utilizadas (FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008).
Nos hospitais, mesmo com várias mudanças institucionais, ainda percebe-se
que o modelo biomédico prevalece e o paciente é aquele que deve se submeter às
normas e rotinas hospitalares de forma passiva, sendo sempre receptivo e
colaborador com o tratamento. Para isso, ele não deve estabelecer vínculos com os
profissionais (que também são treinados para isso), não deve ficar deprimido,
emocionado e nem questionar sobre o seu tratamento. Esse “paciente ideal” deve
submeter-se completamente aos tratamentos que estão sendo administrados nele,
além do que deve concentrar sua atenção para a sua cura (CASETTO, 2003).
Nesse contexto hospitalar, onde parece que as emoções devem ceder
espaço à total passividade e ao tratamento à esfera biológica, Casetto (2003, p.156-
157) afirma que:

[...] a psicossomática nos ensinou que os afetos não fazem mal à saúde.
Pelo contrário, aprendemos que a possibilidade do manejo psíquico dos
afetos é uma condição sine qua non para a proteção contra a doença e um
fator importante para o restabelecimento. Porém, como vimos, nossas
instituições ainda supõem que um estado emocional mínimo é a condição
ideal para um paciente internado. Podem-se imaginar quantas mudanças
seriam feitas nos procedimentos hospitalares se fosse levado em conta
esse outro ponto de vista. [...] O que observamos é que os aspectos
psicodinâmicos do paciente são considerados, mais frequentemente, como
uma espécie de acompanhante indesejável da doença que pode exigir.
Psicólogos ou psiquiatras costumam ser solicitados para, através de uma
interconsulta, ou de um tratamento paralelo, cuidar de problemas
disciplinares do paciente. Ou, então, determinadas doenças são
consideradas psicossomáticas se não se detecta nenhuma etiologia
orgânica. Constituem-se, assim, numa espécie de caso especial, exceções
que mantêm inalterado o modelo hegemônico das doenças e terapêuticas
puramente físicas.

Segundo o mesmo autor, no hospital, pretende-se fazer o caminho inverso


da dissociação doente/doença. Não se espera que a psicossomática seja uma
prática específica de psicólogos, psiquiatras e profissionais afins, mas que essa
influencie toda a equipe multiprofissional em saúde e suas intervenções.
Um recurso muito utilizado em crianças, mas que também pode ser benéfico
para adultos é a utilização de histórias como instrumento terapêutico de pacientes
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hospitalizados. Segundo Satrapa (2003), histórias como mitos, fábulas e contos de


fada são de grande valia como recurso a ser utilizado durante o atendimento dos
pacientes. A situação de doença e hospitalização provocam no paciente, mesmo já
adulto, um processo de regressão, além do desequilíbrio psicossomático. Assim, as
histórias são um recurso valioso, já que o ato de contar histórias remete à infância e
à função materna.
A utilização de histórias não é previamente planejada pelo terapeuta,
normalmente a história vem à mente do terapeuta em respostas às angústias
mobilizadas nele pelo processo de contratransferência. A permanência do paciente
no hospital costuma ser um período breve, porém de intensa angústia, momento em
que as intervenções psicoterápicas breves encontram espaço. “Tanto a regressão
como a situação de desequilíbrio psicossomático que culminou no adoecimento
causador da internação hospitalar implicam na necessidade do manejo dos aspectos
primitivos nelas implicados”. As características transicionais, lúdicas e o processo
metaforizante das histórias são importantes, já que elas guardam proximidade com
os aspectos primitivos implicados nos eventos regressivos e somáticos. As histórias
possibilitam a circulação do afeto, o que favorece o equilíbrio psicossomático
(SATRAPA, 2003, p.398).
É grande o número de pacientes psicossomáticos, o que pode ser atribuído
à dinâmica da vida moderna, apressada, em que as mães não são tão disponíveis
para oferecer afeto aos bebês. Esses se transformam em adultos carentes,
desamparados, o que possibilita uma desintegração que pode possibilitar o
surgimento das doenças psicossomáticas. Adoecer surge como um pedido de
socorro, uma defesa a essa desintegração.
O setting terapêutico pode ser uma metáfora dos cuidados maternos (assim
como mencionado em relação às históricas, recurso defendido por Satrapa, 2003). O
paciente psicossomático está em eterna busca e a psicoterapia deve proporcionar a
ele o encontro com si mesmo (HISADA, 2003).
Numa abordagem cognitivo comportamental, o tempo de tratamento é
variável, há indícios de melhorias mesmo em tratamentos muito breves, de seis a
dez sessões (ALLEN et al. 2006 apud FILIPPON; CARDOSO; AGUIAR, 2008). “O
paciente é estimulado a antecipar e planejar como será o período após o término do

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tratamento, que ocorre de maneira gradual”, ou seja, esse tipo de terapia não
significa a imunidade aos problemas, mas um aprendizado de como lidar com as
adversidades de modo mais efetivo. “O paciente aprende que reabilitação não é cura
e nem tudo pode ser previsto” (p.607).
O terapeuta deve levar em conta que: “[...] a melhora dos sintomas
orgânicos apresenta um novo problema para o ego: encontrar um novo meio de
vazão para as tendências antes aliviadas pelos sintomas orgânicos” (HISADA, 2003,
p.8).

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UNIDADE 7 – DOR

Compreender a dor numa perspectiva biopsicossocial é um tanto complexo,


ou seja, a dor é uma experiência (que envolve, pelo menos, o paciente dolorido, o
profissional de saúde e o acompanhante, seja ele presente ou não); é desagradável
do ponto de vista da sensação física e emocional; pode ou não estar relacionada
com a lesão (real ou potencial) de tecidos (RIECHELMANN, 2001).
Segundo Straub (2014), compreender o que causa a dor e seus mecanismos
de controle é um tópico central na psicologia da saúde. Segundo ele:

Ela é obviamente uma sensação física – quando caímos e arranhamos o


joelho, sentimos uma sensação de ardor que tem um substrato físico e real.
Ainda assim, a dor de perder um ente querido ou terminar um
relacionamento longo tem uma natureza mais psicológica do que física,
embora com frequência também seja muito real (p.371).

Antes de partir para uma perspectiva psicossomática da dor, o profissional


de saúde, em especial o médico, deve excluir quaisquer outras condições que
podem vir a ocasionar a sensação dolorosa naquele momento. Além disso, para
avaliar a dor, devem-se avaliar os seguintes componentes: lesão tecidual,
constituição da pessoa (genótipo, fenótipo, personalidade), ambiente físico, cultural,
estado afetivo-emocional (ansiedade e depressão), função de comunicação. Em
linhas gerais, compreende-se que alterações em qualquer uma dessas esferas
podem resultar em dor (RIECHELMANN, 2001). A seguir, vemos algumas definições
de dor:

Dor é uma experiência cotidiana que acomete milhares de pessoas em todo


o mundo nas instituições de saúde, no trabalho e nos domicílios. Em muitos
casos, mais que um sintoma, a dor é uma doença em si e seu controle é o
objetivo do tratamento. De sua vivência resulta alterações biológicas,
psicossociais e sofrimento, com prejuízo para o sono, o trabalho, a
movimentação e deambulação. A dor provoca alterações no humor, na
capacidade de concentração, no relacionamento familiar e na capacidade
sexual, além de contribuir para uma percepção pessimista e
desesperançada da vida. (MURTA, 2007, p.221).

É a razão mais frequente que justifica a busca das pessoas por um


tratamento médico, considerada o quinto sinal vital – os demais sinais vitais
avaliados pela equipe de saúde (em especial médicos e enfermeiros) são pressão
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arterial, pulso, temperatura e respiração (GATCHEL; MADREY, 2004, apud


STRAUB, 2014).
A dor é parte integrante da vida e visa proteger a integridade física do
indivíduo, sendo essencial para a nossa sobrevivência (ANGELOTTI, 2001;
STRAUB, 2014).
Pode ser incontrolável, comprometendo, assim, sua qualidade de vida. A
partir da dor, a pessoa busca auxílio médico, pois sua existência é o sinal de uma
patologia (TURK; MLZACK, 1992 apud ANGELOTTI, 2001).
A dor é uma experiência pessoal, subjetiva, e só pode ser comunicada pela
pessoa que dela sofre. Sua função é sinalizar que algo não está bem no organismo,
assim, espera-se que a dor desapareça após descobrirem o que a está causando e
realizarem a intervenção adequada para sanar o problema. Nem sempre isso ocorre
e a dor persiste devido a alguns fatores, tais como, medicação ineficaz, causa
desconhecida, múltiplos fatores causais. Importante destacar que um mesmo
estímulo pode ser assimilado de várias formas em diferentes pessoas, provocando
ou não a dor, de intensidades variadas (SASDELLI; MIRANDA, 2001).
É o que observamos, por exemplo, na aplicação de injeção: para algumas
pessoas, a dor resultante do procedimento é praticamente imperceptível, para outras
é mediana e, para outro grupo, é percebida como uma dor muito intensa, capaz de
propiciar o surgimento de reações de estresse. Segundo os mesmos autores:

Na medicina, o objetivo da dor é informar ao médico acerca da localização e


natureza do problema orgânico, a fim de dar-lhe condições de tomar as
medidas corretivas necessárias. Na psicologia, é através da palavra e da
expressão que temos acesso à dor do paciente. É tão importante quanto
legítima e útil a abordagem psicológica da dor (p.110).

Pode-se afirmar que a dor é única, pois cada um sente a dor de uma forma e
sua vivência também é particular. A dor não resulta apenas da lesão tecidual, como
sempre é importante considerar o homem como um ser holístico, a dor também
precisa ser avaliada como um todo. A quantidade e a qualidade da dor que sentimos
são determinadas por nossas experiências prévias com sensações dolorosas, além
de nossa capacidade de entender as causas e as consequências da dor.
A ocorrência de dor varia em função de idade e gênero (TEIXEIRA et al.,
1999; STRAUB, 2014). Nas mulheres é mais comum o aparecimento de síndromes
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dolorosas como a enxaqueca, a fibromialgia, a síndrome do intestino irritável, a


artrite reumatoide, a dor por esforços repetitivos (LER) e a esclerose múltipla.

O número de casos de dor precordial, artralgias e outras afecções do


aparelho locomotor, neuralgias e de dor por doenças oncológicas e
neuropáticas aumenta com o progredir da idade. No idoso a dor crônica é
relacionada a doenças degenerativas (TEIXEIRA et al., 1999, p.90-91).

A dor pode ser aguda, de diferentes graus de intensidade, porém breve, ou


crônica, também de intensidade variável, mas de curso duradouro. As percepções e
implicações desses diferentes tipos de dor, assim como o tipo de intervenção que
deve ser adotado pelo profissional que irá lidar com o paciente que sofrem devem
ser diferentes, entretanto, esse assunto não será aprofundado aqui. Num outro
momento do curso falaremos sobre o paciente agudo e o paciente crônico, dando a
ênfase necessária ao tema.

Talvez mais do que outra experiência cotidiana, a dor ilustra de forma clara
o modelo biopsicossocial. Esse modelo distingue entre os mecanismos
biológicos pelos quais estímulos dolorosos são processados pelo corpo: a
experiência emocional e subjetiva da dor e os fatores emocionais e
comportamentais que ajudam a moldar nossa experiência a ela (STRAUB,
2014, p.371).

Compreende-se a dor como um sintoma complexo, individual e subjetivo que


envolve aspectos sensitivos, emocionais e culturais. A dor de um indivíduo não pode
ser sentida por outro, apenas a comunicação tenta indicar sua presença. Quando
paciente e profissional “não falam a mesma língua”, a compreensão do fenômeno
doloroso torna-se ainda mais complicada. (PIMENTA; TEIXEIRA, 2005 apud
ANGELOTTI, 2001).

Para validar a existência da dor basta apenas o relato de que está presente.
Para avaliá-la é necessário levar em consideração as causas físicas e
emocionais que influenciam sua percepção. A dor relatada é sempre real,
mesmo sendo de causa desconhecida (MURTA, 2007, p. 222).

O profissional da equipe multiprofissional de saúde deve ficar atento para


não relacionar a dor apenas à comunicação verbal do paciente. A comunicação não-
verbal se faz essencial, visto que expressões faciais, choro, contrações musculares,
diminuição dos movimentos, humor deprimido, ansiedade, raiva, hostilidade,
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dependência da família e alterações nos padrões de sono e alimentação são


importantes indícios de dor. É essencial ressaltar que a comunicação não-verbal
pode ser a única forma de se comunicar a dor em pacientes impossibilitados de falar
ou incapazes de demonstrar o que estão sentindo, como, por exemplo, pacientes
intubados na UTI e crianças pequenas.
Existem também os pacientes que não se queixam de dor por temerem
possíveis tratamentos para ela ou por não quererem incomodar seus cuidadores.
Nestes casos, é importante investigar porque o paciente nega sua própria dor, já que
o alívio da dor é um direito seu, que auxilia na manutenção da dignidade da pessoa
humana.

Cabe ao profissional incumbido no tratamento da dor desenvolver sua


percepção, pois a dor humana pode ou não ser manifestada e transmitida
por meio de palavras. A dor precisa ser vista, ouvida, imaginada e, acima de
tudo, respeitada de acordo com o conhecimento e experiência que cada
pessoa adquiriu com o passar dos anos, tanto para o cuidador quanto para
quem necessita de cuidado (MURTA, 2007, p.224).

Por outro lado, a comunicação verbal do profissional (aquela expressa por


palavras faladas e escritas) é um grande diferencial para uma abordagem
satisfatória dos quadros dolorosos. É recomendável que o profissional adote atitudes
encorajadoras e seja bastante esclarecedor ao falar das situações terapêuticas,
riscos e reais perspectivas clínicas. A comunicação precisa ser muito clara, evitando-
se possíveis contradições, expressões grotescas e o relato de situações que
possam piorar a autoestima do paciente. “O esclarecimento das situações permite
melhorar a aderência ao tratamento e aumentar a confiança nas atitudes
terapêuticas” (TEIXEIRA et al., 1999, p.92).
Por ser uma experiência biopsicossocial, a dor deve ser avaliada e tratada
por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, dentistas, enfermeiros,
psicólogos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais,
conselheiros vocacionais e nutricionistas. Outros especialistas como neurologista,
fisiatra, anestesista, psiquiatra, bioquímico, dentre outros também podem auxiliar
para uma atuação ainda mais complexa. O objetivo dessa equipe é avaliar as
situações, aliviar a dor e o sofrimento, eliminar padrões anormais de
comportamento, melhorar o nível de atividade da pessoa com dor e, finalmente,
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atuar na educação em saúde, orientando pacientes e cuidadores a lidar com


situações adversas (TEIXEIRA et al., 1999).
Um ponto que merece ser levado em consideração é: o que o psicólogo
pode fazer frente ao paciente com dor? Na seção anterior aprendemos sobre a
psicossomática, quando pudemos concluir que a causa de alguns sintomas não
reside necessariamente na esfera do biológico, onde o sofrimento se faz sentir – daí
a compreensão da validade da atuação do psicólogo no tratamento desses
pacientes. Agora, pretendemos ampliar essa reflexão. “A avaliação dos aspectos
afetivos e comportamentais dos doentes é importante porque a ansiedade, a
depressão e outras anormalidades podem contribuir para os maus resultados do
tratamento” (TEIXEIRA et al., 1999, p.91).
O esclarecimento do paciente sobre as questões relacionadas à dor reduz
as incertezas, permitindo, assim, maior adesão ao tratamento e maior confiança nas
condutas propostas pela equipe. O psicólogo pode atuar nesse sentido, visto que
quando há um bom vínculo terapêutico com o paciente esse se torna uma peça-
chave. Além disso, a psicoterapia, em diferentes linhas, como a psicoterapia de
apoio individual ou em grupo, as técnicas de relaxamento, o biofeedback, a hipnose
e a abordagem cognitivo-comportamental podem oferecer resultados consideráveis
nos casos em que existirem grandes alterações afetivas e não passíveis de controle
com os fármacos (TEIXEIRA et al., 1999).

As técnicas de psicoterapia têm a finalidade de induzir os pacientes a


aceitar a doença, encorajá-los a ter vida emocional normal e a ter objetivos
de vida, mesmo que limitados. As técnicas de relaxamento proporcionam
[...] melhora da dor, reduzem a ansiedade e geram sensação de descanso e
bem-estar mental e físico. [...] A terapia comportamental, hoje bastante
utilizada para o tratamento da dor, consiste em um conjunto de métodos
destinados a auxiliar o indivíduo a modificar o comportamento, seja ele
sadio, doentio ou doloroso, ou as atitudes relacionadas com a dor
(TEIXEIRA et al., 1999, p..127-128).

Frente ao paciente com dor é sabido que não cabe ao psicólogo tratar a dor
em si, não basta saber a etiologia da dor, é necessário também buscar compreender
o sofrimento pelo qual o paciente está passando.

À medida que fazemos essa escuta psicológica, percebemos que a fala do


paciente passa dos relatos das suas dores para conteúdos relacionados ao

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sofrimento psíquico, no que se refere à complexidade e à diversidade dos


aspectos da sua vida (SASDELLI; MIRANDA, 2001, p.103).

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UNIDADE 8 – IMPLICAÇÕES PSICOSSOCIAIS DAS DOENÇAS

Como enfatizamos nas duas últimas seções, a dor e a doença não podem
ser compreendidas como eventos exclusivamente fisiológicos, considerando-se o
homem como um ser biopsicossocial, fica fácil compreender como essas situações
adversas acarretam em consequências não apenas para o organismo do sujeito,
como também para seu estado psicológico e nas suas interações sociais. Sem
aprofundarmos no assunto, qualquer pessoa, mesmo leiga, consegue perceber
como o estado biopsicossocial da pessoa com dor e doente fica alterado.
Afirmamos anteriormente que algumas dores não podem ser vistas (por
exemplo, caso haja uma fratura exposta fica mais fácil “visualizarmos a dor” à qual o
paciente se refere, diferente, por exemplo, de uma cefaleia, que normalmente não
apresenta nenhum sinal), mas podemos afirmar que as alterações no estado
psicossocial no indivíduo são importantes indícios de que a dor está presente.
Na maioria das vezes as consequências da dor e da doença (durante o
curso das mesmas ou mesmo após seu tratamento) são negativas para o paciente e
seus familiares. Reações como ansiedade, isolamento social, medo, depressão,
desconfiança, visão pessimista da vida, afastamento do trabalho e da escola, dentre
outras são comuns. A dor pode ser também indício de outras condições de caráter
psicopatológico, pois, segundo Figueiró (1999), a dor é um sintoma frequente em
pacientes com transtornos ansiosos, do humor (como a depressão) e somatoformes.
Entretanto, há pessoas que saem mais fortalecidas desse processo.
Segundo Perrin (1996 apud SILVA, 2001), as repercussões emocionais das doenças
variam de pessoa a pessoa. Quando o curso da doença é mais prolongado, o
paciente acaba se privando daquilo que lhe ocasionava prazer, já que as
implicações da doença afetam negativamente na sua autoestima, no controle de seu
próprio corpo e nas relações interpessoais.
Observam-se diferentes reações nos pacientes que sofrem de patologias
crônicas e agudas. No caso da doença crônica, há aqueles pacientes que, mesmo
afetados pela doença, requerem poucos cuidados por parte do profissional de
saúde, ou seja, vivem como se gozassem de boa saúde. Não vivem como doentes,
mesmo em situações em que precisam tomar precauções e abrir mão de atividades
físicas e sociais devido ao seu estado, ou seja, adaptam ao seu estado. Existe
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também outro grupo de indivíduos, aquele que possuem discretos


comprometimentos, sejam eles fisiopatológico, funcional e lesional, porém se
sentem muito afetados por sua condição, vivendo na condição de doentes crônicos
(COELHO, 2001).

O paciente sente-se impotente diante do sofrimento, das restrições, dos


distúrbios e das perdas advindas da doença, a qual se torna o foco central
da existência do indivíduo e suas repercussões e são vividas
dramaticamente ou com fatalismo por ele. Isso pode lhe provocar a redução
do campo de relacionamento e um retraimento sobre si mesmo,
desinteressando-se pelas relações com pessoas significativas de sua vida
(COELHO, 2001, p.72).

Quando a condição crônica afeta a criança ou adolescente acarreta


sequelas como: limitação da função ou atividade; prejuízo das relações sociais;
dependência de profissionais da saúde, tratamentos farmacológicos e dietas;
necessidade de atenção de médicos, psicólogos e outros profissionais da saúde;
acompanhamento educacional especializado; acomodações especiais em casa e na
escola (SILVA, 2001).
Após a doença aguda, espera-se que o paciente faça um movimento no
sentido de reassumir sua vida. Da mesma forma como foi citado em relação às
doenças crônicas, a pessoa que sofre de uma enfermidade aguda também pode
manifestar diferentes reações. Alguns desses pacientes apresentam desgastes
emocionais, mesmo que não tenha ficado nenhuma sequela, ou seja, entram num
estado de cronicidade física e emocional. Já outros pacientes, mesmo após os
impactos da dor da perda da saúde, tornam-se mais fortes emocionalmente e
conseguem “dar a volta por cima” (COELHO, 2001).
Nas crianças e adolescentes, as implicações psicossociais das doenças não
atingem apenas o paciente infantil, mas todo o grupo familiar. Enquanto nesses
pacientes, as principais implicações dizem respeito à socialização, escolaridade e
desenvolvimento da autoestima, nos familiares há também outros tipos de
problemas. Destacam-se os impactos financeiros acarretados pela doença, desgaste
físico, estresse emocional, atividade produtiva e vida social (SILVA, 2001).
Em idosos também se observa grande sofrimento do grupo familiar quando o
idoso adoece, em especial quando se trata de doenças crônicas degenerativas,

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como a Doença de Alzheimer. O impacto dessas doenças no cuidador será


explicitado num outro momento do curso.
Após os períodos de crise ocasionados pela doença alguns pacientes não
conseguem retornar logo à sua vida normal devido às consequências emocionais.
Observa-se que:

Os doentes traumatizados pela dor e pela incapacidade tornam-se


apreensivos e dependentes. Comumente adotam posturas passivas perante
a dor, usam medicamentos anarquicamente e negligenciam as propostas de
reeducação. [...] Recomenda-se o retorno precoce às atividades e a
realização das atividades domiciliares e profissionais (TEIXEIRA et al.,
1999, p.92).

Não é preciso reafirmar a importância da equipe multiprofissional em saúde


nos casos de dor e doença, porém em muitos dos casos a atuação do psicólogo é
negligenciada ou menosprezada, contribuindo negativamente para a piora do estado
geral do paciente. Ressalta-se que a presença do psicólogo é importante desde o
período de doença até depois da mesma, quando os sintomas físicos costumam
cessarem-se, porém as sequelas psicológicas já instaladas demoram tempo para
serem elaboradas e, nesse contexto, o profissional da psicologia pode auxiliar a
trabalhar essas questões, contribuindo para um retorno à vida normal do paciente.

Consideradas as imitações físicas residuais, o “tempo interno”, a velocidade


individual para a readaptação, alguns permanecem dependentes físico-
emocional indefinidamente, apesar de apresentarem boa condição orgânica
favorável à adaptação. A dificuldade de abandonarem o papel dependente,
inconscientemente desejado, é percebida na internação; podem
desenvolver novos sintomas na época da alta ou desfiar a afirmação do
médico de que a crise passou (COELHO, 2001, p.79).

Além do sofrimento e das limitações acarretadas pela doença e pela dor em


si, existe também o ganho secundário das mesmas. A doença e a dor podem não ter
apenas um componente negativo, podem também trazer algum tipo de benefício ao
doente.

A dor também se apresenta através dos ganhos secundários, onde as


pessoas passam a ter suas “recompensas internas”; muitas delas utilizam-
se da dor como desculpa para evitar conflitos dolorosos de sua vida
(ROCHA, 2001, p.140).

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O ganho secundário aparece, por exemplo, na forma de maior atenção por


parte da família, afastamento do trabalho, concessão de benefícios em virtude da
doença, enfim, o ganho secundário faz com que a pessoa, de forma consciente ou
inconsciente, tenha dificuldades de se desvencilhar de seu sintoma (dor ou doença),
já que este lhe traz uma série de benefícios diretos ou indiretos.

Os ganhos secundários são formas primitivas de expressão, devido ao fato


da não-aprendizagem adequada que possibilita um maior agravamento da
dor. A não-compreensão de tais sentimentos, tanto por parte de pessoas
inter-relacionadas com o doente, quanto por parte dos profissionais de
saúde, eleva a intensidade da dor, fazendo com que o paciente aumente
seus ganhos em busca de maiores cuidados, o que é um grande erro e se
torna desumano, acarretando uma péssima qualidade de vida
(ANGELOTTI, 2001, p.125).

Através do ganho secundário, que ocorre de forma inconsciente, a dor física


acaba por substituir a dor emocional. Observa-se que a dor física parece ser mais
suportável que a emocional, principalmente quando o paciente sente-se receoso de
não conseguir lidar com a dor emocional, ou mesmo se ele já chegou a desistir de
um dia vir a resolver seus problemas (SIMONTON, 1987 apud ROCHA, 2001).
Importante destacar que o ganho secundário é um mecanismo inconsciente,
não se trata de manipulação consciente do paciente, ao contrário do que muitos
podem pensar. A manipulação também pode ocorrer, porém difere-se
completamente do processo de ganho secundário, como pode ser elucidado a
seguir.
Ao contrário do ganho secundário, que é um mecanismo inconsciente, a
simulação consciente também pode acontecer. Nessas situações, o paciente
realmente finge estar com dor em busca de algum benefício, tais como dinheiro,
drogas, privilégios e fuga a determinados compromissos. Há também uma outra
forma de ganho, bastante comum na atualidade: o “indivíduo incapacitado pela
doença” busca apoio financeiro em pensões, afastamento do trabalho e
aposentadoria por invalidez. Sabe-se que sua recuperação fará com que o benefício
seja desnecessário, ocasionando, assim, sua reinserção no mercado de trabalho. A
dor aparece como sintoma de doença, refletindo uma situação de fraqueza e
dependência (FORLENZA, 1994 apud ROCHA, 2001).

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As pessoas costumam aceitar comportamentos e discursos vindos do


doente que não seriam aceitáveis caso fossem provenientes de uma pessoa sadia.
Quando sua busca de amor, aceitação e atenção não são satisfeitas é comum o
doente apresentar-se sempre insatisfeito e agressivo perante a família e a equipe de
saúde.
Finamente, uma implicação positiva do processo de doença é a resiliência,
compreendida como “capacidade do indivíduo se recuperar ou escapar de
estressores ambientais que possam, de alguma forma, perturbar seu ambiente”
(STRAUB, 21014, p.117).
O indivíduo resiliente passa pela situação de adversidade – no caso, a
situação de doença – e consegue sair dela fortalecido, ao contrário dos outros que
se abatem após passarem por períodos de dificuldade. Um exemplo de resiliência
seria o paciente oncológico que, após passar pelo tratamento de câncer e se curar,
passa a dedicar uma parte de seu dia fazendo trabalhos voluntários com pessoas
que também sofrem de câncer.
É importante que o profissional da psicologia saiba que a resiliência pode ser
muito positiva para o paciente e seus familiares e busque promovê-la com seus
pacientes.
Barbosa (s.d. apud CATHO, s.d.) elucida que a resiliência pode ser
desenvolvida espontaneamente, em ambiente que propicie os relacionamentos, ou
por meio de uma ação estruturada, uma capacitação.

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Figura 08: Fatores que constituem a resiliência

Fonte: Barbosa (s.d. apud Catho, s.d.).

Uma forma de fazer isso (após a ocorrência de um evento adverso


traumático) é estimulando o paciente a se superar, a encontrar um outro sentido em
sua vida, apresentando exemplos de pessoas resilientes. Além disso, como foi
mostrado na figura anterior, trabalhar na terapia questões como a administração das
emoções, o controle da impulsividade, a empatia, a autoeficácia, dentre outros
fatores protetores, são relevantes estratégias de prevenção.

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