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Revisão de Mecânica dos Materiais

Análise das Deformações

Prof. Jorge A. R. Duran

Departamento de Engenharia Mecânica


Universidade Federal Fluminense

jorge.a.r.duran@gmail.com

outubro de 2021

Duran JAR 1 / 33
Conteúdo

1 Introdução

2 Análise das Deformações no Plano

3 Medição Experimental das Deformações Normais

4 Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

5 Bibliografia

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Introdução

Deformações em Máquinas

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Introdução

Deformações em Estruturas

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Introdução

Deformação Normal

Considere três barras Li da mesma seção transversal e


submetidas ao mesmo carregamento figura .

Seja, por exemplo, a relação entre os comprimentos das barras


antes da deformação L2 /L1 = 6/5 e L3 /L1 = 3/2.

A rigidez de uma barra em carregamento axial é inversamente


proporcional ao seu comprimento ka ∝ 1/L logo a curva P(u) de
cada barra terá uma inclinação diferente.

Os deslocamentos totais de cada barra ui aumentam na mesma


proporção que Li , ou seja u2 = 1, 2 u1 e u3 = 1, 5 u1 .

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Introdução

Figura – Barras de uma mesma seção transversal experimentam diferentes


deslocamentos sob uma mesma carga P. A taxa de variação destes
deslocamentos com a coordenada vertical εy permanece constante.

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Introdução

A inclinação da curva uy (y ) porém, permanece constante. Esta é


a deformação normal na direção vertical εy .
A deformação normal é definida em cada ponto do sólido.
Considerar que εy = (L′i − Li )/Li = ui /Li implica em considerar
que a deformação normal ao longo das barras εy (y ) é constante.
A deformação é um parâmetro adimensional mas costuma-se
multiplicar por 106 e por tanto expressar em µs. Nas barras da
figura a deformação normal é εy = 1000 µs.
Note que εy foi definida para um referencial associado às barras
antes da deformação. Esta aproximação é perfeitamente válida
na mecânica dos sólidos onde as deformações de engenharia
raramente ultrapassam os 2000 µs.
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Introdução

Deformação de Cisalhamento

Por analogia com a definição de deformação normal, considere


algumas barras circulares de comprimentos diferentes mas com o
mesmo diâmetro ( figura ).

Como o torque é o mesmo em todas as barras o ângulo de torção


varia com o comprimento das mesmas ϕ(x), assim como os
delocamentos verticais uy (x).

A taxa ∂uy /∂x porém, permanece constante. Esta é a


deformação de cisalhamento γxy .

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Introdução

Figura – Várias barras de comprimentos diferentes mas com o mesmo


diâmetro e sob o mesmo torque têm diferentes ângulos de torção. A taxa
de variação dos deslocamentos verticais com a coordenada horizontal
∂uy /∂x = γxy permanece constante.

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Análise das Deformações no Plano

Abordagem geométrica do conceito de deformação

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Análise das Deformações no Plano

uO =ux î + uy ĵ
∂ux
dx + ∂x dx − dx ∂ux
εx = =
dx ∂x
∂uy (1)
dy + ∂y dy − dy ∂uy
εy = =
dy ∂y
∂uy ∂ux
uy + ∂x dx − uy ux + ∂y dy − ux ∂uy ∂ux
γxy = + = +
dx dy ∂x ∂y

Generalizando para três dimensões e utilizando a notação indicial


temos:  
1 ∂ui ∂uj
εij = + (2)
2 ∂xj ∂xi

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Análise das Deformações no Plano

Tensor das Deformações e Transformação


A Eq. (2) representa um tensor de ordem 2 cujas componentes,
na forma matricial e no tradicional sistema cartesiano xyz são:
 
γxy γxz
εx 2 2 

 γyx γyz 
ε= 2 εy 2 
 (3)

γzx γzy
2 2 εz

As componentes da deformação em um novo referencial x ′ y ′ z ′ se


obtem pré e pós multiplicando ε pela matriz da matriz da
transformação T e pela sua transposta.

ε′ = T · ε · TT (4)
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Análise das Deformações no Plano

As componentes de T são os cosenos diretores entre o novo


x ′ y ′ z ′ e o velho referencial xyz ou Tij = cos(xi′ ; xj ).

Por exemplo, para um giro anti-horário de um ângulo θ no plano


xy a matriz T será:

 
c
s 0
 
T = −s c 0 (5)
 
 
0 0 1

onde c ≡ cos θ e s ≡ sen θ.

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Análise das Deformações no Plano

Inserindo a matriz de transformação T da Eq. (5) na Eq. (4) e


considerando a simetria da matriz das deformações, Eq. (3)
temos:

 
γxy
c 2 εx +s2 εy +s c γxy 2
(c 2 −s2 )−s c (εx −εy ) 1
2
(c γxz +s γyz )
 
ε′ =  γxy
(c 2 −s2 )−s c (εx −εy ) s2 εx +c 2 εy −s c γxy 1
γyz −s γxz ) 
 
2 2
(c
 
1 1
2
(c γxz +s γyz ) 2
(c γyz −s γxz ) εz

De particular importância para as próximas seções resultam as


componentes εx ′ e γx ′ y ′ /2 da matriz anterior:

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Análise das Deformações no Plano

εx ′ =εx cos2 θ + εy sen2 θ + γxy sen θ cos θ


γx ′ y ′ h γxy i (6)
= (cos2 θ − sen2 θ) − sen θ cos θ (εx − εy )
2 2

Estas são equações paramêtricas do ângulo θ e, para valores


conhecidos de ϵx , ϵy e γxy descrevem o conhecido círculo de
Mohr em coordenadas εx ′ vs. γx ′ y ′ /2 ( figura ).

Os interceptos (εx ; γxy /2) de qualquer linha diametral deste


círculo com ele próprio, para uma dada inclinação θ, representam
o estado deformacional do ponto no plano xy .

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Análise das Deformações no Plano

s
 2
εx + εy εx − εy  γ 2
xy
ε1,2 = ± + (7)
2 2 2

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Análise das Deformações no Plano

Exemplo 1
Considere um estado deformacional fictício composto por
εx = εy = γxy = 1. Plote as equações as equações 6 na forma ε′x (θ) e
′ (θ) para 0 ≤ θ ≤ π/2 e na forma paramétrica ε′ (θ) vs. γ ′ (θ) para
γxy x xy

0 ≤ θ ≤ π/4. Discuta os resultados.

Solução: Ambos gráficos se mostram na figura . O gráfico


paramétrico descreve uma curva com a orientação mostrada
entre os pontos (1; 1/2) e (1.5; 0), como deveria, pois este é o
comportamento das curvas ε′x (θ) e γxy
′ (θ).

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Análise das Deformações no Plano

A variação do ângulo θ no gráfico paramétrico, no entanto,


corresponde ao dobro do gráfico convencional. Por este motivo os
ângulos lidos no círculo de Mohr representam duas vezes o valor
real no elemento físico.

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Análise das Deformações no Plano

Observe também que o sentido da curva no gráfico paramétrico


indica uma variação horária de θ, diferente dàquela considerada
no desenvolvimento das Eqns. 6 (ver figura ).
Há duas formas equivalentes para contornar este problema:

▶ Considerar o semi-eixo positivo de γxy /2 para baixo ou
▶ Utilizar a convenção do ângulo positivo horário.

Neste curso se utiliza a primeira delas (ver figura ). Desnecessário


dizer que a escolha por uma ou outra das formas deixa os
resultados numéricos inalterados.

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Análise das Deformações no Plano

Exemplo 2

Obtenha o círculo de Mohr das deformações (no plano xy ) para o


seguinte estado deformacional:

εx = 600 µs εy = −350 µs γxy = −1250 µs

Solução: Para plotar o círculo ( figura ) simplesmente localizamos


o centro:
εm = 1/2 (εx + εy ) = 125 µs

e calculamos o raio:
s
 2
εx − εy  γ 2
xy
γmax /2 = + = 785 µs (8)
2 2
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Análise das Deformações no Plano

É importante lembrar que o círculo mostrado corresponde à


variação das deformações no plano. Há ainda outros dois círculos
para representar as deformações fora do plano.

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Análise das Deformações no Plano

Atividade 1

Refaça o exemplo 2 para cada uma das linhas ou conjuntos de dados


da tabela 1.

Tabela – Conjunto de dados para a atividade 1.

εx εy γxy
Conjunto
µs µs µs

1 400 625 −50


2 −240 −112 −950

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Medição Experimental das Deformações Normais

Extensômetros de Resistência Elétrica, Strain Gages

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Medição Experimental das Deformações Normais

Aplicações dos Strain Gages

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Como obter εx εy e γxy a partir das leituras de uma


Roseta de Extensômetros?

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Aplicando sucessivamente a Eq. 6 para cada leitura da roseta no


referencial da figura obtemos um sistema de equações:

εa = εx cos2 (−45◦ ) + εy sen2 (−45◦ ) + γxy sen(−45◦ ) cos(−45◦ )

εb = εx cos2 (0◦ ) + εy sen2 (0◦ ) + γxy sen(0◦ ) cos(0◦ )

εc = εx cos2 (45◦ ) + εy sen2 (45◦ ) + γxy sen(45◦ ) cos(45◦ )


(9)

Cuja solução é a seguinte:

εx = εb

εy = εa + εc − εb (10)

γxy = εc − εa

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Em geral, a determinação do estado deformacional a partir de


leituras de rosetas de extensômetros consiste em resolver o
seguinte sistema matricial:
    
εa cos2 (θ1 ) sen2 (θ1 ) cos(θ1 ) sen(θ1 ) εx
    
    
    
    
εb  = cos2 (θ2 ) sen2 (θ2 ) cos(θ2 ) sen(θ2 )  εy  (11)
    
    
    
    
    
εc 2 2
cos (θ3 ) sen (θ3 ) cos(θ3 ) sen(θ3 ) γxy

onde θi é o ângulo formado entre o eixo x e a i-éssima leitura da


roseta.

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Exemplo 3

Uma roseta delta foi colocada na superfície de um componente


mecânico. As leituras dos extensômetros foram: εa = −750 µs,
εb = 1850 µs e εc = 400 µs. Obtenha o estado deformacional no
plano relativo ao referencial mostrado. Calcule também as
deformações principais no plano.

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Respostas:

εx = −750 µs

εy = 1750 µs

γxy = 1674 µs

ε1 = 2004 µs

ε2 = −1004 µs

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Solução: A matriz aumentada da Eq. (11) para este exemplo é a


seguinte:

 
1 0 0 −750
 
 
 

1 √ 
3 3
1850 

4 4 4
 
 
 
 √ 
1 3 3
4 4 − 4 400

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Cuja solução é:
εx = −750 µs

εy = 1750 µs

γxy = 1674 µs

Para calcular as deformações principais se utiliza a equação 7.


Os resultados são:
ε1 = 2004 µs

ε2 = −1004 µs

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Aplicação das Equações de Transformação das Deformações

Atividade 2
Para a mesma roseta delta do exemplo 3, obtenha o estado
deformacional no plano relativo ao referencial mostrado. Calcule
também as deformações principais no plano e discuta os resultados.

Respostas
εx = 600 µs

εy = 400 µs

γxy = 3002 µs

ε1 = 2004 µs

ε2 = −1004 µs

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Bibliografia

Bibliografia

[1] Norman E Dowling, Mechanical Behavior of Materials: Engineering


Methods for Deformation, Fracture and Fatigue. Pearson Education
Limited, 4th ed. 2013.

[2] Robert C. Juvinall, Kurt M. Marshek, Fundamentals of Machine


Component Design. John Wiley and Sons, 6th ed. 2017.

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