Você está na página 1de 7

DIOCESE DE IMPERATRIZ

ESCOLA DIACONAL SÃO LOURENÇO


DISCIPLINA: INTRODUÇÃO À SAGRADA ESCRITURA

RESENHA SOBRE “A INTEPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGREJA”

PAULO ROBERTO SOARES DE MELO

IMPERATRIZ – MA
2022
ESCOLA DIACONAL SÃO LORENÇO
DISICPLINA: INTRODUÇÃO À SAGRADA ESCRITURA

RESENHA SOBRE A “INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGREJA”

ACADÊMICO: PAULO ROBERTO SOARES DE MELO

PROFESSOR: ME. PE PAULO ROBERTO RODRIGUES NUNES

Resenha apresentada a Disciplina de Introdução à


Sagrada Escritura da Escola Diaconal São Lourenço
da Diocese de Imperatriz–MA, como requisito
parcial da avaliação da disciplina.

IMPERATRIZ – MA
2022
Paulo Roberto Soares de Melo
Professor: Me Pe Paulo Roberto Rodrigues Nunes
20 de junho de 2022.
RESENHA SOBRE A INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA IGREJA

INTRODUÇÃO
O documento “A Interpretação da Bíblia na Igreja”, aprovado pelo Papa São João Paulo II, no
dia 25 de abril de 1993, apresentado pela Pontifícia Comissão Bíblica, por ocasião do centenário
da Encíclica do Papa Leão XIII “Providentíssimus Deus” e do cinqüentenário da “Divino affante
Spiritu” do Papa Pio XII, tem como objetivo indicar caminhos para uma interpretação da Bíblia
mais fiel em seu caráter ao mesmo tempo humano e divino, deixando de lado o uso de uma leitura
fundamentalista e tendenciosa, que não só descarta a utilização do método histórico-crítico, como
de qualquer outro método científico, para a interpretação da Escritura, possibilitando o surgimento
da teologia da inspiração.
A problemática atual do documento está relacionada com a discussão que o método histórico-
crítico, que é praticado corretamente em exegese, inclusive na exegese católica, encontra.
Particularmente atento, à evolução histórica dos textos ou das tradições através dos tempos, o
método diacrônico, tende a ser substituído, por um pluralismo de métodos e abordagens que para
uns é visto como indício de riqueza e para outros é sinônimo de grande confusão.
Portanto, a Pontifícia Comissão Bíblica, deseja examinar os métodos suscetíveis de contribuírem
com eficácia no sentido de valorizar todas as riquezas contidas nos textos sagrados.
Com a finalidade de tornar plausível a temática, o documento está dividido em 04 capítulos, a
saber:
1) Descrição dos diversos métodos e abordagens
2) O exame de algumas questões de hermenêutica;
3) Uma reflexão sobre as dimensões características da interpretação católica da Bíblia e suas
relações com as outras disciplinas teológicas.
4) Considerará o lugar que ocupa a interpretação da Bíblia na Vida da Igreja.

I. MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A INTERPRETAÇÃO


a) Método histórico-crítico:
Com certeza o uso clássico do método histórico-crítico manifesta limites, pois ele se restringe à
procura do sentido do texto bíblico nas circunstâncias históricas de sua produção e não se interessa
pela outras potencialidades de sentidos que se manifestaram no decorrer das épocas posteriores da
revelação bíblica e da história da Igreja. No entanto, esse método contribui à produção de obras de
exegese e de teologia bíblica de grande valor.
b) Novos métodos de análise literária:
Aproveitando os progressos realizados em nossa época pelos estudos lingüísticos e literários, a
exegese bíblica utiliza cada vez mais métodos novos de análise literária, em particular a análise
retórica, a análise narrativa e a análise semiótica.
c) Abordagens baseadas na Tradição: Os textos da Bíblia, não se apresentam como um conjunto
de textos desprovidos de relações entre eles, mas como um composto de testemunhos de uma
mesma e grande Tradição.
- Abordagem canônica
- Abordagem com recurso às tradições judaicas de interpretação
- Abordagem através da história dos efeitos do texto
d) Abordagens através das ciências humanas: Para comunicar, a Palavra de Deus se enraizou
na vida de grupos humanos (cf Ecle 24,12) e ela traçou a si mesma um caminho através dos
condicionamentos psicológicos das diversas pessoas que compuseram os escritos bíblicos. Resulta
disso que as ciências humanas – em particular a sociologia, a antropologia e a psicologia podem
contribuir a uma compreensão melhor de certos aspectos do texto.
e) Abordagens contextuais: A interpretação de um texto é sempre dependente da mentalidade e
das preocupações de seus leitores. Estes últimos dão uma atenção privilegiada a certos aspectos e,
sem mesmo pensar, negligenciam outros. É então inevitável que exegetas adotem, em seus
trabalhos, novos pontos de vista que correspondam a correntes de pensamento contemporâneo
como: os movimentos de libertação e o feminismo.
f) Leitura Fundamentalista: A leitura fundamentalista parte do princípio de que a Bíblia, sendo
Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deve ser lida e interpretada literalmente em todos os
seus detalhes. Ela se opõe assim à utilização do método histórico-crítico, como de qualquer outro
método científico, para interpretação da Escritura. Em sua adesão ao princípio da “Sola Scriptura”,
o fundamentalismo separa a interpretação da Bíblia da Tradição guiada pelo Espírito Santo.

II. QUESTÕES DE HERMENÊUTICA


a) Hermenêutica Filosófica:
A atividade da exegese é chamada a ser repensada levando-se em consideração a hermenêutica
filosófica contemporânea, que colocou em evidência a implicação da subjetividade no
conhecimento, especialmente no conhecimento histórico. A reflexão hermenêutica teve nova força
com a publicação dos trabalhos de Friedrich Schleiermacher, Wilhelm Dilthey e, sobretudo,
Martin Heidegger. Na trilha destes filósofos, mas distanciando-se deles, diversos autores
aprofundaram a teoria hermenêutica contemporânea e suas aplicações à Escritura. Entre eles
mencionaremos especialmente Rudolf Bultman, Hans Georg Gadamer e Paul Ricceur.
Indicaremos portanto, algumas idéias principais da filosofia deles, aquelas que tem uma maior
incidência sobre a interpretação dos textos bíblicos.
- Perspectivas modernas
- Utilidade para a exegese
b) Sentido da Escritura inspirada: A exegese antiga atribuía a todo texto da Escritura sentidos
de vários níveis, fazendo uma distinção mais corrente entre sentido literal e espiritual. O sentido
literal é diferente do sentido “literalista” que busca compreender o texto segundo as convenções
literárias da época. É aquele que foi expresso diretamente pelos autores humanos inspirados. O
sentido de um texto não pode ter caráter subjetivo, deve-se rejeitar a interpretação heterogênea ao
sentido expresso pelos autores humanos inspirados. Sentido espiritual: se deu com o
acontecimento pascal de Jesus Cristo. Esse sentido espiritual pode ser entendido sob a fé cristã,
sob a influência do Espírito Santo. Não pode ser confundido com interpretações subjetivas ditadas
pela imaginação ou especulação intelectual. Sentido Pleno: esta denominação suscita discussões.
É o sentido mais profundo do texto, desejado por Deus, mas não claramente expresso pelo autor. É
um outra maneira de designar o sentido espiritual de um texto bíblico.

III. DIMENSÕES CARACTERÍTICAS DA INTERPRETAÇÃO CATÓLICA


A exegese católica não procura se diferenciar por um método científico particular, ela utiliza sem
subentendidos todos os métodos e abordagens científicas que permitem melhor aprender o sentido
dos textos no contexto lingüístico, literário, sócio-cultural, religioso e histórico deles, iluminando-
os pelo estudo de suas fontes e levando em conta a personalidade de cada autor.
a) A interpretação na Tradição bíblica: comporta uma grande variedade de aspectos. Pode-se
entender por esta expressão a maneira com a qual a Bíblia interpreta. Releituras: as releituras são
feitas a partir de um texto anterior ao que se escreve, para que sejam desenvolvidos novos
aspectos de sentido. Relações entre o Antigo e o Novo testamento: As relações inter-textuais
assumem uma densidade extrema nos escritos do Novo Testamento, todo formado de alusões ao
Antigo Testamento e de citações explicitas. Os autores do Novo Testamento reconhecem no
Antigo um valor de revelação divina. Eles proclamam que esta revelação encontrou sua realização
na vida, no ensinamento e sobretudo na morte e ressurreição de Jesus, fonte de perdão e de vida
eterna. Algumas conclusões: A Bíblia é efetivamente uma interpretação. É expressão válida das
comunidades da Antiga Aliança e do tempo apostólico. Dado que a Santa Escritura nasceu sobre a
base de um consenso de comunidades de fiéis que reconheceram em seu texto a expressão da fé
revelada, sua própria interpretação deve ser, para a fé viva das comunidades eclesiais, fonte de
consenso sobre os pontos essenciais.
b) A interpretação da Tradição na Igreja: Formação do Cânon: O discernimento de um cânon
das Sagradas Escrituras foi a conclusão de um longo processo. Discernindo o Cânon das
Escrituras, a Igreja discernia e definia sua própria identidade, de maneira que as Escrituras são
doravante um espelho no qual a Igreja pode constantemente redescobrir sua identidade e
verificar século após século, a maneira com a qual ela responde sem cessar ao Evangelho e se
dispõe ela mesma a ser o meio de transmissão dele (cf Dei Verbum, 7); Exegese Patrística: os
Padres da Igreja que contribuíram no processo de formação do Cânon, tiveram também um papel
fundador em relação à Tradição viva que sem cessar acompanha e guia a leitura e a interpretação
que a Igreja faz das Escrituras. Os Padres consideram a Bíblia antes de tudo como Livro de Deus,
obra única de um único autor e admitem que seja feita sua interpretação. Interessam-se pela
tradução hebraica e adotam o método alegórico, que caracteriza a exegese patrística, que corre o
risco de desorientar o homem moderno, mas a experiência da Igreja que esta exegese exprime
oferece uma contribuição sempre útil (cf, Divino afflante Spiritu 31-32; Dei Verbum, 23); Papel
dos diversos membros da Igreja na Interpretação: Todos os membros da Igreja tem um papel na
interpretação das Escrituras. São dotados de carisma no que se refere à interpretação da Bíblia,
transmitindo a Palavra de Deus e aplicando a verdade eterna do Evangelho às circunstâncias
concretas da vida.
c) A tarefa do Exegeta: Orientações principais: o exegeta deve sublinhar o caráter histórico da
Revelação, interpretar a Palavra de Deus, esclarecer o sentido do texto bíblico como Palavra atual
de Deus, explicar o alcance cristológico e explicar a relação entre Bíblia e Igreja; Pesquisa: A
tarefa exegética é vasta demais para poder ser conduzida por um único indivíduo. Impõe-se uma
divisão de trabalho, especialmente para a pesquisa, que requer especialistas em diferentes
domínios; Ensinamento: Os professores de exegese devem comunicar aos estudantes uma
profunda estima pela Santa Escritura, mostrando o quanto ela merece um estudo atento e objetivo
que permita apreciar melhor seu valor literário, histórico, social e teológico, dando-lhes uma
iniciação ao estudo exegético; Publicações: nos dias atuais, a publicação da exegese passa por
meio do rádio, da TV, das técnicas eletrônicas, além dos textos impressos; As relações com outras
disciplinas teológicas como: Teologia e pré-compreensão dos textos bíblicos, Exegese e teologia
dogmática, Exegese e teologia moral, Pontos de vista diferentes e interação necessária.

IV – INTERPRETAÇÃO DA BÍBLIA NA VIDA DA IGREJA


Tarefa particular dos exegetas, a interpretação da Bíblia mesmo assim não lhes pertence como um
monopólio, pois na Igreja essa interpretação apresenta aspectos que vão além da análise científica
dos textos. A Igreja, efetivamente, não considera a Bíblia simplesmente como um conjunto de
documentos históricos concernentes às suas origens; acolhe-a como Palavra de Deus que se dirige
a ela e ao mundo inteiro no tempo presente. Esta convicção de fé tem como conseqüência a prática
da
a) Atualização: Em nossa época, a atualização deve levar em conta a evolução das mentalidades e
o progresso dos métodos de interpretação. Graças a atualização, a Bíblia vem iluminar inúmeros
problemas atuais, por exemplo: a questão dos ministérios, a dimensão comunitária da Igreja, a
opção preferencial pelos pobres, a teologia da libertação, a condição da mulher, etc.
b) Inculturação da mensagem bíblica: ao esforço de atualização, que permite à Bíblia de
permanecer fecunda através da diversidade dos tempos, corresponde, no que concerne a
diversidade de lugares, ao esforço da inculturação que assegura o enraizamento da mensagem
bíblica em terrenos os mais diversos. Toda cultura autêntica é portadora, à sua maneira, de valores
universais fundados por Deus;
c) Uso da Bíblia: na liturgia, a “lectio divina”, o ministério pastoral e o movimento ecumênico.

CONCLUSÃO
Diante do exposto, percebemos a tarefa imprescindível dos exegetas na interpretação da Sagrada
Escritura, para a Igreja e para o mundo, que utilizando-se dos métodos e abordagens da ciência
moderna e aqui enfatizamos o método histórico-crítico, as pesquisas “diacrônicas” sempre
indispensáveis à exegese, assumem de maneira explicita, a tarefa de tornar a Palavra de Deus
sempre atualizada e capaz de responder aos desafios de um contexto histórico e cultural
mergulhados na relativização e negação das verdades concernentes à fé cristã.
Conclui-se, também, que a Bíblia, não se apresenta como uma revelação direta de verdades
atemporais, mas como uma atestação escrita de uma série de intervenções de Deus na história da
humanidade, que possibilitou através da encarnação do LOGOS eterno, a concretização da
plenitude da Revelação, sempre atestada e legitimada pela Sagrada Tradição e pelo Sagrado
Magistério.

Você também pode gostar