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HENRI PIRENNE HISTORIA ECONOMICA E SOCIAL DA IDADE MEDIA Tradusior Lyeurgo Gomes da Motta EDITORA MESTRE JOU ‘Sio Paulo CENTRO DE DOCUMENTACAO PROLOGO Procurei, nesta obra, expor ao piiblico o cardler ¢ 0 movi- mento geral da evoluedo social ¢ econdmica da Europa Oci- dental, desde os fins do Império Romano até meados do século XV. Esforcei-me por considerar esta vasta extenséio como um todo tinico, cujas partes, embora diferentes, estéo em cons- tante comunicagéo umas com as outras; adotando um ponto de vista internacional, procurei, antes de tudo, determinar 0 cardter essencial do fenémeno que descrevia, dando menos importancia ds formas particulares que pudesse assumir, nao 86 em diferentes paises, mas também em partes diversas do mesmo pais. Com tal objetivo, tive, naturalmente, que dar preferéncia aos paises onde a atividade econémica se desen- volvew mais rdpida ¢ completamente durante a Idade Média, tais como a Itdlia e os Paises Baizos, cuja influéncia, direta ou indireta, no resto da Europa, pode-se deserever com freqiléncia. Existem, ainda, tantas lacunas em nossos conhecimentos dessa época que, para explicar os avontecimentos ou determi nar as suas relagdes, precisei, em muitos casos, recorrer @ pro- dadilidade ow a conjeturas. Tive, porém, muito cuidado em ndo admitir teorias que os fatos chegariam a contradizer, Foi minha intengdo deicar-me guiar por estes, embora, certamen- te, ndo pretenda té-lo conseguido... Em suma, procure re- latar, com a maior fidelidade possivel, mesmo ‘os problemas mais controvertidos. As referéncias que, necessariamente, fiz, certas obras que daréo ao leitor a possibilidade de complctar os meus relatos ou de criticar as minhas opinides, encontrar ~se-do nas vibliograjias correspondentes a cada caso. Nas 1es- ‘mas, tratei de incluir somente trabathos que me pareceram de valor positivo, quer pela riqueza do seu contetido, quer pela importéncia das suas conctusdes; explica-se, dese’ modo, gue eu haja inserido, nas mesmas, numerosos artigos publicados pm revistas. Desculpo-me, de antemo, pelas omissoes que, Jacitmente, se encontrarem neste trabalho; algumas devem-se i minha propria ignoréncia; outras, ao fato de que todas as pibliografias solecionadas tém forgosamente que refletir as preferéncias de seu compitador. © autor eu haja inserido, nas mesmas, numerosos artigos publicados em revistas. Desculpo-me, de antemdo, pelas omissdes que, Jacilmente, se encontrarem neste trabalho; algumas devem-se @ minha propria ignordncia; outras, ao fato de que todas as dibliografias selecionadas tém forcosamente que refletir as preferéncias de seu compilador. © autor INTRODUGAO(*)! ~ I Para que bem se compreenda.o renascimenito ecandmiiéa que teve lugar na Europa Ocidentai,a partir do século XI, deve-se examinar, rapidamente, 0 perfodo anterior. Ruptura do equilibrio econémico da Antigitidade Do ponto de vista.em que, aqui, nos eolocamos, vé-se logo que 0s reinos bérbaros fundados no século V, no solo da Ei ropa Ocidental, tinham conservado o carter’ mais legitimoe essencial da civilizacdo antiga: © cardter_mediterraneo** © mar interior, em torno do qual nasceram todas.as clvilizacées do mundo. antigo, e pelo qual se comuniearam umas com ov- tras, foi o veiculo de suas idélas e de seu conséreio. O Império Romano, por iiltimo, havia abarcado intelramente'o aludido mar; para ele convergia a atividade de todas as provineias imperiais, desde a Bretanha até o Eufrates, e, mesmo. depois das invasdes. germénices, continuara desempenhando: sett papel tradicional, Para os barbaros estabelecidos na Itdlia, Africa, Espanha ¢ Gélia, 0 Mediterraneo era ainda a grande via de comnnicagdo com 0 Império Bizantino, e as relagées mantidas através dele permitiam que subsistisse uma, vida 1. Os asterseos indicam as passagens correspondentes 20 Anexo BibiiG= aritico © Critic, pp. 225 © 56 1%. Em geral, esta verdade & stualinente reconbesida mesino pelos higtiae ores que admitem que as inyasdes do século V vierac> transtoraat e transfor: ‘mar a civilzagho ocideptal. Ver F, Lat, a0 tomo 1 da Histo dia Mayen ABE isioire Générale), p. 347. A. Dopsch, Wirtschaftliche und soriale Grundlagen der europiischen Kulturentvickelung aus der Zeit von Caesar bls aut Karl den Grossen, 2* ed, Viens, 1923-1924. 2 vols, ter) 0 mériio de vel: demonsttado ‘Woe no hoave eisdo. na histéria, etondmica entre o. perfodo, anterior a0, stabe~ Fecimento dos germanos no Tmpérlo ¢ 0 Periodo. sui: Henri Pirenne, econémica, que deve ser vista, sem a menor sombra de divida, como um prolongamento direto da Antigiildade. Basta recor- dar, aqui, a atividade da navegacdo siria do século V ao VIII, entre os portos do Ocidente e os do Egito e Asia Menor, 0 fato de terem os reis germAnicos conservado o soldo de ouro roma- no — instrumento e, ao mesmo tempo, simbolo da unidade econdmica da bacia mediterranea — e, finalmente, a orlen- tagéo geral do comércio para as costas desse mar, que os homens teriam podido chamar, até mesmo com tanto direito quanto os romanos, Mare Nostrum. Foi preciso a subita irrup- do do Isldo, na histéria, durante o século VII, em sua con- quista das costas orientais, meridionais e ocidentais do grande Iago europeu, para colocé-lo em unta situacéo completamente nova, cujas conseqiéncias deveriam influir em todo 0 curso ulterior da histéria. * ‘Com o tempo, em vez. de continuar sendo o vinculo mile- nar entre Oriente e Ocidente, que fora até entao, o Medi- terraneo transformou-se em barteira, Se certo que o Império Bizantino, gragas a sua frote de guerra, conseguira repelir a ofensiva muguimana do mar Egeu, do Adridtico e das costas meridionais da Itélia, em compensacdo, todo 0 mar Tirreno eairia em poder dos sarracenos. Pela Afriea e Espanha, envolvem-no, ao Sul e a Oeste, a0 mesmo tempo que a posse das ithas Baleares, Corsega, Sar- denha e Sieflia Ihes proporeiona bases navais que garantem © seu dominio sobre ele ‘A partir do inicio do século VIII, 0 comércio europeu esté condenado-a desaparecer nesse extenso quadrilatero marf- timo. O movimento econémico, desde entdo, orlenta-se para Bagda. Os cristaos, diré pitorescamente Tn Khaldun, “no conseguem que flutue no Mediterraneo nem uma tabua”.? Nestas costas, que outrora se comunicavam, dividindo os mes- Z, Ht, Pirenne, “Mahomet et Charlemagne” ¢ “Un contraste économique: Mérovingiens et Carclingiens”, na Revue beige de pilologie et stole, 11, 1922 « t Il, 1925, ¢ do meimo autor: Les wills du Moyen Age, pp. 7 © st, Brinclas, 1927. Ente ponto de vista provocott objegSes e € impossivel discuti “lag agui, Encontrar-s-4 uma exposigho delas em H. Laurent, “Lex travaux de HM, Heh Pine sor la fin. monde antigue et ls debuts’ du Moyen Age", en} Byzandion, 1. VIE, 1932, pp. 495 « $8. 3. Georges Maris, Histoire ot hotoriens de FAlgéie,p. 212, Paris, 1931, diss aceriadamente: "Quando a Berbéria tornou-se jslamfica, dirinte toda & dade Media, salvo excegao, as poses permanescram quase cortadas entre elt isiria beonimica ¢ Social da tate Media 2 mos costumes, necessidades ¢ idéias, defrontam-se, agora, duas civilizagées, ou melhor, dois mundos estranhos e hostis, o-da Cruz e 0 do Crescente. O equilibrio econdmico da Antigiidade, que sobrevivera as invasdes germanicas, rompe-se ante'a inva- Sao do Isléo. Os carolingios impediram que este se estenda uo norte dos Pireneus. Mas néo poderiam, e, além disso, cons- lentes de sua impoténcia, néo tratariam de arrebatar-lhe'o dominio do mar. ‘0 Império de Carlos Magno, por manifesto contraste com a Galia romana e a merovingia, sera puramente terrestre ou, se se quiser, continental. Desse fato fundamental, origina-se uma ordem’econémica-nova, que é, propriamente, a da alta Idade Média. * Sarracenos ¢ cristéos no Ocidente Embora os cristaos muito devam a civilizacdo superior dos mugulmanos, o espetdeulo da historia posterior nao nos permite criar ilusdes a respeito das relacdes que existiram, a principio, entre ambos. & certo que, desde o século IX, ‘os bizantinos ¢ 0s seus postos avancados nas costas italianas, Napoles, Amalfi, Bari e, principalmente, Veneza, comercia- ram mais ou menos ativamente com os drabes da Sicilia, Africa, Egito e Asia Menor. Acontecia, porém, algo muito di- verso na Europa Ocidental. Ali, o antagonismo destas.duas religides conservou-as em permanente, estado de guerra. Os piratas sarracenos infestavam, sem tréguas, 0 litoral do golfo de Lido, 0 estudrio de Génova, as costas da Toscana e as da Catalunba, Saquearam Pisa em 935 e em 1004, e destruiram Barcelona em 985 ‘Antes do inicio do século XT, no se pode assinalar quale quer vestigio de comunicagio entre estas regides e os porte sarracenos da Espanha e Africa. A inseguranca ¢ tao grande no literal, que 0 bispada de Maguelonne precisou mudar-se para Montpellier, Nem a terra firme esta a salvo dos ataques do inimigo. Sabe-se que, no século X, os mucuimanos estabeleceram nos Alpes, em Garde-Frainet, um posto militar, de onde-exi- © a Europa Ocidental: tahstofmbu-se ‘ém'ima srovincia do, ind 6 TL” Devo 0 canhecimenta JO texto de fbr KhalJun a une amavel ionic: $0 do Sr. Marea 4, B. Pirerme.U contraste économique. Ver. na pigina-anetion, nate’ 2 0 Henri Pirenne giam resgate ou assassinavam os peregrinos e viajores que jam da Franca para a Iidlia. O Rossilhao, na mesma época, Vivia sob o terror das incursdes que realizavam além Pireneus, Em 646, alguns bandos sarracenos avancaram até Roma ¢ sitiaram 0 Castelo de Santo An proximidade dos sarracenos. s6 Ocidentais desastres irrepardveis. Por demais debilitados para pensar em qualquer ofensiva, retiraram-se temerosamente @ abandonaram a seus adversarios o mar em que nao ousavam aventurar-se. Do século IX ao XI, o Ocidente, em verdade, permaneceu bloqueado. Embora se enviassem, de quando em vez, embal- xadores @ Constantinopla ¢ ainda houvesse intimeros pere- grinos que se dirigiam a Jerusalém, estes somente conseguiam chegar ao seu destino, apés muitas dificuldades, pela Tliria e pela Trécia, ou cruzando 0 Adridtico, ao sul da Itdlla, nos bareos gregos que tocavam em Bari, Nada autoriza, portanto, a sustentar, como querem al- guns historiadores, que suas viagens demonstram a persis. tenela da navegacao mediterranea ocidental, apés a expansao \slamitica. Essa navegacao, com efeito, estava morta e bem morta. Desaparecimento do comércio no Ocidente © movimento comercial ‘néo the sobreviveu,’ pois a nave- gacdo constituia sua artéria vital. # fécll compreender que, enquanto’permaneceu ativa, manteve-se 0 trdfico entre os portos da Itélia, Africa, Espanha, Galia e seu interior. Nao ‘ha diivida, quando se léem os documentos que possuimos, in- felizmente muito escassos, que, até a conguista arabe, ama Classe de mercadores profissionais fora, em todas essas re~ gides, o instrumento de um comércio de exportacio e impor- facdo, cuja importéncia, mas ndo a existéncia, pode ser Giscutivel. Gragas a esses mercadores, as cidades tomanas gontinuaram sendo centros de negécios e pontos de concen- tracao ‘de uma cireulacio que, desde 0 litoral, se propagava Pata Norte ou pelo menos até o Vale do Reno, ode intro- Gusla o paptro, as especiarias, os vinhos orientais e 0 azeite que.desembarcavam nas costas do. Mediterraneo. #(*) sccpgSehetler-Boichorst, “Dic Syren im. Abendlande”, em Mittheltungen ses Insituts fir Osterreichische Geschichtsforschume, VI, 1885,-pp. Sal eee Histbria Econémica ¢ Social da dade Média © fato de haver a expanséo islamitica fechado este mar, no século VII, teve como resultado necessério a rapidissima decadéncia daquela atividade. No decorrer do século VIII, os mereadores desapareceram em virtude da interrupeéo do'co- meéreio.(*) A vida urbana, que ainda permanecia, gragas a esses mereadores, malogrou a0 mesmo tempo. ‘As cldades romanas, contudo, subsistiram, talvez porque, sendo centros de administracao_diocesana, os bispos nelas conservassem suas residénclas e reunissem em torno de si um clero numeroso; mas perderam todo_significado-econémico, ao mesmo tempo que sua administracdo municipal. Manifes: tou-se, entao, um empobrecimento_geral, O numerario de ouro desapareceu, para ser substituido pela moeda de prata que os carolingios puseram em seu lugar. novo sistema monetério, que institufram em lugar do antigo soldo romano, 6 prova evidente de seu rompimento com a economia antiga’ ou melhor, com a economia mediterranea, Regressio econémica sob 0s carolingios # um erro evidente, em que quase sempre se incide, afir- mar que 0 reinado de Carlos Magno fol uma época de progresso econdmico. £ mera ilusio. Na realidade, comparado com 0 perfodo merovingio, o carolingio aparece, sob 0 ponto dé vista comercial, como um periodo de decadéncla, ou se se quiser, de retrocesso. ¢ (*) Ainda que Carlos Magno tentasse fazé-lo, nao teria coi seguido suprimir as conseqiiéncias iniludivets do desapareci ‘mento do. tréfico maritimo e do fechamento do mar. 1 certo que estas conseqtiéncias nfo afetaram as regides do Norte com a mesma intensidade que as do Sul. Durante a primeira metade do século IX, os portds de Quentovie (atualmente Staples, no Canche) e de Duurstede L Brébier, “Les colonies des Orientanx en Occident su commencement dui Moyen Age", em Byzantinische Zeitschrift, t. XII, 1903, pp. ll e se. Eber solt, Orient et Oceident, pp. 26 ¢ ss, Paris, 1929; H, Pirenne, “Le commerce {it Papyrus dans ta Geule mérdvingicnne”, em Compies rendu a¥s stances de Acad, des Inseriptions of Belles Lettres, 1928, pp. 178 e ss, “Le. cellaviom fish Une ‘institution économique, des temps mérovingiens”, col Bulle de ha Classe es Letres de Acad, Royale. de Belglque, 1930, pp.'20} ¢ ss. 6. L. Halphen, Emdes ectiques sur Phistoire de Chabemaaés Bh:"259 © 8 Paris 1921; HC Pireney We. cts ot ne? 2 Henri Pirenne (no Reno, acima de Utrecht) foram muito freqilentados, e os barcos frisées continuaram suleando o Escalda, 0 Mosa e 0 Reno, € dedicando-se a cabotagem nas costas do mar do Norte.’ Mas néo se devem considerar tais fatos como sinto- mas de renascimento, Sao eles tio-somente o prolongamento de uma atividade que se Iniciou nos tempos do Império Ro- mano e perdurou até a época merovingia. * & possivel, e mes- mo provavel, que a residéncia habitual da corte imperial em Aixla-Chapelle ¢ a necessidade de abastecer seu numerosis- simo pessoal tenham contribuido no s6 para sustentar, mas também para desenvolver a cireulacdo nos territérios’vizi- nihos e para fazer deles a tnica regido do Império onde se notava ainda certo movimento comercial. Seja o que for, os normandos néo tardaram em apagar esse derradeiro vestigio do pasado. Quentovie e Duurstede foram saqueados e des- truidos por eles, em fins do século IX, e to consclenctosa- mente, que nunca lograram ressurgir de suas ruinas. Tem-se acreditado, as vezes, ser o vale do Damibio. um substituto do Mediterraneo como grande via de comunicagio entre 0 Ori- ente € 0 Ocidente. Iss0 poderia ter acontecido, com efeito, se este vale no tivesse sido inacessivel pela presenca, em pri- meiro lugar, dos varos ¢, pouco depois, dos magiares. Os textos permitem-nos, unicamente, lobrigar a circulagio de alguns barcos carregados de sal, orlundos das salinas de Salz- burgo. Quanto ao chamado comércio com os eslavos, pagios das margens do Eiba e do Saale, resumia-se a confusas ope- ragées de aventureiros, que se esforcavam em proporcionar armas aqueles barbaros, ou compravam, para yendé-los como escravos, os prisioneiros de guerra que as tropas carolingias faziam a esses perigosos vizinhos do Império. Basta ler as capitulares para se convencer de que nao existia, naquelas fronteiras militares, onde a inseguranca era permanente, nenhum tréfico normal e regular. 7. 0. Fengler, “Queotowic, seine mirtithe’Bedeining unter Merowingern und: Karolingera®, em Hanshsghe Geschichtsblitter, 1907, pp. 91 e so; H. Pi reone, “Draps de Frise ou draps de Flandre?" om Vierteljahrschrite fr Sozial ‘und Wirtschaftageschichte, ¢. Vil, 1909, pp, 308 2 ss, HL Poelman, Geschiedenis van den handel van Noordnederland gedurende het Merowingische en Karolln- ahiche Ujdperk, Amsterdio, 1908, 8. F. Cumont, Comment Belgique fui romanisée, 2 ed, Bruxelas, 1919 pisiria Econdmica ¢ Social da Idade Média tr Carater agricola da sociedade a partir do século IX ‘TTem-se como absolutamente certo que, a partir do fim do século VIII, a Europa Ocidental regredira ao estado de regido exclusivamente-agricola. & a terra a_tintca fonte de subsisténcia e a tinica condicao da riqueza, Todas as classes da populacdo, desde o imperador, que néo possufa outras rendas além das de suas terras, até 0 mais humilde de seus servos, viviam, direta ou indiretamente, dos produtos do solo, fossem eles fruto de seu trabalho, ou consistissem, apenas, no ato de colhé-los e consumi-los. Os bens méveis ja nao tinham_qualquer valor econémico, Toda a existéncia social funda-se na propriedade ou na posse da terra. Dai a impos- sibilidade para o Estado de manter um sistema militar e uma administragao que ndo se baseassem naquela, Recruta-se exéreito unicamente entre os detentores de feudos, e os fun- cionérios, entre 08. latifundidrios. Em tais circunstancias, torna-se impossivel amparar-se a soberania do Chefe do Es- tado. Se este subsiste em principio, desaparece de fato. O sistema feudal € tao s6 a desintegracdo do poder pi- blico entre as maos de seus agentes que, pelo proprio fato de cada qual possuir uma parte do solo, tornaram-se indepen- dentes e eonsideravam as atribuicées de que se achavam investidos como parte do seu patriménio. Em suma, o apare- cimento do feudalismo, na Europa Oeidental, no decorrer do século TX, nada mais € do que a repereussio, na ordem poli- tica, do retorno da sociedade a uma civilizagio puramente rural Os latifandios Do ponto de vista econdmico, o fendmeno mais notével © caracteristico, desta civilizagéo € 0 latifindio. © seu nasci- mento é muito mais antigo do que se supde, e é facil deter- minar que sua origem remonta a um passado longinquo. Existlam grandes. proprietarios na Galia desde antes de Cé- sar, assim como existiam na Germania, desde antes das invasdes. © Império Romano permitiu que subsistissem os latifindios gauleses, que se adaptaram organizacdo, dos. do ovo vencedor. A vila gaulesa da época imperial, com a sua “ Hen Picenne reserva, afeta ao proprietario e suas inumeriveis dependén- cias de colonos, apresenta um tipo de exploragio descrito pelos agronomos italianos, no tempo de Catéo. Permanecea tal e qual, durante o periodo das invasoes germanicas. A Franca merovingia conservou-a, e a Tgreja introduziu-a além do Reno, A medida que ia convertendo aquelas regides 20 cri: tianismo. * Auséneia de mercados externos A organizacio latifundidria ndo constituiu, sob nenhum: aspecto, um fato novo. Mas o seu funcionamento, a partir do desaparecimento do comércio e das cidades, foi uma inovagao. Enquanto o primeiro conseguisse transportar seus produtos @ as segundas lhe proporcionassem um mercado, o latifundia poderia beneticiar-se de um coméreio regular com o exterior, participando da atividade econémica geral como produtor de géneros alimenticios e consumidor de objetos manufa~ turados. Em outras palavras, vivia em estado de intercAmbios reciprocos com.o exterior. Mas esta situacio mudaria quando os mercadores e a populacéo municipal deixassem de existir. ‘A quem se podia vender, uma vez, que no mais existiam compradores, e para onde enviar uma produeéo para a qual nao havia demanda, visto que ninguém dela necessitava? Como cada um vivesse de sua prépria terra, ninguém se preo- cupava com a intervengio alheia, e, forcosamente, faltando a demanda, o detentor da terra teria que consumir seus pro- prios produtos. Desse modo, cada latiftindio se dedicou a essa espécie de economia que se designa com pouca exatidio como um estado de economia fatifundidria fechada e que é, unica- mente, a bem dizer, uma economia sem mereados externos. © latifindio néo se adaptou a esta situagao por livre escolha, mas por necessidade. Deixou de vender, nao tanto porque nao quisesse vender, mas porque nfio passavam com- radores ao seu aleance. O senhor, ent falta de alguma coisa melhor, teve que adaptar-se as cireunsténcias, Providenciou néo s6 para viver de sua reserva e-dos tributos de seus cam- poneses, mas para'encontrar em sev proprio dominio, uma vez que néo podia consegui-los algures, os implementos ne- '. Para estas quesides, ver ax admiriveis paginas de Bloch, Les earactares fovigimaax ie histoire rurale frangaie, pp. 67 © ss. mos ao eativ de suas (etras € a5 fOUPES Necesarins a0s saios 20 Ca NO sa, eatabeleceram nqueas,ofeinas ou fis cas PU meteisticos da. organtaacdo latifundiénia nec ead, cujo unico objetivo era remediar a au of alta eomercio © industria, 6 comércio ocasional ‘£ obvio dizer-se que semelhante situacdo est iniludivel- mente exposta as incertezas-do-clima. Se nao houve colheita, menrovisbes armazenadas, prevendo uma época de escasse2, Ssebiar-se-ao apidamente e ser necesséfio procurar em carn parte os cereais indispensaveis, Os senhores despacham, cutgo. para todo 0 pais, os seus servos, a quem encarregam sardauirilos nos celeiros de algum vizinho mais afortunado Ge fom alguma regio em que haja abundancia de viveres fara poder entregar-ihes dinheiro, o senhor tem que mandar fundir sua baixela ou endividar-se com um abade de qualquer Bunsteiro dos arredores. Ha, pois, a intervalos, sob a influéncia Jos fendmenos atmosféricos, um comércio usual que mantem See caminhos € nos rios uma circulacéo interminente. Acon- tece, também, que, nos anos de prosperidade, procura-se, pe- los mnesmos meios, vender fora o excedente da vindima ou da colheita, Finalmente, um condimento necessario a vida, 6 sal, encontra-se em certas regioes, onde deve ser adquirido. Thsistimos, porem, que tudo isso. nao representa uma ativi- dade comercial especifica nem, principalmente, profissional. Improvisa-se, por assim dizer, 0 mereador, de acordo com as direunstancias, A compra e Venda nao é a ocupacéo normal @e ninguém. & um recurso que se emprega quando a neces- Sade 0 impde. O comércio deixou de ser um dos ramos da fitividade social, a tal ponto, que cada latifundio se esforga ino sentido de ‘bastar-se em’ todas as necessidades. Nota-se, por isso, que as abadias das regides desprovidas de vinhedos, fomo, por exemplo, os Paises Baixos, tratam de obter doagdes de torras-de vinnas, seja na bacia do Sena, seja nos vales do Reno e do Mosela, com 0 objetivo de poder garantir, assiin, todos os anos, seu abastecimento de vinho. 10. H. van Werveks, “Comment les tablissements religious belges sé til du via a haut Moyer Age?" em Revue elae dé phitol'e A. Schaube, Handeligeschichte der romanischen Volker des Mitelmeengebiets tim Rnde der Krewsrigs, Monique Beli, 1906: H. Krouchmayz, Gesehi $Me som, Wenedig, Geie, 1905-1920, 2 vols; R..Heynen, Zar Emitehuna: dks apitatiinys in, Venedig, Shutgart-Berlim. 1905; L. Brentano, “Dis byzastini. Ge Vouswiischate, «m Jahrbuch fir Gesetzsbng, Verwailons os. {. XL, 17; H. Piven, Les wiles dy Moyen Age. Essai @histoire économique et ©” state, Brusctas 1927 2 Henri Pirenne tanto fez Veneza, que, no fundo do Adridtico, nunca teve motivos sérios para temer a expansio sarracena. ‘Sem duivida, 0 vinculo que continuava unindo esses por- tos com o Império Bizantino nao era muito forte e foi-se enfraquecendo cada vez mais. O estabelecimento dos nor- mandos na Ttélia ena Sicflia (1029-1091) destruiu-o defini- tivamente, no que se refere a esta regiao, Quanto a Veneza, de que nao conseguiram os carolingios apoderar-se, no século IX, continuava sob o jugo de Basileus, com tanto mais agrado quanto este se esforcava por evitar que se sentisse 0 peso de sua autoridade, consentindo que a cidade se transformasse, pouco a pouco, em reptiblica independente. Além disso, embo- Fa as relacdes politicas do Império com seus longinquos anexos italianos nao fossem muito ativas, em compensacao, manti- nha com eles um coméreio bastante intenso. As aludidas Telagdes_moviam-se em torno do Império e, por assim dizer, davam as costas 2 Ocidente, para orientar-se para aquele. O abasteclmento de Constantinopla, cuja populago subla a cerea de um milhéo de habitantes, dava vida & sua. exporta- cdo. As fabricas e os bazares da referida capital forneciam- -Ihes, em troca, as sedas € as especiarias de que néo podiam preseindir. () A vida urbana, com todas as necessidades de luxo que aearreta, nfio havia desaparecido no Império Bizantino, como acontecia no earolingio. Quando se passava deste para aquele, assavarse, na realidade, para outro mundo. (*) No Império Bizantino, 0 avanco do Isldo interrompera, repentinamente, @ eyolucao econdmica. A navegagio-maritima continuava fo- mentando um comércio importante e abastecia cidades po- voadas por artesios e mercadores profissionais, Nao se. pode imaginar um contraste mais patente do que existia entre a Europa Ocidental, em que a terra era tudo e o comércio nada, e Veneza, cidade sem terra e que vivia unicamente de seu coméreio. Comércio da Italia bizantina ¢ de Veneza com 0 Isiiio Constantinopla e os portos eristéos do Oriente delxaram logo de ser os tinleos objetivos da navegacao das'cidades bi- zantinas da Itélia e de Veneza. O,espirito de empresa e a cobica, eram ‘demasiado poderosos e necessérios naquelas ci- dades para se negarem, por escrépulo religioso, a reatar suas Exondmica ¢ Social da Idade Média B 1 Lconomtea ¢ Social da Made Media . Ses comerciais com a Africa € a Sitia, embora antiga reeeegem, entao, em poder dos inféis. Desde o fim ambeeulo TX, percebe-se que as relagdes entre elas se dell- do Seewinais ativas, Pouco Thes importa a religio de seus nein MGontanto que paguem. O af@ de buscar luero, que chientgja condena sod 0 nome de avareza, manifesta-se, aqu, ° sua forma mais brutal. Os venezianos exportavam para oe evgns da Siria e do Egito, jovens esiavas que iam raptar os omprar na costa délmata, ¢ esse comércio de “eseravas Sniripuia, provavelmente, para a sua inciplente. prosper dade, do mesmo modo que o trafico de negros, po cul simi, concorteu para a de mumerosos armadores da, Franca Aft fogiaterra. Acrescentese a isso o transporte de madel- «ge eonstrugdo e de ferro, materials de que necessitava os paises islamiticos. N&o ha duvida que as referidas madei- vie?se ullizaram para construir barcos © aquele ferro pars fevjar armas que se empregariam contra os cristo, e talves contra os proprios marinheiros de Veneza. O mereador, ents ‘Sino sempre, considera unicamente o interesse imeidinto ¢ Grrendoso negécio que pode realizar. Embora o Papa ameaee om a excomunhéo os vendedores de escravas etists, © Imperador proiba que se forneca aos inféis objetos que thes poem ser atels na guerra, todos os seus esforgos resultam possaryeneza, para onde os mereadores levaram, de Alexan- Ghia, no século 1X, a religuia de So Mareos, conta com-@ ortega deste Santo para permitir-se tudo, considerando vvitnte progresso de. sua Tiqueza. como uma recompensa merecida, pela veneracio que lhe tributa. Progresso econémico de Veneza riqueza se desenvolve segundo um movimento inline terri or todos 0s meios. ao sel alcarce, & cidade dos Canals trata, com uma energia e uma atividade surpreenden: tes, de impulsionar-esse-comércio.matitimo que € condigée essencial de sua existéncia. Pode-se dizer que toda a papel ao se dediea eo comércio-e dele. vive, da.mesma_manelss Camo, no cantinente, todos os homens vivem da terra. festa a razdo pela qual a servidao, conseqiiéneia iniludivel da. ct lizagdo rural daquele tempo, néo se conheela naquela 2° wes anctemes Or "Siadiverfassung 10 sito medio c¥0s % Henri Pirenne Fora da Italia Meridional ¢ de Veneza, onde se manteve, gra- as a0 comércio bizantino, a referida atividade desapareccu de todas as partes. Materialmente, subsistiram as cidades, porém perderam sua populacdo de artesdos ¢ comerciantes e, com ela, tudo quanto sobrevivera da organizagio municipal do Império Romano. As cidades episcopais As “cidades”, em cada uma das quais residia um bispo, foram, somente, desde entao, centros da administragio ecle- sidstica, que, sem diivida, foi importante, do ponto de vista religioso, porém nula do ‘ponto de vista econdmico. Quando muito, um pequeno mercado local, abastecido pelos campo- neses dos arredores, satisfazia As necessidades quotidianas do numeroso clero da’catedral e das igrejas ou dos mosteiros agrupados em toro dela e as dos servos empregados em seu servigo. Nas grandes festas do ano, a populagao diocesana ¢ 08 peregrinos reunidos nas ditas eidades mantinham certo movimento. Mas nao se pode lobrigar em tudo isso um germe de renovaeio. Na realidade, as cidades episcopais subsistiam, unicamente, gracas ao campo. As rendas e os tributes dos lalifiindios que pertenciam ao bispo ou aos abades, que resi- diam intramuros, serviam para cobrir-Ihes as despesas. Sua existéncia estava, pois, baseada essencialmente na agricultu- ra, Assim como’ eram centros de administracao religiosa, cram, ao mesmo tempo, centros de administragae domi- nial. '(*) Os burgos Em tempo de guerra, suas antigas murathas proporeio- havam um refiigio & populacao dos arredores. Mas durante _ © poriodo de inseguranca que se inicia com a dissolucao do ipério Carolingio, a necessidade de protecdo, que se tornou Primordial para as populagdes acossadas no Sul pelas incur- sarracenas ¢ no Norte e Oeste pelas dos normandos, as fais vieram juntar-se, no comeco do séeulo X, os terriveis {a8 da cavalaria hingara, tornou-se imprescindivel_em ms as partes a construcao de novos lugares de abrigo. A qq20P4 Ocidental cobre-se, nesta época, de castelos fortifiea- » Sonstruidos pelos principes feudais, para servir de reftigio rial da Hedele MEd a ia Beondmica aos seus homens. Esses castelos ou, para emprogar o termo fom que sao designados geralmente, esses “burgos”, possvem: quase sempre,-uma muralha de terra ou de pedra, rodeade Forum fosso, em que se abrem varias portas. Exigiu-se. 908 piees dos arredores que trabalhassem em sua construgdo © UOneervagao, No seu interlor reside uma guarnigao de cava. {ona Um torredo serve de habitagio ao senhor do lugar: {ima igreja de cOnegos satisfaz as necessidades do culto; cnfim, ha granjas e celeiros para armazenar os cereals, as Games defumadas ¢ os tributos de toda espécie que se impu- ca aos camponeses do senhor (vilées), enearregados de garantir a alimentacao da guarnigdo ¢ das populagors, que. garanisos de perigo, iam refugiar-se na fortaleza, com sou gado, Os burges leigos, da mesma maneira que a cidede seitiastica, subsistem, pois, unicamente, gracas & terra. Nao possuem nenhuma atividade econdmica propria. Todos co” Fespondem & civilizagdo agricola, A cla néo se opoem, bem a0 contrario, poder-se-ia dizer que servem para defendé-la. Primeiras aglomeragoes mercantis (© ressurgimento do comércio nao demorou em alterat profundamente o seu cardter. Observam-se 0s primel : Peter Ge sua acdo durante a segunda metade do século X- jr existencia errante dos mercadores ¢ os Tiscos de toda espé ie a que estavam expostos, em uma época em que o saqus Constitaia um dos meios de existéncla da pequena nobreza. {mpeliram-nos a procurar, desde logo, protegio no interiet impeitrathas, que se escalonavam ao longo dos ros ou dos cee anhos naturals que percorriam. No verdo, serviam-Ihes Ge pousada; durante a estacdo mé, usavam-na para invernat oe Pov bem situadas, quer no findo de um estudio ou 4° As menseada, quer na confluéncia de dois tios ow no ponte dmque, delvando de ser navegavel um rio, as cargas, 2A trols deveriam ser descarregadas antes de seguir para dian, te transformaram-se dessa forma em lugares de transite ¢ Ge parada para os mereadores ¢ mereadorias. ogo, paren, 0 espago que cidades ¢ burgos oferecia’t essee etventielos, cada vez mais numerosos © estorvanli sees Guida em que a circulacao se tornava mais intenss, $ na Mpastou para conté-los, Tiveram que se estabelecer re ee dat eldade, anexando a um Burgo antigo um 7 ou, para usar 0 termo exato, um faubourg, isto é, um burgo {dos arredores, um arrabalde (forisburgus). Nasceram assim, £0 lado das cidades eclesiasticas ou das fortalezas feudais, aglomeragdes. mercantis, cujos habitantes se dedicavam a uum genero de vida em perfeito contraste com a que levavam 03 homens do interior das muralhas. Os “‘portos” ‘A palavra portus, que freqiientemente se c ton aa ee coal estabelecmenie, exiasiran com muito acerto, a sua natureza.* Significava, com efeito, nao um porto no sentido moderno, mas um lugar por onde se transportam mereadorias, portanto, um ponto particularmen- te ativo de transito. Por iss0, em Flandres e na Inglaterra os habitantes do 'porto” receberam, por sa vez, 0 nome de porters ou portinen, que foi, durante muito tempo, sinénimo de burgués e que, em stma, correspondia melhor do que esta uma alae, sua natin, pois a burguesla prima compunha-se exclusivamente de homens que viviam do co- compan tc do homens que viviam di ____ Nao obstante, se desde fins do século 2, habitant melhor 20s habilantes dos burgos antigos, aos quais se reu- hiram, fot porque, desde 0 comego, a aglomeracio mereantil rodeara-se de uma muralha ou de uma paligada, indispensé- vels & sua segurana, e dessa maneira transformou-se, por sua ver, em “‘burgo". (*) A extensio do significado compreende- “se, tanto melhor quanto o novo burgo nao tardou em dominar © antigo. Os centtos mais ativos da vida comercial, Bruges, por exemplo, ja no comeco do século XII, cercam, por todos 9s Tados, fortaleza que eriginariamente thes navn servido ie ponte de coneentragao. O accssério convertera-se no essen- Sal, 08 recim-ehegadds tsunfaram sobre os antiges Rabitan- tes. Neste sentido, € ngorosamente exat der que a elade a Idade Maia ¢, por consegunts, a eldade mofera, tre ut Goleman set ao.) oe) Se casiie 8 are wis Hy Pitene, es yillesMamades avant le XH stele" em Ans Vest et du Nord, 1. 1, 1905. xu He's em Annales ds canbmica ¢ Social da tdade Média 2 Hiseiria Concentragio da inditstria nas cidades jores aos lugares favordveis pro~ ‘A afluéncia dos mercad ro yocou, por sua vez, 0 afluxo dos artesdos, A concentracse Industrial é um fendmeno to antigo quanto a concentragao tomereial, e 6 possivel observa-lo, na regido flamenga, com particular nitidez, A fabricagio de tecidas, a principio estes Palecida no campo, emigrou espontancamente para os Tuga: powrem que se podiam vender os sous produtos. Os tecelocs wees eneontravam. a 1d importada pelos mercadores; os api- Reldores ¢ 08 tintureiros, 0 sabdo ¢ as matérias corantes. Shan verdadeira. revolugdo, cujos pormenores infelizmente Po podemos obter, acompanha essa transformagao da in weeks rural em industria urbana, A tecelagom, que att GUD constituira uma ocupagio reservada as mulheres, con- crtrowse em trabalho dos homens; os antigos pallia, de pe~ quenas dimensdes, substiluiram-se, ao mesmo tempo, para Misfazer melhor As necessidades da, exportacdo, pelos longos satidos que ainda se Usam na atualidade, nas tbricas. Supoe Se. com fundamento, que se havla produside, na moma $po- Gx’ ima mudanca no offcio dos tecelGes, embora nao fosse Siém de permitir 0 enrolamento, no cilindro do tear, do fio de urdidura, que media de 20 a 60 varas. Pode-se verificar, na industria metalurgica do vale do ‘Mosa, uma evoltgao’andloga & das fabricas de tecidos a: mengos. A batida do cobre, que talvez remonte a0 trapalhe Go bronze que se desenvolvera ativamente naquela regio, no fempo da scupagio romana, recebe wm poderoso impulso, quando o renaceimento da navegagdo fluvial Ine permile pro: Guzir com o fil’ de" exportar. Ao mesmo tempo, concentra-se Sm Namur, em Huy e sobretudo em Dinant, cidades cuies sm oreadores bate-folhas” vao abastecer-se de cobre nas minds de Seaonia, desde 0 século XI. Da mesma maneira, o corte de Sexoelentes pedras que abundam nas regioas de Tourn! dos extea-se na cidade. A fabricagéo das pias batismais de Senvolve-se em tal grav, que se encontraram algumas até CP SQutnampton © Winchester. * O mesmo acontece na Ttélla 3. ¥. Rousseau, op. 4, P. Rolland, “Liexpa commerce de la pierre", em Anmates de 1 Bolxlque, 1924 p89 ess "Aeaddonie royale @’Ar Xie ct Xl sidcles. Att & iologie so 7 iHlonrl’Blremne © tecido de seda, trazido por mar desde o Oriente, torna-se especialidade de Luca; Mildo ¢ as cidades da Lombardia, logo imitada pela Toscana, dedicam-se & do fustio. “ II, OS MERCADORES E A BURGUESIA® Hipotese sobre a origem senhorial da classe mercantil A diferenga essencial que coloca os arterios en nuscentes edadbs em eposigio & socedad Sat arco sents cad om ono 8 sodas at que ainda nao se acha definido por suas relagoes com a terra. A este respeito, formam, com toda forca do termo, uma classe de “desarraigados”. A atividade comercial ea industrial, que alé entde foram unicamente as ocupagoes casuals ou inter- mitentes dos agentes do senhorio, cuja existéncia era garan- tida pelos tatifundlarios que os empregavam, transformam- “Seadorn om protisodesindeyendentes. Ay pessoas que as exer. Gem so, indubitavelmente, “homens, novos”, Tratou-se, hi , de ostabeleccr uma relagéo entre clea € 03 acrvos | sal Gesture om eer mi eo eS ow or servos eneategnace, rm lampo de pentria, do abacte cimento do senhorio, e em tempo de abundancia, de vender, em outras regiées, 0 excedente de sua produgao.* Nem os textos nom a verossimilhanea permitem crer em tal evolugao. Som ditvida, os senhores de terra conservaram durante algum “ tempo, nas cidades nascentes, 6 ‘ ee Pe ee ee oe durante uns dias depois da vindlma, ou ainda certas eonts- bulgdes exigidas das corporacdes de offcios. Mas a sobrevivén- seo USL" JES gros a engenseorlc sin ina ae metro os prs ror ques ea Goonies spe we ak ACT ER ns oe Eda SE ec asa ae en wn ti etcrverbin Treksrerinde des 1915, ¢, em sentido menos abso- scofahe XVIII, 1912; ‘em Bull. de |

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